Livro U3

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Unidade 3

Uso da vegetação
em projetos de
paisagismo
Noemi Yolan Nagy Fritsch
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico,
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2019
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e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 3
Uso da vegetação em projetos de paisagismo���������������������������������������� 5
Seção 3.1
Vegetação como elemento estruturador do espaço�������������������� 7
Seção 3.2
Especificando vegetação em paisagismo���������������������������������� 20
Seção 3.3
Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de
paisagismo������������������������������������������������������������������������������������ 36
Unidade 3

Uso da vegetação em projetos de paisagismo

Convite ao estudo
Caro aluno,
No campo da arquitetura paisagística existem duas afirmações que
acompanham o dia a dia do profissional. A primeira delas diz respeito à
profissão: o paisagismo é a moldura da casa, a “cereja do bolo” (WATERMAN,
2011). Essa afirmação é verdadeira, pois de nada adianta se projetar o mais
belo edifício se a parte externa dele continuar no chão de terra batida e cheio
de restos de entulho da obra, não é mesmo?
É frequente que clientes solicitem ao paisagista a utilização de uma
vegetação no projeto que esconda algum elemento de cunho técnico com
caráter decorativo indesejado, por exemplo, uma casinha de gás, uma caixa
de inspeção ou uma casa de máquinas.
O paisagismo consegue, através do uso de espécies vegetais, trazer beleza
e realçar as linhas projetuais do edifício ao mesmo tempo em que encobre
imperfeições, caso necessário.
A outra afirmação que você provavelmente já ouviu é a de que o arquiteto
paisagista é aquele que “coloca as plantinhas” no projeto, não é mesmo? Nesta
unidade você vai descobrir que “colocar plantinhas” não é tão simples assim: é
preciso conhecer os formatos, portes, cores e tolerância ao sol ou sombra para
poder escolher as espécies certas a determinado projeto. Além disso, trata-
remos a vegetação como elemento estruturador do espaço na Seção 1; especifi-
caremos vegetações em paisagismo na Seção 2; e estudaremos os princípios de
infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo na Seção 3.
No contexto de aprendizagem iniciaremos a elaboração do projeto de
uma nova área de lazer para um bairro recém-implantado. Os moradores,
representados por uma associação, têm alguns pedidos em relação às vegeta-
ções, que deverão ser incorporados ao projeto.
A escolha das espécies corretas vai envolver técnicas e questões estéticas
e pode resultar não apenas em um jardim, mas em uma infraestrutura verde
para solucionar problemas ambientais, sociais e econômicos.
A forma de projetar também é diferente: não há paredes nem teto nos
espaços abertos. Dessa forma, a vegetação será utilizada para estruturar os
espaços: às vezes assumirá o papel de parede, como acontece com as cercas-
-vivas, e às vezes fará o papel de teto, quando se usa uma árvore de copa
horizontal, por exemplo.
A divisão desses espaços em planos (verticais e horizontais) e lugares
(lugar e não lugar) auxiliará na criação do plano de massas vegetais e, a partir
dele, na escolha das espécies vegetais mais adequadas.
Você terá oportunidade de aplicar todos esses conceitos durante a
resolução das situações-problema dessa unidade.
Vamos, então, iniciar a elaboração do projeto: planejar a área de lazer
para a comunidade! Para isso, começaremos com o estudo da distribuição
das espécies vegetais da forma mais harmoniosa e adequada ao projeto.

6 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Seção 3.1

Vegetação como elemento estruturador do


espaço

Diálogo aberto
Olá, aluno!
Nesta unidade finalmente vamos começar a falar sobre as espécies
vegetais e como elas estruturam os espaços.
Abordaremos os seguintes conteúdos:
• A vegetação como elemento estruturador de espaços urbanos: confi-
guração de espaços através de planos verticais e horizontais.
• Características da vegetação pertinentes ao projeto paisagístico.
• Funções da vegetação na estruturação do espaço.
• Estratos de vegetação: herbáceas, arbustivas, arbóreas.
A palavra estruturar, neste contexto, tem o significado de construção e,
portanto, falaremos sobre como as plantas ajudam a construir espaços. Você
pode imaginar como elas constroem? Quais são os materiais utilizados?
Vamos exemplificar:
Pense em uma avenida larga, com bastante trânsito e um canteiro central
cimentado. A ausência de vegetação deixa o ambiente triste e feio, não é mesmo?
Agora imagine a mesma avenida, com um canteiro central gramado e
uma fileira de palmeiras. A paisagem muda completamente, não há dúvidas.
O verde da grama traz aconchego e as palmeiras conferem altura, elevando
nossa visão acima dos automóveis e trazendo uma sensação de leveza.
E se, em lugar de palmeiras, o canteiro central tivesse um gramado e pés
de acerola? Provavelmente a atenção das pessoas se voltaria para as árvores,
principalmente se elas estivessem com frutos. A copa esconderia parcial-
mente os veículos que trafegam do outro lado do canteiro e muitos pássaros
seriam atraídos ao local por conta das frutas.
Nos três exemplos acima conseguimos perceber a construção de paisa-
gens bem distintas, através da presença da vegetação e de variações de seu
formato e porte.
A questão da vegetação como elemento estruturador de espaços urbanos
será um dos conteúdos explorados nesta seção. Ainda serão abordadas as

Seção 3.1 / Vegetação como elemento estruturador do espaço - 7


características pertinentes ao projeto paisagístico e as funções e estratos
dessa vegetação na organização espacial.
Sua tarefa, aluno, será criar um plano de massas vegetais para a nova área
de lazer de um bairro que está sendo planejado, com base nas caracterís-
ticas de forma, tamanho, dimensões, cores e tolerância ao sol e sombra das
espécies vegetais.
A área, de 50 x 50 m, deverá contemplar três espaços de tamanhos
distintos: um maior, um intermediário e um menor, que estarão ligados por
um caminho principal, por caminhos secundários e por caminhos locais;
além disso, deverá apresentar um ponto de referência, como solicitado pelos
moradores.
Não deixe de estudar os conteúdos a seguir para aprender a projetar os
espaços externos.
Você está pronto para mais esse desafio?
Vamos começar!

Não pode faltar


A função do arquiteto é projetar espaços. Ao projetarmos edifícios,
delimitamos uma área no solo que será ocupada pela casa; ao levantarmos
a estrutura e as paredes das casas (vedações) criamos um volume, o qual
receberá aberturas para portas, janelas e uma cobertura. O espaço interno
poderá ser subdividido em áreas menores, criando os compartimentos de
estar, íntimos, de serviços e circulação sem, no entanto, alterar o volume da
casa (relação entre comprimento, largura e altura).
Na arquitetura paisagística também projetamos espaços. Quando proje-
tamos ao ar livre, temos apenas o chão como referência, que é representado
pelo solo ou pisos. Ao olharmos para cima, não encontramos barreiras que
limitem o projeto. Apenas a atmosfera, o céu e as nuvens. Como projetar
nesse amplo espaço livre, sem paredes, aberturas ou coberturas precisas?
A resposta para essa pergunta vem através do uso da vegetação. Ao
inserirmos elementos vegetais no espaço começamos a estruturá-lo. Vamos
exemplificar.
Primeiro, analise a paisagem de estudo 1 (Figura 3.1). O que você observa
na imagem? Um vasto gramado em primeiro plano, alguns edifícios como
pano de fundo e o céu. Embora não haja nenhum paisagismo significativo,
temos um espaço físico existente, composto de elementos horizontais, repre-
sentados pela grama, e verticais, representados pelos edifícios.

8 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Figura 3.1 | Paisagem de estudo 1

Fonte: iStock.

Agora, observe a paisagem de estudo 2 (Figura 3.2). O que a difere da


paisagem de estudo 1? Apesar de ainda termos uma área gramada e edifí-
cios como plano de fundo, existe um caminho pavimentado que conecta os
espaços, e nota-se a inserção de estratos vegetais, isto é, camadas de espécies
vegetais de portes diferentes, que conferem volume e movimento à paisagem.
Percebemos uma linha de árvores que criam uma camada de transição entre
o espaço livre e os edifícios, configurando-se em um pano de fundo verde em
tom diferente do gramado. Observamos também alguns canteiros, posicio-
nados mais próximos do observador, onde foram utilizadas forrações com
flores coloridas.
Figura 3.2 | Paisagem de estudo 2

Fonte: iStock.

Em qual das paisagens você gostaria de caminhar? Provavelmente a


Paisagem de Estudo 2 lhe pareça mais convidativa para o percurso do que a
primeira, não é mesmo? Isso acontece porque os caminhos e as vegetações
criam uma percepção interessante do espaço.

Seção 3.1 / Vegetação como elemento estruturador do espaço - 9


Vamos continuar nossa análise, observando a paisagem de estudo 3
(Figura 3.3). Nela notamos um banco voltado para um lago. A vegetação é
composta por grama e alguns arbustos floridos de baixo porte, os quais não
impedem a visão da água, mas criam uma “barreira” entre o gramado e o
corpo de água. Ao fundo, várias árvores fecham o cenário impedindo a visão
do que existe por trás delas.
Figura 3.3 | Paisagem de estudo 3

Fonte: iStock.

Observe agora a paisagem de estudo 4 (Figura 3.4): o banco, a grama


e a água ao fundo estão presentes, como na paisagem de estudo 3, mas a
maneira como esses elementos estão inseridos no espaço não são acolhe-
dores. Provavelmente você escolheria o banco da paisagem de estudo 3 para
se sentar e contemplar o lago ao invés deste que, na paisagem de estudo 4,
está disposto de costas para o tanque de água.
Figura 3.4 | Paisagem de estudo 4

Fonte: iStock.

