Raiva Humana 2017

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

Brasil

 Sumário
Epidemiologia e Serviços de Saúde 
Resumo Texto (PT)  PDF
ARTIGO ORIGINAL • Epidemiol. Serv. Saúde 28 (2) • 2019 •
https://doi.org/10.5123/S1679-49742019000200001  

COPIAR
Raiva humana no Brasil: estudo descritivo, 2000-
2017 * 

La rabia humana en Brasil: estudio descriptivo, 2000-2017

Alexander Vargas

Alessandro Pecego Martins Romano

Edgar Merchán-Hamann

Universidade de Brasília, Departamento de Saúde Coletiva, Brasília,


ResumoDF, Brasil
http://orcid.org/0000-0001-6775-9466
Objetivo:

descrever o perfil epidemiológico da raiva humana no Brasil.

Métodos:

estudo descritivo dos casos de raiva humana notificados em 2000-2017; estimou-se a


incidência e distribuição espacial.

Resultados:

188 casos humanos observados, na maioria homens (66,5%), residentes rurais (67,0%),
menores de 15 anos de idade (49,6%), com exposição mais frequente por mordedura (81,9%);
o período 2000-2008 apresentou maior frequência (85,6%), com 46,6% dos casos envolvendo
cães e 45,9% morcegos; incubação mediana de 50 dias, seguida de sintomatologia
predominante de febre (92,6%), agitação (85,2%), parestesia (66,7%) e disfagia/paralisia
(51,9%); a maioria (70,2%) não fez profilaxia, os demais (29,8%) realizaram-na de forma
inoportuna e/ou incompleta; 13 pacientes foram tratados pelo Protocolo de Recife e dois
sobreviveram.

Conclusão:
Este site usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia
houve redução na incidência de raiva humana e mudança no perfil epidemiológico,
nossa Política
predominando casos transmitidos de Privacidade.
por morcegos; OK casos secundários e
sugere-se investigar
viabilizar a profilaxia pré-exposição em populações sob maior risco de acidentes com
morcegos.

Brasil
Palavras-chave:
Raiva; Vírus da Raiva; Epidemiologia Descritiva; Saúde Pública; Vigilância em Saúde Pública

Epidemiologia e Serviços de Saúde

Resumen
Objetivo:

describir el perfil epidemiológico de la rabia humana en Brasil.

Métodos:

descripción de los casos en 2000-2017, con estimación de la incidencia y distribución espacial.

Resultados:

se observaron 188 casos humanos, la mayoría de hombres (66,5%), residentes rurales


(67,0%), menores de 15 años de edad (49,6%), con exposición más frecuente por mordedura
(81,9%); el período 2000-2008 presentó mayor frecuencia (85,6%), con un 46,6% de los casos
involucrando a perros y 45,9% a murciélagos; la incubación promedio fue de 50 días, seguida
de sintomatología predominante de fiebre (92,6%), agitación (85,2%), parestesia (66,7%) y
disfagia/parálisis (51,9%); la mayoría (70,2%) no hizo profilaxis y los demás (29,8%) la
realizaron de forma inoportuna y/o incompleta; se trataron 13 pacientes con el Protocolo de
Recife y dos sobrevivieron.

Conclusión:

hubo reducción en la incidencia de rabia humana y cambio en el perfil epidemiológico,


predominando casos transmitidos por murciélagos; se sugiere investigar casos secundarios y
viabilizar la profilaxis preexposición en poblaciones de mayor riesgo a accidentes por
murciélagos.

Palabras clave:
Rabia; Virus de la Rabia; Epidemiología Descriptiva; Salud Pública; Vigilancia en Salud Pública

Abstract
Objective:

to describe the epidemiological profile of human rabies in Brazil.

Methods:

this is a descriptive study of human rabies cases reported in 2000-2017, with an estimate of
incidence and spatial distribution.

