Entrevista Cinema e Sociologia Mundo Digital Estilística Funcional Informática e Desenho
Entrevista Cinema e Sociologia Mundo Digital Estilística Funcional Informática e Desenho
Entrevista Cinema e Sociologia Mundo Digital Estilística Funcional Informática e Desenho
ISSN 1982-1557
9 771982
n°5 - Ano 4
Entrevista
com Letícia Monteiro Gonçalves,
participante do NIC Jr.
Informática e
Estilística Funcional
uma proposta para o ensino da língua estrangeira Desenho
Software de geometria dinâmica
Vice-reitora
Sylvia da Silveira de Mello Vargas
Pró-reitor de Graduação
Belkis Valdman
Pró-reitor de Pessoal
Luiz Afonso Henriques Mariz
Pró-reitor de Extensão
Laura Tavares Ribeiro Soares
Colégio de Aplicação
Diretora Geral
Celina Maria de Souza Costa
Vice-Diretora
Miriam Abduche Kaiuca
EDITOR A CHEFE
Teresa Coutinho Andrade
6 Matemática
Moodle no ensino da matemática
VICE-EDITOR A Daniella Assemany, Fernando Villar, Leo Akio,
Cristiana Madanêlo Letícia Rangel, Lílian Spiller e Priscila Dias
PRODUÇÃO GR ÁFICA
Juliana Montenegro
Raphael Borges
12 Opinião
FOTOGR AFIA Licenciatura
Silmar Marques André Barbosa Fraga
REVISÃO
Maria Luiza Rocha
APOIO
16 Sem fronteiras
Fábio Garcez
Cabeças Digitais em ação
Maria Luiza Rocha Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu
Tiago Lisboa Bartholo
ILUSTR AÇÃO
Cora Ribeiro 21 Na prática
Fabrício Lopes e Silva Novas possibilidades da prática de ensino
Juliana Montenegro
Alexandre Barbosa Fraga, Anita Handfas, Marcos Tognozzi
33 Desenho goemétrico
O software Tabulae no CAp UFRJ
Vania Maria Rocha Gomes Hozumi
38 Resenha
Entre Áfricas e Brasis
Mônica Lima
40 Notas
Aconteceu no 2° semestre de 2008
Caro Leitor
É sempre com muita alegria que chegamos a mais um número de nossa revista PERSPECTIVA CAPIANA: o
quinto . Por meio dela, nossa comunidade educativa apresenta importantes contribuições acadêmico-culturais, fruto
de nosso trabalho cotidiano.
A presente edição inicia-se com uma entrevista a Letícia Monteiro Gonçalves, atualmente aluna do terceiro ano do
ensino médio. Ela ganhou em 6 de outubro último o prêmio de melhor apresentação no XI Seminário de Vocação
Cientíica (PROVOC) do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), com o trabalho intitulado “A alumina porosa
como molde para nanofabricação: principais usos e práticas de preparação de laboratório”, resultado de seu trabalho de
Iniciação Cientíica Júnior no CBPF, sob orientação do professor José Gomes Filho.
A seguir, apresentam-se três artigos produzidos por setores curriculares do colégio, um artigo de Opinião, um da seção
Sem fronteiras e, inalmente, uma Resenha.
Do Setor Curricular de Matemática, “O Moodle no ensino da matemática” apresenta uma experiência singular na
educação básica. Trata-se da criação de uma plataforma/espaço virtual em que os alunos interagem entre si e com os
professores para estudar, aprender, exercitar e tirar dúvidas nessa disciplina.
Em “Estilística, Literatura e Inglês como Língua Estrangeira”, os professores Vander Viana e Sonia Zyngier apresentam
uma interessante proposta para o ensino de Inglês no CAp-UFRJ, através da perspectiva da estilística de base funcional.
O artigo “O software Tabulae no CAp-UFRJ”, de autoria de Vânia Gomes Hozumi, professora do Setor Curricular de
Desenho Geométrico, relata a experiência do uso de um software de Geometria Dinâmica nas aulas práticas de desenho.
Na seção Sem fronteiras o artigo “Cabeças digitais em ação”, de Rosane Abreu, nossa ex-orientadora do Serviço de
Orientação Educacional, nos leva a reletir sobre as preocupações e desaios para familiares e docentes diante do uso
da Internet feito pelos jovens.
Em Na prática, o artigo “Novas Possibilidades da Prática de Ensino de Ciências Sociais”, de Alexandre B. Fraga, Anita
Handfas, Marcos T. Rocha, Nadia Maria M. Bastos e Victor N. F. Solis, relatando uma experiência de uso do cinema
nas aulas de sociologia, interessa também a outras disciplinas que fazem uso na sala de aula da invenção dos irmãos
Lumière.
Na seção Opinião, conta com a relexão de André Barbosa Fraga, licenciando de história durante o ano passado, sobre
a condição de estagiário. Em um colégio de aplicação, espaço de prática para futuros professores, relexões como essa
fazem-se evidentemente pertinentes.
Finalmente, encontra-se a Resenha da professora Mônica Lima (Setor Curricular de História) de um livro de tema
atualíssimo - África.
E aproveitamos para esclarecer que a revisão de todos os textos ainda não se apresenta conforme o Novo Acordo
Ortográio, cujas regras serão única e exclusivamente aceitas em janeiro de 2013.
Letícia: Ele consistiu em uma pesquisa na área da Letícia: É um programa onde os alunos podem ter
nanotecnologia, focada na preparação e uso da alumina contato com a pesquisa cientíica dentro da área em que
porosa (óxido de alumínio). têm interesse em estudar.
“
PERSPECTIVA: Sabemos que esse projeto lida com
a pesquisa básica. Você poderia, em linhas gerais,
explicar a importância desse nível de pesquisa? A nanotecnologia me
Letícia: Como o próprio nome diz, esse nível é a base interessou bastante.
de qualquer pesquisa. Ele permite, ao estudante, uma
maior compreensão de como a prática é aplicada na área Como na pesquisa
e lhe dá os conhecimentos básicos necessários para as
pesquisas mais avançadas.
trabalhei tanto com
Física, como também
PERSPECTIVA: Quais são as possíveis aplicações
futuras de sua pesquisa? com muita Química,
estou na dúvida
”
Letícia: Ela pode ser aplicada na nanofabricação,
visando possíveis aplicações, por exemplo, em novas
mídias magnéticas, materiais com novas propriedades
entre as duas áreas.
ópticas e na miniaturização de dispositivos eletrônicos,
spintrônicos e optrônicos.
PERSPECTIVA: O que representa sua participação Como na pesquisa trabalhei tanto com Física, como
no NIC para sua formação escolar? também com muita Química, estou na dúvida entre as
duas áreas.
Letícia: Essa participação me ajudou não só a ter mais
certeza das matérias que a tenho vocação e com as quais PERSPECTIVA: Explique a dinâmica das
tenho ainidade, mas também a desenvolver o conteúdo atividades desenvolvidas no projeto.
da matéria dada em sala., com que por vezes, eu já havia
tido um contato na pesquisa. Letícia: O professor me ensinava a teoria e depois
(se desse tempo, no mesmo dia) já íamos para a parte
PERSPECTIVA: Como você foi selecionada para o prática. Ele me ensinava a como usar tudo e como as
projeto? coisas deveriam ser feitas. Nas primeiras vezes ele me
acompanhava, e depois eu já era capaz de fazer sozinha
Letícia: A professora Marta, que era minha professora o que ele ia me pedindo.
de Física, me levou ao NIC Jr. para tentar a vaga que
estava aberta para o projeto de física. Tive que preencher PERSPECTIVA: Com que freqüência você tinha de
alguns documentos e depois fui chamada para a ir ao laboratório?
entrevista. Não achei que tivesse ido muito bem, mas
fui selecionada. Fui chamada ao CBPF novamente, Letícia: Eu ia uma vez por semana, às quartas. E
para uma entrevista com o orientador. O projeto me passava a tarde lá.
interessou e, então, passei a fazer parte dele.
PERSPECTIVA: O que efetivamente você fazia no
PERSPECTIVA: Como é sua relação com o professor laboratório?
orientador do projeto?
