Fundação Getúlio Vargas: Escola de Administração de Empresas de São Paulo
Fundação Getúlio Vargas: Escola de Administração de Empresas de São Paulo
Fundação Getúlio Vargas: Escola de Administração de Empresas de São Paulo
RENATA CANELA
SÃO PAULO
2010
1
RENATA CANELA
Campo de conhecimento:
SÃO PAULO
2010
2
Canela, Renata.
Impacto da Responsabilidade Social Empresarial no Custo de Capital
Próprio das Empresas Brasileiras: Um Estudo Empírico do Período de 2005 a
2009. / Renata Canela. - 2010.
63 f.
CDU 657.92
3
RENATA CANELA
Campo de conhecimento:
Data da aprovação:
___/___/______
Banca examinadora:
________________________________________
FGV-EAESP
________________________________________
FGV-EAESP
________________________________________
UPM - FCECA
4
Dedico este trabalho aos meus pais, Luiz Antonio Canela e Maria Aparecida Silva Canela.
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Luiz Antonio e Maria Aparecida, que me apoiaram em todos os
momentos da minha vida, especialmente durante o processo do Mestrado, mostrando-
se sempre presentes e dedicados, iluminando os caminhos com afeto e dedicação.
Ao meu orientador acadêmico, Professor William, pelo apoio desde o início do meu
Mestrado, que me possibilitou estruturar as idéias e questioná-las, auxiliando-me a
realizar o presente trabalho, contribuindo e muito para minha vida acadêmica.
Aos meus amigos, que estiveram presentes neste processo, especialmente à Luiza, que
me ofereceu estadia e especial apoio em todos os momentos do meu curso.
Aos meus colegas do Mestrado, em especial, ao Bruno, que me ajudou com longas
conversas durante o curso, incentivando e contribuindo na realização do presente
trabalho.
Aos Professores Hsia Hua Sheng e Wilson Toshiro Nakamura pelo apoio e prestígio
que me dispensaram ao aceitarem fazer parte da banca examinadora.
Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social
que lhe determina a consciência.
Karl Marx
8
RESUMO
Foi estimado o custo de capital próprio das empresas do Índice da Bolsa de Valores de
São Paulo – Ibovespa, representativo do mercado e das empresas participantes da
carteira do ISE, representativa da responsabilidade social corporativa, para o período
de 2005 a 2009. Como resultado, notou-se que, na maioria dos anos estudados, não foi
significativa a queda no custo de capital próprio das empresas que fazem parte do ISE,
apontando para o fato de o investimento em responsabilidade social empresarial não
afetar indicadores financeiros como o custo de capital próprio analisado.
ABSTRACT
The preliminary cost of equity of companies in the Index of the Stock Exchange of Sao
Paulo - Bovespa Index, representative of the market and companies participating in
the ISE portfolio, representative of corporate social responsibility, for the period 2005
to 2009. As a result, it was noted that in most years studied, there was no significant
drop in the cost of equity of companies that are part of the ISE, pointing to the fact
that the investment in corporate social responsibility does not affect financial
indicators such as cost equity analysis.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
NO ISE 49
TABELA 8 - RESULTADO DA REGRESSÃO ENTRE CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO - ESTIMADO
ATRAVÉS DE REGRESSÕES DOS RETORNOS DAS AÇÕES E FATORES DE RISCO DE
LISTA DE SIGLAS
F&F – Fama&French
VM - Valor de Mercado
VP - Valor Patrimonial
LISTA DE SÍMBOLOS
β i,t
= beta da empresa i no ano t
∂ i, m
= covariância dos retornos mensais da empresa i com os retornos mensais do
mercado
∂ i ,m
² = variância dos retornos mensais do mercado
15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18
3 METODOLOGIA 25
4 RESULTADOS 48
5 CONCLUSÃO 57
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 60
16
1 INTRODUÇÃO
Para tanto, como proxy para a responsabilidade social empresarial, foi usado o Índice
de Sustentabilidade Empresarial (ISE) que tem o objetivo de refletir o retorno de uma
carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a
responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial, e também atuar como
promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro. (BMF&BOVESPA, 2010)
17
Para a estimativa do custo de capital próprio das empresas, foi usado o modelo de 3
fatores de Fama&French (1993), devido ao seu maior poder de explicação na variação
dos retornos dos ativos, comparado com Capital Asset Pricing Model (CAPM) de
Sharpe (1964).
