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UERJ

Notas de Aula:

Equações Diferenciais Ordinárias


Sumário

1 Introdução 3
1.1 Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Equações Diferenciais Ordinárias 5


2.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Problema de Valor Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3 EDOs de primeira ordem 12


3.1 Existência e unicidade de soluções para EDOs de primeira ordem . . . . . . 12
3.2 EDOs de Variáveis Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.3 EDOs lineares de primeira ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2
Capı́tulo 1

Introdução

Equações diferenciais são ferramentas importantes para diversas áreas do conhecimento,


como Fı́sica, Quı́mica e Biologia. Com elas é possı́vel descrever e formular diversos fenômenos
fı́sicos numa linguagem matemática.

1.1 Modelos
Exemplo 1.1. (Lei de Resfriamento de Newton)

O problema da condução do calor tem um modelo simples, mas real, que trata da troca
de calor de um corpo com o meio ambiente, com as seguintes hipóteses:

1. A temperatura T = T (t) depende apenas do tempo t.

2. A temperatura do meio Tm é constante.

3. A lei de resfriamento de Newton: a taxa de variação temporal da temperatura T = T (t)


de um corpo é proporcional à diferença entre T e a temperatura Tm do ambiente em
volta. Isto é,
dT
= −k(T − Tm ), k > 0.
dt
dT
Se T > A, então dt
< 0, de modo que a temperatura T = T (t) é decrescente. Logo, se
a temperatura do corpo é maior que a do ambiente o corpo está resfriando.

3
dT
Se T < A, então dt
> 0, de modo que a temperatura T = T (t) é crescente. Logo, se a
temperatura do corpo é menor que a do ambiente o corpo está esquentando.
dT
Se T = A, então dt
= 0, de modo que a temperatura T é constante.

Exemplo 1.2. (Queda Livre de Corpos)

Considere o problema de um corpo que cai verticalmente sob a ação da gravidade.


Vamos supor que o corpo seja uma partı́cula de massa m, que o corpo despreza o ar, que o
movimento é regido pela Segunda Lei de Newton e que a gravidade é a única força atuante.
Seja y(t) a altura da partı́cula em relação ao solo no instante t.

Pela segunda lei de Newton, temos que

F = my ′′ (t) = −mg.

Integrando em ambos os lados, obtém-se


Z t Z t
′′
y (s) ds = − g ds ⇐⇒ y ′ (t) − y ′ (0) = −g(t − 0) ⇐⇒ y ′ (t) = y ′ (0) − gt
0 0

Integrando novamente em relação a t, obtemos


Z t Z t  2 t
′ ′ ′ s
y (s) ds = (y (0) − gs) ds ⇐⇒ y(t) − y(0) = y (0)t − g
0 0 2 0

Portanto,
1
y(t) = y(0) + y ′ (0)t − gt2
2
Capı́tulo 2

Equações Diferenciais Ordinárias

2.1 Definições
Recorde que
(a, b), (a, +∞), (−∞, b) e (−∞, +∞)

com a, b ∈ R e a < b, são chamados intervalos abertos de R.


Dada uma função y : I −→ R, em que I ⊆ R é um intervalo aberto, diferenciável pelo
menos até a ordem n, recorde que

(i) di y
y (x) = i (x), ∀ i = 1, , , , n.
dx

e
y (0) (x) = y(x).

Para as derivadas de ordem mais baixa será comum escrevermos

dy ′′ d2 y d3 y
y ′ (x) = , y (x) = 2 e y ′′′ (x) = .
dx dx dx3

Definição 2.1. Uma Equação Diferencial Ordinária (EDO) é uma equação envol-
vendo uma variável independente x ∈ R, uma variável dependente y e algumas de suas
derivadas y ′ , y ′′ , y ′′′ , ..., y (n) , n ∈ N.
d2 y
Por exemplo, as equações (x) + sen(x) = 0 e y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y são EDO’s.
dx2

5
Observação 2.1. Em geral, uma EDO pode ser escrita na forma implı́cita:

F (x, y(x), y ′ (x), y ′′′ (x), .., y (n) (x)) = 0, n ∈ N. (2.1)

Exemplo 2.1.

d2 y
1. A EDO (x)+sen(x) = 0 pode ser escrita na forma F (x, y ′′ ) = 0, onde F (x, y ′′ (x)) =
dx2
d2 y
(x) + sen(x).
dx2
2. A EDO y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y pode ser escrita na forma F (x, y, y ′ , y ′′ , y ′′′ ) = 0, onde
F (x, y, y ′ , y ′′ , y ′′′ ) = y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ − y.

