Direito Dos Povos de Terreiro - Completo
Direito Dos Povos de Terreiro - Completo
Direito Dos Povos de Terreiro - Completo
DIREITOS
DOS POVOS
DE TERREIRO
V O L U M E 2
O segundo volume de Direitos dos Povos de Terreiro surge
do mesmo impulso do primeiro: abrir caminhos para as lutas do
povo de santo e fechar corpos contra o racismo religioso.
AXÉ!
9 786586
ISBN 978-65-86483-16-1
483161
DIREITOS
DOS POVOS
DE TERREIRO
V O L U M E 2
• ORGANIZAÇÃO •
THIAGO DE AZEVEDO PINHEIRO HOSHINO
BRUNO BARBOSA HEIM
ANDRÉA LETÍCIA CARVALHO GUIMARÃES
WINNIE BUENO
DIREITOS
DOS POVOS
DE TERREIRO
V O L U M E 2
Coordenação Editorial
Pedro Camilo de Figueirêdo Neto
Conselho Editorial
DOUTORES: MESTRES:
Claudia de Faria Barbosa Bruno Barbosa Heim
José Rômulo de Magalhães Filho Fábio S. Santos
Luciano Sérgio Ventim Bomfim Geraldo Calasans Silva Júnior
Maria João Guia Isan Almeida Lima
Nadialice Francischini de Souza Marcelo Politano de Freitas
Régia Mabel da S. Freitas Pedro Camilo de Figueirêdo Neto
Ricardo Maurício Freire Soares Thacio Fortunato Moreira
Sheila Marta Carregosa Rocha
Urbano Félix Pugliese do Bomfim
Diagramação Revisão
Alfredo Barreto Joana Cunha
A reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer modo, somente será
permitida com autorização da editora.
(Lei nº 9.610 de 19.02.1998)
354 p.
ISBN: 978-65-86483-16-1
11
12 | Diversos Autores
Parte 2
Fechando corpos: racismo religioso e violências coloniais no
Brasil contemporâneo
7 “Não posso ser negra. Não posso cantar pra Ogum. Não posso
ser do candomblé. Não posso nada”: infância, racismo e racismo
religioso, 189
Stela Guedes Caputo
3 O autor afirma que “A lógica da política cultural busca causar uma reconfiguração
radical do particular e do universal; da liberdade e de igualdade com a diferença.
Recompor as heranças dos discursos liberais à luz multicultural das sociedades da
modernidade. Uma abordagem com estratégias vigorosas capazes de enfrentar
e erradicar o racismo, a exclusão e a inferiorização, respeitando certos limites”
(HALL, 2009, p. 84).
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 17
2 POVO DE TERREIRO
3 A AÇÃO POLÍTICA
[...] perceber essa coisa: o quanto a questão racial influía nesse pro-
cesso de exclusão do nosso povo... essa ausência, essa omissão do
Estado em termos de políticas públicas pra gente, em todas as ins-
tâncias, todas as instâncias... e hoje criamos uma nomenclatura nos
processos de racismo que a gente sofre, por exemplo. Hoje eu falo
em racismo comercial, quando a gente vai lá no mercado e tem um
saco de feijão todo carunchado e cheio de bichinho com uma pla-
quinha: FEIJÃO MIÚDO PARA TRABALHO. O que é isso, senão
racismo comercial? Ou um dendê ou mel escrito que é impróprio
como alimento? Onde tá o poder público que não fiscaliza isso? En-
tão a gente hoje não fala mais de intolerância religiosa, a gente fala
de racismo religioso, percebendo justamente o quanto a questão ra-
cial, o lugar que a gente vem que incomoda esta sociedade branca e
ocidental”. (em entrevista concedida em 20/12/17)
lização das práticas. Todo este desconforto fez com que o povo de
terreiro começasse a conversar mais, pois “somente o terreiro foi
e é capaz de potencializar este processo coletivo de fazer política,
porque nossos valores de ser e estar nesse mundo são elaborados a
partir de nossa matriz civilizatória africana, que é xenofílica”, com-
pleta Baba Diba.
Analisando o povo de terreiro e suas atribuições culturais e po-
líticas, pensando sociologicamente algumas questões particulares e
que têm o mérito de serem precursoras no movimento, a criação CP-
TERS foi a ferramenta para remontar o que tem potência como uma
nova proposta filosófica e política, portanto epistemológica, pois,
como afirma Jayro Pereira (RIO GRANDE DO SUL, 2015, p. 37):
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
10 O IPHAN recebeu diferentes nomes ao longo de sua história e fez parte da
estrutura organizacional de diferentes instituições do Estado brasileiro. Durante
os governos Lula e Dilma, fazia parte do MINC.
11 A problematização de experiências vividas por um pesquisador/observador
não logra resultados rígidos ou exatos, tais quais aqueles buscados nas Ciências
Naturais. Nas Ciências Sociais, todavia, trata-se de procedimento metodológico
aceito e frequentemente utilizado, sendo seus resultados validados no campo
de conhecimento a partir de sua confrontação com o esforço reflexivo e com a
abstração teórica, o que foi realizado neste artigo.
66 | Guilherme Nogueira & Francisco Paz
1 ESTADO E COLONIALIDADE
12 Embora busquemos situar conceitos, não propomos, neste texto, um debate
teórico profundo da categoria “colonialidade”, dos estudos decoloniais ou da
teoria social latino-americana como um todo. Para um aprofundamento sobre a
categoria e seu contexto, ver Quijano (2005) e Gesco (2012).