10 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Através dessa brincadeira abordamos de forma sucinta um ponto funda-
mental do conteúdo: a importância da vegetação. A partir disso, é possível
criar duas classificações de espaço: lugar e não lugar. Os lugares são espaços
com cenários interessantes e aconchegantes para serem percorridos e
contemplados e com os quais nos conectamos; já os não lugares são exata-
mente o oposto: embora tenham espécies vegetais, caminhos e bancos, não
são convidativos para a permanência.

Assimile
Os conceitos de lugar e de não lugar não são restritos ao Paisagismo.
A Antropologia e a Geografia também empregam esses conceitos para
a definição de espaços. No livro Não Lugares: Introdução a uma Antro-
pologia da supermodernidade, de 1992, Marc Augé cunhou a expressão
“não lugar” pela primeira vez ao falar sobre espaços transitórios que
não possuem um significado forte o suficiente para serem chamados de
lugares, como supermercados e aeroportos (AUGÉ, 1992).
Para o antropólogo brasileiro Antônio Augusto Arantes (ARANTES, 2000)
os conceitos de lugar e não lugar variam de pessoa para pessoa, pois
cada uma estabelece uma identidade própria com o espaço ao seu redor.
Dessa forma, o espaço do supermercado com certeza será considerado
um lugar para quem lá trabalha.

No paisagismo, normalmente empregamos o conceito de não lugar para


os espaços de passagem que conectam os locais, mas que, apesar de serem
transitórios, podem causar sensações agradáveis no espectador (ABBUD,
2006). Exemplo disso é a paisagem de estudo 5 (Figura 3.5).
Figura 3.5 | Paisagem de estudo 5

Fonte: iStock.

Seção 3.1 / Vegetação como elemento estruturador do espaço - 11


Ladeando o caminho foram utilizadas espécies arbustivas coloridas e
com formatos diferentes. O recurso da sucessão de cores gera movimento e
ritmo para quem caminha pela trilha. A escolha de espécies de porte baixo
permite a formação de um maciço linear paralelo ao percurso do visitante,
impedindo que ele desvie do caminho. Observe que esses maciços arbus-
tivos estão recuados e que a faixa de grama que as separa da área pavimen-
tada cria uma sensação de amplitude, como se a trilha fosse mais larga do
que realmente é. O espaço do fundo é preenchido, em ambos os lados, por
espécies arbóreas de diferentes formatos de copa, dando a impressão de que
se fecham sobre o observador, despertando a curiosidade em percorrer o
caminho até o final para saber o que existe lá.
No paisagismo, podemos configurar espaços através de planos verticais
e horizontais. Por exemplo, quando usamos espécies arbóreas de formatos
cilíndricos ou cônicos (como os pinheiros e tuias), dispostas sob um alinha-
mento, criamos grandes planos verticais, que funcionam como paredes a
separar espaços (Figura 3.6) e/ou a inibir a visão. Quando necessário, esse
tipo de formação pode funcionar também como barreira de vento em áreas
muito abertas.
Figura 3.6 | Plano vertical

Fonte: iStock.

Da mesma forma, quando usarmos espécies arbóreas com copas de maior


largura e que se abrem para as laterais, estaremos propondo uma cobertura
para o espaço a partir da criação de um plano horizontal (Figura 3.7). Esses
ambientes são ótimos para compor áreas de piquenique, de estar e de reunião
de grande número de pessoas (ABBUD, 2006).

12 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Figura 3.7 | Plano horizontal

Fonte: iStock.

Reflita
Você sabia que podemos criar planos verticais com arbustos e trepadeiras
também? Se fizermos cercas vivas e se as mantivermos com uma altura
acima da estatura média (em torno de dois metros), criaremos verdadeiras
paredes no jardim. Os labirintos, muito populares no final da Idade Média,
valiam-se desse princípio para criar seus corredores (Figura 3.8).
Figura 3.8 | Labirinto

Fonte: iStock.

Seção 3.1 / Vegetação como elemento estruturador do espaço - 13


As palmeiras são excelentes espécies para serem plantadas ao longo de
caminhos, criando perspectivas visuais lineares (Figura 3.9), ou em grupos
menores, em espaços pontuados.
Figura 3.9 | Aleia de palmeiras

Fonte: iStock

Exemplificando
Quando trabalhamos em áreas muito extensas, onde o plantio de
espécies variadas torna-se oneroso, é comum o uso do recurso denomi-
nado espaço pontuado. Essa solução consiste no plantio de uma unidade
ou grupos de espécies
Figura 3.10 | Espaço pontuado
dispostos aleato-
riamente no local,
diminuindo a sensação
de amplidão do céu
e do entorno (Figura
3.10). Tal procedi-
mento pode ser feito
através do plantio
de árvores ou de
canteiros de espécies
arbustivas e forrações.
Fonte: iStock.

14 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


No projeto de paisagismo a vegetação torna-se balizadora do espaço,
assumindo as mais diversas funções: ergue barreiras, orienta trajetos, cria
áreas de estar e às vezes está no local apenas para ser contemplada.
Podemos classificar as espécies de acordo com o seus porte e volume em
diferentes estratos.
O estrato de forração ou herbáceo é o de menor porte, composto de
plantas de textura mais delicada, não resistente ao pisoteio que, juntamente
com a grama, fazem o acabamento dos canteiros, conferindo cores e texturas
ao projeto. São usadas normalmente como maciços.
Os estratos arbustivos podem ser usados isoladamente ou formando
maciços, que são composições feitas com o plantio de várias mudas, criando
um volume maior da vegetação. Quando são usadas dessa forma, normal-
mente formam barreiras que orientam os caminhos dentro do jardim,
mesmo que o seu porte não seja alto o suficiente para bloquear o campo de
visão do observador.
Quanto aos estratos arbóreos, estes são representados pelas espécies que
delimitam as alturas no jardim e criam coberturas sob as quais caminhamos
ou permanecemos.
Os maciços de forrações, arbustos e árvores apresentam níveis diferentes
de vegetação que auxiliam na composição dos ambientes. Quando dispostos
nessa sequência com relação ao ponto de visão do espectador, criam uma
harmonia linear proporcional às alturas das espécies.

Pesquise mais
Assista ao vídeo 3ª Regra de Ouro: Volumetria Vegetal da série Criando
Paisagens, do arquiteto Benedito Abbud, para aprender mais sobre os
estratos vegetais.
O vídeo de pouco mais de cinco minutos de duração encontra-se em:
CRIANDO PAISAGENS. 3ª Regra de Ouro: Volumetria Vegetal. 17 ago.
2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2bv7MPcrkjA.
Acesso em: 2 dez. 2018.

Caro aluno, completamos, assim, a primeira seção referente ao uso das


vegetações nos projetos de paisagismo. Com os conhecimentos adquiridos
você já está habilitado a criar o plano de massas vegetais, pelo qual os clientes
aguardam ansiosamente.
Vamos começar os trabalhos!

Seção 3.1 / Vegetação como elemento estruturador do espaço - 15


Sem medo de errar
O escritório de arquitetura paisagística em que trabalha foi contratado
para projetar a área de lazer do novo bairro implantado na cidade, por solici-
tação dos moradores.
Os representantes da associação de moradores participaram de várias
reuniões no escritório e definiram algumas prioridades.
Chegou o momento de criar o plano de massas vegetais, que é a primeira
disposição das vegetações no projeto. Nessa etapa a preocupação maior não
é escolher a espécie específica, mas os volumes vegetais que serão usados no
projeto.
Vamos verificar as informações que já temos à disposição:
• A área do terreno na qual será feito o paisagismo, visitada anterior-
mente, mede 50 x 50 m, é plana e encontra-se desmatada.
Isso significa que você terá uma liberdade maior para projetar os espaços,
mas deve atentar-se ao plantio das espécies arbóreas que ocuparão uma área
extensa. Foi previsto o plantio de 150 árvores.
• O projeto deve contemplar três espaços de tamanhos distintos: um
maior, um intermediário e um menor, ligados por um caminho
principal, caminhos secundários e caminhos locais.
Como os moradores solicitaram uma área de lazer, faça uma setori-
zação e defina espaços para lazer esportivo, lazer contemplativo e áreas para
atividades sociais. Defina os caminhos principais e mais largos, que farão
as conexões entre os espaços criados. Depois trace caminhos secundários
que possam conectar essas áreas a um bosque, gramado ou ainda priorizar a
caminhada, a corrida ou passeios de bicicleta. Por fim, faça as conexões locais
necessárias para cada espaço.
• Os moradores solicitaram que o lugar tivesse uma “referência visual”
que pudesse ser facilmente reconhecida como ponto de encontro
utilizando os estratos vegetais.
Essa referência visual pode ser um estrato arbóreo, como uma palmeira de
grande porte, cuja copa se destacará no meio das outras árvores, podendo ser
avistada de longe, ou uma árvore de floração significante ou copa horizontal
larga, que também será elemento de destaque. Ou ainda, um canteiro bem
colorido e florido, composto de estratos arbustivos e forrações, disposto na
entrada principal do espaço.
Inicie a atividade desenhando o terreno em uma folha de papel sulfite A3
na escala solicitada. Estipule em que locais serão os acessos para o espaço e

16 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


escolha uma direção para o norte. Feito isso, comece a traçar volumes que
demarquem planos horizontais, verticais, lugares e não lugares e maciços de
forração, arbustivos e arbóreos.
Faça a lápis e depois pinte os maciços com as cores que você gostaria de
ver no jardim. Combine vários tons de verde e outras cores também. Não
se esqueça de acrescentar legendas para cada maciço ou caminho inserido.
No plano de massas esquemático, exemplificado na Figura 3.11, obser-
va-se uma das soluções possíveis para esse projeto. A área de lazer tem dois
acessos, um pela área de lazer contemplativo e outro pela área de convívio
social. A quadra é cercada por um bosque de estratos arbóreos que deixa o
local mais reservado.
Os demais espaços têm maciços heterogêneos de forrações e arbustos,
que auxiliam na delimitação das áreas, e um conjunto de palmeiras, dispostas
em arco, caracterizam a referência visual solicitada pelos moradores.
Figura 3.11 | Plano de massas vegetais

Fonte: elaborado pelo autor.

