Lista 1
Lista 1
Lista 1
Exemplo:
1. É falso que todas as pessoas que tenham leitura fluente numa língua estrangeira
também tenham uma conversação fluente. Tomemos João como exemplo. João tem
uma carga alta de leituras em alemão durante a semana, muito embora seja incapaz de
manter uma conversa em alemão por mais de cinco minutos.
Resolução:
2. Seja otimista. Não serve de muito ser outra coisa qualquer. (Winston Churchill)
3. Que nenhum jovem adie o estudo da filosofia, e que nenhum velho se canse dela; pois
nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma.
(Epicurto, Carta a Meneceu)
4. Estava um cão no estábulo e, apesar de alguém lá ter estado e ter levado para lá um
cavalo, o cão não ladrou [...] É óbvio que o visitante era alguém que o cão conhecia
bem. (Sir Arthur Conan Doyle, A aventura de Silver Blaze)
6. Em relação aos animais, não temos nenhuma obrigação direta. Os animais [...] estão
aqui meramente como meios para um fim. Esse fim é o homem. (Immanuel Kant,
Lectures on Ethics)
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erradicar as deficiências morais [...] A inteligência, pelo contrário, é facilmente
aperfeiçoada através de métodos que todos os educadores competentes conhecem.
Logo, até que se descubra um método para ensinar a virtude, o progresso terá de ser
alcançado através do aperfeiçoamento da inteligência, e não da moral. (Bertrand
Russell, Ensaios Céticos)
8. Aquele moço que ali está parado na rua Nova do Conde esquina do Campo da
Aclamação, às dez horas da noite, não é nenhum ladrão, não é sequer um filósofo.
Tem um ar misterioso, é verdade; de quando em quando leva a mão ao peito, bate uma
palmada na coxa, ou atira fora um charuto apenas encetado. Filósofo já se vê que não
era. Ratoneiro também não; se algum sujeito acerta de passar pelo mesmo lado, o
vulto afasta-se cauteloso, como se tivesse medo de ser conhecido. (Machado de Assis.
―Ernesto de Tal‖, em Histórias da Meia Noite.)
10. Lucrécio, um poeta romano que viveu cerca de cem anos antes do nascimento de
Cristo, em seu famoso trabalho De Rerum Natura, asseverava que todas as coisas são
formadas de átomos. Sustentava, ainda, que esses átomos eram dotados de
movimentos espontâneos e indeterminados. Com efeito, argumentava, se assim ano
fosse, isto é, se os movimentos de cada átomo estivessem rigidamente determinados
pelos movimentos anteriores, como poderíamos justificar o livre-arbítrio? Era obvio,
para Lucrécio, que os seres vivos agem livremente; concluía, em vista disso, que o
determinismo não poderia ser defendido. (Wesley Salmon, Lógica)
11. – Vejo que está muito ocupado neste momento, disse ele, olhando vividamente para
mim.
– Sim, tive um dia cheio – respondi. – Pode parecer muito tolo a seus olhos –
acrescentei – mas realmente não sei como deduzistes isso.
Holmes divertiu-se.
– Tenho a vantagem de conhecer seus hábitos, meu caro Watson – disse ele. – Quando
suas visitas são curtas, você vai a pé, e quando são longas, você usa um coche. Como
percebo que suas botas, embora usadas, não estão nada sujas, não posso duvidar que
você anda ocupado o suficiente para justificar o uso do coche.
– Excelente! – gritei. (O Corcunda, in Memórias de Sherlock Holmes; Sir Arthur
Conan Doyle)
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12. Em princípio, há várias maneiras de usar só 10% do cérebro: usando 10% da massa
cerebral, 10% dos neurônios, ou 10% do potencial... Mas não importa: em qualquer
um dos três casos, toda a ciência aponta para o contrário. Se são 10% da massa
cerebral, 90% do que temos dentro da cabeça deveriam então ser dispensáveis. E, no
entanto, lesões do cérebro humano, mesmo pequenas, podem ter conseqüências graves
para o intelecto e comportamento. [...] os outros 90% deveriam ser silenciosos, ou
então redundantes, servindo só como ―reservas‖. Mas é possível ―escutar‖ as células
nervosas em atividade, e em sua grande maioria elas estão ativas e respondem por
algum aspecto do mundo ou do comportamento. (Suzana Herculano-Houzel, O
cérebro nosso de cada dia.)
13. Mas será realmente verdadeiro que um [cientista] tem mais probabilidades do que
qualquer outra pessoa de abordar problemas não-científicos de um modo objetivo?