Results:

Este site
188usa cookies
cases para garantir
were studied, que você
mostly males obtenha
(66.5%), uma melhor
rural residents experiência
(67.0%), de navegação.
children under 15 years Leia
(49.6%), with biting being the most frequent form of exposure (81.9%); frequency was highest in
Política
nossawith
the period 2000-2008 (85.6%), 46.6%de
of Privacidade. OKand 45.9% bats; median
cases involving dogs
incubation was 50 days, followed by, predominantly, symptoms of fever (92.6%), agitation
(85.2%), paresthesia (66.7%), and dysphagia/paralysis (51.9%); the majority (70.2%) did not
Brasil
have prophylaxis and for the rest (29.8%) who did have prophylaxis, it was untimely and/or
incomplete; 13 patients were treated according to the Recife Protocol, and two survived.
Epidemiologia e Serviços de Saúde
Conclusion:

human rabies incidence reduced and its epidemiological profile changed, with predominance of
cases transmitted by bats; we suggest that secondary cases be investigated, and that pre-
exposure prophylaxis be made available to populations at greater risk of accidents involving
bats.

Keywords:
Rabies; Rabies Virus; Epidemiology, Descriptive; Public Health; Public Health Surveillance

Introdução
A raiva está presente em mais de 150 países e aproximadamente 59 mil pessoas atingidas por
essa doença infecciosa morrem a cada ano, em todo o mundo, principalmente na Ásia e na
África. 1 Na América Latina, entre 2013 e 2016, houve redução na incidência de raiva
humana transmitida por cães: foram relatados casos em oito países do subcontinente, sendo
mais comum a transmissão por morcegos. 2 , 3 No Brasil, entre 1990 e 2017, foram
registrados 594 casos, predominantemente em ambientes urbanos, atribuídos a variantes
antigênicas (AgV) caninas do tipo 2. 4 No período de 2000 a 2009, no território brasileiro,
observou-se um incremento de casos de raiva humana cujos animais transmissores foram
morcegos. 5

Em 2009, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) foi incumbida de apoiar os países


da América do Sul e Caribe na eliminação de doenças negligenciadas, relacionadas à pobreza,
sendo a raiva transmitida por cães selecionada como uma de suas prioridades. 6

Entre 2013 e 2016, a raiva transmitida por cães foi relatada na Bolívia, Brasil, República
Dominicana, Guatemala, Haiti, Honduras, Peru e Venezuela. Em 2016, foram notificados dez
casos: oito no Haiti e dois na Guatemala. Essa redução em nível continental, provavelmente,
deveu-se à vacinação de cães em grande escala, maior cooperação técnica entre ministérios
da Saúde e da Agricultura, além da melhoria no acesso à profilaxia pré e pós-exposição. Não
obstante, a doença continua presente em alguns bolsões geográficos. Costuma ocorrer, a cada
dois anos, a Reunião dos Diretores do Programa de Raiva nas Américas, espaço de discussões
e de subsídio às tomadas de decisão na gestão dos programas de raiva dos países envolvidos,
com o objetivo de, até 2022, eliminar a raiva transmitida por cães na região. 7

O Programa Nacional de Profilaxia da Raiva Humana, instituído no Brasil em 1973, promoveu a


diminuição dos casos de raiva humana e canina, principalmente pela efetividade das
campanhas de vacinação canina. Entretanto, chamam a atenção casos de raiva humana
transmitidos por animais no ciclo silvestre, como morcegos, cachorros-do-mato, raposas e
primatas não humanos, mostrando uma mudança no perfil epidemiológico da infecção. 5

Diante desse cenário, a presente pesquisa objetivou descrever o perfil epidemiológico da raiva
humana no Brasil, no período de 2000 a 2017.
Este site usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia
Métodos nossa Política de Privacidade. OK
Realizou-se um estudo observacional descritivo retrospectivo do tipo de série de casos, focado
nos casos de raiva humana notificados no Brasil no período de 2000 a 2017. Foram incluídos
Brasil
no estudo os casos de raiva confirmados, seja pelo critério laboratorial, seja pelo critério clínico-
epidemiológico.
Epidemiologia e Serviços de Saúde
Foram avaliadas as seguintes variáveis:

1. a) Sociodemográficas

2. - sexo (masculino; feminino);

3. - faixa etária (em anos: até <1; 1-4; 5-9; 10-14; 15-19; 20-34; 35-49; 50-64; 65 e mais);

4. - Unidade da Federação (UF) de residência;

5. - município de residência; e

6. - zona de residência (rural; urbana).