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 67
O primeiro terreiro tombado foi o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, a Casa
Branca do Engenho Velho da Federação, em Salvador-BA, conside-
rado o primeiro templo da nação candomblecista Ketu. Seu acaute-
lamento foi votado e aprovado pelo Conselho Consultivo do IPHAN
em 1984, quase cinquenta anos após a fundação do instituto e em
um cenário interessado/enviesado, em que o regime militar buscava
apoio popular e tentou se aproximar e ganhar a simpatia de parce-
las da população que sempre negligenciara, como a afrorreligiosa
(NETTO, 2013; NASCIMENTO, 2016; SILVA, 2017, NOGUEI-
RA, 2019).
Em outras palavras, o Estado (leia-se, as elites que o detém),
representado pelo IPHAN, não passou em 1984 a valorizar o que
vinha negligenciando desde sempre, que era a massiva e importante
herança cultural negra no país. Apenas ofereceu salvaguardar um
símbolo cultural importante ao povo negro, em troca de popula-
ridade. Prova disso é o fato de que, até 2017, apenas dez terreiros,
contando com a Casa Branca, haviam sido tombados pelo instituto
(CUNHA PAZ, 2017) e um décimo-primeiro foi tombado em 2018.
Igualmente, poucos exemplares negros e indígenas fazem parte da
lista de patrimônios tombados pelo IPHAN, vasta em exemplares
brancos (LIMA, 2012).
No que tange a terreiros, o GTIT aspirava mudar esse quadro.
Aproximar-se ainda mais das/dos afrorreligiosas/os e dar mais des-
taque à sua história nos anais da nação. Todavia, esta não foi uma
conquista do grupo e a história permanece mal contada no Brasil.
Destacamos, nos itens acima, dois grupos de barreiras que in-
terferiram e condicionaram a administração do trabalho do GTIT
de valorização da temática afrorreligiosa, por meio de seus terreiros.
Entendemos, como indicamos anteriormente, que essas barreiras
são externas – sociopolíticas – e internas – processos de gerência e
trabalho personalistas e pouco racionais, bases de informações atra-
sadas/inexatas etc.
78 | Guilherme Nogueira & Francisco Paz
do assunto por sua própria conta e como adepta, não como analista.
Conhecimento é um construto da mente humana (DAVENPORT,
1998) e, mesmo que a biblioteca do IPHAN fosse vasta de infor-
mações sobre o tema, sem pessoas que o conhecessem seria difícil
trabalhá-lo. Buscou-se, com o GTIT, contornar esta limitação com
o convite ao grupo de representantes das próprias religiões. Ade-
mais, foram organizadas capacitações para servidores do instituto
(IPHAN, 2018), em gestão do patrimônio cultural dos povos de ma-
triz africana, ministradas por lideranças e/ou representantes das
principais tradições mapeadas até o momento pela organização, com
a participação de representantes do candomblé, jarê, jurema, batu-
que, egungun e tambor de mina. Essas nos parecem ter sido propos-
tas acertadas. Infelizmente, pouco efetivas.
A questão de que havia uma única profissional com afinidade
com a temática e o fato de que a ela foi entregue a coordenação da
pauta devido a essa afinidade – e não a outro critério – também é
aqui interpretada como uma barreira organizacional. Isso indica que
a divisão do trabalho é/foi feita em função de afinidades pessoais,
sem outro critério mais cuidadoso, o que contraria os princípios da
Administração – pública ou privada – e, mais do que isso, aponta
para o fato de que o Estado – a burocracia, a coisa pública – é gerido
de forma personalista. Isso contraria, também, os princípios do pró-
prio Estado moderno que, na acepção weberiana, deve ser impessoal.
Chamamos a atenção para uma última barreira interna indicada
nas observações de campo, que é aquela de gênero. Mesmo que o
GTIT tenha envolvido, democraticamente, técnicas/os do IPHAN,
consultoras/es e afrorreligiosas/os, foi difícil para as/os técnicas/os
entenderem que as decisões tomadas junto aos homens dos terreiros
deviam ser validadas/confirmadas pelas mulheres – mais especifica-
mente por suas mães de santo. E isso implicava em voltar ao terreiro
e debater o assunto internamente, só retornando com uma posição
em um segundo momento. Essa não é a forma como os profissionais
do Estado colonial/moderno trabalham. Mas o Estado brasileiro
deveria se adaptar às comunidades com que se relaciona, jamais o
contrário. O GTIT, mesmo especializado em terreiros e entenden-
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 81
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
uma situação mais geral, mas não devem ser generalizadas. Ou seja,
o estudo de barreiras coloniais/modernas à gestão do sistema esta-
tal brasileiro pode se beneficiar de outros trabalhos. Estes podem
reiterar ou refutar os resultados que aqui alcançamos. Em todos os
casos, ampliam o arcabouço de informações e valorizam o trabalho
de análises sociopolíticas e gerenciais do Estado brasileiro.
REFERÊNCIAS
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2o Simpósio Internacional de História das Religiões – XV
Simpósio Nacional de História das Religiões. Florianópolis,
86 | Guilherme Nogueira & Francisco Paz
1 CULTURA E NATUREZA
3.1.1 Tombamento
3.1.2 Inventário
Relacionado no artigo 216, §1º da Constituição Federal entre
os instrumentos hábeis à proteção do patrimônio cultural brasileiro,
o inventário ainda não foi regulamentado por lei de âmbito nacional,
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 101
3.1.3 Desapropriação
Figura 02: Área de Preservação Cultural e Paisagística do Ilê Axé Opô Afonjá,
trecho do Mapa 07
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
30 Lia Vainer Schucman (2014, p. 135-136), ao revisar o medo branco no século
XXI, informa: “Entendemos neste trabalho que a identidade racial branca –
branquitude - se caracteriza nas sociedades estruturadas pelo racismo como um
lugar de privilégio materiais e simbólicos construído pela ideia de “superioridade
racial branca” que foi forjada através do conceito de raça edificado pelos homens
da ciência no século XIX delimitando assim fronteiras hierarquizadas entre
brancos e outras construções racializadas”.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 125
34 Em 2016, fazia referência a dois quilombos, seis terreiros, uma senzala e um
museu da magia-negra (MOSSAB, 2016).
