Dissertacao Mestrado Delmira Pombo Final PDF

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Delmira Pombo A Via Subcutânea para Hidratação

e Administração de Terapêutica na
Pessoa com Patologia Crónica e/ou
Paliativa

Dissertação de Mestrado em
Enfermagem Médico – Cirúrgica

Dezembro 2012
Delmira Pombo A Via Subcutânea para Hidratação
e Administração de Terapêutica na
Pessoa com Patologia Crónica e/ou
Paliativa

Dissertação apresentada para cumprimento dos


requisitos necessários à obtenção do grau de
Mestre em Enfermagem Médico – Cirúrgica,
realizada sob a orientação científica da Sra.
Professora Doutora Maria de Lurdes Martins

Dezembro 2012

1
Usa a capacidade que tens.
A floresta ficaria silenciosa se só o melhor pássaro cantasse.

Óscar Wilde

2
Agradeço

À Sr.ª Professora Lurdes Martins a orientação deste trabalho, e a partilha do seu


saber neste percurso que se iniciou em 2007.

À Sr.ª Professora Alice Ruivo a orientação no estágio, e desenvolvimento do


trabalho de projecto.

À Sr.ª Enfermeira Chefe Armandina Antunes pela orientação no estágio, e ajuda


na reflexão.

A todos os colegas do Serviço de Pneumologia pela colaboração e apoio.

A todos os colegas, da Unidade de Cuidados Paliativos de S. Bento de Menni, a


partilha de experiências.

À minha amiga e colega Enfª Graça Quaresma pelo apoio e disponibilidade.

Ao meu irmão Joaquim Pombo pela ajuda na revisão e formatação do trabalho.

3
RESUMO
Elaboramos o presente relatório no âmbito do 2º Mestrado em Enfermagem
Médico Cirúrgica, na Escola Superior de Saúde, do Instituto Politécnico de
Setúbal no ano lectivo de 2012/2013. Destina-se a apresentar o trabalho que
realizamos, utilizando a metodologia de projecto, bem como as reflexões e
aprendizagens efectuadas nos estágios. Salientamos que o percurso formativo se
iniciou com a 1ª Pós Graduação em Enfermagem Médico Cirúrgica – Cuidados
Paliativos no ano de 2007/2008. Posteriormente realizamos o 1º Curso de Pós
Licenciatura de Especialização em Enfermagem Médico - Cirúrgica no ano lectivo
de 2010/2011, onde foram efectuados os estágios e desenvolvido o projecto, que
apresentamos.
O número de pessoas com doença crónica e paliativa tem vindo a aumentar,
devendo-se em parte ao desenvolvimento mundial e vários outros factores tais
como um maior conhecimento que aumenta a longevidade, a hábitos de vida
relacionados com a má alimentação, o tabagismo, o stress, o sedentarismo, entre
outros, que contribuem para um aumento da morbilidade. Consequentemente,
nestes casos, as pessoas necessitam de apoio para manter o melhor estado de
saúde, tanto quanto for possível, assumindo como aspectos prioritários a
estabilização, adaptação e a manutenção da qualidade de vida.
Com o objectivo de melhorarmos a qualidade dos cuidados à pessoa com
patologia crónica e/ou paliativa, optámos por desenvolver o projecto cujo tema é a
utilização da via subcutânea para hidratação e administração de terapêutica, na
pessoa com patologia crónica e/ou paliativa. Atendendo a que as vias
preferenciais para administração de terapêutica poderão estar comprometidas,
por sintomatologia como náuseas, vómitos ou acessos venosos difíceis por vários
tratamentos, internamentos, e degradação do seu estado geral, este projecto
surge, como uma opção para administração de terapêutica ou hidratação na
pessoa com patologia crónica e/ou paliativa.
Para suportar a nossa decisão quanto ao tema a estudar, aplicamos um
questionário e análise SWOT para diagnóstico da situação. Destes salienta-se
que 62% dos enfermeiros não conhece a técnica da Hipodermoclise; 69% nunca
administrou soros por via SC; 62% nunca administrou terapêutica em perfusão
por via SC; 100% considera útil o desenvolvimento da técnica na Unidade.

4
Palavras-chave: hipodermoclise, medicação subcutânea, enfermagem, cuidados
paliativos.

5
ABSTRACT
We prepared this report under the 2nd master's degree in medical surgical
nursing, in the Escola Superior de Saúde, from the Instituto Politécnico de Setúbal,
in the academic year 2012/2013. It is intended to present the work we did, using
project methodology as well as the reflections and learning made in intership.
We emphasize that the training path began with the 1st post graduation in
medical surgical nursing - palliative care in the year 2007/2008. Later we held the
1st course of post graduate specialization in medical surgical nursing in the
academic year 2010/2011, where the stages were made and developed the
project, which we present.
The number of people with chronic illness and palliative care is increasing
and is partly due to global development, and various other factors such as
increased knowledge that increases longevity, the lifestyle habits such as poor diet,
smoking, stress, sedentary lifestyle, among others that contribute to increased
morbidity. Consequently, in these cases, people need support to maintain the best
state of health as much as possible, taking as priority aspects like stabilization,
adaptation and maintenance of quality of life.
Aiming to improve the quality of care for people with chronic disease and / or
palliative, we decided to develop the project whose theme is the use of
subcutaneous way for hydration and administration of therapy in people with
chronic disease or palliative. Given that the preferred way to administer therapy
may be impaired by symptoms such as nausea, vomiting or difficult venous access
due to several treatments, hospitalizations, and deterioration in his general
condition, this project emerges as an option for administering therapy or hydration
in person with chronic disease and / or palliative.
To support our decision to study on the subject, we apply a survey and
SWOT analysis for diagnosis of the situation. Should be noted that 62% of nurses
do not know the technique of hypodermoclysis, 69% never administered
subcutaneous solution, 62% never administered infusion therapy subcutaneously;
100% considers the development of the technique useful in Unit.

Keywords: hypodermoclysis, subcutaneous medication, nursing, palliative care.

6
ÍNDICE

0. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
1.ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ........................................................................ 16
1.1. Teoria do Conforto ..................................................................................... 21
1.2. A Pessoa com Doença Crónica e Paliativa................................................ 26
1.3. Competências do Enfermeiro Especialista/Mestre .................................... 38
1.4. A Qualidade em Enfermagem.................................................................... 43
1.5. A Utilização da Via Sc para Hidratação e Administração de Terapêutica .. 53
2. PROJECTO DE INTERVENÇÃO NO SERVIÇO .................................................... 63
2.1. Diagnóstico de Situação ............................................................................ 63
2.2. Planeamento do Projecto........................................................................... 66
3. APRENDIZAGENS DESENVOLVIDAS.................................................................... 75
3.1. Uma Experiência na Unidade de Cuidados Paliativos ............................... 75
3.2. Comunicação de más Notícias .................................................................. 79
3.3. Dignidade Humana .................................................................................... 88
3.4. Plano de Emergência da Unidade ............................................................. 97
3.5. Novas Responsabilidades ....................................................................... 101
4. CONCLUSÃO ............................................................................................................. 106
5. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 109
5.1. BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 109
5.2. ELECTRÓNICAS ..................................................................................... 112

Anexos
ANEXO I – Questionário do conforto em fim de vida
ANEXO II – Diagnóstico da Situação
ANEXO III – Questionário – Diagnóstico de situação
ANEXO IV – Análise SWOT – Diagnóstico de situação
ANEXO V – Planeamento do Projecto
ANEXO VI – Norma de Procedimento de Enfermagem
ANEXO VII – Folheto informativo para cuidador/pessoa significativa

7
ANEXO VIII – Formação à Equipa de Enfermagem
ANEXO IX – Divulgação dos Resultados Equipa de Enfermagem
ANEXO X – Artigo científico

8
INDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Teoria do conforto de Katharine Kolcaba, adaptado de Teóricas de


Enfermagem e a sua obra: modelos e teorias de enfermagem (2004).

Figura 2 – Estrutura Taxonómica do conforto, adaptado DOWD (2007).

Figura 3 – Tecido subcutâneo; adaptado INCA (2009).

Figura 4 – Concentração do medicamento na corrente sanguínea com o tempo;


adaptado de INCA (2009).

Figura 5 – Locais de administração de terapêutica SC e hipodermoclise.

Figura 6 – Ângulo de punção; adaptado de protocol hypodermomoclysis (2003).

9
INDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Compatibilidade de fármacos; adaptado de NETO (2008).

10
SIGLAS e ABREVIATURAS

AVD – Actividades de vida diárias


CHLC – Centro Hospitalar de Lisboa Central
DGS – Direcção Geral de Saúde
Enfº – Enfermeiro
IACS – Infecção Associada aos Cuidados de Saúde
INCA – Instituto Nacional do câncer
OE – Ordem dos Enfermeiros
OMS – Organização Mundial de saúde
REPE – Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros
SC – Subcutânea

11
0. INTRODUÇÃO

No âmbito do 2º Curso de Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica,


no ano lectivo de 2012/2013, na Escola Superior de Saúde, do Instituto
Politécnico de Setúbal, realizamos um trabalho final utilizando a metodologia de
projecto. Este relata o percurso que fizemos, as reflexões e as aprendizagens
efectuadas associada aos estágios desenvolvidos.
O desenvolvimento mundial e o aumento da esperança de vida têm como
consequência um número crescente de pessoas com doenças crónicas, o que
acarreta, muitas vezes, um significativo aumento de incapacidades e conduz à
dependência de outrem na satisfação de necessidades humanas fundamentais.
Deste modo, a qualidade de vida assume-se como um dos aspectos prioritários
no cuidado as estas pessoas. Entendemos que a qualidade de vida tem um
carácter muito subjectivo, e é sentida por cada um consoante as suas
necessidades, as adaptações que tem que fazer face às adversidades que
ocorrem.
De acordo com a ORDEM DOS ENFERMEIROS (OE) 1 existem vários
motivos para o aumento da doença crónica. Destacam-se as alterações a nível
global, da sociedade, globalização económica, medidas políticas e sociais,
questões de injustiça social e envelhecimento. Embora a resolução do impacto
que estas possam provocar não seja, exclusivamente, da responsabilidade do
sector da saúde, este deve “liderar a luta contra a doença crónica e os
enfermeiros podem dar um enorme contributo, não só na prevenção como
também no cuidar de milhões de pessoas em todo o mundo que já estão
afectadas” OE (2010:7).
É consensual, hoje em dia, que a pessoa com doença crónica e terminal
necessita de cuidados especializados. NETO (2008:20) evidencia que apesar de
ainda muitos profissionais entenderem que “quando já não se cura uma doença,
já não há nada a fazer” é um conceito que não está ajustado às necessidades das
pessoas nesta fase, e é com base nesta filosofia que surgem os cuidados
paliativos. Estes cuidados prestados à pessoa em sofrimento, decorrente de

1
OE – Servir a comunidade e garantir qualidade: os enfºs na vanguarda dos cuidados na doença crónica,
edição Portuguesa, 2010.

12
doença incurável em fase avançada e rapidamente progressiva, tem como
principal objectivo promover, tanto quanto possível e até ao fim, o seu bem-estar
e qualidade de vida. Neste sentido, o tratamento da pessoa com uma doença
crónica deve ser incluído o mais precocemente possível no decurso da doença. A
mesma autora refere que todas as pessoas com “doenças crónicas, sem resposta
à terapêutica de intuito curativo e com prognóstico de vida reconhecidamente
limitado, devem ter acesso a cuidados paliativos” NETO (2008:20). Os cuidados
paliativos são cuidados especializados, prestados por uma equipa interdisciplinar
com formação dirigida para as necessidades de controlo de sintomas,
comunicação adequada e apoio à família.
A opção por esta área, do cuidado à pessoa com patologia crónica e/ou
paliativa, está relacionada com o percurso formativo que temos vindo a
desenvolver nos últimos anos e prende-se, também, com a identificação da
filosofia que está na base dos cuidados a estas pessoas e famílias. Com a
divulgação do Programa Nacional de Cuidados Paliativos surgem várias unidades
no País. E, são criadas também Equipas Intra-hospitalares de Cuidados Paliativos
em alguns Hospitais, como é o caso do Centro Hospitalar de Lisboa Central, onde
desempenhamos funções. Contudo, os recursos manifestam-se insuficientes face
à procura, ou seja, às necessidades das pessoas que se encontram internadas.
Da prática de cuidados emergiu a necessidade de relacionarmos o
projecto com algo com que nos identificássemos, e ao mesmo tempo que fosse
útil para o cuidado a estes doentes. Daí que tenhamos escolhido, a utilização da
via subcutânea para hidratação e administração de terapêutica, na pessoa
com patologia crónica e/ou paliativa.
Esta opção surge-nos após alguma reflexão, e também da necessidade
de desenvolvermos alternativas no controlo sintomático da pessoa em fim de vida.
As vias preferenciais de administração de terapêutica, em ambiente hospitalar são
a oral e a endovenosa. A primeira por ser menos invasiva e a segunda por
apresentar um efeito rápido. Todavia, na pessoa em fim de vida estas vias por
vezes estão comprometidas, por sintomatologia como náuseas, vómitos ou
acessos venosos difíceis devido aos vários tratamentos, internamentos, e
degradação do seu estado geral. Neste sentido, este projecto surge, como mais

13
uma opção para administração de terapêutica ou hidratação na pessoa com
patologia crónica e/ou paliativa.
A metodologia seguida, para a elaboração deste trabalho, é a
metodologia de projecto. Tem como objectivo geral:
 Melhorar a qualidade dos cuidados à pessoa com patologia crónica e/ou
paliativa.
E, como objectivos específicos:
 Aprofundar conhecimentos na área da Hipodermoclise e administração de
terapêutica por via SC;
 Elaborar norma de procedimento de enfermagem sobre Hipodermoclise e
administração de terapêutica por via SC;
 Elaborar folheto de informação para a Pessoa significativa/cuidador;
 Colaborar na elaboração de um protocolo clínico sobre a Hipodermoclise e
administração de terapêutica por via SC;
 Efectuar formação à equipa de enfermagem;
 Planear a implementação e a avaliação do projecto;
O relatório apresenta três partes, na primeira parte do enquadramento
conceptual encontramos a evolução da ciência de enfermagem ao longo dos anos,
onde são abordados os conceitos centrais de saúde, pessoa, ambiente, e
cuidados de enfermagem, e a teoria do conforto de Kolcaba, que suporta este
projecto. Posteriormente abordamos o cuidar da pessoa e família com doença
crónica e/ou paliativa. São, também, abordados aspectos relacionados com a
qualidade em enfermagem e as competências de Enfermeiro Especialista e
Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica. No final expomos a fundamentação,
execução da técnica de hipodermoclise e administração de terapêutica por via
subcutânea.
Na segunda parte apresentamos a definição do problema com o
diagnóstico da situação, e posteriormente o planeamento do projecto de
intervenção. São abordados os objectivos específicos, e as actividades que foram
desenvolvidas.
Na terceira parte, encontramos algumas reflexões que efectuamos ao
longo do estágio que decorreu, na sua maioria na Unidade de Pneumologia, e o
estágio opcional foi realizado na Unidade de Cuidados Paliativos S. Bento Menni

14
na Casa de Saúde da Idanha. Nestas reflexões estão patentes algumas das
competências do mestre, bem como as competências do Enfermeiro Especialista
em Enfermagem em Pessoa em Situação Critica e, em Situação crónica e
paliativa.

15
1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

A Enfermagem, actualmente, afirma-se como uma disciplina do


conhecimento autónoma. Todavia, esse conhecimento só começa a emergir de
forma organizada e sistematizada na primeira metade do século XX, nos Estados
Unidos da América, onde se reconhece a necessidade de uma base de
conhecimento para a prática de enfermagem profissional. Neste sentido, tal como
refere TOMEY e ALLIGOOD (2004:3) começa-se a trabalhar com o intuito de
“desenvolver um corpo substancial de conhecimento em enfermagem”. Surgem
filosofias, modelos e teorias que definem os conceitos e procura-se a identidade
do conhecimento científico, que caracterizará a enfermagem.
Florence Nightingale, após algum tempo a cuidar de feridos da Guerra da
Crimeia funda uma escola de enfermagem, marcando o início da enfermagem
moderna. Até então a Enfermagem “baseava-se em princípios e tradições
transmitidas através da aprendizagem com a prática e a sabedoria de senso
comum que se adquiria com os anos de experiência” TOMEY e ALLIGOOD
(2004:5). É com base no seu conhecimento da organização e dos cuidados aos
feridos que emerge, no início do século XX, a criação de escolas de enfermagem
nos Estados Unidos da América. A partir deste momento torna-se importante a
formação e a investigação como forma de produzir novo conhecimento. Porém,
conclui-se que se a “investigação sem teoria produzia informação isolada”
TOMEY e ALLIGOOD (2004:4). Sendo fundamental aliar as duas para produzir a
ciência de enfermagem, que surge, deste modo, na década de 50.
SOUSA SANTOS (1987:5) evidencia que a ciência moderna “privilegia o
como funciona das coisas em detrimento de qual o agente ou qual o fim das
coisas. É por esta via que o conhecimento científico rompe com o conhecimento
do senso comum”, refere ainda que no senso comum “a causa e a intenção
convivem sem problemas” enquanto que na ciência “a determinação da causa
formal obtém-se com a expulsão da intenção. É este tipo de causa formal que
permite prever e, portanto, intervir no real (…)”.
É na década de 70 que se verifica que a Enfermagem necessita de
fundamentos conceptuais e enquadramentos teóricos. BARBARA CARPER, em
1978, identifica quatro padrões do conhecimento em enfermagem, que têm

16
impacto significativo no desenvolvimento da disciplina de enfermagem. Os quatro
padrões são: o empírico, o pessoal, o estético, e o ético. O padrão empírico
representa o conhecimento do que é factual, descritivo e verificável. O seu
objectivo é desenvolver um conhecimento abstracto, ou seja elaboração de
teorias. O padrão pessoal é considerado o mais difícil, uma vez que é subjectivo.
Este está relacionado com o conhecimento de si mesmo, que permite estabelecer
um relacionamento autêntico e de reciprocidade com o outro. O estético,
compreende a arte da enfermagem, ou seja, a arte é expressa na interacção da
enfermeira com a pessoa. O padrão ético, centra-se no conhecimento sobre os
princípios e valores, sobre o que é bom e correcto, implica decidir o que é
apropriado à situação. CARPER (1978) refere que a enfermagem depende do
conhecimento científico do comportamento humano na saúde e na doença, a
percepção estética de experiências humanas significativas, compreensão pessoal
da individualidade de si mesmo e da capacidade de fazer escolhas em situações
concretas que envolvam julgamentos morais.
Concomitantemente, inicia-se a formação pós graduada (mestrado e
doutoramento) e, começam a desenvolver-se, nos anos 80, os modelos
conceptuais. Nesta década “os desenvolvimentos na teoria de enfermagem
caracterizaram uma transição do período de pré-paradigma para o período de
paradigma” TOMEY e ALLIGOOD (2004:5). A inserção de conceitos de
enfermagem globais, através do metaparadigma, introduz “uma estrutura
organizacional para o desenvolvimento do conhecimento de enfermagem (…)”
TOMEY e ALLIGOOD (2004:5).
Deste modo, o conhecimento em enfermagem estrutura-se, de acordo
com TOMEY e ALLIGOOD (2004) em níveis, nomeadamente: Metaparadigma,
Filosofia, Modelos Conceptuais, Grande Teoria, Teoria e Teoria de médio alcance.
O Metaparadigma é “o nível mais abstracto do conhecimento” nele
encontram-se os principais conceitos que “envolvem o conteúdo e o âmbito da
disciplina”, de acordo com TOMEY e ALLIGOOD (2004:6). Assim, os principais
conceitos metaparadigmáticos para a enfermagem são: a pessoa, o ambiente, a
saúde e a enfermagem.
A Filosofia é o nível seguinte de conhecimento e, nela estão especificadas
as “definições dos conceitos do metaparadigma em cada um dos modelos

17
conceptuais da enfermagem” TOMEY e ALLIGOOD (2004:7). Podemos encontrar,
neste âmbito, as obras de Florence Nightingale, Virgínia Henderson, Jean Watson,
Patrícia Benner, entre outras.
Os Modelos Conceptuais fornecem “diferentes perspectivas da
enfermagem de acordo com as características do modelo”. São estruturas ou
paradigmas que proporcionam “um amplo quadro de referência para abordagens
sistemáticas aos fenómenos com os quais a enfermagem está relacionada”
TOMEY e ALLIGOOD (2004:7). Neles podemos observar as obras de Myra
Levine, Dorothy Johnson, Irmã Callista Roy, Betty Neuman, entre outras.
A Teoria de enfermagem é constituída por um conjunto de conceitos, que
provém dos modelos de enfermagem. As grandes teorias “são quase tão
alargadas quanto o modelo de enfermagem”. O que os distingue é que os
modelos “dão uma visão ou perspectiva, mas não propõem verdades que se
possam testar” é algo mais abstracto, enquanto que as grandes teorias são
teorias porque “propõem realmente algo verdadeiro ou testável”, são por isso
mais concretas, TOMEY e ALLIGOOD (2004:7). Podemos encontrar as obras de
Dorothea Orem e Imogene King. A teoria pode ser extensa, mas com um campo
de acção limitado a determinados aspectos da enfermagem. As teorias, também,
podem “ser próprias de uma determinada abordagem à enfermagem ou de uma
determinada população de doentes” TOMEY e ALLIGOOD (2004:8).
A teoria de médio alcance “tem um foco de interesse mais limitado (…) e
determina coisas como a situação ou o estado de saúde, a população de doentes
ou a sua faixa etária, o estabelecimento ou a área de prática e a actuação da
enfermeira ou intervenção” TOMEY e ALLIGOOD (2004:8).
O aparecimento, de várias teorias leva os críticos a questionar o objecto
de estudo da enfermagem, ou seja, a diversidade com que se depara o campo de
actuação dos enfermeiros. APÓSTOLO e GAMEIRO (2005:30) referem que uma
disciplina para ser considerada científica “não se define só pelas acções ou pelas
actividades que fazem parte da sua prática, antes pelo corpo de conhecimentos
constituído sobre o seu objecto de estudo”. Apesar de não ser consensual qual o
objecto de estudo da enfermagem, é unânime que a pessoa é o centro ou o alvo
da enfermagem.

18
Todavia, BISHOP (2004:43) citando Meleis, refere que uma “disciplina
que lida com seres humanos, não é provável que apenas uma teoria explique,
descreva, preveja e modifique todos os fenómenos da disciplina”, daí a variedade
de teorias.
SOUSA SANTOS (1987:7) refere que o atraso das ciências sociais,
comparativamente com as ciências naturais deve-se, fundamentalmente, a que “a
acção humana é radicalmente subjectiva. O comportamento humano (…) não
pode ser descrito e muito menos explicado com base nas suas características
exteriores e objectiváveis, uma vez que o mesmo acto externo pode corresponder
a sentidos de acção muito diferentes”. Neste sentido, o mesmo autor refere que é
necessário compreender os fenómenos a partir das “atitudes mentais” e do
“sentido” que os “agentes” concedem às suas acções. Assim, a metodologia de
investigação terá que ser diferente das ciências naturais, utilizando métodos
qualitativos com vista à “obtenção de um conhecimento intersubjectivo, descritivo
e compreensivo (…)”.
APÓSTOLO e GAMEIRO (2005:30) realçam que a decisão do método de
investigação deverá ter em conta a natureza do problema, “no sentido de
compreender ou de explicar o fenómeno”. Evidenciam, assim, que “a abordagem
da investigação em enfermagem terá de ser plural, quer em termos
paradigmáticos quer metodológicos, adequando-se à natureza complexa da
pessoa sem excluir nenhuma das suas dimensões” APÓSTOLO e GAMEIRO
(2005:37).
Concluímos que, tal como refere TOMEY e ALLIGOOD (2004:12) a “teoria
confere significado ao conhecimento de modo a melhorar a prática descrevendo,
explicando e antevendo os fenómenos”, para além disso, capacita a enfermeira
com conhecimentos sólidos, que permitem uma melhor tomada de decisão, bem
como o pensamento crítico na prática de cuidados. O que conduz, naturalmente,
à compreensão do modo como fazem, o porquê e para quê o fazem. Assim,
TOMEY e ALLIGOOD (2004:19) mencionam que a teoria ajuda a enfermeira, a:
“organizar (…); compreender (…); analisar os dados do doente; tomar decisões
sobre intervenções de enfermagem; planear o tratamento; prever os resultados do
tratamento; avaliar os resultados do doente”.

19
Neste sentido, consideramos como conceitos centrais e que
fundamentam este trabalho, os conceitos de saúde, pessoa, ambiente e cuidados
de enfermagem, descritos, nos Padrões de Qualidade dos cuidados de
enfermagem, pela OE (2011:6). A Saúde é “o estado e, simultaneamente, a
representação mental da condição individual, o controlo do sofrimento, o bem-
estar físico e o conforto espiritual e emocional”. Todavia, e tendo em conta que
este é um estado mental, é portanto subjectivo, ou seja cada pessoa entende-o
de forma diferente. Consideramos, também, que este estado é variável no
decurso do tempo, pois a pessoa procura o estado de equilíbrio “que se traduz no
controlo do sofrimento, no bem-estar físico, e no conforto emocional, espiritual e
cultural” face aos desafios com que se depara ao longo da sua vida.
Do mesmo modo a OE (2011:6) define a Pessoa como “um ser social e
agente intencional de comportamentos baseados em valores, nas crenças e nos
desejos de natureza individual”. Consideramos que cada pessoa é um ser único,
e como tal tem dignidade própria e direito a autodeterminar-se. Consideramos,
também, que cada pessoa é influenciada pelo ambiente que a rodeia, onde nasce
e se desenvolve, na procura do seu equilíbrio. Deste modo, cada pessoa vivencia
um projecto de saúde que tem em conta os seus próprios valores, crenças e
desejos, do modo a atingir o seu equilíbrio. Contudo, a pessoa deve ser encarada
como um ser uno e indivisível, uma vez que a procura do equilíbrio das funções
fisiológicas é, também, influenciado pela condição psicológica.
O Ambiente, no qual a pessoa vive e se desenvolve, é considerado pela
OE (2011:7) “constituído por elementos humanos, físicos, políticos, económicos,
culturais e organizacionais, que condicionam e influenciam os estilos de vida e
que se repercutem no conceito de saúde”.
Os Cuidados de Enfermagem “tomam como foco de atenção a
promoção dos projectos de saúde que cada pessoa vive e persegue”, assim,
procuramos no decorrer do ciclo vital “prevenir a doença e promover os processos
de readaptação, procura-se a satisfação das necessidades humanas
fundamentais e a máxima independência na realização das actividades de vida,
procura-se a adaptação funcional aos défices e a adaptação a múltiplos factores –
frequentemente através de processos de aprendizagem do cliente” OE (2011:8).
Neste âmbito, a relação que o enfermeiro estabelece com a pessoa/pessoas

20
caracteriza-se por uma parceria, respeitando as suas capacidades e valorizando o
seu papel na consecução do seu projecto de saúde.
Como aporte teórico que fundamenta este projecto, a teoria escolhida
incide na Teoria do Conforto de Katharine Kolcaba, que será desenvolvida no
ponto seguinte.

1.1. TEORIA DO CONFORTO

Promover o conforto ou confortar uma pessoa, num momento crítico como


é o caso da pessoa em fim de vida, torna-se uma condição indispensável na
prática diária dos enfermeiros. Este conforto está sempre muito associado ao acto
de cuidar, por vezes ligado mais à dimensão física, mas no âmbito do doente em
fim de vida há que considerar o conforto holistico, ou seja, para além da dimensão
física, deve considerar-se outras dimensões, a familiar, a social, emocional e
espiritual. Neste sentido, optamos por esta teoria de enfermagem para sustentar o
projecto desenvolvido.
A Teoria do Conforto desenvolvida por Katharine Kolcaba, em 1994, é
uma teoria de médio alcance, embora ainda bastante recente, revela-se
suficientemente lógica, simples e organizada. A autora começou por fazer uma
vasta pesquisa do conceito de conforto nas várias disciplinas, incluindo a
enfermagem. Nesta encontra muitos relatos de preocupação com o conforto do
doente como meio para a recuperação, desde Florence Nightingale até aos dias
de hoje. Efectua um diagrama dos aspectos do conforto, contextualizando o
conforto numa teoria de médio alcance e testou-a num estudo.
Assim, Kolcaba evidencia que o conforto é “a condição experimentada
pelas pessoas que recebem as medidas de conforto. É a experiência imediata e
holística de ser fortalecido através da satisfação das necessidades dos três tipos
de conforto (alívio, tranquilidade e transcendência) nos quatro contextos da
experiência (físico, psico-espiritual, social e ambiental) ” DOWD (2004:484).
Na primeira dimensão da teoria, a autora identificou três tipos de
conforto: o Alívio (sintetizado a partir do trabalho de Orlando) que afirma que “as

21
enfermeiras aliviam as necessidades expressas pelos doentes2”; a Tranquilidade
(emerge do trabalho de Henderson) que descreveu as “ funções básicas dos
3
seres humanos que tinham que ser mantidas na homeostase ”; e a
Transcendência (extraída do trabalho de Paterson e Zderad) “que acreditavam
que os doentes podiam superar as suas dificuldades com a ajuda das
enfermeiras4”.
Deste modo, o alívio é a “condição de uma pessoa que viu satisfeita uma
5
necessidade específica ”. A tranquilidade é o “estado de calma ou
contentamento6” e a transcendência é a “condição na qual um indivíduo suplanta
os seus problemas ou sofrimento7”.

Figura 1 – Teoria do conforto de Kolcaba, adaptado de Teóricas de Enfermagem e a sua obra:


modelos e teorias de enfermagem (2004).

Situação de Desenvolvimento
estimulo Humano

Pressão Tendência
Alpha Pressão Unitária
Beta

Tema
Forças de Forças Forças de Percepção (Saúde)
Obstrução + Facilitadoras + Interacção

Comportamento
Necessidades Intervenção de Variáveis de Conforto de procura
de Cuidados + Enfermagem + Intervenção de saúde
em Saúde

Físico
Psico-Espiritual C. internos C. externos
Ambiental
Social

Morte
Pacifica

2
DOWD, Thérese in Teóricas de Enfermagem e a sua obra: modelos e teorias de enfermagem, 2004
3
Ibidem
4
Ibidem
5
DOWD, Thérese in Teóricas de Enfermagem e a sua obra: modelos e teorias de enfermagem, 2004
6
Ibidem
7
Ibidem

22
Na segunda dimensão da teoria do conforto, Kolcaba identifica quatro
contextos nos quais o conforto é experimentado:
 “Físico – pertencente às sensações do corpo;
 Psico-espiritual – pertencente à consciência interna de si próprio (…) e o
significado da vida (…), relação com uma ordem ou um ser mais elevado;
 Ambiental – pertencente ao meio, às condições e influências externas;
 Social – pertencente às relações interpessoais, familiares e societais.”
DOWD (2004:485).

Posteriormente, Kolcaba cruzou estas duas dimensões (tipos de conforto


e contextos) obtendo uma tabela bidimensional e identificando-a como a
Estrutura Taxonómica do Conforto.