7. b) Antecedentes epidemiológicos

8. - período de incubação;

9. - tipo de exposição ao vírus rábico;

10. - localização da lesão;

11. - antecedentes de profilaxia antirrábica;

12. - completitude da profilaxia; e

13. - espécie animal agressora.

14. c) Atendimento e diagnóstico

15. - hospitalização;

16. - período de internação;

17. - sinais e sintomas;

18. - diagnóstico laboratorial; e

19. - tipificação da variante viral.

Foram utilizados como fontes de dados o Sistema de Informação de Agravos de Notificação


(Sinan) e as notificações do Grupo Técnico de Raiva da Unidade Técnica de Vigilância de
Zoonoses, do Ministério da Saúde. O acesso ao banco de dados, corrigido e não nominal, junto
ao Ministério da Saúde, foi possível graças à Lei de Acesso à Informação.

O período de incubação foi calculado pela diferença entre a data de agressão e a data de início
de sintomas. O tempo de internação hospitalar foi calculado a partir da diferença entre a data
de óbito, ou da alta do paciente, e a data de internação.

O coeficiente de incidência foi calculado da seguinte forma: como numerador, (i) o quociente da
Este site usa cookies
divisão para
do período garantir
de estudo emque
três você obtenha
períodos iguais uma melhor
de seis experiência2006-2011;
anos (2000-2005; de navegação.
e Leia
2011-2017); e como denominador, (ii) a população geral calculada com base na população
nossa Política de Privacidade. OK
média do Brasil entre os dois anos do meio de cada período (estimada pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]). Foi considerada como Amazônia Legal a região
assim definida pelo IBGE, constituída pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso,
Brasil
Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão e cinco municípios de Goiás.

Foi realizada estatística descritiva: cálculo de frequências simples e relativas, medidas de


Epidemiologia e Serviços de Saúde
tendência central (média e mediana) e de dispersão (amplitude, desvio-padrão e quartil). Testes
de normalidade, a exemplo do teste de Kolmgorov Smirnoff, não foram utilizados porque não se
buscou testar diferenças nas médias, desde que se tratava de estudo descritivo. Os softwares
utilizados foram TabWin 32, Epi Info 7.1 e Microsoft Excel 2010.

O projeto do estudo foi dispensado de apreciação por Comitê de Ética em Pesquisa, conforme
determina a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 510, de 7 de abril de 2016.

Resultados
Do total de 188 casos de raiva humana ocorridos no país, 125 (66,5%) eram do sexo masculino
e 126 (67,0%) residiam em zona rural; a idade dos casos variou de 1 a 82 anos (média = 20,9;
desvio-padrão = 17,1 e mediana = 14,5 anos; 1º quartil = 7 e 3º quartil = 30). A faixa etária mais
acometida foi a de menores de 15 anos, 49,6% do total. O tipo de exposição mais registrado
nas notificações foi mordedura por animal (N=154; 81,9%), houve predomínio da agressão em
múltiplos locais (N=40; 21,2%), seguidos dos pés (N=38; 20,2%) e mãos (32; 17,0%), e
somente um caso com registro de infecção por contato indireto (Tabela 1).

Quanto à região nacional da notificação, predominou o Nordeste (N=102; 55,0%), seguido pela
região Norte (N=66; 34,0%). Os estados com mais casos foram Maranhão (N=55; 30,0%), Pará
(N=45; 24,0%) e Ceará (N=17; 9,0%) (Figura 1). Na Amazônia Legal foram 68 casos
(36,2%), todos em área rural e transmitidos por morcegos. Em 2017, houve um surto de raiva
na comunidade ribeirinha Tapira, às margens do rio Unini, município de Barcelos, AM, com três
irmãos menores de 18 anos infectados: eram moradores de área rural (reserva extrativista),
com histórico de exposições a morcegos.

Quatro casos de raiva humana transmitidos por cães ocorreram em regiões de fronteira: Assis
Brasil/AC, em 2000; São Francisco do Guaporé/RO, em 2001; Xapuri/AC, em 2004; e
Corumbá/MS, em 2015. Os quatro municípios fazem fronteira com a Bolívia, sendo que Assis
Brasil, particularmente, é de tríplice fronteira (Brasil, Peru e Bolívia).