Foi estimado o custo de capital próprio das empresas do Índice da Bolsa de Valores de
São Paulo (Ibovespa), representativo do mercado e das empresas participantes da
carteira do ISE, representativa da responsabilidade social corporativa, para o período
de 2005 a 2009; período este escolhido devido à existência do ISE, que passou a
existir desde 2005 e possui dados de empresas até 2009 (as carteiras do ISE são
reavaliadas anualmente, segundo CES-FGV, 2010).
No presente estudo, notou-se que, na maioria dos anos estudados, não foi significativa
a queda no custo de capital próprio das empresas que fazem parte do ISE, apontando
para a não influência de investimento em responsabilidade social empresarial em
indicadores financeiros da firma, como o custo de capital próprio analisado.
Para a análise, então, o estudo está organizado da seguinte forma: na seção 2, é feita
uma revisão da literatura; na seção 3, é mostrada a metodologia de estudo; na seção 4
são analisados os resultados e na seção 5 é feita a conclusão.
18
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Tais autores viram na literatura que os que sugerem uma relação negativa entre
responsabilidade social e performance financeira tem argumentado que a alta
responsabilidade corporativa resulta em custos adicionais que colocam uma firma
numa desvantagem econômica comparada com outras não tão socialmente
responsáveis (BRAGDON; MARLIN, 1972; VANCE, 1975). Em contraste, outras
escolas que investigam responsabilidade social empresarial e performance tem
argumentado uma associação positiva. Uma firma que tem alta responsabilidade
corporativa teria menos problemas com trabalho, e os clientes seriam favoráveis a
disporem de seus produtos. Também para bancos, investidores e governos.
McGuire et al. (1988), então, viram que, apesar da performance tender a predizer
responsabilidade social empresarial melhor do que risco, as medidas de risco também
explicam uma significante porção da variabilidade em responsabilidade social pelas
firmas. Assim, a falta de responsabilidade social deve expor uma firma a um risco
adicional significante de processos e multas e deve limitar suas opções estratégicas.
Portanto, mais que olhar para a crescente lucratividade das ações em responsabilidade
social, segundo os autores, os gestores e interessados no impacto financeiro da
responsabilidade social devem olhar para o risco reduzido.
Para os autores, desde que o risco deve ser balanceado por retornos altos, firmas com
baixa responsabilidade social deveriam ganhar altos retornos para justificar um risco
crescente. Entretanto, os dados da pesquisa sugerem que as firmas com baixa
responsabilidade social também experimentam menor Retorno dos Ativos (ROA) e
retornos do mercado de ações que as firmas com alta responsabilidade social.
Então, como conclusão dos autores, os resultados sugerem a redução do risco da firma
como importante benefício de responsabilidade social.
Fombrun e Shanely (1990), por sua vez, após analisarem 292 empresas dos Estados
Unidos incluídas num estudo da Fortune de 1985 sobre a reputação das empresas,
sugerem que a reputação positiva pode gerar retornos em excesso permitindo que as
20
Já Hamilton et al. (1993) analisaram, num período de 1981 a 1990, que fundos mútuos
socialmente responsáveis não ganham estatisticamente retornos em excesso e que a
performance desses fundos não é estatisticamente diferente da performance de fundos
convencionais.
