Dissertacao Mestrado Delmira Pombo Final PDF
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e Administração de Terapêutica na
Pessoa com Patologia Crónica e/ou
Paliativa
Dissertação de Mestrado em
Enfermagem Médico – Cirúrgica
Dezembro 2012
Delmira Pombo A Via Subcutânea para Hidratação
e Administração de Terapêutica na
Pessoa com Patologia Crónica e/ou
Paliativa
Dezembro 2012
1
Usa a capacidade que tens.
A floresta ficaria silenciosa se só o melhor pássaro cantasse.
Óscar Wilde
2
Agradeço
3
RESUMO
Elaboramos o presente relatório no âmbito do 2º Mestrado em Enfermagem
Médico Cirúrgica, na Escola Superior de Saúde, do Instituto Politécnico de
Setúbal no ano lectivo de 2012/2013. Destina-se a apresentar o trabalho que
realizamos, utilizando a metodologia de projecto, bem como as reflexões e
aprendizagens efectuadas nos estágios. Salientamos que o percurso formativo se
iniciou com a 1ª Pós Graduação em Enfermagem Médico Cirúrgica – Cuidados
Paliativos no ano de 2007/2008. Posteriormente realizamos o 1º Curso de Pós
Licenciatura de Especialização em Enfermagem Médico - Cirúrgica no ano lectivo
de 2010/2011, onde foram efectuados os estágios e desenvolvido o projecto, que
apresentamos.
O número de pessoas com doença crónica e paliativa tem vindo a aumentar,
devendo-se em parte ao desenvolvimento mundial e vários outros factores tais
como um maior conhecimento que aumenta a longevidade, a hábitos de vida
relacionados com a má alimentação, o tabagismo, o stress, o sedentarismo, entre
outros, que contribuem para um aumento da morbilidade. Consequentemente,
nestes casos, as pessoas necessitam de apoio para manter o melhor estado de
saúde, tanto quanto for possível, assumindo como aspectos prioritários a
estabilização, adaptação e a manutenção da qualidade de vida.
Com o objectivo de melhorarmos a qualidade dos cuidados à pessoa com
patologia crónica e/ou paliativa, optámos por desenvolver o projecto cujo tema é a
utilização da via subcutânea para hidratação e administração de terapêutica, na
pessoa com patologia crónica e/ou paliativa. Atendendo a que as vias
preferenciais para administração de terapêutica poderão estar comprometidas,
por sintomatologia como náuseas, vómitos ou acessos venosos difíceis por vários
tratamentos, internamentos, e degradação do seu estado geral, este projecto
surge, como uma opção para administração de terapêutica ou hidratação na
pessoa com patologia crónica e/ou paliativa.
Para suportar a nossa decisão quanto ao tema a estudar, aplicamos um
questionário e análise SWOT para diagnóstico da situação. Destes salienta-se
que 62% dos enfermeiros não conhece a técnica da Hipodermoclise; 69% nunca
administrou soros por via SC; 62% nunca administrou terapêutica em perfusão
por via SC; 100% considera útil o desenvolvimento da técnica na Unidade.
4
Palavras-chave: hipodermoclise, medicação subcutânea, enfermagem, cuidados
paliativos.
5
ABSTRACT
We prepared this report under the 2nd master's degree in medical surgical
nursing, in the Escola Superior de Saúde, from the Instituto Politécnico de Setúbal,
in the academic year 2012/2013. It is intended to present the work we did, using
project methodology as well as the reflections and learning made in intership.
We emphasize that the training path began with the 1st post graduation in
medical surgical nursing - palliative care in the year 2007/2008. Later we held the
1st course of post graduate specialization in medical surgical nursing in the
academic year 2010/2011, where the stages were made and developed the
project, which we present.
The number of people with chronic illness and palliative care is increasing
and is partly due to global development, and various other factors such as
increased knowledge that increases longevity, the lifestyle habits such as poor diet,
smoking, stress, sedentary lifestyle, among others that contribute to increased
morbidity. Consequently, in these cases, people need support to maintain the best
state of health as much as possible, taking as priority aspects like stabilization,
adaptation and maintenance of quality of life.
Aiming to improve the quality of care for people with chronic disease and / or
palliative, we decided to develop the project whose theme is the use of
subcutaneous way for hydration and administration of therapy in people with
chronic disease or palliative. Given that the preferred way to administer therapy
may be impaired by symptoms such as nausea, vomiting or difficult venous access
due to several treatments, hospitalizations, and deterioration in his general
condition, this project emerges as an option for administering therapy or hydration
in person with chronic disease and / or palliative.
To support our decision to study on the subject, we apply a survey and
SWOT analysis for diagnosis of the situation. Should be noted that 62% of nurses
do not know the technique of hypodermoclysis, 69% never administered
subcutaneous solution, 62% never administered infusion therapy subcutaneously;
100% considers the development of the technique useful in Unit.
6
ÍNDICE
0. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
1.ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ........................................................................ 16
1.1. Teoria do Conforto ..................................................................................... 21
1.2. A Pessoa com Doença Crónica e Paliativa................................................ 26
1.3. Competências do Enfermeiro Especialista/Mestre .................................... 38
1.4. A Qualidade em Enfermagem.................................................................... 43
1.5. A Utilização da Via Sc para Hidratação e Administração de Terapêutica .. 53
2. PROJECTO DE INTERVENÇÃO NO SERVIÇO .................................................... 63
2.1. Diagnóstico de Situação ............................................................................ 63
2.2. Planeamento do Projecto........................................................................... 66
3. APRENDIZAGENS DESENVOLVIDAS.................................................................... 75
3.1. Uma Experiência na Unidade de Cuidados Paliativos ............................... 75
3.2. Comunicação de más Notícias .................................................................. 79
3.3. Dignidade Humana .................................................................................... 88
3.4. Plano de Emergência da Unidade ............................................................. 97
3.5. Novas Responsabilidades ....................................................................... 101
4. CONCLUSÃO ............................................................................................................. 106
5. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 109
5.1. BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 109
5.2. ELECTRÓNICAS ..................................................................................... 112
Anexos
ANEXO I – Questionário do conforto em fim de vida
ANEXO II – Diagnóstico da Situação
ANEXO III – Questionário – Diagnóstico de situação
ANEXO IV – Análise SWOT – Diagnóstico de situação
ANEXO V – Planeamento do Projecto
ANEXO VI – Norma de Procedimento de Enfermagem
ANEXO VII – Folheto informativo para cuidador/pessoa significativa
7
ANEXO VIII – Formação à Equipa de Enfermagem
ANEXO IX – Divulgação dos Resultados Equipa de Enfermagem
ANEXO X – Artigo científico
8
INDICE DE FIGURAS
9
INDICE DE QUADROS
10
SIGLAS e ABREVIATURAS
11
0. INTRODUÇÃO
1
OE – Servir a comunidade e garantir qualidade: os enfºs na vanguarda dos cuidados na doença crónica,
edição Portuguesa, 2010.
12
doença incurável em fase avançada e rapidamente progressiva, tem como
principal objectivo promover, tanto quanto possível e até ao fim, o seu bem-estar
e qualidade de vida. Neste sentido, o tratamento da pessoa com uma doença
crónica deve ser incluído o mais precocemente possível no decurso da doença. A
mesma autora refere que todas as pessoas com “doenças crónicas, sem resposta
à terapêutica de intuito curativo e com prognóstico de vida reconhecidamente
limitado, devem ter acesso a cuidados paliativos” NETO (2008:20). Os cuidados
paliativos são cuidados especializados, prestados por uma equipa interdisciplinar
com formação dirigida para as necessidades de controlo de sintomas,
comunicação adequada e apoio à família.
A opção por esta área, do cuidado à pessoa com patologia crónica e/ou
paliativa, está relacionada com o percurso formativo que temos vindo a
desenvolver nos últimos anos e prende-se, também, com a identificação da
filosofia que está na base dos cuidados a estas pessoas e famílias. Com a
divulgação do Programa Nacional de Cuidados Paliativos surgem várias unidades
no País. E, são criadas também Equipas Intra-hospitalares de Cuidados Paliativos
em alguns Hospitais, como é o caso do Centro Hospitalar de Lisboa Central, onde
desempenhamos funções. Contudo, os recursos manifestam-se insuficientes face
à procura, ou seja, às necessidades das pessoas que se encontram internadas.
Da prática de cuidados emergiu a necessidade de relacionarmos o
projecto com algo com que nos identificássemos, e ao mesmo tempo que fosse
útil para o cuidado a estes doentes. Daí que tenhamos escolhido, a utilização da
via subcutânea para hidratação e administração de terapêutica, na pessoa
com patologia crónica e/ou paliativa.
Esta opção surge-nos após alguma reflexão, e também da necessidade
de desenvolvermos alternativas no controlo sintomático da pessoa em fim de vida.
As vias preferenciais de administração de terapêutica, em ambiente hospitalar são
a oral e a endovenosa. A primeira por ser menos invasiva e a segunda por
apresentar um efeito rápido. Todavia, na pessoa em fim de vida estas vias por
vezes estão comprometidas, por sintomatologia como náuseas, vómitos ou
acessos venosos difíceis devido aos vários tratamentos, internamentos, e
degradação do seu estado geral. Neste sentido, este projecto surge, como mais
13
uma opção para administração de terapêutica ou hidratação na pessoa com
patologia crónica e/ou paliativa.
A metodologia seguida, para a elaboração deste trabalho, é a
metodologia de projecto. Tem como objectivo geral:
Melhorar a qualidade dos cuidados à pessoa com patologia crónica e/ou
paliativa.
E, como objectivos específicos:
Aprofundar conhecimentos na área da Hipodermoclise e administração de
terapêutica por via SC;
Elaborar norma de procedimento de enfermagem sobre Hipodermoclise e
administração de terapêutica por via SC;
Elaborar folheto de informação para a Pessoa significativa/cuidador;
Colaborar na elaboração de um protocolo clínico sobre a Hipodermoclise e
administração de terapêutica por via SC;
Efectuar formação à equipa de enfermagem;
Planear a implementação e a avaliação do projecto;
O relatório apresenta três partes, na primeira parte do enquadramento
conceptual encontramos a evolução da ciência de enfermagem ao longo dos anos,
onde são abordados os conceitos centrais de saúde, pessoa, ambiente, e
cuidados de enfermagem, e a teoria do conforto de Kolcaba, que suporta este
projecto. Posteriormente abordamos o cuidar da pessoa e família com doença
crónica e/ou paliativa. São, também, abordados aspectos relacionados com a
qualidade em enfermagem e as competências de Enfermeiro Especialista e
Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica. No final expomos a fundamentação,
execução da técnica de hipodermoclise e administração de terapêutica por via
subcutânea.
Na segunda parte apresentamos a definição do problema com o
diagnóstico da situação, e posteriormente o planeamento do projecto de
intervenção. São abordados os objectivos específicos, e as actividades que foram
desenvolvidas.
Na terceira parte, encontramos algumas reflexões que efectuamos ao
longo do estágio que decorreu, na sua maioria na Unidade de Pneumologia, e o
estágio opcional foi realizado na Unidade de Cuidados Paliativos S. Bento Menni
14
na Casa de Saúde da Idanha. Nestas reflexões estão patentes algumas das
competências do mestre, bem como as competências do Enfermeiro Especialista
em Enfermagem em Pessoa em Situação Critica e, em Situação crónica e
paliativa.
15
1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL
16
impacto significativo no desenvolvimento da disciplina de enfermagem. Os quatro
padrões são: o empírico, o pessoal, o estético, e o ético. O padrão empírico
representa o conhecimento do que é factual, descritivo e verificável. O seu
objectivo é desenvolver um conhecimento abstracto, ou seja elaboração de
teorias. O padrão pessoal é considerado o mais difícil, uma vez que é subjectivo.
Este está relacionado com o conhecimento de si mesmo, que permite estabelecer
um relacionamento autêntico e de reciprocidade com o outro. O estético,
compreende a arte da enfermagem, ou seja, a arte é expressa na interacção da
enfermeira com a pessoa. O padrão ético, centra-se no conhecimento sobre os
princípios e valores, sobre o que é bom e correcto, implica decidir o que é
apropriado à situação. CARPER (1978) refere que a enfermagem depende do
conhecimento científico do comportamento humano na saúde e na doença, a
percepção estética de experiências humanas significativas, compreensão pessoal
da individualidade de si mesmo e da capacidade de fazer escolhas em situações
concretas que envolvam julgamentos morais.
Concomitantemente, inicia-se a formação pós graduada (mestrado e
doutoramento) e, começam a desenvolver-se, nos anos 80, os modelos
conceptuais. Nesta década “os desenvolvimentos na teoria de enfermagem
caracterizaram uma transição do período de pré-paradigma para o período de
paradigma” TOMEY e ALLIGOOD (2004:5). A inserção de conceitos de
enfermagem globais, através do metaparadigma, introduz “uma estrutura
organizacional para o desenvolvimento do conhecimento de enfermagem (…)”
TOMEY e ALLIGOOD (2004:5).
Deste modo, o conhecimento em enfermagem estrutura-se, de acordo
com TOMEY e ALLIGOOD (2004) em níveis, nomeadamente: Metaparadigma,
Filosofia, Modelos Conceptuais, Grande Teoria, Teoria e Teoria de médio alcance.
O Metaparadigma é “o nível mais abstracto do conhecimento” nele
encontram-se os principais conceitos que “envolvem o conteúdo e o âmbito da
disciplina”, de acordo com TOMEY e ALLIGOOD (2004:6). Assim, os principais
conceitos metaparadigmáticos para a enfermagem são: a pessoa, o ambiente, a
saúde e a enfermagem.
A Filosofia é o nível seguinte de conhecimento e, nela estão especificadas
as “definições dos conceitos do metaparadigma em cada um dos modelos
17
conceptuais da enfermagem” TOMEY e ALLIGOOD (2004:7). Podemos encontrar,
neste âmbito, as obras de Florence Nightingale, Virgínia Henderson, Jean Watson,
Patrícia Benner, entre outras.
Os Modelos Conceptuais fornecem “diferentes perspectivas da
enfermagem de acordo com as características do modelo”. São estruturas ou
paradigmas que proporcionam “um amplo quadro de referência para abordagens
sistemáticas aos fenómenos com os quais a enfermagem está relacionada”
TOMEY e ALLIGOOD (2004:7). Neles podemos observar as obras de Myra
Levine, Dorothy Johnson, Irmã Callista Roy, Betty Neuman, entre outras.
A Teoria de enfermagem é constituída por um conjunto de conceitos, que
provém dos modelos de enfermagem. As grandes teorias “são quase tão
alargadas quanto o modelo de enfermagem”. O que os distingue é que os
modelos “dão uma visão ou perspectiva, mas não propõem verdades que se
possam testar” é algo mais abstracto, enquanto que as grandes teorias são
teorias porque “propõem realmente algo verdadeiro ou testável”, são por isso
mais concretas, TOMEY e ALLIGOOD (2004:7). Podemos encontrar as obras de
Dorothea Orem e Imogene King. A teoria pode ser extensa, mas com um campo
de acção limitado a determinados aspectos da enfermagem. As teorias, também,
podem “ser próprias de uma determinada abordagem à enfermagem ou de uma
determinada população de doentes” TOMEY e ALLIGOOD (2004:8).
A teoria de médio alcance “tem um foco de interesse mais limitado (…) e
determina coisas como a situação ou o estado de saúde, a população de doentes
ou a sua faixa etária, o estabelecimento ou a área de prática e a actuação da
enfermeira ou intervenção” TOMEY e ALLIGOOD (2004:8).
O aparecimento, de várias teorias leva os críticos a questionar o objecto
de estudo da enfermagem, ou seja, a diversidade com que se depara o campo de
actuação dos enfermeiros. APÓSTOLO e GAMEIRO (2005:30) referem que uma
disciplina para ser considerada científica “não se define só pelas acções ou pelas
actividades que fazem parte da sua prática, antes pelo corpo de conhecimentos
constituído sobre o seu objecto de estudo”. Apesar de não ser consensual qual o
objecto de estudo da enfermagem, é unânime que a pessoa é o centro ou o alvo
da enfermagem.
18
Todavia, BISHOP (2004:43) citando Meleis, refere que uma “disciplina
que lida com seres humanos, não é provável que apenas uma teoria explique,
descreva, preveja e modifique todos os fenómenos da disciplina”, daí a variedade
de teorias.
SOUSA SANTOS (1987:7) refere que o atraso das ciências sociais,
comparativamente com as ciências naturais deve-se, fundamentalmente, a que “a
acção humana é radicalmente subjectiva. O comportamento humano (…) não
pode ser descrito e muito menos explicado com base nas suas características
exteriores e objectiváveis, uma vez que o mesmo acto externo pode corresponder
a sentidos de acção muito diferentes”. Neste sentido, o mesmo autor refere que é
necessário compreender os fenómenos a partir das “atitudes mentais” e do
“sentido” que os “agentes” concedem às suas acções. Assim, a metodologia de
investigação terá que ser diferente das ciências naturais, utilizando métodos
qualitativos com vista à “obtenção de um conhecimento intersubjectivo, descritivo
e compreensivo (…)”.
APÓSTOLO e GAMEIRO (2005:30) realçam que a decisão do método de
investigação deverá ter em conta a natureza do problema, “no sentido de
compreender ou de explicar o fenómeno”. Evidenciam, assim, que “a abordagem
da investigação em enfermagem terá de ser plural, quer em termos
paradigmáticos quer metodológicos, adequando-se à natureza complexa da
pessoa sem excluir nenhuma das suas dimensões” APÓSTOLO e GAMEIRO
(2005:37).
Concluímos que, tal como refere TOMEY e ALLIGOOD (2004:12) a “teoria
confere significado ao conhecimento de modo a melhorar a prática descrevendo,
explicando e antevendo os fenómenos”, para além disso, capacita a enfermeira
com conhecimentos sólidos, que permitem uma melhor tomada de decisão, bem
como o pensamento crítico na prática de cuidados. O que conduz, naturalmente,
à compreensão do modo como fazem, o porquê e para quê o fazem. Assim,
TOMEY e ALLIGOOD (2004:19) mencionam que a teoria ajuda a enfermeira, a:
“organizar (…); compreender (…); analisar os dados do doente; tomar decisões
sobre intervenções de enfermagem; planear o tratamento; prever os resultados do
tratamento; avaliar os resultados do doente”.
19
Neste sentido, consideramos como conceitos centrais e que
fundamentam este trabalho, os conceitos de saúde, pessoa, ambiente e cuidados
de enfermagem, descritos, nos Padrões de Qualidade dos cuidados de
enfermagem, pela OE (2011:6). A Saúde é “o estado e, simultaneamente, a
representação mental da condição individual, o controlo do sofrimento, o bem-
estar físico e o conforto espiritual e emocional”. Todavia, e tendo em conta que
este é um estado mental, é portanto subjectivo, ou seja cada pessoa entende-o
de forma diferente. Consideramos, também, que este estado é variável no
decurso do tempo, pois a pessoa procura o estado de equilíbrio “que se traduz no
controlo do sofrimento, no bem-estar físico, e no conforto emocional, espiritual e
cultural” face aos desafios com que se depara ao longo da sua vida.
Do mesmo modo a OE (2011:6) define a Pessoa como “um ser social e
agente intencional de comportamentos baseados em valores, nas crenças e nos
desejos de natureza individual”. Consideramos que cada pessoa é um ser único,
e como tal tem dignidade própria e direito a autodeterminar-se. Consideramos,
também, que cada pessoa é influenciada pelo ambiente que a rodeia, onde nasce
e se desenvolve, na procura do seu equilíbrio. Deste modo, cada pessoa vivencia
um projecto de saúde que tem em conta os seus próprios valores, crenças e
desejos, do modo a atingir o seu equilíbrio. Contudo, a pessoa deve ser encarada
como um ser uno e indivisível, uma vez que a procura do equilíbrio das funções
fisiológicas é, também, influenciado pela condição psicológica.
