Artigo Os Ofícios de Cristo

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OS OFÍCIOS DE CRISTO: PROFETA, SACERDOTE E REI


Nilton Mota de Oliveira*

RESUMO
Neste artigo vamos estudar e analisar os três ofícios de Cristo, a saber os ofícios de
profeta, que é alguém que fala da parte de Deus para o povo; sacerdote, que ao
contrário do profeta, é um representante do homem junto a Deus; e Rei que é a
autoridade máxima de uma nação e é revestido de autoridade para governar. Vamos
tratar desses três ofícios relacionando cada um deles biblicamente a Cristo. Nosso
intento não é o de esgotar o assunto, mas de fazer uma análise dos pontos mais
importantes de cada ofício.

PALAVRAS-CHAVE
Ofícios; Profeta; Sacerdote; Rei; Cristo; Mediação; Governo;

INTRODUÇÃO
No de correr da história cristã muitos estudiosos e teólogos já falavam sobre
essa tríplice representação teocrática de Cristo. Mas João Calvino (1509 – 1564) foi
o primeiro a ver importância em distinguir sistematicamente os três ofícios de Cristo.
Ele diz que: “Para que saibamos a que propósito cristo foi enviado pelo pai, e que
ele nos foi conferido, três coisas se devem nele ter em consideração acima de tudo:
o ofício profético, a realeza e o sacerdócio” (Livro II, Cap. XV).
O pecado afetou toda a área da vida humana, e isso inclui o nosso senso de
justiça nos trazendo culpa e corrupção moral. Como consequência temos que
enfrentar a morte, enfermidades e destruição. Por isso a necessidade de alguém nos
apresentar uma mensagem perfeita, uma mediação perfeita e um governo perfeito, e
esse trabalho está diretamente ligado aos ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei. Mas
devido ao pecado, nenhum ser humano poderia cumprir essas funções de forma
cabal, então Deus nos envia Jesus Cristo, que era o único capaz de cumprir

*
Estudante do segundo ano no curso de Bacharel em Teologia no Seminário Presbiteriano Brasil Central
Extensão Rondônia (2019 a 2023). Endereço: Rua João Batista Neto, 2356. Jardim Nova Brasília – Ji-paraná –
Ro. E-mail: [email protected]
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peremptoriamente essa difícil missão. Nos atentemos então a cada um desses


ofícios fazendo ligações com Cristo.

OFÍCIO PROFÉTICO

No Antigo Testamento, o profeta é conhecido como um canal direto entre Deus


e o homem. É responsável para levar até o povo a mensagem revelada a ele pelo
Senhor. O profeta “É uma boca a serviço de Deus”. Toda a comunicação divina
direcionada ao povo é feita pelo profeta, e esse tem por obrigação transmiti-la sem
alterações. Tomemos como exemplo o profeta Micaías que foi induzido pelo
mensageiro do rei Acabe a dizer palavras que fossem agradáveis ao rei. O profeta,
em obediência a Deus disse: “Tão certo como vive o SENHOR, o que o SENHOR
me disser isso falarei” (1Re 22.14). Nesse caso o rei era o receptor da mensagem, e
não aquele que envia. O profeta devia obediência aquele que o enviou, que era o
próprio Deus, e não ao receptor, mesmo sendo esse o líder máximo da nação.
Como vimos acima, no antigo testamento o profeta era responsável por levar a
revelação de Deus ao povo. Já no Novo Testamento, Cristo, além de se fazer
profeta, Ele era também a própria Revelação. Podemos dizer que Cristo é o profeta
por excelência. Sobre isso o apóstolo Pedro escreveu ao povo da dispersão o
seguinte:
 Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais
10

profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, 11 investigando, atentamente, qual


a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que
neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e
sobre as glórias que os seguiriam. 12 A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas
para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles
que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que
anjos anelam perscrutar.†

As profecias do Antigo Testamento apontavam para Cristo, e esse


“apontamento” era anunciado pelos profetas. Quando Cristo veio, ele falava de si
mesmo. O que o apóstolo Pedro está dizendo é que essa revelação dada aos
profetas, se cumpriu em Cristo. E agora Jesus passou a ser a própria revelação
encarnada.
Outro ponto importante nessa questão é que os profetas sempre utilizavam a
expressão: “Veio a mim a palavra do SENHOR...”, “Assim diz o SENHOR...”,


ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada Revista e Atualizada. 2ª ed. São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1993.
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indicando de quem vinha a revelação, e da dependência do profeta no recebimento


desta. Jesus, porém, dizia que: “Eu Vim... (Lc 19.10); “Eu o sou, eu que falo contigo”
(Jo 4.26). “Em verdade, em verdade vos digo...” (Jo 16.23). Com isso Jesus
asseverava para si a prerrogativa máxima sobre o ofício de profeta, ou seja, Ele não
estava apenas com a revelação do Pai, ele é a própria revelação.
Moisés era o profeta maior do povo judeu, e como tal era atribuído a ele muitas
funções advindas do seu ofício, a principal delas era a de ensinar a lei para o povo.
Jesus como o profeta por excelência, não somente ensinou, mas escreveu e ainda
escreve a lei no coração do seu povo através do Espírito Santo (Isaias 54.13).
Os profetas revelavam as múltiplas perfeições de Deus através de seus
ministérios. E para entendermos isso melhor vamos ver o que David Schrock diz em
seu Sumário de Teologia Cristã:

Assim como os profetas antigos revelaram o Senhor através de várias ações - Isaías
andou nu por três anos (Is 20:2-3), Oséias se casou com uma prostituta (Os 1.2),
Ezequiel ficou prostrado por mais de um ano... (Ez 4)‡

Assim também Cristo, em sua morte vicária na cruz, revelou as perfeições das
insondáveis misericórdias de Deus. E é através desse ato de misericórdia que Deus,
ainda hoje, é glorificado entre seu povo espalhado pela face da terra.
Outra aplicação importante sobre o ofício profético de Cristo é que Jesus
continua a falar ainda hoje com o seu povo. Enquanto que os profetas antigos não
existem mais, Cristo é profeta eterno, seus ofícios não tem fim.

OFÍCIO SACERDOTAL
Na bíblia o sacerdote aparece como a pessoa designada por Deus para
oferecer sacrifício em favor de outros. Podemos ver isso em texto com o de Hb 5.1-
4. Mas no decorrer da história de Israel esse ofício sofreu alterações. Antes de Deus
estabelecer um pacto com seu povo no Sinai, o sacerdócio era dado aos
primogênitos. Depois do Sinai o sacerdócio passou para os filhos de Arão (Ex 28-29;
Lv 8-9). Um tempo depois os filhos de Levi, ou levitas, foram acrescentados ao ofício
do sacerdócio Aarônico (Nm 3.40-51; 18.1-32). Mas esse sistema foi por muitas
vezes corrompido principalmente pelos sacerdotes, e isso trouxe separação entre


SCHROCK, David. Sumário de Teologia Lexham. Bellingham: Lexham Press, 2018.
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Deus e seu povo, por isso a necessidade de um novo e melhor sacerdócio. (1Sm
2.35; Sl 110; Zc 3.1-10; 6.9-15).
As Escrituras, mas especificamente em Hb 5.1, indica alguns elementos que
compões o ofício de sacerdote. Louis Berkhof, em sua teologia sistemática faz uma
interessante divisão desses elementos baseados no texto de Hebreus. Ele diz o
seguinte:

Estão indicados ali os seguintes elementos: (a) o sacerdote é tomado dentre os homens
para ser o seu representante; (b) é constituído por Deus, cf. o versículo 4; (c) age no
interesse dos homens nas coisas pertencentes a Deus, isto é, nas coisas religiosas; (d)
sua obra especial consiste em oferecer dádivas e sacrifícios pelos pecados. Mas a obra
do sacerdote incluía ainda mais que isso. Ele também fazia intercessão pelo povo (Hb
7.25) e os abençoava em nome de Deus, Lv 9.22.§