Figura 2 – Estrutura Taxonómica do conforto, adaptado de DOWD (2004)

Contexto no Tipos de Conforto


qual ocorre
Alívio Tranquilidade Transcendência
o conforto

Físico

Psico-espiritual

Ambiental

Social

Do cruzamento dos três tipos de conforto com os quatro contextos,


resultaram doze subescalas do conforto, utilizadas pela teórica na construção de
um validado instrumento de avaliação do conforto (The General Comfort
Questionaire). Este questionário pretende pontuar o conforto na percepção do
doente, através de 24 questões positivas e 24 questões negativas (resultantes
das doze subescalas) utilizando uma escala de Likert. Como instrumento de
avaliação, foram ainda produzidas pela teórica escalas visuais analógicas de
conforto.
De acordo com DOWD (2004:485) os conceitos metaparadigmáticos que
Kolcaba define são: Enfermagem descrevendo-a como a “apreciação intencional

23
das necessidades de conforto, a concepção das medidas de conforto para
abordar essas necessidades e a reapreciação dos níveis de conforto, após a
implementação, comparados com a anterior linha de base. A apreciação e a
reapreciação podem ser intuitivas e/ou subjectivas (…)”. O Doente é definido
como aquele que “recebe os cuidados” e “podem ser indivíduos, famílias,
instituições ou comunidades que necessitem de cuidados de saúde” DOWN (2004:
485). O Ambiente é entendido como “qualquer aspecto do doente, família ou
meios institucionais que podem ser manipulados pela (s) enfermeira (s) ou pelos
entes queridos para melhorar o conforto” ” DOWN (2004: 485). O conceito de
Saúde surge como “o funcionamento óptimo, conforme definido pelo paciente ou
grupo, de um doente, família ou comunidade” ” DOWN (2004: 485).
Kolcaba menciona que as necessidades de cuidados de saúde “são
necessidades de conforto resultantes de situações de cuidados de saúde,
provocadoras de tensão, que não podem ser satisfeitas pelos sistemas de suporte
tradicionais (…)” DOWD (2004:484) e, que as medidas de conforto são
“intervenções de enfermagem concebidas para abordar necessidades de conforto
específicos das pessoas, incluindo fisiológicas, sociais, financeiras, psicológicas,
espirituais, ambientais e físicas” DOWD (2004:484).
A mesma autora indica que as variáveis intervenientes são “definidas
como forças de interacção que influenciam a percepção do recipiente acerca do
conforto total. Estas consistem em variáveis tais como experiências passadas,
idade, postura, estado emocional, sistema de suporte, prognósticos, finanças e a
totalidade dos elementos da experiência de receptor”, DOWD (2004:484)
Do mesmo modo evidencia que os comportamentos de procura de
saúde (HBS) representam “a categoria de resultados subsequentes relacionados
com a busca da saúde conforme definida por quem recebe os cuidados, de
acordo com a consulta com a enfermeira. (…) Estes podem ser internos, externos
ou uma morte pacífica” DOWD (2004:484). Este conceito foi sintetizado do
trabalho de Rozella Schlotfedt.
Como pressupostos são assinalados:
 “os seres humanos têm respostas holisticas aos estímulos complexos;
 o conforto é o resultado holistico desejável relativo à disciplina de
enfermagem;

24
 os seres humanos lutam para satisfazer as suas necessidades básicas de
conforto ou para que as satisfaçam;
 o conforto melhorado dá ânimo aos doentes para empreenderem HBS
(comportamentos de procura de saúde) da sua escolha;
 os doentes a quem são concedidos poderes para assumirem activamente
HBS estão satisfeitos com os seus cuidados de saúde;
 a integridade institucional baseia-se num sistema de valores orientado para
os receptores de cuidados” DOWD (2004:486).
Evidencia-se, ainda, como postulados desta teoria que:
 “As enfermeiras identificam as necessidades de conforto não satisfeitas
dos seus doentes, concebem medidas de conforto para abordar essas
necessidades e procuram melhorar o conforto dos seus doentes, que é o
resultado imediato desejado.
 O conforto melhorado está directa e positivamente relacionado com o
compromisso com os HSB (comportamentos de procura de saúde), que é o
resultado posterior desejado.
 Quando as pessoas tem o apoio necessário para se comprometerem
totalmente com os HSB (comportamentos de procura de saúde), tal como a
sua reabilitação e/ou programa ou regime de recuperação, a integridade
institucional também é melhorada” DOWD (2004:486).
Deste modo, podemos assim compreender qual a orientação a atribuir às
intervenções de enfermagem, onde as tensões negativas desencadearão
desconforto, e o enfermeiro através duma apreciação objectiva (observando graus
de conforto), ou subjectiva (questionando o doente), estabelece intervenções e
reavalia a eficácia das medidas implementadas.
O conforto é considerado, há muito, como um aspecto fundamental nos
cuidados de enfermagem. O que permite a aplicação desta teoria na prática, bem
como o desenvolvimento de novos estudos que revelam a sua importância. Deste
modo com base nesta teoria, Novak, B., Kolcaba, K., Steiner, R., & Dowd, T.
(2001) publicam no American Journal of Palliative Care, dois questionários do
conforto em fim de vida, um para ser aplicado ao doente (ANEXO I) e o outro para
ser aplicado à família.

25
Tendo em conta os aportes desta teria no cuidado à pessoa e família a
vivenciar situações complexas, abordaremos no capítulo seguinte a pessoa com
doença crónica e paliativa.

1.2. A PESSOA COM DOENÇA CRÓNICA E PALIATIVA

A esperança média de vida tem vindo a aumentar, devendo-se em parte


aos avanços científicos e sociais que se têm verificado ao longo dos anos. Estes,
contudo, contribuem para uma nova realidade o aumento das doenças crónicas.
As doenças crónicas são de acordo com OE (2010:8) citando Organização
Mundial de Saúde (OMS) “doenças de duração prolongada e evolução lenta”.
Várias são as causas para o aumento destas doenças, como a Diabetes,
doenças cardiovasculares, respiratórias e alguns tipos de cancro. A OE (2010)
menciona que estas causas estão relacionadas com uma panóplia de factores a
nível global, nacional e regional. A maioria está relacionada com as mudanças a
nível mundial e nas sociedades, incluindo a urbanização, a globalização
económica, medidas políticas e sociais, questões relacionadas com a injustiça
social e o envelhecimento da população. Associado a estas causas está o
aumento da prevalência de vários factores de risco, como o tabagismo, a
alimentação pouco saudável, a falta de exercício físico, o consumo excessivo de
álcool, o stress mal gerido, que conduzem às principais causas de morte em todo
o mundo.
De acordo com POTTER E PERRY (2006:11) a doença é “um estado em
que o funcionamento da pessoa, em termos físicos, emocionais, intelectuais,
sociais, de desenvolvimento, ou espirituais, está diminuído ou afectado, quando
comparado com a situação anterior”. Todavia, a alteração ou a diminuição de um
destes aspectos não significa necessariamente doença, uma vez que a pessoa
pode estar a passar por um período de adaptação ou transição. A doença crónica
é caracterizada por perdurar por um período superior a seis meses, podendo
afectar o funcionamento da pessoa em qualquer uma das dimensões. Contudo, a
pessoa pode “oscilar entre o funcionamento óptimo e sérias recaídas na saúde,
que podem constituir uma ameaça à vida” POTTER E PERRY (2006:11).

26
De acordo com a OE8 (2001:6) “a representação da condição individual e
do bem-estar é variável no tempo, ou seja, cada pessoa procura o equilíbrio em
cada momento, de acordo com os desafios que cada situação lhe coloca”.
A pessoa com uma patologia crónica pode sentir-se saudável, ou seja, é-
lhe diagnosticada uma doença, no entanto após um período de tomada de
consciência das repercussões que esta pode ter na sua vida, dos mecanismos de
adaptação que lhe são propostos, e até mesmo desenvolvidos pelo próprio,
podem provocar uma alteração de comportamentos, e assim as repercussões
podem ser minoradas, vivendo de forma estável.
POTTER E PERRY (2006) indicam diversas variáveis que podem
influenciar o comportamento da doença. Embora a forma como as pessoas
reagem a uma doença possa ser muito variado, o comportamento do doente pode
ser usado para gerir as adversidades. Daí que as variáveis possam ser internas
ou externas; as internas influenciam o modo como a pessoa se comporta quando
está doente, ou seja, a percepção da pessoa face aos sintomas e à natureza da
doença. Relativamente aos sintomas, o doente tende a procurar ajuda dos
profissionais de saúde, se eles provocarem alterações nas suas rotinas ou se
forem entendidos como um ameaça à vida. Porém, essa percepção pode ter um
efeito contrário, quando a pessoa sente que a doença pode ser grave, e ter medo
das consequências, reagindo com recusa e não procurando apoio profissional.
Em relação à natureza da doença, no caso de ser crónica, em que os
sintomas podem permanecer, isto é, não existe um tratamento, podendo apenas
haver alívio, pode influenciar a motivação para aderir ao plano terapêutico
proposto. De acordo com POTTER E PERRY (2006:11) “o objectivo da
enfermagem é a promoção de um funcionamento óptimo, em todas as suas
componentes ao longo de uma doença”. Deste modo, ajudar a pessoa com uma
doença crónica, é um desafio para o enfermeiro, uma vez que o doente crónico
pode ter tendência para se desmotivar facilmente na manutenção da estabilidade
da doença. Porém, o enfermeiro como tem mais disponibilidade, e por que passa
mais tempo com a pessoa é um elemento essencial para ajudar a pessoa neste
processo.

8
OE – Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, 2001

27
Face às variáveis externas, que podem influenciar o comportamento na
doença, de acordo com POTTER E PERRY (2006:12) são “a visibilidade dos
sintomas, o círculo social, o passado cultural, variáveis económicas,
acessibilidade ao sistema de saúde, e apoio social”. As autoras referem que a
pessoa que apresente um sintoma visível pode mais facilmente recorrer aos
serviços de saúde. Outro motivo, pode ser a rede familiar, de amigos ou colegas,
que podem levar ou não à procura desse apoio. Concomitantemente a cultura,
também, pode ter influência no comportamento face à doença, uma vez que
indica o modo como a pessoa pode ser saudável e reconhecer a doença. Por
outro lado, os aspectos económicos também podem ter repercussões na procura
dos serviços de saúde.
A doença crónica provoca várias alterações na pessoa e na família. De
acordo com POTTER E PERRY (2006) as repercussões são visíveis na alteração
comportamental e emocional; imagem corporal; auto-conceito e nos papéis
exercidos na família ou dinâmica familiar.
As alterações comportamentais e emocionais9, face à doença, dependem
da natureza da doença, da atitude do doente, da reacção dos outros e das
variáveis de comportamento da doença. Habitualmente, uma doença grave que
ameace a vida ou que provoque limitações significativas na vida da pessoa, pode
gerar sentimentos de ansiedade, choque, recusa, raiva e retracção. Neste âmbito
o enfermeiro poderá ser um elemento fundamental no apoio e crescimento da
pessoa e da família.
A imagem corporal10 está muito associada à aparência física. Por esse
motivo as repercussões que algumas doenças crónicas provocam na imagem da
pessoa são objecto da intervenção do enfermeiro. Dependendo da alteração física
que provocam, assim pode ser a reacção da pessoa ou da família.
O impacto no autoconceito11 está relacionado com a imagem mental que
a pessoa faz de si própria. POTTER E PERRY (2006:514) definem autoconceito
como “a maneira como a pessoa se vê a si mesma. É a combinação de
sentimentos, conscientes e inconscientes, atitudes e percepções”. Este depende

9
Cf. POTTER e PERRY – Fundamentos de Enfermagem, 2006
10
Ibidem
11
Ibidem

28
da imagem corporal, dos papéis exercidos na família e na sociedade, incluindo
também aspectos psicológicos e espirituais.
Por último, o impacto que a doença provoca nos papéis exercidos na
família ou dinâmica familiar12, quando surge uma situação de doença. Esta pode
provocar diversas alterações, por esse motivo o enfermeiro deve estar desperto
para estas possíveis alterações, no sentido de apoiar ou ajudar a recuperar o
bem-estar de todos os elementos.
De acordo com OE (2010:41) evidencia-se que “qualquer que seja o
modelo de cuidados na doença crónica utilizado, os enfermeiros são cruciais e
têm de ter os conhecimentos, as aptidões e atributos necessário que lhes
permitam contribuir com todo o seu potencial.”
As competências dos enfermeiros, que têm funções clínicas
especializadas, para prevenir e gerir a doença crónica, são de acordo com OE
(2010:42) referenciando o International Council Nursing (ICN) (2008):
 “Respeitar o direito do cliente à informação, escolha e autodeterminação na
Enfermagem e nos cuidados de saúde;
 Reconhecer oportunidades e disponibilizar orientações/educação aos
indivíduos, famílias e comunidades para incentivar a adopção de
actividades de prevenção da doença e a manutenção de estilos de vida
saudáveis;
 Seleccionar estratégias de ensino/aprendizagem apropriadas às
necessidades e características do indivíduo ou do grupo;
 Cooperar com outros profissionais, com grupos de interesse na
comunidade e na especialidade em actividades para reduzir a doença e
promover estilos e ambientes de vida saudáveis em áreas importantes para
a prática da especialidade;
 Incorporar uma perspectiva que tenha em consideração os múltiplos
determinantes da saúde”.
Com os avanços da medicina, as alterações da sociedade e da família
tem-se verificado que a finitude do ser humano é encarada como um processo
doloroso e por isso, muitas vezes, evita-se lidar com este sofrimento. A morte é
“um facto inexorável da própria vida” NETO (2006:18). Esta dificuldade em lidar

12
Ibidem

29
com o doente terminal e a morte é, inclusivamente, difícil para muitos profissionais.
Por um lado, pode ser encarado como um insucesso, por outro lado pode ser
vista como constrangedora, uma vez que confronta o profissional com a sua
própria finitude, influenciado pelas suas crenças, valores e vivências anteriores
face ao fenómeno.
Todavia, tal como POTTER E PERRY (2006:564) referem “providenciar
cuidados a utentes em crise e no final de vida, requer conhecimentos e uma
atitude de cuidar para ajudar a trazer conforto a utentes e famílias mesmo quando
já não há esperança de cura”.
Os cuidados paliativos surgem na década de sessenta em Inglaterra e
nos Estados Unidos, com a finalidade de proporcionar “cuidados rigorosos,
científicos e de qualidade, a um grupo cada vez mais numeroso de pessoas que,
frequentemente eram encaradas como doentes a quem já não havia nada a fazer
– os doentes com doenças incuráveis, progressivas e avançadas” NETO
(2006:18). Estes cuidados são destinados a todas as pessoas que sofram de uma
doença grave e debilitante, incurável, e não apenas à pessoa em fim de vida. De
acordo com NETO (2006:30) o doente terminal é “aquele que apresenta doença
avançada, incurável e evolutiva, com elevadas necessidades de saúde pelo
sofrimento associado e que, em média, apresenta uma sobrevida esperada de 3 a
6 meses”.
NETO (2006:30) refere que a “prática dos cuidados paliativos, o respeito
pelo valor da vida humana e o alívio do sofrimento são valores inalienáveis,
interdependentes e fundamentais”. Apesar deste conceito estar já bastante
difundido no mundo, ainda se verifica que nem todas as pessoas têm acesso a
estes cuidados especializados. A Rede Nacional de Cuidados Continuados
Integrados, em Portugal, foi criada com Decreto-Lei nº 101/2006 de 6 de Junho.
Posteriormente, pelo Despacho n.º 28941/2007 cria o grupo de trabalho que
operacionalizará os objectivos contidos no Programa Nacional de Cuidados
Paliativos. E, recentemente, a Lei n.º 52/2012 de 5 de Setembro – Lei de Bases
dos Cuidados Paliativos, consagra o direito dos cidadãos aos cuidados paliativos
e regula o acesso à Rede Nacional de Cuidados Paliativos.
Os cuidados paliativos, de acordo com o Programa Nacional de Cuidados
Paliativos (2004), devem ser planeados em concordância com os níveis de

30
diferenciação. Com a tendência para a institucionalização da morte nos hospitais,
os profissionais de saúde que trabalham nestas unidades, vêem-se confrontados
com estas situações, que necessitam de uma abordagem paliativa. Verifica-se
que nem sempre estes profissionais têm formação específica, e é neste sentido
que é essencial criar condições para atender as pessoas com estas necessidades.
Deste modo, a Lei de Bases dos Cuidados Paliativos prevê que a acção
paliativa equivale ao “nível básico de paliação e corresponde à prestação de
acções paliativas sem o recurso a equipas ou estruturas diferenciadas”, Lei n.º
52/2012 de 5 de Setembro.
Assim a acção paliativa é definida como “ Qualquer medida terapêutica
sem intuito curativo, que visa minorar, em internamento ou no domicílio, as
repercussões negativas da doença sobre o bem-estar global do doente. As
acções paliativas são parte integrante da prática profissional, qualquer que seja a
doença ou a fase da sua evolução DIRECÇÃO GERAL DA SAÚDE (DGS)
(2004:6). Estes podem ser prestados tanto no âmbito da Rede Hospitalar, como
da Rede de Centros e Saúde, como da Rede de Cuidados Continuados,
nomeadamente em “situações de condição irreversível ou de doença crónica
progressiva” DGS (2004:6).
De acordo com a BASE I, da Lei n.º 52/2012 de 5 de Setembro os
Cuidados Paliativos são “os cuidados activos, coordenados e globais, prestados
por unidades e equipas específicas, em internamento ou no domicílio, a doentes
em situação de sofrimento decorrente de doença incurável ou grave, em fase
avançada e progressiva, assim como às suas famílias, com o principal objectivo
de promover o seu bem -estar e a sua qualidade de vida, através da prevenção e
alívio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual, com base na
identificação precoce e do tratamento rigoroso da dor e outros problemas físicos,
mas também psicossociais e espirituais”.
NETO (2006:19) reforça também, que os cuidados paliativos visam
“melhorar a qualidade de vida dos doentes – e das suas famílias – que enfrentam
problemas decorrentes de uma doença incurável e/ou grave e com prognóstico
limitado, através da prevenção e alívio do sofrimento, com recurso à identificação
precoce e tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, como a dor, mas
também dos psicossociais e espirituais”. Neste sentido, consideramos que os

31
profissionais de saúde, neste caso a equipa multiprofissional deve ter em conta
diversos aspectos quando cuida destas pessoas e famílias, não só os de natureza
física, mas também psicologia, social e espiritual.
Atendendo a que a qualidade de vida está de acordo com TWYCROSS
(2003:19) “relacionada com o grau de satisfação subjectiva que a pessoa sente
pela vida e é influenciada por todas as dimensões da personalidade – física,
psicológica, social e espiritual”, então podemos afirmar que a qualidade de vida é
atingida quando as “aspirações de um indivíduo são atingidas e preenchidas pela
situação actual. (…) Para melhorar a qualidade de vida, é necessário diminuir o
afastamento entre as aspirações e aquilo que é possível alcançar” TWYCROSS
(2003:19).
Deste modo, as premissas fundamentais em cuidados paliativos são de
acordo com TWYCROSS (2003):
 Controlo de sintomas;
 Comunicação adequada;
 Apoio à família;
 Trabalho de equipa.
Para se cuidar em enfermagem, temos que conhecer a pessoa tal como é,
os seus objectivos, crenças, valores, pois ela é o resultado das influências que
sofreu do meio em que viveu ou que a rodeia. Neste sentido WATSON (2002)
refere que a relação estabelecida com a pessoa tem como finalidade ajudá-la a
encontrar um sentido na doença, no sofrimento e na própria existência, ou seja,
ajudar a pessoa a adquirir um auto-conhecimento, controlo e auto-
restabelecimento para reparar uma harmonia interior. No entanto, este cuidar
exige que o enfermeiro seja autêntico e sincero.
Assim, cuidar torna-se um desafio, as pessoas têm diferentes
experiências de vida o que as torna seres únicos. É nesta unicidade que o cuidar
tem uma abordagem tal como refere HESBEEN (2000:10) que “não é
preestabelecida nem programável nem pode ser repetida de indivíduo para
indivíduo. Deve ser sempre pensada, repensada, criada”. O enfermeiro deve
encarar a pessoa de acordo com a sua individualidade, pois só desta forma
poderá compreende-la e ajudá-la. Para este autor os cuidados de enfermagem
são definidos como “a atenção particular prestada (…) a uma pessoa ou aos seus

32
familiares com vista a ajudá-los na sua situação”. Estes cuidados abrangem tudo
o que é feito pelo enfermeiro, e “pela sua natureza, permitem sempre fazer
alguma coisa por alguém a fim de contribuir para o seu bem-estar, qualquer que
seja o seu estado” HESBEEN (2000:69). Desta forma, o enfermeiro pode a
qualquer momento, fazer sempre algo pelo doente. Tal como refere HESBEEN
(2000:47) o enfermeiro tem “a possibilidade de fazer mais alguma coisa por
alguém, de o ajudar, de contribuir para o seu bem-estar, para a sua serenidade,
mesmo nas situações mais desesperadas”. Estes gestos ou acções podem ser
«pequenas coisas», mas naquele exacto momento podem ser determinantes e
proporcionar um bem-estar inimaginável, pois para aquela pessoa naquele
determinado momento isso é importante. Estes pequenos gestos são
enquadrados no cuidado a esta pessoa/família, e têm sempre por base um
fundamento, ou seja a preocupação pela pessoa que queremos ajudar.
De acordo com NETO (2006:54) um dos itens fundamentais quando se
cuida do doente terminal é o alívio de sintomas. Refere que é importante “saber
reconhecer, avaliar e tratar adequadamente os múltiplos sintomas que surgem e
que têm repercussões directas sobre o bem-estar do doente”.
Naturalmente que para haver um controlo activo dos sintomas há que
identificá-los. A mesma autora refere que os princípios gerais no controlo de
sintomas passam por avaliar antes de tratar. Para além da identificação da causa,
é necessário avaliar o impacto que provoca a nível emocional, físico, intensidade
e os factores que o condicionam. Explicar de forma clara e perceptível as causas
que provocam determinado sintoma. E, ao mesmo tempo observar e perguntar,
antecipando-se assim ao possível aparecimento. Posteriormente, adoptar
estratégias de combate, fixando metas para o cumprimento dos objectivos
terapêuticos. Monitorizar os sintomas através de escalas, de modo a que estes
possam ser mensuráveis para haver uma melhor compreensão e um controlo
mais eficaz. Reavaliar regularmente as medidas que foram tomadas,
estabelecendo objectivos realistas. E, por fim, cuidar dos detalhes, de modo a
optimizar o controlo sintomático e minimizar os efeitos secundários da terapêutica.
Desta forma, e conforme NETO (2006:58) afirma “os profissionais de enfermagem
(…) detêm um papel fundamental na monitorização dos sintomas e, como tal no
sucesso do processo terapêutico”.

33
Concomitantemente a comunicação adequada com a pessoa e a família
nesta fase, também, assume um papel relevante. Cuidar o doente/família em fim
de vida requer o estabelecimento de uma comunicação terapêutica, tendo como
base um clima de confiança, que permita apoiar e ajudar, o mais tranquilamente
possível nesta fase da vida. A comunicação terapêutica envolve a capacidade
necessária ao enfermeiro de escutar, de falar e de perceber. É uma comunicação
deliberada e intencional, cujo sentido é identificar e intervir nos problemas e
necessidades do doente e família.
Contudo, diversos aspectos devem ser considerados para se estabelecer
uma comunicação eficaz. Devemos ter em conta que as pessoas comunicam
através da linguagem, dos movimentos, dos gestos, do tom de voz, da expressão
facial e da utilização do espaço. As mensagens transmitidas de forma verbal ou
não verbal podem interferir na qualidade da mensagem.
O enfermeiro tem o privilégio de poder estabelecer uma relação mais
estreita com a pessoa e família. Tal como refere POTTER e PERRY (2006:576)
uma das competências mais importantes, do enfermeiro na prestação de
cuidados paliativos “é estabelecer uma relação de cuidar com o utente e a família,
para que se possa envolver numa comunicação importante com eles”.
Segundo QUERIDO, SALAZAR e NETO (2006:358) comunicar com a
pessoa/ família, em contexto de cuidados paliativos “é simultaneamente
importante e difícil, e constitui um desafio, porque implica a utilização de perícias
básicas essenciais à comunicação (…). Essas perícias incluem ouvir, observar e
tomar consciência dos nossos próprios sentimentos”.
No âmbito dos cuidados paliativos existem várias situações, relacionadas
com a comunicação, que podem ser complexas, nomeadamente a transmissão de
más notícias, e conspiração do silêncio. Assim, segundo QUERIDO, SALAZAR e
NETO (2006) citando Buckman, a comunicação de más notícias deve seguir seis
passos, nomeadamente:
 Conseguir um ambiente correcto;
 Descobrir o que o doente já sabe;
 Descobrir o que o doente quer saber;
 Partilhar a informação;
 Responder às reacções do doente;

34
 No fim, planear e acompanhar.
No entanto, o enfermeiro não deverá esquecer a importância do
acompanhamento por parte dos familiares. Estes são um elo importante nesta
fase. São eles que melhor conhecem o doente, por esse motivo, também, eles
podem contribuir para que essa pessoa possa viver o máximo de bem-estar até
ao fim. Devemos ter em consideração que este acompanhamento pode ser
benéfico para a pessoa em fase terminal, mas trará concerteza muito sofrimento
para os familiares mais próximos. Esta dificuldade poderá ser geradora de grande
angústia, pois pode verificar-se um sentimento de dificuldade em aceitar toda esta
situação, ou seja, também estes familiares passarão pelo processo de luto. Deste
modo, o cuidar do doente em fase terminal, também se estende aos seus
familiares ou conviventes significativos, que o acompanham nesta etapa da vida.
A perda e o luto são vivências que afectam muito as pessoas. No caso da
pessoa com uma doença crónica/paliativa pode provocar variadíssimas alterações
a nível físico, psíquico, social, emocional e espiritual. A perda de acordo com
POTTER E PERRY (2006:564) “assume muitas formas, com base em valores e
prioridades adquiridas dentro da esfera de influência de uma pessoa, incluindo a
família, os amigos, a sociedade, e a cultura de um indivíduo”. Desta forma, a
perda manifesta-se pela ausência de um objecto, de uma pessoa, de uma parte
do corpo, de uma função orgânica, de uma emoção ou de uma ideia.
O tipo de perda e a percepção que a pessoa faz dela influenciam o modo
de lidar e as estratégias de adaptação. Cada pessoa reage de maneira diferente
face à perda, dependendo do valor que a pessoa atribui ao que perdeu, seja um
objecto, uma pessoa, um membro, ou outro. Desta forma, o enfermeiro deve
avaliar o que aquela perda significa para a pessoa, quais os efeitos na sua saúde
ou bem-estar. Contudo, esta assistência só é possível estabelecendo uma relação
de ajuda com a pessoa e o convivente significativo, de modo a gerir os
sentimentos e ajudar a definir estratégias de adaptação à perda.
POTTER E PERRY (2006:565) evidenciam que a hospitalização, a
doença crónica ou a incapacidade são momentos críticos e podem ter associadas
muitas perdas. No caso da doença crónica “acrescenta preocupação à segurança
financeira (…) pode exigir uma mudança de trabalho, ameaçar a independência e
forçar a alterações no estilo de vida (…) pode colocar uma grande ameaça à

35
estabilidade das relações”. Assim, o enfermeiro deve estar desperto para estas
situações de modo a poder apoiar ou encaminhar para outros técnicos, de acordo
com a necessidade da pessoa/família.
KUBLER-ROSS (2002) menciona o comportamento da pessoa face à
morte. As fases do morrer são cinco: a negação e isolamento, a raiva, a
negociação (barganha), a depressão e a aceitação.
A primeira fase13 – é caracterizada pela negação inicial, a pessoa recusa-
se a aceitar, põe em causa a informação dada, alegando engano ou troca dos
exames. Procura nesta fase várias opiniões face ao seu problema, esperando
encontrar algo que contradiga o anterior. KUBLER-ROSS (2002:44) refere que a
negação “funciona como um pára-choques depois de notícias inesperadas e
chocantes”. “A negação é uma defesa temporária, sendo logo substituída pela
aceitação parcial”, refere KUBLER-ROSS (2002:45).
Na segunda fase14 – a característica é a raiva. Após a recusa ou negação,
podem surgir outros sentimentos, como a raiva, a revolta, a inveja ou o
ressentimento. Nesta fase KUBLER-ROSS (2002:56) refere que “é muito difícil, do
ponto de vista da família e do pessoal hospitalar (…) deve-se isso ao facto desta
raiva se propagar em todas as direcções e projectar-se no ambiente, muitas
vezes sem razão plausível”. Esta reacção deve-se ao facto da pessoa querer ser
ouvida, que não nos esqueçamos dela. Por esse motivo devemos mostrar
disponibilidade para a ouvir, quais são os seus medos, quais são os seus
sentimentos perante o que está a acontecer, e não entendermos como forma de
agressão.
Na terceira fase15 – a negociação (barganha), nesta fase a pessoa tenta
adiar ao máximo o fim, negociando ou tentando arranjar tarefas significativas para
executar.
Na quarta fase16 – a depressão, é quando a pessoa não pode negar mais
a sua situação, quando começa a sentir-se mais debilitado, e apresentar sinais da
doença. Neste momento é desaconselhável o encorajamento das coisas positivas,
devemos sim fazer com que a pessoa exteriorize o seu pesar. Deste modo, de

13
Kubler-Ross, Sobre a Morte e o Morrer, 2002
14
Ibidem
15
Ibidem
16
Ibidem

36
acordo com KUBLER-ROSS (2002:93) “aceitará mais facilmente a situação e
ficará agradecido aos que puderam estar com ele neste estado de depressão sem
repetir constantemente que não fique triste”.
Na quinta 17 e última fase – a aceitação, KUBLER-ROSS (2002:117)
evidencia que a pessoa “que tiver tido tempo necessário (…) e tiver recebido
alguma ajuda para superar tudo (…) atingirá um estágio em que não mais sentirá
depressão nem raiva quanto ao seu «destino» ”. Nesta fase, a pessoa sente
“como se a dor tivesse esvanecido, a luta tivesse cessado e fosse chegado o
momento do «repouso derradeiro antes da longa viagem» (…) é também o
período em que a família geralmente carece de ajuda, compreensão e apoio (…)”
KUBLER-ROSS (2002:118).
A perda pode conduzir a processos do luto complicados. De acordo com
POTTER E PERRY (2006:565) o luto é “a resposta emocional e comportamental
à perda”. O êxito, de acordo com as mesmas autoras, surge quando a pessoa
aceita a perda, adapta-se e prossegue a sua vida. Deste modo, torna-se
importante identificar precocemente estas situações. De acordo com vários
autores o luto pode ter várias fases. Devemos ter em conta que a família, também
passa pelo mesmo processo. Neste sentido, BARBOSA (2006:389) menciona que
“perante um perda significativa, o processo de luto é necessário e cumpre uma
função de adaptação, permitindo que o indivíduo restabeleça o equilíbrio desfeito
depois da perda”. O mesmo autor evidencia que o profissional de saúde deve,
face à pessoa, valorizar a importância da perda de forma realista, promover a
expressão de sentimentos evitando negar ou minimizar os sentimentos de perda,
emancipar-se e aprender a viver sem o objecto perdido, após ter compreendido o
papel desempenhado pela pessoa falecida. Para além disso deve promover o
interesse por novas actividades, possibilitando novos vínculos de forma
satisfatória.
Outro aspecto fundamental em cuidados paliativos é o trabalho em equipa.
Esta deve ser constituída por vários elementos com diferentes saberes e
competências cujo objectivo é o bem-estar global da pessoa e da sua família.
Assim, todos os elementos trabalham com uma metodologia comum, “partilhando
um projecto assistencial e objectivos comuns” BERNARDO et al. (2006:465).