35 Dos seis terreiros tombados definitivamente até o primeiro semestre de 2014,
na Bahia, foram analisados os dados dos seguintes processos: Ilê Axé Iyá Nassô
Oká (Terreiro da Casa Branca), Ilê Axé Opô Afonjá e Terreiro do Alaketo. O
processo da Roça do Ventura, tombado provisoriamente, não foi disponibilizado
pelo IPHAN, mas foram analisados os documentos referentes ao tombamento,
que foram disponibilizados pelo órgão.
130 | Walkyria Chagas da Silva Santos
trumento, uma vez que “enxerga” o bem numa visão que engloba
características materiais e imateriais. Muitos terreiros que se cons-
tituem em APCP são terreiros tombados pelo IPHAN e/ou IPAC
(OLIVEIRA, 2018).
O tombamento do Ilê Axé Iyá Nassô Oká, ocorrido em 1986,
bem como a posterior promulgação da Constituição de 1988, que
traz diversas garantias às minorias étnicas que representam uma
estética rechaçada pelo Estado, trouxeram novas possibilidades e lo-
cais de disputa por reconhecimento. Mas o tombamento de terreiros
não é um instituto pacífico, sendo questionado desde o “nascimento”
da sua aplicação. Assim, novos institutos estão sendo pensados e
aplicados no Estado da Bahia, conforme será explanado a seguir.
41 Ainda sobre o registro especial, vale citar o art. 47: “Os bens culturais
protegidos pelo Registro Especial serão documentados e registrados a cada
5(cinco) anos, sob responsabilidade do IPAC, por meio das técnicas mais adequadas
às suas características, anexando-se, sempre que possível, novas informações ao
processo. Parágrafo único - O IPAC promoverá a ampla divulgação e promoção,
sob a forma de publicações, exposições, vídeos, filmes, meios multimídia e outras
formas de linguagem promocional pertinentes, das informações registradas,
franqueando-as à pesquisa qualificada” (BAHIA, 2006).
42 Este caderno, segundo o IPAC, é resultado de pesquisa e elaborada pela
equipe da Gerência de Patrimônio Imaterial (GEIMA) e organizado pela
Coordenação de Articulação e Difusão (COAD), departamentos da Diretoria de
Preservação do Patrimônio (DIPAT) do IPAC, e busca refletir sobre os processos
administrativos, de forma séria e respeitosa, apresentando um conteúdo denso e
esclarecedor sobre a trajetória dos povos de terreiro nas lutas para consolidar a
sua religiosidade em território baiano.
43 O livro Terreiros de Candomblé de Cachoeira e São Félix, do IPAC, contempla
“a divulgação e promoção dos bens culturais patrimonializados, traduz-se nessa
ação de Salvaguarda, comemorando mais uma vitória dos povos do candomblé,
que souberam driblar o preconceito social e a perseguição religiosa, cultuando
seus deuses, com grande sabedoria, sem perder a sua essência e os seus valores
ancestrais, contribuindo para a formação da memória da sociedade brasileira e
reafirmando a identidade baiana” (FERNANDES, 2015, p. 15).
140 | Walkyria Chagas da Silva Santos
44 O processo não estava disponível para leitura na sede do IPAC. Foi alegado
que o processo estava em diligência.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 141
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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issuu.com/sepromiba/docs/livro_mapeamento_baixo_sul#download.
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Patrimônio Imaterial e dá outras providências, 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3551.htm. Acesso
em: 06 fev. 2019.
CHUVA, Márcia. Entre vestígios do passado e interpretações da
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registrados/. Acesso em: 29 jul. 2019.
CULTURA. Ipac estuda terreiros de Babá-Egum da Ilha de Itaparica.
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ouvidoria.ba.gov.br/2016/10/135623,20/Ipac-estuda-terreiros-de-
Baba-Egum-da-Ilha-de-Itaparica.html. Acesso em: 29 jul. 2019.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 149
Paola Odònílé50
1 PERCURSOS LEGISLATIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na-
tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
tionada, pois se supõe que podem ter impacto negativo sobre eles.
Nesse sentido, durante o julgamento do Recurso Extraordinário n.
494601, que trata da sacralização de animais em rituais religiosos, o
advogado Hédio da Silva Jr. Argumentou o seguinte:
Então ela é minha filha, de início eu nunca quis levar ela para o
Terreiro. Deixava-a com minha mãe, mas em casa sempre fazíamos
momentos de partilha sobre espiritualidade e Leticia ia vivenciando
tudo e sempre quis ir participar, mas eu resistia e não queria levar.
Até que acabei levando e ela gostou, começou a frequentar, fez lim-
pezas, deu buri, enfrentamos desafios no nosso relacionamento de
mãe e filha. Então, a Cabocla Jurema tem junto com minha Iyá Idje-
mim me ajudado nesta árdua tarefa de amadurecer como mãe [...]
minha filha, hoje adolescente, passou por etapas e segue evoluindo
a seu tempo, foi aí que em 27 de dezembro de 2017 foi iniciada. Até
este momento eu não acreditava que ela teria coragem e fé sufi-
ciente para esta missão, de “raspar no Santo”, mas enfim eu sempre
pensei assim: que o Terreiro, a iniciação seria a experiência de fé,
maturidade e de fortalecimento, que se ela não estivesse bem ali, na
sua vivencia religiosa, onde estaria? eu sou candomblecista , logo
ela poderia ter ou não ter a escolha de ser também. De livre desejo
escolheu ser. E me sinto feliz por isto. O hoje não me dará a garantia
de que será pra sempre, mas seguimos aprendendo. (IBERELOSSÌ,
2018).
