Agata Bloch - Texto 1
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Agata Błoch
1. Introdução
A análise histórica está sendo levada a cabo em dois níveis: quantitativo e qualitativo.
A primeira está sendo realizada com base nos inventários publicados pelo Arquivo Histórico
Ultramarino e os códices lá preservados, enquanto que a análise qualitativa requer trabalhos
aprofundados com documentos disponíveis neste Arquivo.
As redes sociais do Império Português da época moderna – a importância das visualizações computacionais nos estudos contemporâneos
Agata Błoch: Instituto de História/Academia de Ciências da Polônia e CHAM/Universidade Nova de Lisboa
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Para este fim, foi estabelecida uma base de dados eletrônica apoiada nos inventários da
época 1600-1755, publicados pelo AHU. Foi determinado o tipo de documentos em forma de
correspondência missiva internacional, assim como definido o padrão básico de remetentes e
destinatários. A colocação dos dados na aplicação google.map permitiu criar o esboço das
primeiras redes sociais lusófonas que refletissem as ligações geográficas do antigo império
colonial. Foram igualmente criadas as primeiras redes sociais entre as instituições coloniais. O
meu objetivo é conjugar o domínio da recém-criada ciência das redes com as ciências históricas.
Acredite-se que a história tem que responder às determinadas perguntas e preocupações de cada
geração. Portanto, se assumirmos que no mundo contemporâneo, caraterizado pela globalização
e interligação, cuja marca principal são as redes sociais, estudar o passado através da
perspectiva de rede pode trazer os resultados interessantes.
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As gerações contemporâneas olham e analisam o mundo através da imagem. Por este motivo,
acredita-se que a visualização poderia ser aplicada também na difusão dos resultados
científicos.
“(…) direct observation does reveal to us that these human beings are connected by a
complex network of social relations. I use the social structure to denote this network of
actually existing relation” (Ibidem, p. 9)
Contudo, convém lembrar que as ferramentas de análise de redes sociais não geram
nenhuma teoria geral que poderia ser aplicada à todas as investigações da mesma forma. Estas
produzem apenas os gráficos que visualizam os resultados de pesquisas. A SNA não oferece
nenhuma interpretação. As interpretações surgem no processo investigatório. (Ibidem, p. 20)
As redes sociais, no sentido metafórico, tinham existido desde sempre nos estudos
historiográficos. Os pesquisadores alemães e, ao mesmo tempo, fundadores de
HistoricalNetworkResearch.com apontaram que:
“The concepts and methods of social network analysis in historical research are
recently being used not only as a mere metaphor but are increasingly applied in
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practice. In the last decades several studies in the social sciences proved that formal
methods derived from social network analysis can be fruitfully applied to selected
bodies of historical data as well (...) Among historians, the term network has been used
in a metaphorical sense alone for a long time. It was only recently that this has
changed” (http://historicalnetworkresearch.org/).
A novidade neste campo são as ferramentas computacionais que permitem uma análise
muito mais profunda através qual é possível medir, de uma maneira mais objetiva, as
características de uma rede social. Portanto, a história não atua sozinha porque se junta à
sociologia, à antropologia, à economia, à matemática, à informática e às outras ciências. Desta
forma, os conceitos antigos das redes sociais na historiografia são acrescidos pelas medidas
mais matemáticas. Conforme foi observado, a SNA é uma mistura de uma perspectiva teórica e
metodológica que estuda a complexidade de laços por um período de tempo mais longo e define
quais destas conexões sociais são mais importantes e quais menos. Porém a perspectiva de rede
implica duas coisas: uma estratégia coletiva e a intenção. Os indivíduos, neste caso chamados
de atores sociais, têm consciência e conhecimento da importância das suas conexões e
interligações (Ibidem, p. 18)
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"Cada país encontra-se numas específicas condições institucionais, que já tinham sido
moldadas antes. Nesta situação, qualquer decisão tomada é uma continuação de um
caminho específico de desenvolvimento no passado. Este caminho é muito difícil de
mudar e as suas alterações são dispendiosas. Dentro do conceito do institucionalismo
histórico acredita-se, portanto, que apenas o estudo da evolução de fenômenos
específicos permitir-nos-á compreender completamente as instituições de hoje e tirar
as conclusões apropriadas e relevantes para cada sistema político (Petelczyc, p. 101).