17
Kubler-Ross, Sobre a Morte e o Morrer, 2002

37
BERNARDO et al (2006:464) referem que a “actuação em equipa deve enfatizar a
vida, encorajar a esperança e ajudar as pessoas a aproveitarem o melhor de cada
dia”.
Os mesmos autores evidenciam que as características de uma equipa
eficaz são:
 “Propósito partilhado;
 Empowerment;
 Relações e comunicação;
 Flexibilidade;
 Óptimo rendimento;
 Reconhecimento;
 Motivação” BERNARDO et al (2006:467).

Deste modo “os elementos da equipa usam uma concepção comum,


desenham juntos a teoria e a abordagem dos problemas que consideram de
todos” BERNARDO et al (2006:472).
Consideramos que a pessoa/família com doença crónica e/ou paliativa
passam por momentos críticos, e neste sentido necessitam de uma abordagem
especializada. Assim, apresentamos no capítulo seguinte as competências do
Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica e Mestre.

1.3. COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA/MESTRE

A Enfermagem é, de acordo com o art. 4º do REGULAMENTO DO


EXERCICIO PROFISSIONAL DOS ENFERMEIROS (REPE) 18 “a profissão que,
na área da saúde, tem como objectivo prestar cuidados de enfermagem ao ser
humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele
está integrado, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saúde,
ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto
possível”. Os Cuidados de Enfermagem centram-se na relação interpessoal de
um enfermeiro e uma pessoa ou grupo de pessoas. Nesta relação estes

18
Decreto-Lei nº 161/96 de 4 de Setembro

38
elementos possuem quadros de valores, crenças e desejos de natureza individual,
consequência das variadas condições ambientais onde se desenvolvem. A
relação terapêutica alicerça-se pela parceria estabelecida, no respeito pelas
capacidades e na valorização dos seus papéis. Assim, a relação desenvolve-se e
fortalece-se ao longo de um processo dinâmico que tem como objectivo ajudar o
cliente e convivente significativo, na promoção do projecto de saúde que este vive
ou persegue OE19 (2001).
Consideramos que o Enfermeiro Especialista é “ o enfermeiro habilitado
com um curso de especialização em enfermagem ou com um curso de estudos
superiores especializados em enfermagem, a quem foi atribuído um título
profissional que lhe reconhece competência científica, técnica e humana para
prestar, além de cuidados gerais, cuidados de enfermagem especializados na sua
área da sua especialidade” REPE20 (1996:6).
Recentemente, de acordo com o Regulamento nº122/2011 de 18 de
Fevereiro, o Enfermeiro Especialista é o enfermeiro “com o conhecimento
aprofundado num domínio específico de enfermagem, tendo em conta as
respostas humanas aos processos de vida e aos problemas de saúde, que
demonstram níveis elevados de julgamento clínico e tomada de decisão,
traduzidos num conjunto de competências especializadas relativas a um campo
de intervenção”.
A alteração do Estatuto da OE, através da Lei nº 111/2009 de 16 de
Setembro, consagra a criação de colégios das diversas especialidades. Neste
sentido o Conselho de Enfermagem apresenta em 2009 uma proposta
relativamente aos processos e instrumentos de operacionalização do sistema de
individualização das Especialidades Clínicas em Enfermagem. Este sistema
considera na matriz de individualização das especialidades um eixo estruturante –
o alvo de intervenção (pessoa e família) e dois eixos organizadores – processos
de saúde/doença e o ambiente. Assim, constituem-se áreas de especialização em
enfermagem.
A Especialidade de Enfermagem Médico-cirúrgica é composta por
duas grandes áreas, nomeadamente a Especialidade em Enfermagem em

19
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, 2001
20
Ibidem

39
Pessoa em situação Critica, e a Especialidade em Enfermagem em Pessoa em
situação crónica e paliativa, com a finalidade de dar resposta às necessidades de
cuidados de saúde existentes, actualmente em Portugal.
No caso do Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Pessoa em
situação Critica para além de considerar a Pessoa como “um ser social e agente
intencional de comportamentos baseados nos valores, nas crenças e nos desejos
da natureza individual, o que torna cada pessoa num ser único com dignidade
própria e direito a autodeterminar-se”. Considera, também, que a Pessoa em
situação crítica é de acordo com o Regulamento nº 124/2011 de 18 de Fevereiro,
“aquela cuja vida está ameaçada por falência ou eminência de falência de uma ou
mais funções vitais e cuja sobrevivência depende de meios avançados de
vigilância, monitorização e terapêutica”.
Deste modo, os cuidados de enfermagem à pessoa em situação
crítica “são cuidados altamente qualificados prestados de forma continua à
pessoa com uma ou mais funções vitais em risco imediato, como respostas às
necessidades afectadas e permitindo manter as funções básicas de vida,
prevenindo complicações e limitando incapacidades, tendo em vista a sua
recuperação total” (Regulamento nº 124/2011 de 18 de Fevereiro).
A Pessoa com doença crónica é caracterizada por ter uma doença
prolongada “frequentemente associadas a um variável grau de incapacidade, de
curso prolongado e geralmente de progressão lenta, com potencial de
compensação e que implicam a necessidade de adaptação a diversos níveis
(físico, familiar, social, psicológico emocional e espiritual) ” OE (2011)
(Regulamento de Competências específicas do enfermeiro especialista em
pessoa em situação crónica e paliativa). O alvo de intervenção é a Pessoa com
doença crónica incapacitante e terminal, ao longo do ciclo vital. Os cuidados de
enfermagem à pessoa em situação crónica e paliativa são dirigidos aos
projectos de saúde da pessoa com doença crónica incapacitante e terminal, bem
como aos cuidadores, familiares, grupo social e de pertença, preservando a sua
dignidade, maximizando a sua qualidade de vida e diminuindo o sofrimento,
sempre em colaboração com a restante equipa interdisciplinar. Neste contexto, os
cuidados paliativos, assentam em cinco pilares fundamentais: controlo de

40
sintomas; suporte psicológico, emocional e espiritual; comunicação eficaz e
terapêutica; cuidado à família, e no trabalho em equipa.
O Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica, no exercício
das suas funções deve observar as competências comuns e as competências
específicas, no caso as referentes ao especialista em enfermagem à pessoa em
situação crítica e em situação crónica e paliativa. Assim, de acordo com os
domínios, as competências comuns são:
A – Domínio da responsabilidade profissional, ética e legal;
 A 1 – Desenvolve uma prática profissional e ética no seu campo de
intervenção;
 A 2 – Promove práticas de cuidados que respeitem os direitos humanos e
as responsabilidades profissionais;
B – Domínio da melhoria da qualidade;
 B 1 – Desempenha um papel dinamizador no desenvolvimento e suporte
das iniciativas estratégicas institucionais na área da governação clínica:
 B 2 – Concebe, gere e colabora em programas de melhoria contínua da
qualidade;
 B 3 – cria e mantém um ambiente terapêutico seguro;
C – Domínio da gestão de cuidados;
 C 1 – Gere os cuidados, optimizando a resposta da equipa de enfermagem
e seus colaboradores e a articulação na equipa multiprofissional;
 C 2 – Adapta a liderança e a gestão dos recursos às situações e ao
contexto visando a optimização da qualidade dos cuidados;
D – Domínio do desenvolvimento das aprendizagens profissionais;
 D 1 – Desenvolve o auto-conhecimento e a assertividade;
 D 2 – Baseia a sua praxis clínica especializada em sólidos e válidos
padrões do conhecimento (Regulamento nº 122/2011 de 18 de Fevereiro).

As competências específicas de Enfermeiro especialista em Pessoa em


situação critica são:
 K 1 – Cuida da pessoa a vivenciar processos complexos de doença e ou
falência orgânica;

41
 K 2 – Dinamiza a resposta a situações de catástrofe ou emergência multi-
vitima, da concepção à acção.
 K 3 – Maximiza a intervenção na prevenção e controle de infecção perante
a pessoa em situação critica e ou falência orgânica, face à complexidade
da situação e à necessidade de respostas em tempo útil e adequadas
(Regulamento nº 124/2011 de 18 de Fevereiro).

E, as competências específicas do Enfermeiro Especialista em Pessoa


em situação crónica e paliativa são, de acordo com o Regulamento de
Competências específicas do enfermeiro especialista em pessoa em situação
crónica e paliativa (OE, 2011):
 L5 – Cuida de pessoas com doença crónica, incapacitante e terminal, dos
seus cuidadores e familiares, em todos os contextos de pratica clínica,
diminuindo o sofrimento, maximizando o seu bem-estar, conforto e
qualidade de vida;
 L6 – Estabelece relação terapêutica com pessoas com doença crónica,
incapacitante e terminal, com os seus cuidadores e familiares, de modo a
facilitar o processo de adaptação às perdas sucessivas e à morte.

O enfermeiro especialista detém um nível elevado de juízo clínico e


tomada de decisão na área da sua especialidade. Na tomada de decisão o
enfermeiro “identifica as necessidades de cuidados de enfermagem da pessoa
individual ou do grupo (…)” e prescreve “as intervenções de enfermagem (…) de
forma a evitar riscos, detectar precocemente problemas potenciais e resolver ou
minimizar os problemas reais identificados” OE21 (2001:10).
Atendendo a que o exercício profissional de enfermagem se insere num
contexto de actuação multiprofissional, existem dois tipos de intervenções,
nomeadamente: intervenções autónomas (da exclusiva responsabilidade do
enfermeiro, na prescrição e implementação), e as intervenções interdependentes
(em que a prescrição é iniciada por outro técnico, cabendo ao enfermeiro a
responsabilidade da implementação.

21
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, 2001

42
Às competências do enfermeiro especialista, acrescem as competências
de Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica, considerando o documento
orientador da escola, com base no Dec. Lei nº117/2008 de 25 de Junho. Assim, o
Mestre deve:
 Demonstrar competências clínicas específicas na concepção, gestão e
supervisão clínica dos cuidados de enfermagem;
 Desenvolver autonomamente o conhecimento e competências ao longo
da vida e em complemento às adquiridas;
 Integrar equipas multidisciplinares de forma proactiva;
 Agir no desenvolvimento da tomada de decisão e raciocínio conducentes
à construção e aplicação de argumentos rigorosos;
 Iniciar, contribuir para e/ou sustentar a investigação para promover a
prática de enfermagem baseada na evidência;
 Realizar análise diagnóstica, planear, intervir e avaliar na formação de
pares e de colaboradores, integrando a formação, investigação, politicas
de saúde e a administração em saúde em geral e em enfermagem em
particular.

Tendo em conta que o sistema de individualização das especialidades


clínicas em enfermagem promove e defende a qualidade, dos cuidados
diferenciados de enfermagem, e as competências de mestre abordaremos de
seguida a temática da qualidade em enfermagem.

1.4. A QUALIDADE EM ENFERMAGEM

A qualidade é um conceito que tem evoluído ao longo dos tempos. Apesar


de estar muito presente nos dias de hoje, tem sido uma ideia constante em todos
os sectores. No sector da saúde, e no caso específico da enfermagem, tem
havido uma grande preocupação, visível nos trabalhos de investigação
desenvolvidos, com a qualidade de vida das pessoas, e com a qualidade dos
cuidados que se prestam. É um conceito muito presente e debatido, em vários

43
organismos, como a Organização Mundial de Saúde, Conselho Internacional dos
Enfermeiros, Conselho Nacional da Qualidade e Instituto da Qualidade em saúde.
O Departamento da Qualidade em Saúde, da Direcção Geral da Saúde,
criado em 2009 define a estratégica nacional para a qualidade em saúde através
do despacho 14223/2009 de 24 de Junho. Este departamento tem como
competência “coordenar a Estratégia Nacional para a Qualidade na Saúde, os
programas e actividades de melhoria contínua da qualidade clínica e
organizacional, de assegurar o sistema de qualificação de unidades de saúde e
dos programas de promoção da segurança dos doentes, para além da vigilância
de doenças abrangidas pelo sistema de gestão integrada da doença, da
coordenação de fluxos de mobilidade internacional de doentes, da gestão dos
sistemas de monitorização e percepção da qualidade dos serviços pelos utentes e
profissionais de saúde e da inovação em saúde” (PLANO NACIONAL DE SAÚDE
2012/2016: 11). A qualidade em saúde pode ser entendida como “a prestação de
cuidados de saúde acessíveis e equitativos, com um nível profissional óptimo, que
tenha em conta os recursos disponíveis e consiga a adesão e satisfação do
cidadão. Implica, ainda, a adequação dos cuidados de saúde às necessidades e
expectativas do cidadão e o melhor desempenho possível” (PLANO NACIONAL
DE SAÚDE 2012/2016:2).
O Departamento da Qualidade define quatro pontos importantes para
melhorar a qualidade em saúde, nomeadamente: o reforço da gestão clínica,
empresarial, financeira, de informação, e gestão do risco; mecanismos de
influência como normas de orientação clínica, ambiente e arquitectura, modelos
de financiamento, planeamento de recursos humanos, cultura de avaliação e
desenvolvimento da qualidade; processos assistenciais integrados e a
participação e capacitação dos doentes.
Do mesmo modo, a Ordem dos Enfermeiros, nomeadamente o Conselho
de Enfermagem, tem uma preocupação com esta área divulgando em 2001 os
padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem, ou seja, linhas orientadoras
do exercício profissional dos enfermeiros com vista à qualidade dos cuidados de
enfermagem. Posteriormente, em 2011, apresenta o regulamento dos padrões de
qualidade dos cuidados de enfermagem especializados, das diversas
especialidades.

44
A implementação de uma cultura de qualidade nos serviços, e de
programas de melhoria contínua da qualidade é facilitador da implementação de
projectos de melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem. HESBEEN
(2001:15) refere que “pensar na qualidade e nas acções desenvolvidas em seu
nome, com bases conceptuais frágeis, pode revelar-se perigoso para o
desempenho dos profissionais e para a representação que estes fazem da sua
própria actividade”. Tendo por base esta ideia é necessário que cada um de nós
(enfermeiros) tenha presente os conceitos (saúde, pessoa, ambiente e cuidados
de enfermagem) e os integre na sua prática de cuidados.
HESBEEN (2001) refere que ainda hoje, alguns profissionais pensam que
a saúde é a ausência da doença. Contudo, evidencia um exemplo de um doente
com cancro, em fim de vida, interrogando-se se as acções dirigidas à saúde da
pessoa, do seu equilíbrio, harmonia e esperança, no sentido de viver o melhor
possível esta etapa de forma tranquila e sem sofrimento, contrariam o predomínio
da doença. Ao centrar o cuidado na pessoa e não na doença, o enfermeiro
focaliza a necessidades da pessoa face ao que está a vivenciar. HESBEEN
(2001:19) diz que “cada pessoa, seja qual for a sua doença, necessita de uma
atenção personalizada das acções específicas que lhes são inerentes. Esta
atenção pode ser maior ou menor segundo a natureza da lesão ou da doença”.
Neste sentido HESBEEN (2001) indica que o profissional que cuida, numa
perspectiva de saúde, utiliza vários recursos, de forma subtil de modo a actuar
como um perito: definindo o que é exequível, fornecendo várias alternativas de
forma a alargar o horizonte da pessoa, agindo também como transmissor de
esperança. E, como conselheiro, tendo um discurso pertinente e esclarecedor
sobre as várias alternativas, e determinando com o doente caminhos de forma a
orientá-lo. Assim, o prestador de cuidados, “procura o encontro, com a pessoa
para criar laços de confiança com ela, mostra-se como alguém que ajuda e
acompanha a pessoa que cuida, questionando-se sobre a sua singularidade,
identificando os seus recursos e procurando com ela a via que faça sentido na
sua situação e para o seu projecto de vida. Caminha com ela para promover a
sua saúde” HESBEEN (2001:32). BENNER (2001:58) evidencia que o perito “tem
uma enorme experiência, compreende agora, de maneira intuitiva cada situação e

45
apreende directamente o problema sem se perder num largo leque de soluções e
de diagnósticos estéreis”.
HESBEEN (2001) fundamenta que todos os profissionais abrangem o
«cuidar». Contudo, e referindo-se especificamente aos enfermeiros, relata que
estes dispõem de recursos específicos que lhe conferem a função de perito e
conselheiro. Nomeadamente, nos «cuidados ditos de base» relacionadas com
actividades de vida diária (alimentação, higiene, …) e conforto. São estes
cuidados e o que representam para a pessoa que conferem “à enfermagem uma
relação privilegiada com o corpo, que não pode ser negligenciada” HESBEEN
(2001:34). Assim, o enfermeiro especialista e mestre tem a capacidade de actuar
num nível de complexidade, como é o caso da pessoa em situação crítica ou
crónica e paliativa.
Salienta-se, também, que «uma presença contínua» proporciona a
oportunidade de poder viver momentos muito especiais, de grande proximidade
com as pessoas que cuida. “A presença contínua confronta-os, igualmente, com
exigências (…) e desafia-os a exercitar todos os gestos e actividades possíveis”
HESBEEN (2001:34).
Por último o autor evidencia o «mundo de acções de carácter mais ou
menos técnico». Neste item HESBEEN (2001:34) diz que “os enfermeiros são
profissionais que cuidam, cuja arte é complexa, subtil e enraizada num
profissionalismo que não se manifesta apenas através dos actos praticados mas
também através da capacidade de ir ao encontro dos outros e de caminhar com
eles para conseguirem uma saúde melhor”. Salienta-se a atenção que é dada às
«pequenas coisas», que no fundo são estas que personalizam o cuidado e
evidenciam a pessoa como ser único.
Todavia, a qualidade apesar de ser divulgada e estar muito presente na
prática de cuidados, é necessário enquadrar e reflectir acerca do que é a
qualidade nos cuidados. Temos que considerar vários aspectos na perspectiva do
profissional e da pessoa/família que recorre aos serviços de saúde.
HESBEEN (2001) referencia que a qualidade deve estar associada ao
conceito de cuidar. Por um lado, associa-se ao aspecto técnico e instrumental, e
por outro lado, e não menos importante, mas muitas vezes descurado em
detrimento do anterior, o aspecto relacional, o de ouvir a pessoa. HESBEEN

46
(2001:41) menciona que o ouvir “faz parte integrante da missão de cuidar,
independentemente da profissão”. É algo que por vezes não se faz, utilizando a
desculpa da falta de tempo, mas que outras vezes está associado à rotinização
dos procedimentos. É, pois, necessário considerar este assunto, quando
abordamos a qualidade dos cuidados.
Deste modo, HESBEEN (2001:43) considera que “o acolhimento, o ouvir,
a disponibilidade e a criatividade dos prestadores de cuidados associada aos
seus conhecimentos de natureza científica e às competências técnicas, revelam-
se nestes casos como componentes essenciais a um cuidar de qualidade”.
O cuidar de acordo com WATSON (2002:55) é o ideal moral da
enfermagem, tem como objectivo “proteger, melhorar e preservar a dignidade
humana”. O cuidar envolve “valores, vontade, um compromisso para o cuidar,
conhecimentos, acções carinhosas e suas consequências”. Esta autora refere
ainda que todo o cuidar “está relacionado com respostas humanas
intersubjectivas às condições de saúde-doença; um conhecimento saúde-doença;
interacções ambiente-pessoa; um conhecimento do processo de cuidar; um
autoconhecimento e conhecimento das nossas capacidades e limitações para
negociar”.
Concomitantemente, HESBEEN (2001:45) diz que a arte de cuidar se
baseia em “conhecimentos e na capacidade para harmonizar os diferentes
elementos que constituem uma determinada situação”. É deste modo, “pôr em
evidência a qualidade e a criatividade, sendo que esta última, constitui uma obra
única que exprime a competência dos profissionais em cuidar de uma pessoa na
situação igualmente única que é a dela”.
Considera-se, assim que a qualidade dos cuidados está associada não só
ao desempenho com rigor das competências técnico/científicas, instrumentais,
mas também ao desempenho das competências relacionais. Sendo que estas
últimas são fundamentais para se estabelecer com a pessoa uma relação
terapêutica mais próxima, de modo a conhecer a pessoa, quais os seus valores,
crenças, projecto de saúde, e necessidades face ao problema com que se
depara, para assim, a podermos ajudar na consecução do seu projecto de saúde.
HESBEEN (2001) considera que apesar de a qualidade ser um processo
complexo e difícil de definir, este só existe se nos cuidados que prestamos, bem

47
como a forma como os prestamos fizerem sentido para a pessoa que está a ser
cuidada. Contudo, a busca de sentido, para este autor é “incontornável numa
prática verdadeiramente centrada no cuidar e não pode resumir-se aos meios
utilizados” HESBEEN (2001:51). Daí que a reflexão e a crítica sobre as práticas,
também têm um papel fundamental na melhoria, crescimento e desenvolvimento
da qualidade na prática de cuidados.
Assim, HESBEEN (2001:52) afirma que uma prática de cuidados de
qualidade é “aquela que faz sentido para a situação que a pessoa doente está a
viver e que tem como perspectiva, que ela, bem como ao que a rodeiam
alcancem a saúde”. Refere ainda que “requer uma atenção particular para com as
pessoas, criada pela preocupação com o respeito por elas”. E, “procede da
utilização coerente e complementar dos diversos recursos de que a equipa dispõe
e constitui a prova dos talentos destes profissionais”. Para além de se inscrever
“num contexto político, económico e organizacional com orientações, meios e
limites pertinentes e claramente identificados”.
Deste modo, HESBEEN (2001) considera sete classes dos elementos
determinantes que contribuem para a qualidade dos cuidados, nomeadamente:
 Aspectos políticos e económicos;
 Organização concreta das estruturas;
 Reflexões filosóficas e conhecimentos técnico-científicos;
 Métodos de colheita de dados sobre a prática e processos de avaliação;
 Pessoa que recebe cuidados e família;
 Desempenho e competências dos actores;
 Formação dos profissionais.
A OE em 2001, através do Conselho de Enfermagem define o
enquadramento conceptual e os Padrões de qualidade dos cuidados de
enfermagem para o enfermeiro de cuidados gerais, dando início a uma nova fase
de contextualização dos cuidados de enfermagem. Assim, foram definidas
categorias de enunciados, e os elementos importantes para cada categoria,
nomeadamente: satisfação do cliente, promoção da saúde, prevenção de
complicações, bem-estar e autocuidado, readaptação funcional e organização dos
cuidados de enfermagem. Considerado pela OE (2001:3) como um grande
desafio “quer pelo reflexo na melhoria dos cuidados de enfermagem a fornecer

48
aos cidadãos, quer pela inerente e vantajosa necessidade de reflectir sobre o
exercício profissional dos enfermeiros”.
De acordo com LEITE (2007:29) pretende-se que os enfermeiros nesta
nova fase de apropriação dos conceitos enunciados “assumam estes referenciais
da profissão como instrumentos de busca das melhores respostas em cuidados
de enfermagem, perseguindo a excelência do serviço que as instituições
prestadoras de cuidados de saúde oferecem aos cidadãos”.
Entendemos que a qualidade em saúde é uma tarefa multiprofissional, e
deste modo a enfermagem assume-se como um elo fundamental nesta cadeia. As
seis categorias, definidas em 2001, pela OE, para os enfermeiros de cuidados
gerais têm como finalidade ajudar a precisar o papel do enfermeiro junto dos
clientes, dos outros profissionais, do público e dos políticos. Em 2011 são
determinados, para os enfermeiros especialistas, os elementos para cada
categoria de enunciados.
As categorias de enunciados, do enfermeiro especialista em pessoa
em situação critica, são de acordo com a OE (2011):
 Satisfação do cliente;
 Promoção da saúde;
 Prevenção de complicações;
 Bem-estar e auto cuidado;
 Readaptação funcional;
 Organização dos cuidados de enfermagem especializados;
 A prevenção e controlo da infecção associada aos cuidados.
Considerando que ao enfermeiro especialista acresce a realização de
cuidados especializados na sua área de especialidade, iremos mencionar os
padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem em pessoa
em situação crítica, uma vez os padrões de qualidade dos cuidados
especializados em enfermagem em Pessoa em situação crónica e paliativa ainda
não estão definidos.
Assim, de acordo com OE22 (2011) o Enfermeiro Especialista em Pessoa
em situação crítica, na procura permanente da excelência no exercício

22
cf. OE – Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados de Enfermagem em Pessoa
em situação critica, 2011

49
profissional, procura os mais elevados níveis de satisfação da pessoa a vivenciar
processos complexos de doença critica e ou falência orgânica, promovendo a
saúde da pessoa, prevenindo complicações, maximizando o bem-estar dos
clientes e suplementando/complementando as actividades de vida relativamente
às quais o cliente é dependente. Desenvolve, conjuntamente com o cliente
processos eficazes de adaptação aos problemas de saúde. Assegura e garante a
máxima eficácia na organização dos cuidados de enfermagem especializados, e
maximiza a intervenção na prevenção e controlo da infecção, face aos múltiplos
contextos de actuação, à complexidade das situações e à necessidade de utilizar
múltiplas medidas invasivas.
Neste contexto o enfermeiro estabelece uma relação terapêutica, de
parceria, com o cliente e convivente significativo, baseada no respeito pelas
capacidades crenças, valores e desejos de natureza individual da pessoa no
planeamento dos cuidados, implementando técnicas de comunicação facilitadoras
e gerindo a comunicação interpessoal e a informação, com o objectivo de
minimizar o impacto negativo na pessoa em situação crítica, provocado pelas
mudanças de ambiente inerentes à prestação de cuidados de saúde, de forma
precisa, eficiente, eficaz e em tempo útil, para ajudá-lo na consecução do seu
projecto de saúde.
Considera na promoção da saúde a identificação da situação de saúde da
população, dos recursos do cliente, família e comunidade. Cria e aproveita
oportunidades para promover estilos de vida saudáveis. Optimiza o potencial de
saúde da pessoa que vivenciou processos complexos de doença critica e ou
falência orgânica, fornecendo informação geradora de aprendizagem cognitiva e
de novas capacidades pela pessoa em situação critica, avaliando os ganhos em
conhecimentos e capacidades na gestão de processos complexos que decorrem
da situação critica vivenciada.
O enfermeiro especialista identifica, prescreve, implementa e avalia as
intervenções de enfermagem especializadas de problemas potenciais do cliente,
dentro da sua área de competência, na prevenção de complicações, de modo a
evitar ou minimizar efeitos indesejáveis. Guia a sua actuação por rigor
técnico/científico das intervenções especializadas. Referência para outros
profissionais da equipa multidisciplinar ou outros enfermeiros especialistas.

50
Responsabiliza-se pelas decisões que toma, pelos actos que pratica e delega.
Executa cuidados técnicos de alta complexidade. Supervisiona actividades
delegadas. Gere protocolos terapêuticos complexos e implementa medidas de
suporte avançado de vida.
De modo a maximizar o bem-estar e suplementar a dependência nas
actividades de vida, o enfermeiro especialista identifica, prescreve, implementa e
avalia as intervenções de enfermagem especializadas de problemas do cliente,
com rigor técnico e científico. Supervisiona as intervenções delegadas.
Implementa instrumentos de avaliação e protocolos terapêuticos na gestão
diferenciada da dor. Responsabiliza-se pelas decisões que toma, pelos actos que
pratica e delega. Gere a relação terapêutica com a pessoa e família,
considerando o impacto emocional da situação vivenciada, e incrementa
estratégias facilitadoras na gestão do luto e morte digna.
Na continuidade da prestação de cuidados de enfermagem
especializados, planeia a alta de acordo com as necessidades da pessoa em
situação critica, e os recursos da comunidade para complementar a readaptação
funcional da pessoa em situação critica. Optimiza as capacidades da pessoa e
conviventes significativos para gerir o regime terapêutico prescrito. Ensina, instrui
e treina a adaptação individual.
Em parceria com as unidades prestadoras de serviços, o enfermeiro
especialista desempenha um papel activo na implementação de uma metodologia
de organização de cuidados de enfermagem especializados em pessoa em
situação crítica, promotora da qualidade, e em situações de catástrofe ou
emergência multi-vítima responde eficaz e eficientemente, com base num sistema
de triagem sustentado nas prioridades clínicas. Assegura a existência de um
quadro de referência do exercício profissional de enfermagem especializado, e de
um sistema de melhoria contínua de qualidade do qual faz parte a avaliação da
satisfação dos enfermeiros especialistas, e a dotação adequada de enfermeiros
especialistas face à necessidade de cuidados. Bem como a existência de um
sistema de registos de enfermagem, que incorporem necessidades de cuidados,
intervenções especializadas, resultados sensíveis às intervenções, resumo
mínimo de dados, e indicadores de enfermagem no cuidado da pessoa em
situação critica. Garante a existência de uma política de formação contínua do

51
enfermeiro especialista que promova o desenvolvimento profissional e da
qualidade especializada. Participa, também, na revisão de guias de boas práticas
no âmbito da pessoa em situação crítica.
Na prevenção e controlo da infecção, maximiza a intervenção
participando, e liderando na concepção e implementação de planos e estratégias
da prevenção da infecção no serviço, com base em evidência científica, bem
como capacitação da equipa para a prevenção e controlo da infecção associados
aos cuidados à pessoa em situação crítica.
No âmbito da qualidade os enfermeiros sabem que bons cuidados
significam coisas diferentes para diferentes pessoas. Assim, o exercício
profissional dos enfermeiros exige sensibilidade para lidar com essas diferenças,
e ajudar a pessoa alcançar os melhores resultados no seu projecto de saúde.
Considerando o descrito, podemos reconhecer que este projecto incide
nos enunciados, dos padrões da qualidade dos cuidados especializados em
enfermagem em pessoa em situação crítica: satisfação do cliente, prevenção de
complicações, bem-estar e auto cuidado e, organização dos cuidados
especializados.
No enunciado satisfação de cliente, o enfermeiro na procura dos mais
elevados níveis de satisfação do cliente, na prestação de cuidados de
enfermagem especializados, intervém de forma precisa, eficiente, eficaz e em
tempo útil, empenhando-se em minimizar o impacto negativo na pessoa em
situação crítica, provocada pelas mudanças de ambiente, gerindo a comunicação
interpessoal e de informação à pessoa e família face à complexidade dos
processos de doença crítica, implementando técnicas de comunicação
facilitadoras da relação terapêutica, como por exemplo comunicação de más
notícias.
Na prevenção de complicações, bem-estar e auto cuidado, o enfermeiro
especialista procura identificar, tão rápido quanto possível, dos problemas
potenciais ou reais, prescreve, com rigor técnico e científico, executa os cuidados
técnicos de alta complexidade, responsabilizando-se pelas decisões que toma e
pelos actos que pratica, avalia as intervenções, encaminha para outros
profissionais, faz a gestão adequada de protocolos terapêuticos complexos, da

52
dor e gere o impacto emocional decorrente da situação crítica, utilizando
habilidades de relação de ajuda, facilitadoras dos processos de luto e morte digna.
Na organização de cuidados especializados, utiliza metodologias de
organização dos cuidados de enfermagem especializados em pessoa em situação
crítica promotoras de qualidade.
O Hospital iniciou o programa de acreditação, em 1999, através do King´s
Fund/CHKS. Actualmente, encontra-se integrado no CHLC que mantém a mesma
política de desenvolvimento da qualidade. Tendo por base este conceito foi
nomeado um grupo multidisciplinar que elabora as políticas e procedimentos
multissectoriais que visam uniformizar e dar resposta às necessidades no âmbito
da qualidade. O grupo tem ligação com os elos de cada serviço para elaboração
dos procedimentos sectoriais, protocolos clínicos, instruções de trabalho.
Como elo dinamizador da Unidade de Pneumologia, temos participado na
elaboração dos procedimentos e na divulgação dos procedimentos
multissectoriais à equipa. No âmbito da segurança do doente temos ligação com o
Gabinete dos Risco, onde são identificados riscos na Unidade, e efectuamos
planos de melhoria. Na ligação à Comissão de Infecção Hospitalar temos
participado no Programa nacional de prevenção e controlo das infecções
associadas aos cuidados de saúde, na campanha nacional de higiene das mãos,
auditorias e na formação da equipa.
Existem, ainda, os programas de melhoria da qualidade ligados à
prevenção das úlceras de pressão, risco de quedas, dor e um programa
transversal à Área de Medicina relacionado com a Gestão de altas dos doentes.

1.5. A UTILIZAÇÃO DA VIA SC PARA HIDRATAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE


TERAPÊUTICA

Os cuidados paliativos são considerados como uma intervenção


multiprofissional no alívio do sofrimento da pessoa/família com uma doença
crónica, progressiva e incurável. Deste modo, é extremamente necessário ter em
conta o conforto e a qualidade de vida do doente, promovendo um controlo
sintomático eficaz. Evidencia-se que uma das prioridades para o bem-estar, do
doente/família é controlo de sintomas no fim de vida. Tal como refere

53
TWYCROSS (2003) existem três componentes essenciais em cuidados paliativos,
nomeadamente: alivio de sintomas, apoio psicossocial, trabalho em equipa e em
associação, aliada a uma comunicação adequada.
Contudo, a prática dos cuidados paliativos requer de acordo com
Programa Nacional de Cuidados Paliativos23 (2004:2) uma “organização própria e
abordagem específica, prestada por equipas técnicas preparadas para o efeito”.
Todavia, apesar da criação da rede nacional de cuidados continuados, as vagas
são manifestamente insuficientes para abranger toda a população que dela
necessita.
Deste modo, continuam a ser assistidos na rede hospitalar várias pessoas
com estas necessidades. De acordo com o Programa, acima referido, os cuidados
paliativos devem ser prestados de acordo com vários níveis de diferenciação.
Assim, a acção paliativa representa o nível básico da paliação, onde são
prestadas acções sem recurso a equipas ou estruturas diferenciadas. Estas
acções paliativas podem e devem ser prestadas no internamento hospitalar.
Entende-se por acção paliativa, de acordo com Programa Nacional de
Cuidados Paliativos24 (2004:6) “Qualquer medida terapêutica sem intuito curativo,
que visa minorar, em internamento ou no domicílio, as repercussões negativas da
doença sobre o bem-estar global do doente. As acções paliativas são parte
integrante da prática profissional, qualquer que seja a doença ou a fase da sua
evolução”.
Sendo o controlo sintomático um componente essencial no cuidado à
pessoa em fim de vida, surge a necessidade de conhecer várias alternativas para
esse efeito. Assim aparece a necessidade de aprofundarmos conhecimentos e
conduzirmos o projecto da utilização da via subcutânea (SC) para hidratação e
administração de terapêutica.
O recurso à via SC para hidratação e administração de terapêutica têm-se
vindo a desenvolver e a aplicar nos últimos anos. Apesar de ter sido largamente
difundida nos anos 40 e 50, actualmente e de acordo com QUERIDO e GUARDA
(2006:317) ainda é “desconhecida por muitos profissionais de saúde e, talvez por
essa razão, raramente usada apesar da sua eficácia e segurança”. Talvez

23
DGS – Programa Nacional de Cuidados Paliativos, 2004
24
Ibidem

54
contribua para este facto o recurso à via endovenosa, uma vez que tem efeitos
mais rápidos e pode administrar-se mais terapêutica, no entanto existem outros
riscos associados.
O sistema tegumentar é constituído pela pele e estruturas anexas (cabelo,
unhas e glândulas) SEELEY et al. (1997). Uma das estruturas – a hipoderme
(tecido celular subcutâneo) é constituída por tecido conjuntivo laxo, fibras de
colagénio e de elastina. Os principais tipos de células são os fibroblastos, as
células adiposas e os macrófagos. De acordo com INSTITUTO NACIONAL DE
CANCER (INCA) (2009:13) a hipoderme por ser dotada “de capilares sanguíneos,
o tecido subcutâneo torna-se uma via favorável à administração de fluidos e/ou
medicamentos, uma vez que estes serão absorvidos e transportados pelos
capilares à macrocirculação”.

Figura 3 – Tecido subcutâneo; adaptado INCA (2009)

Tecido subcutâneo

De acordo com NETO (2008:278) a via SC é uma alternativa para a


administração de terapêutica e hidratação. Apesar de a via oral ser a preferida,
uma vez que apresenta “eficácia garantida, facilidade de administração, boa
tolerabilidade, mínimo desconforto, melhor adesão ao tratamento, menor custo e
por permitir alguma devolução de controlo ao paciente e à família”. Existem vários
motivos para utilizarmos outras vias de administração, nomeadamente por
existência de náuseas e vómitos constantes, obstrução local, disfagia, ou a
necessidade de utilizar um medicamento de forma mais rápida. E, é neste
contexto que a via SC pode ser, também, uma alternativa.
Contudo, o recurso a outras vias de administração de terapêutica, deve
considerar o princípio de menor sofrimento e de maior eficácia possível. Daí que a

55
escolha da via de administração de terapêutica deve ser ponderada e decidida em
conjunto com o doente e a sua família, tendo em conta as condições clínicas da
pessoa.
NETO (2008) refere que a terapêutica e a via de administração deve
sempre submeter-se ao princípio de provocar o menor sofrimento possível ao
doente. Neste sentido, afirma que cada via de administração tem as suas
vantagens e desvantagens. As vias de administração endovenosa e intramuscular
estão associadas a uma maior invasão e desconforto, nos doentes com patologia
crónica e paliativa, onde muitas vezes a caquexia e a dificuldade de acessos
venosos estão comprometidos. Para além disso, podem surgir complicações
associadas, no local ou sistémicas. Apesar de estas vias apresentarem imensas
vantagens em situações agudas ou de emergência. A manutenção de uma via
endovenosa no domicílio é praticamente impossível, pois requer conhecimento e
vigilância por parte de profissionais de saúde.
A via rectal, também, mencionada pela autora acima referenciada,
constitui outra alternativa, apesar de ser menos confortável para alguns adultos, e
a indisponibilidade de fármacos nesta forma de apresentação. Outra via de
administração de medicamentos disponível é a transdérmica. Contudo, a
disponibilidade de medicamentos desta forma é limitada, sendo que só existem
fármacos disponíveis para o controlo da dor.
No cuidado a pessoas com patologia crónica e fim de vida, NETO
(2008:278) afirma que “existe uma larga tradição de recurso à via subcutânea seja
para a administração de fármacos (em bólus ou infusão continua), seja para a
administração de fluidos (hipodermoclise) ”. A mesma autora refere ainda que a
utilização desta via, em doentes com necessidade de suporte ou paliativos,
apresenta “a possibilidade de recorrer a uma via parentérica, usufruindo dos
benefícios inerentes, sem ter as desvantagens (…) para as administrações
intramusculares e intravenosas (…)”.
Salientamos, algumas indicações para a utilização da via SC de acordo
com QUERIDO e GUARDA (2006), LOBO (2007), INCA (2009):
 Intolerância à via oral, por vómitos constantes ou oclusão intestinal;
 Incapacidade de deglutir (lesões na boca, faringe, esófago, ou laringe);
 Má absorção intestinal;

56
 Quadros de confusão, agitação, ou delírio;
 Debilidade grave do seu estado, fase de agonia;
 Doentes sem resposta terapêutica aos medicamentos administrados por
via oral;
 Necessidades de ingestão de grandes doses de medicação;
 Impossibilidade de acesso venoso;
 Possibilidade de permanência do doente no domicílio;
 Sinais de desidratação;
 Pessoas incapazes de ingerir quantidade suficiente de líquidos.
Como contra-indicações à utilização da via SC, evidenciamos de acordo
com NETO (2008), INCA (2009):
 Edema / Anasarca;
 Distúrbios da coagulação;
 Insuficiência cardíaca grave;
 Doentes em risco de Edema agudo do Pulmão.
 Tecidos junto de cicatrizes operatórias e/ou irradiadas;
 Proeminências ósseas e/ou articulações.
Consideramos, como vantagens desta via de administração, de acordo
com QUERIDO e GUARDA (2006), NETO (2008), INCA (2009):
 Técnica simples, mais cómoda;
 Menor risco de complicações locais ou sistémicas;
 Índice da absorção semelhante ao da via intramuscular;
 Biodisponibilidade sobreponível à da via endovenosa (com menor risco de
complicações, e custos associados);
 Locais de punção podem permanecer até vários dias;
 Permite a permanência da pessoa no domicílio, se esse for o seu desejo;
 Facilidade de manipulação no domicílio;
 Promove a participação do convivente significativo, pode ser utilizada por
este, desde que devidamente ensinado;
 Redução de hospitalizações para controlo sintomático.
Como desvantagens evidenciamos de acordo com INCA (2009):
 Se houver necessidade de infusão rápida e altas doses de fluidos;
 Se houver necessidade de um ajuste rápido de doses terapêuticas.

57
Figura 4 – Concentração do medicamento na corrente sanguínea com o tempo; adaptado de
INCA (2009).

Via EV

Via IM
Via SC

Via PO

Face ao exposto podemos concluir que a via subcutânea é uma opção


segura, com poucos riscos para os doentes, tem pouco impacto na qualidade de
vida da pessoa, antes pelo contrário, possibilita que a pessoa permaneça em
casa, se for esse o seu desejo, podendo por isso ser utilizada em vários contextos
– domicílio ou hospitalar.
A via subcutânea pode, então ser utilizada para administração de
terapêutica, em perfusão ou em bólus, e para hidratação.
A hidratação, utilizando a via SC, designa-se por hipodermoclise é
definida como uma infusão de fluidos no tecido subcutâneo QUERIDO e
GUARDA (2006). O seu mecanismo consiste na administração lenta de fluidos no
espaço subcutâneo, sendo que o fluido é transferido para a circulação sanguínea
por acção combinada entre a difusão de fluidos e a perfusão tecidular. De acordo
com estas autoras os doentes em fim de vida necessitam de 500 a 600 cc/dia.
Contudo, existem vários aspectos a considerar na administração de
fluidos. De acordo com INCA (2009) as soluções com pH próximo do neutro e
isotónicas são melhor toleradas. O volume aconselhado é de 1000 / 1500 cc nas
24 horas (NETO, 2008), podendo ser administrado o volume máximo de 3000 cc
nas 24 horas, em dois locais separados (QUERIDO e GUARDA, 2006).
Os locais de eleição, para a administração de fluidos de grande volume
são o tórax e o abdómen. (NETO, 2008), ou seja zona subclavicular, região
escapular (mais utilizada se o doente estiver muito agitado), e periumbilical

58
(respeitando a circunferência de 5 cm à volta do umbigo, por esta ser muito
vascularizada).
Nestes locais existe mais tecido adiposo, e não interfere com os
movimentos da pessoa. Apesar de poder ser administrada, também, na região da
coxa e deltóide, mas esses locais são habitualmente para a administração de
terapêutica, com menores volumes. Sempre que possível a pessoa deve escolher
o local, promovendo a participação nos cuidados.

Figura 5 – Locais de administração de terapêutica SC e hipodermoclise.

A velocidade da perfusão pode ser controlada com o conta-gotas do


sistema de administração, de acordo com NETO (2008:281) “poderão ser
administrados até 25 a 100 cc de soro/hora”. Contudo, devemos ter em conta as
características da pessoa, o “estado do tecido celular subcutâneo, o nível de
obesidade do doente, a sua função cardiovascular (...) ”. Para um volume de 500
cc /24 horas devem perfundir 7 gotas/minuto, no caso de 1000 cc duplicam as
gotas, e no caso de 1500 cc triplicam.
NETO (2008:281) menciona que a “hidratação pode ser interrompida e
reiniciada a qualquer momento, sem risco de hemorragia ou formação de
coágulos. O doente poderá, inclusivamente, deambular, ser hidratado durante a
noite e descansar durante o dia”.
Como já referido anteriormente, a via SC também pode ser utilizada para
administração de terapêutica, em bólus ou perfusão continua. De acordo com
INCA (2009), os medicamentos melhor tolerados são os medicamentos com pH
próximo do neutro e hidrossolúveis.

59
De acordo com NETO (2008) não se deve injectar mais que três fármacos
na mesma administração, evitando assim uma grande acumulação, que se
tornaria incómodo e dificultaria a absorção. Após a administração do fármaco,
injectar soro fisiológico para evitar que fique medicação na tubuladura. Na
administração de medicamentos deve ter-se em consideração a sua
compatibilidade. Por vezes, é necessário a colocação de duas vias.

Fármaco Compatível com:

Morfina, Haloperidol Levomepromazina, Midazolam,


Butilescopolamina
Octreotido, NaCl 0,9%.

Não deve ser misturada com outros fármacos em


Dexametasona perfusão, excepto se for em doses muito baixas
(1mg/24h), NaCl 0,9% ou água injectável.

Não é compatível com nenhum outro fármaco em


Diclofenac
perfusão, administrar isoladamente, NaCl 0,9%.

Morfina, Tramadol, Butilescopolamina, Metoclopramida,


Haloperidol Levomepromazina, Midazolam, Octreotido, água
injectável.

Morfina, Haloperidol, Metoclopramida, Butilescopolamina,


Levomepromazina
Midazolam, Octreotido.

Metoclopramida Morfina, Haloperidol, Tramadol, Midazolam, Octreotido.

Metadona Midazolam.

Morfina, Haloperidol, Levomepromazina,


Midazolam Metoclopramida, Butilescopolamina, Octreotido, NaCl
0,9%, água injectável.

Levomepromazina, Metoclopramida, Butilescopolamina,


Morfina
Haloperidol, Midazolam, Octreotido, NaCl 0,9%, água inj..

Morfina, Haloperidol, Levomepromazina, Metoclopramida,


Octreotido
Butilescopolamina, Midazolam, NaCl 0,9%.

Tramadol Haloperidol, Metoclopramida, NaCl 0,9%.

Furosemida NaCl 0,9%.

Quadro 1 – Compatibilidade de fármacos; adaptado de NETO (2008).

60
A execução da técnica, ou seja a punção deve ser feita por um
profissional de saúde. Devemos ter em conta, para além do estado clínico da
pessoa (condição do local a puncionar, se está agitado) a preferência do doente,
deve, pois escolher-se o local que incomode o menos possível.
A punção pode ser feita com uma agulha epicraneana (tipo butterfly) de
baixo calibre, preferencialmente 23G ou cateter de teflon, introduzindo-se no
tecido subcutâneo, num ângulo de 45º numa prega cutânea. De acordo com
NETO (2008) os cateteres de teflon oferecem maior conforto, são melhor
tolerados e podem permanecer mais tempo, comparativamente às agulhas de
metal. Estes dispositivos são fixados a pele com um adesivo transparente, para
melhor monitorizar a condição da pele e vigiar as possíveis complicações.

Figura 6 – Ângulo de punção; adaptado de protocol hypodermomoclysis (2003).

No caso, desta técnica ser efectuada no domicílio, quer a hipodermoclise


quer a administração de terapêutica, o enfermeiro deve capacitar o convivente
significativo/cuidador para a execução destas tarefas. A relação terapêutica
estabelecida deve contemplar a parceria de cuidados. Para além da transmissão
de informação, ensino, e desenvolvimento de capacidades do cuidador, o
enfermeiro deve demonstrar disponibilidade para, se houver necessidade, a
pessoa/família poderem contactar para esclarecer qualquer dúvida que surja, ou
simplesmente para dizer que «está tudo bem».
Lidar com estas situações complexas, não é fácil, para nenhum dos
intervenientes, há a necessidade de um conhecimento profundo e o
desenvolvimento de uma relação muito próxima com vista a lidar com todas as
fases do processo, quer da doença crónica e/ou paliativa. Sabemos que muitas
vezes aliado a estas vivências existem crenças associadas à necessidade de

61
comer e beber. Nomeadamente, referido muitas vezes pelo familiar «se ele já
sofre tanto com a doença, não o vamos deixar morrer à fome ou à sede». O papel
do enfermeiro para além de ouvir a pessoa deve também desmistificar um pouco
este conceito. Tal como refere QUERIDO e GUARDA (2006:316) “muitas vezes
as famílias vivem a perda da função da alimentação de forma intensa, e têm
dificuldade em aceita-la”. Contudo, “ a educação dos doentes e suas famílias, em
relação aos objectivos dos cuidados, desmontando algumas práticas e
estimulando outros cuidados, ajuda a dissipar o medo e reduzir a ansiedade”.
Socialmente o acto de alimentar é, conforme QUERIDO e GUARDA (2006)
uma forma muito especial de cuidar, pois contribuímos para a satisfação das
necessidades daqueles que gostamos. Daí que a equipa de saúde, em especial o
enfermeiro, ter um papel fundamental ao disponibilizar-se para ouvir e esclarecer
dúvidas, explicar as vantagens e cuidados a ter, bem como as indicações da
administração do soro e a importância da hidratação, quando o doente realmente
necessita.
QUERIDO e GUARDA (2006) alertam para que a decisão de administrar
ou não líquidos, seja discutida em equipa, após avaliação rigorosa de cada
situação. O que implica uma informação rigorosa, de todos os envolvidos,
principalmente do doente e da família. O impacto emocional da tomada de
decisão no doente e na família deve ser tido em conta pelos profissionais de
saúde.

62
2. PROJECTO DE INTERVENÇÃO NO SERVIÇO

2.1. DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO

A Unidade de Pneumologia está inserida no Centro Hospitalar de Lisboa


Central (CHLC) – Hospital de Santa Marta, é composta pelos sectores de
Internamento, Consultas Externas da Especialidade, Hospital de Dia e Técnicas
Endoscópicas, Pleurais e de Função respiratória. Nesta Unidade são internadas
com frequência pessoas com patologia crónica e/ou em fim de vida. Apesar desta
unidade de internamento estar preparada para atender as necessidades dos
doentes que a ela recorrem, entendemos que podemos melhorar alguns aspectos
no cuidado aos doentes com patologia crónica e/ou em fase terminal.
A equipa de enfermagem tem revelado bastante sensibilidade para cuidar
da pessoa e família nesta fase. No entanto, reconhece algumas limitações, por
vezes relacionadas com a falta de experiência, e que são debatidas em conversas
informais. Um dos aspectos que, habitualmente causa algum desconforto na
equipa prende-se com a dificuldade em cateterizar uma veia periférica, para
administração de soro ou medicação para controlo sintomático. Por um lado,
existe a necessidade de controlar os sintomas com a administração da
terapêutica e por outro lado, a dificuldade em puncionar uma veia periférica.
Perante esta situação podem ocorrer várias tentativas sem êxito, o que nos causa
algum mal-estar. Concomitantemente, a família também manifesta maior conforto
quando verifica que o seu familiar “tem um soro”, aceitando o fim de vida com
dignidade. Recentemente, também, surgiu a necessidade/oportunidade de uma
doente com patologia crónica (Fibrose Quistica), acompanhada por nós, fazer
hidratação para além da efectuada por via oral.
Deste modo, este projecto pretende ser uma alternativa vantajosa, quer
para o doente/família, quer para os profissionais.
O projecto pretende implementar a via de administração subcutânea para
hidratação e administração de terapêutica em perfusão, em doentes com
patologia crónica e/ou paliativa, internados na Unidade de Pneumologia, ou que
necessitem desta técnica no domicílio. Nesta Unidade encontram-se,
frequentemente, internadas pessoas com patologia crónica e oncológica em fim

63
de vida, onde muitas vezes a hidratação oral ou a administração de terapêutica é
difícil. Os doentes apresentam dificuldade na deglutição, náuseas, vómitos ou
outros sintomas, e a utilização/manutenção de uma via endovenosa devido aos
poucos acessos venosos viáveis (por quimioterapia e/ou terapêutica endovenosa
por longos períodos) torna-se quase impossível (ANEXO II).
Considerando o controlo sintomático como uma das premissas
fundamentais no cuidado a estes doentes, é fundamental que a equipa disponha
de várias estratégias para adequar os cuidados consoante as necessidades de
cada pessoa.
Assim, destacamos algumas razões que levaram a optar por esta área,
nomeadamente:
 Maior conforto para o doente, uma vez que a via endovenosa é mais
dolorosa e mais difícil manter;
 Em caso de necessidade esta via pode ser mantida no domicílio pela
pessoa significativa/cuidador com menor riscos;
 A equipa intra-hospitalar de Cuidados Paliativos do CHLC quando é
chamada à Unidade, para observar os doentes indica esta possibilidade em
caso de necessidade;
 A falta de experiência da equipa de enfermagem, na técnica de
administração de terapêutica em perfusão e hidratação por via SC.

Após reunião com a Sr.ª Enfª Chefe da Unidade, onde debatemos a


pertinência do projecto para esta unidade, este foi considerado útil não só para os
doentes internados, mas também para doentes acompanhados pela equipa
(Projecto de acompanhamento de doentes crónicos) e que possam vir a
necessitar desta técnica no domicílio.
Como ferramenta diagnóstica optamos por efectuar um questionário
(ANEXO III) e uma análise SWOT (ANEXO IV). O questionário foi aplicado nos
dias 3 e 4 de Fevereiro de 2011, sendo a amostra de 13 enfermeiros.
Da análise das respostas evidencia-se que:
 62% dos enfermeiros não conhece a técnica da Hipodermoclise, e 38%
conhece;

64
 69% nunca administrou soros por via SC, e 31% já administrou; os que
responderam afirmativamente 1 referiu que utilizou a técnica em contexto
domiciliário, 3 em doentes em fase terminal, por prescrição da equipa de
Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar;
 62% nunca administrou terapêutica em perfusão por via SC, e 38% já
administrou; os que responderam afirmativamente 3 referiram em doentes
em fase terminal, e 2 sob prescrição da equipa de Cuidados Paliativos do
Centro Hospitalar;
 100% considera útil o desenvolvimento do procedimento na Unidade;
 Nos comentários/sugestões, 4 mencionaram que o procedimento é útil; 2
referiram por dificuldade na cateterização periférica; 2 para controlo de
sintomas; 1 para minimizar a dor no doente terminal; 1 refere que técnica
tem inúmeras vantagens; 1 refere que a equipa não tem destreza
suficiente.

No entanto, e dado que a Hipodermoclise e a administração de


terapêutica são intervenções interdependentes, decidimos efectuar uma análise
SWOT para complementar o diagnóstico, destacamos como:
Pontos Fortes
1. Receptividade da equipa de enfermagem a novos projectos;
2. Alternativa às vias Endovenosa e Intramuscular;
3. Existência de material adequado para a realização da técnica;
4. Via SC menos dolorosa e com maior durabilidade.

Pontos Fracos
1. Falta de conhecimento da equipa multidisciplinar acerca da técnica;
2. Inexperiência dos enfermeiros na execução do procedimento;
3. Leque de fármacos que não pode ser administrado por esta via.

Oportunidades

1. Melhorar o conforto do doente em fase terminal;


2. Alternativa às vias EV e IM;
3. Existência de um grande número de doentes em fase terminal;

65
4. Recomendação da via SC pela equipa de Cuidados Paliativos do CHLC.

Ameaças
1. Técnica não utilizada em situações agudas em meio hospitalar;
2. Intervenção interdependente;
3. Falta de experiência da equipa Médica em relação à técnica.

Da análise dos dados evidencia-se que as actividades de:


 Sensibilização da equipa médica;
 Formação da equipa de enfermagem para a utilização da técnica;
 Apresentação do material adequado e dos fármacos mais utilizados;
 Elaboração de um protocolo interdisciplinar;
 Elaboração de uma norma de procedimento de enfermagem sobre a
técnica. Contribuem para a capacidade de realização e potencial de
sucesso, deste projecto, no cuidado a pessoas com patologia crónica e/ou
em fim de vida que recorrem à Unidade de Pneumologia.

A competência de Mestre mobilizada, neste caso específico, prende-se


com o diagnóstico, planeamento, intervenção e avaliação na formação dos pares
e de colaboradores. Assim, é efectuado o diagnóstico da situação, utilizando
como ferramentas a análise SWOT e o questionário, e desenvolvido o
planeamento do projecto, conforme o ponto seguinte.

2.2. PLANEAMENTO DO PROJECTO

Neste ponto descrevemos o objectivo geral, e os objectivos específicos


que traçamos para este projecto. Mencionando as actividades realizadas, a
reflexão e justificação das competências do enfermeiro especialista e mestre,
mobilizadas neste projecto. O Planeamento global do Projecto e o cronograma
das actividades a encontra-se no ANEXO V.

66
OBJECTIVO GERAL
 Melhorar a qualidade dos cuidados à pessoa com patologia crónica e/ou
paliativa.
OBJECTIVOS ESPECIFICOS
1 - Aprofundar conhecimentos na área da Hipodermoclise e administração de
terapêutica por via SC;
Actividades/Estratégias a desenvolver
a) Efectua pesquisa bibliográfica em livros e bases de dados electrónicas
credenciadas;
 Indicador de avaliação – Apresentamos síntese sobre a técnica; Ponto 1.5
do enquadramento conceptual.
b) Pesquisa normas/protocolos internacionais; que servem de base para a
elaboração da norma de enfermagem.
c) Realiza Estágio de observação na Unidade de Cuidados Paliativos da
Idanha;
Efectuamos Estágio na Unidade de Cuidados Paliativos S. Bento de
Menni na Casa de Saúde da Idanha. O estágio decorreu de 18 a 25 de Fevereiro
de 2011 com o total de 44 horas.
 Indicador de avaliação – Apresentamos reflexão decorrente do estágio;
Ponto 3.1 das Aprendizagens Desenvolvidas.

2 - Elaborar norma de procedimento de enfermagem Hipodermoclise e


administração de terapêutica por via SC;
Actividades/Estratégias a desenvolver
a) Constrói protótipo de norma de procedimento de enfermagem;
encontra-se no ANEXO VI.
 Indicador de avaliação – Apresentamos protótipo de norma de
procedimento de enfermagem. Pedimos colaboração de Equipa de
Cuidados Paliativos de CHLC para efectuar sugestões, aguardamos
resposta.

3 - Elaborar folheto de informação para a Pessoa significativa/cuidador;


Actividades/Estratégias a desenvolver

67
a) Constrói protótipo de folheto; encontra-se no ANEXO VII.
 Indicador de avaliação – Apresentamos protótipo de folheto. Pedimos
colaboração de Equipa de Cuidados Paliativos de CHLC para efectuar
sugestões, aguardamos resposta.

4 - Colaborar na elaboração de um protocolo clínico sobre a Hipodermoclise e


administração de terapêutica por via SC;
Esta actividade inicialmente prevista para as duas últimas semanas de
Junho conforme cronograma de actividades, ainda não a concretizamos.

5 – Efectuar formação à equipa de enfermagem;


Actividades/Estratégias a desenvolver
a ) realiza a sessão
 Indicador de avaliação – As actividades inicialmente previstas para o mês
de Agosto de 2011, conforme cronograma, foram realizadas nos dias 11 e
17 de Novembro de 2011 (ANEXO VIII).

6 - Planear a implementação e a avaliação do projecto;


Actividades/Estratégias a desenvolver
a) Divulga os resultados dos questionários e análise SWOT, nas
passagens de turno.
 Indicador de avaliação – Actividade preparada com análise dos
questionários (ANEXO IX).

No início do Projecto tínhamos a ideia que após identificar a área de


intervenção e delinear as estratégias, implementaríamos concomitantemente o
projecto e, este iria sofrendo as alterações conforme o desenvolvimento das
actividades. Contudo, isso veio a revelar-se impossível de realizar devido a
constrangimentos de tempo, e conciliação das várias actividades quer
profissionais quer lectivas. No entanto, algumas actividades foram executadas,
conforme descritas anteriormente, outras planeadas em cronograma. Todavia, a
implementação e avaliação do projecto sofreu várias alterações, uma vez que o
serviço esteve fechado para obras (nos primeiros 5 meses de 2011), e a equipa

68
de enfermagem estava separada, tornando-se, este um constrangimento à
implementação do projecto.
A área do cuidado à pessoa com patologia crónica e paliativa tem sido
alvo de um grande investimento formativo da nossa parte nos últimos anos. É,
assim que surge a necessidade de implementar este projecto, para melhorar os
cuidados aos doentes que recorrem à Unidade de Pneumologia.
Neste projecto mobilizamos a competência K1 25 – cuida da pessoa a
vivenciar processos complexos de doença critica e/ou falência orgânica.
Consideramos que a via SC é uma alternativa para o controlo sintomático, e neste
sentido temos em conta as seguintes unidades de competência e critérios de
avaliação.

Unidades de competência Critérios de avaliação

K.1.2.1 diagnostica precocemente


complicações resultantes da
implementação de protocolos terapêuticos
K.1.2 gere a administração de complexos
protocolos terapêuticos complexos K.1.2.2 implementa respostas de
enfermagem apropriadas às complicações
K.1.2.3 monitoriza e avalia a adequação
das respostas aos problemas identificados

K.1.3.1 identifica evidências fisiológicas e


emocionais de mal-estar
K.1.3 faz a gestão diferenciada da K.1.3.2 demonstra conhecimentos sobre
dor e do bem-estar da pessoa em bem-estar físico, psico-social e espiritual
situação critica e ou falência na resposta às necessidades da pessoa
orgânica, optimizando as respostas em situação crítica
K.1.3.3 garante a gestão de medidas
farmacológicas de combate à dor

Apesar desta técnica ser desconhecida para grande parte dos


enfermeiros da Unidade, em que demonstram conhecimento geral mas a maioria

25
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011

69
não sabe executar a técnica nem como administrar a terapêutica; ou seja não
sabe que fármacos podem ser administrados por via SC e compatibilidades.
Assim mobilizamos a competência D226 – baseia a sua praxis clínica em sólidos
e válidos padrões do conhecimento, tendo em conta as seguintes unidades de
competência e os critérios de avaliação.

Unidades de Competência Critérios de avaliação

D.2.1.1 actua como formador em contexto de


trabalho, na supervisão clínica e dispositivos
formativos formais
D.2.1 responsabiliza-se por
D.2.1.2 diagnostica necessidades formativas
ser facilitador da
D.2.1.3 concebe e gere programas e dispositivos
aprendizagem, em contexto
formativos
de trabalho, na área da
D.2.1.4 favorece a aprendizagem, a destreza nas
especialidade
intervenções e o desenvolvimento de habilidades
e competências dos enfermeiros
D.2.1.5 avalia o impacto da formação

D.2.2.1 actua como dinamizador e gestor da


incorporação do novo conhecimento na prática
cuidativa, visando ganhos em saúde dos
D.2.2 suporta a prática
cidadãos
clínica na investigação e no
D.2.2.2 identifica lacunas do conhecimento e
conhecimento, na área da
oportunidades relevantes de investigação
especialidade
D.2.2.6 contribui para o conhecimento novo e
para o desenvolvimento da prática clínica
especializada

O projecto tem como finalidade ser mais uma alternativa para a


administração de terapêutica no controlo sintomático. Neste caso actuamos
considerando a competência A.127 – desenvolve uma prática profissional e ética

26
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
27
Ibidem

70
no seu campo de intervenção, tendo em conta as seguintes unidades de
competência e os critérios de avaliação.