O Ambiente, no qual a pessoa vive e se desenvolve, é considerado pela
OE (2011:7) “constituído por elementos humanos, físicos, políticos, económicos,
culturais e organizacionais, que condicionam e influenciam os estilos de vida e
que se repercutem no conceito de saúde”.
Os Cuidados de Enfermagem “tomam como foco de atenção a
promoção dos projectos de saúde que cada pessoa vive e persegue”, assim,
procuramos no decorrer do ciclo vital “prevenir a doença e promover os processos
de readaptação, procura-se a satisfação das necessidades humanas
fundamentais e a máxima independência na realização das actividades de vida,
procura-se a adaptação funcional aos défices e a adaptação a múltiplos factores –
frequentemente através de processos de aprendizagem do cliente” OE (2011:8).
Neste âmbito, a relação que o enfermeiro estabelece com a pessoa/pessoas
20
caracteriza-se por uma parceria, respeitando as suas capacidades e valorizando o
seu papel na consecução do seu projecto de saúde.
Como aporte teórico que fundamenta este projecto, a teoria escolhida
incide na Teoria do Conforto de Katharine Kolcaba, que será desenvolvida no
ponto seguinte.
21
enfermeiras aliviam as necessidades expressas pelos doentes2”; a Tranquilidade
(emerge do trabalho de Henderson) que descreveu as “ funções básicas dos
3
seres humanos que tinham que ser mantidas na homeostase ”; e a
Transcendência (extraída do trabalho de Paterson e Zderad) “que acreditavam
que os doentes podiam superar as suas dificuldades com a ajuda das
enfermeiras4”.
Deste modo, o alívio é a “condição de uma pessoa que viu satisfeita uma
5
necessidade específica ”. A tranquilidade é o “estado de calma ou
contentamento6” e a transcendência é a “condição na qual um indivíduo suplanta
os seus problemas ou sofrimento7”.
Situação de Desenvolvimento
estimulo Humano
Pressão Tendência
Alpha Pressão Unitária
Beta
Tema
Forças de Forças Forças de Percepção (Saúde)
Obstrução + Facilitadoras + Interacção
Comportamento
Necessidades Intervenção de Variáveis de Conforto de procura
de Cuidados + Enfermagem + Intervenção de saúde
em Saúde
Físico
Psico-Espiritual C. internos C. externos
Ambiental
Social
Morte
Pacifica
2
DOWD, Thérese in Teóricas de Enfermagem e a sua obra: modelos e teorias de enfermagem, 2004
3
Ibidem
4
Ibidem
5
DOWD, Thérese in Teóricas de Enfermagem e a sua obra: modelos e teorias de enfermagem, 2004
6
Ibidem
7
Ibidem
22
Na segunda dimensão da teoria do conforto, Kolcaba identifica quatro
contextos nos quais o conforto é experimentado:
“Físico – pertencente às sensações do corpo;
Psico-espiritual – pertencente à consciência interna de si próprio (…) e o
significado da vida (…), relação com uma ordem ou um ser mais elevado;
Ambiental – pertencente ao meio, às condições e influências externas;
Social – pertencente às relações interpessoais, familiares e societais.”
DOWD (2004:485).
Físico
Psico-espiritual
Ambiental
Social
23
das necessidades de conforto, a concepção das medidas de conforto para
abordar essas necessidades e a reapreciação dos níveis de conforto, após a
implementação, comparados com a anterior linha de base. A apreciação e a
reapreciação podem ser intuitivas e/ou subjectivas (…)”. O Doente é definido
como aquele que “recebe os cuidados” e “podem ser indivíduos, famílias,
instituições ou comunidades que necessitem de cuidados de saúde” DOWN (2004:
485). O Ambiente é entendido como “qualquer aspecto do doente, família ou
meios institucionais que podem ser manipulados pela (s) enfermeira (s) ou pelos
entes queridos para melhorar o conforto” ” DOWN (2004: 485). O conceito de
Saúde surge como “o funcionamento óptimo, conforme definido pelo paciente ou
grupo, de um doente, família ou comunidade” ” DOWN (2004: 485).
Kolcaba menciona que as necessidades de cuidados de saúde “são
necessidades de conforto resultantes de situações de cuidados de saúde,
provocadoras de tensão, que não podem ser satisfeitas pelos sistemas de suporte
tradicionais (…)” DOWD (2004:484) e, que as medidas de conforto são
“intervenções de enfermagem concebidas para abordar necessidades de conforto
específicos das pessoas, incluindo fisiológicas, sociais, financeiras, psicológicas,
espirituais, ambientais e físicas” DOWD (2004:484).
A mesma autora indica que as variáveis intervenientes são “definidas
como forças de interacção que influenciam a percepção do recipiente acerca do
conforto total. Estas consistem em variáveis tais como experiências passadas,
idade, postura, estado emocional, sistema de suporte, prognósticos, finanças e a
totalidade dos elementos da experiência de receptor”, DOWD (2004:484)
Do mesmo modo evidencia que os comportamentos de procura de
saúde (HBS) representam “a categoria de resultados subsequentes relacionados
com a busca da saúde conforme definida por quem recebe os cuidados, de
acordo com a consulta com a enfermeira. (…) Estes podem ser internos, externos
ou uma morte pacífica” DOWD (2004:484). Este conceito foi sintetizado do
trabalho de Rozella Schlotfedt.
Como pressupostos são assinalados:
“os seres humanos têm respostas holisticas aos estímulos complexos;
o conforto é o resultado holistico desejável relativo à disciplina de
enfermagem;
24
os seres humanos lutam para satisfazer as suas necessidades básicas de
conforto ou para que as satisfaçam;
o conforto melhorado dá ânimo aos doentes para empreenderem HBS
(comportamentos de procura de saúde) da sua escolha;
os doentes a quem são concedidos poderes para assumirem activamente
HBS estão satisfeitos com os seus cuidados de saúde;
a integridade institucional baseia-se num sistema de valores orientado para
os receptores de cuidados” DOWD (2004:486).
Evidencia-se, ainda, como postulados desta teoria que:
“As enfermeiras identificam as necessidades de conforto não satisfeitas
dos seus doentes, concebem medidas de conforto para abordar essas
necessidades e procuram melhorar o conforto dos seus doentes, que é o
resultado imediato desejado.
O conforto melhorado está directa e positivamente relacionado com o
compromisso com os HSB (comportamentos de procura de saúde), que é o
resultado posterior desejado.
Quando as pessoas tem o apoio necessário para se comprometerem
totalmente com os HSB (comportamentos de procura de saúde), tal como a
sua reabilitação e/ou programa ou regime de recuperação, a integridade
institucional também é melhorada” DOWD (2004:486).
Deste modo, podemos assim compreender qual a orientação a atribuir às
intervenções de enfermagem, onde as tensões negativas desencadearão
desconforto, e o enfermeiro através duma apreciação objectiva (observando graus
de conforto), ou subjectiva (questionando o doente), estabelece intervenções e
reavalia a eficácia das medidas implementadas.
O conforto é considerado, há muito, como um aspecto fundamental nos
cuidados de enfermagem. O que permite a aplicação desta teoria na prática, bem
como o desenvolvimento de novos estudos que revelam a sua importância. Deste
modo com base nesta teoria, Novak, B., Kolcaba, K., Steiner, R., & Dowd, T.
(2001) publicam no American Journal of Palliative Care, dois questionários do
conforto em fim de vida, um para ser aplicado ao doente (ANEXO I) e o outro para
ser aplicado à família.
25
Tendo em conta os aportes desta teria no cuidado à pessoa e família a
vivenciar situações complexas, abordaremos no capítulo seguinte a pessoa com
doença crónica e paliativa.
26
De acordo com a OE8 (2001:6) “a representação da condição individual e
do bem-estar é variável no tempo, ou seja, cada pessoa procura o equilíbrio em
cada momento, de acordo com os desafios que cada situação lhe coloca”.
A pessoa com uma patologia crónica pode sentir-se saudável, ou seja, é-
lhe diagnosticada uma doença, no entanto após um período de tomada de
consciência das repercussões que esta pode ter na sua vida, dos mecanismos de
adaptação que lhe são propostos, e até mesmo desenvolvidos pelo próprio,
podem provocar uma alteração de comportamentos, e assim as repercussões
podem ser minoradas, vivendo de forma estável.
POTTER E PERRY (2006) indicam diversas variáveis que podem
influenciar o comportamento da doença. Embora a forma como as pessoas
reagem a uma doença possa ser muito variado, o comportamento do doente pode
ser usado para gerir as adversidades. Daí que as variáveis possam ser internas
ou externas; as internas influenciam o modo como a pessoa se comporta quando
está doente, ou seja, a percepção da pessoa face aos sintomas e à natureza da
doença. Relativamente aos sintomas, o doente tende a procurar ajuda dos
profissionais de saúde, se eles provocarem alterações nas suas rotinas ou se
forem entendidos como um ameaça à vida. Porém, essa percepção pode ter um
efeito contrário, quando a pessoa sente que a doença pode ser grave, e ter medo
das consequências, reagindo com recusa e não procurando apoio profissional.
Em relação à natureza da doença, no caso de ser crónica, em que os
sintomas podem permanecer, isto é, não existe um tratamento, podendo apenas
haver alívio, pode influenciar a motivação para aderir ao plano terapêutico
proposto. De acordo com POTTER E PERRY (2006:11) “o objectivo da
enfermagem é a promoção de um funcionamento óptimo, em todas as suas
componentes ao longo de uma doença”. Deste modo, ajudar a pessoa com uma
doença crónica, é um desafio para o enfermeiro, uma vez que o doente crónico
pode ter tendência para se desmotivar facilmente na manutenção da estabilidade
da doença. Porém, o enfermeiro como tem mais disponibilidade, e por que passa
mais tempo com a pessoa é um elemento essencial para ajudar a pessoa neste
processo.
8
OE – Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, 2001
27
Face às variáveis externas, que podem influenciar o comportamento na
doença, de acordo com POTTER E PERRY (2006:12) são “a visibilidade dos
sintomas, o círculo social, o passado cultural, variáveis económicas,
acessibilidade ao sistema de saúde, e apoio social”. As autoras referem que a
pessoa que apresente um sintoma visível pode mais facilmente recorrer aos
serviços de saúde. Outro motivo, pode ser a rede familiar, de amigos ou colegas,
que podem levar ou não à procura desse apoio. Concomitantemente a cultura,
também, pode ter influência no comportamento face à doença, uma vez que
indica o modo como a pessoa pode ser saudável e reconhecer a doença. Por
outro lado, os aspectos económicos também podem ter repercussões na procura
dos serviços de saúde.
A doença crónica provoca várias alterações na pessoa e na família. De
acordo com POTTER E PERRY (2006) as repercussões são visíveis na alteração
comportamental e emocional; imagem corporal; auto-conceito e nos papéis
exercidos na família ou dinâmica familiar.
As alterações comportamentais e emocionais9, face à doença, dependem
da natureza da doença, da atitude do doente, da reacção dos outros e das
variáveis de comportamento da doença. Habitualmente, uma doença grave que
ameace a vida ou que provoque limitações significativas na vida da pessoa, pode
gerar sentimentos de ansiedade, choque, recusa, raiva e retracção. Neste âmbito
o enfermeiro poderá ser um elemento fundamental no apoio e crescimento da
pessoa e da família.
A imagem corporal10 está muito associada à aparência física. Por esse
motivo as repercussões que algumas doenças crónicas provocam na imagem da
pessoa são objecto da intervenção do enfermeiro. Dependendo da alteração física
que provocam, assim pode ser a reacção da pessoa ou da família.
O impacto no autoconceito11 está relacionado com a imagem mental que
a pessoa faz de si própria. POTTER E PERRY (2006:514) definem autoconceito
como “a maneira como a pessoa se vê a si mesma. É a combinação de
sentimentos, conscientes e inconscientes, atitudes e percepções”. Este depende
9
Cf. POTTER e PERRY – Fundamentos de Enfermagem, 2006
10
Ibidem
11
Ibidem
28
da imagem corporal, dos papéis exercidos na família e na sociedade, incluindo
também aspectos psicológicos e espirituais.
Por último, o impacto que a doença provoca nos papéis exercidos na
família ou dinâmica familiar12, quando surge uma situação de doença. Esta pode
provocar diversas alterações, por esse motivo o enfermeiro deve estar desperto
para estas possíveis alterações, no sentido de apoiar ou ajudar a recuperar o
bem-estar de todos os elementos.
De acordo com OE (2010:41) evidencia-se que “qualquer que seja o
modelo de cuidados na doença crónica utilizado, os enfermeiros são cruciais e
têm de ter os conhecimentos, as aptidões e atributos necessário que lhes
permitam contribuir com todo o seu potencial.”
As competências dos enfermeiros, que têm funções clínicas
especializadas, para prevenir e gerir a doença crónica, são de acordo com OE
(2010:42) referenciando o International Council Nursing (ICN) (2008):
“Respeitar o direito do cliente à informação, escolha e autodeterminação na
Enfermagem e nos cuidados de saúde;
Reconhecer oportunidades e disponibilizar orientações/educação aos
indivíduos, famílias e comunidades para incentivar a adopção de
actividades de prevenção da doença e a manutenção de estilos de vida
saudáveis;
Seleccionar estratégias de ensino/aprendizagem apropriadas às
necessidades e características do indivíduo ou do grupo;
Cooperar com outros profissionais, com grupos de interesse na
comunidade e na especialidade em actividades para reduzir a doença e
promover estilos e ambientes de vida saudáveis em áreas importantes para
a prática da especialidade;
Incorporar uma perspectiva que tenha em consideração os múltiplos
determinantes da saúde”.
Com os avanços da medicina, as alterações da sociedade e da família
tem-se verificado que a finitude do ser humano é encarada como um processo
doloroso e por isso, muitas vezes, evita-se lidar com este sofrimento. A morte é
“um facto inexorável da própria vida” NETO (2006:18). Esta dificuldade em lidar
12
Ibidem
29
com o doente terminal e a morte é, inclusivamente, difícil para muitos profissionais.
Por um lado, pode ser encarado como um insucesso, por outro lado pode ser
vista como constrangedora, uma vez que confronta o profissional com a sua
própria finitude, influenciado pelas suas crenças, valores e vivências anteriores
face ao fenómeno.
Todavia, tal como POTTER E PERRY (2006:564) referem “providenciar
cuidados a utentes em crise e no final de vida, requer conhecimentos e uma
atitude de cuidar para ajudar a trazer conforto a utentes e famílias mesmo quando
já não há esperança de cura”.
Os cuidados paliativos surgem na década de sessenta em Inglaterra e
nos Estados Unidos, com a finalidade de proporcionar “cuidados rigorosos,
científicos e de qualidade, a um grupo cada vez mais numeroso de pessoas que,
frequentemente eram encaradas como doentes a quem já não havia nada a fazer
– os doentes com doenças incuráveis, progressivas e avançadas” NETO
(2006:18). Estes cuidados são destinados a todas as pessoas que sofram de uma
doença grave e debilitante, incurável, e não apenas à pessoa em fim de vida. De
acordo com NETO (2006:30) o doente terminal é “aquele que apresenta doença
avançada, incurável e evolutiva, com elevadas necessidades de saúde pelo
sofrimento associado e que, em média, apresenta uma sobrevida esperada de 3 a
6 meses”.
NETO (2006:30) refere que a “prática dos cuidados paliativos, o respeito
pelo valor da vida humana e o alívio do sofrimento são valores inalienáveis,
interdependentes e fundamentais”. Apesar deste conceito estar já bastante
difundido no mundo, ainda se verifica que nem todas as pessoas têm acesso a
estes cuidados especializados. A Rede Nacional de Cuidados Continuados
Integrados, em Portugal, foi criada com Decreto-Lei nº 101/2006 de 6 de Junho.
Posteriormente, pelo Despacho n.º 28941/2007 cria o grupo de trabalho que
operacionalizará os objectivos contidos no Programa Nacional de Cuidados
Paliativos. E, recentemente, a Lei n.º 52/2012 de 5 de Setembro – Lei de Bases
dos Cuidados Paliativos, consagra o direito dos cidadãos aos cuidados paliativos
e regula o acesso à Rede Nacional de Cuidados Paliativos.
Os cuidados paliativos, de acordo com o Programa Nacional de Cuidados
Paliativos (2004), devem ser planeados em concordância com os níveis de
30
diferenciação. Com a tendência para a institucionalização da morte nos hospitais,
os profissionais de saúde que trabalham nestas unidades, vêem-se confrontados
com estas situações, que necessitam de uma abordagem paliativa. Verifica-se
que nem sempre estes profissionais têm formação específica, e é neste sentido
que é essencial criar condições para atender as pessoas com estas necessidades.
Deste modo, a Lei de Bases dos Cuidados Paliativos prevê que a acção
paliativa equivale ao “nível básico de paliação e corresponde à prestação de
acções paliativas sem o recurso a equipas ou estruturas diferenciadas”, Lei n.º
52/2012 de 5 de Setembro.
Assim a acção paliativa é definida como “ Qualquer medida terapêutica
sem intuito curativo, que visa minorar, em internamento ou no domicílio, as
repercussões negativas da doença sobre o bem-estar global do doente. As
acções paliativas são parte integrante da prática profissional, qualquer que seja a
doença ou a fase da sua evolução DIRECÇÃO GERAL DA SAÚDE (DGS)
(2004:6). Estes podem ser prestados tanto no âmbito da Rede Hospitalar, como
da Rede de Centros e Saúde, como da Rede de Cuidados Continuados,
nomeadamente em “situações de condição irreversível ou de doença crónica
progressiva” DGS (2004:6).
De acordo com a BASE I, da Lei n.º 52/2012 de 5 de Setembro os
Cuidados Paliativos são “os cuidados activos, coordenados e globais, prestados
por unidades e equipas específicas, em internamento ou no domicílio, a doentes
em situação de sofrimento decorrente de doença incurável ou grave, em fase
avançada e progressiva, assim como às suas famílias, com o principal objectivo
de promover o seu bem -estar e a sua qualidade de vida, através da prevenção e
alívio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual, com base na
identificação precoce e do tratamento rigoroso da dor e outros problemas físicos,
mas também psicossociais e espirituais”.
NETO (2006:19) reforça também, que os cuidados paliativos visam
“melhorar a qualidade de vida dos doentes – e das suas famílias – que enfrentam
problemas decorrentes de uma doença incurável e/ou grave e com prognóstico
limitado, através da prevenção e alívio do sofrimento, com recurso à identificação
precoce e tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, como a dor, mas
também dos psicossociais e espirituais”. Neste sentido, consideramos que os
31
profissionais de saúde, neste caso a equipa multiprofissional deve ter em conta
diversos aspectos quando cuida destas pessoas e famílias, não só os de natureza
física, mas também psicologia, social e espiritual.
Atendendo a que a qualidade de vida está de acordo com TWYCROSS
(2003:19) “relacionada com o grau de satisfação subjectiva que a pessoa sente
pela vida e é influenciada por todas as dimensões da personalidade – física,
psicológica, social e espiritual”, então podemos afirmar que a qualidade de vida é
atingida quando as “aspirações de um indivíduo são atingidas e preenchidas pela
situação actual. (…) Para melhorar a qualidade de vida, é necessário diminuir o
afastamento entre as aspirações e aquilo que é possível alcançar” TWYCROSS
(2003:19).
Deste modo, as premissas fundamentais em cuidados paliativos são de
acordo com TWYCROSS (2003):
Controlo de sintomas;
Comunicação adequada;
Apoio à família;
Trabalho de equipa.
Para se cuidar em enfermagem, temos que conhecer a pessoa tal como é,
os seus objectivos, crenças, valores, pois ela é o resultado das influências que
sofreu do meio em que viveu ou que a rodeia. Neste sentido WATSON (2002)
refere que a relação estabelecida com a pessoa tem como finalidade ajudá-la a
encontrar um sentido na doença, no sofrimento e na própria existência, ou seja,
ajudar a pessoa a adquirir um auto-conhecimento, controlo e auto-
restabelecimento para reparar uma harmonia interior. No entanto, este cuidar
exige que o enfermeiro seja autêntico e sincero.