A maioria dos casos (N=161; 85,6%) ocorreu entre 2000 e 2008. Desses, 75 (46,6%)
envolveram cães e 74 (45,9%) morcegos. Dos casos de infecção por morcegos, 63 (85,1%)
aconteceram entre 2004 e 2005, relacionados a três surtos. Entre 2009 e 2017 ocorreram 27
casos (14,4%), 11 (40,7%) envolvendo cães, seguidos de oito por morcegos (29,6%) e quatro
por macacos (14,8%); e três por gatos (11,1%), com vírus da variante AgV3, compatível com a
encontrada em morcego hematófago. Em 2017, um surto de raiva humana causada por
morcegos atingiu três pessoas: duas delas não fizeram uso de profilaxia antirrábica e evoluíram
a óbito; no terceiro caso, fez-se uso de soro antirrábico e três doses de vacina -
aproximadamente 90 dias após a exposição, o paciente foi submetido ao Protocolo de Recife e
sobreviveu com sequelas neurológicas severas (Figura 2).

Os coeficientes de incidência nos três períodos analisados foram: para 2000-2005, 0,842 caso
de raiva/100 mil habitantes; 2006-2011, 0,0105/100 mil hab.; e 2012-2017, 0,0098/100 mil hab.

( Figura 3).
Este site usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia

nossa Política de Privacidade. OK


Os sinais e sintomas de raiva humana predominantes no Brasil foram febre (92,6%), agitação
(85,2%), parestesia (66,7%) e disfagia/paralisia (51,9%) (Tabela 2). A mediana do tempo de
Brasil
incubação foi de 50 dias (mínimo = 11; máximo = 290); a infecção transmitida por cães teve
mediana de 57 dias de incubação (mínimo = 11; máximo = 290), e a infecção por morcegos, 39
dias (mínimo = 16; máximo = Epidemiologia
244). e Serviços de Saúde

Do total de casos, 150 (79,8%) foram confirmados por critérios laboratoriais; em 46 (24,0%) foi
possível identificar a variante viral, principalmente a partir de 2005. Das variantes do vírus
detectadas, a mais comum foi a Agv3 de morcego Desmodus rotundus, presente em 27 casos
(59,0%), incluindo três transmitidos por gatos. A mediana de internação foi de 6,5 dias (mínimo
= 1; máximo = 120).

Dos casos de raiva, 132 (70,2%) não fizeram nenhuma profilaxia e 56 (29,8%) receberam
esquema profilático inoportuno e/ou incompleto. O tempo para busca da primeira dose de
vacina antirrábica foi, em média, de 44 dias após a agressão (desvio-padrão: 37 dias). A partir
de 2008, ocorreram 13 tratamentos para raiva no Brasil, quando foi utilizado o Protocolo de
Recife: dois pacientes submetidos a tratamento sobreviveram com sequelas neurológicas,
resultando em uma taxa de sucesso de 2/13.

Discussão
A incidência de raiva humana diminuiu entre 2006 e 2017, apesar de ainda ocorrerem casos
envolvendo morcegos. As regiões Norte e Nordeste concentraram a maioria dos casos, de
maior frequência homens, crianças e adolescentes, com residência em área rural. A exposição
mais frequente foi por mordedura, com lesões em múltiplas partes do corpo. Os animais
silvestres corresponderam, aproximadamente, à metade das transmissões de raiva ao humano.
A ocorrência de casos em humanos nas regiões de fronteira é indicador importante para a
manutenção da vacinação antirrábica de cães e gatos como forma preventiva.

O estudo apresenta limitações de viés de informação, uma vez que se baseia em fonte de
dados secundários, o que pode levar a imprecisão em suas estimativas. Dados dos sinais e
sintomas estavam disponíveis a partir do ano de 2007; anteriormente, a ficha do sistema de
informações não incluía essa variável.

Os resultados deste estudo convergem com os de trabalhos descritos no Equador, em 2016,


8 e no Peru, em 2009, 9 ao apontarem diminuição dos casos de raiva humana urbana,

ademais da presença de casos relacionados a morcegos. Os desafios para o enfrentamento


dos impactos da raiva são evidenciados quando se observam os resultados de estudos
realizados na Índia em 2016, 10 na China em 2013 11 e na África do Sul em 2011, 12 nas
dificuldades que seus autores apresentam para o controle da doença, mediante redução na
incidência de forma contínua.

Observou-se maior frequência de casos de raiva em crianças e adolescentes, e no sexo


masculino, assemelhando-se ao perfil relatado na Índia em 2017 10 e nos Estados Unidos
em 1998, 13 onde crianças e homens parecem ser mais expostos ao vírus rábico,
provavelmente, dado o maior contato com animais domésticos. Porém, esses dados divergem
de estudo realizado no Sri Lanka em 2013, 14 onde e quando se encontrou uma mediana de
idade acima de 40 anos, possivelmente relacionada a aspectos dos fatores de risco em
cenários locais, como a prioridade conferida à profilaxia em crianças/adolescentes e à
educação em saúde nas escolas.
Este site usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia

nossa Política de Privacidade. OK


Há predomínio de casos na zona rural, provavelmente devido a surtos com exposição aos
morcegos na Amazônia brasileira em 2006 e 2009, 15 , 16 como já foi registrado em surto
Brasil 9
no Peru em 2009.

A redução dos casos de raiva humana por transmissão canina no Brasil está em consonância
Epidemiologia e Serviços de Saúde
com os esforços realizados pelos países da América Latina. 7 , 17 Em contrapartida, a
manutenção de casos de raiva por cães, principalmente na Ásia e na África, revela as
dificuldades e desafios para programas sanitários de sucesso, 10 , 11 onde a cobertura
vacinal antirrábica canina efetiva e a profilaxia pós-exposição oportuna e completa são
fundamentais no sentido de diminuir a incidência da doença. 16 , 17

Os sinais e sintomas predominantes se assemelharam aos relatados no estudo realizado no


período 2008-2009, no Congo, com 21 pacientes; 18 e diferiram de pesquisa de 1983-2007,
na África do Sul, com 353 casos, 12 e de um estudo de 1980-1996, nos Estados Unidos, com
32 participantes. 13 Segundo ambas as pesquisas, a hidrofobia e a sialorreia foram mais
frequentes. Estudos futuros seriam importantes para verificar se há relação entre sinais e
sintomas e a variante viral.

O período de incubação observado foi mais extenso que o apresentado em estudo realizado na
Índia, em 2011, 10 semelhante ao da África do Sul, em 2011 (54 dias), 12 e inferior ao
observado nos Estados Unidos em 1998 (84 dias). 13

A maioria dos casos foi confirmada por critério laboratorial; um quarto desses casos teve a
variante viral tipificada, mais frequente nos últimos dez anos, apontando melhoria do suporte
laboratorial; não obstante, sugere-se esforços para sua melhoria, com o fortalecimento na
vigilância laboratorial no Brasil. A caracterização da variante viral é importante para o melhor
conhecimento epidemiológico da raiva. 3 Além disso, o monitoramento ambiental é um
instrumento de vigilância para o entendimento da raiva animal, principalmente em casos
secundários, como cães e gatos positivos com variante de morcego, o que pode contribuir nas
tomadas de decisão para controle da doença, intensificando-se a vigilância passiva de
morcegos e o acompanhamento de cães e gatos contactantes.

Desde 2005, alguns tratamentos experimentais para raiva foram realizados no mundo e
adotados no Brasil, por meio do Protocolo de Recife, 19 baseado no tratamento de
Milwaukee. 3 , 19 A primeira cura humana alcançada no país ocorreu em 2008, no estado
de Pernambuco. 20 , 21 Haja vista experiências como esta, ou o êxito no tratamento de um
caso no estado do Amazonas, em 2017, é importante rediscutir melhorias no protocolo do
Brasil. Todavia, a prevenção adequada e a profilaxia oportuna e completa continuam a ser as
estratégias principais a adotar. Simultaneamente, permanecem como ações indispensáveis (i)
as campanhas de vacinação canina nos estados onde são realizadas anualmente, e (ii) o
monitoramento ambiental de variantes, como instrumento da vigilância epidemiológica e suas
ações. 3

Houve redução na incidência da raiva humana no Brasil. Quase a metade dos casos
registrados tiveram a participação de animais silvestres, principalmente morcegos. Melhor
investigação dos casos de raiva humana por transmissão secundária faz-se necessária. A
viabilidade da profilaxia pré-exposição em populações sob maior risco para acidentes com
morcego deve ser avaliada.

Este site usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia
Referências
nossa Política de Privacidade. OK
1 World Health Organization. Rabies. Epidemiology and burden of disease [Internet]. Geneva:
Brasil World Health Organization; 2013 [cited 2018 Nov 21]. Disponível em: Disponível em:
http://www.who.int/rabies/epidemiology/en/
» http://www.who.int/rabies/epidemiology/en/
Epidemiologia e Serviços de Saúde
2 Devleesschauwer B, Aryal A, Sharma BK, Ale A, Declercq A, Depraz S, et al. Epidemiology,
impact and control of rabies in Nepal: a systematic review. PLoS Negl Trop Dis [Internet].
2016 Feb [cited 2019 Feb 26];10(2):e0004461. Disponível em: Disponível em:
https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.000446 doi:
10.1371/journal.pntd.0004461
» https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0004461
» https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.000446

3 World Health Organization. WHO expert consultation on rabies. Third report [Internet].
Geneva: World Health Organization ; 2018 [cited 2018 Nov 21]. 184 p. Disponível em:
Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272364/9789241210218-
eng.pdf?ua=1
» http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272364/9789241210218-eng.pdf?ua=1

4 Ministério da Saúde (BR). Situação epidemiológica. Raiva Humana [Internet]. Brasília:


Ministério da Saúde; 2018 [citado 2018 out 08]. Disponível em: Disponível em:
http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/raiva/situacao-epidemiologica
» http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/raiva/situacao-epidemiologica

5 Wada MY, Rocha SM, Maia-Elkhoury ANS. Situação da raiva no Brasil, 2000 a 2009.
Epidemiol Serv Saúde [Internet]. 2011 out-dez [citado 2019 fev 26];20(4):509-18. Disponível
em: Disponível em: http://scielo.iec.gov.br/pdf/ess/v20n4/v20n4a10.pdf doi:10.5123/S1679-
49742011000400010
» https://doi.org/10.5123/S1679-49742011000400010
» http://scielo.iec.gov.br/pdf/ess/v20n4/v20n4a10.pdf

6 Schneider MC, Aguilera XP, Silva Júnior JB, Ault SK, Najera P, Martinez J, et al. Elimination
of neglected diseases in Latin America and the Caribbean: a mapping of selected diseases.
PLoS Negl Trop Dis [Internet]. 2011 Feb [cited 2019 Feb 26];5(2). Disponível em: Disponível
em: https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0000964
doi:10.1371/journal.pntd.0000964
» https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0000964
» https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0000964

7 Freire de Carvalho M, Vigilato MAN, Pompei JA, Rocha F, Vokaty A, Molina Flores B, et al.
Rabies in the Americas: 1998-2014. PLoS Negl Trop Dis [Internet]. 2018 Mar [cited 2019 Feb
26];12(3). Disponível em: Disponível em: https://journals.plos.org/plosntds/article?
id=10.1371/journal.pntd.0006271 doi:10.1371/journal.pntd.0006271
» https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0006271
» https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0006271

8 Ortiz-Prado E, Ponce-Zea J, Ramirez D, Stewart-Ibarra AM, Armijos L, Yockteng J, et al.


Rabies epidemiology and control in Ecuador. Glob J Health Sci [Internet]. 2016 May [cited
2019 Feb 26];8(3):113-21. Disponível em: Disponível em:
http://www.ccsenet.org/journal/index.php/gjhs/article/view/48912 doi:10.5539/gjhs.v8n3p113
» https://doi.org/10.5539/gjhs.v8n3p113
» http://www.ccsenet.org/journal/index.php/gjhs/article/view/48912
Este site usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia
9 Salmón-Mulanovich nossa Política
G, Vásquez de Privacidade.
A, Albújar C, Guevara C, Laguna-Torres
OK A, Salazar M, et al.
Human rabies and rabies in vampire and nonvampire bat species, southeastern Peru, 2007.
Emerg Infect Dis [Internet]. 2009 Aug [cited 2019 Feb 26];15(8):1308-10. Disponível em:
Disponível em: https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/15/8/08-1522_article doi:
Brasil 10.3201/eid1508.081522
» https://doi.org/10.3201/eid1508.081522
» https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/15/8/08-1522_article
Epidemiologia e Serviços de Saúde
10 Mani RS, Anand AM, Madhusudana SN. Human rabies in India: an audit from a rabies
diagnostic laboratory. Trop Med Int Heal [Internet]. 2016 Apr [cited 2019 Feb 26];21(4):556-
63. Disponível em: Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/tmi.12669
doi: 10.1111/tmi.12669
» https://doi.org/10.1111/tmi.12669
» https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/tmi.12669

11 Guo D, Zhou H, Zou Y, Yin W, Yu H, Si Y, et al. Geographical analysis of the distribution and
spread of human rabies in China from 2005 to 2011. PLoS One [Internet]. 2013 Aug [cited
2019 Feb 26];8(8):e72352. Disponível em: Disponível em:
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0072352
doi:10.1371/journal.pone.0072352
» https://doi.org/10.1371/journal.pone.0072352
» https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0072352

12 Weyer J, Szmyd-Potapczuk AV, Blumberg LH, Leman PA, Markotter W, Swanepoel R, et al.
Epidemiology of human rabies in South Africa, 1983-2007. Virus Res [Internet[. 2011 Jan
[cited 2019 Feb 26];155(1):283-90. Disponível em: Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0168170210003825?via%3Dihu doi:
10.1016/j.virusres.2010.10.023
» https://doi.org/10.1016/j.virusres.2010.10.023
» https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0168170210003825?via%3Dihu

13 Noah DL, Drenzek CL, Smith JS, Krebs JW, Orciari L, Shaddock J, et al. Epidemiology of
human rabies in the United States, 1980 to 1996. Ann Intern Med [Internet]. 1998 Jun [cited
2019 Feb 26];128(11):922-30. Disponível em: Disponível em: https://annals.org/aim/article-
abstract/711459/epidemiology-human-rabies-united-states-1980-1996?
volume=128&issue=11&page=922 doi: 10.7326/0003-4819-128-11-199806010-00012
» https://doi.org/10.7326/0003-4819-128-11-199806010-00012
» https://annals.org/aim/article-abstract/711459/epidemiology-human-rabies-united-states-
1980-1996?volume=128&issue=11&page=922

14 Matsumoto T, Ahmed K, Karunanayake D, Wimalaratne O, Nanayakkara S, Perera D, et al.


Molecular epidemiology of human rabies viruses in Sri Lanka. Infect Genet Evol [Internet].
2013 May [cited 2019 Feb 26];18:160-7. Disponível em: Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1567134813002074?via%3Dihub
doi:10.1016/j.meegid.2013.05.018
» https://doi.org/10.1016/j.meegid.2013.05.018
» https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1567134813002074?via%3Dihub

15 Rosa EST, Kotait I, Barbosa TFS, Carrieri ML, Brandão PE, Pinheiro AS, et al. Bat-
transmitted human rabies outbreaks, Brazilian amazon. Emerg Infect Dis [Internet]. 2006 Aug
[cited 2019 Feb 26];12(8):1197-202. Disponível em: Disponível em:
https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/12/8/05-0929_article doi: 10.3201/1208.050929
» https://doi.org/10.3201/1208.050929
» https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/12/8/05-0929_article

Este site16usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia
Mendes WDS, Silva AAM, Neiva RF, Costa NM, Assis MS, Vidigal PMO, et al. An outbreak of
bat-transmitted human rabies
nossa in a village
Política in the Brazilian Amazon. Rev Saúde Pública
de Privacidade. OK
[Internet]. 2009 Dec [cited 2019 Feb 26];43(6):1075-7. Disponível em: Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v43n6/21.pdf doi: 10.1590/S0034-89102009005000073
Brasil » https://doi.org/10.1590/S0034-89102009005000073
» http://www.scielo.br/pdf/rsp/v43n6/21.pdf

17 Epidemiologia e Serviços de Saúde


Vigilato MAN, Clavijo A, Knobl T, Silva HMT, Cosivi O, Schneider MC, et al. Progress towards
eliminating canine rabies: policies and perspectives from Latin America and the Caribbean.
Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci [Internet]. 2013 Jun [cited 2019 Feb
26];368(1623):20120143. Disponível em: Disponível em:
https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rstb.2012.0143?url_ver=Z39.88-
2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org&rfr_dat=cr_pub%3Dpubmed& doi:
10.1098/rstb.2012.0143
» https://doi.org/10.1098/rstb.2012.0143
» https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rstb.2012.0143?url_ver=Z39.88-
2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org&rfr_dat=cr_pub%3Dpubmed&

18 Muyila DI, Aloni MN, Lose-Ekanga MJ, Nzita JM, Kalala-Mbikay A, Bongo HL, et al. Human
rabies: a descriptive observation of 21 children in Kinshasa, the Democratic Republic of
Congo. Pathog Glob Health [Internet]. 2014 Nov [cited 2019 Feb 26];108(7):317-22.
Disponível em: Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4241783/ doi:
10.1179/2047773214Y.0000000161
» https://doi.org/10.1179/2047773214Y.0000000161
» https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4241783/

19 Ministério da Saúde (BR). Departamento de Vigilância Epidemiológica. Secretaria de


Vigilância em Saúde. Protocolo para tratamento de raiva humana no Brasil. Epidemiol Serv
Saúde [Internet]. 2009 out-dez [citado 2019 fev 26];18(4):385-94. Disponível em: Disponível
em: http://scielo.iec.gov.br/pdf/ess/v18n4/v18n4a08.pdf
» http://scielo.iec.gov.br/pdf/ess/v18n4/v18n4a08.pdf

20 Willoughby RE, Tieves KS, Hoffman GM, Ghanayem NS, Amlie-Lefond CM, Schwabe MJ, et
al. Survival after treatment of rabies with induction of coma. N Engl J Med [Internet]. 2005
Jun [cited 2019 Feb 26];352(24):2508-14. Disponível em: Disponível em:
https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa050382?url_ver=Z39.88-
2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%3dwww.ncbi.nlm.nih.gov doi:
10.1056/NEJMoa050382
» https://doi.org/10.1056/NEJMoa050382
» https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa050382?url_ver=Z39.88-
2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%3dwww.ncbi.nlm.nih.gov

21 Caicedo Y, Paez A, Kuzmin I, Niezgoda M, Orciari LA, Yager PA, et al. Virology, immunology
and pathology of human rabies during treatment. Pediatr Infect Dis J [Internet]. 2015 May
[cited 2019 Feb 26];34(5):520-8. Disponíel em: Disponíel em:
https://insights.ovid.com/pubmed?pmid=25405805 doi: 10.1097/INF.0000000000000624
» https://doi.org/10.1097/INF.0000000000000624
» https://insights.ovid.com/pubmed?pmid=25405805

*
Artigo derivado da dissertação de mestrado ‘Perfil Epidemiológico da Raiva Humana no Brasil,
2000-2017’, defendida por Alexander Vargas junto ao Programa de Pós-Graduação do
Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília em 13 de julho de 2018.

Este site usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia
Datas de Publicação
nossa Política de Privacidade. OK
» Publicação nesta coleção
27 Jun 2019
Brasil
» Data do Fascículo
2019

Epidemiologia e Serviços de Saúde

Histórico
» Recebido
24 Nov 2018
» Aceito
05 Fev 2019

Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente - Ministério da Saúde do Brasil


SRTVN Quadra 701, Via W5 Norte, Lote D, Edifício P0700, CEP: 70719-040, +55 61 3315-3464, Fax:
+55 61 3315-3464 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: [email protected]

SciELO - Scientific Electronic Library Online


Rua Dr. Diogo de Faria, 1087 – 9º andar – Vila Clementino 04037-003 São Paulo/SP - Brasil
E-mail: [email protected]

Leia a Declaração de Acesso Aberto


Este site usa cookies para garantir que você obtenha uma melhor experiência de navegação. Leia

nossa Política de Privacidade. OK

Você também pode gostar