Rao (1996), por sua vez, realizou um estudo que adicionou à evidência empírica que
permite sustentar uma relação significativa entre ética e lucratividade através da
análise da ligação entre os relatórios publicados sobre o comportamento ético em
termos de poluição ambiental por parte de empresas de capital aberto dos EUA e
multinacionais e no desempenho de suas ações. Para tanto, usou relatórios ambientais
de poluição do ar, da água ou do ambiente de limpeza, publicado no Wall Street
Journal 1989-1993, e a análise mostrou que o desempenho real das ações das
empresas foi menor do que o retorno de mercado esperado ajustado. A conduta
antiética por parte das empresas que foi descoberta e tornada pública teve impacto
sobre os acionistas através da redução do valor de suas ações por um período
considerável de tempo.
No caso do estudo de Feldman et al. (1997), usando mais de 300 das maiores
companhias de capital aberto dos Estados Unidos, eles encontraram que, adotando
uma postura mais pró-ativa com relação ao ambiente, isso gera um impacto
significante e favorável para a percepção do risco da firma pelos investidores.
Usando dados durante cinco anos, Tsoutsoura (2004) analisou e testou o sinal da
relação entre a responsabilidade social corporativa e desempenho financeiro. O
conjunto de dados inclui as empresas do índice Standard and Poor 500 (S&P500) e
abrange o período 1996 a 2000. Os resultados indicam que o sinal da relação é
positivo e estatisticamente significativo, apoiando a visão de que o desempenho
empresarial socialmente responsável pode ser associado a uma série de benefícios
financeiros.
No estudo de Bassen et al. (2006), cobrindo cerca de 80% do Morgan Stanley Capital
International World Index (MSCI World Index) de forma tendenciosa às empresas dos
Estados Unidos, os autores testaram a hipótese da relação entre responsabilidade social
empresarial e performance financeira e que a boa performance de responsabilidade
social empresarial reduz o risco da companhia. No entanto, não encontraram relação
clara entre responsabilidade social empresarial e performance financeira, mas
encontraram que responsabilidade social empresarial e performance financeira foram
indiretamente ligadas através do risco da companhia. Dessa forma, mostraram a
evidência de que a responsabilidade empresarial é, então, fortemente ligada com
medidas de risco, como, por exemplo, o risco da perda de reputação com a falta de
“investimento” em responsabilidade corporativa.
Analisando a relação entre desempenho social das empresas e retornos das ações no
Reino Unido, Brammer et al. (2006) usaram indicadores para ambiente, funcionários e
atividades com a comunidade e encontraram que a baixa performance financeira das
firmas é atribuída a sua boa performance no ambiente e aspectos da comunidade.
Como conclusão, os autores tiveram o principal resultado que as firmas com alta
performance social tendem a atingir menores retornos, enquanto firmas com os
menores pontos possíveis de responsabilidade social empresarial performaram além do
mercado.
Por sua vez, Brown et al. (2006) examinaram todas as empresas Fortune 500
identificadas em 1998 e viram que o custo de agência tem um papel relevante nas
práticas filantrópicas da companhia. Documentaram que firmas com maior board de
diretores estão associadas com significantemente mais cash giving e com o
estabelecimento de fundações corporativas. De outro lado, consistentes com o efetivo
monitoramento dos credores, firmas com maior razão entre dívida e valor dão
significantemente menos para caridade.
23
3 METODOLOGIA
Para analisar se o custo de capital próprio das empresas brasileiras é afetado pela sua
responsabilidade social corporativa, houve a necessidade, então de estimar o custo de
capital próprio delas. Assim como Ziegler et al. (2002), estimou-se tal variável pelo
modelo de Fama&French (1993) e, como variável explicativa, a inserção ou não da
empresa ao ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial, usado como proxy para
responsabilidade social empresarial - como em McWilliams e Siegel (2000) e
Tsoutsoura (2004).
