Acta Scientiarum. Health Sciences 1679-9291: Issn: Eduem@

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Acta Scientiarum.

Health Sciences
ISSN: 1679-9291
[email protected]
Universidade Estadual de Maringá
Brasil

Barden da Silva de Paula, Kamylla; Araujo da Cruz-Silva, Claudia Tatiana


Formas de uso medicinal da babosa e camomila pela população urbana de Cascavel, Estado do
Paraná
Acta Scientiarum. Health Sciences, vol. 32, núm. 2, 2010, pp. 169-176
Universidade Estadual de Maringá
Maringá, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=307226627008

Como citar este artigo


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DOI: 10.4025/actascihealthsci.v32i2.6446

Formas de uso medicinal da babosa e camomila pela população


urbana de Cascavel, Estado do Paraná
Kamylla Barden da Silva de Paula1 e Claudia Tatiana Araujo da Cruz-Silva2*
1 2
Universidade Paranaense, Cascavel, Paraná, Brasil. Faculdade Assis Gurgacz, Rua Marechal Cândido Rondon, 1801,
85801-170, Cascavel, Paraná, Brasil. *Autor para correspondência. E-mail: [email protected]

RESUMO. A etnobotânica se caracteriza por buscar entender a relação entre as plantas e o


homem, podendo-se através desta conhecer a utilização das plantas medicinais como forma
de tratamento. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento sobre as formas de
utilização da Babosa (Aloe vera L.) e da Camomila (Matricaria chamomilla L.). A coleta de
dados envolveu entrevistas de forma aleatória a 400 pessoas, através de um questionário
semi-estruturado, no município de Cascavel, Estado do Paraná. Observou-se que 65% da
população utilizam à babosa ou a camomila na cura ou alívio de doenças. A maioria dos
entrevistados possui renda de 2 a 4 salários mínimos (60,25%), idade entre 28 a 38 anos
(30,75%), tendo concluído o ensino médio (33,75%). O principal motivo pelo qual a
população se utiliza de plantas medicinais é por ser natural (71,84%). A forma de preparo
mais freqüente da camomila foi por infusão (63,38%), utilizando as flores (92%). Para a
babosa 100% utilizam suas folhas na forma de cataplasma (43,88%). Apenas 3% da
população relataram ter apresentado algum tipo de reação adversa, durante o período de
utilização. Conclui-se que o uso destas plantas pela população é freqüente, sendo um
recurso adicional ao uso de medicamentos.
Palavras-chave: Aloe vera L., Matricaria chamomilla L., etnobotânica, plantas medicinais.

ABSTRACT. Medicinal use of the Aloe and Chamomile for the urban population
of Cascavel, Paraná State. The ethnobotany, which is characterized by look for to
understand the relationship between the plants and the man, being been able through this
to know the use of the medicinal plants as treatment. The objective of this work was to
accomplish a rising on the forms of use of the Aloe (Aloe vera L.) and of the Chamomile
(Matricaria chamomilla L.). The collection of data involved interviews in a random way to a
sample of 400 people through a semi-structured questionnaire, in the city of Cascavel,
Paraná State. It was observed that 65% of the population use to aloe or the chamomile in the
cure or relief of diseases. Most of the interviewees possesses income from 2 to 4 minimum
wages (60.25%), age between 28 to 38 years (30.75%), having concluded the high school
(33.75%). The main reason for which the population is used of medicinal plants is for being
natural (71.84%). The form of more frequent preparation of the chamomile was for
infusion (63.38%), using the flowers (92%). To the aloe, 100% uses their leaves in the
cataplasm form (43.88%). Only 3% of the population told to have presented some type of
adverse reaction, during the use period. Is it conclued ended that the use of these plants for
the population is frequent, being an additional resource to the use of medicines.
Key words: Aloe vera L., Matricaria chamomilla L., ethnobotany, medicinal plants.

