Caso Madeleine Av2

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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS
Curso de Psicologia

Avaliação AV2
Atividade avaliativa

Disciplina: Teorias Humanistas e Fenomenológicas


Código/Turma: B265-1 M35CD
Professor/a: Anna Karyne Da Silva Melo
Data: 08/05/23
Alunas: Ana Valquíria de Freitas Ribeiro 2214829;
Tais Diógenes de Araújo 2214823.

Análise do vídeo do sonho de Madeleine

No vídeo em questão, Fritz demonstra, através de relatos de voluntários,


como o mesmo trabalha a questão dos sonhos em uma perspectiva da Gestalt
terapia. Nele, duas pessoas contam sonhos que tiveram anteriormente e que, de
alguma forma, marcaram a vida desses indivíduos, sendo as narrativas
intermediadas por Perls, que, por sua vez, faz suas considerações sobre o conteúdo
exposto pelos voluntários. Durante o vídeo, com o decorrer das descrições dos
sonhos e das colocações feitas pelo psicoterapeuta, pode-se estabelecer uma
relação entre os sonhos, a condução de Perls e alguns dos principais conceitos que
norteiam a teoria da Gestalt terapia. Neste trabalho, uma ênfase maior será dada ao
caso de Madeleine.
É possível notar que, logo no começo do vídeo, Fritz estabelece uma
condição de presentificação em relação a Madeleine, à medida em que convoca a
moça a trazer suas experiências e sensações para o momento atual, a relatar o
sonho não no passado, mas no presente, único tempo possível de ser vivenciado; o
terapeuta sempre faz referência ao momento presente, enfatizando o que a mulher
sente no momento, o que ela percebe, convidando-a à conjuntura momentânea.
Esse movimento de presentificação é explicado pelo conceito do aqui e agora da
Gestalt, que se refere a estar plenamente presente no momento atual,
experimentando e vivenciando o que está acontecendo em vez de ficar preso no
passado ou preocupado com o futuro. Perls et al. (1997) afirmam que é só no
aqui-e-agora que se pode ter consciência das próprias capacidades sensoriais,
motoras e intelectuais, sendo um conceito de extrema importância para a terapia
gestáltica, ao promover um desenvolvimento maior da consciência de emoções e
pensamentos no momento presente, para que se possa lidar com esses aspectos de
forma eficaz e saudável. É interessante ressaltar que essa presentificação
permanece em todo o vídeo.
Outro conceito muito importante que é retratado no recurso em questão é o
de figura e fundo, que consiste em uma relação que propicia o surgimento do que é
necessidade (figura) para o sujeito, em detrimento do seu contexto (fundo); trata-se
de uma organização perceptual, em que as ações possuem uma estrutura, com
sentido, significados e que a origem das partes é determinada pelo todo (POLSTER;
POLSTER, 2001). A figura é o que se destaca, realça, a necessidade imediata do
indivíduo, já o fundo se refere ao que está mais “distante”, que não se destaca. Ao
falar de seu sonho, Madeleine traz vários elementos que, de início, são
“coadjuvantes”, detalhes não prioritários na narrativa, e Fritz constantemente pede
para a mulher assumir o ponto de vista desses detalhes, que, por sua vez, se tornam
o “protagonista” da história. É exemplo disso quando Perls requisita que Madeleine
seja o lago do seu sonho e conte sua história, ou quando ele solicita que ela assuma
o papel de ser a água que é derramada em seu sonho, a estátua, etc; ela aceita a
posição de cada elemento presente no sonho, mudando, em cada um deles, a
percepção de um mesmo cenário que antes era fundo, e agora se torna figura.
Podemos perceber também, neste momento, a presença do conceito de
awareness, que consiste com que o indivíduo experiencie o meio interno e externo,
estando em contato vigilante com o evento, é uma consciência plena, sentida no
agora, que envolve não somente o emocional, mas também, o sensório-motor,
cognitivo e energético, o entrar em contato contínuo com os fenômenos presentes
no campo psicológico. Uma outra referência a este conceito seria quando, no final
do vídeo, Fritz percebe Madeleine muito emocionada, segurando-se e
acariciando-se com os próprios braços, e pergunta o que ela está fazendo pedindo
em seguida para que ela faça o mesmo com ele, dessa forma, percebemos ela
dar-se conta desse processo, integrando-o num todo.
Como já dito anteriormente, Fritz, no decorrer da sessão, pede para
Madeleine mudar de foco da narração, assumindo diferentes pontos de vista dos
elementos que constituem o seu sonho. Essa iniciativa de transferência de cenários,
constitui, na verdade, ciclos de contato de Madeleine com esses objetos, onde ela
se permite entrar em contato com novas situações e emoções advindas delas.
Sobre o conceito de contato, pode-se afirmar que:
Contato é um ato de autoconsciência totalizante, envolvendo um processo
no qual as funções sensoriais, motoras e cognitivas se unem, em complexa
interdependência dinâmica, para produzir mudanças, crescimento,
ajustamento criativo na pessoa e na sua relação com o mundo, por meio da
energia de transformação que opera em total interação na relação
sujeito-mundo, organismo/ambiente. (PONCIANO, 1997).
Tendo isso em vista, Madeleine experiencia o ciclo de contato como um todo,
passando por todas as fases: a primeira, o pré-contato, que se caracteriza pela
manifestação da sensação corporal como sendo figura, é representada no momento
em que a moça continua o sonho e relata que sentiu uma sensação de agitação,
traduzindo-a fisicamente, mexendo o corpo e balançando os braços, essa agitação
se torna o foco da conversa. A segunda etapa é o contato, a intensificação do