Estudos de carteiras (por exemplo, usado por Derwall et al., 2004) usualmente
comparam a performance de membros com médias superiores em desempenho em
responsabilidade social empresarial contra médias inferiores, enquanto oferecem
algumas implicações para investidores institucionais interessados em investimentos
socialmente responsáveis. Os resultados são raramente aplicáveis ao nível firma.
Estudos de eventos analisam o curto prazo, o efeito dos mercados de capitais depois de
ações responsáveis ou não (por exemplo, estudo de Rao, 1996).
Para analisar se o custo de capital próprio das empresas brasileiras é afetado pela sua
responsabilidade social corporativa, foi usado o ISE – Índice de Sustentabilidade
Empresarial, como proxy para a responsabilidade (social) empresarial.
Segundo a BM&FBovespa (2010), para ser incluída no índice, as ações tem que ser
uma das 200 ações com maior índice de negociabilidade nos 12 meses anteriores ao
início do processo de reavaliação; tem que terem sido negociadas em, pelo menos,
50% dos pregões ocorridos nos 12 meses; e atender aos critérios de sustentabilidade
apontados pelo Conselho do ISE.
Sobre tal critério, segundo a BM&FBovespa (2010), os títulos serão ponderados pelo
respectivo valor de mercado – no tipo pertencente à carteira – de suas ações
disponíveis para negociação (“free float”), ou seja, serão excluídas as ações de
propriedade do controlador.
Também, a participação de uma empresa no ISE não poderá ser superior a 25%
(considerando todos os tipos de ações da empresa, se ocorrer), nas reavaliações
periódicas. Caso isso ocorra, serão efetuados ajustes para adequar o peso da empresa a
esse limite.
Aos princípios do “triple botom line”, foram acrescidos mais três grupos de
indicadores: critérios gerais, que examina, por exemplo, a posição da empresa perante
acordos globais e se a empresa publica balanços sociais; critérios de natureza do
produto, que questiona, por exemplo, se o produto da empresa provoca danos e riscos
à saúde dos consumidores; e critérios de governança corporativa.
As respostas das companhias são analisadas por uma ferramenta estatística chamada
“análise de clusters”, que identifica grupos de empresas com desempenhos similares e
aponta o grupo com melhor desempenho geral. As empresas desse grupo são as que
compõem a carteira final do ISE (que terá um número máximo de 40 empresas), após
aprovação do Conselho.
Para a estimativa do custo de capital próprio das empresas, foi usado o modelo de 3
fatores de Fama&French (1993), devido ao seu maior poder de explicação na variação
dos retornos dos ativos, comparado com CAPM – Capital Asset Pricing Model - de
Sharpe (1964), que define que o retorno de um ativo qualquer é determinado pelo
retorno do ativo livre de risco e pelo prêmio de mercado ajustado pelo fator beta, o
qual mede a sensibilidade dos retornos deste ativo em relação aos retornos da carteira
de mercado. Este fator beta, então, seria o único fator que explicaria a diferença de
retorno entre os ativos. Desta forma, ativos com diferentes betas apresentariam
diferentes retornos, sendo a relação entre retorno e beta linear. Segundo Málaga
(2003), o CAPM tem sido utilizado extensivamente na rotina das finanças de capital e
30
Para, então, estimar o custo de capital próprio das empresas usando o modelo de 3
fatores de Fama&French (1993), foram usados dados da ECONOMÁTICA, para os
anos de 2005 a 2009, devido ao ISE ter sido implementado a partir de 2005 e as
carteiras serem atualizadas anualmente.
Portanto, ano a ano, foram coletados dados das empresas listadas na BOVESPA –
Bolsa de Valores de São Paulo -, como:
• As cotações das ações no fechamento no último dia útil de junho de t-1 a junho
de t, ajustadas para proventos e dividendos;
Além deste filtro, foram excluídas as empresas com liquidez em bolsa menor que
0,001, para compor as carteiras com ações com o mínimo de relevância no mercado –
pelo menos 0,1% do volume de negócios do mercado (ARGOLO, 2008).