Introdução para alimentar-se, solucionar seus males de saúde,


O Brasil é o país que detém a maior parcela da ou ainda, para afastar espíritos malignos que, na sua
biodiversidade de plantas medicinais no mundo, além concepção, habitavam o interior dos homens e
de um considerável conhecimento tradicional sobre as animais (FARIA et al., 2004). Com o
mesmas, o qual é passado de geração à geração (LEÃO desenvolvimento da tecnologia aliado ao interesse
et al., 2007). Toda sociedade humana acumula um em se confirmar o conhecimento em medicina
acervo de informações sobre o ambiente que a cerca, popular, as plantas medicinais têm tido seu valor
incluindo o uso de plantas medicinais; o que vai lhe terapêutico pesquisado mais intensamente pela
possibilitar interagir para prover suas necessidades ciência (ARNOUS et al., 2005). O conhecimento
referente ao uso destas plantas (AMOROZO, 1996). sobre o uso de plantas medicinais tem merecido cada
O homem primitivo sempre buscou a natureza vez mais atenção, devido à gama de informações e
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170 Paula e Cruz-Silva

esclarecimentos que fornecem a ciência


contemporânea (FRANCO; BARROS, 2006).
Nesse contexto se destaca a etnobotânica,
como sendo a ciência que estuda e interpreta a
história e a relação das plantas nas sociedades
(ALBUQUERQUE, 2002). Etnobotânica é a
ciência que se ocupa do conhecimento e das Paraná
conceituações desenvolvidas pelas sociedades a
respeito do mundo vegetal, o qual engloba tanto à Cascavel
maneira como as plantas são classificadas como a Figura 1. Localização da área de estudo.
sua utilização (AMOROZO, 1996).
Esta apresenta como característica básica de O levantamento etnobotânico, foi realizado
estudo o contato direto com as populações através de entrevistas aleatórias, com participantes
com idade superior a 18 anos, de ambos os sexos.
tradicionais, procurando uma aproximação e
Para tanto, foi utilizado um questionário semi-
vivência que permitam conquistar a confiança das
estruturado modificado a partir de Viganó et al.
mesmas, resgatando, assim, todo conhecimento (2007) (Anexo 1) que abordou o conhecimento
possível sobre a relação de afinidade entre o homem tradicional de moradores da região a respeito da
e as plantas de uma comunidade (RODRIGUES; utilização da camomila e da babosa para fins
CARVALHO, 2001). medicinais. Nas visitas as residências, foram
A importância das informações etnobotânicas identificadas as espécies para os entrevistados, por
para o homem consiste no conhecimento de dados meio de material herborizado e imagens.
populares, os quais podem estar restritos a As questões foram relacionadas à utilização
determinadas pessoas ou regiões (MARTINS et al., dessas plantas na cura de enfermidades, forma de
2005). uso, preparo e a parte da planta utilizada, sendo
Devido ao grande interesse da população em cada abordado também dados sócio-econômicos.
O cálculo para amostragem da população
vez mais utilizar plantas medicinais na cura de
entrevistada, foi realizado de acordo com a fórmula
doenças é que se justifica a importância deste estudo,
proposta por Stevenson (2001) para que a pesquisa
para que além do resgate cultural, haja retorno para a apresentasse um erro de 5%. Desta forma delimitou-
população sobre a forma correta de utilizá-las. se o número de 400 questionários a serem aplicados
Dessa forma, a presente pesquisa teve como na região urbana, durante os meses de setembro a
objetivo, realizar um levantamento etnobotânico outubro de 2007.
sobre as formas de utilização da babosa (Aloe vera L.) Antes de iniciar as pesquisas o projeto passou
e da camomila (Matricaria chamomilla L.) pela pela aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
população de Cascavel, Estado do Paraná. envolvendo Seres Humanos da Unipar.

Material e métodos Resultados e discussão

A pesquisa foi realizada no município de A partir da análise dos dados levantados junto à
Cascavel, Estado do Paraná, o qual se situa no oeste população de Cascavel, Estado do Paraná, verificou-se
paranaense, entre as latitudes Sul 24°58’ e longitude que 65% dos entrevistados, utilizam-se da camomila
Oeste 53°27’, com uma área de 2.112.85 km² (Figura (Matricaria chamomilla L.) e/ou da babosa (Aloe vera L.)
1). Conforme dados do Instituto Brasileiro de para cura e prevenção de doenças (Figura 2).
Geografia e Estatística (IBGE, 2009), por meio do
Censo Demográfico em 2007, Cascavel possuía uma 35%
SIM
população de 285.784 habitantes. SIM

Pesquisas preliminares mostram que o uso de NÃO


NÃO

plantas medicinais pela população de Cascavel é 65%


frequente, principalmente associado a população
Figura 2. Percentual de utilização das plantas medicinais
mais carente. Sendo a babosa e a camomila plantas camomila e babosa pelos entrevistados.
utilizadas comumente na medicina caseira, estas
foram escolhidas para serem alvo deste Dos entrevistados 53% foram do sexo feminino e
levantamento. 47% do sexo masculino. Martinazzo e Martins
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Uso medicinal da babosa e camomila 171

(2004) em sua pesquisa realizada na região oeste de NUNCA ESTUDOU 1


Cascavel, Estado do Paraná com uma amostra de 470 POS GRADUAÇÃO INCOMPLETA 1,25

pessoas também obteve um percentual mais elevado POS GRADUAÇÃO COMPLETA 3,5

para representantes do sexo feminino (67%).

