Raiva Humana 2017
Raiva Humana 2017
Raiva Humana 2017
Sumário
Epidemiologia e Serviços de Saúde
Resumo Texto (PT) PDF
ARTIGO ORIGINAL • Epidemiol. Serv. Saúde 28 (2) • 2019 •
https://doi.org/10.5123/S1679-49742019000200001
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Raiva humana no Brasil: estudo descritivo, 2000-
2017 *
Alexander Vargas
Edgar Merchán-Hamann
Métodos:
Resultados:
188 casos humanos observados, na maioria homens (66,5%), residentes rurais (67,0%),
menores de 15 anos de idade (49,6%), com exposição mais frequente por mordedura (81,9%);
o período 2000-2008 apresentou maior frequência (85,6%), com 46,6% dos casos envolvendo
cães e 45,9% morcegos; incubação mediana de 50 dias, seguida de sintomatologia
predominante de febre (92,6%), agitação (85,2%), parestesia (66,7%) e disfagia/paralisia
(51,9%); a maioria (70,2%) não fez profilaxia, os demais (29,8%) realizaram-na de forma
inoportuna e/ou incompleta; 13 pacientes foram tratados pelo Protocolo de Recife e dois
sobreviveram.
Conclusão:
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houve redução na incidência de raiva humana e mudança no perfil epidemiológico,
nossa Política
predominando casos transmitidos de Privacidade.
por morcegos; OK casos secundários e
sugere-se investigar
viabilizar a profilaxia pré-exposição em populações sob maior risco de acidentes com
morcegos.
Brasil
Palavras-chave:
Raiva; Vírus da Raiva; Epidemiologia Descritiva; Saúde Pública; Vigilância em Saúde Pública
Resumen
Objetivo:
Métodos:
Resultados:
Conclusión:
Palabras clave:
Rabia; Virus de la Rabia; Epidemiología Descriptiva; Salud Pública; Vigilancia en Salud Pública
Abstract
Objective:
Methods:
this is a descriptive study of human rabies cases reported in 2000-2017, with an estimate of
incidence and spatial distribution.
Results:
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cases para garantir
were studied, que você
mostly males obtenha
(66.5%), uma melhor
rural residents experiência
(67.0%), de navegação.
children under 15 years Leia
(49.6%), with biting being the most frequent form of exposure (81.9%); frequency was highest in
Política
nossawith
the period 2000-2008 (85.6%), 46.6%de
of Privacidade. OKand 45.9% bats; median
cases involving dogs
incubation was 50 days, followed by, predominantly, symptoms of fever (92.6%), agitation
(85.2%), paresthesia (66.7%), and dysphagia/paralysis (51.9%); the majority (70.2%) did not
Brasil
have prophylaxis and for the rest (29.8%) who did have prophylaxis, it was untimely and/or
incomplete; 13 patients were treated according to the Recife Protocol, and two survived.
Epidemiologia e Serviços de Saúde
Conclusion:
human rabies incidence reduced and its epidemiological profile changed, with predominance of
cases transmitted by bats; we suggest that secondary cases be investigated, and that pre-
exposure prophylaxis be made available to populations at greater risk of accidents involving
bats.
Keywords:
Rabies; Rabies Virus; Epidemiology, Descriptive; Public Health; Public Health Surveillance
Introdução
A raiva está presente em mais de 150 países e aproximadamente 59 mil pessoas atingidas por
essa doença infecciosa morrem a cada ano, em todo o mundo, principalmente na Ásia e na
África. 1 Na América Latina, entre 2013 e 2016, houve redução na incidência de raiva
humana transmitida por cães: foram relatados casos em oito países do subcontinente, sendo
mais comum a transmissão por morcegos. 2 , 3 No Brasil, entre 1990 e 2017, foram
registrados 594 casos, predominantemente em ambientes urbanos, atribuídos a variantes
antigênicas (AgV) caninas do tipo 2. 4 No período de 2000 a 2009, no território brasileiro,
observou-se um incremento de casos de raiva humana cujos animais transmissores foram
morcegos. 5
Entre 2013 e 2016, a raiva transmitida por cães foi relatada na Bolívia, Brasil, República
Dominicana, Guatemala, Haiti, Honduras, Peru e Venezuela. Em 2016, foram notificados dez
casos: oito no Haiti e dois na Guatemala. Essa redução em nível continental, provavelmente,
deveu-se à vacinação de cães em grande escala, maior cooperação técnica entre ministérios
da Saúde e da Agricultura, além da melhoria no acesso à profilaxia pré e pós-exposição. Não
obstante, a doença continua presente em alguns bolsões geográficos. Costuma ocorrer, a cada
dois anos, a Reunião dos Diretores do Programa de Raiva nas Américas, espaço de discussões
e de subsídio às tomadas de decisão na gestão dos programas de raiva dos países envolvidos,
com o objetivo de, até 2022, eliminar a raiva transmitida por cães na região. 7
Diante desse cenário, a presente pesquisa objetivou descrever o perfil epidemiológico da raiva
humana no Brasil, no período de 2000 a 2017.