Letícia: Eu preparava amostras e soluções.
Letícia: Nossa relação foi muito boa. O professor
Gomes é muito simpático e tranqüilo. Ele explica bem PERSPECTIVA: Lá você freqüentava a biblioteca?
e o projeto transcorreu de forma bem satisfatória. Até
hoje nos falamos de vez em quando. Letícia: Sim, eu pude fazer cadastro e pegar livros.
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entrevista
PERSPECTIVA: Interagia com outros alunos? Letícia: Sim, li alguns periódicos e artigos em inglês.
PERSPECTIVA: Já existe alguma aplicação para as
Letícia: Sim, havia outros alunos no projeto, mas eles nanoestruturas que vocês, na pesquisa, produziram?
já eram de graduação e realizavam a mesma pesquisa, só
que de uma maneira mais avançada, como, por exemplo, Letícia: Sim, a membrana de alumina porosa pode servir
a miniaturização de dispositivos eletrônicos. de matriz para a fabricação de várias nanoestruturas,
que por conseqüência terão diversas aplicações.
PERSPECTIVA: Você recebia alguma ajuda de
custo para se deslocar até o local da pesquisa? PERSPECTIVA: Atualmente você está participando
de algum outro projeto? Qual?
Letícia: O NIC-Jr disponibiliza aos alunos uma van para
ir e voltar do lugar de pesquisa. Além disso, recebia uma Letícia: Infelizmente não, devido ao curto tempo livre
ajuda de custo de 10 reais a cada dia que eu ia para o que o terceiro ano me disponibiliza.
estágio.
PERSPECTIVA: Você pretende dar continuidade a
PERSPECTIVA: Para realizar o trabalho você esse estudo em algum projeto ou trabalho na área
precisou de muitos conhecimentos de Física e das ciências?
Química que ainda não tinha estudado no colégio?
Letícia: Eu pretendia continuar o mesmo projeto esse
Letícia: Não muitos, mas o professor me ensinou o ano, mas como estou no último do colégio, o professor
que eu não sabia e fez uma revisão sobre o que eu não me aconselhou a não fazê-lo. Ele disse que era melhor eu
lembrava. investir em estudar para passar para uma boa faculdade
e depois voltar para fazer iniciação cientíica, como
PERSPECTIVA: O que você vinha estudando no aluna de graduação. Mas pretendo trabalhar na área de
colégio lhe ajudou de alguma forma no seu trabalho nanotecnologia, sim.
na pesquisa?
PERSPECTIVA: O que você diria para quem está
Letícia: Com certeza. O conhecimento básico interessado em participar do NIC-Jr?
necessário à pesquisa eu havia aprendido no colégio.
Letícia: Diria que a pessoa pode aprender muito e
PERSPECTIVA: Você teve de ler textos em língua descobrir o que realmente é feito dentro da área de
estrangeira? Em caso airmativo, qual? pesquisa de seu interesse. Portanto, aconselharia a
participar.
O MOODLE
NO ENSINO DE
MATEMÁTICA
UMA EXPERIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Daniella Assemany
Fernando Villar
Leo Akio
Letícia Rangel
Lílian Spiller
Priscila Dias
Ilustração: Fabricio Lopes e Silva
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matemática
E sta reportagem tem por inalidade apresentar
o trabalho da experiência do Setor Curricular de
A introdução de novas tecnologias na escola levanta
a necessidade da aquisição de novos conhecimentos e
Matemática do Colégio de Aplicação da UFRJ, com
a utilização do Moodle – um espaço virtual de ação competências, que exigem o seu domínio especíico, mas
pedagógica que objetiva a aprendizagem e o trabalho propicia igualmente uma relexão mais geral sobre os
colaborativo – em sua atuação no Ensino Básico e na objetivos e as práticas educativas. [...] Assim, os professores
Formação de Professores. Relatamos formas distintas que desejam uma postura relexiva não têm outra alternativa
de utilização do Moodle como ferramenta de apoio ao senão envolverem-se eles próprios em experiências marcadas
processo de ensino-aprendizagem na educavção básica pelo pioneirismo, desbravando caminho, no quadro de projetos
e na orientação de professores de Matemática de nível inovadores de desenvolvimento e de pesquisa. (PONTE,
básico em processo de formação, nosso aprendizado com
1992, p.31)
esta utilização e a avaliação que fazemos até o momento.
Em destaque, a concepção de cursos on-line em apoio
à prática pedagógica regular no âmbito do Ensino
Básico, promovendo a ampliação da comunicação
entre alunos e alunos e entre professores e alunos; o Na maioria das vezes, os ambientes virtuais que
armazenamento e a organização de dados acadêmicos; representam os espaços de uma escola têm, como função
o acesso a estratégias diferenciadas de aprendizagem; o principal, a missão de sustentar o desenvolvimento de
estabelecimento de formas diferenciadas de avaliação; atividades educacionais em que professores e estudantes
e o desenvolvimento colaborativo de projetos coletivos encontram-se geograicamente distantes. Além disso, a
que também inclui os licenciandos de Matemática que maioria das experiências de ensino a distância destina-
desenvolvem seu estágio supervisionado no colégio. se à formação de nível superior ou à qualiicação
proissional especíica.
Palavras-chave: novas tecnologias; ensino de Matemática,
O desaio que se impõe à comunidade escolar é a
ensino básico.
adequação a essa transformação, promovendo a
discussão e a pesquisa com esse foco. A relexão não
O CAp–UFRJ, como um órgão suplementar do Centro deve buscar qualiicar o modelo que se apresenta como
de Filosoia e Ciências da Natureza da UFRJ (CFCH), positivo ou negativo, mas avaliar como ele pode e deve
tem como inalidade ensino, pesquisa e extensão ser utilizado para enriquecer as práticas pedagógicas.
na área de Educação Básica, constituindo-se em
campo de estágio supervisionado para a formação de Sob a nova perspectiva de comunicação e sua
proissionais em Educação e áreas ains. Dessa forma, interferência inequívoca nos processos de formação e
o Setor Curricular de Matemática do CAp–UFRJ atua, aprendizagem, o desaio que abraçamos é explorar as
propondo ações pedagógicas, de pesquisa e de extensão, possibilidades de utilização de um ambiente virtual de
no Ensino Básico e na formação de professores de gestão de aprendizagem e de trabalho colaborativo na
Matemática. prática regular de uma escola de Ensino Básico e, em
especial, na aprendizagem de Matemática.
Aos alunos do CAp–UFRJ são oferecidos, na grade
curricular do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano Iniciamos nossa investigação coletando informações
do Ensino Médio, apenas quatro tempos semanais de sobre a rotina dos estudantes fora do horário escolar,
Matemática, o que equivale a cerca de 13,3% da grade buscando identiicar sua relação com a tecnologia digital.
curricular. Entendemos que, com essa carga horária, Observamos que os estudantes do CAp–UFRJ passam
é necessário muito esforço para atingir, sem prejuízo grande parte do seu tempo utilizando o computador.
da qualidade, os objetivos propostos para o ensino de Além da prática de jogos eletrônicos, eles desenvolvem
Matemática na Educação Básica. uma comunicação virtual intensa e freqüente. Conciliam,
por exemplo, as atividades de ouvir música, escrever uma
Diante desse panorama, reletimos sobre as possibilidades mensagem eletrônica, participar de um jogo na internet,
de ampliação do contato dos alunos com a Matemática, visitar páginas de seu interesse e estudar. Contudo, esta
garantindo qualidade e interesse, sem necessariamente última tarefa, mais rara, aparece dissociada, em muitos
exigir ampliação ou alteração de grade curricular. casos, das demais atividades.