Escolaridade
ENSINO MEDIO INCOMPLETO 7,5

Segundo Borba e Macedo (2006) em relação ao sexo, GRADUAÇÃO COMPLETA 8

as mulheres possuem maior conhecimento do uso ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO 12,5

de plantas medicinais, principalmente quando estes GRADUAÇÃO INCOMPLETA 11,25


ENSINO FUNDAMENTAL INCOMPLETO 21,25
são encontrados próximos aos domicílios.
ENSINO MÉDIO COMPLETO 33,75
A Figura 3 representa a idade das pessoas
entrevistadas, onde 24,5% estão entre 18-28 anos; 0 5 10 15 20 25 30 35 40
Porcentagem (%)
30,75% com idade entre 29-38 anos, caracterizando a Figura 4. Nível de escolaridade dos entrevistados.
faixa etária mais representativa; 21,75% com idade
entre 39-48 anos; 14% com idade entre 49-58 anos; MAIS de 10 1,25
5,25% com idade entre 59-68 anos; 2,5% com idade SALARIOS

entre 69-78 anos e a de menor representatividade, 6,5

Renda Familiar
8 á 10 SALARIOS

com apenas 1,25%, indivíduos com idade entre 79-88 22,5


5 á 6 SALARIOS
anos; demonstrando assim uma grande diversidade de
idade entre os entrevistados, sendo a maioria em idade 2 á 4 SALARIOS 60,25

considerada economicamente ativa.


ATÉ 1 SALARIO 9,5

0 10 20 30 40 50 60 70
78-88 1,25
Porcentagem (%)
Figura 5. Renda dos entrevistados.
Idade dos entrevistados

68-78 2,5

58-68 5,25
Rodrigues e Guedes (2006) enfatizam que o
48-58 14
poder aquisitivo das pessoas é baixo e a qualidade de
38-48 21,75
vida abaixo da ideal, ficando difícil cobrir as despesas
28-38 30,75
e, principalmente comprar medicamentos. Fato
18-28 24,5 também relatado por Viganó et al. (2007) que
0 5 10 15 20 25 30 35 observaram que o uso das plantas medicinais em
Porcentagem (%)
função do alto custo dos medicamentos se torna
Figura 3. Faixa etária dos entrevistados.
uma fonte alternativa para o tratamento de doenças.
Com relação ao nível de escolaridade, verificou- Com relação à frequência de uso das plantas pelos
se que apenas 1% nunca estudou. Entretanto, entrevistados 25% utilizam a camomila e a babosa
21,25% não concluíram o Ensino Fundamental; quando necessitam; 20% utilizam todos os dias;
12,5% concluíram o Ensino Fundamental; 7,5% não 19,62% utilizam mais de uma vez por mês; 13,07%
concluíram o Ensino Médio e 33,75% concluíram o uma vez por semana; 11,92% mais de uma vez por
Ensino Médio. Um número menor de entrevistados semana e 10,39% uma vez por mês (Figura 6).
estão cursando a graduação (11,25%); 8% com Com base no uso contínuo de plantas medicinais
Graduação Completa; 1,25% estão cursando Pós-
Martins et al. (2000) dizem que deve ser evitado e
Graduação e 3,5% possuem Pós-Graduação (Figura
recomenda o uso máximo entre 21 e 30 dias, com
4), o que demonstra que grande parte das pessoas
não tem acesso ao ensino de 3º. grau. um período de 4 a 7 dias de intervalo para que o
Em uma pesquisa realizada em Ponta Porã, organismo desacostume e o vegetal atue com
Estado do Mato Grosso do Sul por Pereira et al. eficácia.
(2009), observaram que 7% não tinham nenhuma Silva et al. (1995) revela que a população se
educação formal, 90% possuíam o 1° grau e 5% utiliza indiscriminadamente das plantas medicinais
apresentavam o 2° grau. devido ao desconhecimento de existência de
Dos entrevistados 60,25% possuem uma renda toxidade. O que segundo Navarro Moll (2000) é um
familiar entre 2 a 4 salários mínimos; 22,5% fato preocupante a maioria das pessoas acreditarem
possuem renda familiar de 5 a 6 salários; 9,5% que as plantas medicinais são destituídas de qualquer
recebem até 1 salário mínimo; 6,5% recebem de 8 a efeito secundário tóxico, reações adversas, contra-
10 salários mínimos e 1,25% possuem renda familiar indicações, já que estudos vêm demonstrando o
de mais de 10 salários mínimos (Figura 5). potencial de toxicidade para várias espécies.
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172 Paula e Cruz-Silva