Assim, cuidar torna-se um desafio, as pessoas têm diferentes
experiências de vida o que as torna seres únicos. É nesta unicidade que o cuidar
tem uma abordagem tal como refere HESBEEN (2000:10) que “não é
preestabelecida nem programável nem pode ser repetida de indivíduo para
indivíduo. Deve ser sempre pensada, repensada, criada”. O enfermeiro deve
encarar a pessoa de acordo com a sua individualidade, pois só desta forma
poderá compreende-la e ajudá-la. Para este autor os cuidados de enfermagem
são definidos como “a atenção particular prestada (…) a uma pessoa ou aos seus
32
familiares com vista a ajudá-los na sua situação”. Estes cuidados abrangem tudo
o que é feito pelo enfermeiro, e “pela sua natureza, permitem sempre fazer
alguma coisa por alguém a fim de contribuir para o seu bem-estar, qualquer que
seja o seu estado” HESBEEN (2000:69). Desta forma, o enfermeiro pode a
qualquer momento, fazer sempre algo pelo doente. Tal como refere HESBEEN
(2000:47) o enfermeiro tem “a possibilidade de fazer mais alguma coisa por
alguém, de o ajudar, de contribuir para o seu bem-estar, para a sua serenidade,
mesmo nas situações mais desesperadas”. Estes gestos ou acções podem ser
«pequenas coisas», mas naquele exacto momento podem ser determinantes e
proporcionar um bem-estar inimaginável, pois para aquela pessoa naquele
determinado momento isso é importante. Estes pequenos gestos são
enquadrados no cuidado a esta pessoa/família, e têm sempre por base um
fundamento, ou seja a preocupação pela pessoa que queremos ajudar.
De acordo com NETO (2006:54) um dos itens fundamentais quando se
cuida do doente terminal é o alívio de sintomas. Refere que é importante “saber
reconhecer, avaliar e tratar adequadamente os múltiplos sintomas que surgem e
que têm repercussões directas sobre o bem-estar do doente”.
Naturalmente que para haver um controlo activo dos sintomas há que
identificá-los. A mesma autora refere que os princípios gerais no controlo de
sintomas passam por avaliar antes de tratar. Para além da identificação da causa,
é necessário avaliar o impacto que provoca a nível emocional, físico, intensidade
e os factores que o condicionam. Explicar de forma clara e perceptível as causas
que provocam determinado sintoma. E, ao mesmo tempo observar e perguntar,
antecipando-se assim ao possível aparecimento. Posteriormente, adoptar
estratégias de combate, fixando metas para o cumprimento dos objectivos
terapêuticos. Monitorizar os sintomas através de escalas, de modo a que estes
possam ser mensuráveis para haver uma melhor compreensão e um controlo
mais eficaz. Reavaliar regularmente as medidas que foram tomadas,
estabelecendo objectivos realistas. E, por fim, cuidar dos detalhes, de modo a
optimizar o controlo sintomático e minimizar os efeitos secundários da terapêutica.
Desta forma, e conforme NETO (2006:58) afirma “os profissionais de enfermagem
(…) detêm um papel fundamental na monitorização dos sintomas e, como tal no
sucesso do processo terapêutico”.
33
Concomitantemente a comunicação adequada com a pessoa e a família
nesta fase, também, assume um papel relevante. Cuidar o doente/família em fim
de vida requer o estabelecimento de uma comunicação terapêutica, tendo como
base um clima de confiança, que permita apoiar e ajudar, o mais tranquilamente
possível nesta fase da vida. A comunicação terapêutica envolve a capacidade
necessária ao enfermeiro de escutar, de falar e de perceber. É uma comunicação
deliberada e intencional, cujo sentido é identificar e intervir nos problemas e
necessidades do doente e família.
Contudo, diversos aspectos devem ser considerados para se estabelecer
uma comunicação eficaz. Devemos ter em conta que as pessoas comunicam
através da linguagem, dos movimentos, dos gestos, do tom de voz, da expressão
facial e da utilização do espaço. As mensagens transmitidas de forma verbal ou
não verbal podem interferir na qualidade da mensagem.
O enfermeiro tem o privilégio de poder estabelecer uma relação mais
estreita com a pessoa e família. Tal como refere POTTER e PERRY (2006:576)
uma das competências mais importantes, do enfermeiro na prestação de
cuidados paliativos “é estabelecer uma relação de cuidar com o utente e a família,
para que se possa envolver numa comunicação importante com eles”.
Segundo QUERIDO, SALAZAR e NETO (2006:358) comunicar com a
pessoa/ família, em contexto de cuidados paliativos “é simultaneamente
importante e difícil, e constitui um desafio, porque implica a utilização de perícias
básicas essenciais à comunicação (…). Essas perícias incluem ouvir, observar e
tomar consciência dos nossos próprios sentimentos”.
No âmbito dos cuidados paliativos existem várias situações, relacionadas
com a comunicação, que podem ser complexas, nomeadamente a transmissão de
más notícias, e conspiração do silêncio. Assim, segundo QUERIDO, SALAZAR e
NETO (2006) citando Buckman, a comunicação de más notícias deve seguir seis
passos, nomeadamente:
Conseguir um ambiente correcto;
Descobrir o que o doente já sabe;
Descobrir o que o doente quer saber;
Partilhar a informação;
Responder às reacções do doente;
34
No fim, planear e acompanhar.
No entanto, o enfermeiro não deverá esquecer a importância do
acompanhamento por parte dos familiares. Estes são um elo importante nesta
fase. São eles que melhor conhecem o doente, por esse motivo, também, eles
podem contribuir para que essa pessoa possa viver o máximo de bem-estar até
ao fim. Devemos ter em consideração que este acompanhamento pode ser
benéfico para a pessoa em fase terminal, mas trará concerteza muito sofrimento
para os familiares mais próximos. Esta dificuldade poderá ser geradora de grande
angústia, pois pode verificar-se um sentimento de dificuldade em aceitar toda esta
situação, ou seja, também estes familiares passarão pelo processo de luto. Deste
modo, o cuidar do doente em fase terminal, também se estende aos seus
familiares ou conviventes significativos, que o acompanham nesta etapa da vida.
A perda e o luto são vivências que afectam muito as pessoas. No caso da
pessoa com uma doença crónica/paliativa pode provocar variadíssimas alterações
a nível físico, psíquico, social, emocional e espiritual. A perda de acordo com
POTTER E PERRY (2006:564) “assume muitas formas, com base em valores e
prioridades adquiridas dentro da esfera de influência de uma pessoa, incluindo a
família, os amigos, a sociedade, e a cultura de um indivíduo”. Desta forma, a
perda manifesta-se pela ausência de um objecto, de uma pessoa, de uma parte
do corpo, de uma função orgânica, de uma emoção ou de uma ideia.
O tipo de perda e a percepção que a pessoa faz dela influenciam o modo
de lidar e as estratégias de adaptação. Cada pessoa reage de maneira diferente
face à perda, dependendo do valor que a pessoa atribui ao que perdeu, seja um
objecto, uma pessoa, um membro, ou outro. Desta forma, o enfermeiro deve
avaliar o que aquela perda significa para a pessoa, quais os efeitos na sua saúde
ou bem-estar. Contudo, esta assistência só é possível estabelecendo uma relação
de ajuda com a pessoa e o convivente significativo, de modo a gerir os
sentimentos e ajudar a definir estratégias de adaptação à perda.
POTTER E PERRY (2006:565) evidenciam que a hospitalização, a
doença crónica ou a incapacidade são momentos críticos e podem ter associadas
muitas perdas. No caso da doença crónica “acrescenta preocupação à segurança
financeira (…) pode exigir uma mudança de trabalho, ameaçar a independência e
forçar a alterações no estilo de vida (…) pode colocar uma grande ameaça à
35
estabilidade das relações”. Assim, o enfermeiro deve estar desperto para estas
situações de modo a poder apoiar ou encaminhar para outros técnicos, de acordo
com a necessidade da pessoa/família.
KUBLER-ROSS (2002) menciona o comportamento da pessoa face à
morte. As fases do morrer são cinco: a negação e isolamento, a raiva, a
negociação (barganha), a depressão e a aceitação.
A primeira fase13 – é caracterizada pela negação inicial, a pessoa recusa-
se a aceitar, põe em causa a informação dada, alegando engano ou troca dos
exames. Procura nesta fase várias opiniões face ao seu problema, esperando
encontrar algo que contradiga o anterior. KUBLER-ROSS (2002:44) refere que a
negação “funciona como um pára-choques depois de notícias inesperadas e
chocantes”. “A negação é uma defesa temporária, sendo logo substituída pela
aceitação parcial”, refere KUBLER-ROSS (2002:45).
Na segunda fase14 – a característica é a raiva. Após a recusa ou negação,
podem surgir outros sentimentos, como a raiva, a revolta, a inveja ou o
ressentimento. Nesta fase KUBLER-ROSS (2002:56) refere que “é muito difícil, do
ponto de vista da família e do pessoal hospitalar (…) deve-se isso ao facto desta
raiva se propagar em todas as direcções e projectar-se no ambiente, muitas
vezes sem razão plausível”. Esta reacção deve-se ao facto da pessoa querer ser
ouvida, que não nos esqueçamos dela. Por esse motivo devemos mostrar
disponibilidade para a ouvir, quais são os seus medos, quais são os seus
sentimentos perante o que está a acontecer, e não entendermos como forma de
agressão.
Na terceira fase15 – a negociação (barganha), nesta fase a pessoa tenta
adiar ao máximo o fim, negociando ou tentando arranjar tarefas significativas para
executar.
Na quarta fase16 – a depressão, é quando a pessoa não pode negar mais
a sua situação, quando começa a sentir-se mais debilitado, e apresentar sinais da
doença. Neste momento é desaconselhável o encorajamento das coisas positivas,
devemos sim fazer com que a pessoa exteriorize o seu pesar. Deste modo, de
13
Kubler-Ross, Sobre a Morte e o Morrer, 2002
14
Ibidem
15
Ibidem
16
Ibidem
36
acordo com KUBLER-ROSS (2002:93) “aceitará mais facilmente a situação e
ficará agradecido aos que puderam estar com ele neste estado de depressão sem
repetir constantemente que não fique triste”.
Na quinta 17 e última fase – a aceitação, KUBLER-ROSS (2002:117)
evidencia que a pessoa “que tiver tido tempo necessário (…) e tiver recebido
alguma ajuda para superar tudo (…) atingirá um estágio em que não mais sentirá
depressão nem raiva quanto ao seu «destino» ”. Nesta fase, a pessoa sente
“como se a dor tivesse esvanecido, a luta tivesse cessado e fosse chegado o
momento do «repouso derradeiro antes da longa viagem» (…) é também o
período em que a família geralmente carece de ajuda, compreensão e apoio (…)”
KUBLER-ROSS (2002:118).
A perda pode conduzir a processos do luto complicados. De acordo com
POTTER E PERRY (2006:565) o luto é “a resposta emocional e comportamental
à perda”. O êxito, de acordo com as mesmas autoras, surge quando a pessoa
aceita a perda, adapta-se e prossegue a sua vida. Deste modo, torna-se
importante identificar precocemente estas situações. De acordo com vários
autores o luto pode ter várias fases. Devemos ter em conta que a família, também
passa pelo mesmo processo. Neste sentido, BARBOSA (2006:389) menciona que
“perante um perda significativa, o processo de luto é necessário e cumpre uma
função de adaptação, permitindo que o indivíduo restabeleça o equilíbrio desfeito
depois da perda”. O mesmo autor evidencia que o profissional de saúde deve,
face à pessoa, valorizar a importância da perda de forma realista, promover a
expressão de sentimentos evitando negar ou minimizar os sentimentos de perda,
emancipar-se e aprender a viver sem o objecto perdido, após ter compreendido o
papel desempenhado pela pessoa falecida. Para além disso deve promover o
interesse por novas actividades, possibilitando novos vínculos de forma
satisfatória.
Outro aspecto fundamental em cuidados paliativos é o trabalho em equipa.
Esta deve ser constituída por vários elementos com diferentes saberes e
competências cujo objectivo é o bem-estar global da pessoa e da sua família.
Assim, todos os elementos trabalham com uma metodologia comum, “partilhando
um projecto assistencial e objectivos comuns” BERNARDO et al. (2006:465).
17
Kubler-Ross, Sobre a Morte e o Morrer, 2002
37
BERNARDO et al (2006:464) referem que a “actuação em equipa deve enfatizar a
vida, encorajar a esperança e ajudar as pessoas a aproveitarem o melhor de cada
dia”.
Os mesmos autores evidenciam que as características de uma equipa
eficaz são:
“Propósito partilhado;
Empowerment;
Relações e comunicação;
Flexibilidade;
Óptimo rendimento;
Reconhecimento;
Motivação” BERNARDO et al (2006:467).
18
Decreto-Lei nº 161/96 de 4 de Setembro
38
elementos possuem quadros de valores, crenças e desejos de natureza individual,
consequência das variadas condições ambientais onde se desenvolvem. A
relação terapêutica alicerça-se pela parceria estabelecida, no respeito pelas
capacidades e na valorização dos seus papéis. Assim, a relação desenvolve-se e
fortalece-se ao longo de um processo dinâmico que tem como objectivo ajudar o
cliente e convivente significativo, na promoção do projecto de saúde que este vive
ou persegue OE19 (2001).
Consideramos que o Enfermeiro Especialista é “ o enfermeiro habilitado
com um curso de especialização em enfermagem ou com um curso de estudos
superiores especializados em enfermagem, a quem foi atribuído um título
profissional que lhe reconhece competência científica, técnica e humana para
prestar, além de cuidados gerais, cuidados de enfermagem especializados na sua
área da sua especialidade” REPE20 (1996:6).
Recentemente, de acordo com o Regulamento nº122/2011 de 18 de
Fevereiro, o Enfermeiro Especialista é o enfermeiro “com o conhecimento
aprofundado num domínio específico de enfermagem, tendo em conta as
respostas humanas aos processos de vida e aos problemas de saúde, que
demonstram níveis elevados de julgamento clínico e tomada de decisão,
traduzidos num conjunto de competências especializadas relativas a um campo
de intervenção”.
A alteração do Estatuto da OE, através da Lei nº 111/2009 de 16 de
Setembro, consagra a criação de colégios das diversas especialidades. Neste
sentido o Conselho de Enfermagem apresenta em 2009 uma proposta
relativamente aos processos e instrumentos de operacionalização do sistema de
individualização das Especialidades Clínicas em Enfermagem. Este sistema
considera na matriz de individualização das especialidades um eixo estruturante –
o alvo de intervenção (pessoa e família) e dois eixos organizadores – processos
de saúde/doença e o ambiente. Assim, constituem-se áreas de especialização em
enfermagem.
A Especialidade de Enfermagem Médico-cirúrgica é composta por
duas grandes áreas, nomeadamente a Especialidade em Enfermagem em
19
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, 2001
20
Ibidem
39
Pessoa em situação Critica, e a Especialidade em Enfermagem em Pessoa em
situação crónica e paliativa, com a finalidade de dar resposta às necessidades de
cuidados de saúde existentes, actualmente em Portugal.
No caso do Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Pessoa em
situação Critica para além de considerar a Pessoa como “um ser social e agente
intencional de comportamentos baseados nos valores, nas crenças e nos desejos
da natureza individual, o que torna cada pessoa num ser único com dignidade
própria e direito a autodeterminar-se”. Considera, também, que a Pessoa em
situação crítica é de acordo com o Regulamento nº 124/2011 de 18 de Fevereiro,
“aquela cuja vida está ameaçada por falência ou eminência de falência de uma ou
mais funções vitais e cuja sobrevivência depende de meios avançados de
vigilância, monitorização e terapêutica”.
Deste modo, os cuidados de enfermagem à pessoa em situação
crítica “são cuidados altamente qualificados prestados de forma continua à
pessoa com uma ou mais funções vitais em risco imediato, como respostas às
necessidades afectadas e permitindo manter as funções básicas de vida,
prevenindo complicações e limitando incapacidades, tendo em vista a sua
recuperação total” (Regulamento nº 124/2011 de 18 de Fevereiro).
A Pessoa com doença crónica é caracterizada por ter uma doença
prolongada “frequentemente associadas a um variável grau de incapacidade, de
curso prolongado e geralmente de progressão lenta, com potencial de
compensação e que implicam a necessidade de adaptação a diversos níveis
(físico, familiar, social, psicológico emocional e espiritual) ” OE (2011)
(Regulamento de Competências específicas do enfermeiro especialista em
pessoa em situação crónica e paliativa). O alvo de intervenção é a Pessoa com
doença crónica incapacitante e terminal, ao longo do ciclo vital. Os cuidados de
enfermagem à pessoa em situação crónica e paliativa são dirigidos aos
projectos de saúde da pessoa com doença crónica incapacitante e terminal, bem
como aos cuidadores, familiares, grupo social e de pertença, preservando a sua
dignidade, maximizando a sua qualidade de vida e diminuindo o sofrimento,
sempre em colaboração com a restante equipa interdisciplinar. Neste contexto, os
cuidados paliativos, assentam em cinco pilares fundamentais: controlo de
40
sintomas; suporte psicológico, emocional e espiritual; comunicação eficaz e
terapêutica; cuidado à família, e no trabalho em equipa.
O Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica, no exercício
das suas funções deve observar as competências comuns e as competências
específicas, no caso as referentes ao especialista em enfermagem à pessoa em
situação crítica e em situação crónica e paliativa. Assim, de acordo com os
domínios, as competências comuns são:
A – Domínio da responsabilidade profissional, ética e legal;
A 1 – Desenvolve uma prática profissional e ética no seu campo de
intervenção;
A 2 – Promove práticas de cuidados que respeitem os direitos humanos e
as responsabilidades profissionais;
B – Domínio da melhoria da qualidade;
B 1 – Desempenha um papel dinamizador no desenvolvimento e suporte
das iniciativas estratégicas institucionais na área da governação clínica:
B 2 – Concebe, gere e colabora em programas de melhoria contínua da
qualidade;
B 3 – cria e mantém um ambiente terapêutico seguro;
C – Domínio da gestão de cuidados;
C 1 – Gere os cuidados, optimizando a resposta da equipa de enfermagem
e seus colaboradores e a articulação na equipa multiprofissional;
C 2 – Adapta a liderança e a gestão dos recursos às situações e ao
contexto visando a optimização da qualidade dos cuidados;
D – Domínio do desenvolvimento das aprendizagens profissionais;
D 1 – Desenvolve o auto-conhecimento e a assertividade;
D 2 – Baseia a sua praxis clínica especializada em sólidos e válidos
padrões do conhecimento (Regulamento nº 122/2011 de 18 de Fevereiro).
41
K 2 – Dinamiza a resposta a situações de catástrofe ou emergência multi-
vitima, da concepção à acção.
K 3 – Maximiza a intervenção na prevenção e controle de infecção perante
a pessoa em situação critica e ou falência orgânica, face à complexidade
da situação e à necessidade de respostas em tempo útil e adequadas
(Regulamento nº 124/2011 de 18 de Fevereiro).
21
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, 2001
42
Às competências do enfermeiro especialista, acrescem as competências
de Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica, considerando o documento
orientador da escola, com base no Dec. Lei nº117/2008 de 25 de Junho. Assim, o
Mestre deve:
Demonstrar competências clínicas específicas na concepção, gestão e
supervisão clínica dos cuidados de enfermagem;
Desenvolver autonomamente o conhecimento e competências ao longo
da vida e em complemento às adquiridas;
Integrar equipas multidisciplinares de forma proactiva;
Agir no desenvolvimento da tomada de decisão e raciocínio conducentes
à construção e aplicação de argumentos rigorosos;
Iniciar, contribuir para e/ou sustentar a investigação para promover a
prática de enfermagem baseada na evidência;
Realizar análise diagnóstica, planear, intervir e avaliar na formação de
pares e de colaboradores, integrando a formação, investigação, politicas
de saúde e a administração em saúde em geral e em enfermagem em
particular.