Também foram retiradas as empresas com Patrimônio Líquido menor que 0 (zero), já
que indica que a empresa estaria com complicada situação financeira, o que poderia
afetar os resultados dos fatores estimados.
Caso repetisse alguma empresa, devido à existência de mais de uma classe de ações,
foi escolhida a ação da empresa mais líquida em bolsa, assim, cada empresa foi
representada com um tipo de ação.
Após serem feitos esses filtros, foram estimados os retornos das ações, seguindo a
seguinte fórmula, já que o valor das ações foi extraído da ECONOMÁTICA, que
disponibiliza o preço ajustado para proventos (dividendos) e subscrições:
=[
P i ,t
− 1]
R i ,t
(1)
P i ,t −1
Em que,
R i,t
= retorno da ação i para o mês t
P i,t
= preço de fechamento da ação i, ajustado para proventos e subscrições, ao final
do mês t.
P i ,t −1
= preço de fechamento da ação i, ajustado para proventos e subscrições, ao final
do mês t-1.
32
Assim, com a estimativa dos retornos das ações, foram excluídos os retornos não
existentes, por exemplo, devido à ausência de valor de mercado da ação para
determinado mês no último dia útil deste.
Segue, então, o resultado do número total de empresas analisadas para a formação das
carteiras para a estimativa dos fatores de Fama&French após todos os filtros:
Como as informações de balanço das empresas são divulgadas com atraso, então
uso do Patrimônio Líquido de dezembro de cada ano, mas a formação da carteira
feita no final de junho – isso para garantir que as informações já fossem
absorvidas pelo mercado e os efeitos refletivos nas cotações.
As carteiras finais foram criadas com as ações dos 3 grupos de Valor (LOW,
MEDIUM e HIGH) e com as ações dos 3 grupos de Tamanho (SMALL,
MEDIUM e BIG), totalizando 9 carteiras:
35
∑VM ( R i ,t i ,t
)
R = p ,t
i =1
(2)
VM p ,t
Em que,
R p,t
= retorno da carteira p no mês t.
R i,t
=retorno da ação i, pertencente à carteira p, no mês t.
VM i,t
= valor de mercado da ação i ao fim do mês t.
VM p,t
= valor de mercado da carteira p ao final do mês t.
média simples dos retornos mensais das três carteiras BIG e a média simples dos
retornos mensais das três carteiras SMALL, sendo:
[ SMBt ] = [ R S ,t − R B ,t ] (3)
Em que,
R + R SM ,t + R SH ,t
R S ,t =
SL ,t
= retorno médio mensal das três carteiras SMALL.
3
R + R BM ,t + R BH ,t
=
BL ,t
R = retorno médio mensal das três carteiras BIG.
B ,t 3
[ HMLt ] = [ R H ,t − R L ,t ] (4)
38
Em que,
R + R HM ,t + R HB ,t
=
HS ,t
R = retorno médio mensal das três carteiras HIGH
H ,t 3
R + R LM ,t + R LB ,t
R L ,t =
LS ,t
= retorno médio mensal das três carteiras LOW.
3
O prêmio de risco Mercado, que também influencia o retorno das ações, segundo
Fama&French (1992 e 1993), é estimado mensalmente pela diferença entre o
retorno do mercado e o retorno do ativo livre de risco.
Como proxy para o mercado, foi usado o Índice de ações – Ibovespa, disponível
no site do IPEADATA (2010). Tal índice foi usado pela impossibilidade de se
identificar e construir a verdadeira carteira de mercado, segundo Roll (1977).
Como proxy para a taxa livre de risco, foi usado o Certificado de Depósito
Interbancário (CDI), já que, segundo estudo de Barros, Famá e Silveira (2003),
no mercado brasileiro, os retornos da Caderneta de Poupança, assim como o
CDI, apresentam-se condizentes com a conceituação de uma taxa pura de juros,
com desvio padrão de retornos desprezível e correlação com o mercado
insignificante.