UMA VEZ POR MÊS 10,39


restritos a determinadas populações e regiões. O
MAIS DE UMA VEZ
repasse do conhecimento sobre a utilização de
POR SEMANA 11,92
plantas valoriza o conhecimento tradicional dos
Freqüência de Uso

UMA VEZ POR


SEMANA 13,07 povos possibilitando assim o entendimento de suas
MAIS DE UMA VEZ
19,62
culturas e a forma que utilizam as plantas
POR MÊS
medicinais.
TODOS OS DIAS 20
Para Negrelle et al. (2007) nenhum entrevistado
QUANDO
NECESSITA 25 indicou a utilização de plantas medicinais através de
0 5 10 15 20 25 30
orientação médica, 92% por meio de familiares ou
Porcentagem (%) amigos, 2% por meio de livros e 8% através de
autoconhecimento.
Figura 6. Frequência de utilização da camomila e babosa pelos
entrevistados.

Orientação sobre a forma correta de


MEDICO 0,52
Com relação ao motivo pelo qual os

utilização da camomila e Babosa


1,04
entrevistados utilizam as plantas medicinais citadas FARMACIA

na cura de doenças, 71,84% relatam por ser natural; CURSOS 1,04

ambos com 8,23% pela ausência de efeitos colaterais LIVROS 16,67


e devido ao baixo custo; 7,9% pela facilidade de
acesso e 3,8 pela eficiência (Figura 7). PASTORAL 29,95

FAMILIARES OU
AMIGOS
50,78
3,8
EFICIÊNCIA 0 10 20 30 40 50 60

7,9 Porcentagem (%)


FACILIDADE DE ACESSO
Figura 8. Modo de orientação para a utilização da camomila e da
Motivos

POR SER NATURAL


71,84 babosa pelos entrevistados.

8,23 Em relação a casos de reações adversas 3% dos


BAIXO CUSTO
entrevistados apresentaram coceira e ardência no couro
AUSENCIA DE EFEITOS 8,23
cabeludo, dores estomacais, ânsia e falta de ar durante a
COLATERAIS
utilização da babosa. Não sendo registrados reações
0 10 20 30 40 50 60 70 80
adversas ao uso da camomila (Figura 9).
Porcentagem (%)
No entanto é possível verificar que muitas pessoas
Figura 7. Motivo da utilização da camomila e babosa pelos relacionam o fato de que se é natural não faz mal e não
entrevistados. se preocupam com as conseqüências, pois algumas
plantas medicinais quando utilizadas de forma errônea
No trabalho realizado por Martinazzo e Martins podem causar reações adversas. Contudo à maioria dos
(2004) prevaleceu o uso das plantas medicinais entrevistados obteve eficácia (97%).
relacionadas a tradição familiar com 46,5%, seguido Viganó et al. (2007) em sua pesquisa observaram
pela ausência de efeitos colaterais (30,2%), 10,9% que 4% dos entrevistados apresentaram reações
baixo custo e 10,1% outros. adversas, sendo que o restante da população teve
Rodrigues e Carvalho (2001) em levantamento ação no tratamento. Enfatizando que no referido
etnobotânico na região do Alto Rio Grande, Estado trabalho não houve a citação de nenhuma reação à
de Minas Gerais relatam que o uso de plantas ocorre babosa e com a camomila relataram sentir mal estar
em função do preço elevado dos medicamentos ao ingerir o chá quente. Segundo Dorigoni et al.
sintéticos, anseio pelo bem-estar e cura mais rápida (2001) muitas vezes a ocorrência de reações adversas
das enfermidades, bem como, por irritações causadas pode ser explicada pela falta de uma padronização da
no organismo pelo uso constante dos medicamentos dosagem.
sintéticos.
A maioria dos entrevistados obtém as orientações 3%
sobre a forma correta de utilização através de amigos
e familiares (50,78%); 29,95% por meio da pastoral; SIM
16,67% através de livros; 1,04% cursos; 1,04% NÃO
farmácias e 0,52% por meio dos médicos (Figura 8).
Martins et al. (2005) destacam a transmissão do
conhecimento sobre plantas (etnobotânica) como 97%

uma importante fonte de informação para o homem, Figura 9. Desenvolvimento de alguma reação adversa pelo uso da
podendo-se por meio dela conhecer dados que são babosa.
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Uso medicinal da babosa e camomila 173