Unidade de competência Critérios de avaliação

A.1.3.1 desempenha um papel de consultor


quando os cuidados requerem um nível de
competência correspondente à sua área de
A.1.3 Lidera de forma
especialidade
efectiva os processos de
A.1.3.2 reconhece a sua competência na sua
tomada de decisão ética de
área especialidade
maior complexidade na sua
A.1.3.3 toma a iniciativa de conduzir os
área da especialidade
processos
A.1.3.4 recolhe contributos e suscita a análise
dos fundamentos das decisões

A.1.4.1 afere os resultados das tomadas de


decisão com o processo e a ponderação
A1.4 Avalia o processo e os
realizada
resultados da tomada de
A.1.4.2 avalia os resultados e partilha-os para
decisão
promover o desenvolvimento da prática
especializada

Está patente, no planeamento do projecto a segurança, dando resposta à


competência B.328 – Cria e mantêm um ambiente terapêutico e seguro, tendo em
conta a seguinte unidade de competência e os critérios de avaliação.

28
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

71
Unidade de competência Critérios de avaliação
B.3.1.4 demonstra conhecimento e
B.3.1 promove um ambiente compreensão das questões relativas ao
físico, psicossocial, cultural e fornecimento de um ambiente seguro
espiritual gerador de segurança B.3.1.5 promove a aplicação dos princípios
e protecção dos indivíduos relevantes para garantir a segurança da
administração de substâncias pelos pares

O desenvolvimento deste projecto tem por base a melhoria dos cuidados


prestados à pessoa com doença crónica e /ou paliativa. Neste âmbito,
consideramos que é mobilizada a competência B229 – concebe, gere e colabora
em programas de melhoria contínua da qualidade, tendo em conta as seguintes
unidades de competência e os critérios de avaliação.

Unidade de competência Critérios de avaliação


B.2.1.1 acede à evidência científica e às normas
necessárias para a avaliação da qualidade
B.2.1.2 define e indicadores para medição válida da
B.2.1 avalia a qualidade
qualidade
dos cuidados de
B.2.1.3 utiliza indicadores de avaliação da estrutura
enfermagem nas vertentes
ao nível da organização, recursos humanos e
de estrutura, processo e
materiais
resultado
B.2.1.4 realiza auditorias clínicas
B.2.1.5 aplica instrumentos de avaliação de
resultado de resultado
B.2.2.1 identifica oportunidades de melhoria
B.2.2 Planeia programas
B.2.2.2 estabelece prioridades de melhoria
de melhoria continua
B.2.2.3 selecciona estratégias de melhoria
B.2.3.1 supervisiona os processos de melhoria e o
B.2.3 lidera programas de desenvolvimento da qualidade
melhoria B.2.3.2 normaliza e actualiza as soluções eficazes e
eficientes

29
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

72
Dado que este projecto implica o envolvimento de enfermeiros, médicos e
equipa de cuidados paliativos, é necessário ter em conta a competência C230 –
Adapta a liderança e a gestão dos recursos às situações e ao contexto visando a
optimização da qualidade dos cuidados, tendo em conta a seguinte unidade de
competência e os critérios de avaliação.

Unidade de competência Critérios de avaliação

C.2.2.1 reconhece e compreende os distintos e


interdependentes papéis e funções de todos os
membros da equipa. Promove um ambiente
C.2.2 adapta o estilo de positivo e favorável à prática
liderança e adequa-o ao C.2.2.2 aplica estratégias de motivação da equipa
clima organizacional para um desempenho diferenciado
C.2.2.4 usa os processos de mudança para
influenciar a introdução de inovações na prática
especializada

Consideramos, também, a competência B.131 – desempenha um papel


dinamizador no desenvolvimento e suporte das iniciativas estratégicas
institucionais na área da governação clínica, tendo em conta as seguintes
unidades de competência e os critérios de avaliação.

Unidade de competência Critérios de avaliação

B.1.1.1 participando na definição de metas para a


melhoria da qualidade dos cuidados ao nível
organizacional
B.1.1 inicia e participa em B.1.1.2 desenvolve aptidões a nível da análise e
projectos institucionais na planeamento estratégico da qualidade dos cuidados
área da qualidade B.1.1.3 colabora na realização de actividades na
área da qualidade
B.1.1.4 comunica os resultados das actividades
institucionais na área da qualidade aos enfermeiros

30
Ibidem
31
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

73
Unidade de competência Critérios de avaliação

B.1.2.1 detém conhecimentos sobre as directivas na


B.1.2 incorpora directivas
área da qualidade e melhoria continua
e conhecimentos na
B.1.2.2 divulga experiência como sendo de sucesso
melhoria da qualidade na
B.1.2.3 promove a incorporação dos conhecimentos
prática
na área da qualidade na prestação de cuidados

Pretendemos, assim, com este projecto, que o enfermeiro especialista e


mestre, seja um dinamizador na área de projecto de melhoria contínua da
qualidade contribuindo com o seu conhecimento, experiência e motivação dos
pares para a melhoria dos cuidados a prestar aos clientes que recorrem à
unidade. Sendo facilitador na tomada de decisão no seu campo de intervenção.
Considerando a alínea b) e c) do art. 88º do Código Deontológico do Enfermeiro –
em que procura adequar as normas da qualidade às necessidades concretas das
pessoas, e manter a actualização contínua dos seus conhecimentos.
A competência de Mestre que mobilizamos neste projecto, utilizando a
metodologia de projecto, prende-se com a promoção da prática de cuidados
baseada na evidência, em que analisamos, concebemos e implementamos
resultados de investigação e contributos da evidência científica para a resolução
de problemas, e usamos capacidades de investigação apropriadas para melhorar
e fazer evoluir a prática.

74
3. APRENDIZAGENS DESENVOLVIDAS

Neste capítulo relatamos algumas situações que ocorreram durante o


período de estágio, e que contribuíram para o desenvolvimento pessoal e
profissional, bem como para a mobilização dos conhecimentos teóricos adquiridos.
Evidenciamos que algumas delas não se reportam apenas aos momentos de
estágio, uma vez que o efectuamos no serviço onde exercemos. E, por esse
motivo demos continuidade ao trabalho desenvolvido com os doentes para além
dos turnos de estágio.

3.1. UMA EXPERIÊNCIA NA UNIDADE DE CUIDADOS PALIATIVOS

O Estágio III, estágio opcional, foi realizado na Unidade de Cuidados


Paliativos de S. Bento de Menni na Casa de saúde da Idanha. Tendo em conta,
por um lado, o percurso formativo que fizemos nos últimos anos, que se prende
com o cuidado à pessoa/família com doença crónica/paliativa, e por outro lado, o
desenvolvimento do projecto de intervenção, na Unidade de Pneumologia onde
desempenhamos funções, que se prende com a implementação da via
subcutânea para administração de terapêutica e hidratação à pessoa com
patologia crónica e/ou paliativa. Optamos por esta Unidade por ser uma referência
a nível nacional em cuidados paliativos. Realizamos o estágio de 18 a 25 de
Fevereiro de 2011, com o total de 44 horas. E, tinha como objectivo geral:
 Aprofundar conhecimentos no cuidado de enfermagem ao doente/família
em fim de vida.
E, como objectivos específicos:
 Aprofundar conhecimentos da técnica de Hipodermoclise;
 Desenvolver competências na utilização da via subcutânea para
administração de terapêutica e hidratação.
A Unidade de Cuidados Paliativos S. Bento de Menni situa-se em Belas, é
composta por quartos individuais equipados com cama, mesa-de-cabeceira,
cadeirão, roupeiro, mesa de refeição, tem ainda televisão e é decorada com
objectos pessoais da pessoa que ocupa o quarto.

75
A primeira impressão que tivemos da Unidade, no primeiro dia de estágio,
foi muito positiva e superou as expectativas. Não conhecíamos a Unidade,
apenas tínhamos ouvido falar dela por colegas que lá tinham estagiado. O que
mais nos surpreendeu foi o ambiente familiar da Unidade. É composta por dez
quartos individuais, várias casas de banho, uma sala com banheira de
hidromassagem, uma sala de estar/refeições, uma sala para conferências
familiares, a sala dos profissionais e uma copa. O hall é revestido a azulejos
coloridos, dando a impressão de uma residência familiar. A sala com banheira de
hidromassagem é muito apreciada pelos doentes. Esta tem um ambiente muito
calmo, com música relaxante da preferência do doente, onde se podem colocar
velas e cheiros conforme o gosto da pessoa. Testemunhamos esta experiência e
observamos a satisfação de um doente nesta sala.
As refeições são servidas em pequenas quantidades, com óptima
apresentação de modo a cativar os doentes. Apesar da refeição ser igual para
todos os doentes, várias vezes vi satisfazerem pequenos desejos que os doentes
manifestavam como, pataniscas de bacalhau, salada de tomate, bolo de
chocolate e vinho. Esta é uma grande preocupação da equipa, principalmente da
equipa de enfermagem. Estão muito despertos para os detalhes. Presenciamos a
satisfação de uma doente internada na Unidade, que gostava imenso de apanhar
sol de manhã após os cuidados de higiene, e pedia para abrir a janela e puxar o
cortinado para ver o sol. O período de estágio ocorreu em Fevereiro, estava frio
mas houve a oportunidade de satisfazer a vontade da doente. O quarto dá para
um pequeno jardim, onde o ambiente é muito calmo, ouvindo-se os pássaros a
cantar. Esta doente era diabética mas gostava imenso de chocolate, e em dias
alternados davam-lhe um quadradinho de tablete de chocolate. Era uma delícia
ver a satisfação da doente a saborear o chocolate, mesmo que depois tivesse que
ser administrada insulina.
A equipa é constituída por Médicos, Enfermeiros, Auxiliares, Psicóloga,
Assistente Social, Assistente Espiritual e Padre. No primeiro dia de estágio
tivemos oportunidade de assistir a uma reunião de equipa, onde foram
apresentados todos os doentes. Todos profissionais evidenciam a informação de
acordo com a sua área de competência e estabelecem um plano de intervenção.

76
A reunião é dinamizada pela Enfermeira Chefe. No início da passagem de
informação, de cada doente, um profissional fica responsável por elaborar o plano
de intervenção da equipa onde são identificadas as
necessidades/problemas/pontos fortes, estabelecendo metas e um prazo para a
execução, bem como o registo no final se a meta foi total, parcial ou não atingida.
Posteriormente identifica-se a intervenção e o responsável pela execução. O que
esta reunião tem de diferente é que todos os profissionais da equipa
multidisciplinar se reúnem e decidem em conjunto o plano para cada pessoa, e
consoante a necessidade identificada é designado o profissional que poderá dar a
melhor resposta. Nesta discussão de casos o doente é visto como um todo, sendo
também incluída a família. Em algumas situações eram abordadas as
necessidades da família, ou seja, o modo como esta se encontrava a lidar com
toda a situação. Se fosse identificada alguma necessidade, também este
problema era alvo da atenção dos profissionais e designava-se um responsável
ou mais para executar a estratégia estabelecida pela equipa.
A equipa promove várias iniciativas de convívio com os doentes,
familiares e outras pessoas que tenham tido familiares internados na Unidade.
Criaram uma Associação “Afectos para a vida” que promove várias iniciativas no
âmbito dos cuidados paliativos e dão apoio a familiares no processo de luto.
A equipa de enfermagem é uma equipa jovem, mas muito motivada e que
se apoiam muito uns aos outros nos momentos críticos, valorizando muito as
capacidades de cada um, e elogiando-se nas actividades executadas com êxito.
Cada doente tem um processo único, onde todos os profissionais
registam diariamente as ocorrências. Existem uma folha de identificação com os
dados gerais da pessoa, o motivo do internamento, os dados do convivente
significativo e um espaço para informações relevantes. Cada profissional tem uma
folha de identificação de necessidades (enfermeiro, psicóloga, assistente
espiritual). Compõe ainda o processo as escalas de avaliação dos sintomas
(escala de Edmonton), a escala de avaliação de actividades de vida diária (índice
de Katz), a escala de performance em cuidados paliativos (PPS versão 2), a
escala de avaliação de risco de úlcera de pressão (escala de Braden), e a
avaliação dos factores de risco de luto complicado. Para além desta informação
existe ainda o plano de intervenção, a folha de terapêutica e o registo da

77
conferência familiar. Neste sentido, cada profissional faz o registo sequencial na
folha, ou seja, só existe um diário onde todos os profissionais registam a
informação.
Durante este período de estágio não tivemos oportunidade de visualizar a
execução da técnica de hipodermoclise, uma vez que nenhum dos doentes que
se encontravam internados necessitava desta técnica. No entanto, foi-nos
facultada alguma bibliografia e os enfermeiros, nomeadamente a Enfermeira
Orientadora deram-nos várias indicações de acordo com a sua vasta experiência
em cuidados Paliativos.
Apesar de termos traçado objectivos muito concretos para este estágio
opcional, não nos focamos apenas nesses objectivos traçados inicialmente, mas
tentamos aproveitar ao máximo esta experiência que se revelou bastante
enriquecedora. Apesar de ser uma área de interesse, ainda não tínhamos tido
oportunidade conhecer estas unidades, que são bastante recentes em Portugal.
O ambiente tranquilo, o controlo sintomático e o cuidado da pessoa e
família como um todo, por toda a equipa foi bastante importante, contribuindo
para a consciencialização de que o cuidar de uma pessoa pode ser feito em
equipa. Os conhecimentos que tínhamos, e a pesquisa que efectuamos, vieram a
verificar-se na realidade.
Como aspectos positivos realçamos a importância da equipa de
enfermagem atribuir grande valor aos detalhes, como satisfazer pequenos
desejos, proporcionar um ambiente quase familiar. As palavras «tranquilo» e
«confortável» eram quase como obrigatórias e esforçavam-se imenso para que
assim fosse. Recordamos, ainda, o cheiro a alfazema quando se entrava na
Unidade cerca das 7:30, este aroma diário cria um ambiente agradável.
A competência de Mestre relacionada com o desenvolvimento autónomo
de conhecimentos e competências, ao longo da vida e em completo às adquiridas,
relacionada, especificamente com a identificação dos próprios recursos pessoais,
ajustados às necessidades de formação do projecto pessoal/profissional, e a
valorização do auto formação como ponto fundamental do desenvolvimento, é
ilustrada neste ponto. Ou seja, a realização do estágio, bem como a procura de
bibliografia relacionada com o projecto desenvolvem esta competência de Mestre.

78
3.2. COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

Sr. L.G., angolano, de 46 anos de idade, transplantado ao pulmão


acerca de 1 ano, com várias intercorrências no pós-operatório imediato
e tardio, e vários internamentos na Unidade. Conhece bem toda a
equipa, com quem foi estabelecendo uma relação muito próxima antes
do transplante pulmonar e no pós-transplante. O transplante é um
tratamento muito desejado, porque se «considera muito novo e tem uma
filha pequena que precisa dele». Conhece os riscos do transplante,
adere a todas as indicações dos profissionais. No entanto, o seu estado
começa a degradar-se e entra em processo de rejeição. É feita toda a
terapêutica/tratamento para a rejeição, sem evidência de resultado. O
doente apercebe-se. Quer falar com a médica, que evita dirigir-se ao
quarto. O doente fala com os enfermeiros, quer saber «a situação
dele» ….

De acordo com o relato anterior, evidenciamos que esta situação estava a


causar grande mal-estar na equipa, principalmente na equipa de enfermagem que
se via confrontada com várias perguntas do doente às quais não sabia responder
e achava que não seria da sua competência.
Perante o caso exposto, procuramos falar com o doente, mostrando
disponibilidade para o ouvir e compreender as suas necessidades, uma vez que
já tinha manifestado a vontade de falar com a médica de modo a compreender a
sua situação. No fundo, o doente queria saber a verdade sobre o seu estado de
saúde. Por um lado, achava que a situação era grave, por outro a médica ia
sempre tentando fazer mais alguma coisa. E, o doente nesta situação queria
saber se «existia mais algum tratamento que se pudesse fazer, se podia ser
transplantado de novo, em Portugal ou no estrangeiro». Perante esta situação, de
perceber quais as dúvidas e expectativas combinamos com o doente que
falaríamos com a médica no sentido de o esclarecer melhor.

79
Após os conhecimentos adquiridos nas várias Unidades Temáticas
(análise do código deontológico do enfermeiro, relação de ajuda, ética de
enfermagem e cuidados ao cliente em fim de vida) percebemos que tínhamos
adquirido conhecimentos que nos levavam a analisar a situação e desencadear
os meios para a sua resolução, e sentimos, também, que tínhamos a
responsabilidade para actuar neste caso.
Neste caso mobilizamos a competência k.1 32 – cuida da pessoa a
vivenciar processos complexos de doença critica e/ou falência orgânica, tendo em
conta a seguinte unidade de competência e os critérios de avaliação:

Unidade de competência Critérios de avaliação

K.1.6.1 inicia a relação terapêutica,


reconhecendo as transacções da
relação
K.1.6 gere o estabelecimento da K.1.6.2 reconhece o impacto das
relação terapêutica perante a transacções da relação
pessoa/família em situação critica e K.1.6.3 selecciona e utiliza de forma
ou falência orgânica adequada, as habilidades de relação
de ajuda
K.1.6.4 avalia o processo de relação
estabelecida com a pessoa

Após a conversa com o doente dirigimo-nos à médica, falamos-lhe da


necessidade do doente «ouvir dela toda a verdade». Falámos das dúvidas em
relação ao prognóstico, apesar de o doente ter bastantes conhecimentos, estes
necessitavam de ser confirmados. A médica percebeu a necessidade do doente,
mas referiu que não sabia como dizer ao doente que «não há mais nada fazer».
Perante esta situação em que o transplante de órgãos é um tratamento de última
linha, que provoca tantas expectativas nos profissionais e nas pessoas doentes,
quando não tem o êxito desejado é visto como um fracasso e por vezes temos
dificuldade em lidar com tudo isto.

32
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011

80
Perante esta situação argumentamos e disponibilizamo-nos para
estarmos presentes no momento da conversa com o doente. A médica concordou
e disse que o faríamos no dia em que estivesse de urgência interna. Assim foi, no
dia seguinte, depois da passagem de turno (cerca das 17 horas) fomos falar com
o doente. Refiro que apesar de termos terminado o turno achamos importante
ficar mais algum tempo, pois tínhamo-nos comprometido com o doente e a
médica, e este seria o momento ideal, ou poderíamos não ter outro. Mobilizamos
a competência K1 33 - cuida da pessoa a vivenciar processos complexos de
doença critica e/ou falência orgânica, tendo em conta a seguinte unidade de
competência e os critérios de avaliação.

Unidade de competência Critérios de avaliação

K.1.5.1 demonstra conhecimentos


aprofundados em técnicas de
comunicação
K.1.5 gere a comunicação interpessoal
K.1.5.2 demonstra conhecimento e
que fundamenta a relação terapêutica
estratégias facilitadoras da
com a pessoa /família face à situação
comunicação
de alta complexidade do seu estado de
K.1.5.3 adapta a comunicação à
saúde
complexidade do estado de saúde da
pessoa em situação critica e ou
falência orgânica

Contudo, nesta situação, apesar do doente conhecer os riscos de rejeição


do órgão, ele queria confirmar essa informação, se isso se estava a passar com
ele. Por um lado, tinha a informação do que poderia ocorrer, por outro estava a
vivê-lo, e necessitava de saber se isso correspondia ao que ele estava a pensar.
Assim, esta conversa que ele tanto queria, pode ser considerada uma “má notícia”.
Deste modo mobilizamos os conhecimentos da Unidade Temática – cuidados ao
cliente em fim de vida, para falar com o doente.

33
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011

81
Perante estas indicações de comunicação de más notícias, tivemos em
consideração o ambiente, ou seja o doente encontrava-se sozinho num quarto,
tivemos a preocupação de nos sentarmos e dizer que estávamos ali para falar
com ele acerca do que ele bem entendesse. Tentamos perceber o que ele sabia,
e o que queria saber. Depois fomos respondendo às perguntas concretas que ele
ia fazendo. Estivemos atentas à reacção do doente mostrando que estávamos
com ele, e que o ajudaríamos naquilo que ele precisasse e que estivesse ao
nosso alcance.
O doente perguntou se haveria algum tratamento que pudesse travar a
progressão da doença, em Portugal ou no estrangeiro, ao qual foi respondido que
não. Fez várias perguntas, aparentemente já as tinha pensado, pois alguma delas
já as tinha feito aos enfermeiros.
Posteriormente mencionou vontade de ir passar o fim-de-semana a casa,
e que necessitava de transporte uma vez que se encontrava a fazer oxigénio e
não tinha recursos para pagar uma ambulância. Foi-lhe dito que falaríamos com a
Assistente Social para providenciar um transporte. No final da conversa
mostramos disponibilidade para o ajudar naquilo que precisasse e que continuaria
a ser seguido por nós, não era por não termos um tratamento para situação dele
que deixaria de ser nosso doente. Continuaria a vir às consultas, a fazer a
medicação, a ser acompanhado por nós como até ali, mas agora com outras
necessidades (ele sorriu). O doente foi passar o fim-de-semana a casa e
passados três dias foi reinternado. Perante o descrito, mobilizamos a
competência L634 – estabelece relação terapêutica com pessoas com doença
crónica, incapacitante e terminal, com os seus cuidadores e familiares, de modo a
facilitar o processo de adaptação às perdas sucessivas e à morte, considerando
as seguintes unidades de competência:

34
Competências especificas do enfº especialista em pessoa em situação crónica e paliativa, OE 2011

82
Unidade de competência Critérios de avaliação

L6.1.1 incentiva, activamente doente, cuidadores


L.6.1 promove parcerias
como parceiros na avaliação, planeamento,
terapêuticas com o indivíduo
execução e avaliação dos cuidados
portador de doença crónica
L.6.1.2 identifica e defende, sistematicamente,
incapacitante, cuidadores e
objectivos de actuação, metas a alcançar,
família
prioridades e decisão de cuidados a prestar,
dentro do acordado

L.6.3.1 suporta e consolida recursos pessoais,


facilitando a tomada de decisão e realização de
L6.3 negoceia objectivos/metas definidas em confronto com as
objectivos/metas de necessidades de cuidados
cuidados, mutuamente L6.3.2 utilização de ferramentas de comunicação
acordados dentro do adequadas, de forma a promover uma
ambiente terapêutico comunicação honesta, esperança realista e ajuste
de expectativas
L.6.3.3 ajuda o doente a completar, gradualmente
tarefas de desenvolvimento de fim de vida

Após esta conversa podem ser muitos os sentimentos que emergem. O


doente é confrontado com uma perda, e passará por um processo de luto. No
caso do Sr. L. G. a perda reporta-se a uma expectativa, uma vez que ele
depositava grande confiança no transplante pulmonar, e no caso dele a qualidade
e esperança de vida estavam muito aquém do esperado e verificado noutros
doentes transplantados com quem convivia no hospital. Neste caso, mobilizamos
a competência K1 35 – cuida da pessoa a vivenciar processos complexos de
doença critica e/ou falência orgânica, tendo em conta a seguinte unidade de
competência e os critérios de avaliação.

35
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011

83
Unidade de competência Critérios de avaliação

K.1.4.1 demonstra conhecimentos


sobre a gestão da ansiedade e do
K.1.4 assiste a pessoa e a família nas
medo
perturbações emocionais decorrentes
K.1.4.2 demonstra conhecimentos e
da situação critica de saúde/doença e
habilidades facilitadoras da
falência orgânica
“dignificação da morte” e dos
processos de luto

36
Nesta situação, também, mobilizamos a competência A1 –
desenvolvimento de uma pratica profissional e ética no seu campo de intervenção,
considerando a unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

A.1.2.1 as situações são avaliadas


usando técnicas de tomada de decisão
A.1.2.2 as decisões são guiadas pelo
A.1.2 suporta a decisão em princípios, código deontológico
valores e normas deontológicas A.1.2.3 incorpora elementos de
enquadramento jurídico no julgamento
de enfermagem
A.1.2.4 promove o exercício
profissional de acordo com o código
deontológico

Bem como a competência A2 37 – promove práticas de cuidados que


respeitam os direitos humanos e as responsabilidades profissionais, tendo em
conta a seguinte unidade de competência:

36
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
37
Ibidem

84
Unidade de competência Critérios de avaliação

A.2.1.1 assume a defesa dos direitos humanos


A.2.1.2 promove o respeito pelo direito dos
clientes no acesso à informação A.2.1.5
promove o respeito do cliente à escolha e
A.2.1 promove a protecção
autodeterminação
dos direitos humanos
A.2.1.6 promove o respeito pelos valores,
costumes, as crenças espirituais
A.2.1.7 reconhece e aceita os direitos dos
outros

No caso do Sr. L.G. foram tidos em conta para além do art. 84 do Código
Deontológico do enfermeiro – Do dever de informação, foram considerados
também valores como a verdade e a liberdade responsável alínea c) e d) do art.
78º do Código Deontológico do Enfermeiro, bem como a alínea d) da BASE V, da
Lei de Bases dos Cuidados Paliativos (2012:5120) “ser informado sobre o seu
estado clínico, se for essa a sua vontade”.
38
Mobilizamos a competência B3 – cria e mantém um ambiente
terapêutico e seguro, considerando a unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

B.3.1.1 promove a sensibilidade,


consciência e respeito pela identidade
cultural e necessidades espirituais
B.3.1.2 promove a sensibilidade,
B.3.1 promove um ambiente físico,
consciência e respeito em relação às
cultural e espiritual gerador de
necessidades espirituais do indivíduo
segurança e protecção
B.3.1.3 envolve a família no sentido de
assegurar que as necessidades
culturais e espirituais são satisfeitas.

38
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

85
Ao concluir esta análise e passado algum tempo sobre o vivido,
pensamos que o modo de actuação foi o correcto. No entanto, reconhecemos que
só foi possível com base nos conhecimentos adquiridos nas várias unidades
curriculares. Aprendemos que a comunicação das más notícias é difícil de dar.
Pensamos que o enfermeiro especialista tem um papel fundamental na equipa,
deve ser proactivo, e estar presente quando o médico comunica uma notícia
desta natureza. O que aprendemos é que em situações semelhantes falaremos
com a médica e delineamos estratégias em conjunto tendo em conta o direito do
doente à informação. Todavia, há outros aspectos que poderemos melhorar
principalmente relacionados com a equipa. É necessário efectuar formação em
serviço sobre o tema.
Neste contexto é necessário desenvolvermos a competência L6 39 -
estabelece relação terapêutica com pessoas com doença crónica, incapacitante e
terminal, com os seus cuidadores e familiares, de modo a facilitar o processo de
adaptação às perdas sucessivas e à morte, considerando a seguinte unidade de
competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

L6.4.1 responde de forma eficaz em


L6.4 reconhece os efeitos da natureza que identifica factores de risco e
do cuidar, em indivíduos, cuidadores, situações problemáticas, associadas à
familiares, em si e outros membros da exaustão física e emocional
equipa L6.4.3 aplica estratégias que apoiam
os membros da equipa de saúde

No entanto, no dia em que falámos com o doente, apesar de acharmos


que estávamos a proceder correctamente, estávamos preocupadas pois não
sabíamos como seria a reacção do doente após ser confrontado com a ausência
de tratamento. Comunicamos aos enfermeiros que estavam de turno nesse dia
que tínhamos falado com o doente, para eles estarem atentos. Mas em situações

39
Competências do Enfº Especialista em Pessoa em Situação crónica e Paliativa – OE, 2011

86
futuras penso que poderemos falar com a equipa no sentido de não resolver só
um problema mas que possamos todos crescer com as decisões que tomamos.
O Sr. faleceu cerca de um mês depois no hospital, no entanto
consideramos que respeitamos o doente, e não quebramos a relação de
confiança estabelecida, pois mobilizamos a competência L6 40 – estabelece
relação terapêutica com pessoas com doença crónica, incapacitante e terminal,
com os seus cuidadores e familiares, de modo a facilitar o processo de adaptação
às perdas sucessivas e à morte, considerando a seguinte unidade de
competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

L.6.2.1 integra conhecimentos avançados a


nível social, espiritual, cultural, contextos e
vivências dos doentes, quando intervém em
necessidades multidimensionais
L.6.2 respeita a singularidade L.6.2.2 demonstra, também, resultados
e autonomia individual, qualificados, individualizados e atempados de
quando responde a vivências comunicação entre indivíduos, cuidadores e
individuais específicas, a membros da equipa, salvaguardando
processos de morrer e de luto necessidades individuais, desejos e respectivos
cuidados
L.6.2.3 apoia o doente, cuidadores, familiares,
sistematicamente, nas perdas sucessivas e
tarefas de resolução do luto

As competências de Mestre que mobilizamos, neste caso, prendem-se


com a concepção, gestão, e supervisão clínica dos cuidados de enfermagem. Em
que realizamos uma avaliação exaustiva do indivíduo, analisamos criticamente os
dados para uma tomada de decisão segura. Efectuamos o diagnóstico,
prescrevemos intervenções gerais e especializadas, referenciamos para outros
profissionais, e avaliamos a prática, de modo a assegurar cuidados de qualidade.

40
Ibidem

87
Podemos ver, também, a mobilização de outra competência de mestre,
relacionada com o desenvolvimento da tomada de decisão e raciocínio que
conduzem à construção da aplicação de argumentos rigorosos. Nomeadamente,
a selecção de meios e estratégias de resolução de um problema, de forma
fundamentada, e avaliação de resultados e ganhos em saúde sensíveis aos
cuidados de enfermagem, e na perspectiva das repercussões éticas e
deontológicas. Assim, com base neste caso específico, identificamos a
necessidade do doente, relacionada com informação do seu estado clínico, e
desencadeamos uma série de intervenções no sentido de resolvermos essa
mesma necessidade/problema. Concomitantemente, a tomada de decisão tem em
consideração aspectos éticos e deontológicos, nomeadamente a verdade e a
justiça, bem como o dever de informação (art. 78º, e art. 84º do código
deontológico do enfermeiro).

3.3. DIGNIDADE HUMANA

Sr. M.C., 62 anos de idade, com Neoplasia de Pulmão, recorre ao


Serviço de Urgência por toracalgia, disfagia, dispneia e edema dos
membros inferiores. Fica internado por Derrame Pleural. O Sr. vive
sozinho num quarto alugado, é solteiro, não tem filhos, tem uma irmã e
um sobrinho com os quais cortou relações e não demonstra interesse
em reatar relações. Indica como pessoa de referência o patrão Sr. P. O
doente é parcialmente dependente nas AVD devido à dispneia.
Apresenta dor de grau 8 na região supraclavicular direita com irradiação
para o crânio, que alivia na posição de decúbito lateral esquerdo.
Apresenta marcada disfagia, pedindo com frequência iogurtes naturais
às refeições.