A origem das redes sociais do império português eram os contatos comerciais que, em
seguida, se tornaram em negociações políticas e comerciais, sabendo que estas exigiam um
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A estratégia geo-política que estava a ser realizada pela Coroa Portuguesa entre 1600-
1755 foi definida como política consciente de criação de relações de poder. Os vínculos sociais
entre as colônias nasceram como resultado de uma ação dos poderes no mundo. A rede, sendo
um conjunto de atores unidos por um tipo concreto de relações, é o fundamento da „comunidade
em rede” que pode determinar as relações relativamente superficiais, constituídas por vínculos
livres e dinâmicos, baseadas em interesses e necessidades individuais e coletivos.
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de Estado. Conforme esta teoria, o império português era um organismo fortemente unido
através o Rei. Por isso, já no século XVIII a colônia ultramarina foi definida como „ he parte
de hum Reyno, Monarquia ou Estado que tem a mesma língua & os mesmos costumes […] se
distingue pela expansão de hua jurisdição temporal ou espiritual” (Bluteau 1720, vol. VI, p.
807).
Esta pesquisa está dividida em duas partes – a parte quantitativa e qualitativa. A Análise
de Redes Sociais do Império Perfeito está sendo realizada no período de 1668-1775, levando
em conta as razões tanto técnicas como substantivas. Do ponto de vista técnico, os catálogos
dos documentos manuscritos avulsos do Fundo do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa
ainda não estão completos para todas as suas ex-colónias, o que é o caso da Índia, impedindo a
criação de base de dados para todas ex-colônias. Concluídos são os catálogos relacionados ao
Brasil (isto é - todos os estados brasileiros), Macau e Timor, enquanto os de África, em grande
maioria, são parciais: o catálogo de Cabo Verde data-se de 1614-1715, o de Angola - 1602-
1765, o da Guiné - 1614-1782 e o de São Tomé - 1538-1749. Esta base está sendo completada
com os dados provenientes também de Registo de Cartas Régias, Provisões e outras ordens do
Brasil, Angola, Cabe Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor, sendo os dois últimos
localizados no Registo da Índia. Vale a pena observar que só a partir do ano 1673 os Livros de
Registros de Cartas Régias estão dividias geograficamente. Entre 1668-1673 estes registros
estavam sendo descritos apenas num livro comum para todo o Império.
A justificação substantiva para ter escolhido este período é o fato que no século XVII,
percebe-se as mudanças no ramo do Império Português que passou do império portuário para o
império terrestre, construindo um forte império transcontinental e transoceânico. A União
Ibérica (1580-1640) contribuiu para as mudanças na geopolítica do Império, especialmente do
Brasil, cuja posição estratégica mudou significativamente. A data final desta pesquisa refere-se
ao terremoto em Lisboa que ocorreu em 1755, após qual foram tomadas várias decisões
políticas e administrativas que alteraram a estrutura do Império.
Em baixo apresenta-se a base de dados que está sendo elaborada. Com fim de preparar
uma base de correspondência entre Portugal e as suas colônias (no período inicialmente
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Como exemplo dos gráficos das Redes Sociais, apresentam-se os seguintes desenhos.
Porém, é necessário explicar que a base de dados ainda não está completa, por isso as
visualizações finais destes gráficos em baixo mudarão quando a base de dados estiver completa.
Os seguintes gráficos servem como um exemplo.
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Os objetivos de longo prazo deste projeto são vários. A base de dados e os gráficos
sociais serão disponibilizados na Internet, permitindo deste modo continuar pesquisas em várias
áreas para outros investigadores. Assim, espera-se que os resultados desta pesquisa podem
inspirar outros pesquisadores, por ex. para levar a cabo uma análise comparativa de redes
sociais modernos de outros impérios europeus. O entendimento das redes sociais do império
português permitirá entender melhor as relações contemporâneas entre Portugal e as suas
antigas colónias. Por consequência, a pesquisa providenciará a percepção inovadora de estudos
relativos à globalização no território dos PALOP, como a definição de planos geoestratégicos
e da política portuguesa de redes sociais entre 1600 e 1755.
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