Notas de Aula
Notas de Aula
Notas de Aula
Notas de Aula:
1 Introdução 3
1.1 Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2
Capı́tulo 1
Introdução
1.1 Modelos
Exemplo 1.1. (Lei de Resfriamento de Newton)
O problema da condução do calor tem um modelo simples, mas real, que trata da troca
de calor de um corpo com o meio ambiente, com as seguintes hipóteses:
3
dT
Se T < A, então dt
> 0, de modo que a temperatura T = T (t) é crescente. Logo, se a
temperatura do corpo é menor que a do ambiente o corpo está esquentando.
dT
Se T = A, então dt
= 0, de modo que a temperatura T é constante.
F = my ′′ (t) = −mg.
Portanto,
1
y(t) = y(0) + y ′ (0)t − gt2
2
Capı́tulo 2
2.1 Definições
Recorde que
(a, b), (a, +∞), (−∞, b) e (−∞, +∞)
(i) di y
y (x) = i (x), ∀ i = 1, , , , n.
dx
e
y (0) (x) = y(x).
dy ′′ d2 y d3 y
y ′ (x) = , y (x) = 2 e y ′′′ (x) = .
dx dx dx3
Definição 2.1. Uma Equação Diferencial Ordinária (EDO) é uma equação envol-
vendo uma variável independente x ∈ R, uma variável dependente y e algumas de suas
derivadas y ′ , y ′′ , y ′′′ , ..., y (n) , n ∈ N.
d2 y
Por exemplo, as equações (x) + sen(x) = 0 e y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y são EDO’s.
dx2
5
Observação 2.1. Em geral, uma EDO pode ser escrita na forma implı́cita:
Exemplo 2.1.
d2 y
1. A EDO (x)+sen(x) = 0 pode ser escrita na forma F (x, y ′′ ) = 0, onde F (x, y ′′ (x)) =
dx2
d2 y
(x) + sen(x).
dx2
2. A EDO y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y pode ser escrita na forma F (x, y, y ′ , y ′′ , y ′′′ ) = 0, onde
F (x, y, y ′ , y ′′ , y ′′′ ) = y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ − y.
Definição 2.2. A ordem de uma EDO é o máximo das ordens das derivadas presente na
equação.
Exemplo 2.2.
d2 y
1. (x) + sen(x) = 0 é de ordem 2.
dx2
2. y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y é uma EDO de ordem 3.
Observação 2.2. Vamos supor que toda EDO de ordem n pode ser escrita na forma
explı́cita:
y (n) (x) = f (x, y(x), y ′ (x), y ′′ (x), ..., y (n−1) (x)), (2.2)
em que f é uma função real definida em algum conjunto aberto de Rn+1 . Isso evitará que a
EDO (2.1) represente mais de uma equação da forma (2.2). Por exemplo, a EDO (y ′ )2 = y
√
representa duas EDO’s, y ′ = ± y.
Exemplo 2.3.
A EDO de ordem 2
my ′′ + τ y ′ + ky = h(x)
1. Para todo x ∈ I, o vetor (x, Φ(x), Φ′ (x), .., Φn−1 (x)) pertence ao domı́nio de f ;
Exemplo 2.4.
1. A função Φ(x) = e2x é uma solução da EDO y’=2y em R, pois, para todo x ∈ R,
tem-se Φ′ (x) = 2Φ(x).
Observação 2.3. Note que as funções Φ(x) = ce2x e Φ(x) = c1 sen(x) + c2 cos(x), onde
c é uma constante real, também são soluções das EDO’s y ′ = 2y e y ′′ + y = 0 em R,
respectivamente.
Definição 2.4. Uma função y = Φc1 ,...,cn (x), com Φc1 ,...,cn : I ⊆ R −→ R onde I é um
intervalo aberto, dependendendo de n constantes arbitrárias c′i s indendependentes, é dita
ser uma solução geral da EDO de ordem n (2.2) em I se, para cada (c1 , ..., cn ) ∈ Rn em
que y = Φc1 ,...,cn (x) faça sentido, y = Φc1 ,...,cn (x) é uma solução da EDO (2.2) em I.
Observação 2.4.
1 .Na definição anterior, o termo independente significa que a solução geral da EDO
(2.2) não pode ser reduzida a uma expressão contendo menos que n constantes ar-
bitrárias.
Exemplo 2.5.
c
1. A função Φ(x) = x3 + é uma solução geral da EDO xy ′ + 3y = 6x3 em qualquer
x3
intervalo aberto I em que 0 ∈/ I, pois para qualquer c ∈ R, xΦ′ (x) + 3Φ(x) = 6x3 para
todo x ̸= 0.