Finalize a atividade fazendo pelo menos uma elevação lateral do plano de


massas para verificar se os volumes vegetais estão equilibrados. Escolha um
dos espaços de lazer e faça um croqui ou perspectiva à mão, mostrando mais
detalhes da vegetação.
O livro Plantas para Jardim no Brasil: herbáceas, arbustivas e trepadeiras
(LORENZI, 2015) é uma ótima fonte de consulta para se ter um primeiro
contato com as espécies e criar o plano de massas vegetais.
Lembre-se de que quanto mais detalhado for o plano de massas, mais
fácil será a escolha da vegetação.

Seção 3.1 / Vegetação como elemento estruturador do espaço - 17


Avançando na prática

Elaboração de maquete de plano de massas


vegetais

Descrição da situação-problema
Você, aluno, deverá elaborar uma maquete do plano de massas vegetais da
área de lazer, representando os volumes e cores predominantes de seu projeto.
Aproveite para demarcar os diferentes tipos de caminhos, sempre na escala 1:200.

Resolução da situação-problema
A maquete é um recurso muito utilizado pelos arquitetos como ferra-
menta que auxilia no desenvolvimento dos volumes projetuais e no enten-
dimento dos espaços e circulações. No paisagismo, ela é fundamental para
verificar se os cheios e vazios de vegetação estão equilibrados, principal-
mente os estratos arbóreos.
Utilize uma base de isopor como terreno e materiais como EVA, bucha
vegetal, pedaços de papel, massinha, palha de aço, palitos de churrasco,
bolinhas de isopor, canetinhas coloridas e tintas para a confecção dos
maciços vegetais.
Lembre-se de que nessa escala o que importa é a representação dos
maciços para percepção dos vazios e do equilíbrio, pois se trata de uma
maquete de estudo preliminar (WATERMAN, 2011).
Não se esqueça de pintar os tons predominantes de cada estrato vegetal
representado.
Após terminar a atividade, compare com o projeto e verifique se há neces-
sidade de alterações volumétricas.

Faça valer a pena

1. O principal elemento estruturador na arquitetura paisagística é a vegetação. Seu


formato, cor e textura criam infinitas possibilidades de combinações com as demais
espécies. De acordo com seus volumes e portes podem ser classificadas em diferentes
estratos vegetais.
I. Os principais tipos de estratos vegetais são o arbóreo, o arbustivo e o de forração
ou herbáceo.

18 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


II. Os estratos vegetais podem ser comparados aos planos de piso, parede e teto dos
projetos de arquitetura.
III. O estrato de forração apresenta o porte mais baixo, enquanto o arbustivo é o de
maior porte.

Leia as afirmações acima e assinale a alternativa correta:


a) Somente a alternativa I está correta.
b) Somente a alternativa II está correta.
c) Somente a alternativa III está correta.
d) As afirmativas I e II estão corretas.
e) As afirmativas I e III estão corretas.

2.
Os termos lugar e não lugar, difundidos em vários campos de conhecimento, designam
espaços com e sem identidade, respectivamente. Para o antropólogo Marc Augé, o
não lugar é diametralmente oposto ao lar (AUGÈ, 2011). Na arquitetura paisagística
os termos lugar e não lugar são usados, respectivamente, para designar:
I. Espaços de circulação e espaços de permanência.
II. Espaços de aconchego e espaços de passagem.
III. Espaços de estar e espaços de conexão.

Com base nas afirmativas acima, assinale a alternativa correta:


a) Somente a alternativa I está correta.
b) Somente a alternativa II está correta.
c) Somente a alternativa III está correta.
d) As afirmativas I e III estão corretas.
e) As afirmativas II e III estão corretas.

3. Em um projeto de jardim residencial, o arquiteto paisagista verifica que os fundos


do terreno fazem divisa com um galpão industrial. Já existe um muro velho separando
os terrenos, mas é baixo e ainda é possível ver a cobertura metálica. O cliente pede que
o arquiteto plante um único tipo de espécie vegetal que impeça a visão da cobertura.

Assinale a alternativa correta, de acordo com a situação-problema apresentada no


enunciado:
a) A espécie indicada para plantio é uma trepadeira que cobrirá o muro inteiro.
b) A espécie indicada para plantio é uma cerca viva de touceiras de fórmio
(Phormium tenax).
c) A espécie indicada pra plantio é uma aleia de palmeiras.
d) A espécie indicada é uma cerca viva de ciprestes.
e) A espécie indicada para plantio é uma espécie arbórea de copa horizontal.

Seção 3.1 / Vegetação como elemento estruturador do espaço - 19


Seção 3.2

Especificando vegetação em paisagismo

Diálogo aberto
Olá, aluno!
O arquiteto, ao projetar um edifício, tem à disposição inúmeros materiais
e técnicas construtivas, além de uma infinidade de acabamentos e cores de
tintas. Isso possibilita a criação de projetos únicos e diferenciados, adequados
ao orçamento disponível, preferências do cliente, características do terreno e
condições climáticas.
Na composição de jardins acontece algo similar. Existem milhares de
espécies de plantas, com cores, formatos e portes diferentes que garantem
resultados diferentes a cada projeto e cliente. Você vai precisar aprender a
fazer as combinações corretas para obter o melhor resultado.
Assim como nos projetos arquitetônicos especificamos cada componente
no memorial descritivo, relacionando modelos e fabricantes, veremos que
as vegetações também têm suas famílias e nomes científicos que as carac-
terizam e tornam únicas; além disso, elas também serão detalhadas através
de memoriais e tabelas de vegetações. Fique tranquilo, pois nesse momento,
você não vai precisar decorar os nomes de cada planta, uma vez que esse
conhecimento demanda tempo e experiência.
Na seção anterior você criou um plano de massas que vai auxiliá-lo a
escolher as vegetações. Agora vamos explorar os tipos de estratos vegetais
(forrações, arbustivas e arbóreas) e vamos conhecer as opções de combina-
ções para serem usadas nas composições projetuais.
Os grandes escritórios de arquitetura paisagística desenvolvem projetos
para todas as regiões brasileiras e muitas vezes executam projetos em outros
países do mundo. A escolha das espécies deve respeitar as características
climáticas da região onde será feito o jardim. Se for implantado em uma
região litorânea, é aconselhável o uso de espécies adaptadas ao clima úmido e
solos mais arenosos. Caso seja em uma área montanhosa, devem-se priorizar
espécies que apreciem climas frios e altitudes elevadas.
No exemplo do projeto da área de lazer usaremos um terreno localizado
em uma região onde há resquícios do bioma Mata Atlântica, o que possibili-
tará o uso de espécies tropicais.
O profissional deve aprender a trabalhar nos mais diversos biomas e climas,
pois a escolha e composição das espécies será diferente em cada uma delas.

20 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Vamos aprender a montar uma tabela de espécies vegetais, também
chamada memorial botânico, na qual listaremos as espécies escolhidas, seus
nomes científicos, características, cores e quantidade para poder calcular o
orçamento e posteriormente efetuar a compra. Devem-se encomendar as
mudas, preferencialmente em viveiros localizados próximos aos locais de
plantio, pois assim as plantas já estarão aclimatadas à região.
Essa tabela é parte essencial do projeto de paisagismo e normalmente
acompanha as partes gráficas de plantas e elevações nas pranchas de desenho.
É muito importante para quantificações e caracterização das espécies. A
planilha final deverá ser impressa, de preferência no formato A3, para facilitar
a visualização das colunas que contêm as informações relevantes.
E então, prontos para especificar as espécies para o projeto?
Vamos começar as escolhas!

Não pode faltar


A vegetação é uma das principais ferramentas que o arquiteto paisagista
vai utilizar para montar o projeto de paisagismo.
Após conhecer o cliente, suas expectativas e prioridades e montar um
programa de necessidades com esses dados, iniciamos o projeto conhecendo
o local e setorizando os espaços conforme os usos pretendidos. Criamos,
então, um plano de massas vegetais que auxiliará na escolha das espécies, de
acordo com o percurso e lugares ou não lugares que projetamos.
Podemos classificar as Figura 3.12 | Maranta-zebrada
plantas ornamentais de
diversas formas: agrupan-
do-as conforme a família
botânica a que pertencem,
seus aspectos morfoló-
gicos, hábitos de cresci-
mento e portes (PAIVA,
2001). Podemos também
agrupá-las conforme o
bioma vegetal, clima e
luminosidade.
Vamos exemplificar
com a espécie cujo nome
popular é maranta-zebrada
(Figura 3.12). Fonte: iStock.

Seção 3.2 / Especificando vegetação em paisagism - 21


A maranta-zebrada é considerada uma forração, com porte que varia
entre 15 e 25 cm de altura (LORENZI, 2015); é nativa do bioma da Mata
Atlântica e ocorre em climas tropicais, onde a temperatura é quente e úmida
na maior parte do ano, com invernos isentos de baixas temperaturas e geadas.
Essa espécie vegetal é uma herbácea, isto é, é uma planta de caule macio e
maleável e que pode ser partida facilmente com as mãos; apresenta floração na
primavera através de pequenas flores brancas. Seu nome botânico ou cientí-
fico é Ctenanthe burle-marxii (relembre a nomenclatura dos nomes cientí-
ficos no box Assimile, da Seção 1.2), pois foi uma das espécies que o paisa-
gista Burle Marx descobriu durante suas expedições pela Mata Atlântica. Sua
classificação taxonômica posterior acabou lhe rendendo uma homenagem e
a espécie recebeu a denominação de burle-marxii.
É importante lembrar que precisamos identificar cada espécie vegetal pelo
seu nome botânico, pois muitas vezes ela pode ter vários nomes populares.
Por exemplo, dependendo da região a maranta-zebrada também é conhecida
como “nunca-nunca” e “tenante”.