Existem alguns rituais que inclusive até adultos que não estão no
processo iniciático não podem participar como sacralização, alguns
momentos de limpezas e os toques pra Èsù, que é uma entidade que
lida com todo tipo de energia, geralmente as Crianças não partici-
pam, nossa Mãe não permite que elas participem tendo em vista que
um dos elementares de Èsù é o álcool, pra que não tenha o contato
da Criança, do Adolescente com o álcool é necessário que ela não
participe, então isso é muito ético, muito coerente.[...] É a Mãe de
Santo que decide, algumas regras que já estão pré estabelecidas e
ela segue essas regras, isso já vem desde a casa de onde ela veio e ela
também tem essa sensibilidade de não permitir que isso aconteça,
que as Crianças tenham esse acesso a absolutamente tudo, então já é
uma tradição que ela segue. Tem coisas que não é necessário nem o
Encanto chegar e dizer que não pode, existe uma tradição e a gente
sabe que é necessário perpetuar essa tradição [...].
180 | Paola Odònilé
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Acesso em: 23 out. 2018.
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Humanos - DUDH. Direito com ponto com. Disponível em:
https://www.direitocom.com/declaracao-universal-dos-direitos-
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Direito, Faculdade Sete de Setembro (Fasete), Paulo Afonso, 2013.
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candomblé. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.
Parte 2
Fechando corpos: racismo
religioso e violências coloniais
no Brasil contemporâneo
7
“NÃO POSSO SER NEGRA. NÃO
POSSO CANTAR PRA OGUM. NÃO
POSSO SER DO CANDOMBLÉ. NÃO
POSSO NADA”: INFÂNCIA, RACISMO E
RACISMO RELIGIOSO53
55 Beniste (1997, p.189-190) afirma que o yorubá, como os demais grupos
africanos, acreditam na existência ativa dos antepassados. Os antepassados ou
ancestrais são denominados òkú òrun e àgbagbà, ou ainda pelo título ésà, usado
para reverenciar os ancestrais nos ritos de ìpàdé, nos candomblés do Brasil. Um
antepassado é alguém de quem a pessoa descende, seja através do pai ou da mãe,
em qualquer período do tempo, e que o ser vivente conserva relações afetuosas.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 191
com ela porque ela tinha cabelo duro. Fui lá e falei com a diretora, a
professora e a mãe da aluna. Disse que ninguém nasce racista e que
era dever dos pais e da escola cuidarem para que cada criança não
fosse racista. A outra vez tive que ir também porque a Duda chegou
dizendo que a professora pediu para ela cantar uma música e o que
ela cantou? Ògún a jó è màrìwó.56 Fui lá, a professora falou que não
podia e eu disse: Ela é de Ogum quer que a menina cante o quê?
Deixa ela cantar Ògún a jó è màrìwó na creche! Olha... não é fácil
lidar com a escola sendo negra e macumbeira. (Tauana dos Santos,
13 de outubro de 2017).
56 Cantiga para Ogum, divindade guerreira, senhor dos metais e das ferramentas.
No movimento de suas danças, revela ação de luta, de abrir novos caminhos,
desbravar matagais (BENISTE, 2001, 107).
57 O Ilê Axé Opô Afonjá foi fundado em1886, por Mãe Aninha de Xangô
Afonjá, na Pedra do Sal, bairro da Saúde, Rio de Janeiro. Em 1947, Mãe Agripina
(sucessora de Mãe Aninha) construiu o novo Axé, que hoje está localizado na
Rua Florisbela n. 1029, Coelho da Rocha, São João de Meriti. O nome do terreiro
significa: casa da força sustentada por Xangô.
192 | Stela Guedes Caputo
Carneiro (2005) afirma que esse Eu, no seu encontro com a ra-
cialidade ou etnicidade, adquiriu superioridade pela produção do
inferior, pelo agenciamento que essa superioridade produz sobre a
razoabilidade, a normalidade e a vitalidade. Nas palavras da filósofa:
3 PENSANDO O EPISTEMICÍDIO
– Eu não sabia direito falar porque fico triste, então não falo. Só com
a minha mãe que falo.
cente (ECA), em seu artigo 5º, diz que nenhuma criança será objeto
de qualquer forma de discriminação, violência, crueldade, opressão,
tratamento cruel ou vexatório, constrangedor ou degradante, maus-
-tratos, humilhação ou ridicularização.
Silva (2016, p. 16) enfatiza que o ECA68 diz textualmente que
o direito ao respeito abrange, entre outros aspectos, a preservação
da identidade, dos valores e das crenças das crianças e adolescentes.
Para o que seguimos discutindo nesse texto, o pesquisador faz um
importante destaque à Lei n. 13.257, de 2016, que alterou o ECA,
assegurando aos pais o direito de transmissão familiar de suas cren-
ças:
69 Nem Duda, nem Tauana, souberam dizer se houve casos parecidos com outras
crianças negras na creche.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 213
foram feitas pela creche com a família de Duda e com sua comuni-
dade terreiro?