88
O Sr. esteve internado na Unidade de Pneumologia de 4 de Fevereiro a 1
de Março de 2011, dia em que faleceu. Neste período estávamos a realizar
estágio no serviço, e posteriormente ausentámo-nos no período de 18 de
Fevereiro a 1 de Março para realizar o estágio na Unidade de Cuidados Paliativos.
Pelo que o relato desta experiência se reporta às duas primeiras semanas de
internamento e aos dias seguintes ao falecimento do doente.
No dia em que conhecemos o Sr. M. este encontrava-se deitado em
decúbito lateral esquerdo e o tabuleiro do pequeno-almoço encontrava-se em
cima da mesa. Apresentamo-nos ao doente e perguntamos se precisava de ajuda
para tomar a refeição. Ele respondeu num tom um pouco agressivo que não.
Tentamos saber porque se sentia assim, ao qual o doente respondeu que “não
conseguia engolir, e que tinha pedido um iogurte natural”, responderam que só
tinham iogurte de aroma de morango. E por esse motivo ele não queria comer.
Pediu se podíamos ir comprar iogurtes naturais pois ele tinha dinheiro para pagar.
Pedimos que aguardasse um pouco, pois iríamos providenciar um iogurte
conforme o seu desejo. Contactamos o serviço de dietética e pedimos dois
iogurtes naturais para o doente bem como o apoio da Dietista para vir
personalizar a dieta do Sr. M. uma vez que este apresentava disfagia marcada.
Passados uns minutos a Assistente Operacional levou os dois iogurtes.
Ajudamos o Sr. a levantar-se, sendo que nesse momento referiu que tinha muitas
“dores na cabeça” principalmente quando se levantava, estas só aliviavam se
permanecesse deitado para o lado esquerdo. Prometemos-lhe que iríamos ver
que terapêutica tinha para as dores. O doente apresentava-se sub-medicado face
à dor que apresentava (grau 8 na escala numérica) pelo que solicitamos ao
médico assistente do doente que observa-se o Sr. Posteriormente optou-se por
pedir apoio à Equipa de Cuidados Paliativos de CHLC, e esta dirigiu-se nesse
mesmo dia ao serviço, tendo medicado o Sr. M. Também, foi providenciada uma
televisão para o quarto, bem como o jornal como motivo de distracção do doente.
Neste contacto, salientamos a disponibilidade que é necessária para ouvir
o doente, perceber quais são as suas necessidades e estabelecer uma relação
empática. O enfermeiro tem em conta o ponto 1 do art. 78º do Código
Deontológico do Enfermeiro, em que as intervenções de enfermagem são
efectuadas com a preocupação da dignidade da pessoa humana. Mobilizamos a

89
competência k.141 - cuida da pessoa a vivenciar processos complexos de doença
critica e/ou falência orgânica, considerando a unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

K.1.6.1 inicia a relação terapêutica


reconhecendo as transacções da relação
K.1.6 gere o estabelecimento da K.1.6.2 reconhece o impacto das transacções
relação terapêutica perante a da relação
pessoa/família em situação K.1.6.3 selecciona e utiliza de forma
critica e ou falência orgânica adequada as habilidades de relação de ajuda
K.1.6.4 avalia o processo de relação
estabelecida com a pessoa

Mobilizamos, também, a competência L.542 - identifica as necessidades


das pessoas com doença crónica e incapacitante e terminal, seus cuidadores e
familiares, tendo em conta as seguintes unidades de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

L.5.1.1 Avalia e diagnostica as necessidades


de cuidados paliativos L.5.1.2 avalia e
identifica os sintomas descontrolados segundo
L.5.1 identifica as necessidades a intensidade e prioridade
das pessoas com doença L.5.1.3 analisa e valoriza o peso das variáveis
crónica e incapacitante e psico-emocionais, valores e crenças na
terminal, seus cuidadores e intensidade dos sintomas e do sofrimento.
familiares L.5.1.4 avalia o grau de dependência e
necessidades, promovendo o máximo de
satisfação do doente
L.5.1.5 identifica situações de agudização, em
tempo útil

41
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011
42
Competências do Enfº Especialista em Pessoa em Situação crónica e Paliativa – OE, 2011

90
Unidade de competência Critérios de avaliação

L.5.2.1 objectiva os cuidados na preservação


da dignidade da pessoa, maximizando a
L.5.2 Promove intervenções
qualidade de vida e diminuindo o sofrimento
junto da pessoa com doença
L.5.2.2 estabelece um plano individualizado
crónica, incapacitante e
L.5.2.3 adopta medidas farmacológicas L.5.2.4
terminal, cuidadores e seus
adopta medidas não farmacológicas
familiares
L.5.2.5 actua em tempo útil nas situações de
agudização

43
Nesta relação mobilizamos a competência D.1 – desenvolve o
autoconhecimento e a assertividade, considerando a unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

D.1.1.1 desenvolve o auto-


conhecimento para facilitar a
identificação de factores que podem
interferir no relacionamento com a
pessoa e/ou a equipa
D.1.1 detém uma elevada consciência
D.1.1.2 gere as suas idiossincrasias na
de si enquanto pessoa e enfermeiro
construção dos processos de ajuda
D.1.1.3 reconhece os seus limites
pessoais e profissionais
D.1.1.4 consciencializa a influência
pessoal na relação profissional

Mobilizamos a competência C.1 44 - gere os cuidados, optimizando a


resposta da equipa de enfermagem e seus colaboradores e a articulação na
equipa multiprofissional, tendo em conta a unidade de competência:

43
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
44
Ibidem

91
Unidade de competência Critérios de avaliação

C.1.1.1 disponibiliza assessoria aos


enfermeiros e equipa
C.1.1.2 colabora nas decisões da
equipa multiprofissional
C.1.1 optimiza o processo de cuidados
C.1.1.3 intervêm de forma a melhorar a
ao nível da tomada de decisão
informação para o processo de cuidar
C.1.1.4 reconhece quando negociar ou
referenciar para outros prestadores de
saúde

Concomitantemente, também, mobilizamos a competência a K.1 45 -


cuida da pessoa a vivenciar processos complexos de doença critica e/ou falência
orgânica, considerando as unidades de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

K.1.3.1 identifica evidências fisiológicas e


emocionais de mal-estar
K.1.3.2 demonstra conhecimentos sobre
bem-estar físico, psico-social e espiritual
K.1.3 faz a gestão diferenciada da
na resposta às necessidades da pessoa
dor e do bem-estar da pessoa em
em situação critica.
situação critica e ou falência
K.1.3.3 garante a gestão de medidas
orgânica, optimizando as respostas
farmacológicas de combate à dor K.1.3.4
demonstra conhecimentos e habilidades
em medidas não farmacológicas para o
alívio da dor

45
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011

92
Unidade de competência Critérios de avaliação

K.1.2.1 diagnostica precocemente as


complicações resultantes da
implementação de protocolos
terapêuticos complexos
K.1.2 gere a administração de
K.1.2.2 implementa resposta de
protocolos terapêuticos complexos
enfermagem apropriada às complicações
K.1.2.3 monitoriza e avalia a adequação
das respostas aos problemas
identificados

No caso do Sr. M. os sintomas que se evidenciavam era a dor e a


dispneia, e onde foram planeadas intervenções para minimizar o impacto sobre a
qualidade de vida do doente.
Envolvemos a equipa de enfermagem, a equipa médica, equipa de
cuidados paliativos e dietética de forma a adequar os cuidados de forma mais
eficaz. Mobilizamos a competência L.5 46 - identifica as necessidades das
pessoas com doença crónica e incapacitante e terminal, seus cuidadores e
familiares, tendo em conta a seguinte unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

L.5.4.1 utiliza estratégias baseadas na


evidência para o desenvolvimento do
auto-conhecimento, e das capacidades
da pessoa, cuidadores e familiares
L5.4 colabora com outros membros da L.5.4.2 utiliza estratégias de
equipa de saúde e/ou serviços de apoio comunicação, de trabalho em equipa,
conhecimentos relacionados com a
ética, para tomar decisões adequadas,
evitando terapêuticas causadoras de
sofrimento

46
Competências do Enfº Especialista em Pessoa em Situação crónica e Paliativa – OE, 2011

93
47
Mobilizamos, também, a competência C.1 - gere os cuidados,
optimizando a resposta da equipa de enfermagem e seus colaboradores e a
articulação na equipa multiprofissional, tendo em conta a unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

C.1.2.1 orienta a decisão relativa às tarefas a


delegar
C.1.2 orienta e supervisiona
C.1.2.3 utiliza uma variedade de técnicas directas
as tarefas delegadas,
ou indirectas tais como a instrução ou a
garantindo a segurança e a
demonstração prática das tarefas que delega
qualidade.
C.1.2.4 supervisiona e avalia os cuidados
prestados, em situação de delegação

Neste caso a colaboração dos Assistentes Operacionais na satisfação


das Necessidades Humanas Fundamentais.
No período em que estivemos ausentes o Sr. M. faleceu, na presença de
uma colega que o acompanhou durante todo o turno da manhã. De acordo com a
informação dela o estado do Sr. degradou-se muito nessa semana, no entanto a
dor estava mais controlada (passou de 8 para 3/4 na escala numérica) estando o
doente mais tranquilo. Teve algumas vezes a visita do Patrão, o Sr. P., sendo que
este telefona com frequência para saber do seu estado. Contudo, no início ainda
abordamos o SR. M., no sentido de perceber se gostaria que contactássemos a
sua irmã e sobrinho, ao qual ele respondeu negativamente, tendo em
consideração a alínea a) do art. 87º do Código Deontológico do Enfermeiro – o
enfermeiro ao acompanhar o doente nas diferentes etapas da fase terminal, deve
defender e promover o direito da pessoa à escolha do local, e das pessoas que
deseja que o acompanhem na fase terminal da vida. Após o falecimento do Sr. M.
foi contactado o patrão, no sentido de dar conhecimento da situação. O Sr. P
prontificou-se a ir ao Hospital. Mencionou disponibilidade para levantar o espólio
do doente e proceder ao funeral.

47
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

94
Assim, mobilizamos a competência L.548 identifica as necessidades das
pessoas com doença crónica e incapacitante e terminal, seus cuidadores e
familiares, tendo em conta a unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

L.5.3.2 constrói e actualizando o plano


L.5.3 envolve cuidadores da pessoa de intervenção em parceria com os
em situação crónica, incapacitante ou cuidadores
terminal, para optimizar resultados na L.5.3.1 reúne, periodicamente com os
satisfação das necessidades cuidadores

No entanto, e de acordo com o Procedimento Multissectorial do Hospital e


Legislação Portuguesa o espólio só pode ser entregue a pessoas que sejam
familiares directos ou que tenham uma procuração. Neste sentido, o Sr. P. foi
encaminhado para a Assistente Social, sendo que o corpo só poderia ser
levantado após um mês, se nenhum familiar entretanto reclamasse o corpo. Neste
ponto tem em consideração a aliena c) do art. 87ºdo Código Deontológico do
enfermeiro – em que respeita e faz respeitar o corpo após a morte. Um mês após
a morte de Sr. M., contactamos o Serviço Social, apesar da família já ter
conhecimento ainda não tinha ido «levantar o corpo».
Neste caso temos em consideração a competência A149 – desenvolve de uma
prática profissional e ética no seu campo de intervenção, considerando a unidade
de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

A.1.2.3 incorpora elementos de


A.1.2 suporta a decisão em princípios,
enquadramento jurídico no julgamento
valores e normas deontológicas
de enfermagem

48
Competências do Enfº Especialista em Pessoa em Situação crónica e Paliativa – OE, 2011
49
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

95
50
Mobilizamos, também competência D1 - desenvolve o
autoconhecimento e a assertividade, considerando a unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

D.1.2.1 desenvolve a congruência entre o auto


e a hetero-percepção
D.1.2.2 gere sentimentos e emoções em
D.1.2 gera respostas, de ordem a uma resposta eficiente
elevada adaptabilidade D.1.2.3 actua eficazmente sob pressão
individual e organizacional D.1.2.4 reconhece e antecipa situações de
eventual conflitualidade
D.1.2.5 utiliza adequadamente técnicas de
resolução de conflitos

Perante o caso do Sr. M. mobilizamos a competência A151 – desenvolve


de uma pratica profissional e ética no seu campo de intervenção, considerando a
unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

A.1.1.1 as estratégias de resolução de problemas


são desenvolvidos em parceria com o cliente
A.1.1.2 o juízo baseado no conhecimento e
A.1.1 demonstra tomada experiência está reflectido na tomada de decisão
de decisão numa A.1.1.3 a autonomia de julgamento fundamentado
variedade de situações da reflecte-se na tomada de decisão em situações da
prática especializada prática
A.1.1.4 participa na tomada de decisão em equipa
A.1.1.5 as respostas mais apropriadas são
identificadas a partir de um amplo leque de opções

50
Ibidem
51
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

96
Consideramos, também o ponto 2 da Lei de Bases dos Cuidados
Paliativos 2012:5120), que menciona que os cuidados paliativos “devem respeitar
a autonomia, a vontade, a individualidade, a dignidade da pessoa e a
inviolabilidade da vida humana”.
A competência de Mestre, que mobilizamos neste caso prende-se com a
integração do enfermeiro, de forma proactiva, em equipas de desenvolvimento
multidisciplinar. Nesta área aplicamos os conhecimentos, capacidade de
compreensão e resolução de problemas em contextos alargados e
multidisciplinares, ou seja, consideramos as necessidades/problemas da pessoa,
planeamos intervenções com base nos conceitos, fundamentos, teorias da
enfermagem, e encaminhamos para outros técnicos, quando necessário, e
trabalhamos em colaboração com eles.

3.4. PLANO DE EMERGÊNCIA DA UNIDADE

O Hospital de Santa Marta desde há algum tempo (cerca de 10 anos), sob


coordenação do Gabinete de Gestão do Risco, implementou um plano de
emergência interno. Este gabinete tem desenvolvido várias estratégias,
nomeadamente identificação de riscos e proposta de alterações, formação dos
profissionais, simulacros em caso de incêndio, elaboração de procedimentos
multissectoriais, e criação de um sistema de relato/registo de incidentes.
Anualmente, o Hospital disponibiliza formação em suporte básico de vida,
e segurança contra incêndios, a todos os profissionais do Hospital, e suporte
avançado a um número mais restrito. As iniciativas desenvolvidas prendem-se,
também, com a afixação de cartazes com indicações simples e precisas do modo
de actuação em caso de emergência. Para além disso, existe na intranet do
Hospital um portal do gabinete onde são divulgados os procedimentos
multissectoriais da área da gestão do risco.
O plano de emergência interno contempla uma planta da Unidade e do
Hospital, com o circuito que devemos seguir para pontos de encontro. Este
encontra-se afixado à entrada da Unidade. Existem cartazes com informação
específica para profissionais e doentes/familiares ou outros que se encontrem no

97
local. Estão afixados em pontos estratégicos extintores de incêndio, que são
revistos periodicamente, bem como uma boca-de-incêndio tipo carretel. As portas
de saída de emergência estão identificadas e têm barra anti-pânico.
Em cada serviço estão nomeados interlocutores de ligação com o
gabinete de gestão do risco, que têm como principal função identificar e avaliar os
riscos da unidade de acordo com metodologia de identificação do risco; planear,
implementar e monitorizar estratégias de prevenção e/ou eliminação dos riscos;
divulgação e formação na unidade no âmbito da gestão do risco.
Na Unidade de Pneumologia, desempenhamos a função de interlocutora
da unidade com o Gabinete de Gestão do Risco. Temos participado em diversas
iniciativas de identificação dos riscos da Unidade e formação à equipa de
enfermagem. Neste sentido, mobilizamos a competência B352 – cria e mantém
um ambiente terapêutico e seguro, considerando a seguinte unidade de
competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

B.3.2.1 colabora na definição de


recursos adequados para a prestação
de cuidados seguros
B.3.2.5 desenvolve sistemas de
trabalho, de forma a reduzir a
probabilidade de ocorrência de erro
B.3.2.6 cria mecanismos formais que
B.3.2 gere o risco ao nível institucional
permitam avaliar a efectividade das
ou das unidades funcionais
estratégias, planos e processos de
gestão de risco
B.3.2.7 colabora na elaboração de
planos de manutenção preventiva de
instalações, materiais, e equipamentos
B.3.2.9 colabora na elaboração de
planos de emergência

52
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

98
Contudo, reconhecemos que a partir deste momento devemos ter um
papel mais dinâmico nesta área. Da experiência que temos tido na Unidade tem-
se verificado que muitos dos profissionais desconhecem o procedimento de
actuação em caso de incêndio. Apesar de já ter sido efectuado um simulacro no
serviço em 2010, esta área ainda não é muito valorizada.
Deste modo, torna-se importante desempenharmos um papel mais
proactivo e crítico no seio da equipa, na divulgação dos procedimentos, formação
aos profissionais da Unidade, no sentido de dar resposta à competência K.253 –
em que o enfermeiro especialista dinamiza a resposta a situações de catástrofe
ou emergência multi-vitima, da concepção à acção, tendo em conta as unidades
de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

K.2.2.1 demonstra conhecimentos dos


planos e os princípios de actuação em
situações de catástrofe
K.2.2.2 identifica os vários tipos de
K.2.2 planeia a resposta concreta ante
catástrofe e implicações para a saúde
as pessoas em situação de emergência
K.2.2.3 atribui graus de urgência e
e ou catástrofe
decidir a sequência de actuação
K.2.2.4 sistematiza as acções a
desenvolver em situação de catástrofe
ou emergência

K.2.3.1 lidera a atribuição e


desenvolvimento dos papéis dos
membros da equipa
K.2.3 gere os cuidados em situações
K.2.3.2 avalia em contínuo a
de emergência ou catástrofe
articulação e eficácia da equipa
K.2.3.3 introduz medidas correctivas
das inconformidades de actuação

53
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Regulamento nº 124/2011

99
Bem como competência K154 - cuida da pessoa a vivenciar processos
complexos de doença critica e/ou falência orgânica, considerando as unidades de
competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

K.1.1.1 identifica focos de instabilidade


K.1.1.2 responde pronta e
antecipadamente a esses focos de
K.1.1 presta cuidados à pessoa em
instabilidade
situação emergente e na antecipação
K.1.1.3 executa cuidados e técnicas de
da instabilidade e risco de falência
alta complexidade
orgânica
K.1.1.4 demonstra conhecimentos e
habilidades em suporte avançado de
vida

Uma vez que já existe um plano de emergência interno, deveremos


procurar conhece-lo na totalidade e disponibilizamo-nos para contribuir com
sugestões e/ou alterações de melhoria dando resposta à unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

K.2.1.1 Demonstrar conhecimento do


plano distrital e nacional para a
K.2.1 concebe, em articulação com o catástrofe
plano estratégico, os planos de K.2.1.1 colaborar na elaboração do
catástrofe ou emergência plano de emergência e catástrofe da
instituição/serviço

54
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Reg. nº 124/2011

100
3.5. NOVAS RESPONSABILIDADES

Nesta reflexão debruçamo-nos sobre as funções/papel que temos


desempenhado na Unidade, e que novas responsabilidades advém a partir do
momento que em que adquirimos mais formação, no âmbito do Curso de Pós
Especialização em Enfermagem Médico Cirúrgica e Mestrado.
Desde 1999 que somos o elemento de Ligação da Unidade de
Pneumologia à Comissão de Controlo de Infecção Hospitalar. Desde essa altura
temos participado em diversas iniciativas da Comissão, nomeadamente:
 Reuniões;
 Formação organizada pela Comissão e em serviço, sobre: Triagem de
Resíduos, Equipamento de Protecção Individual, Prevenção da Infecções
Associadas aos Cuidados de Saúde;
 Campanha de higienização das mãos – auditoria/observação da
higienização das mãos nos cinco momentos preconizados pela OMS, de
todos os profissionais de saúde da Unidade, e divulgação dos resultados,
na Unidade e no Hospital;
 Vigilância Epidemiológica;
 Divulgação de normas e procedimentos da Comissão a Enfermeiros e
Assistentes Operacionais;
 Colaborar na elaboração de procedimentos sectoriais na prevenção das
infecções associadas aos cuidados de saúde.
Acreditamos que a responsabilidade, a partir deste momento, deverá ser
mais interventiva, não só no grupo de elementos de ligação à Comissão como
também na Unidade de Pneumologia.
Sabemos que as infecções associadas aos cuidados de saúde (IACS)
afectam imensas pessoas, provocando não só consequências graves na vida dos
doentes, como também gasto acrescido de medicamentos e dias de internamento.
O principal veículo de transmissão das IACS é as mãos dos profissionais. Neste
sentido, devemos assumir a nossa responsabilidade e estar atentos para
mantermos a regras de higienização das mãos, bem como o uso correcto dos
equipamentos de protecção individual e o respeito da técnica asséptica nos
procedimentos justificáveis. Neste âmbito, temos participado na elaboração e

101
divulgação de procedimentos com vista ao uso das melhores práticas,
mobilizando a competência D2 55 – baseia a sua praxis clínica em sólidos e
validos padrões do conhecimento, considerando a unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

D.2.3.1 tem uma sólida base de conhecimentos


de enfermagem e outras disciplinas que
contribuem para a prática especializada
D.2.3.2 demonstra conhecimentos e aplica-os na
D2.3 provê liderança na prestação de cuidados especializados, seguros e
formulação e implementação competentes
de políticas, padrões e D.2.3.3 rentabiliza oportunidades de
procedimentos para a prática aprendizagens e toma a iniciativa na análise de
especializada no ambiente situações
de trabalho D.2.3.4 usa as tecnologias de informação e
métodos de pesquisa adequados
D.2.3.5 toma a iniciativa na formulação e
implementação de processos de formação e
desenvolvimento na prática clínica especializada

A Unidade de Pneumologia é constituída pelos sectores de: Internamento,


Hospital de Dia, Consultas Externas e Laboratório de Técnicas de função
respiratória, Endoscópicas e Pleurais. Em qualquer destes sectores deve existir
uma preocupação dos profissionais na prevenção da infecção. No entanto, no
sector do internamento e das técnicas endoscópicas este deve ter especial
atenção. Uma vez que no internamento estão pessoas com várias patologias, e
por vezes infectadas com microrganismos facilmente transmissíveis, por exemplo
bacilo da tuberculose, estafilococos aureus resistentes à meticilina, entre outros,
sendo que o serviço não possui unidades de isolamento. O mesmo acontece no
sector de técnicas onde são efectuadas exames invasivos (broncofibroscopia).

55
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

102
Apesar de ser uma técnica limpa é necessário ter controle sobre o material a ser
utilizado e à execução da técnica.
Outro aspecto que devemos ter em consideração, em relação à
prevenção e controlo da infecção associada aos cuidados de saúde,
nomeadamente a competência A.2 56 – promove práticas de cuidados que
respeitam os direitos humanos e as responsabilidades profissionais, considerando
a seguinte unidade de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

A.2.2.1 reconhece a necessidade de


prevenir e identificar práticas de risco
A.2.2.2 adopta e promove a adopção
de medidas apropriadas, com recurso
às competências especializadas
A.2.2.3 tem uma conduta preventiva e
A.2.2 gere na equipa, de forma
antecipatória
apropriada as práticas de cuidados que
A.2.2.4 recolhe e analisa informação
podem comprometer a segurança, a
com a finalidade de aumentar a
privacidade ou a dignidade do cliente
segurança das práticas, nas dimensões
ética e deontológica
A.2.2.5 identifica as acções a serem
tomadas em circunstâncias específicas
A.2.2.6 segue incidentes de prática
insegura para prevenir re-ocorrência

No papel desempenhado temos em consideração a competência B357 –


cria e mantém um ambiente terapêutico e seguro, em que o enfermeiro
especialista considera a unidade de competência seguinte;

56
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011
57
Competências comuns do Enfº Especialista – Regulamento nº 122/2011

103
Unidade de competência Critérios de avaliação

B.3.2.2 envolve os colaboradores na gestão do


risco
B.3.2.3 previne os riscos ambientais B.3.2.4
B.3.2 gere o risco ao nível desenvolve mecanismos formais para a
institucional ou das unidades participação dos incidentes, avaliação das
funcionais consequências e investigação das causas,
sem atribuição de culpa B.3.2.8 coordena a
implementação e manutenção de medidas
standard de prevenção e controlo da infecção

Entendemos que apesar de desempenharmos algumas actividades de


formação da equipa e sensibilização desta problemática, devemos ter um papel
mais activo na equipa, e considerar a competência específica K.358 em que o
enfermeiro especialista – maximiza a intervenção na prevenção e controlo da
infecção perante a pessoa em situação critica e ou falência orgânica, face à
complexidade da situação e à necessidade de respostas em tempo útil e
adequadas. Neste sentido, deveremos ter em conta as unidades de competência:

Unidade de competência Critérios de avaliação

K.3.1.1 demonstra conhecimento do Plano


Nacional de Controlo de Infecção e das
directivas das Comissões do Controlo da
K.3.1 concebe um plano de
Infecção
prevenção e controlo da
K.3.1.2 diagnostica as necessidades do
infecção para resposta às
serviço na prevenção e controlo da infecção
necessidades do contexto de
K.3.1.3 estabelece estratégias pro-activas a
cuidados à pessoa em situação
implementar no serviço visando o controlo da
critica e ou falência orgânica
infecção no serviço
K.3.1.4 actualiza o plano de prevenção e
controlo do serviço com base na evidência

58
Competências do Enfº Especialista Enfermagem Pessoa Situação Critica – Regulamento nº 124/2011

104
Unidade de competência Critérios de avaliação

K.3.2.1 demonstra conhecimentos específicos


K.3.2 lidera o desenvolvimento na área da higiene hospitalar que lhe permitam
de procedimentos de controlo ser referência para a equipa que cuida da
de infecção, de acordo com as pessoa em situação critica
normas de prevenção, K.3.2.2 estabelece os procedimentos e
designadamente das infecções circuitos requeridos face às vias de
associadas à prestação de transmissão na pessoa em situação crítica
cuidados de saúde à pessoa K.3.2.3 faz cumprir os procedimentos na
em situação critica e ou falência prevenção e controlo da infecção
orgânica K.3.2.3 monitoriza, regista e avalia medidas
implementadas

Considerando as competências comuns e específicas do enfermeiro


especialista, o aprendido e o reflectido sobre as actividades desempenhadas até
então, reconhecemos que a partir deste momento temos novas responsabilidades.
Uma das razões prende-se com o aumento de conhecimentos que sustentam a
tomada de decisão. Por um lado, aprendemos a questionar as nossas práticas,
com vista à melhoria dos cuidados que prestamos. Por outro lado, a necessidade
de procurar a evidência científica que demonstre as melhores práticas, e aplicá-la
no contexto. Este é seguramente é um dos aspectos que trouxe esta formação
especializada. Muitas vezes na prática diária não nos questionamos acerca de
actividades que «sempre foram feitas assim». Deste modo, reconhecemos que o
papel do especialista, para além de procurar estar sempre actualizado, com base
na evidência científica, deve ter um papel dinamizador na equipa, identificar
práticas de risco, planear e implementar medidas na prevenção e controlo de
infecção associada aos cuidados de saúde. Concomitantemente, identificar
necessidades de formação, e servir como uma referência na prevenção e controlo
da infecção associada aos cuidados de saúde.

105
4. CONCLUSÃO

A utilização da via subcutânea para hidratação e administração de


terapêutica, na pessoa com patologia crónica e/ou paliativa, como Plano de
Intervenção no Serviço, dentro da área Especializada em Enfermagem Médico-
Cirúrgica, surgiu após algum tempo de reflexão. Por um lado, gostaríamos de
aprofundar conhecimentos nesta área, e por outro lado, queríamos identificar algo
que fosse útil e, sentido como uma necessidade pela equipa de enfermagem
quando cuida da pessoa em fim de vida. Esta escolha deve-se, em parte, ao facto
de estarmos bastante sensibilizados para esta área, termos investido nos últimos
anos em formação neste âmbito e, também, porque na Unidade de Pneumologia
são frequentemente internadas pessoas em estado terminal. Após conversa com
a Orientadora do Local de Estágio, optámos por alargar o projecto também à
pessoa com patologia crónica. Inicialmente muito virado para o doente em fim de
vida, como uma alternativa para a hidratação e o controlo sintomático. Contudo e
dado que a Unidade tem um projecto de acompanhamento do doente crónico pelo
enfermeiro de referência, achou-se conveniente e útil alargar o campo de acção.
Daí que o enquadramento teórico englobe o cuidado de enfermagem ao
doente crónico e paliativo. Concomitantemente e sendo este um projecto de
melhoria dos cuidados no âmbito da enfermagem especializada, desenvolvemos
estes temas. A teoria do conforto de Kolcaba surge como um ponto de ancoragem
no cuidado destas pessoas/famílias.
Fomentamos pormenorizadamente a técnica da hipodermoclise e
administração de terapêutica por via SC, com evidência das indicações, contra-
indicações, vantagens e desvantagens, o procedimento técnico, bem como os
cuidados essenciais na execução e manutenção.
No diagnóstico de situação, efectuamos um questionário aos enfermeiros,
onde se destaca que apesar da maioria dos enfermeiros já ter ouvido falar da
técnica, nunca a executou e desconhece os cuidados a ter. Contudo evidenciam
que será útil para a melhoria dos cuidados. Para complementar o diagnóstico, e
dado que a técnica se insere no âmbito das intervenções interdependentes,
optamos por fazer uma análise SWOT, no sentido de identificar todas as

106
necessidades e assim podermos planear um projecto exequível, de modo a
melhorar os cuidados aos doentes que recorrem à Unidade.
No Plano de Intervenção, apesar de sabermos o que pretendíamos fazer,
surgiram algumas dificuldades no planeamento, uma vez que esta metodologia
era desconhecida, e só tomámos conhecimento dela durante a frequência do
Curso Pós licenciatura de Especialização em Enfermagem Medico -cirúrgica.
Em relação aos objectivos planeados, tivemos oportunidade de executar
algumas actividades. Apesar dos colegas perguntarem frequentemente: quando é
que nos ensinas a técnica? Quando começamos a utilizar? Deste modo, o
projecto é para dar continuidade, apesar dos vários constrangimentos que foram
surgindo.
O desenvolvimento do projecto, bem como as reflexões acerca de
situações vivenciadas em estágio permitiram-nos mobilizar e integrar as
competências do enfermeiro especialista e mestre. Apesar deste projecto estar
muito virado para o cuidado à pessoa com doença crónica e paliativa, a
mobilização das competências específicas do enfermeiro especialista em pessoa
em situação critica tornaram-se um desafio. Contudo e dado que no serviço
colaboramos com a comissão de infecção hospitalar, apercebemo-nos da
necessidade de termos um olhar mais atento e critico nesta área. Relativamente à
competência em situação de catástrofe, seguramente teremos de desenvolver
aprendizagens para podermos dar resposta conforme o pretendido de um
especialista. Na sensibilização da equipa para esta problemática, relacionada com
o plano de emergência interno, seguramente poderemos ter um papel mais activo.
Dado que o presente relatório se destina a obter o grau de Mestre em
Enfermagem Médico-cirúrgica, evidenciamos como notas conclusivas, que
conseguimos apreender e mobilizar as competências de Mestre, neste projecto.
Verificamos, neste relatório, que existe uma preocupação com a aquisição de
conhecimentos e competências ao longo do percurso, complementando as
adquiridas, com recurso a estágios, pesquisas bibliográficas e desenvolvimento
do projecto. Este projecto mostra, também, a mobilização da competência
relacionada com a concepção, gestão e supervisão dos cuidados de enfermagem,
onde se observa a avaliação da pessoa, identificam-se necessidades,
prescrevem-se e executam-se intervenções, tendo em conta princípios éticos,

107
deontológicos e conhecimento científico baseado na evidência, que permite
avaliação de ganhos em saúde, sensíveis aos cuidados de enfermagem.
É notório, também, a integração do enfermeiro especialista e mestre, de
forma proactiva, em equipas multidisciplinares, como relatam as aprendizagens
efectuadas em estágio. E, por último, a participação na formação de colegas e
colaboradores.
Consideramos este, o início de um longo caminho. Primeiro o desafio de
implementarmos o projecto na Unidade, depois a consciencialização das funções
acrescidas do Enfermeiro Especialista e Mestre. Ganhar espaço na equipa e ser
uma referência nos cuidados especializados na área da pessoa em situação
crítica, e situação crónica/paliativa.

108
5. REFERÊNCIAS

5.1. BIBLIOGRÁFICAS

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5.2. ELECTRÓNICAS

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114
ANEXOS

115
ANEXO I
Date_________________________ Code #_____________

Comfort with End of Life Planning

Thank you VERY MUCH for helping me in our study of the concept COMFORT.
Below are statements that may describe your comfort right now. Six numbers are
provided for each question; please circle the number you think most closely matches your
feeling. This is about your comfort at the moment you are answering the questions.

Strongly Strongly
Disagree Agree

1. There are those I can depend on when I need help 1 2 3 4 5 6

2. I don’t want to think about planning for end 1 2 3 4 5 6


of life care.

3. My condition gets me down 1 2 3 4 5 6

4. I feel confident 1 2 3 4 5 6

5. I feel my life is worthwhile right now 1 2 3 4 5 6

6. I am inspired by knowing that I am loved 1 2 3 4 5 6

7. I trust my doctor to make the right 1 2 3 4 5 6


decisions

8. No one understands me 1 2 3 4 5 6

9. My anxiety is difficult to endure 1 2 3 4 5 6

10. I am scared when I am alone 1 2 3 4 5 6

11. My body is relaxed right now 1 2 3 4 5 6

12. I feel agitated right now 1 2 3 4 5 6

13. I do not feel healthy right now 1 2 3 4 5 6

14. Advance directives makes me feel scared 1 2 3 4 5 6

15. I am afraid of what is next 1 2 3 4 5 6

16. I am very tired 1 2 3 4 5 6

(Continue on back)
Strongly Strongly
Disagree Agree

17. I am content 1 2 3 4 5 6

18. I feel dependent on others to make 1 2 3 4 5 6


decisions for me.

19. My faith helps me be strong 1 2 3 4 5 6

20. I feel out of control 1 2 3 4 5 6

21. I have experienced changes that make 1 2 3 4 5 6


me feel uneasy

22. My family is aware of my wishes 1 2 3 4 5 6


regarding care at the end of my life

23. I need to be better informed about my health 1 2 3 4 5 6

24. I don’t have many choices about end of 1 2 3 4 5 6


life care.

25. It helps to get information about end of 1 2 3 4 5 6


life care.

26. I feel peaceful 1 2 3 4 5 6

27. I am depressed 1 2 3 4 5 6

28. I have found meaning in my life 1 2 3 4 5 6


ANEXO II
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico-Cirúrgica
Ano Lectivo 2010/2011

Definição do Problema

Estudante: Delmira Maria Morais Pombo – 2145

Instituição: Centro Hospitalar de Lisboa Central – Hospital de Santa Marta

Serviço: Pneumologia

Título do Projecto: A utilização da Via Subcutânea para hidratação e administração de terapêutica, na Pessoa com patologia
crónica e/ou paliativa.

Explicitação sumária da área de intervenção e das razões da escolha (250 palavras):

A área de intervenção do projecto insere-se na implementação da via de administração subcutânea (SC) para hidratação e
administração de terapêutica em perfusão, em doentes com patologia crónica e/ou paliativa, internados na Unidade de
Pneumologia, ou que necessitem desta técnica no domicílio. Nesta Unidade encontram-se, frequentemente, internadas
pessoas com patologia crónica e oncológica em fim de vida, onde muitas vezes a hidratação oral ou a administração de
terapêutica é difícil. Os doentes apresentam dificuldade na deglutição, náuseas, vómitos ou outros sintomas, e a
utilização/manutenção de uma via endovenosa devido aos poucos acessos venosos viáveis (por quimioterapia e/ou
terapêutica endovenosa por longos períodos) torna-se quase impossível.
Considerando o controlo sintomático como uma das premissas fundamentais no cuidado a estes doentes, é fundamental que
a equipa disponha de várias estratégias para adequar os cuidados consoante as necessidades de cada pessoa.

As razões que me levaram a optar por esta área prendem-se, essencialmente, com os seguintes aspectos:
 Maior conforto para o doente, uma vez que a via endovenosa é mais dolorosa e mais difícil manter;
 Em caso de necessidade esta via pode ser mantida no domicílio pela pessoa significativa/cuidador com menor riscos;
 A equipa consultora de Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) quando é chamada à Unidade,
para observar os doentes indica esta possibilidade em caso de necessidade;
 A falta de experiência da equipa de enfermagem, na técnica de administração de terapêutica em perfusão e hidratação por
via SC.

Diagnóstico de situação
Definição geral do problema

Na Unidade de Pneumologia são internadas com frequência pessoas com patologia crónica e/ou em fim de vida. Apesar desta
unidade de internamento estar preparada para atender as necessidades dos doentes que a ela recorrem, entende-se que
podemos melhorar alguns aspectos no cuidado aos doentes com patologia crónica e/ou em fase terminal.
Todavia, a equipa de enfermagem tem revelado bastante sensibilidade para cuidar da pessoa e família nesta fase. No
entanto, reconhece algumas limitações, por vezes relacionadas com a falta de experiência, e que são debatidas em conversas
informais. Um dos aspectos que, habitualmente causa algum desconforto na equipa prende-se com a dificuldade em
cateterizar uma veia periférica, para administração de soro ou medicação para controlo sintomático. Surgem assim alguns
dilemas éticos. Por um lado, existe a necessidade de controlar os sintomas com a administração da terapêutica e por outro
lado, a dificuldade em puncionar uma veia periférica. Perante esta situação podem ocorrer várias tentativas sem êxito, o que
nos causa algum mal-estar. Concomitantemente, a família também manifesta maior conforto quando verifica que o seu familiar
“tem um soro”, aceitando o fim de vida com dignidade. Recentemente, também, surgiu a necessidade/oportunidade de uma
doente com patologia crónica (Fibrose Quistica), acompanhada por nós, efectuar hidratação para além da efectuada por via
oral.
Deste modo, este projecto pretende ser uma alternativa vantajosa, quer para o doente/família, quer para os profissionais.

Análise do problema (contextualização, análise com recurso a indicadores, descrição das ferramentas diagnósticas que vai
usar, ou resultados se já as usou – 500 palavras)

A Unidade de Pneumologia está inserida no CHLC, no Hospital de Santa Marta, é composta pelos sectores de Internamento,
Consultas Externas da Especialidade, Hospital de Dia e Técnicas Endoscópicas, Pleurais e de Função respiratória. No sector
do Internamento, são internadas com frequência pessoas com patologia crónica ou em fim de vida.

1
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico-Cirúrgica
Ano Lectivo 2010/2011

Após reunião com a Sr.ª Enfª Chefe da Unidade, onde foi debatido a pertinência do projecto para esta unidade, este foi
considerado útil não só para os doentes internados, mas também para doentes acompanhados pela equipa e que necessitem
desta técnica no domicilio.

Como ferramenta diagnóstica optei por efectuar um questionário (Anexo I) e uma análise SWOT (Anexo II).
O questionário foi aplicado nos dias 3 e 4 de Fevereiro de 2011, sendo a amostra de 13 enfermeiros.
Da análise das respostas evidencia-se que:
 62% dos enfermeiros não conhece a técnica da Hipodermoclise, e 38% conhece;
 69% nunca administrou soros por via SC, e 31% já administrou; os que responderam afirmativamente 1 referiu que utilizou
a técnica em contexto domiciliário, 3 em doentes em fase terminal, por prescrição da equipa de Cuidados Paliativos do Centro
Hospitalar;
 62% nunca administrou terapêutica em por via SC, e 38% já administrou; os que responderam afirmativamente 3 referiram
em doentes em fase terminal, e 2 sob prescrição da equipa de Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar;
 100% considera útil o desenvolvimento da técnica na Unidade;
 Nos comentários/sugestões, 4 mencionaram que considera útil; 2 referiram por cateterização periférica difícil; 2 para
controlo de sintomas; 1 para minimizar a dor no doente terminal; 1 refere que técnica tem inúmeras vantagens; 1 refere que a
equipa não tem destreza suficiente.

No entanto, e dado que a Hipodermoclise e a terapêutica é uma intervenção interdependente, decidi efectuar uma análise
SWOT para complementar o diagnóstico, da análise dos dados evidencia-se que as actividades de:

 Sensibilização da equipa médica;


 Formação da equipa de enfermagem para a utilização da técnica;
 Apresentação do material adequado e dos fármacos mais utilizados;
 Elaboração de um protocolo interdisciplinar, e de uma norma de procedimento de enfermagem da técnica;
Contribuem para a capacidade de realização e potencial de sucesso, deste projecto, no cuidado a pessoas com patologia
crónica e/ou em fim de vida que recorrem à Unidade de Pneumologia.

Atendendo aos Enunciados Descritivos dos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, podemos considerar que
este projecto tem em conta:
1. Satisfação do cliente;
2. Bem-estar e autocuidado;
3. Prevenção de complicações;

Em relação às competências específicas da Enfª Especialista em EMC:


1. Gere a administração de protocolos terapêuticos complexos;
2. Faz a gestão diferenciada da dor e do bem-estar da pessoa em situação critica e/ou falência orgânica, optimizando as
respostas.

Identificação dos problemas parcelares que compõem o problema geral (150 palavras)

Os problemas parcelares identificados prendem-se, essencialmente, com:


 O desconhecimento da equipa de enfermagem na utilização da via SC, para hidratação e administração de terapêutica, em
doentes em fase terminal;
 A inexperiência da equipa de enfermagem utilização da via SC, para hidratação e administração de terapêutica, em
doentes com patologia crónica e/ou paliativa;
 A inexistência de uma norma de procedimento de enfermagem;
 A inexperiência da equipa médica em relação à técnica;
 A inexistência de um protocolo interdisciplinar;
 A inexistência de um guia para a Pessoa Significativa/cuidador;

2
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico-Cirúrgica
Ano Lectivo 2010/2011

Determinação de prioridades

 Formação à equipa de enfermagem;


 Sensibilização da Equipa Médica para prescrever esta via em situações justificáveis;
 Elaboração de uma norma de procedimento;
 Criar protocolo interdisciplinar;

Objectivos (geral e específicos, centrados na resolução do problema. Os objectivos terão que ser claros, precisos,
exequíveis e mensuráveis, formulados em enunciado declarativo):

OBJECTIVO GERAL:
 Melhorar a qualidade dos cuidados prestados à pessoa com patologia crónica e/ou paliativa;

OBJECTIVOS ESPECIFICOS:
 Aprofundar conhecimentos na área da Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;
 Elaborar norma de procedimento de enfermagem Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;
 Elaborar folheto de informação para a Pessoa significativa/cuidadora;
 Colaborar na elaboração de um protocolo clínico sobre a Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;
 Efectuar formação à equipa de enfermagem;
 Planear a implementação e avaliação do projecto;

Referências:
Bibliográficas (Norma da ESS)

 LEITE, E.; MALPIQUE, M. Trabalho de Projecto. 2. Leituras comentadas. Porto: Afrontamento. 1990.
 BARBOSA, A.; NETO, Isabel G., Manual de Cuidados Paliativos. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. 2006
 ORDEM DOS ENFERMEIROS. Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem Enquadramento conceptual
Enunciados descritivos. Conselho de Enfermagem. 2001.
 ORDEM DOS ENFERMEIROS. Proposta de Projecto de Regulamento das Competências do Enfermeiro Especialista em
Enfermagem em Pessoa em situação critica. Assembleia do Colégio da Especialidade de Enfermagem Médico-Cirúrgica.
2010.
 RUIVO, Mª A.; FERRITO, C. ; NUNES, L., et al Metodologia de Projecto: Colectânea descritiva de etapas: Revista
Percursos, nº 15. 2010.
 SFAP, Colégio de Cuidados de Enfermagem, Desafios da Enfermagem em Cuidados Paliativos – «cuidar»: ética e praticas.
Lusociência. Loures. 2000
 TWYCROSS, Robert, Cuidados Paliativos, 2ª edição, Climpesi Editores. Lisboa. 2003

Electrónicas
 NETO, I.G; Utilização da via subcutânea na pratica clínica artigos de revisão,
http://www.spmi.pt/revista/vol15/vol15_n4_2008_277_283.pdf acedido 06/07/2010 às 18:19.
 Instituto Nacional de Câncer. Terapia Subcutânea no câncer avançado Série Cuidados Paliativos
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/Terapia_subcutanea.pdf acedido 10/01/2011 às 19:57
 Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados Paliativos, acedido 06/07/2010 às 19:05
 POLICY FOR THE ADMINISTRATION OF SUBCUTANEOUS FLUIDS (HYPODERMOCLYSIS) TO ADULT PATIENTS
http://www.dorsetpct.nhs.uk/documents/publications/policies/clinical_policies/full_policies/subcutaneous%20fluids%20apr08.pdf
acedido em 10/01/2011 às 19:20

Data 07/01/2011 Assinatura: Delmira Pombo

3
ANEXO III
Caro Colega,

Como é do seu conhecimento, estou a frequentar o Curso de Pós


Licenciatura de Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica, no
Instituto Politécnico de Setúbal – Escola Superior de Saúde. Assim, um dos
objectivos e método de avaliação do estágio é a realização de um Projecto
de Intervenção no local de trabalho (onde se realiza a maioria do estágio).
Por esse motivo, optei por efectuar o meu Projecto na Área de utilização da
via subcutânea (SC) para administração de terapêutica e soros
(Hipodermoclise).
De modo, a puder adequar melhor o Projecto de Intervenção, gostaria que
respondesse às seguintes questões.

1. Conhece a Técnica de Hipodermoclise?


Sim  Não 

2. Alguma vez administrou soros por via SC?


Sim  Não 
Se Sim, em que contexto? ____________________________________
____________________________________________________________

3. Alguma vez administrou terapêutica em perfusão por via SC?


Sim  Não 
Se Sim, em que contexto? ____________________________________
____________________________________________________________

4. Considera útil o desenvolvimento da técnica nesta Unidade?


Sim  Não 
5. Comentários / Sugestões
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________

Obrigada pela sua colaboração


ANEXO IV
Análise SWOT

Pontos Fortes
Pontos Fracos

1. Receptividade da equipa de enfermagem a novos projectos 1. Falta de conhecimento da equipa multidisciplinar acerca da
2. Alternativa às vias EV e IM técnica
3. Existência de material adequado para a realização da técnica 2. Inexperiência dos enfermeiros na execução do procedimento
4. Via SC menos dolorosa e com maior durabilidade 3. Leque de fármacos que não pode ser administrado por esta via

Oportunidades
Ameaças

1. Melhorar o conforto do doente em fase terminal 1. Técnica não utilizada em situações agudas em meio hospitalar
2. Alternativa às vias EV e IM 2. Intervenção interdependente
3. Existência de um grande número de doentes em fase terminal 3. Falta de experiência da equipa Médica em relação à técnica
4. Recomendação da via SC pela equipa de CP do CHLC
Através da ferramenta utilizada podemos salientar os factores dominantes e
determinantes, tanto internamente como externamente á técnica proposta, que
poderão influenciar o sucesso do projecto, e produzir orientações estratégicas
relevantes, aliando o projecto ao seu contexto específico.

Assim, deve-se construir o plano de actividades centrando a atenção sobre as


forças e tentar reduzir ou mesmo eliminar as fraquezas, com o intuito de maximizar
as oportunidades e minimizar as ameaças.

Matriz Swot

Pontos Fortes Pontos Fracos


Oportunidades S- O W-O
Ameaças S-T W-T

Estratégias S-O: perseguem oportunidades que são boas para fortalecer os pontos
fortes.

Estratégias W-O: ultrapassam as fraquezas para atingirem oportunidades

Estratégias S-T: usar os pontos fortes para reduzir a vulnerabilidade às ameaças


externas.

Estratégias W-T: estabelecer um plano defensivo para prevenir que os pontos


fracos sejam susceptíveis às ameaças externas.

Pontos Fortes Pontos Fracos


Oportunidades • Sensibilização da • Formação a equipa de
equipa enfermagem.
multidisciplinar. • Demonstração da técnica a
• Apresentação do utilizar
material adequado e • Supervisão/Acompanhament
dos fármacos mais o da equipa na execução da
utilizados. técnica
• Potenciar os cuidados • Consultar a equipa de
de enfermagem a cuidados paliativos do CHLC
todas as pessoas em
fim de vida

Ameaças • Elaboração de uma • Capacitar a equipa de


norma de enfermagem para a utilização
procedimento de da técnica.
enfermagem para a • Criar protocolo
técnica a utilizar interdisciplinar
ANEXO V
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica

Planeamento do Projecto

Estudante: Delmira Pombo – 2145 Orientador: Sra. Enfª Armandina Antunes

Instituição: CHLC – H. S. Marta Serviço: Pneumologia

Título do Projecto: A utilização da Via SC para hidratação e administração de terapêutica, na Pessoa com patologia crónica e/ou paliativa.

Objectivos (geral, específicos, centrados na resolução do problema. Os objectivos terão que ser claros, precisos, exequíveis e mensuráveis, formulados em enunciado declarativo, já discutidos
com o professor e o orientador):

OBJECTIVO GERAL: Melhorar a qualidade dos cuidados à pessoa com patologia crónica e/ou paliativa.

OBJECTIVOS Específicos:

1 - Aprofundar conhecimentos na área da Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;


2 - Elaborar norma de procedimento de enfermagem Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;
3 - Elaborar folheto de informação para a Pessoa significativa/cuidadora;
4 - Colaborar na elaboração de um protocolo clínico sobre a Hipodermoclise e administração de terapêutica por via SC;
5 – Efectuar formação à equipa de enfermagem;
6 - Planear a implementação e a avaliação do projecto;

Identificação dos profissionais do serviço com quem vai articular a intervenção (chefia directa, orientador, outros elementos da equipa, outros profissionais, outros serviços)

Responsável Clínico da Unidade – Divulgação do projecto e colaboração de protocolo clínico;


Enfermeira Chefe – Divulgação / Orientação da implementação do projecto;
Enfermeiros da Unidade – Divulgação/colaboração no projecto;
Equipa de Cuidados Paliativos do CHLC – Pedir colaboração na revisão da norma de procedimento de enfermagem;

1
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica

Objectivos Específicos Actividades/Estratégias a desenvolver Recursos Indicadores de Avaliação


Humanos Materiais Tempo

1 - Aprofundar
a) Efectua pesquisa bibliográfica em livros e bases de dados electrónicas Computador 10 H. 1 – Apresenta síntese sobre a
conhecimentos na área da credenciadas; técnica;
Hipodermoclise e
administração de b) Pesquisa normas/protocolos internacionais; Computador 4 H.
terapêutica por via SC;

c) Realiza Estágio de observação na Unidade de Cuidados Paliativos da Idanha; Equipa da 40 H. 2 - Efectua Estágio na Casa de
Unidade Saúde da Idanha – Unidade de
Cuidados Paliativos;

3 – Apresenta reflexão
decorrente do estágio;

a) Constrói protótipo de norma de procedimento de enfermagem; Equipa de Computador


2 - Elaborar norma de
enfermagem 1 – Apresenta norma de
procedimento de da Unidade procedimento de enfermagem;
b) Distribui protótipo à equipa de enfermagem;
enfermagem da técnica
Papel A4
Hipodermoclise e
c) Recolhe sugestões dos enfermeiros da Unidade;
administração de
Papel A4
terapêutica por via SC;
d) Recolhe sugestões dos Enfermeiros da Equipa de CP do CHLC; Enfermeiros
da Equipa
de CP do
e) Recolhe sugestões de Enfª Chefe; CHLC

f) Elabora versão final da norma.

2
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica

3 - Elaborar folheto de
a) Constrói protótipo de folheto; Equipa de Computador 1 – Apresenta folheto de
informação para a Pessoa enfermagem informação para Pessoa
da Unidade Significativa;
significativa/cuidadora;
b) Distribui protótipo 1, à equipa de enfermagem;
Papel A4

c) Recolhe sugestões dos enfermeiros;

d) Recolhe sugestões dos enfermeiros da Equipa de CP do CHLC; Enfermeiros


da Equipa
de CP do
e) Recolhe sugestões de Enfª Chefe; CHLC

f) Elabora versão final do folheto.

4 - Colaborar na
a) Reúne com Enfª chefe e Médico responsável da Unidade; Enfª Chefe Computador 1 - Apresenta protocolo clínico;
elaboração de um
Médico
protocolo clínico sobre a
b) Colabora na construção de protótipo de protocolo clínico, com o Médico responsável
Hipodermoclise e designado para a elaboração do protocolo; da Unidade Papel A4
administração de
Médico
terapêutica por via SC; c) Distribui protótipo à equipa de enfermagem;
Equipa de
enfermagem
d) Recolhe sugestões da equipa;

e) Colabora na elaboração da versão final do protocolo.

3
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica

5 – Efectuar formação
a) Planeia a sessão; Equipa de Computador 3 1 – Realiza acção de formação
sobre a técnica de enfermagem Sessões 80% Equipa de enfermagem;
b) Divulga sessão de formação; da Unidade de
Hipodermoclise à equipa 1 H.
de enfermagem; c) Realiza a sessão; Papel A4 2 - Apresenta documentos de
divulgação da sessão e plano
d) Entrega questionário de avaliação da sessão. de formação;
Material para
demonstração da
técnica 3 – Avalia conhecimentos
adquiridos.

1 – Divulga Projecto a 80%


a) Divulga os resultados dos questionários e análise SWOT, nas passagens de Equipa de Computador 4 Equipa de Enfermagem;
6 - Planear Sessões
enfermagem
turno. de
implementação e da Unidade
15 min 2 – Apresenta cronograma de
avaliação do projecto;
actividades;
b) Apresentar o projecto à equipa;
c) Apresenta suporte teórico do projecto;
3 – Implementa Projecto
d) Apresenta documentos elaborados;
conforme cronograma;

4- Avalia a implementação do
projecto.

4
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica

Cronograma: Principais Actividades

Data Setembro Novembro Dezembro


Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Outubro
Actividades 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011 2011

Pesquisa bibliográfica

Estágio Observação U. C. P Idanha

Elaborar norma de enfermagem

Elaborar folheto informação P. S.


Colaborar na elaboração do
protocolo clínico
Apresentação resultados dos
questionários

Apresentar o projecto à equipa;

Formação equipa de Enfermagem

Implementação do projecto

Avaliação do projecto

Orçamento:

Recursos Humanos: os recursos humanos para a execução deste projecto estão todos afectos ao CHLC.

Recursos Materiais: os recursos materiais existem no CHLC e são utilizados nas técnicas de cateterização venosa (abocth); e a agulha epicraneana também está disponível no serviço de
internamento. Todo o outro material nomeadamente: sistemas de soros, adesivo, antisséptico estão disponíveis, não acrescenta por esse motivo custos acrescidos na sua aquisição.

Previsão dos constrangimentos e forma de os ultrapassar:

Como constrangimentos possíveis a este projecto posso prever que e dado que a Unidade de Pneumologia está vocacionada para tratamento de situações agudas, e a via subcutânea não ser
utilizada nesse âmbito, poderá ocorrer pouca adesão da parte dos Médicos à sua prescrição. No entanto, gostaria de frisar que como o serviço tem muitos doentes crónicos e em fim de vida, este
5
Curso Pós Licenciatura Enfermagem Médico Cirúrgica

projecto contribui em muito a qualidade de vida destas pessoas. E, é neste sentido que penso persuadir os profissionais.

Data: 01 / 03/ 2011 Assinatura: Delmira Pombo Docente: Professora Doutora Alice Ruivo

6
ANEXO VI
COD.0000
Procedimento Sectorial

COD.000
(ou
)
Utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise

APROVAÇÃO

1 OBJECTIVO

 Melhorar os cuidados à Pessoa com patologia crónica e/ou paliativa, utilizando


a via subcutânea para Hipodermoclise e administração de terapêutica.

2 ÂMBITO DE APLICAÇÃO

O procedimento aplica-se a todos os Enfermeiros que prestam cuidados na Unidade


de Pneumologia do H. S. Marta do CHLC.

3 RESPONSABILIDADES

3.1 Pela implementação do Procedimento: Enfermeiros da Unidade de


Pneumologia.

3.2 Pela revisão do procedimento: Enfª Chefe ou quem ela delegar.

ELABORAÇÃO

Delmira Pombo (Enfª)

VERIFICAÇÃO
CQSD

EDIÇÃO CIRCULAR INFORMATIVA PRÓXIMA EDIÇÃO Nº PAGS.


Letra
Data Publicação Nº Nº da Circular Data Publicação + 3 anos 1/7
Edição
COD.0000
Procedimento Sectorial

COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise

4 DEFINIÇÕES

Hipodermoclise – É a infusão de fluidos isotónicos por via subcutânea. Tem como


finalidade a reposição hidroelectrolitica e/ou terapia medicamentosa.

5 SIGLAS E ABREVIATURAS
H. S. Marta – Hospital de Santa Marta
CHLC – Centro Hospitalar de Lisboa Central
Enfª – Enfermeira
SC – Subcutânea

6 REFERÊNCIAS
 BARBOSA, A; NETO, I. G. – Manual de Cuidados Paliativos. Fundação
Calouste Gulbenkian. Lisboa. 2006
 NETO, I. G. – Utilização da via subcutânea na prática clínica. Revista
Portuguesa de Medicina Interna. Vol. 15 I nº4 I Out./Nov. 2008.
 NHS, Guidelines for the Use of Subcutaneous Medications in Palliative Care. in
http://www.nhslanarkshire.org.uk/Services/PalliativeCare/Documents/Guidelines
acedido a 12/05/2011 às 12:45.

- Manual Internacional da Qualidade CHKS/HAQU, 2006:

NORMA TÍTULO CRITÉRIOS

7 DESCRIÇAO

A Hipodermoclise é uma técnica que permite a administração de injectáveis de grande


volume (soros) e medicação, em pessoas com patologia crónica e/ou paliativa.
Atendendo a que nesta fase a qualidade de vida e o conforto são uma prioridade, os
enfermeiros devem ter conhecer várias alternativas, neste caso para hidratação e
administração de terapêutica no controlo sintomático.

EDIÇÃO CIRCULAR INFORMATIVA PRÓXIMA EDIÇÃO Nº PAGS.


Letra
Data Publicação Nº Nº da Circular Data Publicação + 3 anos 2/7
Edição
COD.0000
Procedimento Sectorial

COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise

Algumas considerações:

 Os fluidos são absorvidos por difusão capilar (velocidade de absorção depende


da vascularização do tecido e solubilidade do fármaco);
 As soluções com pH próximo à neutralidade e soluções isotónicas são mais
bem toleradas (cloreto de sódio 0,9%, Glucose 4%);
 O volume total recomendado é de 1500 cc/ 24 h;
 Para perfusão de 1500 cc/24 h: 21 gotas por minuto
(Nº gotas por minuto = volume liquido total (ml) nº de gotas por ml (1ml=20gts)
Duração prescrição da infusão (minutos)
 Pode ser administrada terapêutica compatível com a via SC (Anexo I).
 Não administrar mais que três fármacos em simultâneo.

Deste modo, as indicações para a administração de fluidos e/ou terapêutica por via
SC são:
 Impossibilidade de ingestão por via oral (náuseas, vómitos, disfagia, obstrução do
trato gastrointestinal, nível de consciência reduzido (…);
 Impossibilidade de acesso venoso;
 Possibilidade de permanência da pessoa no domicilio, se esse for o seu desejo;
 Prevenção ou tratamento da desidratação moderada.

As Contra – indicações são:


 Distúrbios da coagulação;
 Edema / Anasarca;
 Pele não integra;
 Proeminências ósseas e articulações;
 Áreas com pouco tecido subcutâneo;
 Local com massa tumoral.

Salientam-se como Vantagens:


 Técnica cómoda e simples na manutenção;

EDIÇÃO CIRCULAR INFORMATIVA PRÓXIMA EDIÇÃO Nº PAGS.


Letra
Data Publicação Nº Nº da Circular Data Publicação + 3 anos 3/7
Edição
COD.0000
Procedimento Sectorial

COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise

 Índice de absorção semelhante à via intramuscular;


 Menor risco de complicações no local ou sistémicas;
 Menor necessidade de punções frequentes;
 Pode ser utilizada em ambulatório.

E, como Desvantagens:
 Reposição de grandes volumes de líquidos;
 Situações onde haja necessidade de infusão rápida.

Material necessário:
 Agulha epicraneana de baixo calibre (23G) ou cateter de teflon (abocath 24);
 Solução anti-septica;
 Compressas;
 Luvas limpas;
 Seringa com cloreto de sódio 0,9%;
 Penso transparente (tipo tegaderm).

Procedimento Técnico:
 Explicar o procedimento à pessoa/convivente significativo, e pedir a sua
colaboração (caso seja possível);
 Reunir o material adequado à técnica;
 Higienização das mãos;
 Expurgar a agulha epicranea com NaCl;
 Escolher o local a puncionar (recomenda-se região escapular, subclavicular,
periumbilical para a hipodermoclise, uma vez que são zonas em existe mais tecido
adiposo, tolerando melhor a infusão de injectáveis de grande volume, e não deve
interferir nos movimentos da pessoa);
 Desinfectar o local escolhido;
 Efectuar prega da pele;
 Introduzir num ângulo de 45º a agulha com o bisel para cima e no final rodar o
bisel para baixo (de modo a facilitar a absorção);

EDIÇÃO CIRCULAR INFORMATIVA PRÓXIMA EDIÇÃO Nº PAGS.


Letra
Data Publicação Nº Nº da Circular Data Publicação + 3 anos 4/7
Edição
COD.0000
Procedimento Sectorial

COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise

 Fixar a agulha com adesivo transparente (observar facilmente local).


 Vigiar o local de modo a despistar complicações.

Notas:
 Sempre que possível utilizar cateter de teflon, é mais cómodo e mais seguro;
 Após administração de terapêutica deve sempre administrar NaCl, evitando
assim que fique medicação na tubuladura;
 Não administrar mais que 4cc/por toma;
 Perfusão contínua não deve ser superior a 2cc/hora;
 O tempo de permanência do cateter não deve ser superior a 5 dias.
 Pode ser administrado NaCl 20%, diluído no soro;
 Pode ser administrado KCl 40 mEq/l, diluído no soro;

8 ANEXOS

8.1 Anexo I – Quadro de compatibilidade de medicamentos.


8.2 Anexo II – Informação para a pessoa significativa/cuidador no domicílio.

EDIÇÃO CIRCULAR INFORMATIVA PRÓXIMA EDIÇÃO Nº PAGS.