43
organismos, como a Organização Mundial de Saúde, Conselho Internacional dos
Enfermeiros, Conselho Nacional da Qualidade e Instituto da Qualidade em saúde.
O Departamento da Qualidade em Saúde, da Direcção Geral da Saúde,
criado em 2009 define a estratégica nacional para a qualidade em saúde através
do despacho 14223/2009 de 24 de Junho. Este departamento tem como
competência “coordenar a Estratégia Nacional para a Qualidade na Saúde, os
programas e actividades de melhoria contínua da qualidade clínica e
organizacional, de assegurar o sistema de qualificação de unidades de saúde e
dos programas de promoção da segurança dos doentes, para além da vigilância
de doenças abrangidas pelo sistema de gestão integrada da doença, da
coordenação de fluxos de mobilidade internacional de doentes, da gestão dos
sistemas de monitorização e percepção da qualidade dos serviços pelos utentes e
profissionais de saúde e da inovação em saúde” (PLANO NACIONAL DE SAÚDE
2012/2016: 11). A qualidade em saúde pode ser entendida como “a prestação de
cuidados de saúde acessíveis e equitativos, com um nível profissional óptimo, que
tenha em conta os recursos disponíveis e consiga a adesão e satisfação do
cidadão. Implica, ainda, a adequação dos cuidados de saúde às necessidades e
expectativas do cidadão e o melhor desempenho possível” (PLANO NACIONAL
DE SAÚDE 2012/2016:2).
O Departamento da Qualidade define quatro pontos importantes para
melhorar a qualidade em saúde, nomeadamente: o reforço da gestão clínica,
empresarial, financeira, de informação, e gestão do risco; mecanismos de
influência como normas de orientação clínica, ambiente e arquitectura, modelos
de financiamento, planeamento de recursos humanos, cultura de avaliação e
desenvolvimento da qualidade; processos assistenciais integrados e a
participação e capacitação dos doentes.
Do mesmo modo, a Ordem dos Enfermeiros, nomeadamente o Conselho
de Enfermagem, tem uma preocupação com esta área divulgando em 2001 os
padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem, ou seja, linhas orientadoras
do exercício profissional dos enfermeiros com vista à qualidade dos cuidados de
enfermagem. Posteriormente, em 2011, apresenta o regulamento dos padrões de
qualidade dos cuidados de enfermagem especializados, das diversas
especialidades.
44
A implementação de uma cultura de qualidade nos serviços, e de
programas de melhoria contínua da qualidade é facilitador da implementação de
projectos de melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem. HESBEEN
(2001:15) refere que “pensar na qualidade e nas acções desenvolvidas em seu
nome, com bases conceptuais frágeis, pode revelar-se perigoso para o
desempenho dos profissionais e para a representação que estes fazem da sua
própria actividade”. Tendo por base esta ideia é necessário que cada um de nós
(enfermeiros) tenha presente os conceitos (saúde, pessoa, ambiente e cuidados
de enfermagem) e os integre na sua prática de cuidados.
HESBEEN (2001) refere que ainda hoje, alguns profissionais pensam que
a saúde é a ausência da doença. Contudo, evidencia um exemplo de um doente
com cancro, em fim de vida, interrogando-se se as acções dirigidas à saúde da
pessoa, do seu equilíbrio, harmonia e esperança, no sentido de viver o melhor
possível esta etapa de forma tranquila e sem sofrimento, contrariam o predomínio
da doença. Ao centrar o cuidado na pessoa e não na doença, o enfermeiro
focaliza a necessidades da pessoa face ao que está a vivenciar. HESBEEN
(2001:19) diz que “cada pessoa, seja qual for a sua doença, necessita de uma
atenção personalizada das acções específicas que lhes são inerentes. Esta
atenção pode ser maior ou menor segundo a natureza da lesão ou da doença”.
Neste sentido HESBEEN (2001) indica que o profissional que cuida, numa
perspectiva de saúde, utiliza vários recursos, de forma subtil de modo a actuar
como um perito: definindo o que é exequível, fornecendo várias alternativas de
forma a alargar o horizonte da pessoa, agindo também como transmissor de
esperança. E, como conselheiro, tendo um discurso pertinente e esclarecedor
sobre as várias alternativas, e determinando com o doente caminhos de forma a
orientá-lo. Assim, o prestador de cuidados, “procura o encontro, com a pessoa
para criar laços de confiança com ela, mostra-se como alguém que ajuda e
acompanha a pessoa que cuida, questionando-se sobre a sua singularidade,
identificando os seus recursos e procurando com ela a via que faça sentido na
sua situação e para o seu projecto de vida. Caminha com ela para promover a
sua saúde” HESBEEN (2001:32). BENNER (2001:58) evidencia que o perito “tem
uma enorme experiência, compreende agora, de maneira intuitiva cada situação e
45
apreende directamente o problema sem se perder num largo leque de soluções e
de diagnósticos estéreis”.
HESBEEN (2001) fundamenta que todos os profissionais abrangem o
«cuidar». Contudo, e referindo-se especificamente aos enfermeiros, relata que
estes dispõem de recursos específicos que lhe conferem a função de perito e
conselheiro. Nomeadamente, nos «cuidados ditos de base» relacionadas com
actividades de vida diária (alimentação, higiene, …) e conforto. São estes
cuidados e o que representam para a pessoa que conferem “à enfermagem uma
relação privilegiada com o corpo, que não pode ser negligenciada” HESBEEN
(2001:34). Assim, o enfermeiro especialista e mestre tem a capacidade de actuar
num nível de complexidade, como é o caso da pessoa em situação crítica ou
crónica e paliativa.
Salienta-se, também, que «uma presença contínua» proporciona a
oportunidade de poder viver momentos muito especiais, de grande proximidade
com as pessoas que cuida. “A presença contínua confronta-os, igualmente, com
exigências (…) e desafia-os a exercitar todos os gestos e actividades possíveis”
HESBEEN (2001:34).
Por último o autor evidencia o «mundo de acções de carácter mais ou
menos técnico». Neste item HESBEEN (2001:34) diz que “os enfermeiros são
profissionais que cuidam, cuja arte é complexa, subtil e enraizada num
profissionalismo que não se manifesta apenas através dos actos praticados mas
também através da capacidade de ir ao encontro dos outros e de caminhar com
eles para conseguirem uma saúde melhor”. Salienta-se a atenção que é dada às
«pequenas coisas», que no fundo são estas que personalizam o cuidado e
evidenciam a pessoa como ser único.
Todavia, a qualidade apesar de ser divulgada e estar muito presente na
prática de cuidados, é necessário enquadrar e reflectir acerca do que é a
qualidade nos cuidados. Temos que considerar vários aspectos na perspectiva do
profissional e da pessoa/família que recorre aos serviços de saúde.
HESBEEN (2001) referencia que a qualidade deve estar associada ao
conceito de cuidar. Por um lado, associa-se ao aspecto técnico e instrumental, e
por outro lado, e não menos importante, mas muitas vezes descurado em
detrimento do anterior, o aspecto relacional, o de ouvir a pessoa. HESBEEN
46
(2001:41) menciona que o ouvir “faz parte integrante da missão de cuidar,
independentemente da profissão”. É algo que por vezes não se faz, utilizando a
desculpa da falta de tempo, mas que outras vezes está associado à rotinização
dos procedimentos. É, pois, necessário considerar este assunto, quando
abordamos a qualidade dos cuidados.
Deste modo, HESBEEN (2001:43) considera que “o acolhimento, o ouvir,
a disponibilidade e a criatividade dos prestadores de cuidados associada aos
seus conhecimentos de natureza científica e às competências técnicas, revelam-
se nestes casos como componentes essenciais a um cuidar de qualidade”.
O cuidar de acordo com WATSON (2002:55) é o ideal moral da
enfermagem, tem como objectivo “proteger, melhorar e preservar a dignidade
humana”. O cuidar envolve “valores, vontade, um compromisso para o cuidar,
conhecimentos, acções carinhosas e suas consequências”. Esta autora refere
ainda que todo o cuidar “está relacionado com respostas humanas
intersubjectivas às condições de saúde-doença; um conhecimento saúde-doença;
interacções ambiente-pessoa; um conhecimento do processo de cuidar; um
autoconhecimento e conhecimento das nossas capacidades e limitações para
negociar”.
Concomitantemente, HESBEEN (2001:45) diz que a arte de cuidar se
baseia em “conhecimentos e na capacidade para harmonizar os diferentes
elementos que constituem uma determinada situação”. É deste modo, “pôr em
evidência a qualidade e a criatividade, sendo que esta última, constitui uma obra
única que exprime a competência dos profissionais em cuidar de uma pessoa na
situação igualmente única que é a dela”.
Considera-se, assim que a qualidade dos cuidados está associada não só
ao desempenho com rigor das competências técnico/científicas, instrumentais,
mas também ao desempenho das competências relacionais. Sendo que estas
últimas são fundamentais para se estabelecer com a pessoa uma relação
terapêutica mais próxima, de modo a conhecer a pessoa, quais os seus valores,
crenças, projecto de saúde, e necessidades face ao problema com que se
depara, para assim, a podermos ajudar na consecução do seu projecto de saúde.
HESBEEN (2001) considera que apesar de a qualidade ser um processo
complexo e difícil de definir, este só existe se nos cuidados que prestamos, bem
47
como a forma como os prestamos fizerem sentido para a pessoa que está a ser
cuidada. Contudo, a busca de sentido, para este autor é “incontornável numa
prática verdadeiramente centrada no cuidar e não pode resumir-se aos meios
utilizados” HESBEEN (2001:51). Daí que a reflexão e a crítica sobre as práticas,
também têm um papel fundamental na melhoria, crescimento e desenvolvimento
da qualidade na prática de cuidados.
Assim, HESBEEN (2001:52) afirma que uma prática de cuidados de
qualidade é “aquela que faz sentido para a situação que a pessoa doente está a
viver e que tem como perspectiva, que ela, bem como ao que a rodeiam
alcancem a saúde”. Refere ainda que “requer uma atenção particular para com as
pessoas, criada pela preocupação com o respeito por elas”. E, “procede da
utilização coerente e complementar dos diversos recursos de que a equipa dispõe
e constitui a prova dos talentos destes profissionais”. Para além de se inscrever
“num contexto político, económico e organizacional com orientações, meios e
limites pertinentes e claramente identificados”.
Deste modo, HESBEEN (2001) considera sete classes dos elementos
determinantes que contribuem para a qualidade dos cuidados, nomeadamente:
Aspectos políticos e económicos;
Organização concreta das estruturas;
Reflexões filosóficas e conhecimentos técnico-científicos;
Métodos de colheita de dados sobre a prática e processos de avaliação;
Pessoa que recebe cuidados e família;
Desempenho e competências dos actores;
Formação dos profissionais.
A OE em 2001, através do Conselho de Enfermagem define o
enquadramento conceptual e os Padrões de qualidade dos cuidados de
enfermagem para o enfermeiro de cuidados gerais, dando início a uma nova fase
de contextualização dos cuidados de enfermagem. Assim, foram definidas
categorias de enunciados, e os elementos importantes para cada categoria,
nomeadamente: satisfação do cliente, promoção da saúde, prevenção de
complicações, bem-estar e autocuidado, readaptação funcional e organização dos
cuidados de enfermagem. Considerado pela OE (2001:3) como um grande
desafio “quer pelo reflexo na melhoria dos cuidados de enfermagem a fornecer
48
aos cidadãos, quer pela inerente e vantajosa necessidade de reflectir sobre o
exercício profissional dos enfermeiros”.
De acordo com LEITE (2007:29) pretende-se que os enfermeiros nesta
nova fase de apropriação dos conceitos enunciados “assumam estes referenciais
da profissão como instrumentos de busca das melhores respostas em cuidados
de enfermagem, perseguindo a excelência do serviço que as instituições
prestadoras de cuidados de saúde oferecem aos cidadãos”.
Entendemos que a qualidade em saúde é uma tarefa multiprofissional, e
deste modo a enfermagem assume-se como um elo fundamental nesta cadeia. As
seis categorias, definidas em 2001, pela OE, para os enfermeiros de cuidados
gerais têm como finalidade ajudar a precisar o papel do enfermeiro junto dos
clientes, dos outros profissionais, do público e dos políticos. Em 2011 são
determinados, para os enfermeiros especialistas, os elementos para cada
categoria de enunciados.
As categorias de enunciados, do enfermeiro especialista em pessoa
em situação critica, são de acordo com a OE (2011):
Satisfação do cliente;
Promoção da saúde;
Prevenção de complicações;
Bem-estar e auto cuidado;
Readaptação funcional;
Organização dos cuidados de enfermagem especializados;
A prevenção e controlo da infecção associada aos cuidados.
Considerando que ao enfermeiro especialista acresce a realização de
cuidados especializados na sua área de especialidade, iremos mencionar os
padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem em pessoa
em situação crítica, uma vez os padrões de qualidade dos cuidados
especializados em enfermagem em Pessoa em situação crónica e paliativa ainda
não estão definidos.
Assim, de acordo com OE22 (2011) o Enfermeiro Especialista em Pessoa
em situação crítica, na procura permanente da excelência no exercício
22
cf. OE – Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados de Enfermagem em Pessoa
em situação critica, 2011
49
profissional, procura os mais elevados níveis de satisfação da pessoa a vivenciar
processos complexos de doença critica e ou falência orgânica, promovendo a
saúde da pessoa, prevenindo complicações, maximizando o bem-estar dos
clientes e suplementando/complementando as actividades de vida relativamente
às quais o cliente é dependente. Desenvolve, conjuntamente com o cliente
processos eficazes de adaptação aos problemas de saúde. Assegura e garante a
máxima eficácia na organização dos cuidados de enfermagem especializados, e
maximiza a intervenção na prevenção e controlo da infecção, face aos múltiplos
contextos de actuação, à complexidade das situações e à necessidade de utilizar
múltiplas medidas invasivas.
Neste contexto o enfermeiro estabelece uma relação terapêutica, de
parceria, com o cliente e convivente significativo, baseada no respeito pelas
capacidades crenças, valores e desejos de natureza individual da pessoa no
planeamento dos cuidados, implementando técnicas de comunicação facilitadoras
e gerindo a comunicação interpessoal e a informação, com o objectivo de
minimizar o impacto negativo na pessoa em situação crítica, provocado pelas
mudanças de ambiente inerentes à prestação de cuidados de saúde, de forma
precisa, eficiente, eficaz e em tempo útil, para ajudá-lo na consecução do seu
projecto de saúde.
Considera na promoção da saúde a identificação da situação de saúde da
população, dos recursos do cliente, família e comunidade. Cria e aproveita
oportunidades para promover estilos de vida saudáveis. Optimiza o potencial de
saúde da pessoa que vivenciou processos complexos de doença critica e ou
falência orgânica, fornecendo informação geradora de aprendizagem cognitiva e
de novas capacidades pela pessoa em situação critica, avaliando os ganhos em
conhecimentos e capacidades na gestão de processos complexos que decorrem
da situação critica vivenciada.
O enfermeiro especialista identifica, prescreve, implementa e avalia as
intervenções de enfermagem especializadas de problemas potenciais do cliente,
dentro da sua área de competência, na prevenção de complicações, de modo a
evitar ou minimizar efeitos indesejáveis. Guia a sua actuação por rigor
técnico/científico das intervenções especializadas. Referência para outros
profissionais da equipa multidisciplinar ou outros enfermeiros especialistas.
50
Responsabiliza-se pelas decisões que toma, pelos actos que pratica e delega.
Executa cuidados técnicos de alta complexidade. Supervisiona actividades
delegadas. Gere protocolos terapêuticos complexos e implementa medidas de
suporte avançado de vida.
De modo a maximizar o bem-estar e suplementar a dependência nas
actividades de vida, o enfermeiro especialista identifica, prescreve, implementa e
avalia as intervenções de enfermagem especializadas de problemas do cliente,
com rigor técnico e científico. Supervisiona as intervenções delegadas.
Implementa instrumentos de avaliação e protocolos terapêuticos na gestão
diferenciada da dor. Responsabiliza-se pelas decisões que toma, pelos actos que
pratica e delega. Gere a relação terapêutica com a pessoa e família,
considerando o impacto emocional da situação vivenciada, e incrementa
estratégias facilitadoras na gestão do luto e morte digna.
Na continuidade da prestação de cuidados de enfermagem
especializados, planeia a alta de acordo com as necessidades da pessoa em
situação critica, e os recursos da comunidade para complementar a readaptação
funcional da pessoa em situação critica. Optimiza as capacidades da pessoa e
conviventes significativos para gerir o regime terapêutico prescrito. Ensina, instrui
e treina a adaptação individual.
Em parceria com as unidades prestadoras de serviços, o enfermeiro
especialista desempenha um papel activo na implementação de uma metodologia
de organização de cuidados de enfermagem especializados em pessoa em
situação crítica, promotora da qualidade, e em situações de catástrofe ou
emergência multi-vítima responde eficaz e eficientemente, com base num sistema
de triagem sustentado nas prioridades clínicas. Assegura a existência de um
quadro de referência do exercício profissional de enfermagem especializado, e de
um sistema de melhoria contínua de qualidade do qual faz parte a avaliação da
satisfação dos enfermeiros especialistas, e a dotação adequada de enfermeiros
especialistas face à necessidade de cuidados. Bem como a existência de um
sistema de registos de enfermagem, que incorporem necessidades de cuidados,
intervenções especializadas, resultados sensíveis às intervenções, resumo
mínimo de dados, e indicadores de enfermagem no cuidado da pessoa em
situação critica. Garante a existência de uma política de formação contínua do
51
enfermeiro especialista que promova o desenvolvimento profissional e da
qualidade especializada. Participa, também, na revisão de guias de boas práticas
no âmbito da pessoa em situação crítica.
Na prevenção e controlo da infecção, maximiza a intervenção
participando, e liderando na concepção e implementação de planos e estratégias
da prevenção da infecção no serviço, com base em evidência científica, bem
como capacitação da equipa para a prevenção e controlo da infecção associados
aos cuidados à pessoa em situação crítica.
No âmbito da qualidade os enfermeiros sabem que bons cuidados
significam coisas diferentes para diferentes pessoas. Assim, o exercício
profissional dos enfermeiros exige sensibilidade para lidar com essas diferenças,
e ajudar a pessoa alcançar os melhores resultados no seu projecto de saúde.
Considerando o descrito, podemos reconhecer que este projecto incide
nos enunciados, dos padrões da qualidade dos cuidados especializados em
enfermagem em pessoa em situação crítica: satisfação do cliente, prevenção de
complicações, bem-estar e auto cuidado e, organização dos cuidados
especializados.
No enunciado satisfação de cliente, o enfermeiro na procura dos mais
elevados níveis de satisfação do cliente, na prestação de cuidados de
enfermagem especializados, intervém de forma precisa, eficiente, eficaz e em
tempo útil, empenhando-se em minimizar o impacto negativo na pessoa em
situação crítica, provocada pelas mudanças de ambiente, gerindo a comunicação
interpessoal e de informação à pessoa e família face à complexidade dos
processos de doença crítica, implementando técnicas de comunicação
facilitadoras da relação terapêutica, como por exemplo comunicação de más
notícias.
Na prevenção de complicações, bem-estar e auto cuidado, o enfermeiro
especialista procura identificar, tão rápido quanto possível, dos problemas
potenciais ou reais, prescreve, com rigor técnico e científico, executa os cuidados
técnicos de alta complexidade, responsabilizando-se pelas decisões que toma e
pelos actos que pratica, avalia as intervenções, encaminha para outros
profissionais, faz a gestão adequada de protocolos terapêuticos complexos, da
52
dor e gere o impacto emocional decorrente da situação crítica, utilizando
habilidades de relação de ajuda, facilitadoras dos processos de luto e morte digna.
Na organização de cuidados especializados, utiliza metodologias de
organização dos cuidados de enfermagem especializados em pessoa em situação
crítica promotoras de qualidade.