Dissemos que voltaríamos a conversar sobre infância e inter-
seccionalidade e faremos isto agora. Nascimento (2018) – e muitos
outros estudiosos da infância – defendem, com Qvortrup (2011), que
estudar a infância como categoria social geracional não a homoge-
neíza, mas pressupõe uma pluralidade de infâncias agrupadas sob a
categoria infância. Para Nascimento (2018), essa pluralidade é justa-
mente a deixa que aponta para uma interseccionalidade nos estudos
da infância, ou seja, que buscam, diz a pesquisadora, compreender/
analisar as intersecções entre as diferentes variáveis presentes nos
diferentes cotidianos das escolas. Em suas palavras: “A interseccio-
nalidade pode compreender gênero, raça/etnia, classe, idade, orien-
tação sexual, identidade religiosa, capacidade/deficiência, origem e
outras dimensões. Estudos sobre crianças migrantes e imigrantes
também provocam a análise interseccional” (NASCIMENTO, 2018,
p. 2).
Não existe uma criança ou uma infância padronizada e univer-
sal nas instituições de ensino, incluindo-se aí as creches, já o sabe-
mos, embora nem todos e nem todas assumam que saibam. Assim,
as articulações entre raça, classe, gênero, orientações sexuais são
fundamentais para a compreensão da infância e para os estudos da
infância. Queremos situar que, ao longo de muitos anos, temos con-
vivido e conversando com crianças de terreiros e com suas famílias.
O terreiro é espaçotempo de aprenderensinar,70 onde as crianças são
respeitadas, de modo algum tidas como incompletas ou incapazes.
Por isso, reafirmamos a importância da religião como variável in-
terseccional fundamental sim nos estudos da infância. Reafirmamos,
ainda, a importância singular dos Estudos com Crianças de Terrei-
ros (CAPUTO, 2012; CAPUTO, 2018) para se pensar novas catego-
70 Alves (2003) explica que usa esses termos juntos para indicar que as pesquisas
nos/dos/com os cotidianos pretende ir além do que vê como dicotomias e limites
herdados das ciências modernas. Particularmente, em nossos textos, fazemos
essa opção em apenas algumas expressões, e este é um caso. Também optamos
por dizer pesquisas com os cotidianos, apenas.
214 | Stela Guedes Caputo
Figura 1 - Da esqeurda para a direita: Tauana aos 2 anos; Eduarda, sua filha, aos
4 anos; Tauana, aos 27 anos.
REFERÊNCIAS
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Acesso em: 17 nov. 2019.
ONU. Convenção sobre os Direitos da Criança e Protocolos Facul-
tativos. 1989. Disponível em: https://www.unicef.pt/media/2766/
unicef_convenc-a-o_dos_direitos_da_crianca.pdf. Acesso em: 17 nov.
2019.
8
RACISMO RELIGIOSO E OS OBSTÁCULOS
PARA O EXERCÍCIO DOS DIREITOS DAS
RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
73 Apesar de ser conceituada por Anibal Quijano, muitos dos seus elementos
característicos, porém não nomeados como tal, já eram encontrados nas obras de
Guerreiro Ramos, Clóvis Moura, Abdias do Nascimento, Beatriz Nascimento e
Lélia Gonzalez. Suas discussões estarão presentes neste artigo, também.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 221
76 Curiosamente, no ano em que a Lei n. 10.639 deveria começar a ser aplicada
efetivamente nas escolas.
232 | Nailah Neves Veleci
81 Ver mais em: BERTÚLIO, Dora Lúcia de Lima. Direito e relações raciais:
uma introdução crítica ao racismo. Dissertação (Mestrado em Direito),
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1989.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 241
83 Na 55º Legislatura do Congresso Nacional, de acordo com uma pesquisa feita
pelo Portal de Notícias G1, de 421 (quatrocentos e vinte e um) deputados dos
513 (quinhentos e treze) que compõem a Câmara dos Deputados, 390 (trezentos
e noventa) declararam seguir valores judaico-cristãos.
244 | Nailah Neves Veleci
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIA
O Ilê Axé Oya Sapatá, comandado por Pai Tico nos últimos 29
anos, tem 45 anos de existência na mesma localidade, nunca tendo
sido alvo de quaisquer intromissões. Em visita que fizemos por oca-
sião de investigação sobre o caso, em 2017, verificamos que Pai Tico
mantém forte vínculo com a comunidade, pois, durante a entrevista
que nos concedeu, várias vezes foi interrompido por filhos de santo
que vinham lhe pedir bênçãos. Esses vínculos são fortalecidos com
a afirmação de que as pessoas do bairro, membros ou não da casa,
costumam procurá-lo para práticas religioso-curativas, tais como
benzimentos, remédios naturais, banhos etc.
As características daquele território rompem com noções a que
as nossas sociedades hegemônicas estão habituadas. Como lembra
José Carlos G. dos Anjos (2006, p. 40), o terreiro, enquanto espaço
reterritorializado de matriz africana, relativiza a noção de proprie-
dade privada, algo que, para o conhecimento jurídico, comporta pou-
cas variações. Aquele espaço não é mais privado, mas também não
chega a ser essencialmente público: primeiro, porque esse território
tem sua sede física muitas vezes na própria residência do babalorixá
ou da yalorixá; depois, a própria família da liderança é indefinida en-
tre o “grupo corporado e uma rede aberta de relações interpessoais”.
O ilê do Pai Tico possui essas mesmas características, comuns,
aliás, à maioria dos terreiros no Maranhão. A moradia ocupa o me-
nor dos compartimentos, sendo o “barracão” a parte que toma quase
a totalidade do imóvel. Filhas e filhos de santo também se alojam
no local. Ao contrário do que o imaginário social cristão compõe em
termos de celebração litúrgica, o modo de funcionamento e organi-
zação de um terreiro não pode ser entendido da mesma forma que o
espaço físico de uma igreja cristã, e muito menos, como neste caso,
suas celebrações serem entendidas como “festas” de folclore popular.