Definição 2.2. A ordem de uma EDO é o máximo das ordens das derivadas presente na
equação.

Exemplo 2.2.

d2 y
1. (x) + sen(x) = 0 é de ordem 2.
dx2
2. y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y é uma EDO de ordem 3.

3. x(y ′ )3 − xy 5 = 1 é uma EDO de ordem 1.

4. A EDO em (2.1) é de ordem n.

Observação 2.2. Vamos supor que toda EDO de ordem n pode ser escrita na forma
explı́cita:
y (n) (x) = f (x, y(x), y ′ (x), y ′′ (x), ..., y (n−1) (x)), (2.2)

em que f é uma função real definida em algum conjunto aberto de Rn+1 . Isso evitará que a
EDO (2.1) represente mais de uma equação da forma (2.2). Por exemplo, a EDO (y ′ )2 = y

representa duas EDO’s, y ′ = ± y.

Exemplo 2.3.
A EDO de ordem 2
my ′′ + τ y ′ + ky = h(x)

pode ser escrita na forma:

F (x, y, y ′ , y ′′ ) = 0, onde F (x, y, y ′ , y ′′ ) = my ′′ + τ y ′ + ky − h(x)

e pode ser escrita na forma:


1
y ′′ = f (x, y, y ′ ), onde f (x, y, y ′ ) = (h(x) − τ y ′ − ky).
m
Esta edo descreve o oscilador harmônico amortecido, submetido a uma força h(x).

Definição 2.3. Seja y = Φ(x), com Φ : I ⊆ R −→ R onde I é um intervalo aberto, uma


função diferenciável pelo menos até a ordem n em I. Dizemos que Φ é uma solução da
EDO (2.2) se:

1. Para todo x ∈ I, o vetor (x, Φ(x), Φ′ (x), .., Φn−1 (x)) pertence ao domı́nio de f ;

2. Para todo x ∈ I, a função Φ satifaz a identidade (2.2), isto é,

Φn (x) = f (x, Φ(x), Φ′ (x), Φ′′ (x), ..., Φn−1 (x)), ∀x ∈ I.

Exemplo 2.4.

1. A função Φ(x) = e2x é uma solução da EDO y’=2y em R, pois, para todo x ∈ R,
tem-se Φ′ (x) = 2Φ(x).

2. As funções Φ1 (x) = sen(x) e Φ2 (x) = cos(x) são soluções da EDO y ′′ + y = 0 em R.

Observação 2.3. Note que as funções Φ(x) = ce2x e Φ(x) = c1 sen(x) + c2 cos(x), onde
c é uma constante real, também são soluções das EDO’s y ′ = 2y e y ′′ + y = 0 em R,
respectivamente.

Definição 2.4. Uma função y = Φc1 ,...,cn (x), com Φc1 ,...,cn : I ⊆ R −→ R onde I é um
intervalo aberto, dependendendo de n constantes arbitrárias c′i s indendependentes, é dita
ser uma solução geral da EDO de ordem n (2.2) em I se, para cada (c1 , ..., cn ) ∈ Rn em
que y = Φc1 ,...,cn (x) faça sentido, y = Φc1 ,...,cn (x) é uma solução da EDO (2.2) em I.
Observação 2.4.

1 .Na definição anterior, o termo independente significa que a solução geral da EDO
(2.2) não pode ser reduzida a uma expressão contendo menos que n constantes ar-
bitrárias.

2. Em geral, para evitarmos uma notação carregada, escreveremos apenas y = Φ(x) ao


invés de y = Φc1 ,...,cn (x).

Exemplo 2.5.
c
1. A função Φ(x) = x3 + é uma solução geral da EDO xy ′ + 3y = 6x3 em qualquer
x3
intervalo aberto I em que 0 ∈/ I, pois para qualquer c ∈ R, xΦ′ (x) + 3Φ(x) = 6x3 para
todo x ̸= 0.

2. A função Φ(x) = c1 x + c2 x3 é uma solução da EDO x2 y ′′ + 3y = 3xy ′ em R, pois, para


cada c ∈ R, x2 Φ′′ (x) + 3Φ(x) = 3xΦ′ (x).