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matemática
Experiências de Ensino e Aprendizagem e dão margem a diversas abordagens construtivas com
os alunos.
com o Apoio do Moodle
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matemática
Indicações Bibliográicas:
Licenciatura
Experiência de uma condição de
liminaridade
André Barbosa Fraga
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opinião
cruzarem o portão do CAp, os licenciandos da UFRJ identidades e novos papéis a serem desempenhados
embarcam na experiência da Prática de Ensino, junto ao grupo com o qual convivemos.
experiência essa que vai marcar a entrada em um rito
de passagem. A todo instante identidades são postas em xeque, mas
no momento dos ritos de passagem isso se torna mais
O estagiário passa a vivenciar uma experiência nítido, é uma época de constante destruição, construção
ambígua, socialmente ele não é mais o que era (aluno), e transformação. O período de duração da Prática de
mas também ainda não é o que será após o término Ensino marca a gênese do processo da constituição
do rito (professor). Esta fase de indeterminação social de uma nova identidade, a de ser professor. Por isso, a
foi percebida por vários autores, que a chamaram liminaridade é em parte um período relexivo. Estamos
de margem (VAN GENNEP, 1978) ou liminar inseridos em um rito que constitui e opera transições
(TURNER, 2005). entre estados relativamente ixos ou estáveis. O
indivíduo passa de uma posição social à outra.
Os vários ritos de passagem estão relacionados às
mudanças mais signiicativas pelas quais passamos em O licenciando vê com olhos de quem está fora da
nossas vidas: nascimento, morte, etc. Por exemplo, a estrutura, do sistema classiicatório, de posições já
adolescência e a cerimônia de casamento são ritos de socialmente deinidas. Estamos em uma situação
passagem. Enquanto, no primeiro, o indivíduo não é interestrutural, entre dois campos bem precisos, ixos,
mais criança, mas ainda não é adulto; no segundo, o ser aluno e ser professor, o nosso lugar de fala não é
indivíduo não é mais solteiro, mas ainda não é casado. nem um nem outro. Isso faz com que seja mais fácil
percebermos que características e que papéis se esperam
Mas, por que falar tudo isso? Pois essa condição “dupla” de cada um deles, e acabamos “forçados” a pensarmos
do estagiário é boa para pensar a importância da sobre os atores sociais e os princípios institucionais
Prática de Ensino no futuro proissional do professor presentes na escola.
em formação. Como nos mostram os trabalhos
antropológicos, esses ritos são exemplos de etapas O estagiário pode aproveitar esse momento acentuado
que se seguem, atribuindo a cada um de nós novas
Outro ponto importante para ser discutido aqui é que Os Colégios de Aplicação, criados justamente para serem
a experiência no CAp constitui uma exceção, quando instituições educacionais modelo, oferecem melhores
o foco é ampliado para todo o conjunto de colégios do condições para atender aos licenciandos. A escola é
Brasil, que oferecem estágio supervisionado. É fato que voltada para a formação inicial dos professores, nesse
a Prática de Ensino por lei é uma etapa obrigatória na sentido, a estrutura montada permite que o estagiário
obtenção do diploma da licenciatura, e, sendo assim, um perpasse o rito no qual está inserido sem maiores
momento oicial, para se poder iniciar a carreira docente. obstáculos.
Portanto, todos que se aventuram na licenciatura, e, por
conseguinte, na Prática de Ensino, passam pelo rito de No entanto, em outros colégios, que infelizmente não
passagem. Mas, será que o rito atinge a todos da mesma tratam com a mesma atenção e seriedade essa prática,
maneira? Evidentemente que não, as experiências da os licenciandos acabam sendo sobrecarregados com
prática vão ser distintas dependendo do colégio, assim funções que ainda não podem exercer, como ministrar
como serão aquelas dos ritos de passagem. aulas frequentemente, sem o acompanhamento do
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opinião
professor regente. Nessa situação, eles terão muito professores, funcionários, e mesmo que não tenha sido
mais diiculdade para atravessarem esse momento de tão marcante, no im desse percurso, dessa passagem de
indeinição social e perderão ou, ao menos, icarão um rito, provavelmente ele terá conseguido transformar
comprometidos os benefícios que já identiicamos. a si próprio, não será mais o mesmo que entrou. Usando
da analogia utilizada por Victor Turner (1978), ao tecer
No último dia de prática, com a folha de presença comentários a respeito da transição e transformação
apontando 300 horas (que em um primeiro momento operada pelos ritos de passagem, a crisálida terá passado
pareciam intermináveis), a saída do CAp vai marcar o de lagarta a mariposa.
im do rito de passagem. Ao se fecharem os portões
atrás do ex-licenciando, a dupla negação, não ser mais Portanto, tornar essa ocasião uma experiência agradável
aluno, nem ser ainda professor, torna-se, como em depende de cada um, embora tendo sido ou não, sem
dúvida, esse momento trará repercussões para o resto de
sua prática docente.
Indicações Bibliográicas:
CABEÇAS DIGITAIS
EM AÇÃO
Preocupações e desaios para
familiares e docentes
Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu
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sem fronteiras
Cabeças Digitais – uma nova coniguração Todas as experiências vividas no virtual ultrapassam
os limites deste campo e penetram a realidade off-line,
psíquica gerando um peril de sujeito contemporâneo, cujas
características apresento a seguir.
Antes de entrarmos nas características subjetivas
propriamente ditas, vale lembrar que a estrutura da O sujeito do século XXI é alguém que sente prazer e
Internet – hipertexto, links, janelas, ícones - assim facilidade em quase tudo que faz on-line; está disposto
como suas características – agilidade, imediatismo, a experimentar novas formas de ser; faz diversas coisas
diversidade, excesso, lexibilidade - inluencia fortemente ao mesmo tempo - é multitarefa; está em constante
o pensamento, a ação e os sentimentos de seus usuários, movimento, mesmo mantendo seu corpo imóvel;
criando uma variedade de experiências e interferindo na habita vários espaços (muitas vezes simultâneo) através
própria constituição do sujeito. Um aspecto importante da escrita (e não de seu corpo), o que lhe permite ter
diz respeito à forma privilegiada de comunicação acesso a diferentes realidades (culturais, imaginárias,
on-line – a escrita. É pela escrita (via teclado) que os sociais etc); experimenta identidades e características
usuários interagem e revelam o que pensam e sentem diferenciadas de si mesmo, construindo diferentes
em blogs, e-mails, chats, programas de comunicação narrativas de si (verdadeiras ou não, anônimas ou não);
síncrona, textos para sites, e muito mais. É por meio conhece a si mesmo na medida em que escreve sobre
dela, também, que o usuário experimenta novas formas si e tem retorno sobre essa escrita, o que lhe possibilita
de ser, pois pode criar personagens, experimentar manter uma constante revisão nas deinições sobre si;
variadas identidades, e se descobrir no diálogo com por se expor a tantos espaços, realidades, experiências
o outro. Usar a Internet signiica, portanto, escrever e retornos, tem a si mesmo como a única fonte de
muito e, automaticamente, ler muito. integração possível dos resultados dessas múltiplas
exposições e desses múltiplos retornos; submete a
um constante processo de deinição e redeinição as
fronteiras entre as esferas do público e do privado
como decorrência das múltiplas exposições, dos
múltiplos retornos e das integrações possíveis; tem
diiculdade para se proteger dos excessos gerados por
sua constante exposição à diversidade; está cada
vez mais singular e auto referido como
conseqüência de ter que efetuar, ele
próprio, um recorte nas realidades às
quais está exposto; é lexível, adaptável,
inquieto, ávido de novas experiências;
tem uma atenção diferente; e conhece
poucos limites para seus desejos.
“
de pais e professores
Os jovens de hoje têm
Os conlitos uma facilidade muito
Um dos principais conlitos diz respeito à inversão na grande para lidar com
hierarquia do saber. Os jovens de hoje têm uma facilidade
muito grande para lidar com as novas tecnologias.
as novas tecnologias.
Facilidade esta que, muitas vezes, suplanta a dos pais e
professores. Isso gera incômodo por parte dos adultos,
Facilidade esta
acostumados a ter o papel de orientador dos mais jovens. que, muitas vezes,
”
Além disso, os jovens estão muito bem informados,
mais informados, às vezes, que pais e professores. Este suplanta a dos pais e
é outro aspecto que desorganiza a relação hierárquica
tradicional em que o adulto sabe mais que os jovens.
professores.