Como podemos observar, o sacerdote não era responsável apenas por


oferecer sacrifícios, eles também exerciam funções distintas, como interceder pelo
povo diante de Deus.
Os sacerdotes não eram perfeitos, eles estavam propícios à pecados e
precisavam oferecer sacrifício pelo povo e por si mesmos (Hb 5.2-3). Por isso era
necessário um sacerdote perfeito que não cometesse pecado, que não morresse, e
que não precisasse oferecer sacrifícios pessoais contínuos. Mas entre os homens
era impossível encontrar tais características, por isso Deus constituiu a Jesus como
esse perfeito Sumo Sacerdote. Segundo Hebreus, Jesus se tornou o Sumo
Sacerdote não com base em uma linhagem terrena ou no sistema levítico da antiga
aliança, mas Cristo teve uma filiação superior e vida eterna, que o qualificava para
ser sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5.1-10).
Nos evangelhos o sacerdócio de Cristo não é expressamente afirmado, por
isso alguns estudiosos discutem se os evangelhos apresentam esse oficio de Cristo.
Mas existem muitas razões para vermos Cristo sendo apresentado como sacerdote
pelos evangelistas, entre essas razões as principais são: O ministério de cura de
Jesus indica um sacerdote perfeito (comparar Lv 13-14 e Mt 8.1-4; 17); A
intercessão sacerdotal através de Sua vida de oração (Luc 6:12-16; 22:31-32; 23:34;
João 17:1–26). Assim como os sacerdotes aarônicos abençoavam a nação, Jesus
abençoava seus discípulos (comparar Núm 6:24–26 e Luc 24:50–53); e por fim,

§
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 4ª ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2012, p. 331.
5

Jesus inaugura uma nova aliança (Lc 22.20), indicando uma nova ordem sacerdotal,
e ensina seus discípulos a entenderem a lei (comparar Lev 10:11 e Mat 5:17–48).
A perfeição do sacerdócio de Cristo chega a um nível inalcançável por qualquer
sacerdote, por mais importante que ele seja. Cristo, como todo sacerdote, tem a
função de oferecer sacrifícios para expiar os pecados do povo, mas o diferencial é
que Cristo é o sacerdote e também era o sacrifício. Louis Berkhof defende esse
ponto dizendo o seguinte:

O notável nas descrições bíblicas da obra sacerdotal de Cristo é que Cristo aparece
nelas como sacerdote e como sacrifício. Acha-se isto em perfeita harmonia com a
realidade que vemos em Cristo. No Velho Testamento os dois estavam necessariamente
separados, dado que esses tipos eram imperfeitos. A obra sacerdotal de Cristo é exposta
com maior clareza na Epístola aos hebreus, onde o mediador é descrito como o nosso
único verdadeiro, eterno e perfeito sumo sacerdote, constituído por Deus, que assume
vicariamente o nosso lugar e, pelo sacrifício de Si mesmo, obtém uma real e perfeita
redenção (...)** (Grifo Meu)

Cristo como profeta não era apenas o detentor da revelação, ele era a própria
revelação. Agora como sacerdote ele não ofereceu sacrifícios de bode ou de
bezerros, mas ofereceu o seu próprio sangue como sacrifício perfeito e eterno. A
partir da morte de cristo na cruz não era mais necessário a morte de animais para
redimir o pecado do povo, pois o Cordeiro Santo de Deus retirou definitivamente o
julgo do pecado das costas dos redimidos e os encravou na cruz. (Hb. 9.11-14).

OFÍCIO REAL

O início de uma dinastia real em Israel não se dá em um contexto muito


favorável. Samuel estava velho, e seus filhos que eram os juízes do povo não
seguiam o mesmo exemplo do pai, sendo infiéis a Deus. Diante desses fatos, o povo
de Israel se veem preocupados com o futuro da nação e pedem a Samuel que
nomeie um rei para governa-los: “e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos
não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para
que nos governe, como o têm todas as nações. (1Sm 8.5). Tudo isso não agradou
ao profeta, que angustiado ora ao Senhor. Então Deus responde dizendo: “Atende à
voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não
reinar sobre ele” (1Sm 8.7).