O Hospital iniciou o programa de acreditação, em 1999, através do King´s
Fund/CHKS. Actualmente, encontra-se integrado no CHLC que mantém a mesma
política de desenvolvimento da qualidade. Tendo por base este conceito foi
nomeado um grupo multidisciplinar que elabora as políticas e procedimentos
multissectoriais que visam uniformizar e dar resposta às necessidades no âmbito
da qualidade. O grupo tem ligação com os elos de cada serviço para elaboração
dos procedimentos sectoriais, protocolos clínicos, instruções de trabalho.
Como elo dinamizador da Unidade de Pneumologia, temos participado na
elaboração dos procedimentos e na divulgação dos procedimentos
multissectoriais à equipa. No âmbito da segurança do doente temos ligação com o
Gabinete dos Risco, onde são identificados riscos na Unidade, e efectuamos
planos de melhoria. Na ligação à Comissão de Infecção Hospitalar temos
participado no Programa nacional de prevenção e controlo das infecções
associadas aos cuidados de saúde, na campanha nacional de higiene das mãos,
auditorias e na formação da equipa.
Existem, ainda, os programas de melhoria da qualidade ligados à
prevenção das úlceras de pressão, risco de quedas, dor e um programa
transversal à Área de Medicina relacionado com a Gestão de altas dos doentes.
53
TWYCROSS (2003) existem três componentes essenciais em cuidados paliativos,
nomeadamente: alivio de sintomas, apoio psicossocial, trabalho em equipa e em
associação, aliada a uma comunicação adequada.
Contudo, a prática dos cuidados paliativos requer de acordo com
Programa Nacional de Cuidados Paliativos23 (2004:2) uma “organização própria e
abordagem específica, prestada por equipas técnicas preparadas para o efeito”.
Todavia, apesar da criação da rede nacional de cuidados continuados, as vagas
são manifestamente insuficientes para abranger toda a população que dela
necessita.
Deste modo, continuam a ser assistidos na rede hospitalar várias pessoas
com estas necessidades. De acordo com o Programa, acima referido, os cuidados
paliativos devem ser prestados de acordo com vários níveis de diferenciação.
Assim, a acção paliativa representa o nível básico da paliação, onde são
prestadas acções sem recurso a equipas ou estruturas diferenciadas. Estas
acções paliativas podem e devem ser prestadas no internamento hospitalar.
Entende-se por acção paliativa, de acordo com Programa Nacional de
Cuidados Paliativos24 (2004:6) “Qualquer medida terapêutica sem intuito curativo,
que visa minorar, em internamento ou no domicílio, as repercussões negativas da
doença sobre o bem-estar global do doente. As acções paliativas são parte
integrante da prática profissional, qualquer que seja a doença ou a fase da sua
evolução”.
Sendo o controlo sintomático um componente essencial no cuidado à
pessoa em fim de vida, surge a necessidade de conhecer várias alternativas para
esse efeito. Assim aparece a necessidade de aprofundarmos conhecimentos e
conduzirmos o projecto da utilização da via subcutânea (SC) para hidratação e
administração de terapêutica.
O recurso à via SC para hidratação e administração de terapêutica têm-se
vindo a desenvolver e a aplicar nos últimos anos. Apesar de ter sido largamente
difundida nos anos 40 e 50, actualmente e de acordo com QUERIDO e GUARDA
(2006:317) ainda é “desconhecida por muitos profissionais de saúde e, talvez por
essa razão, raramente usada apesar da sua eficácia e segurança”. Talvez
23
DGS – Programa Nacional de Cuidados Paliativos, 2004
24
Ibidem
54
contribua para este facto o recurso à via endovenosa, uma vez que tem efeitos
mais rápidos e pode administrar-se mais terapêutica, no entanto existem outros
riscos associados.
O sistema tegumentar é constituído pela pele e estruturas anexas (cabelo,
unhas e glândulas) SEELEY et al. (1997). Uma das estruturas – a hipoderme
(tecido celular subcutâneo) é constituída por tecido conjuntivo laxo, fibras de
colagénio e de elastina. Os principais tipos de células são os fibroblastos, as
células adiposas e os macrófagos. De acordo com INSTITUTO NACIONAL DE
CANCER (INCA) (2009:13) a hipoderme por ser dotada “de capilares sanguíneos,
o tecido subcutâneo torna-se uma via favorável à administração de fluidos e/ou
medicamentos, uma vez que estes serão absorvidos e transportados pelos
capilares à macrocirculação”.
Tecido subcutâneo
55
escolha da via de administração de terapêutica deve ser ponderada e decidida em
conjunto com o doente e a sua família, tendo em conta as condições clínicas da
pessoa.
NETO (2008) refere que a terapêutica e a via de administração deve
sempre submeter-se ao princípio de provocar o menor sofrimento possível ao
doente. Neste sentido, afirma que cada via de administração tem as suas
vantagens e desvantagens. As vias de administração endovenosa e intramuscular
estão associadas a uma maior invasão e desconforto, nos doentes com patologia
crónica e paliativa, onde muitas vezes a caquexia e a dificuldade de acessos
venosos estão comprometidos. Para além disso, podem surgir complicações
associadas, no local ou sistémicas. Apesar de estas vias apresentarem imensas
vantagens em situações agudas ou de emergência. A manutenção de uma via
endovenosa no domicílio é praticamente impossível, pois requer conhecimento e
vigilância por parte de profissionais de saúde.
A via rectal, também, mencionada pela autora acima referenciada,
constitui outra alternativa, apesar de ser menos confortável para alguns adultos, e
a indisponibilidade de fármacos nesta forma de apresentação. Outra via de
administração de medicamentos disponível é a transdérmica. Contudo, a
disponibilidade de medicamentos desta forma é limitada, sendo que só existem
fármacos disponíveis para o controlo da dor.
No cuidado a pessoas com patologia crónica e fim de vida, NETO
(2008:278) afirma que “existe uma larga tradição de recurso à via subcutânea seja
para a administração de fármacos (em bólus ou infusão continua), seja para a
administração de fluidos (hipodermoclise) ”. A mesma autora refere ainda que a
utilização desta via, em doentes com necessidade de suporte ou paliativos,
apresenta “a possibilidade de recorrer a uma via parentérica, usufruindo dos
benefícios inerentes, sem ter as desvantagens (…) para as administrações
intramusculares e intravenosas (…)”.
Salientamos, algumas indicações para a utilização da via SC de acordo
com QUERIDO e GUARDA (2006), LOBO (2007), INCA (2009):
Intolerância à via oral, por vómitos constantes ou oclusão intestinal;
Incapacidade de deglutir (lesões na boca, faringe, esófago, ou laringe);
Má absorção intestinal;
56
Quadros de confusão, agitação, ou delírio;
Debilidade grave do seu estado, fase de agonia;
Doentes sem resposta terapêutica aos medicamentos administrados por
via oral;
Necessidades de ingestão de grandes doses de medicação;
Impossibilidade de acesso venoso;
Possibilidade de permanência do doente no domicílio;
Sinais de desidratação;
Pessoas incapazes de ingerir quantidade suficiente de líquidos.
Como contra-indicações à utilização da via SC, evidenciamos de acordo
com NETO (2008), INCA (2009):
Edema / Anasarca;
Distúrbios da coagulação;
Insuficiência cardíaca grave;
Doentes em risco de Edema agudo do Pulmão.
Tecidos junto de cicatrizes operatórias e/ou irradiadas;
Proeminências ósseas e/ou articulações.
Consideramos, como vantagens desta via de administração, de acordo
com QUERIDO e GUARDA (2006), NETO (2008), INCA (2009):
Técnica simples, mais cómoda;
Menor risco de complicações locais ou sistémicas;
Índice da absorção semelhante ao da via intramuscular;
Biodisponibilidade sobreponível à da via endovenosa (com menor risco de
complicações, e custos associados);
Locais de punção podem permanecer até vários dias;
Permite a permanência da pessoa no domicílio, se esse for o seu desejo;
Facilidade de manipulação no domicílio;
Promove a participação do convivente significativo, pode ser utilizada por
este, desde que devidamente ensinado;
Redução de hospitalizações para controlo sintomático.
Como desvantagens evidenciamos de acordo com INCA (2009):
Se houver necessidade de infusão rápida e altas doses de fluidos;
Se houver necessidade de um ajuste rápido de doses terapêuticas.
57
Figura 4 – Concentração do medicamento na corrente sanguínea com o tempo; adaptado de
INCA (2009).
Via EV
Via IM
Via SC
Via PO
58
(respeitando a circunferência de 5 cm à volta do umbigo, por esta ser muito
vascularizada).
Nestes locais existe mais tecido adiposo, e não interfere com os
movimentos da pessoa. Apesar de poder ser administrada, também, na região da
coxa e deltóide, mas esses locais são habitualmente para a administração de
terapêutica, com menores volumes. Sempre que possível a pessoa deve escolher
o local, promovendo a participação nos cuidados.
59
De acordo com NETO (2008) não se deve injectar mais que três fármacos
na mesma administração, evitando assim uma grande acumulação, que se
tornaria incómodo e dificultaria a absorção. Após a administração do fármaco,
injectar soro fisiológico para evitar que fique medicação na tubuladura. Na
administração de medicamentos deve ter-se em consideração a sua
compatibilidade. Por vezes, é necessário a colocação de duas vias.
Metadona Midazolam.
60
A execução da técnica, ou seja a punção deve ser feita por um
profissional de saúde. Devemos ter em conta, para além do estado clínico da
pessoa (condição do local a puncionar, se está agitado) a preferência do doente,
deve, pois escolher-se o local que incomode o menos possível.
A punção pode ser feita com uma agulha epicraneana (tipo butterfly) de
baixo calibre, preferencialmente 23G ou cateter de teflon, introduzindo-se no
tecido subcutâneo, num ângulo de 45º numa prega cutânea. De acordo com
NETO (2008) os cateteres de teflon oferecem maior conforto, são melhor
tolerados e podem permanecer mais tempo, comparativamente às agulhas de
metal. Estes dispositivos são fixados a pele com um adesivo transparente, para
melhor monitorizar a condição da pele e vigiar as possíveis complicações.
61
comer e beber. Nomeadamente, referido muitas vezes pelo familiar «se ele já
sofre tanto com a doença, não o vamos deixar morrer à fome ou à sede». O papel
do enfermeiro para além de ouvir a pessoa deve também desmistificar um pouco
este conceito. Tal como refere QUERIDO e GUARDA (2006:316) “muitas vezes
as famílias vivem a perda da função da alimentação de forma intensa, e têm
dificuldade em aceita-la”. Contudo, “ a educação dos doentes e suas famílias, em
relação aos objectivos dos cuidados, desmontando algumas práticas e
estimulando outros cuidados, ajuda a dissipar o medo e reduzir a ansiedade”.
Socialmente o acto de alimentar é, conforme QUERIDO e GUARDA (2006)
uma forma muito especial de cuidar, pois contribuímos para a satisfação das
necessidades daqueles que gostamos. Daí que a equipa de saúde, em especial o
enfermeiro, ter um papel fundamental ao disponibilizar-se para ouvir e esclarecer
dúvidas, explicar as vantagens e cuidados a ter, bem como as indicações da
administração do soro e a importância da hidratação, quando o doente realmente
necessita.
QUERIDO e GUARDA (2006) alertam para que a decisão de administrar
ou não líquidos, seja discutida em equipa, após avaliação rigorosa de cada
situação. O que implica uma informação rigorosa, de todos os envolvidos,
principalmente do doente e da família. O impacto emocional da tomada de
decisão no doente e na família deve ser tido em conta pelos profissionais de
saúde.
62
2. PROJECTO DE INTERVENÇÃO NO SERVIÇO
63
de vida, onde muitas vezes a hidratação oral ou a administração de terapêutica é
difícil. Os doentes apresentam dificuldade na deglutição, náuseas, vómitos ou
outros sintomas, e a utilização/manutenção de uma via endovenosa devido aos
poucos acessos venosos viáveis (por quimioterapia e/ou terapêutica endovenosa
por longos períodos) torna-se quase impossível (ANEXO II).
Considerando o controlo sintomático como uma das premissas
fundamentais no cuidado a estes doentes, é fundamental que a equipa disponha
de várias estratégias para adequar os cuidados consoante as necessidades de
cada pessoa.
Assim, destacamos algumas razões que levaram a optar por esta área,
nomeadamente:
Maior conforto para o doente, uma vez que a via endovenosa é mais
dolorosa e mais difícil manter;
Em caso de necessidade esta via pode ser mantida no domicílio pela
pessoa significativa/cuidador com menor riscos;
A equipa intra-hospitalar de Cuidados Paliativos do CHLC quando é
chamada à Unidade, para observar os doentes indica esta possibilidade em
caso de necessidade;
A falta de experiência da equipa de enfermagem, na técnica de
administração de terapêutica em perfusão e hidratação por via SC.
64
69% nunca administrou soros por via SC, e 31% já administrou; os que
responderam afirmativamente 1 referiu que utilizou a técnica em contexto
domiciliário, 3 em doentes em fase terminal, por prescrição da equipa de
Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar;
62% nunca administrou terapêutica em perfusão por via SC, e 38% já
administrou; os que responderam afirmativamente 3 referiram em doentes
em fase terminal, e 2 sob prescrição da equipa de Cuidados Paliativos do
Centro Hospitalar;
100% considera útil o desenvolvimento do procedimento na Unidade;
Nos comentários/sugestões, 4 mencionaram que o procedimento é útil; 2
referiram por dificuldade na cateterização periférica; 2 para controlo de
sintomas; 1 para minimizar a dor no doente terminal; 1 refere que técnica
tem inúmeras vantagens; 1 refere que a equipa não tem destreza
suficiente.
Pontos Fracos
1. Falta de conhecimento da equipa multidisciplinar acerca da técnica;
2. Inexperiência dos enfermeiros na execução do procedimento;
3. Leque de fármacos que não pode ser administrado por esta via.
Oportunidades
65
4. Recomendação da via SC pela equipa de Cuidados Paliativos do CHLC.
Ameaças
1. Técnica não utilizada em situações agudas em meio hospitalar;
2. Intervenção interdependente;
3. Falta de experiência da equipa Médica em relação à técnica.
66
OBJECTIVO GERAL
Melhorar a qualidade dos cuidados à pessoa com patologia crónica e/ou
paliativa.
OBJECTIVOS ESPECIFICOS
1 - Aprofundar conhecimentos na área da Hipodermoclise e administração de
terapêutica por via SC;
Actividades/Estratégias a desenvolver
a) Efectua pesquisa bibliográfica em livros e bases de dados electrónicas
credenciadas;
Indicador de avaliação – Apresentamos síntese sobre a técnica; Ponto 1.5
do enquadramento conceptual.
b) Pesquisa normas/protocolos internacionais; que servem de base para a
elaboração da norma de enfermagem.
c) Realiza Estágio de observação na Unidade de Cuidados Paliativos da
Idanha;
Efectuamos Estágio na Unidade de Cuidados Paliativos S. Bento de
Menni na Casa de Saúde da Idanha. O estágio decorreu de 18 a 25 de Fevereiro
de 2011 com o total de 44 horas.
Indicador de avaliação – Apresentamos reflexão decorrente do estágio;
Ponto 3.1 das Aprendizagens Desenvolvidas.
67
a) Constrói protótipo de folheto; encontra-se no ANEXO VII.
Indicador de avaliação – Apresentamos protótipo de folheto. Pedimos
colaboração de Equipa de Cuidados Paliativos de CHLC para efectuar
sugestões, aguardamos resposta.
68
de enfermagem estava separada, tornando-se, este um constrangimento à
implementação do projecto.
A área do cuidado à pessoa com patologia crónica e paliativa tem sido
alvo de um grande investimento formativo da nossa parte nos últimos anos. É,
assim que surge a necessidade de implementar este projecto, para melhorar os
cuidados aos doentes que recorrem à Unidade de Pneumologia.
Neste projecto mobilizamos a competência K1 25 – cuida da pessoa a
vivenciar processos complexos de doença critica e/ou falência orgânica.
Consideramos que a via SC é uma alternativa para o controlo sintomático, e neste
sentido temos em conta as seguintes unidades de competência e critérios de
avaliação.
25
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011
69
não sabe executar a técnica nem como administrar a terapêutica; ou seja não
sabe que fármacos podem ser administrados por via SC e compatibilidades.
Assim mobilizamos a competência D226 – baseia a sua praxis clínica em sólidos
e válidos padrões do conhecimento, tendo em conta as seguintes unidades de
competência e os critérios de avaliação.
26
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
27
Ibidem
70
no seu campo de intervenção, tendo em conta as seguintes unidades de
competência e os critérios de avaliação.
28
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
71
Unidade de competência Critérios de avaliação
B.3.1.4 demonstra conhecimento e
B.3.1 promove um ambiente compreensão das questões relativas ao
físico, psicossocial, cultural e fornecimento de um ambiente seguro
espiritual gerador de segurança B.3.1.5 promove a aplicação dos princípios
e protecção dos indivíduos relevantes para garantir a segurança da
administração de substâncias pelos pares
29
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
72
Dado que este projecto implica o envolvimento de enfermeiros, médicos e
equipa de cuidados paliativos, é necessário ter em conta a competência C230 –
Adapta a liderança e a gestão dos recursos às situações e ao contexto visando a
optimização da qualidade dos cuidados, tendo em conta a seguinte unidade de
competência e os critérios de avaliação.
30
Ibidem
31
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
73
Unidade de competência Critérios de avaliação
74
3. APRENDIZAGENS DESENVOLVIDAS
75
A primeira impressão que tivemos da Unidade, no primeiro dia de estágio,
foi muito positiva e superou as expectativas. Não conhecíamos a Unidade,
apenas tínhamos ouvido falar dela por colegas que lá tinham estagiado. O que
mais nos surpreendeu foi o ambiente familiar da Unidade. É composta por dez
quartos individuais, várias casas de banho, uma sala com banheira de
hidromassagem, uma sala de estar/refeições, uma sala para conferências
familiares, a sala dos profissionais e uma copa. O hall é revestido a azulejos
coloridos, dando a impressão de uma residência familiar. A sala com banheira de
hidromassagem é muito apreciada pelos doentes. Esta tem um ambiente muito
calmo, com música relaxante da preferência do doente, onde se podem colocar
velas e cheiros conforme o gosto da pessoa. Testemunhamos esta experiência e
observamos a satisfação de um doente nesta sala.
As refeições são servidas em pequenas quantidades, com óptima
apresentação de modo a cativar os doentes. Apesar da refeição ser igual para
todos os doentes, várias vezes vi satisfazerem pequenos desejos que os doentes
manifestavam como, pataniscas de bacalhau, salada de tomate, bolo de
chocolate e vinho. Esta é uma grande preocupação da equipa, principalmente da
equipa de enfermagem. Estão muito despertos para os detalhes. Presenciamos a
satisfação de uma doente internada na Unidade, que gostava imenso de apanhar
sol de manhã após os cuidados de higiene, e pedia para abrir a janela e puxar o
cortinado para ver o sol. O período de estágio ocorreu em Fevereiro, estava frio
mas houve a oportunidade de satisfazer a vontade da doente. O quarto dá para
um pequeno jardim, onde o ambiente é muito calmo, ouvindo-se os pássaros a
cantar. Esta doente era diabética mas gostava imenso de chocolate, e em dias
alternados davam-lhe um quadradinho de tablete de chocolate. Era uma delícia
ver a satisfação da doente a saborear o chocolate, mesmo que depois tivesse que
ser administrada insulina.
A equipa é constituída por Médicos, Enfermeiros, Auxiliares, Psicóloga,
Assistente Social, Assistente Espiritual e Padre. No primeiro dia de estágio
tivemos oportunidade de assistir a uma reunião de equipa, onde foram
apresentados todos os doentes. Todos profissionais evidenciam a informação de
acordo com a sua área de competência e estabelecem um plano de intervenção.
76
A reunião é dinamizada pela Enfermeira Chefe. No início da passagem de
informação, de cada doente, um profissional fica responsável por elaborar o plano
de intervenção da equipa onde são identificadas as
necessidades/problemas/pontos fortes, estabelecendo metas e um prazo para a
execução, bem como o registo no final se a meta foi total, parcial ou não atingida.