Assimile
Através da taxonomia vegetal, ciência que ajuda a classificar as
espécies vegetais de acordo com suas características e semelhanças,
conseguimos identificar cada espécie dentro das seguintes categorias
principais: reino, divisão, classe, ordem, família, gênero e espécie.
Em nosso exemplo, teríamos a seguinte classificação taxonômica:
• Reino: Plantae
• Divisão: Angiospermae
• Classe: Liliopsida
• Ordem: Zingiberales
• Família: Marantaceae
• Gênero: Ctenanthe
• Espécie: burle-marxii
Para a elaboração de um projeto de paisagismo você não precisa saber
de toda essa classificação, mas é importante conhecer, além do nome
científico, a família a que pertence a espécie, pois isso vai ajudá-lo a
identificar características comuns dessas plantas. A família Maranta-
ceae abriga diversos gêneros como as Ctenanthes, as Marantas e as
Calatheas que são naturais de florestas e, dessa forma, se desenvolvem
melhor à meia-sombra, abrigadas da luz solar direta.

22 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


A partir dessas informações, que podemos obter através de literatura
especializada, como os livros do engenheiro agrônomo Harri Lorenzi, dispo-
níveis nas referências bibliográficas desta seção, ou através de sites especia-
lizados como o catálogo de plantas brasileiras Flora do Brasil e o site de
jardinagem Jardineiro.net, você já vai poder iniciar a montagem da tabela de
vegetação, também conhecida como memorial botânico. Essa tabela consiste
em uma planilha que irá acompanhar o projeto com informações sobre a
identificação das espécies e quantidades necessárias, que auxiliarão o profis-
sional no momento das compras e do plantio.
Cada paisagista cria a tabela conforme as informações que achar mais
relevantes, como o nome popular, nome científico, características, quanti-
dade, cores das flores e época de floração (Figura 3.13). O código da espécie o
próprio profissional vai estabelecer, o que pode se dar através de numeração
(01, 02, 03), letras (A, B, C), abreviatura do nome da espécie (MAZE –
Maranta Zebrada), abreviatura do nome científico (CTBM - Ctenanthe
burle-marxii), ou um desenho diferenciado para a espécie na planta-baixa.
Figura 3.13 | Tabela de vegetação ou tabela botânica

Imagem Código Nome Nome Caract. Quantidade Cor Epoca


Popular Cientifico Flores floração
Maranta-
zebrada Ctenanthe forração
* Nunca- burle-marxii 0,15- por m2 branca Primavera
-nunca 0,25m
Tenante

* A representação do código dependerá do padrão adotado pelo arquiteto.


Fonte: elaborada pelo autor.

Outra maneira de classificar as espécies vegetais é pelo porte, isto é, o


tamanho que elas atingem na idade adulta. Temos dessa forma os estratos de
forração, arbustivo e arbóreo (ABBUD, 2006).
Os estratos de forração são Figura 3.14 | Composições de canteiros heterogêne-
os de menor porte que, junta- os com forrações resistentes ao sol
mente com as gramíneas,
compõem o “piso” do jardim.
Elas criam tapetes coloridos,
quebram a monotonia de
grandes áreas gramadas e
auxiliam no preenchimento
dos “não lugares”.
Na Figura 3.14 temos
uma composição hetero-
gênea, utilizando o agerato Fonte: iStock.

Seção 3.2 / Especificando vegetação em paisagism - 23


lilás (Ageratum houstonianum), a begoninha branca (Begonia semperflorens)
e a tagetes laranja (Tagetes patula).
As herbáceas também podem ser utilizadas para delimitar os caminhos e
assim formar uma barreira de proteção. Na Figura 3.15 temos uma compo-
sição heterogênea com gerânios cor de rosa (Pelargonium x hortorum),
amor-perfeito amarelo (Viola tricolor), grama esmeralda (Zoysia japonica) e
cinerária (Senecio douglasii) ao fundo, todas resistentes ao sol.
Figura 3.15 | Delimitação de caminho com forrações

Fonte: iStock.

Semelhantemente às gramas, as forrações também protegem o solo contra


a erosão causada pelas chuvas e ventos. No entanto, por serem espécies
herbáceas de caules finos, não são pisoteáveis, embora algumas sejam conhe-
cidas popularmente como gramas. É o caso da grama preta (Ophiopogon
japonicus) e da grama amendoim (Arachis repens), excelente para cobrir
taludes íngremes (Figura 3.16).
Figura 3.16 | Grama amendoim

Fonte: iStock.

24 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Em áreas sombreadas, onde a Figura 3.17 | Begônias de meia-sombra
grama não irá sobreviver pela falta
de luminosidade, existe uma infini-
dade de forrações de meia-sombra e
sombra que poderão criar cenários
interessantes e marcar percursos
coloridos em meio às árvores
(Figura 3.17). Aqui no Brasil encon-
tramos uma grande variedade dessas
espécies nas famílias das Araceae e
Marantaceae.
Fonte: iStock.

Reflita
Ao compor com forrações, podemos criar maciços heterogêneos, mistu-
rando espécies com formatos e cores diferentes, causando efeitos muito
interessantes, como se pode observar na Figura 3.18, onde foram usadas
sálvia escarlate (Salvia splendens) e cinerária (Senecio douglasii).

Figura 3.18 | Composição heterogênea contrastante

Fonte: acervo do autor.

Esse efeito também pode ser obtido em maciços com espécies do


mesmo gênero, exemplificado na Figura 3.19, onde o canteiro é
composto com forrações de batata doce ornamental verde (Ipomoea
batatas ‘Margarita’) e roxa (Ipomoea batatas ‘Sweet Caroline
Sweetheart Purple’).

Seção 3.2 / Especificando vegetação em paisagism - 25


Figura 3.19 | Forração de batatas doces ornamentais

Fonte: acervo do autor.

Da mesma forma, podemos criar maciços homogêneos com espécies


diferentes se utilizarmos plantas de tonalidades semelhantes. Na Figura
3.20, podemos observar um canteiro composto das folhagens mapuá
(Cyclanthus bipartitus), guaimbê-do-brejo (Philodendron brasiliense) e
renda-portuguesa (Davallia fejeensis), identificados respectivamente
como A, B e C, que, embora não sejam da mesma espécie, apresentam
tons de verde parecidos, conferindo homogeneidade ao maciço.

Figura 3.20 | Maciço homogêneo, cenário paisagismo, Casa Cor, São Paulo- SP (2018)

Fonte: acervo do autor.


Não existem regras para a composição dos maciços. Cada arquiteto tem
a liberdade de compor conforme sua linguagem projetual.

26 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


As espécies arbustivas possuem portes maiores do que as forrações (suas
alturas variam de um a seis metros aproximadamente) e caules ramificados
desde a base, podendo ser lenhosos (quando apresentam estrutura amadei-
rada), semilenhosos ou entouceirantes.
Por serem estratos intermediários entre as forrações, e por as espécies
arbóreas serem facilmente percebidas pelo observador, é possível que haja
uma interação tátil e visual maior, pois sua escala compreende volumes
que se encontram ligeiramente acima ou abaixo da linha de visão dos olhos
(ABBUD, 2006).
Assim como em forrações, podem ser usados para direcionar fluxos
de circulação (Figura 3.21) e para criar barreiras visuais, como cercas-
-vivas (Figura 3.22). Neste caso, o plantio acontece em linha para facilitar a
manutenção e muitas vezes escolhem-se espécies que aceitam poda regular,
de forma a sempre manter o muro verde com a mesma altura.
Figura 3.21 | Canteiro com pingo de ouro (Duranta erecta aurea ‘Gold Mount’) em primeiro
plano e hibiscos vermelhos (Hibiscus rosa-sinensis) próximos ao muro

Fonte: iStock.

Seção 3.2 / Especificando vegetação em paisagism - 27


Figura 3.22 | Cerca viva de murta (Murraya paniculata)

Fonte: iStock.

Os arbustos com potencial ornamental podem ser usados como espaços


pontuados dentro do jardim, isto é, utilizados isoladamente, como podemos
ver a azaleia (Rododendron simsii) na Figura 3.23, ou em canteiros mistos,
compondo espaços com espécies arbóreas e forrações.
Fig. 3.23 | Canteiro com azaleias

Fonte: iStock.

28 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Não se esqueça de que da mesma forma que as forrações, os arbustos
também têm espécies para áreas de muita luminosidade ou mais sombreadas.
Além disso, a escolha de todos os estratos vegetais deve ser adequada ao tipo
de solo (argiloso, arenoso e areno-argiloso) existente no local do projeto.
Os portes arbóreos são compostos por espécies lenhosas cujos troncos são
estruturas amadeiradas, com alturas e copas variadas. Os portes iniciam-se a
partir de três metros podendo atingir, em algumas espécies de sequoias, mais
de cem metros de altura.
Os estratos arbóreos são as estruturas de cobertura dos jardins,
proporcionando sombra quando forem empregadas espécies com copas
de maior largura, possibilitando a criação de espaços de circulação e estar
sob elas (LIRA, 2001). Caso o objetivo seja proteção – visual ou contra
ventos – as árvores com copas alongadas no sentido vertical são mais
recomendadas.
Dessa forma, podemos classificar as copas em:
• Verticais (colunares, cônicas e triangulares), comumente encon-
tradas nas famílias das araucariaceas, cupressaceaes e pinaceaes.
• Horizontais (globosas, pendentes e umbeliformes) compostas pelos
demais tipos arbóreos e palmeiras (Figura 3.24).
Figura 3.24 | Formatos de copas arbóreas

GLOBOSA FLABELIFORME PALMÁCEA PENDENTE UMBELIFORME

COLUNAR PIRAMIDAL ELÍPTICA ELÍPTICA PLATAFORMA


ou CÔNICA VERTICAL HORIZONTAL
Fonte: elaborada pelo autor.