Além da inversão da hierarquia do saber destaco
ainda um conjunto de conlitos, o qual denominei de
gap entre as gerações. Os conlitos entre as gerações Alguns medos
sempre existiram, mas nos dias de hoje parecem estar
mais acirrados. Como vimos acima, as características
subjetivas dos “cabeças digitais” são especialmente Destacarei três medos principais revelados por pais
diferentes de nós adultos que nos constituímos em e professores em palestras que realizei em escolas; e,
um mundo em que a ordem era mantida por meio de também, identiicados em reportagens e artigos sobre
hierarquias, delimitações, fronteiras, etc., em que havia o tema juventude e internet. São eles: o medo do vício,
o respeito à autoridade, em que havia o planejamento de da pornograia e da pedoilia.
ações subdivididas em uma seqüência de etapas, entre
outras. A forma como pensamos, agimos e sentimos A questão do vício já foi amplamente discutida no início
é, portanto, bastante diferente da nova geração e isso desta década, quando a Internet ainda era novidade para
parece aprofundar o tão conhecido conlito de gerações. os adultos, mas estava sendo desbravada pelos jovens.
Ainda hoje, no entanto, este tema continua a amedrontar
pais e professores. Talvez isso seja decorrente da ampla
divulgação de trabalhos, produzidos principalmente
nos Estados Unidos (Young, 1996, 1998 e Greenield,
1999) que apresentavam a existência de um novo
comportamento compulsivo, patológico - Internet
addiction - semelhanvte ao do vício do jogo. Estes
trabalhos tiveram grande inluência aqui no Brasil,
não somente na área acadêmica, como também na
mídia e espalharam a crença de que o uso intensivo
da Internet pode gerar vício, assim como outros
problemas na área da sociabilidade, como, por
exemplo: solidão, fuga da realidade, depressão, etc.
Em pesquisa realizada com usuários intensos da
Internet, Nicolaci-da-Costa desconstrói o discurso
da patologia e mostra porque os jovens icam
tanto tempo conectados à rede. No seu
entender, hoje estamos à frente de uma nova
sociabilidade em que estar na Internet faz
parte dos mecanismos de socialização da
juventude. Na maioria das vezes, os jovens
prolongam virtualmente as suas relações reais
(amigos, familiares, etc), através de sites de
Ilustração: Juliana Montenegro
www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
18
sem fronteiras
relacionamento (MSN, Orkut, etc) ou e-mails. As visões encontram seus amigos e podem fazer novos amigos, é lá
alarmistas que patologizam comportamentos novos onde eles podem se manifestar e se expressar livremente,
são advindas da incompreensão de que transformações enim, a rede oferece uma ininidade de possibilidades
radicais, muitas vezes, têm fortes impactos na e experiências interessantes. Cabe ao adulto, porém,
subjetividade. Não quero com isso negar a existência de estabelecer limites para este uso e, através de uma boa
comportamentos patológicos, mas sim redimensionar o negociação, o estabelecimento desses limites pode ser
valor que principalmente a mídia atribui e explicar que o feito em um clima amigável.
que estamos observando em relação ao uso da Internet
feito pelos jovens faz parte de uma nova subjetividade Como já mencionei acima, pais e professores têm
em formação. preocupações sobre o conteúdo que os jovens acessam
na Internet e com quem eles têm contato. Como já
No que se refere à pornograia e à pedoilia é importante disse, também, essa preocupação se relaciona com
lembrar que são ameaças tanto reais, quanto virtuais. As a questão do controle. Não vou repetir o que disse
revistas pornográicas estão aí nas bancas de jornais, acima, mas quero abordar um outro aspecto revelado,
os canais de tv também veiculam programas com principalmente por professores, a respeito do conteúdo
este conteúdo, jovens são muitas vezes assediados por acessado. A característica de hipertexto, assim como a
pedóilos, etc. O que faz a diferença e que tanto preocupa renovação constante dos conteúdos na rede, coloca o
os adultos é a questão do controle. A Internet é um jovem diante do excesso de informações e da diiculdade
espaço aberto a tudo e a todos e lá podemos encontrar, de selecionar e categorizar esse conteúdo. Assim sendo,
também, sites pornográicos e apelo à pedoilia. Certa a tendência é que a informação ique supericial, sem
vigilância sobre o uso que o jovem faz da rede, assim aprofundamento. Cabe, então, principalmente aos
como a utilização de ferramentas tecnológicas de professores, criar mecanismos que auxiliem os alunos
iltragem podem dar ao adulto a sensação de maior na organização e relexão sobre essas informações para
controle daquilo que seu ilho ou aluno está acessando. que elas se transformem em conhecimento.
Acredito, porém, que a conversa ainda seja o melhor
mecanismo para entender e orientar a juventude sobre A terceira preocupação refere-se à sociabilidade
esses temas. prejudicada, ou seja, os pais e professores temem que as
muitas horas que os jovens despendem na rede possam
gerar pessoas solitárias, isoladas, que não têm prazer com
Algumas preocupações
as coisas do mundo real, ou que façam a substituição
de relacionamentos reais por relacionamentos
Uma das maiores preocupações e um desaio, virtuais. Como já sinalizei acima, novos processos de
especialmente para os pais, diz respeito ao tempo de socialização estão em andamento e a rede têm sido
uso da internet. Vimos que os jovens usuários da rede mais um espaço para que isso aconteça. O importante é
sentem prazer em estar on-line porque o mundo virtual observar como esses processos estão acontecendo, antes
tem dimensões lúdicas (Romão Dias, 2007). É lá que eles de estabelecermos julgamentos que podem nos levar a
certos preconceitos.
Algumas Sugestões
Uma última sugestão parece ser necessária. Trata-se da COSTA, A. C. A. IRC: uma nova forma de
questão dos limites, já mencionada acima. Como vimos, relacionamento entre as pessoas. 2001
esta é uma geração que conhece poucos limites para seus Dissertação (Mestrado EM Psicologia Clínica)
desejos, acostumada que está com a dimensão ilimitada - Departamento de Psicologia, Pontifícia
da Internet. Assim, é papel do adulto a colocação de Universidade Católica do rio de Jnaeiro.
limites claros, bem explicados, seja no que se refere
ao tempo do uso, seja no que se refere ao conteúdo DURKHEIM, E. O suicídio: um estudo sociológico.
acessado, entre outros. Só que essa geração não aceita Rio de Janeiro: Zahar, 1982
os limites dados de maneira autoritária, é preciso dar
sempre os motivos, mesmo que eles não os aceitem. DI LUCCIO, F.: NICOLACI-DA-COSTA, A.M.
Isso os faz confrontarem-se, desequilibrarem-se, enim, Escritores de blogs: interagindo com os leitores
desenvolverem-se como pessoa. ou apenas ouvindo ecos? Psicologia: Ciência e
Proissão, v. 27, n. 4, pp. 664-679, 2007a.
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na prática
Novas
possibilidades
da Prática de Ensino:
a experiência da Oicina
Pedagógica de Ciências Sociais
Alexandre Barbosa Fraga
Anita Handfas
Marcos Tognozzi e Rocha
“
Ainda é recente a presença da Sociologia na Educação
Básica e muito se tem discutido sobre as possibilidades o ilme em sala de
do uso de ferramentas que possam articular diferentes
linguagens ao ensino dessa disciplina. Algumas delas já
aula pode possibilitar
vêm sendo utilizadas pelos professores, com o objetivo o desenvolvimento de
de tornar os conteúdos da teoria sociológica mais
acessíveis aos alunos. Entretanto, veriica-se que nem conceitos sociológicos,
sempre o uso dessas metodologias tem sido capaz de
explorar todo o potencial que elas oferecem. Isso ocorre constituindo-se em
com o cinema. Embora seja comum aos professores
de sociologia a utilização do ilme em sala de aula, a
importante ferramenta de
maioria deles ainda não se debruçou sobre as implicações relexão crítica sobre os
metodológicas deste recurso didático, que ultrapassa um
mero entretenimento ou artifício de temas de aulas, mas mais diversos fenômenos
pode se apresentar como “pré-texto”, possibilitando
tratar, numa perspectiva crítica, os temas da sociologia. sociais, culturais, políticos
”
Nessa perspectiva, a utilização do ilme em sala de
aula pode possibilitar o desenvolvimento de conceitos
e ideológicos inerentes às
sociológicos, constituindo-se em importante ferramenta relações humanas.
de relexão crítica sobre os mais diversos fenômenos
sociais, culturais, políticos e ideológicos inerentes às
relações humanas.