Não há muitas razões para o pensar. Tome-se um teste simples — a capacidade para
resistir ao nacionalismo. Diz-se muitas vezes sem grande exatidão que ―A Ciência é
internacional‖, mas na prática os trabalhadores científicos de todos os países alinham
com os seus próprios governos com menos escrúpulos do que os sentidos por
escritores e artistas. A comunidade científica alemã, como um todo, não resistiu a
Hitler. Hitler pode ter arruinado as perspectivas de longo prazo da Ciência alemã, mas
ainda há muitos homens de talento para fazer a investigação necessária em coisas
como lubrificantes sintéticos, aviões a jacto, mísseis e a bomba atômica. Sem elas, a
máquina de guerra alemã nunca poderia ter sido construída. (George Orwell, O que é
a ciência?)
14. Separemos agora a ficção científica da fantasia. É impossível de se fazer isso, e uma
breve reflexão mostrará por quê. Considere a psiônica; tome como exemplo mutantes
como aqueles que encontramos no maravilhoso Mais que Humanos de Ted Sturgeon.
Se o leitor acreditasse que tais mutantes pudessem existir, então ele veria o romance
de Sturgeon como ficção científica. Se, contudo, ele acredita que tais mutantes não
são, como magos e dragões, possíveis, e nem mesmo serão possíveis, então ele está
lendo um romance fantástico. (Phillip K. Dick, A minha definição de ficção científica)
15. A referência, a objetos reais ou ficcionais, tem de se combinar com a predicação para
expressar proposições; e as proposições são verdadeiras ou falsas. Consequentemente,
se a referência a objetos ficcionais ocorre, tem de ocorrer como parte de uma
proposição, e, portanto, tem de haver meios de avaliar tais proposições como
verdadeiras ou falsas. (A. P. Martinich, The Philosophy of Language)
16. O que o cético tem de fazer a fim de demonstrar que a [afirmação Um sujeito nunca
está justificado a acreditar que não está na Matrix] é verdadeira? A estratégia típica
para apoiar [tal afirmação] é algo assim: o sujeito não está justificado em acreditar que
não está [na Matrix] porque tal sujeito não tem uma fonte adequada de justificação
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para essa crença. Afinal, prossegue o argumento, se estivesse [na Matrix], pareceria a
ele que há [objetos externos], i.e., que há [objetos externos] diante de si. Isto é, afirma-
se que todas as evidências que tal sujeito tem para acreditar que há [objetos externos]
diante de si não são adequadas para justificar a crença de que ele não está [na Matrix].
(Peter Klein, Why the Evil Genius Argument Fails)
18. [A] homossexualidade é claramente condenada na Bíblia. O Levítico 18:22 diz: ―Não
deves deitar-te com um varão como se fosse uma mulher; isto é abominação‖. [...]
Poucas pessoas leram de fato o Levítico, mas se o fizeram, descobriram que,
somando-se à proibição da homossexualidade, há nele instruções para tratar os
leprosos, exigências em relação aos sacrifícios e uma rotina elaborada para lidar com
as mulheres que estão em seu período menstrual. Há um número surpreendente de
regras a respeito das filhas dos sacerdotes, incluindo a observação de que, se a filha de
um sacerdote ―agir como meretriz‖, deverá ser queimada viva (21:9). O Levítico
proíbe que se coma carne gordurosa (7:23), só permite que uma mulher entre no
santuário após decorridos quarenta e dois dias de ter dado à luz (12:4–5), e não
permite que se veja um tio nu. O último, a propósito, também é tratado como
abominação (18:14, 26). Diz ainda que a barba não deve ser aparada nos cantos
(19:27) e que é permitido comprar escravos dos estados vizinhos (25:44). Há muito
mais, mas isso é o bastante para dar uma idéia. Não podemos concluir que o
homossexualismo seja uma abominação simplesmente porque o Levítico assim o diz,
a menos que também seja nosso desejo concluir que estas outras instruções sejam
exigências morais [...] (James Rachels, A Ética e a Bíblia)
19. Há o mal no universo. Isso quer dizer que Deus não pode evitar o mal ou que Ele não
deseja evitar o mal. Se Deus é incapaz de evitar o mal, Ele não é onipotente. Se Deus
não deseja evitar o mal, Ele não é benevolente. Logo, ou Deus não é onipotente ou
Deus não é benevolente. (Wesley Salmon, Lógica)
20. Destruir uma coisa significa desfazê-la, reduzindo-a às suas partes componentes. Por
exemplo, podemos destruir uma camisa rasgando-a em pedaços, de tal modo que
sobrem apenas farrapos. Mas à alma não se pode fazer algo desse gênero. A alma não
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é composta. É simples. Não tem partes que possam ser separadas umas das outras.