Os estratos arbóreos podem ser classificados, de acordo com os portes,


em baixos (até cinco metros de altura, aproximadamente), médios (entre
cinco e oito metros) e altos (acima de oito metros).

Seção 3.2 / Especificando vegetação em paisagism - 29


Exemplificando Figura 3.25 | Jequitibá rosa
No Brasil, o jequitibá rosa
(Cariniana legalis), árvore
símbolo do estado de
São Paulo, chega a atingir
cinquenta metros de altura
(Figura 3.25), segundo
Lorenzi (2002).

Fonte: iStock.

As árvores podem ser dispostas em grupos, formando bosques com


maciços homogêneos ou heterogêneos (Figura 3.26), ou isoladamente, como
elementos de destaque no jardim quando a copa ou floração tiver caráter
ornamental. As diferentes texturas de troncos, frutos e sementes também têm
grande potencial paisagístico.
Figura 3.26 | Composição heterogênea de portes arbóreos

Fonte: iStock.

30 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Não devemos esquecer que os estratos arbóreos, além de criarem espaços
sombreados e barreiras contra o vento, são abrigos e moradia de animais,
pássaros e insetos e auxiliam na purificação do ar e na diminuição de tempe-
raturas nos grandes centros urbanos quando utilizados na arborização urbana.
Neste caso, o cuidado na escolha das espécies deve ser redobrado, evitan-
do-se espécies com raízes superficiais que possam quebrar calçadas e encana-
mentos. A presença de fiação aérea de eletricidade e o espaço disponível para o
plantio nas calçadas determinarão uma altura máxima para os portes arbóreos,
de modo que as copas não interfiram na rede elétrica, provocando acidentes e
cortes de energia, e nem invadam as ruas e avenidas, dificultando a circulação
de veículos, pedestres e impedindo a visualização da sinalização viária.

Pesquise mais
O vídeo Diversidade e Homogeneidade de espécies, da série Criando
Paisagens, traz considerações interessantes que devem ser observadas
ao criarmos composições com espécies arbóreas. Você vai encontrá-lo
em:
CRIANDO PAISAGENS. Diversidade e homogeneidade de espécies.
14 nov. 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hN-
Vbw8uwMmU&t=33s. Acesso em: 9 dez. 2018.

Nesta seção aprendemos sobre as funções de cada estrato vegetal na compo-


sição dos projetos paisagísticos e algumas combinações possíveis entre eles.
Lembre-se de que há milhares de espécies e composições possíveis,
cabe ao arquiteto explorá-las e criar novas combinações desenvolvendo sua
própria linguagem projetual.

Sem medo de errar


Chegou a hora de começar a escolher as espécies vegetais que comporão
o paisagismo da área de lazer do novo bairro.
De posse do plano de massas vegetais, elaborado em etapa anterior, cabe
agora a você, como arquiteto paisagista, escolher a vegetação apropriada para
cada setor e uso.
Sugiro iniciar a escolha pelas espécies arbóreas. Lembre-se de que o local
do projeto encontra-se em uma área remanescente de Mata Atlântica. Faça
uma pesquisa nos livros e sites recomendados nas referências bibliográficas
e escolha espécies com portes, copas e florações variadas que possam criar
diferentes sensações nos moradores, quando percorrerem o espaço.

Seção 3.2 / Especificando vegetação em paisagism - 31


Crie uma tabela de vegetação, no formato A3 (orientação paisagem) com
imagem e informações das espécies e comece a preenchê-la, conforme for
escolhendo as espécies.
Exemplificaremos o preenchimento da tabela com a escolha da canafístula
para a área de lazer, por ser uma espécie arbórea de grande porte que produz
uma sombra bem generosa e que permitirá a instalação de um parquinho
infantil. Os dados dessa espécie deverão ser preenchidos conforme a tabela
da Figura 3.27.
Figura 3.27 | Tabela de vegetação

Imagem Código Nome Nome Caract. Quantidade Cor Epoca


Popular Cientifico Flores floração

Peltophorum árvore
PEDU Canafístula dubium porte Amarela verão
grande
acima
15 m
Fonte: elaborada pelo autor.

Conforme for escolhendo as espécies, continue o preenchimento da tabela.


Pesquise aquelas que possam ser agrupadas em maciços homogêneos e outras,
variadas, para maciços heterogêneos. Lembre-se de inserir algumas de grande
impacto visual, como ipês, paineiras e jacarandás para compor com as demais
vegetações. Não se esqueça de usar árvores frutíferas e palmeiras que atraiam
pássaros. Nas áreas próximas aos caminhos de circulação, escolha espécies que
não danifiquem a pavimentação e mobiliários urbanos.
Passe depois para a escolha de espécies arbustivas. Verifique que espaços
precisam ser “fechados” com barreiras vegetais e cercas-vivas e quais
caminhos devem ser orientados pela vegetação. Escolha os pontos que
mereçam destaque visual e proponha arbustos ou touceiras.
Finalize a atividade com as gramas e forrações. Lembre-se de que elas
são responsáveis pelos acabamentos dos jardins. Proponha canteiros contras-
tantes. Brinque com os diferentes tons de verde, o colorido das flores e os
formatos e texturas das folhas.
Não se esqueça de verificar que áreas ficaram sombreadas pelas árvores,
pois nesses locais tantos os arbustos como as forrações deverão ser adequados
para a luminosidade baixa.
Não se preocupe, nesse momento, em estipular as quantidades, pois no
projeto elas serão calculadas de acordo com as áreas.
Também não se desespere pensando em como vai decorar os nomes
científicos. Com a experiência e a prática, alguns deles você vai memorizar,

32 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


mas não é necessário saber todos, pois você sempre poderá consultar uma
bibliografia quando for escolher as espécies.
Cada projeto desenvolvido traz para o arquiteto paisagista oportunidades
de conhecer novas plantas e de fazer novas combinações.
Aproveite o exercício para ampliar o repertório de espécies vegetais,
iniciado na Seção 1.2, explorando os estratos e escolhendo suas preferidas.
Lembre-se do que foi comentado na primeira unidade do curso: o
arquiteto paisagista deve sempre estar atento, observando as paisagens
à sua volta, buscando espécies diferentes e fontes de inspiração para
seus projetos.
Gostou de uma planta? Fotografe e depois pesquise sobre ela: descubra
seu nome e características.
Ao final da atividade você terá criado uma tabela de vegetação no formato
A3, com todas as espécies escolhidas para a área de lazer. Aproveite para
identificar essas espécies, através dos códigos criados, no plano de massas
vegetais feito anteriormente.

Avançando na prática

Escolha de espécies para canteiros rústicos

Descrição da situação-problema
O escritório de arquitetura paisagística em que você trabalha foi contra-
tado para desenvolver o projeto de um canteiro rústico na portaria de entrada
de um condomínio. O síndico sinalizou que os proprietários gostariam de
um paisagismo com suculentas, bromélias, palmeiras e uma alternativa de
forração para a grama que facilitasse a manutenção. Você será o responsável
por definir as espécies e montar a tabela de vegetação. O canteiro ocupará um
espaço de 5 x 5 m entre as portarias de entrada e saída de automóveis e será
apenas para contemplação.

Resolução da situação-problema
1. Em uma folha de sulfite (formato A4, orientação paisagem)
desenhe o terreno na escala 1:50. Crie uma projeção da portaria e os
acessos de carros e pedestres de ambos os lados da portaria. Insira o
canteiro (Figura 3.28).

Seção 3.2 / Especificando vegetação em paisagism - 33


Figura 3.28 | Planta portaria com área do jardim

Fonte: elaborada pelo autor.

2. Inicie o projeto criando um plano de massas vegetais.


Como o espaço é limitado, posicione primeiramente as palmeiras e
depois algumas espécies arbustivas ou entouceirantes que preencham os
espaços entre elas. Depois desenhe as camadas de forração. Os condôminos
solicitaram que não se usasse grama como recobrimento desse canteiro, por
exigir uma manutenção mais frequente com cortes. Explore alternativas com
camadas de pedra ou pedriscos como substitutos. Não se esqueça de identi-
ficar cada estrato com uma cor e legenda anexa.
3. Relacione e quantifique as espécies escolhidas preenchendo a tabela de
vegetações, conforme modelo disponível no conteúdo Não Pode Faltar. Faça
a planilha em uma folha A4 (orientação paisagem).
4. Anexe o memorial botânico ao croqui colorido do plano de massas
vegetais e identifique as espécies pelos códigos criados na tabela.

Faça valer a pena

1. Ao projetarmos pistas de caminhada compartilhadas com ciclofaixas em parques


e praças devemos ter um cuidado especial na escolha do porte e formato das copas das
espécies arbóreas que serão plantadas nas laterais do caminho, ao longo do percurso.

As espécies de copas pendentes, como as aroeiras salsa (Schinus molle) não são
recomendadas nesse caso, porque:
a) a copa impede a visão do paisagismo do parque.
b) os galhos podem atingir o olho dos usuários causando acidentes.
c) criam grandes áreas de sombra.
d) criam barreiras verticais que impedem a passagem do vento.
e) não protegem os usuários contra a exposição do sol.

34 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


2. Os estratos vegetais diferem quanto ao porte e à função que exercem no jardim.
O arquiteto deve considerar as melhores opções e combinações entre eles ao elabo-
rar o projeto de paisagismo.
Avalie o que se afirma a respeito dos estratos vegetais e seus portes:
I. São usados na orientação de caminhos, criando barreiras físicas que limitam o
transpasse para outras áreas do jardim.
II. Formam cortinas verticais, que bloqueiam visões indesejadas.
III. Nos canteiros, formam maciços coloridos que trazem movimento e beleza ao
jardim.