Quanto à parte do vegetal utilizada pelos Silva et al. (1995) indica a raspa da mucilagem
entrevistados 92% utilizam a flor (capítulo floral) da quando usado como cicatrizante. Martins et al.
camomila, 7% a parte aérea e 1% utilizam as folhas (2000) para queimaduras indica utilizar a babosa
(Figura 10). Constata-se que a maior parte dos em forma de cataplasma e o suco como anti-
entrevistados estão utilizando o órgão correto da helmíntico.
camomila. Segundo Lorenzi e Matos (2002) a parte
usada para fins terapêuticos é constituída dos
capítulos florais secos ao ar e conservada ao abrigo da CHIMARÃO
luz, sendo seus principais constituintes químicos o
óleo essencial contendo camazuleno, matricia,

Formas de Preparo
bisabolol (antiinflamatório), flavonóides e colina. DECOCÇÃO

7% 1%

INFUSÃO

FLOR
PARTE AEREA
0 10 20 30 40 50 60 70
FOLHAS
Porcentagem (%)

Figura 11. Formas de preparo da camomila citadas pelos


entrevistados.

INFUSÃO
92%
Modo de preparo da Babosa

RASPAGEM
Figura 10. Partes da camomila utilizadas pelos entrevistados.
IN NATURA CORTADA AO MEIO

Para a babosa 100% utilizam as folhas. O interior


BATIDA NO LIQUIDIFICADOR
de suas folhas é constituído de um tecido
parenquimático rico em polissacarídeos MACERAÇÃO

(mucilagem), que lhe confere uma consistência CATAPLASMA


viscosa (baba), de onde surgiu o nome de babosa.
Nessa mucilagem encontra-se se princípios ativos, 0 10 20 30
Porcentagem (%)
40 50

que são constituídos de tecidos orgânicos, enzimas,


Figura 12. Formas de preparo da babosa citadas pelos
vitaminas, sais minerais e aminoácidos (BACH;
entrevistados.
LOPES, 2007).
Dentre as formas de preparo da camomila citadas A maioria dos entrevistados obtém a camomila
pelos entrevistados, prevaleceu os chás por infusão com em farmácias 32,53%; seguido pelo cultivo próprio
63,38% que evidencia a forma correta de uso; 14,79% com 28,52%; 15,66% em mercados; 14,05% por
por decocção e 21,83% no chimarrão (Figura 11). meio de familiares e amigos; 4,82% em feiras e 4,42
Quanto à prática do preparo do chá por infusão através da pastoral (Figura 13). Já a babosa, 46,4%
Martins et al. (2000) a considera apropriada, pois através de familiares os amigos; 44,8% cultivo
somente as partes duras das plantas (raiz, caule e próprio; 5,6% por meio da pastoral e 3,2% em feiras
casca) devem ser preparadas pelo método de (Figura 14).
decocção (ARNOUS et al., 2005). Com relação ao
uso da planta no chimarrão Simões et al. (1998) PASTORAL

apud Dorigoni et al. (2001) consideram uma prática


Modo de Obtenção da Camomila

FEIRAS
inadequada, devido nem sempre o processo de
preparação indicado ser o mesmo para plantas FAMILIARES OU
AMIGOS

diferentes. MERCADOS

Para a babosa 43,88% dos entrevistados a


FARMACIAS
utilizam na forma de cataplasma; 26,62% macerada;
11,52 trituram no liquidificador com mel e pinga; CULTIVO PRÓPRIO

10,07% a utilizam in natura, cortada ao meio sobre o 0 5 10 15 20 25 30 35

ferimento; 6,47% em forma de raspagem e 1,44% Porcentagem (%)

em infusão (Figura 12). Figura 13. Modo de obtenção da camomila pelos entrevistados.
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174 Paula e Cruz-Silva

Verifica-se que a obtenção por meio do cultivo sumo mucilaginoso das folhas da babosa possui
próprio ou de familiares e amigos é bastante comum, atividade fortemente cicatrizante e uma boa ação
caracterizando o fácil acesso as plantas medicinais. Essa antimicrobiana sobre bactérias e fungos.
característica de contato com as plantas é também
citada em vários trabalhos: em São Jorge d’Oeste, OUTROS