A Oicina Pedagógica
A Oicina Pedagógica buscou estimular o uso do cinema
A Oicina Pedagógica de Ciências Sociais desenvolveu-
como método de ensino que favoreça a aprendizagem
se a partir da constituição de um grupo multidisciplinar
de procedimentos de pesquisa, análise, confrontação,
composto pelas professoras de Didática Especial e
interpretação e organização dos conhecimentos
Prática de Ensino de Ciências Sociais da Faculdade
sociológicos, além de expor de maneira didática a etapa
de Educação , por uma pesquisadora do Núcleo de
teórica e a prática da experiência de reletir, articular,
Sociologia da Cultura do IFCS e pelas professoras de
organizar e desenvolver atividades com apoio de ilmes
três escolas de Educação Básica – o Colégio de Aplicação
e vídeos.
22 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
na prática
da UFRJ, o Colégio Estadual Souza Aguiar e o Instituto maneira age sobre os imaginários dos espectadores. A
de Educação. imagem é compreendida por aquilo que nos mobiliza,
possibilitando leituras diferenciadas e o observador
Primeiramente elaboramos a proposta da Oicina, possui certa autonomia para interpretá-la. Os indivíduos
deinindo a temática, estruturando a atividade e apreendem os mais variados conteúdos e signiicados
selecionando os ilmes a serem exibidos e o material através da exibição das imagens.
didático de apoio. Nessa etapa também foram
apresentados os objetivos da Oicina Pedagógica aos A relação que se estabelece entre o autor do ilme
alunos das duas turmas de Didática Especial e Prática de e o espectador deve ser problematizada quando a
Ensino de Ciências Sociais, em particular aqueles que transportamos para a sala de aula. O ilme signiica
realizaram seus estágios nas três escolas diretamente uma forma do imaginário do autor atuar sobre outros
envolvidas no projeto. imaginários. Sobre essa questão, Burke (2004) propunha
que a imagem deve ser "interrogada" para que cheguemos
Em seguida, ocorreu a discussão teórico-prática da a uma "evidência aceitável". Assim, podemos indagar a
Oicina. Este foi o momento em que a atividade reuniu respeito dos problemas relativos à percepção da imagem,
todos os participantes, permitindo uma relexão mais ou seja, de que maneira as imagens produzidas a partir
sistemática sobre as questões ali colocadas. Orientados de um determinado grupo social ou cultural podem ser
pela leitura de dois textos (BRUNO & MARTINS, 2006; transmitidas para outros grupos.
e SALLES, 2005), os participantes acompanharam uma
palestra que, a partir da contextualização das ciências
sociais e de sua relação com a imagem, em particular
o cinema, pôde-se questionar as implicações teóricas e
metodológicas do uso deste recurso didático em sala de
aula.
“
Foi interessante observar a diversidade das experiências
nas escolas onde as Oicinas foram realizadas. Tal
diversidade deve-se entre outros a fatores sociais e
culturais dos alunos de cada uma das escolas, à prática
Os indivíduos
pedagógica do professor, mas também à estrutura e apreendem os mais
à organização de cada uma delas e particularmente
à relação de cada escola com a disciplina sociologia. variados conteúdos e
Os relatos dos licenciandos a seguir atestam essa
diversidade.
signiicados através
”
da exibição das
Colégio de Aplicação da UFRJ
imagens.
O primeiro passo para a realização da atividade foi a
seleção do ilme. Adotamos como critério principal
24 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
na prática
sistematizando e discutindo as questões levantadas
“
pelos alunos. Com isso, nosso objetivo também foi
o de fornecer alguns elementos que pudessem dar
continuidade ao programa da disciplina. Iniciamos uma Facilitar o acesso
discussão sobre quais seriam os direitos e os deveres
dos cidadãos e as obrigações do Estado para com eles,
à linguagem
relacionando com o tema do documentário. sociológica é
Instituto de Educação sempre uma
Para a realização da atividade no ISERJ, os licenciandos
forma de facilitar
em conjunto com a professora regente, optaram pela a compreensão e
exibição do documentário João Guimarães Rosa: o Mágico
do Reino das Palavras. A escolha foi motivada pelo fato desenvolver uma
”
de os alunos terem participado de uma atividade
pedagógica envolvendo as disciplinas de sociologia e perspectiva crítica
literatura. Além disso, havia uma adequação do ilme
à temática cultura que naquele momento era o conteúdo
nos alunos.
programático trabalhado. Na avaliação da equipe, a obra
de João Guimarães Rosa era apropriada, uma vez que,
em um dos seus livros de maior destaque, Grande Sertão: realidade, antes da exibição do documentário. Ao
Veredas, o autor aborda o encontro da cultura sertaneja inal, izemos a discussão, que inicialmente foi livre e
brasileira com a cultura erudita. posteriormente passou a ser orientada pelas questões
distribuídas no início da aula.
Foram realizadas duas reuniões de planejamento
com o intuito de escolher a forma de apresentação do A avaliação das respostas dos alunos nos permitiu
documentário, formular as dinâmicas de discussão e perceber que eles conseguiram apreender
elaborar um instrumento de avaliação da atividade. satisfatoriamente os apontamentos a respeito do tema
Desde o início deparamo-nos com dois desaios: saber cultura e, principalmente, reletir a respeito do que havia
como trabalhar com o conceito de cultura, tendo em sido proposto.
vista a vasta bibliograia e os diferentes enfoques,
e adequar os pontos a serem trabalhados ao tempo
disponível em sala de aula, bem como à linguagem Colégio Estadual Souza Aguiar
apropriada aos alunos.
Para a realização da Oicina no CESA, os licenciandos,
A atividade ocorreu em dois dias consecutivos e foi em conjunto com a professora regente de sociologia
desenvolvida em seis turmas, duas do 3º e quatro do optaram pela exibição de dois ilmes: Uolace e João Victor
2º ano do Ensino Médio, tendo sido organizada de - quarto episódio da série Cidade dos Homens e Extremos:
modo que cada estagiário se responsabilizou por uma lagrantes de um mundo desigual - um conjunto de slides
das seis turmas, garantindo que todos tivessem o seu criados no ambiente da Internet para ser exibida nas
momento de conduzir a discussão e exercitar a função telas de computadores.
de professor.
O episódio Uólace e João Victor trata da desigualdade
A problematização do conceito de cultura foi feita por social entre os dois personagens, temática escolhida
meio de dez questões formuladas e distribuídas aos para a aula, quando trabalhamos a estrutura do sistema
alunos, tendo em vista as seguintes preocupações: a capitalista e da divisão entre as classes sociais. Além
linguagem dos alunos; a provocação de uma relexão disso, questionamos os alunos a respeito das atitudes
teórica com base em fatos da realidade; a pertinência do preconceituosas e racistas, e tratamos de questões
conteúdo com o que deveria ser exposto em aula e/ou de gênero. Foi elaborado um roteiro de perguntas,
no documentário apresentado. Cada aluno recebeu uma solicitando aos alunos que primeiramente respondessem
questão e, com base na aula, no ilme e na discussão às perguntas oralmente e, em seguida, por escrito.
subseqüente, tinha de respondê-la por escrito. Tentamos Nas aulas seguintes, as respostas foram recolhidas e
problematizar e relacionar as questões teóricas com a o episódio foi tomado como modelo para recorrer a
26 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
inglês
ESTILÍSTICA,
LITERATURA E INGLÊS
COMO LÍNGUA
ESTRANGEIRA
UMA PROPOSTA PARA O ENSINO MÉDIO
Sonia Zyngier
Vander Viana
28 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
inglês
somente 7,89% dos alunos classiicaram-se como ‘muito Na verdade, a partir de 1989, alunos de graduação da
bons’ leitores literários. UFRJ foram introduzidos ao conceito e ao programa
de CL por mais de 10 anos, por meio de um módulo
Foi para estes alunos que o projeto de ‘Creative Writing’ da disciplina Inglês 3. As pesquisas realizadas indicam
foi ministrado no ano de 2007. Tal como foi idealizado, um aumento no nível de CL, após a realização do
este projeto resulta do programa de conscientização curso. Porém, ainda faltam estudos que veriiquem se
literária (doravante CL) descrito a seguir. esta mudança é estatisticamente signiicante. Todos os
realizados até o momento foram qualitativos.