Assinale a alternativa correta:


a) A afirmativa I refere-se somente aos portes arbustivos.
b) A afirmativa II refere-se somente aos portes arbustivos.
c) A afirmativa III refere-se somente aos portes arbustivos.
d) A afirmativa III refere-se apenas aos portes de forração.
e) A afirmativa I refere-se aos portes arbustivos e de forração.

3. As espécies arbóreas são responsáveis pelas coberturas vegetais dos jardins. A


disposição em maciços, quer sejam homogêneos ou heterogêneos, criam áreas
sombreadas ou, dependendo das dimensões da área, bosques. A área sob a copa das
árvores pode ser utilizada com diversas finalidades.

Quanto mais próximas forem plantadas as mudas nos bosques, maiores serão:
a) as áreas de incidência de sol.
b) as áreas de incidência de sombra.
c) os espaçamentos entre as mudas.
d) as sensações de espaços abertos.
e) as facilidades de deslocamento entre elas.

Seção 3.2 / Especificando vegetação em paisagism - 35


Seção 3.3

Princípios de infraestrutura verde e azul para


projetos de paisagismo

Diálogo aberto
Você sabe o significado da palavra infraestrutura? Por exemplo, quando
uma cidade se candidata para sediar um evento esportivo de caráter mundial,
como as Olimpíadas, o comitê organizador tem de avaliar se tal cidade
tem infraestrutura para receber os jogos. Assim, a palavra infraestrutura
pressupõe um suporte de condições que possibilitem o funcionamento de
um órgão ou instituição. No caso das Olimpíadas, a cidade deverá oferecer
a infraestrutura (condições) adequada para realizar os jogos, além de se
avaliarem itens como mobilidade urbana, hospedagem, estádios e clubes,
serão analisados serviços de fornecimento de energia, água, telefone e gás.
Do mesmo modo, a infraestrutura verde e azul consiste em um sistema de
restauração ecológica, de renaturalização e de descontaminação de cursos de
água que darão suporte ao desenvolvimento sustentável das cidades.
Nesta seção conversaremos sobre a questão da infraestrutura associada
ao projeto da paisagem através da vegetação e do paisagismo (infraestrutura
verde) e dos cursos de água (infraestrutura azul). Você aprenderá sobre as
tipologias de infraestrutura verde e azul e como elas podem ser implemen-
tadas na cidade, com custos e impactos menores do que os da engenharia
convencional. Você descobrirá que o arquiteto paisagista também tem um
papel fundamental no planejamento de espaços abertos como elementos de
infraestrutura que possam resgatar a saúde ambiental, social e econômica das
cidades (CORMIER; PELLEGRINO, 2008).
Imagine a seguinte situação: você trabalha em um escritório de arqui-
tetura paisagística que sempre busca desenvolver projetos sustentáveis que
minimizem os impactos causados no meio ambiente. Dessa forma, durante
as reuniões entre os arquitetos do escritório e a associação de moradores,
sugeriu-se o uso de pisos permeáveis na área de lazer ao invés de pavimen-
tações tradicionais cimentadas. Foi explicado aos moradores que o uso de
pisos permeáveis é uma prática sustentável que permite a infiltração da
água das chuvas pelos pisos, diminuindo a quantidade de água coletada
pelas redes pluviais. Muitas vezes, nas épocas de chuva, essas infraestru-
turas não comportam a vazão das águas e extravasam, inundando ruas e
calçadas. Outro ponto discutido foi a importância da reabsorção das águas
pelo solo, permitindo a recarga das águas subterrâneas, fundamental para a
manutenção dos ciclos hídricos.

36 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


O desafio desta seção será elaborar um memorial descritivo e especi-
ficar várias tipologias e opções de pisos permeáveis para os espaços que
você está projetando para a área de lazer. O uso de pavimentações desse tipo
nos espaços livres públicos e privados em substituição aos pisos impermeá-
veis tradicionais permite que a água das chuvas seja reabsorvida pelo solo,
gerando inúmeros benefícios ambientais. A elaboração desse memorial de
pisos auxiliará na escolha dos pisos mais convenientes para o projeto execu-
tivo e memorial descritivo final.
Não deixe de estudar esta seção, pois a implantação de infraestruturas
verde e azul nos centros urbanos é um instrumento poderoso para promover
o bem-estar de seus moradores e ainda preservar a cobertura vegetal, cursos
hídricos e biodiversidade do local.
Preparados? Então vamos descobrir como o arquiteto paisagista pode
contribuir para essas questões!

Não pode faltar


Durante grande parte do século XX a implantação de infraestrutura
urbana nas cidades esteve associada a grandes obras de Engenharia Civil.
As instâncias governamentais municipais, estaduais e federais criaram
serviços públicos de abastecimento de água e energia elétrica que permi-
tiram a instalação de indústrias próximas dos centros urbanos, trazendo
progresso e novos empregos (BONZI, 2017). No Brasil, malhas ferroviá-
rias garantiam o escoamento dos produtos entre as cidades e as regiões
portuárias e foram substituídas em parte, a partir da década de 1950, pelo
transporte rodoviário.
A instalação dessa infraestrutura cinza, composta de grandes áreas
impermeabilizadas que correspondem às redes viárias e estacionamentos
focados nos automóveis, trouxe desenvolvimento às cidades, mas também
causou desmatamentos e alterações nos sistemas hídricos.
Aterraram-se várzeas próximas de rios para implantação dos trilhos e
muitas florestas acabaram sendo desmatadas para a implantação de estradas.
Paisagens naturais de morros foram cortadas e aplainadas para receber
pavimentação, extinguindo as nascentes de água que ali brotavam.
Áreas naturais alagadas foram suprimidas e muitos rios e córregos
acabaram sendo represados para abastecimento de água, retificados para
a velocidade de sua vazão possibilitar a geração de energia, ou canalizados
para servirem de receptores de águas pluviais e esgotos domésticos e indus-
triais (BONZI, 2017).

Seção 3.3 / Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo - 37


Pesquise mais
Assista ao vídeo abaixo para conhecer um pouco mais sobre a história do
Rio Pinheiros, importante curso de água da cidade de São Paulo. Esse rio
teve seu curso de água retificado e canalizado para aumentar a veloci-
dade de vazão e assim gerar energia hidrelétrica para fins industriais.
Atualmente o rio encontra-se poluído e inerte, no meio da paisagem
urbana da cidade (Figura 3.29).

ASSOCIAÇÃO ÁGUAS CLARAS DO RIO PINHEIROS. Rio Pinheiros - Sua


História e Perspectivas. 12 mar. 2015. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=0ZDfLI2BuW4. Acesso em: 16 dez. 2018.

Figura 3.29 | Rio Pinheiros, São Paulo - SP

Fonte: iStock.

Na infraestrutura cinza os usos são monofuncionais: as vias de circu-


lação servem apenas para o trânsito dos veículos, os sistemas de esgoto e
drenagem para o rápido escoamento de dejetos e águas pluviais e os telhados
apenas como coberturas das edificações. A implantação dessas estruturas
é demorada, os investimentos são muito altos e ela possui consequências
ambientais impactantes para o planeta.
Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação
e Agricultura (Food and Agriculture Organization – FAO), elaborado em 2018,
o desmatamento é a segunda causa das mudanças climáticas e aquecimento
global, relacionadas ao aumento da emissão de poluentes (FAO, 2018).
Como alternativas à infraestrutura cinza, no final do século XX surgiram
vários movimentos e ações com a intenção de criar ambientes mais agradáveis

38 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


e sustentáveis para se viver. Dessa maneira, incentiva-se cada vez mais o uso
de meios alternativos e menos poluentes para locomoção, como as bicicletas,
a partir da criação de ciclovias e ciclofaixas, e a preservação da natureza,
conservando bosques nativos e margens de córregos com a implantação
de parques lineares. Segundo Silva Filho e Tosetti (2010), a implantação de
corredores verdes e parques lineares proporcionam melhorias na saúde da
população, pois auxiliam no combate à obesidade e a doenças respiratórias.
As iniciativas de implantação de infraestruturas multifuncionais que
aliam a vegetação aos sistemas hídricos e de drenagem são denominadas
infraestruturas verde e azul. Elas promovem a restauração ecológica, a
renaturalização e a descontaminação de cursos de água, contribuindo para a
diminuição dos riscos de enchentes e desmoronamentos nas cidades.
O planejamento da paisagem corresponde a uma rede que interconecta
espaços livres públicos, formando corredores verdes que auxiliam na preser-
vação do ecossistema e que mantêm a água e o ar limpos, beneficiando os
homens, a fauna e a flora. O livro Infraestrutura Verde (Green Infrastructure),
de Benedict e McMahon (2006), propõe planos urbanos para a substituição
da infraestrutura cinza por áreas permeáveis que permitam a absorção da
água das chuvas, recuperando os sistemas hídricos e interconectando a infra-
estrutura verde e a azul.
O termo infraestrutura verde compreende vários significados. Abrange
a arborização viária, praças vegetadas, áreas de preservação permanentes e
parques urbanos. Essas coberturas vegetais proporcionam sombra, alimento
e abrigo para aves e animais, além de embelezarem a cidade com suas flores
e frutos, trazendo verde para a paisagem cinza das ruas e avenidas. Segundo
Franco (2010), pode estar relacionado também a estruturas para tratamento
de águas e para contenção de enchentes. A redução de prejuízos causados
pelas inundações e alagamentos para a cidade e populações vulneráveis é
uma das contribuições mais importantes da implantação de tipologias de
infraestrutura verde.
A recuperação das planícies de inundação próximas aos rios e córregos
através do plantio de vegetação permite a formação de uma cobertura verde
que protege o solo, desacelera a velocidade de absorção das águas pluviais,
auxiliando na absorção e filtragem dessas águas e facilitando o retorno delas
para o subsolo, o que reduz o risco de enchentes. Com a transpiração das
coberturas vegetais, aumenta-se a evaporação de água que será condensada
na forma de nuvens, para posterior precipitação e retorno ao solo, garantindo
a manutenção do ciclo hidrológico e diminuindo o risco de secas.
Apesar do conceito de infraestrutura verde parecer um tema atual, os
primeiros projetos nessa área remontam ao final do século XIX, época em que

Seção 3.3 / Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo - 39


algumas cidades, em pleno crescimento industrial, resolveram elaborar projetos
de paisagem que incorporassem a infraestrutura necessária (reservatórios,
estradas, pontes, etc.) integrando-as à sociedade através de parques e praças.