Indicações Terapêuticas da Camomila


Estado do Paraná, 80% dos entrevistados cultivam as RESFRIADOS
plantas que utilizam (BULIGON et al., 2007). CLAREAR CABELOS
As indicações terapêuticas citadas para a DIGESTIVO
camomila pelos entrevistados foram 42,95% a
CÓLICAS
utilizam como calmante; 21,02% para dar sabor ao
chimarrão; 18,32% para dores estomacais; 3,6% para DORES ESTOMACAIS

cólicas; 3,3% como digestivo; 3% para clarear os SABOR

cabelos; 2,4% para resfriados e 5,41% em outras CALMANTE

situações (febre, aftas e fígado) (Figura 15). 0 10 20 30 40 50


Porcentagem (%)

Figura 15. Indicações terapêuticas da camomila.


FEIRAS

Em trabalho realizado por Fuck et al. (2005) a


Modo de obtenção da Babosa

PASTORAL
população de Bandeirantes, Estado do Paraná relatou
fazer uso oral da babosa para gastrite após deixar um
pedaço da folha imersa em água. Casarin et al.
CULTIVO PRÓPRIO
(2005) em pesquisa realizada em uma unidade de
oncologia do Sul do Brasil, constatou na abordagem
FAMILIARES OU
AMIGOS em relação ao tipo de terapia alternativa que
utilizavam para a cura do câncer uma variedade de
0 10 20 30 40 50
Porcentagem (%)
práticas auxiliares dentre elas a utilização da babosa.
Figura 14. Modo de obtenção da babosa pelos entrevistados.
OUTROS
Silva et al. (1995) relatam que a camomila é
Indicações Terapêuticas da Babosa

ÚLCERA
indicada para combater gazes intestinais, cólicas, AFTAS
relaxante, febre, digestivo e para alergias. Martins CASPAS
et al. (2000) indica a camomila como INFECÇÕES
antiinflamatório, analgésico, antiespasmódica e TUMORES
cicatrizante, mostrando que também em Cascavel a QUEIMADURAS
maior parte da população está usando as espécies CICATRIZANTE
citadas para o tratamento dos sintomas de forma HIDRATAÇÃO CAPILAR
correta. 0 10 20 30 40 50
Martinazzo e Martins (2004) em seu trabalho Porcentagem (%)
obteve a camomila entre as dez plantas mais citadas, Figura 16. Indicações terapêuticas da babosa.
sendo utilizada para calmante, digestivo, cólicas e
antiflatulento. A camomila também apareceu como Conclusão
uma das plantas mais citada em trabalhos realizados
em Umuarama, Estado do Paraná (CORTEZ et al., Considerando os dados levantados neste trabalho
1999), Chapada dos Guimarães, Estado do Mato de pesquisa junto à população urbana cascavelense
Grosso (BORBA; MACEDO, 2006) Três Barras do pode se verificar que a babosa e a camomila são
Paraná, Estado do Paraná (VIGANÓ et al., 2007); e utilizadas corretamente por grande parte da
em Quedas do Iguaçu, Estado do Paraná (CRUZ- população na cura de enfermidades. A utilização das
SILVA et al., 2009). plantas esta associada a estas serem um recurso
Para a babosa as indicações terapêuticas citadas natural, sendo o seu uso baseado no conhecimento
foram: 42% a utilizam na hidratação capilar; 22,5% de familiares e amigos, o que reforça a transmissão
como cicatrizante; 15% em queimaduras; 5% na cura e da informação de geração a geração.
prevenção de tumores; 4,2% em infecções; 3,5% As plantas medicinais se apresentam de fácil
anticaspa; 2% aftas; 2,3% úlceras e 3,5% em outras obtenção, pois geralmente são cultivadas no quintal
indicações (prisão de ventre, reumatismo, rachaduras) de casa ou de familiares e amigos. A parte do vegetal
(Figura 16). Lorenzi e Matos (2002) relatam que o mais utilizada é a folha para a babosa e a flor para a
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Uso medicinal da babosa e camomila 175

camomila, provavelmente em função da facilidade FRANCO, E. A. P.; BARROS, R. F. M. Uso e


de coleta e preparo, bem como, da parte utilizada diversidade de plantas medicinais no Quilombo Olho D’
associada a eficácia no tratamento. água do Pires, Esperantina, Piauí. Revista Brasileira de
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