“
Deseja-se, portanto, que as análises tomem por base
elementos lingüísticos que causem determinado efeito
propôs-se o no leitor, ou seja, os recursos estilísticos utilizados.
”
estética de textos que os alunos se apropriem do padrão estudado e criem
seus próprios textos.
imaginativos.
O curso completo contempla dez unidades distintas. Os
tópicos abordados incluem ritmo e entoação, categorias
narrativas, diálogo em contexto, metáforas, ponto de
vista, ironia e gênero. As unidades do curso adotam
30 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
inglês
atividade era considerada mais difícil do que a anterior The cat
uma vez que se esperava que os alunos deixassem de
lado as palavras isoladas para formar textos um pouco What a lovely cat!
mais elaborados em inglês, como o poema criado por Lying on its little bed
Helena Barreto (22C), que versa sobre o fundo do mar. What a lovely cat!
So cute and so sad
Os primeiros versos do poema são dispostos como What a lovely cat!
ondas, que funcionam como o ‘cobertor’ lingüístico que The best pet you have ever had.
esconde a beleza que se encontra escondida no fundo What a lovely cat
do mar. A palavra ‘underneath’ (‘embaixo’) está disposta Unfortunately, it’s dead
graicamente de uma forma a lembrar um peixe.
Nota-se também no poema a existência de rimas do tipo
Na segunda unidade (‘Playing with types of texts’), o ABBA, com o uso dos pares de palavras ‘bed’ e ‘dead’,
foco recaiu nos mais diversos tipos textuais existentes e ‘sad’ e ‘had’.
em língua inglesa. O trabalho analítico incluiu anúncios,
poemas, listas telefônicas, bulas de remédio, artigos Um outro exemplo é o poema sem título de Anna
jornalísticos, receitas, guia de televisão e narrativas Cláudia Pinheiro (22C), que apresenta o verso repetido
para citar alguns exemplos. Os conceitos de narrativa ‘It’s all about you’.
e descrição também foram amplamente explorados na
unidade ao serem contrastados fragmentos de textos It’s all about you
literários que passavam da descrição para a narração Every word you say makes me smile
e vice-versa. Trabalhou-se com as circunstâncias, os It’s all about you
processos, os participantes e as expectativas do leitor de Because this makes my life worthwhile
forma a permitir a identiicação de quais textos seriam It’s all about you
mais factuais ou imaginativos. For everything you need I am here
It’s all about you
A terceira unidade – ‘Playing with rhymes and Look at your side and I’ll be near
repetition’ – introduziu a questão da rima e repetição It’s all about you
em poesia. Várias atividades foram realizadas de forma Even my life to you I would give
a sensibilizar os alunos para a utilização de padrões em It’s all about you
poemas distintos, desde os mais simples até os mais But my kiss, darling, you won’t receive
avançados, como o poema “The Bells”, de Edgar Allan
Poe. Quando solicitada a explicar seu poema, a autora
airmou que o verso repetido indica que o eu-lírico faria
Em um dos últimos exercícios da unidade, os alunos qualquer coisa pela pessoa amada. No entanto, ao inal
foram solicitados a criar poemas que seguissem um do poema, o leitor é surpreendido pelo fato de que há, na
determinado padrão: um verso repetido no poema era verdade, algo que o eu-lírico não faria pelo(a) amado(a):
intercalado por outros versos, que deveriam idealmente beijá-lo(a).
apresentar rimas. O último verso deveria quebrar a
expectativa do leitor, apresentando um padrão diferente. O presente artigo não pretende esgotar a questão sobre
No poema ‘The cat’, de Patricia Martins (21A), apesar o ensino de literatura. Apresenta meramente uma visão
de serem indicadas as características comuns e prosaicas panorâmica de uma proposta, dentre várias, em que se
de um gato (‘encantador’ [‘lovely’], ‘gracioso’ [‘cute’], pode utilizar a estilística para sensibilizar o aluno ao
‘melhor’ [‘best’]) e até mesmo uma negativa (‘triste’ texto imaginativo e, com isso, não só promover a leitura
[‘sad’]), o leitor se surpreende quando, no inal, percebe e a autonomia, mas também desenvolver o ensino de
que se trata de um gato morto. língua no ensino médio. Apesar de todas as resistências
teóricas e/ou práticas que possa haver, os exemplos aqui
apresentados ilustram como alunos, cujo conhecimento
da língua inglesa variava entre o intermediário e o
avançado, foram capazes de trabalhar com padrões
estilísticos, compreender textos imaginativos em ILE,
construir signiicados a partir dos mesmos e produzir
seus próprios textos de forma criativa. Esta talvez
Indicações Bibliográicas:
CARTER, R. Literature and language teaching 1986-2006: a review. International Journal of Applied
Linguistics, v. 17, n. 1, p. 3-13. 2007.
FEDOROVA, Y.; IVANYUK, L.; KOROLCHUK, V.; YEMETS, N. The catchers in the rhyme. Kyiv: Lenvit,
2006.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: The University of Chicago Press, 1980.
ZYNGIER, S. At the crossroads of language and literature: literary awareness, stylistics, and the
acquisition of literary skills in a EFLit context. 1994. 626 f. Tese (Doutorado em Lingüística Aplicada) –
School of English, University of Birmingham, Birmingham.
ZYNGIER, S.; KIRSTEIN, E.; VIANA, V. Playing with style: creative writing for EFL. (no prelo).
WATSON, G.; ZYNGIER, S. (Eds.). Literature and stylistics for language learners: theory and practice.
Hampshire: Palgrave Macmillan, 2007.
32 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
desenho geométrico
O software
TABULAE no CAp
da Universidade
Federal do Rio de
Janeiro
Vania Maria Rocha Gomes Hozumi
www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
34
desenho geométrico
-Conceituar segmentos colineares, segmentos que eles criassem um resumo sobre alguns conteúdos
consecutivos e segmentos congruentes. dados, sendo que o trabalho poderia ser bem objetivo
e simpliicado.
Os conteúdos utilizados para serem trabalhados nesta
primeira fase foram, portanto: a reta e seus subconjuntos; A igura a seguir ilustra uma atividade no software
posições da reta e classiicação de segmentos de reta Tabulae, na qual a representação é de uma casa em
segundo sua posição relativa e medida. perspectiva; para alterar a perspectiva da igura, basta
mover o ponto (Figura 1).
Na etapa seguinte, os alunos trabalharam no laboratório
de informática. Nesse momento, os mesmos conteúdos
foram apresentados. Os recursos computacionais
utilizados garantiram o desenvolvimento de um
processo de aprendizagem rico, pela possibilidade
da manipulação de elementos, que os ajudaram a
representar formas geométricas.
-Conceituar polígonos e identiicar os seus elementos; Figura 2: Representação de iguras criadas por alunos do CAp
-Diferenciar, polígonos convexos de polígonos
côncavos;
-Classiicar e nomear os polígonos;
-Reconhecer um polígono regular.
Facilidade de Aprendizagem
0
35 Satisfatório Insatisfatório
25
Fig.6- Gráico de Otimização dos Procedimentos
Número de 20
Alunos 15
10
5
Segurança no Software
0
Fácil Dificil Mediano Para ser uma boa ferramenta o aluno deveria ter a
Respostas dos Alunos sensação de segurança ao trabalhar com as ferramentas
deste software, assim como em sala aula com
Fig.4-Gráico de Facilidade de Aprendizagem baseado
instrumentos de Desenho normais (ex: a régua, par de
no número de alunos
esquadros). Dividiu-se esta segurança em Sim, Não e
Mais ou Menos.