3. A EDO |y| + |y ′ | = 0 não tem solução geral, pois Φ(x) = 0 é a sua única solução.

De modo análogo as definições 2.3 e 2.4, podemos definir solução implı́cita e solução
geral implı́cita da EDO (2.2).

Exemplo 2.6.

1. A equação x2 + y 2 = 25 é uma solução implı́cita da EDO yy ′ = −x em (−5, 5).


√ √
2. A equação x2 + y 2 = c é uma solução geral implı́cita da EDO yy ′ = −x em (− c, c).

Definição 2.5. As soluções da EDO (2.2) que podem ser deduzidas da solução geral atribuindo-
se às constantes arbitrárias valores reais são chamadas soluções particulares da EDO
(2.2).

Exemplo 2.7.

Vimos que Φ(x) = c1 x + c2 x3 é a solução geral da EDO x2 y ′′ + 3y = 3xy ′ em R. Assim,


a função Φ(x) = x3 é uma solução particular da EDO x2 y ′′ + 3y = 3xy ′ em R, pois pode ser
deduzida da solução geral considerando-se c1 = 0 e c2 = 1.
Observação 2.5. Nem todas as soluções de certas EDO’s podem ser deduzidas da solução
(x2 + c)
geral. Por exemplo, a função Φ(x) = + 1, com c > 0, é a solução geral da EDO
√ 4
y ′ = 2x y − 1 em R. Porém φ(x) = 1 é solução da EDO em R, mas ela não pode ser
deduzida da solução geral. Esse tipo de solução é chamada solução singular da EDO
(2.2).

Definição 2.6. Seja y = Φ(x) uma solução de uma EDO em um intervalo aberto I ⊆ R.
A curva α : I −→ R2 definida por α(x) = (x, Φ(x)) é chamada curva integral.

Há diferenças entre o gráfico da função Φ e a curva integral de uma edo. Considere a
1
função Φ(x) = . Esta função é uma solução da EDO y +xy ′ = 0 em cada um dos intervalos
x
1
abertos (−∞, 0) e (0, ∞). Contudo, o gráfico de Φ não é uma curva integral, pois Φ(x) =
x

não é uma solução da EDO y + xy = 0 em (−∞, 0) ∪ (0, +∞), pois (−∞, 0) ∪ (0, +∞) não
é um intervalo aberto.

2.2 Problema de Valor Inicial


Definição 2.7. Um sistema formado por uma edo de ordem n e pelas n condições comple-
mentares
y(x0 ) = y0 , y ′ (x0 ) = y1 , y ′′ (x0 ) = y2 , ... , y (n−1) (x0 ) = yn−1

em que x0 e y0 , y1 , ..., yn−1 são constantes reais dadas, é chamado problema de valor
inicial (PVI) ou problema de Cauchy. As condições complementares são chamadas
condicões iniciais.

Observação 2.6. Em geral, um problema de valor inicial para a EDO de ordem n se escreve
na forma 


 y (n) = f (x, y, y ′ , y ′′ , ..., y (n−1) )


y(x0 ) = y0






 y ′ (x ) = y

0 1
′′


 y (x0 ) = y2





 ...


 y (n−1) (x ) = y .

0 n−1
Por exemplo, 
 
 x2 y ′′ + 3y = 3xy ′
 y ′ = x2 

e y(3) = 0
 y(0) = 1 


 y(3) = 2021

Definição 2.8. Uma solução do problema de Valor Inicial em um intervalo aberto


I, com x0 ∈ I, é uma solução y = Φ(x) da EDO de ordem n em I que satisfaz as condições
complementares, isto é,

Φ(x0 ) = y0 , Φ′ (x0 ) = y1 , ..., Φ(n−1) (x0 ) = yn−1 .

Exemplo 2.8. Considere o PVI 


 y ′ = x2
 y(1) = 1

x3
A função Φ(x) = + c é a solução geral da EDO y ′ = x2 em R. Impondo a condição
3
1 2
inicial, temos Φ(1) = 1. Logo + c = 1 e então c = . Dessa forma,
3 3
x3 2
Φ(x) = +
3 3

é a solução do PVI em R.

Exemplo 2.9. Considere o PVI





 x2 y ′′ + 3y = 3xy ′

y(1) = 3 .


 y ′ (1) = 4

A função Φ(x) = c1 x + c2 x3 é a solução geral da EDO x2 y ′′ + 4y = 3xy ′ em R. Derivando


esta função temos Φ′ (x) = c1 + 3c2 x2 . Impondo as condições iniciais, temos Φ(1) = 3 e
Φ′ (1) = 4. Logo, 
 c +c =3
1 2
 c + 3c = 4
1 2

Resolvendo este sistema, obtemos c1 = 5/2 e c2 = 1/2.