Posteriormente identifica-se a intervenção e o responsável pela execução. O que
esta reunião tem de diferente é que todos os profissionais da equipa
multidisciplinar se reúnem e decidem em conjunto o plano para cada pessoa, e
consoante a necessidade identificada é designado o profissional que poderá dar a
melhor resposta. Nesta discussão de casos o doente é visto como um todo, sendo
também incluída a família. Em algumas situações eram abordadas as
necessidades da família, ou seja, o modo como esta se encontrava a lidar com
toda a situação. Se fosse identificada alguma necessidade, também este
problema era alvo da atenção dos profissionais e designava-se um responsável
ou mais para executar a estratégia estabelecida pela equipa.
A equipa promove várias iniciativas de convívio com os doentes,
familiares e outras pessoas que tenham tido familiares internados na Unidade.
Criaram uma Associação “Afectos para a vida” que promove várias iniciativas no
âmbito dos cuidados paliativos e dão apoio a familiares no processo de luto.
A equipa de enfermagem é uma equipa jovem, mas muito motivada e que
se apoiam muito uns aos outros nos momentos críticos, valorizando muito as
capacidades de cada um, e elogiando-se nas actividades executadas com êxito.
Cada doente tem um processo único, onde todos os profissionais
registam diariamente as ocorrências. Existem uma folha de identificação com os
dados gerais da pessoa, o motivo do internamento, os dados do convivente
significativo e um espaço para informações relevantes. Cada profissional tem uma
folha de identificação de necessidades (enfermeiro, psicóloga, assistente
espiritual). Compõe ainda o processo as escalas de avaliação dos sintomas
(escala de Edmonton), a escala de avaliação de actividades de vida diária (índice
de Katz), a escala de performance em cuidados paliativos (PPS versão 2), a
escala de avaliação de risco de úlcera de pressão (escala de Braden), e a
avaliação dos factores de risco de luto complicado. Para além desta informação
existe ainda o plano de intervenção, a folha de terapêutica e o registo da
77
conferência familiar. Neste sentido, cada profissional faz o registo sequencial na
folha, ou seja, só existe um diário onde todos os profissionais registam a
informação.
Durante este período de estágio não tivemos oportunidade de visualizar a
execução da técnica de hipodermoclise, uma vez que nenhum dos doentes que
se encontravam internados necessitava desta técnica. No entanto, foi-nos
facultada alguma bibliografia e os enfermeiros, nomeadamente a Enfermeira
Orientadora deram-nos várias indicações de acordo com a sua vasta experiência
em cuidados Paliativos.
Apesar de termos traçado objectivos muito concretos para este estágio
opcional, não nos focamos apenas nesses objectivos traçados inicialmente, mas
tentamos aproveitar ao máximo esta experiência que se revelou bastante
enriquecedora. Apesar de ser uma área de interesse, ainda não tínhamos tido
oportunidade conhecer estas unidades, que são bastante recentes em Portugal.
O ambiente tranquilo, o controlo sintomático e o cuidado da pessoa e
família como um todo, por toda a equipa foi bastante importante, contribuindo
para a consciencialização de que o cuidar de uma pessoa pode ser feito em
equipa. Os conhecimentos que tínhamos, e a pesquisa que efectuamos, vieram a
verificar-se na realidade.
Como aspectos positivos realçamos a importância da equipa de
enfermagem atribuir grande valor aos detalhes, como satisfazer pequenos
desejos, proporcionar um ambiente quase familiar. As palavras «tranquilo» e
«confortável» eram quase como obrigatórias e esforçavam-se imenso para que
assim fosse. Recordamos, ainda, o cheiro a alfazema quando se entrava na
Unidade cerca das 7:30, este aroma diário cria um ambiente agradável.
A competência de Mestre relacionada com o desenvolvimento autónomo
de conhecimentos e competências, ao longo da vida e em completo às adquiridas,
relacionada, especificamente com a identificação dos próprios recursos pessoais,
ajustados às necessidades de formação do projecto pessoal/profissional, e a
valorização do auto formação como ponto fundamental do desenvolvimento, é
ilustrada neste ponto. Ou seja, a realização do estágio, bem como a procura de
bibliografia relacionada com o projecto desenvolvem esta competência de Mestre.
78
3.2. COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS
79
Após os conhecimentos adquiridos nas várias Unidades Temáticas
(análise do código deontológico do enfermeiro, relação de ajuda, ética de
enfermagem e cuidados ao cliente em fim de vida) percebemos que tínhamos
adquirido conhecimentos que nos levavam a analisar a situação e desencadear
os meios para a sua resolução, e sentimos, também, que tínhamos a
responsabilidade para actuar neste caso.
Neste caso mobilizamos a competência k.1 32 – cuida da pessoa a
vivenciar processos complexos de doença critica e/ou falência orgânica, tendo em
conta a seguinte unidade de competência e os critérios de avaliação:
32
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011
80
Perante esta situação argumentamos e disponibilizamo-nos para
estarmos presentes no momento da conversa com o doente. A médica concordou
e disse que o faríamos no dia em que estivesse de urgência interna. Assim foi, no
dia seguinte, depois da passagem de turno (cerca das 17 horas) fomos falar com
o doente. Refiro que apesar de termos terminado o turno achamos importante
ficar mais algum tempo, pois tínhamo-nos comprometido com o doente e a
médica, e este seria o momento ideal, ou poderíamos não ter outro. Mobilizamos
a competência K1 33 - cuida da pessoa a vivenciar processos complexos de
doença critica e/ou falência orgânica, tendo em conta a seguinte unidade de
competência e os critérios de avaliação.
33
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011
81
Perante estas indicações de comunicação de más notícias, tivemos em
consideração o ambiente, ou seja o doente encontrava-se sozinho num quarto,
tivemos a preocupação de nos sentarmos e dizer que estávamos ali para falar
com ele acerca do que ele bem entendesse. Tentamos perceber o que ele sabia,
e o que queria saber. Depois fomos respondendo às perguntas concretas que ele
ia fazendo. Estivemos atentas à reacção do doente mostrando que estávamos
com ele, e que o ajudaríamos naquilo que ele precisasse e que estivesse ao
nosso alcance.
O doente perguntou se haveria algum tratamento que pudesse travar a
progressão da doença, em Portugal ou no estrangeiro, ao qual foi respondido que
não. Fez várias perguntas, aparentemente já as tinha pensado, pois alguma delas
já as tinha feito aos enfermeiros.
Posteriormente mencionou vontade de ir passar o fim-de-semana a casa,
e que necessitava de transporte uma vez que se encontrava a fazer oxigénio e
não tinha recursos para pagar uma ambulância. Foi-lhe dito que falaríamos com a
Assistente Social para providenciar um transporte. No final da conversa
mostramos disponibilidade para o ajudar naquilo que precisasse e que continuaria
a ser seguido por nós, não era por não termos um tratamento para situação dele
que deixaria de ser nosso doente. Continuaria a vir às consultas, a fazer a
medicação, a ser acompanhado por nós como até ali, mas agora com outras
necessidades (ele sorriu). O doente foi passar o fim-de-semana a casa e
passados três dias foi reinternado. Perante o descrito, mobilizamos a
competência L634 – estabelece relação terapêutica com pessoas com doença
crónica, incapacitante e terminal, com os seus cuidadores e familiares, de modo a
facilitar o processo de adaptação às perdas sucessivas e à morte, considerando
as seguintes unidades de competência:
34
Competências especificas do enfº especialista em pessoa em situação crónica e paliativa, OE 2011
82
Unidade de competência Critérios de avaliação
35
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011
83
Unidade de competência Critérios de avaliação
36
Nesta situação, também, mobilizamos a competência A1 –
desenvolvimento de uma pratica profissional e ética no seu campo de intervenção,
considerando a unidade de competência:
36
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
37
Ibidem
84
Unidade de competência Critérios de avaliação
No caso do Sr. L.G. foram tidos em conta para além do art. 84 do Código
Deontológico do enfermeiro – Do dever de informação, foram considerados
também valores como a verdade e a liberdade responsável alínea c) e d) do art.
78º do Código Deontológico do Enfermeiro, bem como a alínea d) da BASE V, da
Lei de Bases dos Cuidados Paliativos (2012:5120) “ser informado sobre o seu
estado clínico, se for essa a sua vontade”.
38
Mobilizamos a competência B3 – cria e mantém um ambiente
terapêutico e seguro, considerando a unidade de competência:
38
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
85
Ao concluir esta análise e passado algum tempo sobre o vivido,
pensamos que o modo de actuação foi o correcto. No entanto, reconhecemos que
só foi possível com base nos conhecimentos adquiridos nas várias unidades
curriculares. Aprendemos que a comunicação das más notícias é difícil de dar.
Pensamos que o enfermeiro especialista tem um papel fundamental na equipa,
deve ser proactivo, e estar presente quando o médico comunica uma notícia
desta natureza. O que aprendemos é que em situações semelhantes falaremos
com a médica e delineamos estratégias em conjunto tendo em conta o direito do
doente à informação. Todavia, há outros aspectos que poderemos melhorar
principalmente relacionados com a equipa. É necessário efectuar formação em
serviço sobre o tema.
Neste contexto é necessário desenvolvermos a competência L6 39 -
estabelece relação terapêutica com pessoas com doença crónica, incapacitante e
terminal, com os seus cuidadores e familiares, de modo a facilitar o processo de
adaptação às perdas sucessivas e à morte, considerando a seguinte unidade de
competência:
39
Competências do Enfº Especialista em Pessoa em Situação crónica e Paliativa – OE, 2011
86
futuras penso que poderemos falar com a equipa no sentido de não resolver só
um problema mas que possamos todos crescer com as decisões que tomamos.
O Sr. faleceu cerca de um mês depois no hospital, no entanto
consideramos que respeitamos o doente, e não quebramos a relação de
confiança estabelecida, pois mobilizamos a competência L6 40 – estabelece
relação terapêutica com pessoas com doença crónica, incapacitante e terminal,
com os seus cuidadores e familiares, de modo a facilitar o processo de adaptação
às perdas sucessivas e à morte, considerando a seguinte unidade de
competência:
40
Ibidem
87
Podemos ver, também, a mobilização de outra competência de mestre,
relacionada com o desenvolvimento da tomada de decisão e raciocínio que
conduzem à construção da aplicação de argumentos rigorosos. Nomeadamente,
a selecção de meios e estratégias de resolução de um problema, de forma
fundamentada, e avaliação de resultados e ganhos em saúde sensíveis aos
cuidados de enfermagem, e na perspectiva das repercussões éticas e
deontológicas. Assim, com base neste caso específico, identificamos a
necessidade do doente, relacionada com informação do seu estado clínico, e
desencadeamos uma série de intervenções no sentido de resolvermos essa
mesma necessidade/problema. Concomitantemente, a tomada de decisão tem em
consideração aspectos éticos e deontológicos, nomeadamente a verdade e a
justiça, bem como o dever de informação (art. 78º, e art. 84º do código
deontológico do enfermeiro).
88
O Sr. esteve internado na Unidade de Pneumologia de 4 de Fevereiro a 1
de Março de 2011, dia em que faleceu. Neste período estávamos a realizar
estágio no serviço, e posteriormente ausentámo-nos no período de 18 de
Fevereiro a 1 de Março para realizar o estágio na Unidade de Cuidados Paliativos.
Pelo que o relato desta experiência se reporta às duas primeiras semanas de
internamento e aos dias seguintes ao falecimento do doente.
No dia em que conhecemos o Sr. M. este encontrava-se deitado em
decúbito lateral esquerdo e o tabuleiro do pequeno-almoço encontrava-se em
cima da mesa. Apresentamo-nos ao doente e perguntamos se precisava de ajuda
para tomar a refeição. Ele respondeu num tom um pouco agressivo que não.
Tentamos saber porque se sentia assim, ao qual o doente respondeu que “não
conseguia engolir, e que tinha pedido um iogurte natural”, responderam que só
tinham iogurte de aroma de morango. E por esse motivo ele não queria comer.
Pediu se podíamos ir comprar iogurtes naturais pois ele tinha dinheiro para pagar.
Pedimos que aguardasse um pouco, pois iríamos providenciar um iogurte
conforme o seu desejo. Contactamos o serviço de dietética e pedimos dois
iogurtes naturais para o doente bem como o apoio da Dietista para vir
personalizar a dieta do Sr. M. uma vez que este apresentava disfagia marcada.
Passados uns minutos a Assistente Operacional levou os dois iogurtes.
Ajudamos o Sr. a levantar-se, sendo que nesse momento referiu que tinha muitas
“dores na cabeça” principalmente quando se levantava, estas só aliviavam se
permanecesse deitado para o lado esquerdo. Prometemos-lhe que iríamos ver
que terapêutica tinha para as dores. O doente apresentava-se sub-medicado face
à dor que apresentava (grau 8 na escala numérica) pelo que solicitamos ao
médico assistente do doente que observa-se o Sr. Posteriormente optou-se por
pedir apoio à Equipa de Cuidados Paliativos de CHLC, e esta dirigiu-se nesse
mesmo dia ao serviço, tendo medicado o Sr. M. Também, foi providenciada uma
televisão para o quarto, bem como o jornal como motivo de distracção do doente.
Neste contacto, salientamos a disponibilidade que é necessária para ouvir
o doente, perceber quais são as suas necessidades e estabelecer uma relação
empática. O enfermeiro tem em conta o ponto 1 do art. 78º do Código
Deontológico do Enfermeiro, em que as intervenções de enfermagem são
efectuadas com a preocupação da dignidade da pessoa humana. Mobilizamos a
89
competência k.141 - cuida da pessoa a vivenciar processos complexos de doença
critica e/ou falência orgânica, considerando a unidade de competência:
41
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011
42
Competências do Enfº Especialista em Pessoa em Situação crónica e Paliativa – OE, 2011
90
Unidade de competência Critérios de avaliação
43
Nesta relação mobilizamos a competência D.1 – desenvolve o
autoconhecimento e a assertividade, considerando a unidade de competência:
43
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
44
Ibidem
91
Unidade de competência Critérios de avaliação
45
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011
92
Unidade de competência Critérios de avaliação
46
Competências do Enfº Especialista em Pessoa em Situação crónica e Paliativa – OE, 2011
93
47
Mobilizamos, também, a competência C.1 - gere os cuidados,
optimizando a resposta da equipa de enfermagem e seus colaboradores e a
articulação na equipa multiprofissional, tendo em conta a unidade de competência:
47
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
94
Assim, mobilizamos a competência L.548 identifica as necessidades das
pessoas com doença crónica e incapacitante e terminal, seus cuidadores e
familiares, tendo em conta a unidade de competência:
48
Competências do Enfº Especialista em Pessoa em Situação crónica e Paliativa – OE, 2011
49
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
95
50
Mobilizamos, também competência D1 - desenvolve o
autoconhecimento e a assertividade, considerando a unidade de competência:
50
Ibidem
51
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
96
Consideramos, também o ponto 2 da Lei de Bases dos Cuidados
Paliativos 2012:5120), que menciona que os cuidados paliativos “devem respeitar
a autonomia, a vontade, a individualidade, a dignidade da pessoa e a
inviolabilidade da vida humana”.
A competência de Mestre, que mobilizamos neste caso prende-se com a
integração do enfermeiro, de forma proactiva, em equipas de desenvolvimento
multidisciplinar. Nesta área aplicamos os conhecimentos, capacidade de
compreensão e resolução de problemas em contextos alargados e
multidisciplinares, ou seja, consideramos as necessidades/problemas da pessoa,
planeamos intervenções com base nos conceitos, fundamentos, teorias da
enfermagem, e encaminhamos para outros técnicos, quando necessário, e
trabalhamos em colaboração com eles.
97
local. Estão afixados em pontos estratégicos extintores de incêndio, que são
revistos periodicamente, bem como uma boca-de-incêndio tipo carretel. As portas
de saída de emergência estão identificadas e têm barra anti-pânico.
Em cada serviço estão nomeados interlocutores de ligação com o
gabinete de gestão do risco, que têm como principal função identificar e avaliar os
riscos da unidade de acordo com metodologia de identificação do risco; planear,
implementar e monitorizar estratégias de prevenção e/ou eliminação dos riscos;
divulgação e formação na unidade no âmbito da gestão do risco.
Na Unidade de Pneumologia, desempenhamos a função de interlocutora
da unidade com o Gabinete de Gestão do Risco. Temos participado em diversas
iniciativas de identificação dos riscos da Unidade e formação à equipa de
enfermagem. Neste sentido, mobilizamos a competência B352 – cria e mantém
um ambiente terapêutico e seguro, considerando a seguinte unidade de
competência:
52
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
98
Contudo, reconhecemos que a partir deste momento devemos ter um
papel mais dinâmico nesta área. Da experiência que temos tido na Unidade tem-
se verificado que muitos dos profissionais desconhecem o procedimento de
actuação em caso de incêndio. Apesar de já ter sido efectuado um simulacro no
serviço em 2010, esta área ainda não é muito valorizada.
Deste modo, torna-se importante desempenharmos um papel mais
proactivo e crítico no seio da equipa, na divulgação dos procedimentos, formação
aos profissionais da Unidade, no sentido de dar resposta à competência K.253 –
em que o enfermeiro especialista dinamiza a resposta a situações de catástrofe
ou emergência multi-vitima, da concepção à acção, tendo em conta as unidades
de competência:
53
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Regulamento nº 124/2011
99
Bem como competência K154 - cuida da pessoa a vivenciar processos
complexos de doença critica e/ou falência orgânica, considerando as unidades de
competência:
54
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011
100
3.5. NOVAS RESPONSABILIDADES
101
divulgação de procedimentos com vista ao uso das melhores práticas,
mobilizando a competência D2 55 – baseia a sua praxis clínica em sólidos e
validos padrões do conhecimento, considerando a unidade de competência:
55
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
102
Apesar de ser uma técnica limpa é necessário ter controle sobre o material a ser
utilizado e à execução da técnica.
Outro aspecto que devemos ter em consideração, em relação à
prevenção e controlo da infecção associada aos cuidados de saúde,
nomeadamente a competência A.2 56 – promove práticas de cuidados que
respeitam os direitos humanos e as responsabilidades profissionais, considerando
a seguinte unidade de competência:
56
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
57
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
103
Unidade de competência Critérios de avaliação
58
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Regulamento nº 124/2011
104
Unidade de competência Critérios de avaliação
105
4. CONCLUSÃO
106
necessidades e assim podermos planear um projecto exequível, de modo a
melhorar os cuidados aos doentes que recorrem à Unidade.
No Plano de Intervenção, apesar de sabermos o que pretendíamos fazer,
surgiram algumas dificuldades no planeamento, uma vez que esta metodologia
era desconhecida, e só tomámos conhecimento dela durante a frequência do
Curso Pós licenciatura de Especialização em Enfermagem Medico -cirúrgica.
Em relação aos objectivos planeados, tivemos oportunidade de executar
algumas actividades. Apesar dos colegas perguntarem frequentemente: quando é
que nos ensinas a técnica? Quando começamos a utilizar? Deste modo, o
projecto é para dar continuidade, apesar dos vários constrangimentos que foram
surgindo.
O desenvolvimento do projecto, bem como as reflexões acerca de
situações vivenciadas em estágio permitiram-nos mobilizar e integrar as
competências do enfermeiro especialista e mestre. Apesar deste projecto estar
muito virado para o cuidado à pessoa com doença crónica e paliativa, a
mobilização das competências específicas do enfermeiro especialista em pessoa
em situação critica tornaram-se um desafio. Contudo e dado que no serviço
colaboramos com a comissão de infecção hospitalar, apercebemo-nos da
necessidade de termos um olhar mais atento e critico nesta área. Relativamente à
competência em situação de catástrofe, seguramente teremos de desenvolver
aprendizagens para podermos dar resposta conforme o pretendido de um
especialista. Na sensibilização da equipa para esta problemática, relacionada com
o plano de emergência interno, seguramente poderemos ter um papel mais activo.