Exemplificando
Um dos primeiros projetos de infraestrutura verde e azul foi idealizado
e implantado por Frederick Law Olmsted (1822-1903), considerado o pai
da arquitetura paisagística e um dos criadores do Central Park, em Nova
Iorque. Juntamente com engenheiros sanitaristas, ele desenvolveu para a
cidade de Boston, no final do século XIX, um sistema de parques conhe-
cido como Colar de Esmeraldas (Emerald Necklace). A cidade, importante
centro industrial, sofria com problemas de poluição dos rios, áreas panta-
nosas e falta de áreas de lazer para a população. Através de um projeto
de recuperação das margens dos rios, regulação de seus fluxos através da
criação de áreas alagadas (wetlands) e lagos (Figura 3.30), Olmsted criou
um corredor ecológico anexando áreas verdes existentes, como um colar,
que passaram a ter funções de retenção e despoluição das águas além de
servirem como áreas de lazer e circulação (HERZOG, 2013).

Figura 3.30 | Lagoa no parque Jamaica, Boston, EUA

Fonte: iStock.

Através da implantação de infraestruturas verde e azul promove-se a


“desimpermeabilização” (HERZOG, 2013, p. 111) que leva à reintegração da
natureza nas cidades, oferecendo espaços multifuncionais.
Algumas soluções para a implantação de infraestrutura verde e azul
são a criação de áreas permeáveis, que permitem o manejo das águas

40 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


pluviais de maneira natural, de modo que sejam reabsorvidas pelo solo
e promovam a recuperação da cobertura vegetal das áreas degradadas
(revegetação) – caso em que as áreas permeáveis devem ser implantadas
adequando-se à topografia do local; a eliminação de avenidas locali-
zadas sobre córregos tamponados, de modo a dar espaço a novas áreas de
lazer nas margens de canais descobertos (HERZOG, 2013) - nesse caso
deve-se prever o realocamento do fluxo viário existente para outro local;
e, por fim, a criação de corredores de conexão entre os parques e áreas
de preservação através da arborização urbana, o que faz diminuir as ilhas
de calor, melhorando a qualidade do ar e ofertando novos espaços para
recreação (HERZOG, 2013).
Segundo Benedict e McMahon (2006), a implantação de infraestruturas
verdes traz benefícios ambientais e sociais como a preservação da vegetação e
biodiversidade locais que possibilitam uma maior interação dos homens com
a natureza. Além disso, há benefícios econômicos, pois as estruturas verdes
são construídas com maior rapidez e com custos reduzidos se comparadas às
estruturas convencionais de engenharia; além disso, promovem a valorização
imobiliária para as áreas envoltórias. Muitas das estratégias podem funcionar
de forma conjunta com a infraestrutura cinza e podem ser usufruídas pela
população tão logo forem implantadas.

Assimile
O Rio Cheonggyecheon acompanhou o crescimento de Seul, capital
da Coreia do Sul, desde a sua fundação no século XVI. Inicialmente,
servia como sistema de drenagem natural e como coletor de esgoto
da população, que residia irregularmente em suas margens. Por conta
disso, problemas com enchentes e inundações eram frequentes.
Dessa forma, a gestão pública decidiu pelo tamponamento do rio e
construção de uma via expressa sobre ele, decisão que resolveria
problemas de saneamento e poluição do rio e ocupação irregular, além
de beneficiar o crescimento da frota de veículos e valorizar os bairros
adjacentes. A construção foi concluída em meados da década de 1970,
no entanto o aumento da malha viária não diminuiu o fluxo de tráfego, e
os congestionamentos permaneciam.
No início do século XXI iniciou-se um projeto de reurbanização da área
central sob um viés sustentável, que incorporou um programa de recupe-
ração do rio com a proposta de demolição da via expressa, que apresen-
tava riscos estruturais. A execução do projeto, que idealizou um parque
urbano linear de aproximadamente seis quilômetros de extensão, teve
início no ano de 2002, o que deu origem ao Parque Cheonggyecheon
(Figura 3.31).

Seção 3.3 / Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo - 41


Figura 3.31 | Parque Cheonggyecheon

Fonte: iStock.

O projeto promoveu a despoluição do curso de água e a reestruturação


do sistema de esgotos. Algumas tipologias de infraestrutura verde foram
implementadas para conter possíveis cheias do rio devido às chuvas.
Ao longo do canal foram implantados pontes e acessos, além de um
passeio margeando o rio. Ainda, o projeto incorporou várias áreas de
lazer, descanso e convívio às suas margens, permitindo uma interação
com a natureza (REIS; SILVA, 2016).

Segundo Cormier e Pellegrino (2008), as tipologias de infraestrutura


verde incluem jardins de chuva; canteiro pluvial; biovaletas; lagoa pluvial;
tetos e paredes verdes e eco pavimentos.
• Jardins de chuva: são canteiros que recebem as águas pluviais de pisos
adjacentes impermeáveis e de telhados (Figura 3.32). Quando colocados
ao lado de pisos, são localizados em nível mais baixo e têm aditivos
adicionados ao solo que permitem aumentar sua porosidade para
absorção e filtragem
Figura 3.32 | Jardim de chuva como alternativa às
da água. Auxiliam na sarjetas
evapotranspiração,
diminuição de ilhas
de calor e purificação
da água. Podem ser
usados para substituir
as sarjetas tradicionais
ou podem ser implan-
tados na projeção dos
beirais, acolhendo a
água das chuvas. Fonte: iStock.

42 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


• Canteiros pluviais: são Figura 3.33 | Canteiro pluvial
jardins de chuva adaptados
a espaços menores,
compostos de pequenos
canteiros e jardineiras que
captam as águas pluviais
de calhas e canos (Figura
3.33). Podem ser usados em
residências e edifícios.
• Biovaletas: consistem
em depressões lineares
vegetadas que captam e
purificam as águas das
chuvas (Figura 3.34),
conduzindo-as até jardins Fonte: iStock.
de chuva ou sistemas tradicionais para que haja a retenção da água.
São alternativas para os drenos tradicionais.
Figura 3.34 | Biovaletas, Seattle, EUA

Fonte: iStock.

• Lagoa pluvial: também chamada de bacia de retenção, acomoda o


excesso das águas provenientes das chuvas, evitando inundações e
auxiliando na sua purificação. Substitui os piscinões, alternativa à
drenagem tradicional.

Seção 3.3 / Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo - 43


Reflita
Observe a Figura 3.35, referente a uma lagoa pluvial (infraestrutura
verde e azul) e a Figura 3.36, imagem de uma bacia de detenção (infraes-
trutura cinza), ambas localizadas na cidade de São Paulo.

Figura 3.35 | Lagoa pluvial na Brasilândia, São Paulo - SP

Fonte: acervo do autor.

Figura 3.36 | Bacia de detenção (piscinão) no córrego Aricanduva, São Paulo - SP

Fonte: acervo do autor.

Qual destas tipologias causa menos impactos ambientais e socioeconô-


micos para a cidade?

• Telhados verdes: são coberturas vegetais que além de absorverem a


água das chuvas, auxilia na redução das ilhas de calor e contribuem
para a biodiversidade, pois proporcionam moradia para insetos, aves
e animais (Figura 3.37). Existem várias tipologias de construção e
materiais utilizados

44 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Figura 3.37 | Tipologia de teto verde

Fonte: iStock.

• Paredes verdes: as paredes verdes são utilizadas em locais com falta


de espaço para o plantio tradicional e, além de reduzirem as tempe-
raturas no interior e exterior da edificação, auxiliam na retenção das
águas pluviais e biodiversidade do local (Figura 3.38). Assim como
os telhados verdes, a parede verde pode ser feita de várias formas,
com materiais e sistemas específicos.
Figura 3.38 | Parede verde

Fonte: iStock.

• Ecopavimentos: são pavimentos porosos, drenantes, que possibilitam


a infiltração e filtragem da água e podem ser usados em calçadas, vias e
estacionamentos como alternativas aos pisos impermeáveis. Há várias
alternativas desse tipo de pavimentos no mercado: blocos intertra-
vados, piso grama (Figura 3.39), pedriscos, brita, pisos cimentícios

Seção 3.3 / Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo - 45


porosos, etc. Um erro frequente ocorre quando o assentamento de
blocos intertravados é feito em contrapisos de cimento ou com rejunte
cimentício, que faz com que o piso perca seu potencial drenante,
tornando-se uma superfície impermeável. O arquiteto deve sempre
consultar as especificações técnicas para verificar o correto assenta-
mento dos pisos, que, no caso dos blocos intertravados, deve ser feito
com areia ou pó de pedra para manter a sua permeabilidade.
Figura 3.39 | Piso-grama

Fonte: iStock.

A implantação das infraestruturas verde e azul depende da gestão urbana


e, apesar das discussões acerca da preservação ambiental, ainda são pouco
utilizadas nas cidades. Dessa forma, o arquiteto paisagista tem um papel
muito importante na divulgação e implantação dessas práticas, contribuindo
para a criação de cidades sustentáveis.
Dependendo da escala do projeto, a equipe de trabalho poderá ser multi-
disciplinar, na qual o arquiteto paisagista sempre estará presente promo-
vendo a inserção do verde na cidade e melhorando a qualidade de vida de
seus moradores.