39
R p ,t
− R f ,t = α + β [ R m,t − R f ,t ] + s[ SMBt ] + h[ HMLt ] + ε p ,t (5)
Em que,
R p,t
= retorno da carteira p no mês t
R f ,t
= retorno do ativo livre de risco no mês t
R m,t
= retorno da carteira de mercado no mês t
Tabela 4 - Tabela resumo dos coeficientes e fatores de riscos médios mensais, ano a ano
R i ,t
− R f ,t = α + β [ Rm,t − R f ,t ] + s[ SMBt ] + h[ HMLt ] + ε i ,t (6)
Em que,
R i,t
= retorno médio mensal da ação da empresa i no ano t
R f ,t
= retorno do ativo livre de risco médio mensal do ano t
R m,t
= retorno da carteira de mercado média mensal do ano t
Outra opção é realizar uma regressão dos retornos da empresa mês a mês em
relação aos prêmios de mercado, SMB e HML, identificando, assim, os
coeficientes para cada empresa e, com isso, estimando o custo de capital próprio.
Havendo mais de uma ação por empresa no Ibovespa, foi, então, escolhida a
ação mais líquida em bolsa (para ter somente uma ação por empresa analisada).
Feito isso, empresas foram classificadas como fazendo ou não parte do ISE,
através de uma dummy, com o número 1 (um) para as pertencentes à carteira do
ISE, e 0 (zero) para as não pertencentes no ano.
Segue-se o número total de empresas analisadas por ano após a aplicação dos
filtros acima citados:
46
3.4 Análise de Regressão entre o Custo de Capital Próprio das empresas e a presença
delas no ISE:
4 RESULTADOS
Para tanto, foi estimado o custo de capital próprio pelo modelo de 3 fatores de
Fama&French (1993) das empresas do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo
– Ibovespa, representativo do mercado e das empresas participantes da carteira
do ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial, representativa da
responsabilidade social corporativa, para o período de 2005 a 2009; período este
escolhido devido à existência do ISE, que passou a existir desde 2005 e possui
dados de empresas até 2009 (as carteiras do ISE são reavaliadas anualmente).
Feitas as estimativas do custo de capital próprio das empresas por dois métodos:
1. Classificando a empresa nas 9 carteiras analisadas e, através dos coeficientes e
fatores de risco estimados, calcular o custo de capital próprio das empresas ano a
ano; e 2. Realizando regressões entre os retornos das ações das empresas
analisadas e entre os fatores de risco estimados, e, com isso, chegando aos
coeficientes de cada empresa para a estimativa do custo de capital próprio;
foram feitas regressões, ano a ano, entre o custo de capital próprio estimado
(como variável dependente) e a presença ou não no ISE (como variável
independente).
Para tanto, usando-se, então, o CAPM para custo de capital próprio, calculados
os retornos mensais de cada empresa (de julho de t-1 a junho de t) e tendo antes
calculados os prêmio mensais do mercado com relação ao ativo livre de risco,
estimou-se o beta para cada empresa da seguinte forma:
∂
β =
i ,m
(7)
i ,t
∂ m
²
Em que,
β i,t
= beta da empresa i no ano t
52
∂ i, m
= covariância dos retornos mensais das ações da empresa i com os retornos
∂ m
² = variância dos retornos mensais do mercado
Calculado o beta das empresas, para cada uma delas, por ano, estimou-se o custo
de capital próprio delas através da equação do CAPM:
R i ,t
− R f ,t = α + β [ R m ,t − R f , t ] + ε i , t (8)
Em que,
R i,t
= retorno médio mensal da ação da empresa i no ano t
R f ,t
= retorno do ativo livre de risco médio mensal do ano t
R m,t
= retorno da carteira de mercado média mensal do ano t
Tabela 9– Resultado da Regressão entre Custo de Capital Próprio - estimado através do CAPM –
e Presença no ISE
Nota-se, novamente, que na maioria dos anos estudados, não houve influência da
presença da empresa no ISE, ou seja, o investimento em responsabilidade social
empresarial não influenciou o custo de capital próprio das empresas brasileiras.