O software ofereceu ferramentas que atraiu a atenção
das crianças para sua exploração? O critério utilizado
para a medição deste nível foi em Alto, Baixo e Médio. Segurança no Software
40
35
30
Nível de Interesse Número de
25
20
Alunos
15
40 10
35 5
30 0
25 Sim Não Mais ou Menos
Número de
20 Resposta dos Alunos
Alunos
15
10 Fig.7- Gráico de Segurança no Software baseado no número de alunos
5
0
Alto Baixo Médio Pôde-se perceber, pela análise, que foi fácil para os alunos
Respostas dos Alunos trabalharem com o Tabulae. Os alunos apresentaram
como justiicativas a oportunidade de terem colocado
Fig.5 Gráico de Nível de Interesse baseado no número de alunos
em prática os aprendizados e conceitos adquiridos em
sala de aula e por ter se tornado fácil a interpretação
dos tópicos do programa. Já, para alguns, o software foi
difícil, pois apresentava muitos comandos, o que gerava
Otimização do Software confusão pelo excesso de informações. Já a análise
dos que se posicionaram como medianos, no início do
A expectativa dos alunos em relação ao tempo de “entender usar”, foi complicada pela falta de convívio
resposta do software deveria estar adequada às suas no laboratório, mas foi melhorando com o passar do
necessidades? Para isso realizou-se esta análise que tempo.
www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
36
desenho geométrico
O nível “Alto” de interesse dos alunos no software icou iniciarem seus conteúdos na disciplina desenho, fazendo
bem variado nas colocações, pois as crianças julgaram um paralelo com aulas teóricas e práticas em ambiente
que o software tinha sido criado para elas; a curiosidade computacional.
foi um fator determinante na exploração do software,
foi muito divertido realizar tarefas. Já na análise do Observou-se que os mesmos conteúdos trabalhados
nível de interesse “Médio” , os alunos airmaram que a em sala de aula foram descobertos aos poucos no
vontade de experimentar “ tudo” era muito grande, mas laboratório, cujo ambiente de trabalho foi a preferência
nem sempre tinham conhecimento de suas aplicações. da maior parte dos alunos. As respostas foram mais
No nível “Baixo” de interesse, de um modo geral, as rápidas e perfeitas, as tarefas de mais fácil resolução, isto
crianças não se identiicaram com o software, e o que tornava as aulas divertidas, interessantes para os alunos.
criavam não era atraente. No laboratório sentiram-se mais seguros, evoluindo
em seus desempenhos práticos e conseqüentemente em
Analisando a Segurança do uso do Software as crianças suas notas. Certos alunos demonstraram preferência das
demonstraram, em suas colocações, que o erro gráico aulas de desenho em sala de aula, devido à importância
das representações era quase impossível, pois o programa da explicação da professora. Os alunos que preferiam os
orientava e corrigia. As medidas solicitadas estavam dois ambientes de trabalho apresentavam um equilíbrio
sempre corretas, as explicações detalhadas, permitindo no desempenho das tarefas, ou seja, a parte teórica e
com que o aluno icasse com mais coniança para prática em sala de aula tinham a mesma desenvoltura
realizar suas tarefas. Os alunos que demonstraram estar que no ambiente computacional.
mais ou menos seguros justiicaram que nem sempre
o programa lhes atendia para tirarem outras dúvidas e A aprendizagem luiu bem quando as atividades foram
que icavam impossibilitados de obterem explicações. executadas em duplas, pois a organização era dividida
Os alunos que não se sentiram seguros, optaram por em etapas e as trocas tanto de tarefas como dos
julgarem os comandos do software difíceis e tinham conhecimentos enriqueciam as aulas.
medo de fechar o programa sem as tarefas realizadas. O
aluno tinha de entender a matéria, independentemente Houve evolução do desempenho das representações
do software, assim se sentiria mais seguro. gráicas e na compreensão dos conteúdos, já que na
6º ano o enfoque é reconhecer as formas, para isso o
Foi elaborada uma única pergunta em relação à computador permitiu, como ferramenta, uma grande
percepção dos alunos com o software. Que idéia você criatividade de representações por parte dos alunos.
daria aos criadores do software para facilitar seu uso?
As diiculdades apontadas são as seguintes, em ordem A pesquisa aqui relatada permite recomendar que, no
de maior freqüência: futuro, tente-se intercalar maior número de aulas em
ambientes computacionais. Acredita-se que os ambientes
(1) Funções com acesso imediato; gráico-digitais podem prestar maior ajuda aos alunos
(2) Caixa de diálogo mais fácil de usar; no entendimento dos conteúdos, além de permitirem
(3) Mais informações sobre os comandos; que eles acessem e explorem o universo da tecnologia
(4) Ícone de ajuda; a seu favor, superando as limitações dos recursos
(5) Salvar mais facilmente; tradicionais, ao mesmo tempo em que cria estímulos a
(6) Ser de acesso livre. novas relexões expande o conhecimento gráico.
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38
resenha
Heywood em “As conexões culturais angolanas-luso- A última e quarta parte do livro – “Ser africanos, nos
brasileiras” desvenda surpreendentes relações entre o Brasis” – se inicia com o artigo de Carlos Reis de Paula
catolicismo popular em Portugal, no Congo e no Brasil, , Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, “Direito e
através do estudo das irmandades negras que formavam Relações Raciais”, em que o autor, revendo a legislação
à época uma verdadeira rede de caráter transoceânico de produzida para combater a discriminação racial no
trocas culturais. O estudo destaca o caso da Irmandade Brasil, discute suas transformações, avanços e impacto
de Nossa Senhora do Rosário em Salvador na Bahia, social. Para exempliicar esta discussão, analisa um
integrada exclusivamente por angolanos no início do processo judicial, com parecer favorável ao cidadão alvo
século XVIII. de racismo. E, ainda, destaca o aspecto da promoção da
igualdade na Convenção sobre a Eliminação de Todas
Em Hoje, nas Áfricas, João Paulo Borges Coelho indica as Formas de Discriminação Racial, que se constitui no
fontes e faz um estudo das duas guerras de Moçambique grande desaio a ser enfrentado em nosso país que possui
desde a luta pela independência, por ele consideradas uma população imensa de excluídos, majoritariamente
como guerra colonial e guerra civil, respectivamente. negros e mestiços. “O desaio de controlar a própria
Seu artigo intitulado “As duas guerras de Moçambique” explosão”, de Edson Lopes Cardoso, traz uma revisão
relata e compara os conlitos em seus determinantes da trajetória do Movimento Negro nas últimas décadas,
históricos e nas suas conseqüências para o país . José destacando seu papel ideológico na desarticulação do
Octávio Serra Van-Dúnen em “Angola e África: discurso racista e no fortalecimento da identidade negra
realidades e perspectivas“ analisa os aspectos políticos no Brasil, sobretudo entre os jovens. No mesmo texto,
das recentes guerras no continente, com enfoque apresenta fragmentos de pronunciamentos políticos e
especial nas relações entre poderes centrais e locais e matérias jornalísticas, tecendo comentários críticos sobre
na necessidade de enfrentamento de problemas que se visões aparentemente progressistas no que concerne à
generalizaram pelos países africanos como a pobreza, a propostas para a melhoria da vida da população negra,
fome e a crescente desigualdade. Pio Pena Filho discute mas que não atentam para a exigência de uma via que seja,
em seu texto “Conlito e busca pela estabilidade no ao mesmo tempo, radical e organizada politicamente
continente africano na década de 1990” as tentativas – desaio posto ao Movimento Negro. O último dos
de governos nacionais, órgãos internacionais e blocos artigos desta coletânea, tão diversa quanto instigante,
regionais de resolução das guerras civis que têm assolado é o de Nelson Ode Inocêncio : “Representação Visual
os países africanos nas últimas décadas. do corpo afro-descendente”, o qual, numa perspectiva
inovadora no campo das ciências sociais, traça uma
Nos Brasis, os africanos é o título da terceira parte, análise das imagens construídas sobre aspectos físicos
na qual Edy Rezende Fleisher comenta a produção de negros e mestiços. Nele, e buscando assumidamente
bibliográica sobre os quilombos no Brasil, enfocando provocar o leito , divide o texto em partes do corpo dos
especialmente sua organização espacial, as práticas afro-descendentes vistas como símbolos de variado teor,
religiosas e a sobrevivência econômica das comunidades desvendando as estratégias de dominação presentes na
quilombolas. Neste trabalho intitulado “Quilombos construção deste discurso imagético.