Observação 2.7. Nem toda PVI possui solução. Por exemplo, considere a EDO xy ′ − 3y +
3 = 0, cuja solução geral é a função Φ(x) = 1 + cx3 . O PVI

 xy ′ − 3y + 3 = 0
 y(0) = 0

não tem solução, pois Φ(0) = 1 seja qual for a constante c ∈ R.


Capı́tulo 3

EDOs de primeira ordem

3.1 Existência e unicidade de soluções para EDOs de


primeira ordem
Teorema 3.1. Sejam f : Ω −→ R uma função contı́nua e Ω ⊂ R2 tal que fy : Ω −→ R é
contı́nua. Então, para cada (x0 , y0 ) ∈ Ω, existem um intervalo aberto I, com x0 ∈ I, e uma
função y = Φ(x), com (x, Φ(x)) ∈ Ω para todo x ∈ I, que é solução do PVI

 y ′ = f (x, y)
 y(x ) = y
0 0

em I. Além disso, se y = ψ(x) for uma outra solução do PVI em I, então Φ(x) = Ψ(x)
para todo x ∈ I.

Exemplo 3.2.

Considere o PVI 
 y ′ = p|y|
 y(0) = 0
p y
Note que f (x, y) = |y| é contı́nua em R2 , mas a função fy (x, y) = p não está
2|y| |y|
definida em (x, 0), com x ∈ R. A função nula Φ(x) = 0 é uma solução do PVI em R. Porém,

12
a função 
 1 x2 , se x ≥ 0

ψ(x) = 4
1
 − x2 se x < 0

4
é outra solução do PVI em R, com Φ(x) ̸= ψ(x) para todo x ̸= 0.

3.2 EDOs de Variáveis Separáveis


Exemplo 3.3. Encontre as soluções da EDO

y
y′ = − .
x

Solução:
Primeiro observe que Φ(x) = 0 é uma solução da EDO dada. Agora vamos procurar
soluções não constantes.
d y ′ (x)
Note que ln |y(x)| = . Então
dx y(x)

d y ′ (x) 1
ln |y(x)| = =− .
dx y(x) x

Integrando ambos os lados em relação a x, otemos:


Z Z
d 1
ln |y(x)|dx = − dx =⇒ ln |y(x)| = − ln |x| + c
dx x
=⇒ |y(x)| = e− ln |x|+c
−1
=⇒ |y(x)| = ec .eln |x|
ec
=⇒ |y(x)| =
|x|
c
=⇒ y(x) =
x
c
Então y(x) = é a solução geral da EDO em cada um dos intervalos (0, +∞) ou
x
(−∞, 0). Como Φ(x) = 0 é uma solução que não pode ser deduzida da solução geral, segue
que ela é uma solução singular.
Definição 3.1. Uma EDO de primeira ordem que pode ser escrita na forma

y ′ = f (x)g(y) (3.1)

em que f e g são funções reais, é chamada de EDO separável

Por exemplo,
x2 ex
y′ = , 9yy ′ + 7x = 0, y ′ = sen(x)cos(y) e y ′ =
y y2 + 1
são EDOs separáveis.

Observação 3.1. Se a é tal que g(a) = 0, então a função y(x) = a é solução da EDO (3.1)

Obtenção de Soluções não constantes:


Supomos que f e g são funções contı́nuas em intervalos abertos If e Ig , respectivamente.
Seja y = y(x) solução da EDO em I, tal que x ∈ I, y(x) ∈ Ig .
1. Reescrevemos a equação, ”separando as varáveis”:
1 dy
= f (x).
g(y) dx
2. Se G for uma primitiva de 1/g, então
d dy 1 dy
(G(y(x))) = G′ (y(x)). = ,
dx dx g(y) dx
portanto
d
(G(y(x))) = f (x).
dx
3. Integrando ambos os lados em relação a x, obtemos:
Z Z Z
d
(G(y(x)))dx = f (x)dx =⇒ G(y(x)) = f (x)dx.
dx
Então a solução geral da EDO é dada de forma implı́cita:

G(y(x)) = F (x) + c,

onde F é uma primitiva de f em If


4. Alternativamente, podemos escrever
Z Z
1
dy = f (x)dx
g(y)
(1 + x)y
Exemplo 3.4. Resolva a EDO y ′ = −
(1 − y)x

ln |y| − y = − ln |x| − x + c

é a solução geral implı́cita da EDO.


sen(x)
Exemplo 3.5. Resolva a EDO y ′ = −
2y

y 2 = cos(x) + c

é a solução geral implı́cita da EDO.