3. A EDO |y| + |y ′ | = 0 não tem solução geral, pois Φ(x) = 0 é a sua única solução.
De modo análogo as definições 2.3 e 2.4, podemos definir solução implı́cita e solução
geral implı́cita da EDO (2.2).
Exemplo 2.6.
Definição 2.5. As soluções da EDO (2.2) que podem ser deduzidas da solução geral atribuindo-
se às constantes arbitrárias valores reais são chamadas soluções particulares da EDO
(2.2).
Exemplo 2.7.
Definição 2.6. Seja y = Φ(x) uma solução de uma EDO em um intervalo aberto I ⊆ R.
A curva α : I −→ R2 definida por α(x) = (x, Φ(x)) é chamada curva integral.
Há diferenças entre o gráfico da função Φ e a curva integral de uma edo. Considere a
1
função Φ(x) = . Esta função é uma solução da EDO y +xy ′ = 0 em cada um dos intervalos
x
1
abertos (−∞, 0) e (0, ∞). Contudo, o gráfico de Φ não é uma curva integral, pois Φ(x) =
x
′
não é uma solução da EDO y + xy = 0 em (−∞, 0) ∪ (0, +∞), pois (−∞, 0) ∪ (0, +∞) não
é um intervalo aberto.
em que x0 e y0 , y1 , ..., yn−1 são constantes reais dadas, é chamado problema de valor
inicial (PVI) ou problema de Cauchy. As condições complementares são chamadas
condicões iniciais.
Observação 2.6. Em geral, um problema de valor inicial para a EDO de ordem n se escreve
na forma
y (n) = f (x, y, y ′ , y ′′ , ..., y (n−1) )
y(x0 ) = y0
y ′ (x ) = y
0 1
′′
y (x0 ) = y2
...
y (n−1) (x ) = y .
0 n−1
Por exemplo,
x2 y ′′ + 3y = 3xy ′
y ′ = x2
e y(3) = 0
y(0) = 1
y(3) = 2021
x3
A função Φ(x) = + c é a solução geral da EDO y ′ = x2 em R. Impondo a condição
3
1 2
inicial, temos Φ(1) = 1. Logo + c = 1 e então c = . Dessa forma,
3 3
x3 2
Φ(x) = +
3 3
é a solução do PVI em R.
em I. Além disso, se y = ψ(x) for uma outra solução do PVI em I, então Φ(x) = Ψ(x)
para todo x ∈ I.
Exemplo 3.2.
Considere o PVI
y ′ = p|y|
y(0) = 0
p y
Note que f (x, y) = |y| é contı́nua em R2 , mas a função fy (x, y) = p não está
2|y| |y|
definida em (x, 0), com x ∈ R. A função nula Φ(x) = 0 é uma solução do PVI em R. Porém,
12
a função
1 x2 , se x ≥ 0
ψ(x) = 4
1
− x2 se x < 0
4
é outra solução do PVI em R, com Φ(x) ̸= ψ(x) para todo x ̸= 0.
y
y′ = − .
x
Solução:
Primeiro observe que Φ(x) = 0 é uma solução da EDO dada. Agora vamos procurar
soluções não constantes.
d y ′ (x)
Note que ln |y(x)| = . Então
dx y(x)
d y ′ (x) 1
ln |y(x)| = =− .
dx y(x) x
y ′ = f (x)g(y) (3.1)
Por exemplo,
x2 ex
y′ = , 9yy ′ + 7x = 0, y ′ = sen(x)cos(y) e y ′ =
y y2 + 1
são EDOs separáveis.
Observação 3.1. Se a é tal que g(a) = 0, então a função y(x) = a é solução da EDO (3.1)
G(y(x)) = F (x) + c,
ln |y| − y = − ln |x| − x + c
y 2 = cos(x) + c
Solução:
y 2 = x2 + c
é a solução geral da EDO. Para x = 3 e y = 2, vê que 4 = 9 + c, isto é, c = −5. Substituindo
na equação, obtemos
y 2 = x2 − 5.
As funções
√ √
Φ(x) = x2 − 5 e ψ(x) = − x2 − 5
x √ √
são ambas soluões da EDO y = em I = ( 5, +∞), mas apenas Φ(x) = x2 − 5 é a
y
solução do PVI em I, pois ψ(3) = −2 ̸= 2.
3.3 EDOs lineares de primeira ordem
Definição 3.2. Uma EDO que pode ser escrita na forma
Por exemplo,
1
y ′ + (x2 + 1)y = 2x + 3, y ′ = sen(x)y − ex−1 , y ′ = −3xy e y ′ + xy =
x
Solução:
Integrando ambos os lados da equação, obtemos:
Z Z
′
y (x)dx = −3x2 dx =⇒ y(x) = −x3 + c.