Além disso, dado que não é uma coisa física, a alma não pode ser queimada, esmagada
ou mutilada. Por isso, não pode ser destruída. (James Rachels, Problemas da
Filosofia)
21. A ideia de pecado levanta algumas dificuldades lógicas. Dizem-nos que o pecado
consiste na desobediência aos mandamentos de deus, mas também que deus é
onipotente. Se o é, nada que fosse contrário à sua vontade poderia acontecer; portanto,
se o pecador desobedece as suas ordens, deus tem de ter pretendido que tal
acontecesse. (Bertrand Russell, Um esboço do lixo intelectual)
23. Sustenta-se que, para ter um estatuto moral, um indivíduo tem de ter interesse no seu
próprio bem-estar. A senciência é um pré-requisito para ter interesse em evitar a dor e
ser uma pessoa é um pré-requisito para ter um interesse na continuação da sua própria
existência. Os embriões humanos na sua fase inicial não são sencientes e, portanto,
não são passíveis de consideração moral direta. (Lisa Bortolotti e John Harris,
Investigação em células estaminais...)
24. – Espere! – gritou o jovem – olhe: está vendo como a porta cede se a gente puxa?
– E daí?
– Significa que não está fechada a chave mas a ferrolho, isto é, no trinco. Está ouvindo
o tilintar do ferrolho?
– E então?
– Ora, como é que o senhor não entende? Quer dizer que uma delas está em casa. Se
todas as duas tivessem saído, teriam trancado a porta por for com chave e não se
trancado por dentro com ferrolho. Mas neste caso – está ouvindo como o ferrolho
tilinta? E para trancar-se por dentro a ferrolho é preciso estar em casa, entende? Logo,
estão em casa mas não abrem! (Fiódor Dostoiesvski, Crime e Castigo)
25. [A]s pessoas pensavam que a ideia humana do comportamento digno ou decente era
óbvia para todos. E acredito que essas pessoas tinham razão. Se assim não fosse, as
coisas que dizemos a respeito da guerra não teriam sentido nenhum. Se o Certo não for
uma entidade real, que os nazistas, lá no fundo, conhecem tão bem quanto nós e têm o
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dever de praticar, qual o sentido de dizer que o inimigo está errado? (C. S. Lewis,
Cristianismo Puro e Simples, p. 8).
26. Sei que certas pessoas afirmam que a ideia de uma Lei Natural ou lei de dignidade de
comportamento, conhecida de todos os homens, não tem fundamento, porque as
diversas civilizações e os povos das diversas épocas tiveram doutrinas morais muito
diferentes.
Mas isso não é verdade. É certo que existem diferenças entre as doutrinas morais dos
diversos povos, mas elas nunca chegaram a constituir algo que se assemelhasse a uma
diferença total. Se alguém se der ao trabalho de comparar os ensinamentos morais dos
antigos egípcios, dos babilônios, dos hindus, dos chineses, dos gregos e dos romanos,
ficará surpreso, isto sim, com o imenso grau de semelhança que eles têm entre si e
também com nossos próprios ensinamentos morais. […] Imagine um país que
admirasse aquele que foge do campo de batalha, ou em que um homem se orgulhasse
de trair as pessoas que mais lhe fizeram bem. […] Os povos discordaram a respeito de
quem são as pessoas com quem você deve ser altruísta – sua família, seus
compatriotas ou todo o gênero humano; mas sempre concordaram em você não deve
colocar a si mesmo em primeiro lugar. O egoísmo nunca foi admirado. Os homens
divergiram quanto ao número de esposas que podiam ter, se uma ou quatro; mas
sempre concordaram em que você não pode simplesmente ter qualquer mulher que lhe
apetecer. (C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, pp 8-9).
27. O homem primitivo era ateu ou religioso? O problema das origens é ao mesmo tempo
capital e insolúvel. Capital porque permitiria determinar o caráter natural do ateísmo
ou da atitude religiosa, o que daria a uma ou outra dessas realidades uma justificação
fundamental. Insolúvel porque a mentalidade primitiva dos povos pré-históricos está
para sempre fora do alcance de um estudo científico. Estamos, pois, reduzidos neste
domínio a nos contentarmos com reles indícios cuja interpretação depende
amplamente dos pressupostos dos pesquisadores. (George Minois, História do
Ateísmo, p. 11)
28. Você poderia argumentar que a admiração, o prazer e o medo são adaptações […] Mas
daí não se segue que a religião seja uma adaptação, muito embora a religião possa
envolver amor, admiração, prazer e medo […]
[V]ocê poderia dizer que fomos ―projetados‖ pela seleção natural para sentir amor,
admiração, prazer e medo. (Contanto que você compreenda que ―projetado‖ é uma
metáfora; a seleção natural não é como um projetista humano que conscientemente
imagina o produto final e então o produz, em vez disso ela é um processo cego de
tentativa e erro). Dizer, contudo, que essas emoções são produto de um ―projeto‖ não
é dizer que quando ativadas pela religião elas estão a funcionar para aquilo que foram
―projetadas‖.