Nas festividades do Divino Espírito Santo daquele ano, vizinhos
recém-chegados no bairro Anjo da Guarda87 passaram a reclamar do
mastro que tomava as calçadas e da “zoada” que provinha do terrei-
87 Segundo dados da Secretaria Extraordinária de Igualdade Racial (SEIR),
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 261
DANÇA DE TAMBOR
88 “Embora não tenha sido processada por ser fundadora de uma religião afro-
brasileira ou de um terreiro, nos autos do processo há referência – nas reuniões
por ela realizadas – à dança, ao canto (às vezes em língua incompreensível) e a
transes com entidades espirituais (como Rei Sebastião)” (FERRETI, 2015, p. 17).
Os autos do referido processo podem ser encontrados, na íntegra, reproduzidos
no trabalho organizado pela antropóloga Mundicarmo Ferreti (2004), Pajelança
no Maranhão no século XIX: o processo de Amelia Rosa.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 263
Pedem-nos que, para o abuso, chammemos a attenção da aucto-
ridade competente, pois, se é justo e natural que se divirtam
ou brinquem e dansem, é de rigoroso dever procurarem logar
afastado, onde não possam en commodar, e não ali que é fre-
quentado e tem, nas proximidades, muitas famílias [...]. (DANÇA,
1889, apud FERRETI, 2015, p. 18). (Grifou-se).
[...] quando chego lá descubro a causa pela qual fui chamado, uma
vizinha nova com menos de 01 ano de moradia havia me de-
nunciado por barulho, “zoada”, ela relatava que minha casa era
muito barulho que estávamos incomodando muito [...]. (MA-
RANHÃO, 2016b, s/n). (Grifou-se).
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 269
92 Verificamos que, neste ponto, a discussão extravasa a questão dos terreiros.
Os recursos oriundos dessa arrecadação, por disposição legal, são, no Maranhão,
destinados ao Fundo Especial de Segurança Pública – FESP. Porém, o Ministério
Público do Maranhão, no ano de 2011, recomendou em dois municípios
maranhenses que o recolhimento desses valores se desse por meio de Documento
de arrecadação de Receitas Estaduais (DARE), pois havia a informação de que,
nessas localidades, os valores eram entregues diretamente à autoridade policial.
No mesmo sentido, em 2018, o Ministério Público do Amapá representou à PGR
pela inconstitucionalidade de lei local de mesmo teor, após apuração de que as
cobranças são feitas por agentes da polícia civil diretamente a comerciantes
e donos de bares. O julgamento da ADPF n. 473 lançará novas luzes sobre a
matéria.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 275
modo de criar, fazer e viver, como diz o art. 216, II, da Constituição
Federal.
da cosmologia iorubá, “kosi ewé, kosi òrisà” (“sem folha não há orixá”)
(BRASIL, 2016b, p. 18), remete à noção de inseparabilidade da di-
mensão do sagrado das outras dimensões da vida da pessoa e da co-
munidade, pois os recursos naturais são espaços de mediação entre o
material e outras manifestações de vida, entre diferentes indivíduos
e diferentes naturezas nas significações das cosmologias de matriz
africana.
Há, aqui, uma relação extrapatrimonial que diz respeito a apro-
priações simbólicas, elemento ignorado pela Secretaria de Seguran-
ça Pública do Maranhão, em inobservância do art. 3º, I, do Decreto
Federal n. 6.040/07, que preceitua povos e comunidades tradicionais
como aqueles que ocupam e usam territórios e recursos naturais
como “condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, an-
cestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas
gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007). Também o
decreto estabelece conceitualmente que territórios tradicionais são
“os espaços necessários a reprodução cultural, social e econômica
dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de for-
ma permanente ou temporária”.
O segundo ponto a se considerar é a limitação do horário de cul-
to (genericamente “toque do tambor”) até as 02h00. Como dissemos
neste artigo, a Lei Municipal n. 6.287/17, de São Luís, estabelece
limites (ao que nos parece aplicáveis a quaisquer e todas as manifes-
tações religiosas) quanto à emissão de sons que ultrapassem o nível
de decibéis da NBR 10.152 (SÃO LUÍS, 2018), mas não estabelece
limitação a horário de cultos e demais manifestações religiosas. So-
bre a pertinência da lei do silêncio e a colisão com direitos funda-
mentais de manifestações religiosas, seria um interessante ponto de
investigação em outro trabalho.
Agora, quanto à limitação do horário de culto, teria competência
formal e material o Secretário de Segurança Pública para editar tais
regramentos? Em nossa avaliação, não. Não apenas porque essa ma-
téria pertence à municipalidade, mas também porque a Convenção
n. 169, aplicada no Brasil por força do Decreto Federal n. 5.051/04,
estabelece que quaisquer iniciativas adotadas pelos governos deve
278 | Jorge Alberto Mendes Serejo
5 CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS
como nação. Daí porque se trata de uma racionalidade que Silvio Al-
meida (2018), acertadamente, qualifica como “racismo estrutural”.
Essa racionalidade, entre nós, a colonialidade, institui codifi-
cações que explicam porque o caso do Pai Tico é emblemático. O
babalorixá sofreu uma sequência de violências: dos vizinhos, dos
agentes do sistema de segurança e de justiça, e da administração pú-
blica municipal e estadual. Demonstramos, a partir desse caso, que
a racionalidade que destinou, aos povos de terreiro e aos povos de
matriz africana em geral, posições distintas na órbita das liberdades
e igualdades jurídico-formais, levou a distorções na prática adminis-
trativa e forense.