Dado que o presente relatório se destina a obter o grau de Mestre em
Enfermagem Médico-cirúrgica, evidenciamos como notas conclusivas, que
conseguimos apreender e mobilizar as competências de Mestre, neste projecto.
Verificamos, neste relatório, que existe uma preocupação com a aquisição de
conhecimentos e competências ao longo do percurso, complementando as
adquiridas, com recurso a estágios, pesquisas bibliográficas e desenvolvimento
do projecto. Este projecto mostra, também, a mobilização da competência
relacionada com a concepção, gestão e supervisão dos cuidados de enfermagem,
onde se observa a avaliação da pessoa, identificam-se necessidades,
prescrevem-se e executam-se intervenções, tendo em conta princípios éticos,
107
deontológicos e conhecimento científico baseado na evidência, que permite
avaliação de ganhos em saúde, sensíveis aos cuidados de enfermagem.
É notório, também, a integração do enfermeiro especialista e mestre, de
forma proactiva, em equipas multidisciplinares, como relatam as aprendizagens
efectuadas em estágio. E, por último, a participação na formação de colegas e
colaboradores.
Consideramos este, o início de um longo caminho. Primeiro o desafio de
implementarmos o projecto na Unidade, depois a consciencialização das funções
acrescidas do Enfermeiro Especialista e Mestre. Ganhar espaço na equipa e ser
uma referência nos cuidados especializados na área da pessoa em situação
crítica, e situação crónica/paliativa.
108
5. REFERÊNCIAS
5.1. BIBLIOGRÁFICAS
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Unidade Hospitalar de Cuidados Paliativos. Loures. 2ª Edição. Lusociência.
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ISBN 978-972-9349-21-8
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8383-11-8
109
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Acção na Perspectiva do Cuidar. Loures. Lusociência. ISBN: 972-8383-20-7
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110
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PACHECO, S. – Cuidar a Pessoa em fase terminal: perspectiva ética. Loures.
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Formasau. 2008. ISBN: 978-972-8485-92-4
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Conceitos e Procedimentos, 5ª edição. Loures. Lusociência. 2006. ISBN
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BARBOSA, António, NETO, Isabel G., Manual de Cuidados Paliativos, 1ª
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QUERIDO, A.; GUARDA, H. – Hidratação em Fim de Vida in BARBOSA, António,
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de Cuidados Paliativos Centro de Bioética Faculdade de Medicina de Lisboa,
2006. ISBN 978-972-9349-21-8
REGULAMENTO DO EXERCICIO PROFISSIONAL DOS ENFERMEIROS (REPE)
– Dec. Lei nº 161/96 de 4 de Setembro
REGULAMENTO DAS COMPETÊNCIAS COMUNS DO ENFERMEIRO
ESPECIALISTA – Regulamento n.º 122/2011, DR, 2.ª série, N.º 35 de 18 de
Fevereiro de 2011
REGULAMENTO DAS COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DO ENFERMEIRO
ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM EM PESSOA EM SITUAÇÃO CRÍTICA
– Regulamento nº 124/2011, DR, 2.ª série, N.º 35 de 18 de Fevereiro de
2011
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111
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enfermagem. Loures. Lusociência. 2002. ISBN: 972-8383-33-9
5.2. ELECTRÓNICAS
112
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113
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http://web.ess.ips.pt/Percursos/pdfs/Revista_Percursos_15.pdf
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Guidelines, October 2010 in http://www.cadth.ca/media/pdf/L0223_
Hypodermoclysis_Final.pdf. Acedido em 10/01/2011 às 19:35.
114
ANEXOS
115
ANEXO I
Date_________________________ Code #_____________
Thank you VERY MUCH for helping me in our study of the concept COMFORT.
Below are statements that may describe your comfort right now. Six numbers are
provided for each question; please circle the number you think most closely matches your
feeling. This is about your comfort at the moment you are answering the questions.
Strongly Strongly
Disagree Agree
4. I feel confident 1 2 3 4 5 6
8. No one understands me 1 2 3 4 5 6
(Continue on back)
Strongly Strongly
Disagree Agree
17. I am content 1 2 3 4 5 6
27. I am depressed 1 2 3 4 5 6
Definição do Problema
Serviço: Pneumologia
Título do Projecto: A utilização da Via Subcutânea para hidratação e administração de terapêutica, na Pessoa com patologia
crónica e/ou paliativa.
A área de intervenção do projecto insere-se na implementação da via de administração subcutânea (SC) para hidratação e
administração de terapêutica em perfusão, em doentes com patologia crónica e/ou paliativa, internados na Unidade de
Pneumologia, ou que necessitem desta técnica no domicílio. Nesta Unidade encontram-se, frequentemente, internadas
pessoas com patologia crónica e oncológica em fim de vida, onde muitas vezes a hidratação oral ou a administração de
terapêutica é difícil. Os doentes apresentam dificuldade na deglutição, náuseas, vómitos ou outros sintomas, e a
utilização/manutenção de uma via endovenosa devido aos poucos acessos venosos viáveis (por quimioterapia e/ou
terapêutica endovenosa por longos períodos) torna-se quase impossível.
Considerando o controlo sintomático como uma das premissas fundamentais no cuidado a estes doentes, é fundamental que
a equipa disponha de várias estratégias para adequar os cuidados consoante as necessidades de cada pessoa.
As razões que me levaram a optar por esta área prendem-se, essencialmente, com os seguintes aspectos:
Maior conforto para o doente, uma vez que a via endovenosa é mais dolorosa e mais difícil manter;
Em caso de necessidade esta via pode ser mantida no domicílio pela pessoa significativa/cuidador com menor riscos;
A equipa consultora de Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) quando é chamada à Unidade,
para observar os doentes indica esta possibilidade em caso de necessidade;
A falta de experiência da equipa de enfermagem, na técnica de administração de terapêutica em perfusão e hidratação por
via SC.
Diagnóstico de situação
Definição geral do problema
Na Unidade de Pneumologia são internadas com frequência pessoas com patologia crónica e/ou em fim de vida. Apesar desta
unidade de internamento estar preparada para atender as necessidades dos doentes que a ela recorrem, entende-se que
podemos melhorar alguns aspectos no cuidado aos doentes com patologia crónica e/ou em fase terminal.
Todavia, a equipa de enfermagem tem revelado bastante sensibilidade para cuidar da pessoa e família nesta fase. No
entanto, reconhece algumas limitações, por vezes relacionadas com a falta de experiência, e que são debatidas em conversas
informais. Um dos aspectos que, habitualmente causa algum desconforto na equipa prende-se com a dificuldade em
cateterizar uma veia periférica, para administração de soro ou medicação para controlo sintomático. Surgem assim alguns
dilemas éticos. Por um lado, existe a necessidade de controlar os sintomas com a administração da terapêutica e por outro
lado, a dificuldade em puncionar uma veia periférica. Perante esta situação podem ocorrer várias tentativas sem êxito, o que
nos causa algum mal-estar. Concomitantemente, a família também manifesta maior conforto quando verifica que o seu familiar
“tem um soro”, aceitando o fim de vida com dignidade. Recentemente, também, surgiu a necessidade/oportunidade de uma
doente com patologia crónica (Fibrose Quistica), acompanhada por nós, efectuar hidratação para além da efectuada por via
oral.
Deste modo, este projecto pretende ser uma alternativa vantajosa, quer para o doente/família, quer para os profissionais.
Análise do problema (contextualização, análise com recurso a indicadores, descrição das ferramentas diagnósticas que vai
usar, ou resultados se já as usou – 500 palavras)
A Unidade de Pneumologia está inserida no CHLC, no Hospital de Santa Marta, é composta pelos sectores de Internamento,
Consultas Externas da Especialidade, Hospital de Dia e Técnicas Endoscópicas, Pleurais e de Função respiratória. No sector
do Internamento, são internadas com frequência pessoas com patologia crónica ou em fim de vida.
1
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico-Cirúrgica
Ano Lectivo 2010/2011
Após reunião com a Sr.ª Enfª Chefe da Unidade, onde foi debatido a pertinência do projecto para esta unidade, este foi
considerado útil não só para os doentes internados, mas também para doentes acompanhados pela equipa e que necessitem
desta técnica no domicilio.
Como ferramenta diagnóstica optei por efectuar um questionário (Anexo I) e uma análise SWOT (Anexo II).
O questionário foi aplicado nos dias 3 e 4 de Fevereiro de 2011, sendo a amostra de 13 enfermeiros.
Da análise das respostas evidencia-se que:
62% dos enfermeiros não conhece a técnica da Hipodermoclise, e 38% conhece;
69% nunca administrou soros por via SC, e 31% já administrou; os que responderam afirmativamente 1 referiu que utilizou
a técnica em contexto domiciliário, 3 em doentes em fase terminal, por prescrição da equipa de Cuidados Paliativos do Centro
Hospitalar;
62% nunca administrou terapêutica em por via SC, e 38% já administrou; os que responderam afirmativamente 3 referiram
em doentes em fase terminal, e 2 sob prescrição da equipa de Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar;
100% considera útil o desenvolvimento da técnica na Unidade;
Nos comentários/sugestões, 4 mencionaram que considera útil; 2 referiram por cateterização periférica difícil; 2 para
controlo de sintomas; 1 para minimizar a dor no doente terminal; 1 refere que técnica tem inúmeras vantagens; 1 refere que a
equipa não tem destreza suficiente.
No entanto, e dado que a Hipodermoclise e a terapêutica é uma intervenção interdependente, decidi efectuar uma análise
SWOT para complementar o diagnóstico, da análise dos dados evidencia-se que as actividades de:
Atendendo aos Enunciados Descritivos dos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, podemos considerar que
este projecto tem em conta:
1. Satisfação do cliente;
2. Bem-estar e autocuidado;
3. Prevenção de complicações;
Identificação dos problemas parcelares que compõem o problema geral (150 palavras)
2
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico-Cirúrgica
Ano Lectivo 2010/2011
Determinação de prioridades
Objectivos (geral e específicos, centrados na resolução do problema. Os objectivos terão que ser claros, precisos,
exequíveis e mensuráveis, formulados em enunciado declarativo):
OBJECTIVO GERAL:
Melhorar a qualidade dos cuidados prestados à pessoa com patologia crónica e/ou paliativa;
OBJECTIVOS ESPECIFICOS:
Aprofundar conhecimentos na área da Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;
Elaborar norma de procedimento de enfermagem Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;
Elaborar folheto de informação para a Pessoa significativa/cuidadora;
Colaborar na elaboração de um protocolo clínico sobre a Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;
Efectuar formação à equipa de enfermagem;
Planear a implementação e avaliação do projecto;
Referências:
Bibliográficas (Norma da ESS)
LEITE, E.; MALPIQUE, M. Trabalho de Projecto. 2. Leituras comentadas. Porto: Afrontamento. 1990.
BARBOSA, A.; NETO, Isabel G., Manual de Cuidados Paliativos. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. 2006
ORDEM DOS ENFERMEIROS. Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem Enquadramento conceptual
Enunciados descritivos. Conselho de Enfermagem. 2001.
ORDEM DOS ENFERMEIROS. Proposta de Projecto de Regulamento das Competências do Enfermeiro Especialista em
Enfermagem em Pessoa em situação critica. Assembleia do Colégio da Especialidade de Enfermagem Médico-Cirúrgica.
2010.
RUIVO, Mª A.; FERRITO, C. ; NUNES, L., et al Metodologia de Projecto: Colectânea descritiva de etapas: Revista
Percursos, nº 15. 2010.
SFAP, Colégio de Cuidados de Enfermagem, Desafios da Enfermagem em Cuidados Paliativos – «cuidar»: ética e praticas.
Lusociência. Loures. 2000
TWYCROSS, Robert, Cuidados Paliativos, 2ª edição, Climpesi Editores. Lisboa. 2003
Electrónicas
NETO, I.G; Utilização da via subcutânea na pratica clínica artigos de revisão,
http://www.spmi.pt/revista/vol15/vol15_n4_2008_277_283.pdf acedido 06/07/2010 às 18:19.
Instituto Nacional de Câncer. Terapia Subcutânea no câncer avançado Série Cuidados Paliativos
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/Terapia_subcutanea.pdf acedido 10/01/2011 às 19:57
Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados Paliativos, acedido 06/07/2010 às 19:05
POLICY FOR THE ADMINISTRATION OF SUBCUTANEOUS FLUIDS (HYPODERMOCLYSIS) TO ADULT PATIENTS
http://www.dorsetpct.nhs.uk/documents/publications/policies/clinical_policies/full_policies/subcutaneous%20fluids%20apr08.pdf
acedido em 10/01/2011 às 19:20
3
ANEXO III
Caro Colega,
Pontos Fortes
Pontos Fracos
1. Receptividade da equipa de enfermagem a novos projectos 1. Falta de conhecimento da equipa multidisciplinar acerca da
2. Alternativa às vias EV e IM técnica
3. Existência de material adequado para a realização da técnica 2. Inexperiência dos enfermeiros na execução do procedimento
4. Via SC menos dolorosa e com maior durabilidade 3. Leque de fármacos que não pode ser administrado por esta via
Oportunidades
Ameaças
1. Melhorar o conforto do doente em fase terminal 1. Técnica não utilizada em situações agudas em meio hospitalar
2. Alternativa às vias EV e IM 2. Intervenção interdependente
3. Existência de um grande número de doentes em fase terminal 3. Falta de experiência da equipa Médica em relação à técnica
4. Recomendação da via SC pela equipa de CP do CHLC
Através da ferramenta utilizada podemos salientar os factores dominantes e
determinantes, tanto internamente como externamente á técnica proposta, que
poderão influenciar o sucesso do projecto, e produzir orientações estratégicas
relevantes, aliando o projecto ao seu contexto específico.
Matriz Swot
Estratégias S-O: perseguem oportunidades que são boas para fortalecer os pontos
fortes.
Planeamento do Projecto
Título do Projecto: A utilização da Via SC para hidratação e administração de terapêutica, na Pessoa com patologia crónica e/ou paliativa.
Objectivos (geral, específicos, centrados na resolução do problema. Os objectivos terão que ser claros, precisos, exequíveis e mensuráveis, formulados em enunciado declarativo, já discutidos
com o professor e o orientador):
OBJECTIVO GERAL: Melhorar a qualidade dos cuidados à pessoa com patologia crónica e/ou paliativa.
OBJECTIVOS Específicos:
Identificação dos profissionais do serviço com quem vai articular a intervenção (chefia directa, orientador, outros elementos da equipa, outros profissionais, outros serviços)
1
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica
1 - Aprofundar
a) Efectua pesquisa bibliográfica em livros e bases de dados electrónicas Computador 10 H. 1 – Apresenta síntese sobre a
conhecimentos na área da credenciadas; técnica;
Hipodermoclise e
administração de b) Pesquisa normas/protocolos internacionais; Computador 4 H.
terapêutica por via SC;
c) Realiza Estágio de observação na Unidade de Cuidados Paliativos da Idanha; Equipa da 40 H. 2 - Efectua Estágio na Casa de
Unidade Saúde da Idanha – Unidade de
Cuidados Paliativos;
3 – Apresenta reflexão
decorrente do estágio;
2
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica
3 - Elaborar folheto de
a) Constrói protótipo de folheto; Equipa de Computador 1 – Apresenta folheto de
informação para a Pessoa enfermagem informação para Pessoa
da Unidade Significativa;
significativa/cuidadora;
b) Distribui protótipo 1, à equipa de enfermagem;
Papel A4
4 - Colaborar na
a) Reúne com Enfª chefe e Médico responsável da Unidade; Enfª Chefe Computador 1 - Apresenta protocolo clínico;
elaboração de um
Médico
protocolo clínico sobre a
b) Colabora na construção de protótipo de protocolo clínico, com o Médico responsável
Hipodermoclise e designado para a elaboração do protocolo; da Unidade Papel A4
administração de
Médico
terapêutica por via SC; c) Distribui protótipo à equipa de enfermagem;
Equipa de
enfermagem
d) Recolhe sugestões da equipa;
3
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica
5 – Efectuar formação
a) Planeia a sessão; Equipa de Computador 3 1 – Realiza acção de formação
sobre a técnica de enfermagem Sessões 80% Equipa de enfermagem;
b) Divulga sessão de formação; da Unidade de
Hipodermoclise à equipa 1 H.
de enfermagem; c) Realiza a sessão; Papel A4 2 - Apresenta documentos de
divulgação da sessão e plano
d) Entrega questionário de avaliação da sessão. de formação;
Material para
demonstração da
técnica 3 – Avalia conhecimentos
adquiridos.
4- Avalia a implementação do
projecto.
4
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica
Pesquisa bibliográfica
Implementação do projecto
Avaliação do projecto
Orçamento:
Recursos Humanos: os recursos humanos para a execução deste projecto estão todos afectos ao CHLC.
Recursos Materiais: os recursos materiais existem no CHLC e são utilizados nas técnicas de cateterização venosa (abocth); e a agulha epicraneana também está disponível no serviço de
internamento. Todo o outro material nomeadamente: sistemas de soros, adesivo, antisséptico estão disponíveis, não acrescenta por esse motivo custos acrescidos na sua aquisição.
Como constrangimentos possíveis a este projecto posso prever que e dado que a Unidade de Pneumologia está vocacionada para tratamento de situações agudas, e a via subcutânea não ser
utilizada nesse âmbito, poderá ocorrer pouca adesão da parte dos Médicos à sua prescrição. No entanto, gostaria de frisar que como o serviço tem muitos doentes crónicos e em fim de vida, este
5
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica
projecto contribui em muito a qualidade de vida destas pessoas. E, é neste sentido que penso persuadir os profissionais.
Data: 01 / 03/ 2011 Assinatura: Delmira Pombo Docente: Professora Doutora Alice Ruivo
6
ANEXO VI
COD.0000
Procedimento Sectorial
COD.000
(ou
)
Utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise
APROVAÇÃO
1 OBJECTIVO
2 ÂMBITO DE APLICAÇÃO
3 RESPONSABILIDADES
ELABORAÇÃO
VERIFICAÇÃO
CQSD
COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise
4 DEFINIÇÕES
5 SIGLAS E ABREVIATURAS
H. S. Marta – Hospital de Santa Marta
CHLC – Centro Hospitalar de Lisboa Central
Enfª – Enfermeira
SC – Subcutânea
6 REFERÊNCIAS
BARBOSA, A; NETO, I. G. – Manual de Cuidados Paliativos. Fundação
Calouste Gulbenkian. Lisboa. 2006
NETO, I. G. – Utilização da via subcutânea na prática clínica. Revista
Portuguesa de Medicina Interna. Vol. 15 I nº4 I Out./Nov. 2008.
NHS, Guidelines for the Use of Subcutaneous Medications in Palliative Care. in
http://www.nhslanarkshire.org.uk/Services/PalliativeCare/Documents/Guidelines
acedido a 12/05/2011 às 12:45.
7 DESCRIÇAO
COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise
Algumas considerações:
Deste modo, as indicações para a administração de fluidos e/ou terapêutica por via
SC são:
Impossibilidade de ingestão por via oral (náuseas, vómitos, disfagia, obstrução do
trato gastrointestinal, nível de consciência reduzido (…);
Impossibilidade de acesso venoso;
Possibilidade de permanência da pessoa no domicilio, se esse for o seu desejo;
Prevenção ou tratamento da desidratação moderada.
COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise
E, como Desvantagens:
Reposição de grandes volumes de líquidos;
Situações onde haja necessidade de infusão rápida.
Material necessário:
Agulha epicraneana de baixo calibre (23G) ou cateter de teflon (abocath 24);
Solução anti-septica;
Compressas;
Luvas limpas;
Seringa com cloreto de sódio 0,9%;
Penso transparente (tipo tegaderm).