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Similarmente, os humanos foram ―projetados‖ pela seleção natural para serem capazes
de correr e também foram ―projetados‖ para ter espírito competitivo; mas daí não se
segue que foram ―projetados‖ para participar de competições de atletismo. A religião,
assim como o atletismo, não parece ser uma ―adaptação‖. Ambas parecer ser aquilo
que o paleontólogo Stephen Jay Good chamou de ―enjunta‖ […] um sub-produto
incidental do processo orgânico ―de design‖, ao passo que uma adaptação é um
produto direto. A religião parece ser uma enjunta. (Robert Wright, The Evolution of
God, pp. 461-2)
29. Os judeus, por exemplo, raras vezes foram definidos pela cor da pele, e nem sequer
foram incluídos nas muitas teorias de raças desenvolvidas nos séculos XVIII e XIX.
Contudo, eles foram o principal alvo de extermínio racial na Alemanha nazista. À luz
desse caso devastador de genocídio, o racismo não pode ser compreendido dentro dos
limites da história intelectual; as práticas sociais e políticas são cruciais. (Fracisco
Bethencourt, Racismos, p. 23)
30. Temos profundo interesse pelas emoções, mas não é só isso; elas também estruturam
nossas sociedades num grau que raramente reconhecemos. Por que os políticos
buscam um cargo mais alto, se não pela fome de poder que marca todos os primatas?
Por que você se preocuparia com sua família se não fosse pelos laços emocionais que
unem pais e filhos? Por que aboliríamos a escravidão e o trabalho infantil se não fosse
pela decência humana baseada na conexão social e na empatia? Para explicar sua
oposição ao escravismo, Abraham Lincoln mencionou especificamente a visão
lamentável de escravos acorrentados que presenciara em viagens pelo sul. Nossos
sistemas judiciários canalizam sentimentos de rancor e vingança para uma punição
justa, e nossos sistemas de saúde têm suas raízes na compaixão. Os hospitais (do latim
hospitalis ou ―acolhedor‖) começaram como instituições religiosas de caridade
dirigidas por freiras, só mais tarde se tornaram entidades seculares operadas por
profissionais. Na verdade, todas as nossas instituições e realizações mais queridas
estão intimamente entrelaçadas às emoções humanas e não existiriam sem elas. (Frans
de Waal, O Último Abraço da Matriarca, pp. 21-2)
31. Quando se trata de argumentar contra a razão, você já sai perdendo assim que se
manifesta. Digamos que você afirma que a racionalidade é desnecessária. Essa
afirmação é racional? Se você admitir que não é, não há nenhuma razão para eu
acreditar nela – foi você mesmo que disse isso. Mas, se insistir que devo acreditar nela
porque a afirmação é racionalmente indiscutível, você acabou de admitir que a
racionalidade é a medida pela qual deveríamos aceitar crenças. Sendo esse o caso, essa
afirmação deve ser falsa. (Steven Pinker, Racionalidade, p. 55)
32. [N]ão odiamos a violência. Odiamos e tememos o tipo errado de violência, aquela que
ocorre no contexto errado. Porque a violência no contexto certo é diferente. Pagamos
um bom dinheiro para vê-la em um estádio, ensinamos nossos filhos a revidar e nos
orgulharmos quando, numa meia-idade já meio decrépita, conseguimos atingir o
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adversário com um desonesto tranco de cintura durante um jogo de basquete de fim de
semana. Nossas conversas estão repletas de metáforas militares: nós reorganizamos as
tropas quando nossas ideias são massacradas. Nossos times esportivos celebram a
violência: Warriors, Vikings, Tigers e Bears. Pensamos dessa forma até em áreas tão
cerebrais quanto o xadrez: ―Kasparov continuou pressionado por um ataque matador.
Mais para o fim, teve de se opor a ameaças de violência com mais do mesmo‖.