Assim como em Bassen et al. (2006) e Sadok et al. (2010), foram usadas
variáveis de controle como outra ferramenta de robustez para os resultados.
• Tamanho da empresa e
Tabela 10 - Resumo dos resultados das regressões anuais entre ROA, ROE, Tamanho e
Alavancagem; e presença da empresa no ISE
Deste modo, como a maioria dos resultados não foi significativa para as
variáveis de controle, a presença no ISE não influenciaria para a melhora dos
retornos das empresas, e/ou não influenciaria no tamanho delas. Entretanto, o
que se mostrou mais relevante foi a relação entre a presença no índice e a
alavancagem, ou seja, o endividamento da empresa e, relacionando-se a isso, o
fato de o investimento em sustentabilidade, na maioria dos anos, também não
influenciar o custo de capital próprio delas. Dessa forma, tal investimento em
responsabilidade social empresarial parece, então, não afetar na melhoria efetiva
dos indicadores financeiros das empresas, mostrando uma indicação para a
influência com relação ao endividamento, não necessariamente apontando para
retornos financeiros positivos.
57
5 CONCLUSÃO
Como resultado, notou-se que, na maioria dos anos estudados, não foi
significativa a influência no custo de capital próprio das empresas que fazem
parte do ISE, apontando para uma não influência do investimento em
responsabilidade social empresarial nos indicadores financeiros das firmas.
Tal resultado está de acordo com alguns outros estudos como em Hamilton et al.
(1993) que avaliaram que fundos mútuos socialmente responsáveis não ganham
estatisticamente retornos em excesso e que a performance desses fundos não é
estatisticamente diferente da performance de fundos convencionais.
58
Além disso, devido ao filtro para compor as carteiras com ações com o mínimo
de relevância no mercado – pelo menos 0,1% do volume e negócios do mercado
(ARGOLO, 2008), restou um número reduzido de empresas para a formação das
carteiras para a estimativa do custo de capital próprio, o que pode também ter
limitada a pesquisa.
Outro fator a se considerar é o fato do índice ainda ser “novo”, podendo outros
estudos serem feitos nos próximos anos para melhorar a pesquisa sobre o
assunto, explorando, dessa forma, os mecanismos informais que ligam a
performance financeira com a responsabilidade social empresarial para
determinar essa relação de forma consistente ao longo do tempo.
59
Além disso, mais estudos podem ser feitos analisando o impacto no custo de
capital próprio das empresas com relação à responsabilidade social empresarial,
também incluindo variáveis de controle na mesma equação, buscando analisar,
com isso, o impacto dessas variáveis no custo de capital próprio examinado.
Mesmo assim, o estudo mostrou que pode ajudar os gestores a entender o efeito
ao do investimento em responsabilidade social empresarial nos custos
financeiros da firma e gera implicações para o planejamento estratégico, mesmo
os resultados não apontarem impacto do investimento em responsabilidade
social empresarial nos indicadores financeiros das firmas, mas podendo ainda
oferecer-se, a responsabilidade social empresarial, como uma estratégia
mercadológica.
60
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Additions and Deletions: Evidence of Asymmetry and a New Explanation. [S.I.]:
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61
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<www.economatica.com.br>. Acesso em: 01 jul. 2010.
EL GHOUL, S. et al. Does Corporate Social Responsibility Affect the Cost of Capital?
Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1546755. 2010.
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<http://www.ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3344&Alias=Ethos&Lang=pt-
BR>. Acesso em: 19 jul. 2010.
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Journal of Finance 47, 427-466. 1992
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Corporate Social Responsibility, [S.I.]: Working Paper, Santa Clara University. 2007
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1977.
63
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Review, 64: 18-24. 1975