**
BERKHOF, Louis: Teologia Sistemática, pg 335.
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Muitos acreditam, por causa dessa passagem, que não era da vontade de
Deus que Israel fosse governada por um rei. Mas isso não condiz com as Escrituras.
Em Gn 17.6 Deu diz a Abraão que o faria extraordinariamente fecundo, e que ele
seria o pai de reis e nações. Essa promessa continuou em todo o pentateuco, tendo
como foco a tribo de Judá (Gn 49.8-12). Em Dt 17.14-20, a lei estipulava regras para
o rei de Israel, indicando que Deus já previa tal acontecimento. A necessidade de
um rei é descrita em (Juízes 17.6; 18.1; 19.1; 21.25). Todas essas passagens
provam que Deus, utilizando de Sua infinita Soberania, já tinha estipulado um dia
que Israel seria governada por um rei, mas não seria qualquer rei, esse rei seria da
tribo de Judá. O erro foi que o rei escolhido foi Saul que era da tribo de Benjamim,
que não remontava da genealogia da dinastia real definida por Deus.
No livro de Rute identificamos a origem do rei israelita (4:18-22;). Na descrição
genealógica desses versos percebemos que o rei viria de Belém e não de Gibeá que
foi onde provavelmente nasceu Saul. O profeta Miquéias já havia profetizado que de
Belém de Judá sairia aquele que reinaria em Israel. E em 1Sm 16.12-13, é revelado
que Davi era o rei prometido por Deus. E finalmente em 2Sm 7.9-14 Deus promete
dar a um dos filhos Davi um trono que seria eterno, e essa promessa se cumpriu em
Jesus.
Diante desses fatos percebemos que Jesus é o grande Rei prometido por Deus
desde Abraão.

Nascido na família de Davi, da linhagem de Judá, crescendo sob a lei de Moisés, Jesus
perfeitamente cumpriria todas as exigências do Antigo Testamento para o rei. De fato,
como os profetas predisseram, quando os filhos de Davi continuassem numa espiral
descendente, Deus traria um novo Davi (Is 11:1; 55:3; Jr 23:5-6; 33:14-16; Ez 34:24;
37:24-28; Os 3:5; Amós 9:11-15),††

Jesus é o rei por excelência pois o seu reinado não tem fim, é reinado eterno.
Todos os reis morreram ou irão morrer, mas Cristo reinará pra sempre. A Sua
soberania excede a todos os reis já estabelecidos na face da Terra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
††
SCHROCK, DAVID: Sumário de Teologia Lexham. Lexham Press, 2018
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Deus deu ao homem a honra de O servir como profeta anunciando a Sua


mensagem ao povo necessitado. Agraciou o homem dando a ele a oportunidade de
servi-lo como sacerdote oferecendo sacrifícios para o perdão dos pecados do povo e
do próprio sacerdote. O homem foi designado por Deus para reinar sobre a nação e
os conduzir no caminho justo. Mas somente Jesus pode trazer a verdadeira
mensagem, pois ele próprio é a verdadeira mensagem e o profeta por excelência.
Só Cristo poderia oferecer um verdadeiro sacrifício, pois Ele é o sacerdote Supremo.
Oferecendo o próprio corpo como sacrifício único e perfeito em prol de uma multidão
de pecadores. Seu sacrifício substitutivo foi gracioso e nos livrou da ira vindoura. E
somente Ele, pode governar com justiça, pois Ele é a própria justiça. Dele emana a
mais perfeita sabedoria e soberania para governar o povo, não por uma geração,
mas por toda a eternidade pois seu reinado será perene.

THE OFFICES OF CHRIST: PROPHET, PRIEST AND KING


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ABSTRACT
In this article we will study and analyze the three offices of Christ, namely
the offices of a prophet, who is someone who speaks from God to the people; priest,
who, unlike the prophet, is a representative of man before God; and King who is the
highest authority of a nation and is empowered to rule. We will deal with these three
offices by relating each one biblically to Christ. Our intention is not to exhaust the
subject, but to make an analysis of the most important points of each letter.

KEYWORDS
Crafts; Prophet; Priest; King; Christ; Mediation; Government;

BIBLIOGRAFIA
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 ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada Revista e Atualizada. 2ª ed. São
Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
 SCHROCK, David. Sumário de Teologia Lexham. Bellingham: Lexham Press,
2018.
 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 4ª ed. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 2012.
 SALUM, Oadi. Teologia Sistemática Reformada. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 2017.
 JUNIOR, Richard L. Comentário do Antigo Testamento: 1 e 2 Crônicas. 1ª ed.
São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2008
 TURRETIN, Francis. Compêndio de Teologia Apologética. 2ª ed. São Paulo:
Casa Editora Presbiteriana, 2010.

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