Exemplo 3.6. Resolva o pvI


 y′ = x

y
y(3) = 2

e determine um intervalo aberto em que a solução existe.

Solução:

y 2 = x2 + c

é a solução geral da EDO. Para x = 3 e y = 2, vê que 4 = 9 + c, isto é, c = −5. Substituindo
na equação, obtemos
y 2 = x2 − 5.

As funções
√ √
Φ(x) = x2 − 5 e ψ(x) = − x2 − 5
x √ √
são ambas soluões da EDO y = em I = ( 5, +∞), mas apenas Φ(x) = x2 − 5 é a
y
solução do PVI em I, pois ψ(3) = −2 ̸= 2.
3.3 EDOs lineares de primeira ordem
Definição 3.2. Uma EDO que pode ser escrita na forma

y ′ + p(x)y = q(x), (3.2)

em que p e q são funções reais, é chamada EDO linear de primeira ordem.

Por exemplo,

1
y ′ + (x2 + 1)y = 2x + 3, y ′ = sen(x)y − ex−1 , y ′ = −3xy e y ′ + xy =
x

são EDOs lineares de primeira ordem.

Exemplo 3.7. Encontre a solução geral da EDO y ′ = −3x2 .

Solução:
Integrando ambos os lados da equação, obtemos:
Z Z

y (x)dx = −3x2 dx =⇒ y(x) = −x3 + c.

Esta EDO foi resolvida facilmente porque p(x) = 0. Porém, de maneira geral, com a
ajuda de um fator integrante apropriado, há uma técnica padrão para resolver as chamadas
edo’s de primeira ordem lineares.

Exemplo 3.8. Encontre a solução geral da EDO y ′ + xy = −3x2 .

Seja y = ϕ(x) a solução da EDO dada. Vamos procurar um fator integrante que seja da
forma µ(x). Multiplicamos a EDO dada por este fator, então

y ′ µ(x) + xyµ(x) = −3xµ(x).

Gostarı́amos que o lado esquerdo fosse a derivada do produto yµ(x). Ou seja,

d
y ′ µ(x) + xyµ(x) = (yµ(x)) = y ′ µ(x) + yµ′ (x)
dx

Comparando termo a termo, o fator integrante, caso exista, deve satisfazer:

µ′ (x) = xµ(x)
d µ′ (x)
Sabemos que [ln(|µ(x)|)] = . Então
dx µ(x)
d
[ln(|µ(x)|)] = x,
dx
donde, integrando em ambos os lados com relação a x, obtemos
x2 2 2
ln |µ(x)| = + c =⇒ |µ(x)| = ex /2+c = ec .ex /2 .
2
2 /2
Portanto, µ(x) = cex . Como estamos multiplicando toda a equação por µ(x), vamos
2 /2
considerar apenas µ(x) = ex .
Por outro lado, da igualdade
d
(yµ(x)) = −3xµ(x),
dx
segue que
Z 
1 2
y = −3x µ(x) dx + c
µ(x)
Z 
−x2 /2 x2 /2
= e −3x.e dx + c
2 /2
h 2 /2
i
= e−x −3ex +c

ou seja, a solução geral da EDO linear dada é dada por


2 /2
ϕ(x) = ce−x − 3,

em R.
Solução geral de uma EDO linear de primeira ordem:
Se as funções p e q forem contı́nuas num intervalo aberto I, então a função
Z 
1
Φ(x) = µ(x)q(x) dx + c ,
µ(x)
R
onde µ(x) = e p(x) dx
, é a solução geral da EDO y ′ + p(x)y = q(x).

Observação 3.2. Cuidado, as fórmulas nessa seção foram feitas para EDOs lineares de
primeira ordem na forma y + p(x)y = q(x), chamada de forma padrão. Por exemplo, para
resolver a EDO
xy ′ − x2 y + 3x5 = 0,
antes devemos colocá-la na forma padrão

y − xy = 3x4 .

Feito isso, vê-se que p(x) = x e que q(x) = 3x4 .