Construímos tecnologias em torno da violência, elegemos líderes que se destacam
nisso e, no caso de tantas mulheres, escolhemos como companheiros, de preferência,
campeões no combate humano. Quando é o tipo ―certo‖ de agressividade, nós
adoramos. (Robert Sapolsky, Comporte-se, p. 11)
33. Os conceitos físicos são criações livres da mente humana, não sendo, por mais que
possa parecer, singularmente determinados pelo mundo exterior. Em nosso esforço
para compreender a realidade nós somos algo semelhantes a um homem tentando
compreender o mecanismo de um relógio fechado. Ele vê o mostrador e os ponteiros
em movimento, até ouve o seu tique-taque, mas não tem meio algum de abrir a caixa.
Se for engenhoso, poderá formar alguma imagem de um mecanismo que poderia ser
responsável por todas as coisas que observa, mas jamais poderá estar bem certo de que
a sua imagem seja a única capaz de explicar suas observações. Jamais poderá
comparar essa imagem com o mecanismo real e não pode sequer imaginar a
possibilidade ou o significado de tal comparação. (Albert Einstein, A evolução da
Física, p. 36)
35. Chego agora àqueles autores que desejam que creiamos de olhos fechados em coisas
que contradizem os nossos sentidos, e eu lhes perguntaria, em primeiro lugar, se
chegaram a esses pontos de vista com seus olhos fechados, isto é, sem juízo,
inteligência ou razão, ou se, ao contrário, tiveram o auxílio do juízo. Se falam sem
juízo, nós repudiaremos o que dizem. Se, ao contrário, baseiam seus pontos de vista no
juízo e na razão, então são inconsistentes quando nos persuadem por meio de seus
juízos a renunciarmos aos nossos. (Sebastião Castellio, Art de Douter)
36. [V]i que as opiniões tomistas, mesmo que aprovadas pelo Papa e pelos concílios,
continuam sendo apenas opiniões e não se tornam artigos de fé, mesmo que um anjo
dos céus decidisse ao contrário. Porque aquilo que é afirmado sem autoridade das
Escrituras ou da revelação comprovada pode ser mantido como uma opinião, mas não
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há obrigação de se acreditar nisso. (Martinho Lutero, A Igreja no Cativeiro da
Babilônia)
37. [N]enhuma consideração do Universo pode ser verídica, a menos que leve em conta a
possibilidade de o nosso pensamento ser uma percepção real. Uma teoria que
explicasse tudo sobre o universo, mas impossibilitasse a crença na validade de nosso
pensamento, estaria fora de questão, pois teria sido construída por meio de
pensamento e do raciocínio – e se o pensamento não fosse válido, com certeza cairia
por terra. Destruiria as próprias credenciais. Seria um argumento provando que
nenhum argumento é sólido, uma prova de que não existem provas – o que não faz
sentido. (C. S. Lewis, Milagres)
38. Seres humanos adultos normais possuem capacidades mentais que, em certas
circunstâncias, levam-nos a sofrer mais do que sofreriam animais, nas mesmas
circunstâncias. Se, por exemplo, decidíssemos realizar um experimento científico
extremamente doloroso ou letal em adultos humanos normais, raptados, de maneira
aleatória, em parques públicos para esse propósito, veríamos que os adultos que
gostam de passear em parques passariam a ter medo de ser raptados. O terror
resultante seria um modo de sofrimento adicionado à dor da experiência. Os mesmos
experimentos realizados em animais não humanos lhes causariam menos sofrimentos,
uma vez que não sentiriam, antecipadamente, o pavor de ser raptados e submetidos a
uma experiência. Isso não significa, é claro, que seria certo realizar a experiência em
animais, mas, apenas, que há uma razão não especista para prefirir utilizar animais em
vez de seres humanos normais se a experiência tiver de ser feita. (Peter Singer,
Libertação Animal)
39. Deve-se observar, entretanto, que [o argumento anterior] fornece um motivo para
preferir o uso, em experiências, de bebês humanos – órfãos talvez – ou de seres
humanos gravemente retardados em vez de adultos, pois bebês e seres humanos
retardados não fazem a menor ideia do que lhes acontecerá. No que diz respeito a esse
argumento, animais não humanos, bebês e seres humanos retardados estão na mesma
categoria. Portanto, se quisermos usá-lo para justificar experiências em animais não
humanos, teremos de nos perguntar se também estamos dispostos a admitir que elas
sejam realizadas em bebês e em seres humanos retardados. Porém, se fizéssemos uma
distinção entre os animais e seres humanos, em que base poderíamos fazê-la, a não ser
uma descarada – e moralmente indefensável – preferência por membros de nossa
própria espécie? (Peter Singer, Libertação Animal)