Esta EDO foi resolvida facilmente porque p(x) = 0. Porém, de maneira geral, com a
ajuda de um fator integrante apropriado, há uma técnica padrão para resolver as chamadas
edo’s de primeira ordem lineares.
Seja y = ϕ(x) a solução da EDO dada. Vamos procurar um fator integrante que seja da
forma µ(x). Multiplicamos a EDO dada por este fator, então
d
y ′ µ(x) + xyµ(x) = (yµ(x)) = y ′ µ(x) + yµ′ (x)
dx
µ′ (x) = xµ(x)
d µ′ (x)
Sabemos que [ln(|µ(x)|)] = . Então
dx µ(x)
d
[ln(|µ(x)|)] = x,
dx
donde, integrando em ambos os lados com relação a x, obtemos
x2 2 2
ln |µ(x)| = + c =⇒ |µ(x)| = ex /2+c = ec .ex /2 .
2
2 /2
Portanto, µ(x) = cex . Como estamos multiplicando toda a equação por µ(x), vamos
2 /2
considerar apenas µ(x) = ex .
Por outro lado, da igualdade
d
(yµ(x)) = −3xµ(x),
dx
segue que
Z
1 2
y = −3x µ(x) dx + c
µ(x)
Z
−x2 /2 x2 /2
= e −3x.e dx + c
2 /2
h 2 /2
i
= e−x −3ex +c
em R.
Solução geral de uma EDO linear de primeira ordem:
Se as funções p e q forem contı́nuas num intervalo aberto I, então a função
Z
1
Φ(x) = µ(x)q(x) dx + c ,
µ(x)
R
onde µ(x) = e p(x) dx
, é a solução geral da EDO y ′ + p(x)y = q(x).
Observação 3.2. Cuidado, as fórmulas nessa seção foram feitas para EDOs lineares de
primeira ordem na forma y + p(x)y = q(x), chamada de forma padrão. Por exemplo, para
resolver a EDO
xy ′ − x2 y + 3x5 = 0,
antes devemos colocá-la na forma padrão
y − xy = 3x4 .
Solução:
Note que as funções p(x) = −tg(x) e q(x) = cos(x) são, em particular contı́nuas no
π π
intervalo aberto − ,
2 2
Definição 3.3. A EDO (3.2) com q(x) = 0, isto é, y ′ +p(x)y = 0, é chamada EDO linear
homogênea de primeira ordem.
Solução:
Note que p(x) = −λ e q(x) = 0 são ambas contı́nuas em R. Como
Z Z
p(x)dx = −λdx = −x + c,
Solução:
A EDO dada não é linear, mas é possı́vel transformá-la em uma EDO linear. COnsidere
a mudança de variável z = sen(y). Ao derivar a função z = sen(y) em relação a x, obtemos
z ′ = cos(y)y ′ .
em que z ′ + 2xz = −2x é uma EDO linear de primeira ordem. Note que p(x) = 2x e
q(x) = −2x são contı́nuas em R. Tem-se
Z x Z x
p(t) dt = 2t dt = x2 − 1
−1 −1
Rx
2 −1 p(t) dt
e assim µ(x) = ex =e −1 . Portanto,
d
(zµ(x)) = z ′ µ(x) + 2xzµ(x) = −2xµ(x)(= q(x)µ(x)).
dx
Integrando, Z x Z x
d 2 −1
(z(t)µ(t)) dt = −2tet dt
−1 dt −1
donde
2 −1
z(x)µ(x) − z(−1)µ(−1) = −ex + 1,
1 2 1
z(x) = [ex + 1] = −1 + x2 −1
ex2 −1 e
é a solução do PVI auxiliar em R.
Note que
z = sen(y) ⇐⇒ y(x) = arcsen(z(x))
A função arcsen(s) só está bem definida para valores s ∈ [−1, 1]. Como queremos que o
problema esteja bem definido para algum intervalo aberto de R contendo o ponto x = −1,
temos que
1 1
−1 < z(x) < 1 ⇐⇒ −1 < −1 + <1 ⇐⇒ 0< <2
ex2 −1 ex2 −1
2 −1)
⇐⇒ 0 < e−(x <2 ⇐⇒ −(x2 − 1) < ln(2)
Então, como queremos que a função z(x) esteja bem definida para x = −1, temos que
p
−1 < z(x) < 1 ⇐⇒ x ∈ (−∞, − 1 − ln(2))
Então, a função
1
y(x) = arcsen 1 −
ex2 −1
é a solução do PVI
cos(y)y ′ + 2xsen(y) = −2x
y(−1) = 0
p
em (−∞, − 1 − ln(2)).