Exemplo 3.9. Encontre a solução geral da EDO y ′ − tg(x)y = cos(x) e determine um


intervalo em que ela existe.

Solução:
Note que as funções p(x) = −tg(x) e q(x) = cos(x) são, em particular contı́nuas no
 π π
intervalo aberto − ,
2 2
Definição 3.3. A EDO (3.2) com q(x) = 0, isto é, y ′ +p(x)y = 0, é chamada EDO linear
homogênea de primeira ordem.

Solução geral de uma EDO linear homogênea de primeira ordem:


Se a função p for contı́nua num intervalo aberto I, então a função
R
Φ(x) = ce− p(x) dx
,

é a solução geral da EDO y ′ + p(x)y = 0. em I.

Exemplo 3.10. Determine a solução geral da EDO y ′ = λy em que λ é uma constante


real.

Solução:
Note que p(x) = −λ e q(x) = 0 são ambas contı́nuas em R. Como
Z Z
p(x)dx = −λdx = −x + c,

segue que Φ(x) = ceλx é a solução geral da EDO y ′ = λy em R.

Naturalmente, para quaisquer x0 ∈ I e y0 ∈ R, a solução geral da EDO (3.2) em I nos


permite obter a solução do PVI

 y ′ + p(x)y = q(x)
 y(x ) = y
0 0
em I. Contudo, com o mesmo raciocı́nio de antes, podemos obter uma forma explı́cita para
solução.
Considere o seguinte exemplo.

Exemplo 3.11. Resolva o PVI



 cos(y)y ′ + 2xsen(y) = −2x
 y(−1) = 0

Solução:
A EDO dada não é linear, mas é possı́vel transformá-la em uma EDO linear. COnsidere
a mudança de variável z = sen(y). Ao derivar a função z = sen(y) em relação a x, obtemos

z ′ = cos(y)y ′ .

Como z(−1) = sen(y(−1)) = sen(0) = 0, temos o PVI auxiliar



 z ′ + 2xz = −2x
 z(−1) = 0,

em que z ′ + 2xz = −2x é uma EDO linear de primeira ordem. Note que p(x) = 2x e
q(x) = −2x são contı́nuas em R. Tem-se
Z x Z x
p(t) dt = 2t dt = x2 − 1
−1 −1
 Rx 
2 −1 p(t) dt
e assim µ(x) = ex =e −1 . Portanto,

d
(zµ(x)) = z ′ µ(x) + 2xzµ(x) = −2xµ(x)(= q(x)µ(x)).
dx

Integrando, Z x Z x
d 2 −1
(z(t)µ(t)) dt = −2tet dt
−1 dt −1

donde
2 −1
z(x)µ(x) − z(−1)µ(−1) = −ex + 1,

Utiizando a condição inicial, z(−1) = 0, segue que a função

1 2 1
z(x) = [ex + 1] = −1 + x2 −1
ex2 −1 e
é a solução do PVI auxiliar em R.
Note que
z = sen(y) ⇐⇒ y(x) = arcsen(z(x))

A função arcsen(s) só está bem definida para valores s ∈ [−1, 1]. Como queremos que o
problema esteja bem definido para algum intervalo aberto de R contendo o ponto x = −1,
temos que

1 1
−1 < z(x) < 1 ⇐⇒ −1 < −1 + <1 ⇐⇒ 0< <2
ex2 −1 ex2 −1
2 −1)
⇐⇒ 0 < e−(x <2 ⇐⇒ −(x2 − 1) < ln(2)

⇐⇒ x2 − 1 > − ln(2) ⇐⇒ x2 > 1 − ln(2).

Então, como queremos que a função z(x) esteja bem definida para x = −1, temos que
p
−1 < z(x) < 1 ⇐⇒ x ∈ (−∞, − 1 − ln(2))

Então, a função  
1
y(x) = arcsen 1 −
ex2 −1
é a solução do PVI 
 cos(y)y ′ + 2xsen(y) = −2x
 y(−1) = 0
p
em (−∞, − 1 − ln(2)).

Solução geral de uma PVI com EDO linear de primeira ordem:


Se as funções p e q forem contı́nuas num intervalo aberto I, com x0 ∈ I, então a função
Z x 
1
Φ(x) = µ(t)q(t) dt + y0 ,
µ(x) x0
Rx
p(t)dt
com µ(x) = e x0
, é a solução do PVI em I.

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