Letra
Data Publicação Nº Nº da Circular Data Publicação + 3 anos 5/7
Edição
COD.0000
Procedimento Sectorial

COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise

Anexo I

Fármaco Compatível com:


Morfina, Haloperidol Levomepromazina, Midazolam,
Butilescopolamina Octreotido, NaCl 0,9%

Não deve ser misturada com outros fármacos em


Dexametasona perfusão, excepto se for em doses muito baixas
(1mg/24h), NaCl 0,9% ou água injectável

Não é compatível com nenhum outro fármaco em


Diclofenac perfusão, administrar isoladamente, NaCl 0,9%
Morfina, Tramadol, Butilescopolamina, Metoclopramida,
Haloperidol Levomepromazina, Midazolam, Octreotido, água
injectável

Morfina, Haloperidol, Metoclopramida,


Levomepromazina Butilescopolamina, Midazolam, Octreotido

Morfina, Haloperidol, Tramadol, Midazolam, Octreotido


Metoclopramida

Metadona Midazolam

Morfina, Haloperidol, Levomepromazina,


Midazolam Metoclopramida, Butilescopolamina, Octreotido, NaCl
0,9%, água injectável
Levomepromazina, Metoclopramida, Butilescopolamina,
Morfina Haloperidol, Midazolam, Octreotido, NaCl 0,9%, água
inj.
Morfina, Haloperidol, Levomepromazina,
Octreotido Metoclopramida, Butilescopolamina, Midazolam, NaCl
0,9%

Tramadol Haloperidol, Metoclopramida, NaCl 0,9%

Furosemida NaCl 0,9%

Adaptado de NETO, 2008

EDIÇÃO CIRCULAR INFORMATIVA PRÓXIMA EDIÇÃO Nº PAGS.


Letra
Data Publicação Nº Nº da Circular Data Publicação + 3 anos 6/7
Edição
COD.0000
Procedimento Sectorial

COD.000
(ou
)
A utilização da via Subcutânea para
Hipodermoclise

Anexo II

EDIÇÃO CIRCULAR INFORMATIVA PRÓXIMA EDIÇÃO Nº PAGS.


Letra
Data Publicação Nº Nº da Circular Data Publicação + 3 anos 7/7
Edição
ANEXO VII
O ritmo da perfusão deve ser lento
para ser absorvido.

Quando deve contactar a Equipa de Saúde?


A Hipodermoclise é segura?

Sinais de alerta
Este método de reposição de líquidos é usado há
muito tempo.
• O soro parar de correr;
É uma maneira fácil, segura e confortável para
• Aparecer a pele vermelha, dor e edema, no
administra líquidos (soros).
local de inserção da agulha;
• A pessoa começar com dificuldade em respi-
rar;
• A agulha sair do local de inserção;
• Aparecer sangue no locar de inserção da
agulha ou tubo de plástico.
Hidratação por via SC
(Hipodermoclise)

Informação para o Cuidador informal da


Pessoa com doença Crónica e/ou Paliativa

NOTAS:
_______________________________________________
_______________________________________________

HOSPITAL DE SANTA MARTA ELABORADO POR: HOSPITAL DE SANTA MARTA


Rua de Santa Marta Delmira Pombo, Enfª Área da Medicina
Tel: 213594000
Data: Maio de 2011
Revisão em Maio de 2014
Vigiar o local de inserção. Qualquer dúvida contacte o seu enfermeiro

Como funciona a Hipodermoclise?


Como repor líquidos a uma pessoa que

O que é a Hipodermoclise? não consegue beber o suficiente?


Conecta-se à agulha (tipo butterfly) um
sistema próprio ligado ao frasco de soro.
O corpo necessita de água e alimentos para se
É um modo de repor os líquidos no manter, uma vez que se perdem líquidos dia-
Esta agulha é colocada, por um profissio-
organismo. Utiliza-se quando a pes- riamente, na urina, transpiração, vómitos, diar-
nal, debaixo da pele, no tecido subcutâneo.
soa não consegue beber a quanti- reia, dificuldade em deglutir, etc.…
Pode ser aplicada no abdómen, no peito ou
dade de água suficiente, para man- na coxa.
Existem dois modos de administrar o soro para
ter o corpo com os líquidos neces-
a hidratação, através da: via endovenosa
sários.
(veia) ou através da via subcutânea.

Com esta técnica pode-se, também, A via endovenosa requer vigilância de profissio-
administrar medicamentos. nais. A quantidade de soro é indicada pelo pro-
fissional de saúde. Não deve exceder 1500
A via subcutânea pode ser utilizada pelo cuida- ml/dia.
dor informal, no domicílio, desde que devida-
mente informado pelos profissionais de saúde. Pode ser, também, administrada terapêuti-
ca, de acordo com as indicações dos profis-
sionais de saúde.

Poderá obter informações através do telefone da Unidade: ______________________________


ANEXO VIII
Enfª Delmira Pombo

A Utilização da Via SC
para hidratação e
administração de terapêutica

Orientação: Prof. Alice Ruivo e Enfª Armandina Antunes


Objectivo Geral

 Melhorar a qualidade dos cuidados à pessoa com patologia crónica e/ou paliativa

Objectivos específicos

 Aprofundar conhecimentos na área da Hipodermoclise e administração de


terapêutica por via SC;
 Elaborar norma de procedimento de enfermagem Hipodermoclise e administração
de terapêutica por via SC;
 Elaborar folheto de informação para a Pessoa significativa/cuidadora;
 Colaborar na elaboração de um protocolo clínico sobre a Hipodermoclise e
administração de terapêutica por via SC;
 Efectuar formação à equipa de enfermagem;
 Planear, implementar e avaliar o projecto;
Enunciados Descritivos dos PQCE
1. Satisfação do cliente;
2. Bem-estar e autocuidado;
3. Prevenção de complicações;

Competências da Enfª Especialista em EMC


A1 – desenvolve uma prática profissional e ética
A2 – promove práticas de cuidados que respeitam os direitos humanos e as
responsabilidades profissionais
B2 – concebe, gere e colabora em programas de melhoria continua da qualidade
B3 – cria e mantém um ambiente terapêutico e seguro
C1 – gere os cuidados, optimizando a resposta da equipa de enfermagem e seus
colaboradores e a articulação na equipa profissional
D2- baseia a sua praxis clínica especializada em sólidos e válidos padrões de conhecimento

K1 – cuida da pessoa a vivenciar processos complexos de doença critica e/ou falência


orgânica
K.1.2 - Gere a administração de protocolos terapêuticos complexos;
K.1.3 - Faz a gestão diferenciada da dor e do bem-estar da pessoa em situação critica e/ou
falência orgânica, optimizando as respostas.
Divulgação dos resultados do questionário / análise SOWT

Conhece a Técnica Hipodermoclise

Sim ; 5; 38%

Não; 8; 62%

Alguma vez administrou soros via SC

Sim; 4; 31%
Contexto

1. Domiciliário 1
Não; 9; 69%
2. Doente em fase terminal 3

3. Acompanhamento/Orientação/supervisão/prescrição
equipa CP CH 3
Divulgação dos resultados do questionário / análise SOWT

Alguma vez administrou terapêutica em perfusão via SC


Contexto

2. Doente em fase terminal 3

Sim; 5; 38%
3.
Não; 8; 62% Acompanhamento/Orientação/supervisão/pres
crição
equipa CP CH 2

Considera útil desenvolvimento da Técnica na Unidade

Não; 0; 0%

Sim; 13; 100%


Divulgação dos resultados do questionário / análise SOWT

Unidade de Registo Unidade de Enumeração

considera útil 4

Cateterização periférica dificil 2


Controlar sintomas doente
fase terminal 2
Minimizar dor no Doente
Terminal 1

Técnica com inúmeras vantagens 1

Equipa sem destreza Suficiente 1


Hipodermoclise
“Infusão de fluidos e/ou medicamentos por via SC” (INCA,2009)

Contra – indicações

 Distúrbios da coagulação;
 Edema / Anasarca;
 Pele não integra, pregas cutâneas, cicatrizes;
 Proeminências ósseas e articulações;
 Áreas com pouco tecido subcutâneo;
 Local com massa tumoral.
Indicações

 Intolerância à via oral, por vómitos constantes ou oclusão intestinal;


 Incapacidade de deglutir (lesões na boca, faringe, esófago, ou laringe);
 Má absorção intestinal;
 Quadros de confusão, agitação, ou delírio;
 Debilidade grave do seu estado, fase de agonia;
 Doentes sem resposta terapêutica aos medicamentos administrados por
via oral;
 Necessidades de ingestão de grandes doses de medicação;
 Impossibilidade de acesso venoso;
 Possibilidade de permanência do doente no domicilio;
 Sinais de desidratação;
 Pessoas incapazes de ingerir quantidade suficiente de líquidos.
Vantagens

 Técnica simples, mais cómoda;


 Menor risco de complicações locais ou sistémicas;
 Índice da absorção semelhante ao da via intramuscular;
 Biodisponibilidade sobreponível à da via endovenosa (com
menor risco de complicações, e custos associados);
 Locais de punção podem permanecer até vários dias;
 Permite a permanência da pessoa no domicílio, se esse for o
seu desejo;
 Facilidade de manipulação no domicilio;
 Promove a participação do convivente significativo, pode ser
utilizada por este, desde que devidamente ensinado;
 Redução de hospitalizações para controlo sintomático.
Desvantagens

 Reposição de grandes volumes de líquidos;


 Situações onde haja necessidade de infusão rápida.
 Nem todos os fármacos se podem administrar por esta
via
Material necessário

 Agulha epicraneana de baixo calibre (23G) ou cateter de


teflon (abocath 24);
 Solução anti-septica;
 Compressas;
 Luvas limpas;
 Seringa com cloreto de sódio 0,9%;
 Penso transparente (tipo tegaderm).
Procedimento Técnico

 Explicar o procedimento à pessoa/convivente


significativo, e pedir a sua colaboração (caso seja
possível);
 Reunir o material adequado à técnica;
 Higienizar as mãos;
 Expurgar a agulha epicranea com NaCl;
 Escolher o local a puncionar
Procedimento Técnico (cont.)

 Desinfectar o local escolhido;


 Efectuar prega da pele;

 Introduzir num ângulo de 45º a agulha

com o bisel para cima e no final rodar o bisel para baixo


(de modo a facilitar a absorção);
 Fixar a agulha com adesivo transparente (observar
facilmente local).
 Vigiar o local de modo a despistar complicações.
Algumas considerações

 Os fluidos são absorvidos por difusão capilar (velocidade de absorção


depende da vascularização do tecido e solubilidade do fármaco);
 As soluções com pH próximo à neutralidade e soluções isotónicas são mais
bem toleradas (cloreto de sódio 0,9%, Glucose 4%);
 O volume total recomendado é de 1500 cc/ 24 h;
 Para perfusão de 1500 cc/24 h: 21 gotas por minuto
 Cada punção pode ir de 5 a 8 dias
 Pode interromper-se a qualquer momento

 (Nº gotas por minuto = volume liquido total (ml)  nº de gotas por ml (1ml=20gts)
Duração prescrição da infusão (minutos)
Administração de Terapêutica por via SC
(bólus/infusão continua)

 Pode ser administrada terapêutica


compatível com a via SC
 Não administrar mais que três fármacos

em simultâneo.
 KCl deve ser diluído em pelo menos 100 ml de NaCl 0,9% (60 a 125
ml/h)
 Após administração do fármaco, administrar 1 ml de NaCl 0,9%

 Monitorizar complicações locais e sistémicas.


Tabela de Compatibilidades
Obrigada
Conto convosco
ANEXO IX
H. S. Marta - Unidade de Pneumologia

A utilização da Via Subcutânea


para hidratação e administração de terapêutica
à Pessoa com patologia crónica e/ou paliativa.

Resultados dos Questionários

Enfª Delmira Pombo


Objectivo:

 Divulgação dos resultados do questionário.


Conhece a Técnica Hipodermoclise

Sim ; 5; 38%

Não; 8; 62%
Alguma vez administrou soros via SC

Sim; 4; 31%

Não; 9; 69%

Contexto

1. Domiciliário 1

2. Doente em fase terminal 3

3. Acompanhamento/Orientação/supervisão/prescrição
equipa CP CH 3
Alguma vez administrou terapêutica em perfusão via SC

Sim; 5; 38%

Não; 8; 62%

Contexto

2. Doente em fase terminal 3

3. Acompanhamento/Orientação/supervisão/prescrição

equipa CP CH 2
Considera útil desenvolvimento da Técnica na Unidade

Não; 0; 0%

Sim; 13; 100%


Comentários / Sugestões

Unidade de Registo Unidade de Enumeração

considera útil 4

Cateterização periférica dificil 2


Controlar sintomas doente
fase terminal 2
Minimizar dor no Doente
Terminal 1

Técnica com inúmeras vantagens 1

Equipa sem destreza Suficiente 1


Obrigada
Conto convosco
ANEXO X
A VIA SUBCUTÂNEA PARA HIDRATAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
DE TERAPÊUTICA, EM CUIDADOS PALIATIVOS

Revisão da Literatura

1
POMBO, Delmira
2
MARTINS, Lurdes

RESUMO
As pessoas com patologia crónica e paliativa representam, actualmente, um número
significativo da população que necessita de cuidados de saúde diferenciados. Neste
âmbito, os Cuidados Paliativos são encarados como uma intervenção técnica, e
rigorosa no controlo do sofrimento da pessoa e família, maximizando o conforto e
promovendo a qualidade de vida. Neste sentido, a via subcutânea para
administração de terapêutica ou hidratação evidencia-se como uma opção no
controlo sintomático. Embora esta técnica seja conhecida há várias décadas, o seu
uso não é sistemático. O objectivo deste artigo é efectuar uma revisão da literatura,
acerca da utilização da via subcutânea para hidratação, e administração de
terapêutica em cuidados paliativos. A pesquisa foi efectuada nas bases de dados
Ebsco, B-on, Scielo, repositório de teses de mestrado em Portugal, sem limite
temporal, disponíveis em texto integral, em língua portuguesa e inglesa. A
hidratação de doentes em fim de vida pode ser controversa, há que considerar os
riscos e benefícios. No entanto, a via subcutânea apresenta-se como um alternativa
credível para administração de terapêutica, para controlo sintomático da pessoa em
fim de vida.

PALAVRAS-CHAVE: hipodermoclise, medicação subcutânea, enfermagem,


cuidados paliativos.

1
Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, Mestranda do 2º Mestrado em
Enfermagem Médico-Cirúrgica ESS-IPS
2
Professora Doutora ESS-IPS
ABSTRACT
Individuals with chronic disease in palliative care represent a significant number of
people who need hospital care. In this context, palliative care is seen as an
intervention adequate in controlling patient and family suffering, maximizing comfort
and promoting quality of life. So the use of subcutaneous route for medication
administration or hydration is an evident option in symptom control. Although this
technique has beem known for decades, its use is not systematic. The purpose of
this article is to conduct a literature review on the use of subcutaneous route for
hydration and medication administration in palliative care. The search was carried out
in the following databases Ebsco, B-on, Scielo and repository of master theses in
Portugal, without time frame, in Portuguese and English with available full text. The
hydration of patients at end of life may be controversial, risks and benefits must be
weighed out. However the subcutaneous route presents itself as a credible
alternative for medication administration for symptomatic control in the person at end
of life.

KEYWORDS: hypodermoclysis, subcutaneous medication, nursing, palliative care.

INTRODUÇÃO
O aumento da esperança de vida e consequentemente o aumento da prevalência de
patologia crónica, leva-nos a repensar os cuidados que prestamos e a desenvolver e
adequar esses cuidados face às necessidades da população. Neste sentido, os
cuidados paliativos surgem com a finalidade de promover o bem-estar e a qualidade
de vida das pessoas com doença incurável e das suas famílias, através da
prevenção e alívio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual. Neste âmbito,
e sendo uma das premissas o alívio do sofrimento físico, nomeadamente a dor e/ou
outros sintomas decorrentes da patologia, torna-se necessário desenvolver
estratégias para minimizar o impacto que provocam na qualidade de vida da pessoa.
Deste modo, a utilização da via subcutânea surge como uma alternativa para
hidratação e administração de terapêutica na pessoa em fim de vida. Naturalmente,
e, sempre que possível, a via de administração de terapêutica eleita é a via oral, por
ser simples e não implicar um método invasivo.1 Todavia, a presença de náuseas,
vómitos e má absorção, impedem a sua utilização.2
Os primeiros registos da utilização da via subcutânea datam de 1914 em pediatria.3
Contudo, é na década de 70 que aparecem registos da utilização desta via em
cuidados paliativos.3 Desde então verifica-se a divulgação de vários estudos, artigos
de revisão, teses, protocolos e guidelines relacionadas com a utilização da via
subcutânea, para hidratação e administração de terapêutica em pessoas em fim de
vida.
Com base nesta perspectiva, efectuámos uma pesquisa alargada da literatura com o
objectivo de incorporar a evidência da eficácia, desta via, na prática clínica, para
hidratação e administração de terapêutica em cuidados paliativos.

METODOLOGIA
O método utilizado tem por base uma revisão alargada da literatura, sobre a
temática da utilização da via subcutânea para hidratação e administração de
terapêutica em cuidados paliativos.
O objectivo definido para esta revisão da literatura, é identificar os locais apropriados
para a hidratação subcutânea, bem como indicações, contra-indicações, descrição
da técnica e os fármacos administrados por via subcutânea em cuidados paliativos.
A pesquisa foi efectuada nas bases de dados electrónicas EBSCO, B-on, Scielo,
repositório de teses de mestrado e guidelines internacionais sobre o tema, sem
limite temporal em língua portuguesa e inglesa. As palavras-chave utilizadas para a
pesquisa foram: hypodermoclysis / subcutaneous medication / palliative care. A
escolha dos artigos foi feita tendo em conta a sua disponibilidade em texto integral, o
título relacionado com a temática em questão, e o resumo.
Assim, foram encontrados 13 artigos, uma tese de mestrado, e três guidelines.
Procedeu-se, posteriormente, à análise dos textos seleccionados, e foram
considerados 13 documentos como importantes, para a revisão da literatura, onde
se evidencia a descrição da técnica, indicações, contra-indicações, eficácia, e
terapêutica utilizada em cuidados paliativos e que podem ser administrados pela via
subcutânea.

RESULTADOS
Hidratação subcutânea
A Hidratação subcutânea designada por hipodermoclise é a administração de fluidos
no tecido subcutâneo, cuja vascularização é semelhante à dos músculos, a taxa de
absorção é uniforme e lenta4. É um método simples e seguro que poderá, também,
ser utilizado no domicílio, desde que o cuidador esteja informado, pelos profissionais
de saúde, dos cuidados necessários com o procedimento1,3,4.
Está indicado nas situações de inviabilidade da via oral, nomeadamente náuseas,
vómitos, disfagia, intolerância gástrica, obstrução intestinal, e diarreia1,3,4. Em
situações em que a pessoa apresente confusão mental, que esteja sedada, ou na
fase de agonia1. É indicada, também em situações em que é difícil ou impossível a
punção de acessos venosos1,3,4 ou em casos de desidratação leve ou moderada1,4. A
hipodermoclise é contra-indicada em situações de emergência, de choque,
insuficiência circulatória, desidratação grave, distúrbios de coagulação, sobrecarga
hídrica, edema4.
Todavia a necessidade de hidratação no fim de vida é controversa5,6. Alguns autores
evidenciam bons resultados quando a finalidade é a hidratação. No estudo realizado
por PINO et al (2011) em 257 doentes, 22 deles sofriam de doença terminal, em 13
destes foi utilizada a via subcutânea para administração de terapêutica e/ou
hidratação3. PERERA et al (2011) num estudo realizado com 10 doentes com cancro
e desidratação ligeira, em fim de vida, evidenciam que o volume administrado para
hidratação foi em média de 1000ml/dia, com um ritmo de infusão que variou entre
20/80ml/h. O local da punção foi mudado a cada 2/4 dias, por se verificar absorção
insuficiente e desconforto no local. Não se verificaram outras complicações 9.
No entanto, BAVIN (2007) e LANUKE et al (2004) mencionam que a hidratação
artificial poderá ter efeitos prejudiciais. A rehidratação poderá aumentar as
secreções pulmonares e gástricas, originando uma maior probabilidade de
congestão, náuseas e vómitos. Poder-se-á verificar um aumento do edema cerebral,
edema periférico e aumento da eliminação urinária5,6. Poderá provocar uma
sensação artificial de esperança na família5, com a negação da gravidade da
situação5. Para além de ser um procedimento invasivo com possíveis riscos
associados à infecção no local de inserção da cânula 5, pode ser desconfortável e
limita a mobilidade da pessoa6.
Concomitantemente, os argumentos mencionados a favor referem que a
desidratação conduz à falência renal, o que pode levar à acumulação de metabolitos
resultantes dos opióides, que podem provocar confusão e agitação6. Assim, os
estudos sugerem que, em doentes em fase terminal, se consegue uma hidratação
adequada com menor quantidade de líquidos4. Esta deve ser, portanto considerada
em situações que promovem o conforto da pessoa4.
Os fluidos indicados para infusão são o cloreto de sódio 0,9% ou 0,45%, e a
glucose 5%1,4,6. Pode infundir-se o volume diário de 500cc a 1500cc numa só via
subcutânea, ou 3000cc em duas vias, nas 24 horas1,4,6.
Os locais adequados para a hipodermoclise são o abdómen, o tórax superior abaixo
da clavícula, tórax posterior na zona escapular, coxas e membros superiores na
região do músculo deltoide1,2,4,7, privilegiando-se aqueles com maior quantidade de
tecido adiposo1. Os locais do corpo com cicatriz, pele não integra, irradiada por
radioterapia, mastectomia, tecido mamário, com edema, linfedema, ascite,
proeminências ósseas, articulações, e perto de estomas devem ser evitados1,2,4.O
local de inserção do cateter deve ser vigiado com frequência. Quando se inicia a
perfusão, a verificação do local deve ser feita após 30 minutos4. Posteriormente
deve ser vigiado pelo menos uma vez por dia1.4. Apesar de não haver evidência
clínica da alteração do local, este deverá ser mudado após 48/72 horas, ou não
exceder o recomendado pelo fabricante do cateter4. Os problemas potenciais que
podem ocorrer prendem-se com edema local, vermelhidão, inflamação, celulite, dor
ou desconforto, punção de vasos sanguíneos, edema pulmonar1,4.
REMINGTON (2007) efectuou uma revisão da literatura com a finalidade de
conhecer a segurança e eficácia da hipodermoclise versus hidratação por via
intravenosa em pessoas idosas com desidratação leve e moderada. Neste estudo
evidencia-se que em termos de segurança, a hipodermoclise é comparável à
administração intravenosa. Os efeitos sistémicos, como a insuficiência cardíaca e a
hiponatrémia são pouco frequentes. O número de doentes com efeitos adversos
locais, como o edema, eritema e celulite, verificaram-se nas duas vias de
administração. Todavia estes efeitos adversos ocorrem mais frequentemente na via
intravenosa8.
Em termos de eficácia, avaliada por controlo laboratorial, ambos os métodos se
revelam eficazes. A mudança do local na hipodermoclise foi de 2/2 dias e na
perfusão intravenosa foi de 2,8 dias. Todavia os doentes que realizam
hipodermoclise mostram-se menos ansiosos com a perfusão8. Em termos de
viabilidade a hipodermoclise mostra-se um procedimento mais rápido de executar,
ou seja, o enfermeiro demora menos tempo face à punção intravenosa8, consumindo
menos tempo em cuidados de enfermagem. O estudo revela, ainda, que os custos
associados aos gastos com as cânulas, na hipodermoclise são menores, e a sua
manutenção é mais fácil8.

Terapêutica subcutânea em bólus / perfusão


A via subcutânea pode ser utilizada para administração de fármacos, em bólus ou
perfusão contínua, em doentes em fim de vida. Esta via é utilizada principalmente
quando a administração de fármacos para controlo de sintomas pela via oral2,10 não
é possível. Os locais habituais são idênticos aos referidos para a hipodermoclise2. A
cânula pode permanecer por um período de 72 horas, ou mais, se não se verificar
dor, edema ou eritema no local, poderão ficar até 7 dias2. Os fármacos mais
utilizados são os hidrossolúveis1.

Fármaco Compatível com:

Butilescopolamina Morfina, Haloperidol Levomepromazina, Midazolam, Octreotido, NaCl 0,9%

Dexametasona Não deve ser misturada com outros fármacos em perfusão, excepto se for em doses
muito baixas (1mg/24h), NaCl 0,9% ou água injectável

Diclofenac Não é compatível com nenhum outro fármaco em perfusão, administrar


isoladamente, NaCl 0,9%

Haloperidol Morfina, Tramadol, Butilescopolamina, Metoclopramida, Levomepromazina,


Midazolam, Octreotido, água injectável

Levomepromazina Morfina, Haloperidol, Metoclopramida, Butilescopolamina, Midazolam, Octreotido

Metoclopramida Morfina, Haloperidol, Tramadol, Midazolam, Octreotido

Metadona Midazolam

Midazolam Morfina, Haloperidol, Levomepromazina, Metoclopramida, Butilescopolamina,


Octreotido, NaCl 0,9%, água injectável

Morfina Levomepromazina, Metoclopramida, Butilescopolamina, Haloperidol, Midazolam,


Octreotido, NaCl 0,9%, água inj.

Octreotido Morfina, Haloperidol, Levomepromazina, Metoclopramida, Butilescopolamina,


Midazolam, NaCl 0,9%

Tramadol Haloperidol, Metoclopramida, NaCl 0,9%

Furosemida NaCl 0,9%

2,7
Quadro 1 – Compatibilidade dos fármacos usados habitualmente em Cuidados Paliativos
Destacam-se a morfina, metoclopramida, butilescopolamina, haloperidol, midazolam,
dexametasona, ondansetron, tramadol, e furosemida1,2,10. São descritos a
administração de alguns antibióticos, tal como o ceftriaxone, entre outros1,10.
Contudo, muitos não se apresentam licenciados para a utilização pela via
subcutânea1 necessitando deste modo de mais estudos11. Os fármacos descritos
como contra-indicados são o diazepam, fenitoína e a cloropromazina1. Na
administração de medicamentos, pela via subcutânea, é necessário ter em atenção
a compatibilidade dos mesmos1,2. O máximo recomendado, em cada administração
de terapêutica em bólus, é de 1 ml2. Poder-se-á colocar mais que uma via, no caso
de incompatibilidade de fármacos, ou administração de mais, no mesmo horário1,2.
Segundo um estudo desenvolvido por FONZO-CHRISTE et (2005) e uma revisão
sistemática dos fármacos licenciados e administrados pela via subcutânea (na Suiça,
Alemanha, França e Reino Unido), esta é usada diariamente em 83% dos doentes
em cuidados paliativos e, em 54% é usada para hidratação. Evidencia que 34 dos
medicamentos utilizados apenas 13 são licenciados. Os medicamentos mais
utilizados são a morfina, haloperidol, furosemida e o cloreto de sódio 0,9% para
hidratação. Os locais mais utilizados são a coxa, o braço e a parede abdominal.
Utilizam a butterfly ou cateter de teflon durante 3/5 dias. As complicações mais
frequentes foram a dor, edema, inflamação e infecção10. Todavia, a informação
sobre a medicação a utilizar na via subcutânea é ainda muito escassa e necessita
de maior nível de evidência10.
A infusão contínua de medicamentos por via subcutânea através de seringa infusora
proporciona a administração de uma dosagem constante. Esta infusão é usada no
controlo de sintomas em cuidados paliativos2. Os fármacos mais utilizados são os
opiáceos, analgésicos, antieméticos, sedativos, anticolinérgicos, e corticosteróides2.
Os registos indicam que não devem ser administrados mais que 2 a 3 medicamentos
na mesma infusão1. A perfusão deve ter em conta a compatibilidade entre os
fármacos, e a estabilidade à temperatura ambiente2,11.
MOREIRA (2010) no estudo efectuado (n=106), no âmbito da tese de Mestrado,
sobre o uso da via subcutânea para hidratação e administração de terapêutica no
domicílio, evidencia que 38,7%, dos profissionais usa a via subcutânea. 42,5% por
desidratação e 35% na fase agónica. A terapêutica mais administrada é a
metoclopramida, morfina, furosemida, e butilescopolamina, e o cloreto de sódio 0,9%
para a hidratação. Recorrem à parede abdominal (42,5%) e à face externa da coxa
(15%) para o efeito. Refere, também, que os motivos pelos quais os profissionais
não utilizam mais esta via, são por falta de prescrição (76,5%) e por
desconhecimento (39,7%)12.

Material necessário e procedimento


O material necessário para o procedimento é composto por: luvas limpas;
compressas; solução anti-setica; agulha epicraneana (tipo butterfly) calibre 21, 23,
25 ou cateter de teflon; adesivo transparente; seringa com cloreto de sódio 0,9%
para expurgar o sistema1,2,4.
Após verificar a prescrição, esclarecer a pessoa e obter o consentimento, reunir o
material, e lavar as mãos2. Posicionar o doente de forma confortável. Realizar a
limpeza do local a puncionar, e efectuar prega cutânea. Com a agulha já expurgada
introduzir com um ângulo de 45º, com o bisel para cima2, no final roda a agulha de
modo a ficar com o bisel para baixo7. Colocar o adesivo transparente. Efectuar os
registos2. Alguns estudos apontam para a utilização de cateteres de teflon calibre 22
ou 24, como sendo mais confortáveis que as agulhas metálicas1,7,13.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os principais sintomas da pessoa em fim de vida são a dor, as náuseas, os vómitos,
a dispneia, a agitação, o delírio e a respiração ruidosa. Como tal, é necessário
apresentar estratégias para controlo destes sintomas, proporcionando maior conforto
à pessoa.
A via subcutânea para hidratação e administração de terapêutica, na pessoa em fim
de vida é descrita como uma alternativa às outras vias de administração de
medicamentos, principalmente quando a via oral é inexequível. Face à via
intravenosa demonstra a mesma eficácia e segurança, com menor número de
complicações, para além disso possibilita que o doente permaneça no domicílio,
caso seja essa a sua vontade, desde que o cuidador esteja capacitado para efectuar
a administração e vigilância.
Apesar da hidratação ser controversa na pessoa em fim de vida, há que ponderar os
riscos/benefícios. Os estudos descrevem a administração de 1000CC por dia de
cloreto de sódio 0,9%, na desidratação moderada.
Um factor que poderá condicionar a utilização desta via é a indisponibilidade de mais
fármacos a serem utilizados na via subcutânea. Os utilizados são os hidrossolúveis,
como a morfina, metoclopramida, haloperidol, midazolam, butilescopolamina, e
furosemida administrados por bólus ou infusão contínua, considerando a
compatibilidade e a estabilidade dos fármacos. A permanência da butterfly ou cateter
de teflon pode variar, entre 2 a 7 dias. Os estudos apontam para uma maior
durabilidade do cateter de teflon e maior conforto.
Os locais mais adequados para a administração de terapêutica subcutânea são
aqueles que têm mais tecido adiposo, nomeadamente tórax anterior e posterior,
abdómen, e coxas. Está contra-indicado a aplicação em pele não integra, irradiada
por radioterapia, mastectomia, cicatriz, e edema. As principais complicações no local
prendem-se com o desconforto, edema, inflamação e infecção.
Outro aspecto apontado é a falta de conhecimento e experiência dos profissionais
na utilização sistemática deste procedimento. Deste modo, é necessário uma maior
divulgação desta via, maior evidência científica, de modo a que esta se torne uma
alternativa para a administração de terapêutica, tendo em conta o conforto e a
qualidade de vida da pessoa em cuidados paliativos.

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22002000713 (acedido a 16/06/12 às 17:10)

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