Entendemos que o caso aqui apresentado não se isola de demais
experiências pelo Brasil afora. Ao contrário, atualiza a necessária
discussão sobre violência social e institucional, e sobre a exigên-
cia de taxas policiais para a realização de atividades litúrgicas, bem
como o debate sobre a noção de “perturbação do sossego” envol-
vendo os batuques que rasgam as noites do país desde os tempos da
colônia.
Ao que nos parece, o caso do Pai Tico serviu localmente como
mote para impulsionar os povos e comunidades de terreiro de São
Luís a retomarem os espaços de articulação político-institucionais
para postular o reconhecimento da sua existência e dos direitos le-
galmente assegurados. A reação à Portaria n. 620/18 mostrou a vi-
talidade dessas unidades de mobilização, cujos desdobramentos ve-
rificamos na criação de mesas de diálogo com o governo do Estado e,
mais recentemente, em 2019, na mediação com o Núcleo de Direitos
Humanos da Defensoria Pública estadual para a criação de protoco-
lo interinstitucional junto ao governo estadual, visando atender às
especificidades dos modos de vida tradicionais do agrupamento em
termos de segurança, saúde, educação, assistência social e direitos
humanos. Vemos esta como uma importante dinâmica de trabalho,
pois a criação de protocolos formais dota povos e comunidades de
terreiro de documentos exigíveis em caso de descumprimento.
Retomamos, aqui, a noção inicial do navio como um sistema mi-
cropolítico em constante movimento, de Paul Gilroy, para refletir
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 281
http://www.cchla.ufpb.br/caos/n14/7Pol%C3%ADticas%20de%20
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combate à poluição sonora no município de São Luís, os sons urbanos
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cria a licença para utilização sonora, e dá outras providências. Diário
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SHIRAISHI NETO, Joaquim. Direitos dos povos e das comunidades
tradicionais no Brasil: declarações, convenções internacionais e
dispositivos jurídicos definidores de uma política nacional. Manaus:
UEA, 2007.
10
FOGO CONTRA
SUBALTERNIZADOS/AS: COMUNIDADES
AFRO-BRASILEIRAS INCENDIADAS
1 “QUEBRA DE XANGÔ”
Xangô”. Cabe ressaltar que Xangô é uma das nomeações das reli-
giões afro-brasileiras em Alagoas.
Diante disso, em um ato de resistência, os/as religiosos/as que
não se mudaram e permaneceram em Alagoas começaram a “Rezar
Xangô Baixo”. Esse foi o tempo do “Xangô Rezado Baixo”, no qual
os tambores se calaram e as cantigas e rezas foram cantaroladas,
coadunadas com as palmas das mãos.
A “Quebra de Xangô” ocorreu por causa de disputas políticas
pelo governo do Alagoas. De um lado estava Euclides Vieira Malta
e, do outro, Clodoaldo da Fonseca, unido à Liga dos Republicanos
Combatentes. A oposição passou a atacar Euclides Vieira Malta com
o argumento malicioso de ele era afro-religioso. Diziam que tinha,
como conselheira, Tia Marcelina, prestigiada mãe de santo que foi
morta durante a “Quebra de Xangô” (RAFAEL, 2004; 2010). Em
2016, foi criado o Prêmio Tia Marcelina, uma iniciativa do Governo
do Estado, com o objetivo de prestar homenagens a expoentes que
obram e obraram nas lutas antirracistas em Alagoas.
“Iná Ke J´Oba”, a frase que nos toa como epígrafe no começo
desta parte do texto, significa, para os/as religiosos/as afro-bra-
sileiros/as, “O fogo não queima seu Rei”, uma frase consagrada a
Xangô – divindade dos trovões, pedras e de tudo que é quente. Tal
referência nos serve, aqui, para lembrar que não há fogo que destrua
“Xangô” – seja a divindade, seja a religiosidade alagoana –, pois ele
pode até mesmo gostar e dançar sobre as cinzas.
Se, um, dia o “Xangô [foi] Rezado Baixo”, hoje, de melhor ma-
neira, “Xangô [é] Rezado Alto”. Exemplo disso é o projeto “Xangô
Rezado Alto”, da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), que
suscita ações antirracistas, sobretudo no âmbito do antirracismo re-
ligioso. Teotonio Vilela Filho, então governador de Alagoas, no dia
01 de fevereiro de 2012, cem anos depois da “Quebra de Xangô”,
assinou um Pedido de Perdão Oficial do Governo de Alagoas aos
povos de terreiros, pelas barbaridades que marcaram o dia 1º de fe-
vereiro de 1912, o “Dia do Quebra Quebra”. No ato, houve cortejos
que passaram por diversos locais – Praça D. Pedro II, rua do Sol,
290 | Maurício dos Santos
2 MULHERES EM CHAMAS
3 BARRACOS E BARRACÕES
4 INCONCLUSÃO
Assim, como não falar de Fahrenheit 451, escrito por Ray Bradu-
bury (2012) em 1953, e considerado um marco da literatura de fic-
ção científica? Trata-se de um livro político, uma distopia e/ou uma
anti-utopia, que descreve uma sociedade em que os livros e a leitura
estão proibidos e em que os/as bombeiros/as são incumbidos/as de
incinerar toda e qualquer literatura a uma temperatura equivalente
a 233 graus Celsius ou 451 Fahrenheit. Entre a ficção científica e a
realidade brasileira, estão os governos que oprimem a produção de
conhecimento ou deixam definharem suas instituições e sujeitos/
as; ondas de neo-conservadorismo com forte incitação religiosa ao
racismo religioso e ao epistemicídio; o genocídio da população ne-
gra no “abrir fogo” das armas policiais e a própria necropolítica da
pandemia que seleciona quem vive e quem morre. Curiosamente,
250 e 260 graus Celsius são equivalentes a 482 e 500 Fahrenheit,
temperaturas nas quais a madeira e o concreto – essencialmente os
materiais com que são construídos os barracos e os barracões – in-
cendeiam-se. Entre 2013 e 2019, não à toa, foram noticiados pelo
menos 16 (dezesseis) terreiros queimados – como papel, como cor-
pos condenados – em todo Brasil.