Sem medo de errar


O escritório de arquitetura paisagística no qual você trabalha definiu,
em reunião com a associação de moradores, utilizar pisos permeáveis
na pavimentação da área de lazer, introduzindo soluções sustentáveis no
projeto. A área de 2.500 m² conta com três espaços diferenciados, que devem
ser interligados através de caminhos acessíveis.
Você foi escolhido para fazer uma pesquisa e verificar as alternativas
existentes no mercado para pavimentações sustentáveis. Após a coleta das
informações, crie um memorial descritivo de cada tipologia, que servirá de

46 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


referência não apenas para a escolha das melhores opções para o projeto em
questão, mas como repertório para projetos futuros.
1. Inicie a pesquisa buscando informações a respeito dos tipos de pisos
drenantes: ecopavimentos, asfaltos porosos, concretos permeá-
veis, pisos intertravados e pisos-grama. Faça as buscas em revistas
especializadas, catálogos, internet e lojas de materiais de construção.
2. Procure levantar informações sobre o tipo de piso, descrição, usos,
vantagens e desvantagens, capacidade de absorção de água, proce-
dimentos para instalação, modelos, cores e tamanhos, preços e
fabricantes.
3. Acrescente imagens ou croquis que auxiliem na compreensão do
produto e no seu potencial paisagístico.
4. Especifique cada tipologia de piso em uma folha A4 e depois imprima
e encaderne o Memorial Descritivo de Pisos Drenantes.
5. Lembre-se de que esse material será um repertório para consultas,
portanto quanto mais opções você levantar, mais escolhas terá para
o projeto e mais completo ficará seu repertório de pisos. Procure
apresentar as informações de forma didática e objetiva.
Observe uma sugestão de página do memorial e os itens solicitados:
Tipo de piso: pisograma / concregrama.
Descrição: grelha de concreto com orifícios para o plantio de grama.
Usos indicados: tráfego de veículos e pedestres, rampas de garagem,
corredores e estacionamentos (Figura 3.40).
Figura 3.40 | Pavimentação de estacionamento com pisograma

Fonte: iStock.

Seção 3.3 / Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo - 47


Vantagens: facilidade de instalação, estética, drenagem da água das
chuvas; suporta o transito de veículos leves.
Desvantagens: manutenção do gramado, acessibilidade; vãos entre as
grelhas podem provocar quedas dependendo do tipo de salto do calçado;
não permite assentamento em terrenos inclinados.
Capacidade de absorção de água: média - 50% a 70%.
Instalação: etapas:
1. Limpeza e uniformização do terreno com o uso de enxada.
2. Compactação do solo com soquete de madeira.
3. Recobrimento do solo com uma camada de dois a três centímetros
de areia e nivelamento da areia com régua de alumínio ou colher de
pedreiro.
4. Assentamento das placas de concreto a partir de uma das extremi-
dades do terreno, aproximando-as para junção das placas. Cortes nas
peças podem ser feitos com serra circular.
5. Plantio de grama no nicho das grelhas.
Modelos e tamanhos (Figura 3.41):
Figura 3.41 | Modelos e dimensões: pisograma

Fonte: http://www.fkcomercio.com.br/imagens/piso_concregrama.png. Acesso em: 16 jan. 2019.

Cores: cinza.
Preço/m²: os preços variam conforme o modelo e tamanho das peças.
Podem ser vendidas por peça, com valores a partir a partir de R$ 9,50 e por metro
quadrado, com preços a partir de R$ 45,00/m² (valores referentes a janeiro/2019).
Fabricantes: como as peças de pisograma são fabricadas a partir de moldes,
há muitas empresas que fabricam o material. Pesquise fábricas próximas à sua
cidade, pois isso diminui o valor do frete para transporte das peças.

48 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Avançando na prática

Projeto de uma cisterna para as residências do


novo bairro

Descrição da situação-problema
A arquitetura social vem ganhando cada vez mais visibilidade na socie-
dade através da implantação de projetos de interesse social que procuram
promover relações saudáveis entre a cidade, seus moradores e o meio
ambiente. É cada vez maior o número de organizações não governamentais e
coletivos urbanos em que a presença de arquitetos é fundamental para desen-
volver e coordenar projetos sustentáveis como hortas comunitárias, biocons-
trução e permacultura junto à sociedade. Vários desses projetos envolvem
tipologias de infraestruturas verde e azul como a construção de telhados e
paredes verdes, jardins de chuva, lagoas de captação e cisternas.
Na recente crise hídrica enfrentada pelo estado de São Paulo em 2014,
muitos profissionais engajaram-se em projetos para auxiliar as comunidades
a enfrentar o período de secas ensinando métodos para a captação de águas
através de cisternas e reservatórios subterrâneos.
Imagine que você faz parte de um coletivo que fará uma oficina para
uma comunidade ensinando a construir uma cisterna. Cabe a você criar um
panfleto com o passo a passo para a construção.
Você deverá propor um modelo de cisterna que capte a água pluvial dos
telhados e que possa ser feita pelos próprios moradores. As cisternas são
tanques para reserva da água das chuvas para posterior reuso. O homem faz
uso delas desde a Antiguidade e pode ser considerada uma infraestrutura
verde e azul, pois promove o reuso da água. Segundo Cormier e Pellegrino
(2008) é considerada uma boa prática de sustentabilidade.

Resolução da situação-problema
Nesta atividade você deverá pesquisar alternativas para a construção de
cisternas domésticas. Verifique os materiais disponíveis no mercado e seu
custo. Lembre-se de que os próprios moradores irão construí-las, portanto
procure alternativas de fácil execução.
Escreva o passo a passo para eles:
1. Título: como construir uma cisterna.

Seção 3.3 / Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo - 49


2. Materiais necessários: relacione todos os materiais que serão neces-
sários para a construção.
3. Modo de execução: enumere e explique o passo a passo para a
montagem (inclua imagens ou croquis que possam orientar a
montagem da cisterna).
4. Instalação: indique como e onde será instalada a cisterna.
Imprima numa folha A4 (layout paisagem), com o texto diagramado
em três colunas, como se fosse um panfleto, e dobre-o conforme orientação
(Figuras 3.42 e 3.43).
Figura 3.42 | Layout panfleto
MATERIAIS NECESSÁRIOS: INSTALAÇÃO:
COMO
CONSTRUIR
UMA
CISTERNA...

MODO DE CONSTRUÇÃO:

IMAGEM

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 3.43 | Dobradura panfleto

Fonte: iStock.

Pronto! Você já pode distribuir o panfleto para a comunidade!

50 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Faça valer a pena

1. A taxa de permeabilidade é um índice urbanístico que determina qual a porcen-


tagem da área total do terreno que não poderá ser impermeabilizada, possibilitando
a absorção das águas da chuva pelo solo. Essa taxa está sendo adotada por diversos
municípios brasileiros como tentativa de reduzir a quantidade de águas pluviais
lançada nas redes coletoras urbanas, contribuindo para a diminuição das enchentes e
também para a manutenção do ciclo hídrico.
Considere um terreno hipotético de 450 m² com taxa de permeabilidade de 15%.

A área permeável mínima que deve ser preservada corresponde a:


a) 15 m²
b) 30 m²
c) 67,50 m²
d) 382,50 m²
e) 450 m²

2. Existem várias tipologias de infraestrutura verde e azul que podem ser implemen-
tadas nas áreas urbanas. Uma das tipologias consiste em amplos canteiros vegetados,
localizados em níveis mais baixos que a pavimentação viária, que recebem as águas
pluviais e promovem a sua filtragem e posterior absorção pelo solo.

A tipologia de infraestrutura verde e azul descrita no enunciado refere-se:


a) ao canteiro pluvial.
b) ao jardim de chuva.
c) à lagoa pluvial.
d) à cisterna.
e) à biovaleta.

3. Os ciclos hídricos ou hidrológicos são movimentos naturais e permanentes por


meio dos quais a água sofre processo de evapotranspiração, depois se condensa,
formando nuvens, que através de precipitações (chuvas) fazem a água retornar à
superfície, alimentando os cursos de água e o solo através da infiltração e da perco-
lação. Esses ciclos são fundamentais para a manutenção da biodiversidade do planeta,
pois regulam o clima e o funcionamento dos corpos de água.
Infiltração é o processo pelo qual a água penetra no subsolo através do solo e de
raízes de plantas, abastecendo os lençóis freáticos.
A percolação caracteriza-se por um deslocamento lento da água pelo solo, em direção
descendente, até atingir reservatórios subterrâneos de água.
Considerando as informações apresentadas, avalie os fatores que influenciam a absorção
da água pelo solo, tanto nos processos de infiltração como nos de percolação:
I. Porosidade: quanto mais poroso o solo, mais fácil é a infiltração de água.

Seção 3.3 / Princípios de infraestrutura verde e azul para projetos de paisagismo - 51


II. Tipos de solo: nos solos argilosos a capacidade de absorção da água é menor do
que nos arenosos.
III. Declividade do terreno: quanto maior for a declividade do terreno, maior será a
velocidade com que a água das chuvas escoará pelo solo, facilitando a percolação de água.
IV. Cobertura vegetal: a retirada da cobertura vegetal de encostas de morros favorece
a compactação dos solos tornando-os mais impermeáveis, o que dificulta a infiltração
e percolação das águas pluviais.

É correto o que se afirma em:


a) I e II apenas.
b) I e IV apenas.
c) III e IV apenas.
d) I, II e III apenas.
e) I, II e IV apenas.

52 - U3 / Uso da vegetação em projetos de paisagismo


Referências
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