Procedimento Técnico:
Explicar o procedimento à pessoa/convivente significativo, e pedir a sua
colaboração (caso seja possível);
Reunir o material adequado à técnica;
Higienização das mãos;
Expurgar a agulha epicranea com NaCl;
Escolher o local a puncionar (recomenda-se região escapular, subclavicular,
periumbilical para a hipodermoclise, uma vez que são zonas em existe mais tecido
adiposo, tolerando melhor a infusão de injectáveis de grande volume, e não deve
interferir nos movimentos da pessoa);
Desinfectar o local escolhido;
Efectuar prega da pele;
Introduzir num ângulo de 45º a agulha com o bisel para cima e no final rodar o
bisel para baixo (de modo a facilitar a absorção);
COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise
Notas:
Sempre que possível utilizar cateter de teflon, é mais cómodo e mais seguro;
Após administração de terapêutica deve sempre administrar NaCl, evitando
assim que fique medicação na tubuladura;
Não administrar mais que 4cc/por toma;
Perfusão contínua não deve ser superior a 2cc/hora;
O tempo de permanência do cateter não deve ser superior a 5 dias.
Pode ser administrado NaCl 20%, diluído no soro;
Pode ser administrado KCl 40 mEq/l, diluído no soro;
8 ANEXOS
COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise
Anexo I
Metadona Midazolam
COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise
Anexo II
Sinais de alerta
Este método de reposição de líquidos é usado há
muito tempo.
• O soro parar de correr;
É uma maneira fácil, segura e confortável para
• Aparecer a pele vermelha, dor e edema, no
administra líquidos (soros).
local de inserção da agulha;
• A pessoa começar com dificuldade em respi-
rar;
• A agulha sair do local de inserção;
• Aparecer sangue no locar de inserção da
agulha ou tubo de plástico.
Hidratação por via SC
(Hipodermoclise)
NOTAS:
_______________________________________________
_______________________________________________
Com esta técnica pode-se, também, A via endovenosa requer vigilância de profissio-
administrar medicamentos. nais. A quantidade de soro é indicada pelo pro-
fissional de saúde. Não deve exceder 1500
A via subcutânea pode ser utilizada pelo cuida- ml/dia.
dor informal, no domicílio, desde que devida-
mente informado pelos profissionais de saúde. Pode ser, também, administrada terapêuti-
ca, de acordo com as indicações dos profis-
sionais de saúde.
A Utilização da Via SC
para hidratação e
administração de terapêutica
Melhorar a qualidade dos cuidados à pessoa com patologia crónica e/ou paliativa
Objectivos específicos
Sim ; 5; 38%
Não; 8; 62%
Sim; 4; 31%
Contexto
1. Domiciliário 1
Não; 9; 69%
2. Doente em fase terminal 3
3. Acompanhamento/Orientação/supervisão/prescrição
equipa CP CH 3
Divulgação dos resultados do questionário / análise SOWT
Sim; 5; 38%
3.
Não; 8; 62% Acompanhamento/Orientação/supervisão/pres
crição
equipa CP CH 2
Não; 0; 0%
considera útil 4
Contra – indicações
Distúrbios da coagulação;
Edema / Anasarca;
Pele não integra, pregas cutâneas, cicatrizes;
Proeminências ósseas e articulações;
Áreas com pouco tecido subcutâneo;
Local com massa tumoral.
Indicações
(Nº gotas por minuto = volume liquido total (ml) nº de gotas por ml (1ml=20gts)
Duração prescrição da infusão (minutos)
Administração de Terapêutica por via SC
(bólus/infusão continua)
em simultâneo.
KCl deve ser diluído em pelo menos 100 ml de NaCl 0,9% (60 a 125
ml/h)
Após administração do fármaco, administrar 1 ml de NaCl 0,9%
Sim ; 5; 38%
Não; 8; 62%
Alguma vez administrou soros via SC
Sim; 4; 31%
Não; 9; 69%
Contexto
1. Domiciliário 1
3. Acompanhamento/Orientação/supervisão/prescrição
equipa CP CH 3
Alguma vez administrou terapêutica em perfusão via SC
Sim; 5; 38%
Não; 8; 62%
Contexto
3. Acompanhamento/Orientação/supervisão/prescrição
equipa CP CH 2
Considera útil desenvolvimento da Técnica na Unidade
Não; 0; 0%
considera útil 4
Revisão da Literatura
1
POMBO, Delmira
2
MARTINS, Lurdes
RESUMO
As pessoas com patologia crónica e paliativa representam, actualmente, um número
significativo da população que necessita de cuidados de saúde diferenciados. Neste
âmbito, os Cuidados Paliativos são encarados como uma intervenção técnica, e
rigorosa no controlo do sofrimento da pessoa e família, maximizando o conforto e
promovendo a qualidade de vida. Neste sentido, a via subcutânea para
administração de terapêutica ou hidratação evidencia-se como uma opção no
controlo sintomático. Embora esta técnica seja conhecida há várias décadas, o seu
uso não é sistemático. O objectivo deste artigo é efectuar uma revisão da literatura,
acerca da utilização da via subcutânea para hidratação, e administração de
terapêutica em cuidados paliativos. A pesquisa foi efectuada nas bases de dados
Ebsco, B-on, Scielo, repositório de teses de mestrado em Portugal, sem limite
temporal, disponíveis em texto integral, em língua portuguesa e inglesa. A
hidratação de doentes em fim de vida pode ser controversa, há que considerar os
riscos e benefícios. No entanto, a via subcutânea apresenta-se como um alternativa
credível para administração de terapêutica, para controlo sintomático da pessoa em
fim de vida.
1
Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, Mestranda do 2º Mestrado em
Enfermagem Médico-Cirúrgica ESS-IPS
2
Professora Doutora ESS-IPS
ABSTRACT
Individuals with chronic disease in palliative care represent a significant number of
people who need hospital care. In this context, palliative care is seen as an
intervention adequate in controlling patient and family suffering, maximizing comfort
and promoting quality of life. So the use of subcutaneous route for medication
administration or hydration is an evident option in symptom control. Although this
technique has beem known for decades, its use is not systematic. The purpose of
this article is to conduct a literature review on the use of subcutaneous route for
hydration and medication administration in palliative care. The search was carried out
in the following databases Ebsco, B-on, Scielo and repository of master theses in
Portugal, without time frame, in Portuguese and English with available full text. The
hydration of patients at end of life may be controversial, risks and benefits must be
weighed out. However the subcutaneous route presents itself as a credible
alternative for medication administration for symptomatic control in the person at end
of life.
INTRODUÇÃO
O aumento da esperança de vida e consequentemente o aumento da prevalência de
patologia crónica, leva-nos a repensar os cuidados que prestamos e a desenvolver e
adequar esses cuidados face às necessidades da população. Neste sentido, os
cuidados paliativos surgem com a finalidade de promover o bem-estar e a qualidade
de vida das pessoas com doença incurável e das suas famílias, através da
prevenção e alívio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual. Neste âmbito,
e sendo uma das premissas o alívio do sofrimento físico, nomeadamente a dor e/ou
outros sintomas decorrentes da patologia, torna-se necessário desenvolver
estratégias para minimizar o impacto que provocam na qualidade de vida da pessoa.
Deste modo, a utilização da via subcutânea surge como uma alternativa para
hidratação e administração de terapêutica na pessoa em fim de vida. Naturalmente,
e, sempre que possível, a via de administração de terapêutica eleita é a via oral, por
ser simples e não implicar um método invasivo.1 Todavia, a presença de náuseas,
vómitos e má absorção, impedem a sua utilização.2
Os primeiros registos da utilização da via subcutânea datam de 1914 em pediatria.3
Contudo, é na década de 70 que aparecem registos da utilização desta via em
cuidados paliativos.3 Desde então verifica-se a divulgação de vários estudos, artigos
de revisão, teses, protocolos e guidelines relacionadas com a utilização da via
subcutânea, para hidratação e administração de terapêutica em pessoas em fim de
vida.
Com base nesta perspectiva, efectuámos uma pesquisa alargada da literatura com o
objectivo de incorporar a evidência da eficácia, desta via, na prática clínica, para
hidratação e administração de terapêutica em cuidados paliativos.
METODOLOGIA
O método utilizado tem por base uma revisão alargada da literatura, sobre a
temática da utilização da via subcutânea para hidratação e administração de
terapêutica em cuidados paliativos.
O objectivo definido para esta revisão da literatura, é identificar os locais apropriados
para a hidratação subcutânea, bem como indicações, contra-indicações, descrição
da técnica e os fármacos administrados por via subcutânea em cuidados paliativos.
A pesquisa foi efectuada nas bases de dados electrónicas EBSCO, B-on, Scielo,
repositório de teses de mestrado e guidelines internacionais sobre o tema, sem
limite temporal em língua portuguesa e inglesa. As palavras-chave utilizadas para a
pesquisa foram: hypodermoclysis / subcutaneous medication / palliative care. A
escolha dos artigos foi feita tendo em conta a sua disponibilidade em texto integral, o
título relacionado com a temática em questão, e o resumo.
Assim, foram encontrados 13 artigos, uma tese de mestrado, e três guidelines.
Procedeu-se, posteriormente, à análise dos textos seleccionados, e foram
considerados 13 documentos como importantes, para a revisão da literatura, onde
se evidencia a descrição da técnica, indicações, contra-indicações, eficácia, e
terapêutica utilizada em cuidados paliativos e que podem ser administrados pela via
subcutânea.
RESULTADOS
Hidratação subcutânea
A Hidratação subcutânea designada por hipodermoclise é a administração de fluidos
no tecido subcutâneo, cuja vascularização é semelhante à dos músculos, a taxa de
absorção é uniforme e lenta4. É um método simples e seguro que poderá, também,
ser utilizado no domicílio, desde que o cuidador esteja informado, pelos profissionais
de saúde, dos cuidados necessários com o procedimento1,3,4.
Está indicado nas situações de inviabilidade da via oral, nomeadamente náuseas,
vómitos, disfagia, intolerância gástrica, obstrução intestinal, e diarreia1,3,4. Em
situações em que a pessoa apresente confusão mental, que esteja sedada, ou na
fase de agonia1. É indicada, também em situações em que é difícil ou impossível a
punção de acessos venosos1,3,4 ou em casos de desidratação leve ou moderada1,4. A
hipodermoclise é contra-indicada em situações de emergência, de choque,
insuficiência circulatória, desidratação grave, distúrbios de coagulação, sobrecarga
hídrica, edema4.
Todavia a necessidade de hidratação no fim de vida é controversa5,6. Alguns autores
evidenciam bons resultados quando a finalidade é a hidratação. No estudo realizado
por PINO et al (2011) em 257 doentes, 22 deles sofriam de doença terminal, em 13
destes foi utilizada a via subcutânea para administração de terapêutica e/ou
hidratação3. PERERA et al (2011) num estudo realizado com 10 doentes com cancro
e desidratação ligeira, em fim de vida, evidenciam que o volume administrado para
hidratação foi em média de 1000ml/dia, com um ritmo de infusão que variou entre
20/80ml/h. O local da punção foi mudado a cada 2/4 dias, por se verificar absorção
insuficiente e desconforto no local. Não se verificaram outras complicações 9.
No entanto, BAVIN (2007) e LANUKE et al (2004) mencionam que a hidratação
artificial poderá ter efeitos prejudiciais. A rehidratação poderá aumentar as
secreções pulmonares e gástricas, originando uma maior probabilidade de
congestão, náuseas e vómitos. Poder-se-á verificar um aumento do edema cerebral,
edema periférico e aumento da eliminação urinária5,6. Poderá provocar uma
sensação artificial de esperança na família5, com a negação da gravidade da
situação5. Para além de ser um procedimento invasivo com possíveis riscos
associados à infecção no local de inserção da cânula 5, pode ser desconfortável e
limita a mobilidade da pessoa6.
Concomitantemente, os argumentos mencionados a favor referem que a
desidratação conduz à falência renal, o que pode levar à acumulação de metabolitos
resultantes dos opióides, que podem provocar confusão e agitação6. Assim, os
estudos sugerem que, em doentes em fase terminal, se consegue uma hidratação
adequada com menor quantidade de líquidos4. Esta deve ser, portanto considerada
em situações que promovem o conforto da pessoa4.
Os fluidos indicados para infusão são o cloreto de sódio 0,9% ou 0,45%, e a
glucose 5%1,4,6. Pode infundir-se o volume diário de 500cc a 1500cc numa só via
subcutânea, ou 3000cc em duas vias, nas 24 horas1,4,6.
Os locais adequados para a hipodermoclise são o abdómen, o tórax superior abaixo
da clavícula, tórax posterior na zona escapular, coxas e membros superiores na
região do músculo deltoide1,2,4,7, privilegiando-se aqueles com maior quantidade de
tecido adiposo1. Os locais do corpo com cicatriz, pele não integra, irradiada por
radioterapia, mastectomia, tecido mamário, com edema, linfedema, ascite,
proeminências ósseas, articulações, e perto de estomas devem ser evitados1,2,4.O
local de inserção do cateter deve ser vigiado com frequência. Quando se inicia a
perfusão, a verificação do local deve ser feita após 30 minutos4. Posteriormente
deve ser vigiado pelo menos uma vez por dia1.4. Apesar de não haver evidência
clínica da alteração do local, este deverá ser mudado após 48/72 horas, ou não
exceder o recomendado pelo fabricante do cateter4. Os problemas potenciais que
podem ocorrer prendem-se com edema local, vermelhidão, inflamação, celulite, dor
ou desconforto, punção de vasos sanguíneos, edema pulmonar1,4.
REMINGTON (2007) efectuou uma revisão da literatura com a finalidade de
conhecer a segurança e eficácia da hipodermoclise versus hidratação por via
intravenosa em pessoas idosas com desidratação leve e moderada. Neste estudo
evidencia-se que em termos de segurança, a hipodermoclise é comparável à
administração intravenosa. Os efeitos sistémicos, como a insuficiência cardíaca e a
hiponatrémia são pouco frequentes. O número de doentes com efeitos adversos
locais, como o edema, eritema e celulite, verificaram-se nas duas vias de
administração. Todavia estes efeitos adversos ocorrem mais frequentemente na via
intravenosa8.
Em termos de eficácia, avaliada por controlo laboratorial, ambos os métodos se
revelam eficazes. A mudança do local na hipodermoclise foi de 2/2 dias e na
perfusão intravenosa foi de 2,8 dias. Todavia os doentes que realizam
hipodermoclise mostram-se menos ansiosos com a perfusão8. Em termos de
viabilidade a hipodermoclise mostra-se um procedimento mais rápido de executar,
ou seja, o enfermeiro demora menos tempo face à punção intravenosa8, consumindo
menos tempo em cuidados de enfermagem. O estudo revela, ainda, que os custos
associados aos gastos com as cânulas, na hipodermoclise são menores, e a sua
manutenção é mais fácil8.
Dexametasona Não deve ser misturada com outros fármacos em perfusão, excepto se for em doses
muito baixas (1mg/24h), NaCl 0,9% ou água injectável
Metadona Midazolam
2,7
Quadro 1 – Compatibilidade dos fármacos usados habitualmente em Cuidados Paliativos
Destacam-se a morfina, metoclopramida, butilescopolamina, haloperidol, midazolam,
dexametasona, ondansetron, tramadol, e furosemida1,2,10. São descritos a
administração de alguns antibióticos, tal como o ceftriaxone, entre outros1,10.
Contudo, muitos não se apresentam licenciados para a utilização pela via
subcutânea1 necessitando deste modo de mais estudos11. Os fármacos descritos
como contra-indicados são o diazepam, fenitoína e a cloropromazina1. Na
administração de medicamentos, pela via subcutânea, é necessário ter em atenção
a compatibilidade dos mesmos1,2. O máximo recomendado, em cada administração
de terapêutica em bólus, é de 1 ml2. Poder-se-á colocar mais que uma via, no caso
de incompatibilidade de fármacos, ou administração de mais, no mesmo horário1,2.
Segundo um estudo desenvolvido por FONZO-CHRISTE et (2005) e uma revisão
sistemática dos fármacos licenciados e administrados pela via subcutânea (na Suiça,
Alemanha, França e Reino Unido), esta é usada diariamente em 83% dos doentes
em cuidados paliativos e, em 54% é usada para hidratação. Evidencia que 34 dos
medicamentos utilizados apenas 13 são licenciados. Os medicamentos mais
utilizados são a morfina, haloperidol, furosemida e o cloreto de sódio 0,9% para
hidratação. Os locais mais utilizados são a coxa, o braço e a parede abdominal.
Utilizam a butterfly ou cateter de teflon durante 3/5 dias. As complicações mais
frequentes foram a dor, edema, inflamação e infecção10. Todavia, a informação
sobre a medicação a utilizar na via subcutânea é ainda muito escassa e necessita
de maior nível de evidência10.
A infusão contínua de medicamentos por via subcutânea através de seringa infusora
proporciona a administração de uma dosagem constante. Esta infusão é usada no
controlo de sintomas em cuidados paliativos2. Os fármacos mais utilizados são os
opiáceos, analgésicos, antieméticos, sedativos, anticolinérgicos, e corticosteróides2.
Os registos indicam que não devem ser administrados mais que 2 a 3 medicamentos
na mesma infusão1. A perfusão deve ter em conta a compatibilidade entre os
fármacos, e a estabilidade à temperatura ambiente2,11.
MOREIRA (2010) no estudo efectuado (n=106), no âmbito da tese de Mestrado,
sobre o uso da via subcutânea para hidratação e administração de terapêutica no
domicílio, evidencia que 38,7%, dos profissionais usa a via subcutânea. 42,5% por
desidratação e 35% na fase agónica. A terapêutica mais administrada é a
metoclopramida, morfina, furosemida, e butilescopolamina, e o cloreto de sódio 0,9%
para a hidratação. Recorrem à parede abdominal (42,5%) e à face externa da coxa
(15%) para o efeito. Refere, também, que os motivos pelos quais os profissionais
não utilizam mais esta via, são por falta de prescrição (76,5%) e por
desconhecimento (39,7%)12.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os principais sintomas da pessoa em fim de vida são a dor, as náuseas, os vómitos,
a dispneia, a agitação, o delírio e a respiração ruidosa. Como tal, é necessário
apresentar estratégias para controlo destes sintomas, proporcionando maior conforto
à pessoa.
A via subcutânea para hidratação e administração de terapêutica, na pessoa em fim
de vida é descrita como uma alternativa às outras vias de administração de
medicamentos, principalmente quando a via oral é inexequível. Face à via
intravenosa demonstra a mesma eficácia e segurança, com menor número de
complicações, para além disso possibilita que o doente permaneça no domicílio,
caso seja essa a sua vontade, desde que o cuidador esteja capacitado para efectuar
a administração e vigilância.
Apesar da hidratação ser controversa na pessoa em fim de vida, há que ponderar os
riscos/benefícios. Os estudos descrevem a administração de 1000CC por dia de
cloreto de sódio 0,9%, na desidratação moderada.
Um factor que poderá condicionar a utilização desta via é a indisponibilidade de mais
fármacos a serem utilizados na via subcutânea. Os utilizados são os hidrossolúveis,
como a morfina, metoclopramida, haloperidol, midazolam, butilescopolamina, e
furosemida administrados por bólus ou infusão contínua, considerando a
compatibilidade e a estabilidade dos fármacos. A permanência da butterfly ou cateter
de teflon pode variar, entre 2 a 7 dias. Os estudos apontam para uma maior
durabilidade do cateter de teflon e maior conforto.
Os locais mais adequados para a administração de terapêutica subcutânea são
aqueles que têm mais tecido adiposo, nomeadamente tórax anterior e posterior,
abdómen, e coxas. Está contra-indicado a aplicação em pele não integra, irradiada
por radioterapia, mastectomia, cicatriz, e edema. As principais complicações no local
prendem-se com o desconforto, edema, inflamação e infecção.
Outro aspecto apontado é a falta de conhecimento e experiência dos profissionais
na utilização sistemática deste procedimento. Deste modo, é necessário uma maior
divulgação desta via, maior evidência científica, de modo a que esta se torne uma
alternativa para a administração de terapêutica, tendo em conta o conforto e a
qualidade de vida da pessoa em cuidados paliativos.
REFERÊNCIAS