contato em andamento, momento no qual a ação do sujeito no ambiente se destaca
e que a figura passa a ser “um objeto”, e não mais as sensações fisiológicas;
Madeleine, agora, apropria-se da condição de ser a estátua e, depois, a água
derramada pela estátua, relatando suas características, as ações que esses
elementos desempenham no sonho, realmente manipulando e incorporando a
situação; esses objetos agora são as figuras do processo. A terceira etapa é o
contato final, momento em que não existem fronteiras de contato, Madeleine aceita
as emoções, sentimentos e pensamentos advindos dessa experiência de ser o
objeto em questão, acolhe tudo que vem da interpretação do sonho, se permitindo
sentir espontaneamente o processo. E, finalmente, o ciclo se encerra com a quarta
etapa, o pós-contato, é a consequência do contato, etapa marcada pela assimilação
da novidade, do novo proveniente desse contato. Ao final do sonho, Madeleine fala
que descobriu algo novo, antes a mulher pensava que a água no vaso se tratava de
espiritualidade, e, depois de entrar em contato, entende que a água do vaso era um
segredo e que ela não era elevada o bastante para bebê-la, por isso sempre
acordava do sonho. Ela assimilou, também, que, quando era pequena, não se
importava de não conseguir beber a água, ficava feliz só em nadar, mas, à medida
que foi crescendo, sentia cada vez mais falta de não poder beber a água. No final do
contato, Madeleine pôde descobrir novas informações, lidar com os novos
sentimentos surgidos e reorganizar todo esse conteúdo novo que foi apresentado.
Acerca do ciclo de contato, pode-se abranger, também, os mecanismos de
evitação presentes nesse processo, sobretudo deflexão, mecanismo presente na
sessão de Fritz. A deflexão significa evitar o contato direto com algo ou alguém, é
uma forma de driblar o “calor” do contato real (Perls, 1997). No vídeo discutido,
através de sua linguagem e até mesmo do contato visual, Madeleine, de início, se
coloca em uma posição de afastamento do sonho; quando Perls pediu para a moça
ser o lago, ela se refere ao lago como “isto”, “ele”, e não como “eu”, além de evitar
olhar para as pessoas, no começo da narrativa, a mulher relatou o sonho olhando
para baixo, logo sendo corrigida pelo terapeuta a se direcionar a ela mesma e/ou às
pessoas presentes no recinto da sessão. Esses comportamentos, de não olhar para
as pessoas, não se referir em primeira pessoa em sua fala, tudo isso reflete uma
tentativa de afastamento, de distanciamento com o conteúdo em análise.
Um outro conceito central da Gestalt terapia é o de ajustamento criativo, que
segundo Perls et al, (1997) consiste em uma dialética de continuidade e mudança
estrutural do novo no velho, para formar com ele uma nova configuração, ou seja, é
através das estruturantes antigas, se apropriando delas, que surge o novo. Dessa
forma, o vídeo do sonho de Madeleine, ilustra bem este conceito quando ela
comenta que ao crescer e experienciar aquele sonho diversas vezes, não podendo
beber a água, lhe trazia certa frustração e acreditava que o motivo pelo qual não
poderia beber, teria ligação com a espiritualidade, tema pelo qual possui grande
curiosidade, todavia, após o relato de seu sonho, ao ser perguntada sobre como se
sente, ela traz em sua fala “eu sinto que descobri algo”. Nesse sentido, após a
condição de presentificação estabelecida por Fritz na sessão, Madeleine passou por
esse processo de ajustamento criativo, e ao final ocorreu a assimilação e integração
dessas informações, que apesar de não ser um processo fácil, a fez passar por
aquela frustração que a desestabilizava e obter equilíbrio, satisfazendo suas
necessidades, e se autorregulando. Portanto, este processo é conhecido como
homeostase, no qual o indivíduo interage com o meio, atenta-se para aquilo que é
dominante e se satisfaz.
Dessa forma, a análise do vídeo do sonho de Madeleine, possibilitou uma
compreensão mais ampla e prática dos conceitos estudados em sala sobre a Gestalt
Terapia e sua aplicação em sessões psicoterápicas, com ênfase na análise de
sonhos. É interessante notar e pontuar que a maioria dos conceitos, apesar de suas
diferenças teóricas, se relacionam diretamente, entrando, muitas vezes, em uma
conjuntura de simbiose, acontecendo de forma simultânea e continuada.
Na Gestalt, não se pode trabalhar com conceitos ou eventos de forma
separada, e, com o estudo do vídeo de Fritz, essa constatação se evidenciou
bastante claramente, visto que, como supracitado, mais de um fenômeno acontecia
em um mesmo recorte, em uma mesma situação, revelando o caráter complementar
e processual da abordagem estudada.
O caso do sonho de Madeleine se mostra como uma ótima representação da
prática gestáltica, relacionando de forma eficaz os conceitos e suas aplicações na
prática clínica, sendo, assim, uma boa oportunidade de aprendizagem e uma
excepcional fonte de conhecimento acerca dos conceitos que foram discutidos
acima.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRAZÃO, Lilian Meyer. Gestalt-terapia: conceitos fundamentais. São Paulo: Summus,


2014. v. 2.

PERLS, F.Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da terapia

Perls, F., Hefferline, R. & Goodman, P. (1997). Gestalt-terapia (F. R. Ribeiro, trad).
São Paulo: Summus.

POLSTERS E.; POLSTER M. Gestalt-terapia integrada. São Paulo: Summus,


2001.

RIBEIRO, Jorge Ponciano. O ciclo do contato: temas básicos na abordagem


gestáltica; 2. ed., rev. e amp. São Paulo: Summus, 1997.

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