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Realizou-se um estudo observacional descritivo retrospectivo do tipo de série de casos, focado
nos casos de raiva humana notificados no Brasil no período de 2000 a 2017. Foram incluídos
Brasil
no estudo os casos de raiva confirmados, seja pelo critério laboratorial, seja pelo critério clínico-
epidemiológico.
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Foram avaliadas as seguintes variáveis:
1. a) Sociodemográficas
3. - faixa etária (em anos: até <1; 1-4; 5-9; 10-14; 15-19; 20-34; 35-49; 50-64; 65 e mais);
5. - município de residência; e
7. b) Antecedentes epidemiológicos
8. - período de incubação;
15. - hospitalização;
O período de incubação foi calculado pela diferença entre a data de agressão e a data de início
de sintomas. O tempo de internação hospitalar foi calculado a partir da diferença entre a data
de óbito, ou da alta do paciente, e a data de internação.
O coeficiente de incidência foi calculado da seguinte forma: como numerador, (i) o quociente da
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divisão para
do período garantir
de estudo emque
três você obtenha
períodos iguais uma melhor
de seis experiência2006-2011;
anos (2000-2005; de navegação.
e Leia
2011-2017); e como denominador, (ii) a população geral calculada com base na população
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média do Brasil entre os dois anos do meio de cada período (estimada pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]). Foi considerada como Amazônia Legal a região
assim definida pelo IBGE, constituída pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso,
Brasil
Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão e cinco municípios de Goiás.
O projeto do estudo foi dispensado de apreciação por Comitê de Ética em Pesquisa, conforme
determina a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 510, de 7 de abril de 2016.
Resultados
Do total de 188 casos de raiva humana ocorridos no país, 125 (66,5%) eram do sexo masculino
e 126 (67,0%) residiam em zona rural; a idade dos casos variou de 1 a 82 anos (média = 20,9;
desvio-padrão = 17,1 e mediana = 14,5 anos; 1º quartil = 7 e 3º quartil = 30). A faixa etária mais
acometida foi a de menores de 15 anos, 49,6% do total. O tipo de exposição mais registrado
nas notificações foi mordedura por animal (N=154; 81,9%), houve predomínio da agressão em
múltiplos locais (N=40; 21,2%), seguidos dos pés (N=38; 20,2%) e mãos (32; 17,0%), e
somente um caso com registro de infecção por contato indireto (Tabela 1).
Quanto à região nacional da notificação, predominou o Nordeste (N=102; 55,0%), seguido pela
região Norte (N=66; 34,0%). Os estados com mais casos foram Maranhão (N=55; 30,0%), Pará
(N=45; 24,0%) e Ceará (N=17; 9,0%) (Figura 1). Na Amazônia Legal foram 68 casos
(36,2%), todos em área rural e transmitidos por morcegos. Em 2017, houve um surto de raiva
na comunidade ribeirinha Tapira, às margens do rio Unini, município de Barcelos, AM, com três
irmãos menores de 18 anos infectados: eram moradores de área rural (reserva extrativista),
com histórico de exposições a morcegos.
Quatro casos de raiva humana transmitidos por cães ocorreram em regiões de fronteira: Assis
Brasil/AC, em 2000; São Francisco do Guaporé/RO, em 2001; Xapuri/AC, em 2004; e
Corumbá/MS, em 2015. Os quatro municípios fazem fronteira com a Bolívia, sendo que Assis
Brasil, particularmente, é de tríplice fronteira (Brasil, Peru e Bolívia).
A maioria dos casos (N=161; 85,6%) ocorreu entre 2000 e 2008. Desses, 75 (46,6%)
envolveram cães e 74 (45,9%) morcegos. Dos casos de infecção por morcegos, 63 (85,1%)
aconteceram entre 2004 e 2005, relacionados a três surtos. Entre 2009 e 2017 ocorreram 27
casos (14,4%), 11 (40,7%) envolvendo cães, seguidos de oito por morcegos (29,6%) e quatro
por macacos (14,8%); e três por gatos (11,1%), com vírus da variante AgV3, compatível com a
encontrada em morcego hematófago. Em 2017, um surto de raiva humana causada por
morcegos atingiu três pessoas: duas delas não fizeram uso de profilaxia antirrábica e evoluíram
a óbito; no terceiro caso, fez-se uso de soro antirrábico e três doses de vacina -
aproximadamente 90 dias após a exposição, o paciente foi submetido ao Protocolo de Recife e
sobreviveu com sequelas neurológicas severas (Figura 2).
Os coeficientes de incidência nos três períodos analisados foram: para 2000-2005, 0,842 caso
de raiva/100 mil habitantes; 2006-2011, 0,0105/100 mil hab.; e 2012-2017, 0,0098/100 mil hab.
( Figura 3).