Mesmo assim, convém lembrar que “quem queima a casa dos/
as outros/as também se queima”, enquanto Xangô dança sobre as
brasas e cinzas.
REFERÊNCIAS
100 mil habitantes teve queda de 12% para os não-negros, entre os negros houve
aumento de 18,2%. A letalidade das pessoas negras vem aumentando e isto
exige políticas com foco na superação das desigualdades raciais.” (ref. Colocar na
bibliografia final http://vidasnegras.nacoesunidas.org/)
316 | Thiago Hoshino & Vera Chueiri
a vida espiritual (o honko, quarto iniciático), e onde se deposita a
comida que irá gerar novas formas de vida energética. Com efeito,
segundo a cosmovisão do Candomblé, tudo come, comem os altares
para que sejam instituídos, comem, dessa forma, as divindades, co-
mem os objetos rituais, come a cabeça que é a vasilha da identidade
e morada da divindade, comem os lugares centrais do templo, co-
mem as pessoas na mesa com as divindades, comem as doenças para
que estas não comam o paciente. Nesse quadro, alimentos, animais
e pessoas, participam de uma cadeia de sentidos baseada na nutrição
biológica e espiritual, que produz união, ordem cósmica e sentidos
sociológicos. (DIAS, 2019, p. 7).
A proteção deve ser ainda mais forte, como exige o texto consti-
tucional, para o caso da cultura afro-brasileira, não porque seja
um primus inter pares, mas porque sua estigmatização, fruto de um
preconceito estrutural – como, aliás, já reconheceu esta Corte (ADC
41, Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, DJe 16.08.2017) –, está a me-
recer especial atenção do Estado. (Min. Luiz Edson Fachin).
Esta questão que hoje é trazida à baila versa exatamente sobre pre-
conceito religioso, o que é mais dramático, um preconceito religioso
que cresce a casa cada dia. Nos últimos 6 meses, a imprensa oficial
noticia que mais de 200 casos de intolerância religiosa contra as
religiões de matriz africana foram praticados. Mais recentemente
foram incendiadas casas que praticavam essas religiões de matriz
africana, de sorte que esse julgamento é um momento ímpar, porque
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 325
é preciso dar um basta a esta situação e este basta virá pela decisão
da Suprema Corte deste país. (Min. Luiz Fux).122
dado ou uma norma posta, mas como questão num mundo que não se
secularizou.123
Ao mesmo tempo em que é imperativo voltar a refletir sobre
as interações Estado-religião ou, dito de outro modo, sobre as for-
mas pelas quais as religiões se fazem presentes no e pertencentes
ao espaço público (GIUMBELLI, 2008), também é preciso situar o
constitucionalismo. Parte do projeto de constituição radical124 como
abertura, potência e processo que temos empreendido, diz respeito
às constituições radicadas, isto é, à necessidade de reposicionar as
práticas e teorias constitucionais não apenas numa perspectiva la-
tino-americana, mas igualmente na geopolítica do Atlântico Negro
enquanto modernidade alternativa. Traduzindo coverianamente:
cambiar o registro narrativo do constitucionalismo. A Revolução
Haitiana e a Constituição de 1805 a que deu vida são exemplos de
experiências radicadoras e radicalizadoras – no caso, radicadoras
e radicalizadoras dos ideais de emancipação iluministas, refinados
com os seus próprios. Ou seja, as(os) haitianas(os) foram mais revo-
lucionárias/os que as(os) revolucionárias(os) francesas(es), rompen-
do a filtragem colonial da autoria e invertendo seus sinais (BUCK-
-MORSS, 2009). O eloquente silêncio sobre ambas na história do
constitucionalismo comumente ensinada pelas escolas de direito é
índice da branquitude de suas narrativas:
REFERÊNCIAS
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Fabris, 1995.
12
MEMORIAIS DE AMICUS CURIAE NO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
N. 494601, APRESENTADO EM NOME
DA UNIÃO DE TENDAS DE UMBANDA
DE CANDOMBLÉ DO BRASIL E DO
CONSELHO ESTADUAL DA UMBANDA E
DOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS DO
RIO GRANDE DO SUL125
EXCELENTÍSSIMA SENHORA PRESIDENTE DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL - MINISTRA CÁRMEN LÚCIA
126 John Locke. Carta a Respeito da Tolerância. São Paulo: Instituição Brasileira
de Difusão Cultural, 1964, p. 12-20.
127 Aliomar Baleeiro. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Rio de
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336 | Hédio Silva Jr., Antônio Basílio Filho, Jáder Macedo Júnior & Demétrius Teixeira
128 Hédio Silva Jr., A Liberdade de Crença como Limite à Regulamentação do Ensino
Religioso, Tese de Doutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2003, p. 90.
Direitos dos Povos de Terreiro 2 | 337
129 Ibidem.
338 | Hédio Silva Jr., Antônio Basílio Filho, Jáder Macedo Júnior & Demétrius Teixeira
130 Jostein Gaarder, Victor Hellern e Henry Notaker. O Livro das Religiões.
Trad. Isa Mara Lando. Revisão técnica e apêndice Antônio Flávio Pierucci. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 26.
342 | Hédio Silva Jr., Antônio Basílio Filho, Jáder Macedo Júnior & Demétrius Teixeira
I - as formas de expressão;