brasileiros: estratégias para a liberdade, sobrevivência
e etnicidade” a autora, revendo obras clássicas sobre o Temos, enim, em “Entre África e Brasis” um
tema, destaca aspectos normalmente pouco estudados apanhado sobre estudos africanos e afro-brasileiros,
nas mesmas, em geral mais preocupadas em enfatizar trazendo temáticas extremamente desaiadoras e ainda
a capacidade de lutar, de fugir e de se esconder dos não devidamente exploradas no campo acadêmico:
escravos aquilombados . O artigo “Capoeiras angola e a história vista sobre uma perspectiva de gênero, a
regional : duas formas de entendimento e de integração contemporaneidade explosiva analisada em dinâmicas
à sociedade brasileira”, de Roberta K. Matsumoto, traz o internas ao continente, as formas de resistência como
tema desta manifestação herdada dos escravos africanos, mecanismos de construção de identidade cultural e
discutindo a sua história e os signiicados de suas mais étnica e os novos terrenos de combate ao racismo nas
importantes vertentes no Brasil, comparando formas de suas expressões mais atuais. Para nós, educadores, temas
organização, técnicas e visões de mundo que expressam. fundamentais. Um livro que se destina, certamente, a
Glória Moura, em “Quilombos contemporâneos versus provocar discussões e fomentar debates, caminho
Terceiro Milênio”, coloca em pauta a questão das necessário para ampliar a percepção da nossa identidade
comunidades remanescentes de quilombos no Brasil de como brasileiros, tendo em vista que nela a África é
hoje, em especial no que tange ao seu reconhecimento parte vital, sem a qual não podemos inalmente nos (re)
como tal e aos problemas da propriedade da terra, tendo conhecer.
como referência a discussão de critérios de identidade
étnica, a história destes grupos e a legislação em vigor
no Brasil.
Aconteceu no
2° semestre de 2008
ENEM
40 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
notas
Jornada de Iniciação Cientíica
Alunos pertencentes ao IC Jr. participaram também os dias 03 a 07 de novembro de 2008. Neste evento, 8
da XXX Jornada Guiulio Massarani de Iniciação alunos do CAp apresentaram 5 trabalhos produzidos em
Cientíica, Artística e Cultural da UFRJ ocorrida entre suas atividades de IC Jr..
Perspectiva capiana é uma revista de divulgação que publica ilustrações e pequena apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo
prioritariamente resultados de projetos de ensino, de pesquisa e de de 11.000 caracteres com espaço (~1.800 palavras).
extensão feitos no Colégio de Aplicação da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (CAp-UFRJ), em todas as disciplinas, para Opinião: considerações pessoais sobre temas relacionados à educação
um público amplo e heterogêneo. Os leitores da revista são, em ou com o ensino na escola. É importante que os fatos e argumentos
geral, professores de ensino fundamental e médio da instituição; sejam descritos com objetividade, permitindo ao leitor contrastar e
professores de outras escolas; licenciandos e alunos de graduação; evoluir sua própria opinião sobre o assunto. Os textos devem conter
professores universitários; pessoas que se interessam por educação abertura (resumo), título, nome e breve apresentação do(s) autor(es).
e pelas disciplinas escolares, mas não dominam necessariamente Tamanho máximo de 11.000 caracteres com espaço (~1.800
conceitos básicos de todas as áreas. Os textos da revista exigem, palavras).
portanto, clareza e simplicidade.
Sem Fronteiras: textos encomendados pelos editores a autores de fora
Os textos submetidos à publicação como artigos devem conter a do CAp-UFRJ para enriquecer as relexões em curso na escola.
contribuição original do(s) autor(es) para o tema tratado e devem Devem conter título, abertura (resumo) e nome, foto e pequena
ser inéditos – não podem ter sido publicados anteriormente em apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo de 11.000 caracteres
outro veículo de divulgação para o público em geral (mas podem com espaço (~1.800 palavras).
ter sido veiculados em revistas especializadas, por exemplo). Sempre
que possível, os resultados de pesquisa ou do projeto do(s) autor(es) Memória: textos sobre aspectos pouco difundidos da história
devem ser expostos no texto. do CAp-UFRJ ou da educação. Devem ser pouco técnicos,
destacando o contexto da época e as personagens envolvidas.
AVALIAÇÃO Devem conter abertura (resumo), nome e breve apresentação
do(s) autor(es), título e ilustrações. Tamanho ideal: 7.500
Consultores técnicos indicados pelos setores curriculares são caracteres com espaço (~1.200 palavras).
consultados quando da submissão de um texto e orientam a equipe
editorial da revista quanto ao que sugerir aos autores para corrigir Resenhas: apresentação crítica de um livro ou outro produto cultural
ou adequar o texto do ponto de vista técnico, quanto à qualidade do de interesse. Não deve descrever a obra em detalhes, mas apontar
trabalho, à linguagem adotada e à conveniência de sua publicação. sua relevância no contexto do ensino. Os textos devem conter os
Os textos aprovados são selecionados para publicação de acordo dados da obra analisada (título, autor, custo, etc.), bem como o nome
com a avaliação dos editores, levando em conta a programação e ocupação do(s) autor(es). Tamanho ideal: 3.800 caracteres com
editorial e as especiicidades de cada edição da revista. Os textos espaço (~600 palavras).
enviados pelos autores são ainda concomitantemente editados pela
redação para adequá-los à linha editorial da revista e devolvidos Notas: eventos de interesse ocorridos ao longo dos seis
aos autores para aprovação. Em caso de não-aprovação, os editores meses prévios à edição da revista. Devem ser sintéticas e
buscarão atender às solicitações dos autores, dentro do razoável do informativas (~90 palavras).
ponto de vista editorial. A revista não publicará nenhum texto não
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Entrevista: (a cargo da redação) relato de perguntas e respostas em publicação em perspectiva capiana como fonte primária: ‘Este artigo
bate-papo com iguras de destaque sobre temas relevantes para a foi publicado originalmente em perspectiva capiana (v. n, n° n, p. n)’.
escola, para o ensino de disciplinas ou para a educação em geral.
Todos os autores de artigos e da seção Construindo Pontes recebem
Artigos por setor curricular: Devem apresentar trabalhos dentro do 8 edições da revista em que foram publicados seus artigos para
quadro da disciplina do(s) autor(es), e devem conter título, nome(s) distribuição própria. Autores de outras seções recebem 5 edições.
do(s) autor(es) e pequena apresentação pessoal, abertura (resumo),
setor curricular (Geograia, Música, SOE, etc.), sugestões para leitura
e ilustrações/fotos devidamente legendadas e com créditos. Não ENVIO DE TEXTOS
devem exceder 15.000 caracteres com espaço (aproximadamente
2.400 palavras). Todos os textos e anexos devem ser enviados por e-mail para a
redação ([email protected]) dentro dos prazos de fechamento
Construindo Pontes: artigos publicados por dois ou mais autores de das edições (até 31/04 para as edições ímpares; até 31/09 para as
diferentes setores curriculares, com temática interdisciplinar. edições pares).
Seguem a formatação dos artigos.
Textos recebidos após a data de fechamento ou fora do formato
Na Prática: textos destacando os trabalhos realizados no quadro requerido para publicação possivelmente só serão considerados para
das Práticas de Ensino. Devem conter abertura (resumo), título, publicação na edição seguinte.
42 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
Colégio de Aplicação
CAp-UFRJ
Universidade Federal do
Rio de Janeiro – UFRJ