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Do total de casos, 150 (79,8%) foram confirmados por critérios laboratoriais; em 46 (24,0%) foi
possível identificar a variante viral, principalmente a partir de 2005. Das variantes do vírus
detectadas, a mais comum foi a Agv3 de morcego Desmodus rotundus, presente em 27 casos
(59,0%), incluindo três transmitidos por gatos. A mediana de internação foi de 6,5 dias (mínimo
= 1; máximo = 120).
Dos casos de raiva, 132 (70,2%) não fizeram nenhuma profilaxia e 56 (29,8%) receberam
esquema profilático inoportuno e/ou incompleto. O tempo para busca da primeira dose de
vacina antirrábica foi, em média, de 44 dias após a agressão (desvio-padrão: 37 dias). A partir
de 2008, ocorreram 13 tratamentos para raiva no Brasil, quando foi utilizado o Protocolo de
Recife: dois pacientes submetidos a tratamento sobreviveram com sequelas neurológicas,
resultando em uma taxa de sucesso de 2/13.
Discussão
A incidência de raiva humana diminuiu entre 2006 e 2017, apesar de ainda ocorrerem casos
envolvendo morcegos. As regiões Norte e Nordeste concentraram a maioria dos casos, de
maior frequência homens, crianças e adolescentes, com residência em área rural. A exposição
mais frequente foi por mordedura, com lesões em múltiplas partes do corpo. Os animais
silvestres corresponderam, aproximadamente, à metade das transmissões de raiva ao humano.
A ocorrência de casos em humanos nas regiões de fronteira é indicador importante para a
manutenção da vacinação antirrábica de cães e gatos como forma preventiva.
O estudo apresenta limitações de viés de informação, uma vez que se baseia em fonte de
dados secundários, o que pode levar a imprecisão em suas estimativas. Dados dos sinais e
sintomas estavam disponíveis a partir do ano de 2007; anteriormente, a ficha do sistema de
informações não incluía essa variável.
A redução dos casos de raiva humana por transmissão canina no Brasil está em consonância
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com os esforços realizados pelos países da América Latina. 7 , 17 Em contrapartida, a
manutenção de casos de raiva por cães, principalmente na Ásia e na África, revela as
dificuldades e desafios para programas sanitários de sucesso, 10 , 11 onde a cobertura
vacinal antirrábica canina efetiva e a profilaxia pós-exposição oportuna e completa são
fundamentais no sentido de diminuir a incidência da doença. 16 , 17
O período de incubação observado foi mais extenso que o apresentado em estudo realizado na
Índia, em 2011, 10 semelhante ao da África do Sul, em 2011 (54 dias), 12 e inferior ao
observado nos Estados Unidos em 1998 (84 dias). 13
A maioria dos casos foi confirmada por critério laboratorial; um quarto desses casos teve a
variante viral tipificada, mais frequente nos últimos dez anos, apontando melhoria do suporte
laboratorial; não obstante, sugere-se esforços para sua melhoria, com o fortalecimento na
vigilância laboratorial no Brasil. A caracterização da variante viral é importante para o melhor
conhecimento epidemiológico da raiva. 3 Além disso, o monitoramento ambiental é um
instrumento de vigilância para o entendimento da raiva animal, principalmente em casos
secundários, como cães e gatos positivos com variante de morcego, o que pode contribuir nas
tomadas de decisão para controle da doença, intensificando-se a vigilância passiva de
morcegos e o acompanhamento de cães e gatos contactantes.
Desde 2005, alguns tratamentos experimentais para raiva foram realizados no mundo e
adotados no Brasil, por meio do Protocolo de Recife, 19 baseado no tratamento de
Milwaukee. 3 , 19 A primeira cura humana alcançada no país ocorreu em 2008, no estado
de Pernambuco. 20 , 21 Haja vista experiências como esta, ou o êxito no tratamento de um
caso no estado do Amazonas, em 2017, é importante rediscutir melhorias no protocolo do
Brasil. Todavia, a prevenção adequada e a profilaxia oportuna e completa continuam a ser as
estratégias principais a adotar. Simultaneamente, permanecem como ações indispensáveis (i)
as campanhas de vacinação canina nos estados onde são realizadas anualmente, e (ii) o
monitoramento ambiental de variantes, como instrumento da vigilância epidemiológica e suas
ações. 3
Houve redução na incidência da raiva humana no Brasil. Quase a metade dos casos
registrados tiveram a participação de animais silvestres, principalmente morcegos. Melhor
investigação dos casos de raiva humana por transmissão secundária faz-se necessária. A
viabilidade da profilaxia pré-exposição em populações sob maior risco para acidentes com
morcego deve ser avaliada.
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*
Artigo derivado da dissertação de mestrado ‘Perfil Epidemiológico da Raiva Humana no Brasil,
2000-2017’, defendida por Alexander Vargas junto ao Programa de Pós-Graduação do
Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília em 13 de julho de 2018.
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Datas de Publicação
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» Publicação nesta coleção
27 Jun 2019
Brasil
» Data do Fascículo
2019
Histórico
» Recebido
24 Nov 2018
» Aceito
05 Fev 2019
Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons