21 - São João Batista

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SAO JOAO BAPTISTA


4.2 edição

EDITORIAL MISSÕES

CUCUJÃES
Título Original: SAN JUAN BAUTISTA
O ANÚNCIO DO NASCIMENTO DE JOÃO
Autor: A. C odes ai Martin

@ Apostolado Mariano- Sevilha. Zacarias era um sacerdote judeu casado com Isa­
Com licença eclesiástica.
bel, e não tinham filhos porque ela era estéril.
Sendo já de certa idade, um dia, quando Zacarias
Tradutor: Prol. João Santos
estava no Templo a oferecer o incenso dentro do "San­
Adaptação: Januário dos Santos tos dos Santos ", apareceu-lhe um Anjo que se apre­
sentou de pé à direita do altar.
Ao vê-lo, Zacarias ficou tolhido de espanto. Mas
o Anjo disse-lhe:
- "Não temas, Zacarias, pois venho dizer-te que
a tua oração foi ouvida e a tua mulher Isabel vai dar­
-te um filho ao qual darás o nome de João. Ele será
para ti motivo de alegria e muitos rejubilarão com o
seu nascimento, porque será grande diante do Se­
nhor. Não beberá vinho nem outra bebida alcoólica e
será cheio do Espírito Santo desde o ventre da sua
Reservados todos os direitos para Portugal e p aíses de expressão portuguesa pela mãe... "
EDITORIAL MISSÕES
Apartado 40 - 3721-908 VILA DE CUCUJÃES Zacarias, porém, respondeu ao Anjo:
-"Como poderei ter a certeza disso, sendo eu já
Composição e Impressão velho e a minha mulher avançada em anos?"
Escola Tipográfica das Missões- Cucujães
Zacarias duvidou, e o sinal pedido por ele acabou
Setembro de 2008
por ser um castigo. Disse-lhe o Anjo:
-"Eu sou Gabriel que assiste ao trono de Deus
ISBN 972-577-165-6
que me enviou para te dar esta boa nova. Mas por­
Depósito Legal 280467/08 que não deste crédito às minhas palavras, ficarás

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mudo e não poderás falar até estas coisas se cum­
prirem��.
Entretanto, o povo esperava no átrio de fora que
Zacarias aparecesse, e admirava-se que demorasse
tanto no Santuário.
Quando, finalmente, saiu e viram que não podia
falar, compreenderam que devia ter tido alguma vi­
são. Ele procurava explicar-se por meio de sinais.
Acabado o seu tempo de serviço litúrgico, diz uma
tradição antiga, foi viver para uma pequena aldeia,
chamada Ein Karen, a 6 quilómetros a oeste de Jeru­
salém. Entretanto, Isabel concebeu e passou a viver
recolhida, agradecendo a Deus por ter tido compai­
xão dela, retirando-lhe o que era considerado um
opróbrio, a sua esterilidade.

JOÃO RECEBE O ESPÍRITO SANTO

Passados seis meses, o mesmo Anjo Gabriel foi


enviado por Deus a uma jovem, chamada Maria, que
vivia na cidade de Nazaré, para lhe anunciar que iria
ser Mãe do Messias. Ao contrário de Zacarias, Maria
acreditou e, embora cheia de espanto, perguntou
Eu sou Gabriel que assiste ao trono de Deus que me enviou apenas:
li
para te dar esta boa nova. - ��como será isso, se eu não conheço homem?

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- 5
O Anjo tranquilizou-a, dizendo:
- 11 0 Espírito Santo descerá sobre ti. .. E olha que
a tua parenta Isabel também concebeu um filho na
sua velhice e já está no sexto mês, porque a Deus
nada é impossível��.
Cheia de contentamento, Maria correu à pressa
para a serra, para felicitar Isabel e pôr-se à sua dis­
posição para ajudá-la no que fosse necessário.
Quando entrou em casa de Isabel, saudou-a e
abraçou-a. Nesse momento, o menino saltou de ale­
gria no seio de sua mãe, e Isabel ficou cheia do Espí­
rito Santo. Com espírito profético, exclamou:
- 11Bem-aventurada és tu entre todas as mulhe­
res e bendito é o fruto do teu ventre. De onde me
vem esta felicidade de a Mãe do meu Senhor vir ter
comigo? Pois no instante em que a voz da tua sau­
dação chegou aos meus ouvidos, o menino saltou de
alegria no meu ventre. E bem-aventurada és tu, por­
que acreditaste, porque tudo acontecerá como te foi
dito da parte do Senhoril.
Então Maria exclamou:
11A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito
se alegra em Deus meu Salvador... 11
Muitos têm discutido o significado espiritual de o
menino saltar de alegria no ventre materno, mas hoje
O menino saltou de alegria no seio de Isabel. admite-se geralmente que João foi purificado do pe-

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cado original antes do seu nascimento, recebendo Foi um tempo de preparação para a sua missão
nesse instante a graça santificante, através do Espí­ de precursor. De que se terá alimentado? O deserto
rito Santo. de então não era muito diferente do de hoje. Algu­
Maria ficou com Isabel cerca de três meses e, mas ervas na primavera, raízes, mel e frutos silves­
depois, voltou para sua casa, certamente antes do tres e gafanhotos, eis o que devia constituir a sua
nascimento de João. Quando se acabou o tempo, alimentação. Com este rigor do corpo, o seu espírito
Isabel deu à luz o seu filho, e todos se alegraram alimentava-se abundantemente da oração e da refle­
com esse facto. Ao oitavo dia, foram circuncidar o xão, até chegar o seu tempo de pregar a penitência e
menino e queriam chamá-lo Zacarias, como o pai. preparar o povo para a vinda do Messias.
Mas a mãe opôs-se, dizendo que devia chamar-se Muitos artistas e poetas têm-se comprazido em
João. Depois perguntaram ao pai por sinais e ele apresentar-nos a imagem dum S. João menino a brin­
escreveu numa placa: "João é o seu nome". Então car com o Menino Jesus ou a acariciar um cordeirinho
soltou-se-lhe a língua e glorificou a Deus. que simboliza o Cordeiro de Deus que tira os peca­
dos do mundo e que, um dia, ele apontaria com o
dedo aos discípulos. O mais certo, porém, é que João
ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE e Jesus nunca se conheceram antes dos trinta anos,
nas margens do Jordão. O próprio S. João diz-nos
Da infância de S. João nada sabemos. S. Lucas que não o conhecia.
que nos conta os pormenores antecedentes, diz ape­ No resto só o preocupava o "Reino de Deus e a
nas: " Entretanto, o menino crescia e o seu espírito sua justiça".
robustecia-se. E viveu no deserto até ao dia da sua Deus sabia o que lhe fazia falta e dava-lhe ''por
apresentação a Israel". acréscimo".
É difícil precisar a data ou a idade com que João
foi para o deserto. Parece provável que os pais já JOÃO PREGA A PENITÊNCIA
tivessem morrido e que ele devia ter uns dez ou doze
anos, para poder subsistir por si. "No décimo quinto ano do governo do imperador

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Tibério, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia,
Herodes tetrarca da Galileia (... ) no tempo dos su­
mos sacerdotes Anás e Caifás, a palavra de Deus foi
dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele
veio por toda a região do Jordão, a pregar um baptis­
mo de penitência, para remissão dos pecadOS11• (Lc.
3, 1-3)
O grande Precursor do Messias deveria ter nesta
altura cerca de trinta anos, e o seu alimento era cons­
tituído por gafanhotos e mel silveste. Como vestuá­
rio, usava uma pele de camelo com um cinto de cou­
ro sobre os rins.
As multidões acorriam de toda a parte a ouvi-lo,
recebiam o baptismo e confessavam os pecados. Mas
os fariseus e os doutores da Lei recusaram a sua
pregação. Ele dizia:
Fazei frutos dignos de penitência e não digais:
Temos Abraão por pai, porque eu vos asseguro que
Deus é suficientemente poderoso para fazer destas
pedras filhos de Abraão! Vede que o machado está
posto à raiz da árvore, e toda a árvore que não der
bom fruto, será cortada e lançada ao fogo ...
Muitos interrogavam-no:
��aue devemos fazer?ll
E ele respondia:
Artistas e poetas têm-se comprazido em apresentar a imagem
de S. João acariciando um cordeirinho.
- 11Aquele que tiver duas túnicas reparta com

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quem não tem; e o que tiver alimentos, faça o mes­
mo".
Aos publicanos dizia:
"Não exijais mais do que o prescrito".
E aos soldados:
"Não molesteis nem denuncieis falsamente nin­
guém, e contentai-vos com o vosso soldo".
A uns que foram interrogá-lo se ele era o Mes­
sias, respondeu que não. E querendo eles saber por­
que baptizava, respondeu:
-"Eu baptizo-vos em água, mas no meio de vós
está, sem que o suspeiteis, aquele que há-de vir de­
pois de mim, e ao qual eu não sou digno de desatar a
correia das sandálias. Ele é que há-de baptizar-vos
no Espírito Santo".
Isto passava-se em Betânia, para além do Jordão,
onde João estava a baptizar. (Jo. 1 ,28)

BAPTISMO DE JESUS
·
Os Judeus começaram a suspeitar que João se­
ria o Messias que havia de vir. Enviaram, por isso,
sacerdotes e levitas para o interrogar:
"Quem és tu? "
Fazei frutos dignos de penitência... Ele confessou e não negou:

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12 -
-"Eu não sou o Cristo".
Voltaram a insistir:
-"Quem és então? És porventura Elias?"
Ele respondeu:
- "Não sou."
-"És tu o profeta?"
E ele disse:
- "Nã011•
Disseram eles:
- "Quem és então, para darmos uma resposta
aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?"
E ele disse:
-" Eu sou a voz que clama no deserto. Endireitai
os caminhos do Senhor" . ..
Por esta altura, veio Jesus da Galileia ao Jordão
para ser baptizado por João. Este queria impedi-lo,
dizendo:
- "Eu é que devo ser baptizado por ti, e tu vens a
mim?ll
Jesus respondeu-lhe:
- "Deixa por agora, para que se cumpra toda a
justiça. "
Então João baptizou Jesus no Jordão. Logo de­
pois, Jesus saiu da água e entregou-se à oração.
Neste momento, aconteceu que o céu se abriu e viu­
Eu é que devo ser baptizado por ti, e tu vens a mim? -se o Espírito Santo em forma corporal, como uma

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pomba que desceu sobre Ele, enquanto ao mesmo
tempo se ouvia uma voz que dizia:
-"Tu és o meu Filho muito amado, em quem pus
as minhas complac�ncias".
Aqui se manifesta claramente o mistério da
Santíssima Trindade: O Pai que fala do Céu, o Filho
que está presente e o Espírito Santo que desce em
forma de pomba.
A voz vinda do céu só foi escutada por Jesus e
por João. Todos os outros julgaram que era um tro­
vão.
Foi a primeira vez que João e Jesus se encontra­
ram. Por isso, o Precursor podia dizer, depois, com
verdade que não o conhecia. Certamente, já tinha
ouvido falar dele e considerava-o como Messias, pois
até nem queria baptizá-lo, dizendo que ele próprio é
que devia ser baptizado por Jesus...

EIS O CORDEIRO DE DEUS

No dia seguinte, João viu Jesus que vinha na sua


direcção e, apontando-o com o dedo, disse:
-"Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pe­
cado do mundo. Este é aquele de quem eu disse:
Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. Depois de mim virá um homem que é mais do que

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eu, porque existia antes de mim. Eu não o conhecia, levaram-nos a Jesus. André trouxe Simão (Pedro) e
mas fo i para que ele fosse manifestado a Israel que João trouxe o irmão Tiago. Depois vieram Filipe e
eu fui enviado a baptizar em água". Natanael (Bartolomeu). E João Baptista não os im­
Então João deu o seu testemunho nestes termos: pediu, mas alegrou-se com a partida deles.
- '1Eu vi o Espírito Santo descer do céu como Estava a chegar o tempo da sua missão, o tempo
uma pomba e poisar sobre ele. Eu não o conhecia, de se cumprir o que ele dissera. 11 É preciso que Ele
mas aquele que me enviou a baptizar, disse-me: cresça e eu diminua��.
Aquele sobre quem vires o Espírito descer e perma­ Em breve ele se apagaria.
necer sobre ele, esse é que vem baptizar no Espírito
Santo. Eu vi-o e dou o meu testemunho de que ele é JOÃO CENSURA O COMPORTAMENTO
o Filho de Deus". DE HERODES
No outro dia, estava ainda João no mesmo local,
quando Jesus ia passando pelo caminho. De novo Herodes era o tetrarca da Galileia, filho daquele
João aponta-o dizendo: outro que mandara matar todos os meninos de Belém
- 11 Eis o Cordeiro de DeuS11• e arredores, por ocasião do nascimento de Jesus.
Estavam com ele dois discípulos que, ao ouvir Desrespeitando a Lei, tinha-se juntado com a mulher
aquelas palavras, logo foram atrás de Jesus. Eram do seu irmão Filipe, tetrarca da ltureia, chamada
João evangelista e André. Ao vê-los, Jesus pergun­ Herodíades.
tou-lhes: Era um facto público que não agradava ao povo
- naue é que procurais?�� e, por isso, S. João não hesitou em se deslocar ao
E eles responderam: p alácio, para repr o v ar o c o mportamento d o
- 11 Mestre, onde moras?" governante. Dizia-lhe, pois, abertamente:
Jesus respondeu: - 11Não te é lícito viver com a mulher do teu ir-
- 11Vinde ver
li.
mão!ll
Eles foram e ficaram com Ele aquela noite. Ora Herodíades era uma mulher ambiciosa e não
Como cada um tinha um irmão, no dia seguinte, podia suportar as censuras do santo Precursor. Por

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isso, começou a magicar no modo de acabar com
ele, logo que surgisse a ocasião.
Para lhe agradar, Herodes mandou meter João
no cárcere, na fortaleza de Maqueronte. Apesar dis­
so, continuava a ouvi-lo de boa vontade.
Sem o compreender, Herodíades ia ser a oca­
sião do primeiro mártir que daria a sua vida em defe­
sa da indissolubilidade do matrimónio, contra o di­
vórcio ...

OS DISCÍ PULOS DE JOÃO

Estando João no cárcere, mesmo assim ia sa­


bendo da pregação de Jesus, porque os discípulos
contavam-lhe tudo.
Mas ele conhecia as dúvidas dos mesmos discí­
pulos e resolveu dissipá-las. Para isso, resolveu en­
viar-lhe uma embaixada com a missão de interrogar
Jesus:
...
- 11ÉS tu o que há-de vir ou devemos esperar
-.:�-
outro?ll
Sem lhes dar uma resposta directa, Jesus come­
çou a curar quantos se lhe apresentavam, enfermos
de todas as mazelas, cegos, coxos, lepro�os, sur­
dos... e até mortos, que eram ressuscitados.
Não te é lícito viver com a mulher do teu irmão! Depois, acrescentou:

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-"Ide dizer a João o que vistes e ouvistes, e que
os pobres são evangelizados".
Quando eles se retiraram, Jesus fez rasgados elo­
gios a João, dizendo:
- "Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada
pelo vento? Mas que fostes ver? Um homem vestido
com roupas finas e delicadas? Mas estes vivem nos
palácios dos reis. Então que fostes ver? Um Profeta?
Sim, eu vos digo, mais do que profeta. Dele é que
está escrito: "Eis que vou enviar o meu mensageiro à
tua frente, a preparar os teus caminhos. E eu vos
digo: Entre os nascidos de mulher, nenhum é maior
do que João Baptista; mas o mais pequeno no reino
dos céus é maior do que ele... Eu vo-lo digo: ele é o
próprio Elias que havia de vir".
João Baptista fechava assim o Antigo Testamen­
to e Jesus dava início ao Novo.

HERODÍADES PEDE A CABEÇA DE JOÃO

Chegou o dia do aniversário de Herodes que o


aproveitou para dar uma grande festa. Convidou to­
dos os grandes, os tribunos e os principais persona­
gens da Galileia para um banquete no seu palácio.
Como era costume, as mulheres ficavam separa­
João estava na prisão e mandou alguns discípulos ter com Jesus...
das, não tomavam parte nestas festanças. Por isso,
Jesus fez rasgados elogios de João.

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Herodíades, no final do banquete, mandou a filha
Salomé dançar na presença dos convidados. Ela ti­
nha uns 14 ou 15 anos e dançou de tal maneira que
encantou todos os convivas, a começar pelo próprio
rei.
Herodes, talvez já toldado pelo vinho, disse então
à jovem:
-�Pede-me o que quiseres e eu to darei11• E acres­
centou sob juramento: 11Dar-te-ei tudo o que me pedi­
res, nem que seja metade do meu rein011•
Salomé ficou embaraçada e não sabia o que pe­
dir. Por isso, foi lá dentro conferenciar com a mãe
que logo aproveitou a ocasião que se lhe oferecia
para se vingar do Baptista. Por isso, não hesitou nem
um segundo:
- 11Pede-lhe imediatamente num prato a cabeça
li.
de João Baptista
A jovem voltou junto do rei e transmitiu-lhe o re­
cado que a mãe lhe encomendara:
- ��auero que me dês imediatamente num prato
li.
a cabeça de João Baptista
Herodes ficou entristecido, mas por causa do ju­
ramento que fizera e dos convivas, não quis desilu­
di-la. Chamou um dos seus guardas e incumbiu-o de
ir à prisão, para lhe trazer a cabeça do Precursor.
"Pede-me o que quiseres e eu to darei". Logo que ele voltou, trazendo num prato a cabe-

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ça de João, entregou-a à rapariga que, por sua vez,
foi levá-la à mãe. Herodíades estava satisfeita. Tinha
conseguido aquilo que há tanto tempo desejava.
S. Jerónimo conta que ela se encarniçou sobre a
cabeça da sua vítima, furando-lhe a língua com um
estilete.
Assim morreu a primeira vítima da moral ultrajada.
Quando os discípulos tiveram conhecimento des­
te facto, foram imediatamente buscar o corpo e de­
ram-lhe sepultura num túmulo.
Estávamos na primavera do ano 29 e João devia
ter menos de 31 anos. O seu cativeiro durara uns
oito ou nove meses.

O GRANDE PECADO DE HERODES

O pecado de Herodes foi grande, por se ter casa­


do com uma divorciada e matar o Santo que lho cen­
surava. O mesmo pecado cometeu Henrique V III, di­
vorciando-se da sua mulher para casar com outra, e
matando S. Tomás Moro porque lho censurava. Não
obstante, não é menor o pecado de outros reis e
governantes que autorizam o divórcio e permitem o
adultério entre divorciados... Grande foi o pecado de
Herodes, grande o de Henrique V III, e grande é o de
Quero que me dês imediatamente num prato
a cabeça de João Baptista.
todos os governos que autorizam o divórcio e o adul-

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tério entre os divorciados.
Mas ainda há outro pecado maior, que foi o que
cometeu outro rei Herodes, pai daquele que mandou
assassinar o Baptista! Foi o pecado de mandar de­
golar todos os meninos de Belém e arredores, para
assim - pensava ele - apanhar o Menino Jesus
que, segundo os Magos, tinha nascido naquela altu­
ra e naquela cidade. Que crueldade! Que crime hor­
rendo! Mas mais triste ainda é que hoje haja no mun­
do reis e governos que autorizam matar muitos mais
meninos do que aqueles que Herodes mandou aba­
ter. E mais triste é que os matam no seio das pró­
prias mães, antes de nascerem.
Que os Santos Inocentes de Belém ajudem a
Santa Igreja a lutar contra o aborto e dêem coragem
às mães para não cometerem tão repugnante crime...

A Sagrada Família de Nazaré é modelo para as famílias de


todos os tempos.

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VOZ QUE CLAMA NO DESERTO que anuncia o Novo, é declarado profeta quando está
ainda nas entranhas de sua mãe. Na verdade, ainda
A Igreja celebra o nascimento de João como acon­ antes de nascer, exultou de alegria no ventre materno,
tecimento sagrado: não há nenhum, entre os nossos à chegada de Santa Maria. Já então ficava assinalada a
antepassados, cujo nascimento seja celebrado solene­ sua missão, ainda antes de nascer; revelava-se de quem
mente. Celebramos o de João, celebramos também o era o precursor, ainda antes de O ver. São realidades
de Cristo: isto tem sem dúvida uma explicação. E se divinas que excedem a limitação humana. Por fim, nas­
não a damos tão perfeita como exige a importância desta ce; é-lhe dado o nome e solta-se a língua do pai. Repa­
solenidade, meditemos ao menos nela, mais frutuosa e remos no simbolismo que estes factos representam.
profundamente. Zacarias cala-se e perde a fala até ao nascimento
João nasce de uma anciã estéril; Cristo nasce de de João, o precursor do Senhor; e então recupera a
uma jovem virgem. O futuro pai de João não acredita fala. Que significa o silêncio de Zacarias senão que an­
que este possa nascer e é castigado com a mudez; Maria tes da pregação de Cristo o sentido das profecias esta­
acredita, e Cristo é concebido pela fé. Eis o assunto, va, em certo modo, latente, oculto e fechado? Mas tudo
que quisemos investigar e prometemos tratar. E se não se abre e faz claro com a vinda d'Aquele a quem eles se
formos capazes de perscrutar toda a profundeza de tão referiam. O facto de Zacarias recuperar a fala ao nascer
grande mistério, por falta de capacidade ou de tempo, João tem o mesmo significado que o rasgar-se do véu
melhor vo-lo ensinará Aquele que fala dentro de vós, no templo, ao morrer Cristo na cruz. Se João se anun­
mesmo estando nós ausentes, Aquele em quem pensais ciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta­
com amor filial, que recebestes no vosso coração e de -se a língua porque nasce aquele que é a voz. Com efei­
quem vos tornaste templos. to, quando João já anunciava o Senhor, perguntaram­
João apareceu como o ponto de encontro entre os -lhe: Quem és tu? E ele respondeu: Eu sou a voz de
dois testamentos, o Antigo e o Novo. O próprio Senhor quem clama no deserto. João é a voz; mas o Senhor,
o testemunha quando diz: A Lei e os Profetas até João no princípio era a Palavra. João é a voz passageira;
Baptista. João representa o Antigo e anuncia o Novo. Cristo é, no princípio,a Palavra eterna.
Porque representa o Antigo, nasce de pais velhos; por- Dos Sermões de Santo Agostinho

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HINO A SÃO JOÃO BAPTISTA

Fugira S. João na juventude


Ao confuso rumor das multidões
E procurando os longes do deserto
Viveu sem mancha.
Com a lã de camelo se vestia,
Bebia apenas a água da fonte;
Comendo gafanhotos, mel silvestre,
Matava a fome.
Foi profeta do fogo; ergueu ao alto,
Nas suas mãos ardentes, uma chama:
"Preparai os caminhos do Senhor"
Foi seu brado.
Não houve em Israel homem mais santo,
Nem voz mais forte a ressoar aos ventos;
Sofreu até à morte no holocausto
Do próprio sangue.
Celebrando o seu nome, damos graças
E imploramos de Vós, Deus uno e trino,
Que perdoeis a todos a quem destes
A redenção.
Hino da Liturgia das Horas

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