Escrow Account (PF) - Acórdão CARF Nº 2301-005.377
Escrow Account (PF) - Acórdão CARF Nº 2301-005.377
Escrow Account (PF) - Acórdão CARF Nº 2301-005.377
1532
S2C3T1
Fl. 2
6
3-3
1
MINISTÉRIO DA FAZENDA 01
S2C3T1
/2
60
CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS
SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO
2 17
0.7
0 14
Processo nº 10140.721760/201336 1
Recurso nº Voluntário S O
Acórdão nº C ES
2301005.377 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária
O
Sessão de 03 de julho de 2018
F PR
Matéria
A R
Imposto de Renda da Pessoa Física IRPF
Recorrente
D -C
MAURA BARBOSA DODERO
Recorrida
PG
FAZENDA NACIONAL
NO
ADOASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF
R Exercício: 2010, 2011, 2012, 2013
GE GANHO DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO
DÃO SOCIETÁRIA.
Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que
Ó R importem alienação, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou
A C promessa de cessão de direitos à sua aquisição, tais como as realizadas por
compra e venda, permuta, adjudicação, desapropriação, dação em pagamento,
doação, procuração em causa própria, promessa de compra e venda, cessão
de direitos ou promessa de cessão de direitos e contratos afins.
ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. DECRETOLEI Nº
1.510/76. GANHO DE CAPITAL. ISENÇÃO POR PRAZO CERTO E SOB
CONDIÇÕES. REQUISITOS.
A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas
condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo. A
isenção de que trata a alínea "d" do art. 4º do Decretolei nº 1.510, de 1976,
foi não foi concedida por prazo certo. A Lei nº 7.713, de 1988, que entrou em
vigor em 01/01/1989, revogou a isenção dada pelo decretolei. Inexistência
de direito adquirido.
VALORES A SEREM RECEBIDOS EM FUNÇÃO DO CUMPRIMENTO
DE CONDIÇÕES DE “ESCROW ACCOUNT”
Somente haverá a incidência do Imposto de Renda sobre o ganho de capital,
decorrente da alienação de bens e direitos, no tocante a rendimentos
depositados em escrow account (contagarantia), quando ocorrer a efetiva
disponibilidade econômica ou jurídica destes para o alienante, após realizadas
as condições a que estiver subordinado o negócio jurídico, sendo que a
tributação de tais valores se dá sob a forma de tributação de ganho de capital
na forma do artigo 31 da Instrução Normativa SRF n. 84/01.
1
DF CARF MF Fl. 1533
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado: (a) por unanimidade de votos, conhecer
em parte do recurso, desconhecendo da questão relativa à redução em 50% da multa de ofício
em decorrência da imputação dos recolhimentos realizados em 28/12/2012, (b) pelo voto de
qualidade, negar provimento ao recurso na questão da isenção das participações adquiridas na
vigência do Decretolei 1.510, de 1976; vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto
(relator), Wesley Rocha, Marcelo Freitas de Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato, davam
provimento ao recurso voluntário, nessa questão e (c) por unanimidade de votos, negar
provimento ao recurso na questão dos juros recebidos e de sua natureza jurídica para fins de
tributação. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro João Mauricio Vital.
(assinado digitalmente)
João Bellini Junior Presidente
(assinado digitalmente)
Alexandre Evaristo Pinto Relator
(assinado digitalmente)
João Mauricio Vital – Redator Designado
Relatório
Trata o presente processo de impugnação à exigência formalizada através de
auto de infração de imposto de renda pessoa física, f. 03, resultante de procedimento de
fiscalização dos exercícios 2010 a 2013, anocalendário 2009 a 2012, por meio do qual se
exige o crédito tributário de R$ 5.838.858,46.
Conforme termo de verificação fiscal de f. 22, o sujeito passivo alienou
participações nas empresas SEBIVAL SEGURANÇA BANCÁRIA INDUSTRIAL E DE
VALORES LTDA, CNPJ 03.269.974/000163 e SETAL SERVIÇOS ESPECIALIZADOS
TÉCNICOS E AUXILIARES LTDA CNPJ 03.915.345/000163, e apurou e recolheu
parcialmente o imposto sobre o ganho de capital correspondente, bem como o imposto sobre os
juros relativos às parcelas do preço postergadas.
O ganho de capital e o correspondente imposto devido estão demonstrados no
Anexo IV do Termo de Verificação Fiscal, f. 65 dos autos, e os juros recebidos estão
demonstrados no Anexo V, f. 69.
2
DF CARF MF Fl. 1534
Processo nº 10140.721760/201336 S2C3T1
Acórdão n.º 2301005.377 Fl. 3
As multas aplicadas foram qualificadas, conforme consta da Seção VII do
Termo de Verificação, f. 52 e seguintes, o que é bem resumido no parágrafo 151.2, f. 58 dos
autos:
A ciência do lançamento de deu por via postal em 27/09/2013, conforme
aviso de recebimento postal de f. 1405.
O sujeito passivo apresentou impugnação em 25/10/2013, f. 1413, com as
seguintes contestações ao lançamento:
i) Não houve recebimento de juros, posto que somente foi recebido 94,5373%
da parcela que cabe à impugnante do preço total de venda;
iii) A Auditoria identificou as frações anterior e posterior do capital subscrito
ou adquirido até 31/12/1983, mas não utilizou tal informação para aplicar a isenção do
DecretoLei n° 1.510/1976;
iv) Mesmo tendo havido erro no demonstrativo de alienação da participação
societária, o valor informado corresponde a 83,3599% do que deveria ter sido informado;
v) Efetuou recolhimentos que devem ser imputados ao débito considerando
se a multa de 75%;
vi) Deve ser aplicado parcialmente o benefício do DecretoLei 1.510/76, com
parcela tributável de 56,58% e junta jurisprudência administrativa e judicial em apoio a à tese
de que há direito adquirido à isenção;
vii) Quanto aos recebimentos nos anos de 2010, 2011 e 2012, não foram
declarados por sua imprevisibilidade à época, visto que correspondiam a garantia para
contingências, conforme disposição contratual;
ix) Não houve omissão quanto à alienação da SETAL, vez que considerou o
valor total da transação e a declaração apresentada informou ter alienado a totalidade das
quotas de capital das duas sociedades;
x) A conduta dos membros da família Dodero decorre da aplicação uniforme
do entendimento quanto à isenção aplicável, não consistindo em conluio.
Por fim, requer:
i) Que as parcelas consideradas como juros sujeitos à tabela progressiva
sejam tidos como parte do preço de alienação recebido da conta Depósito em Garantia;
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DF CARF MF Fl. 1535
ii) Seja identificada a parcela do ganho de capital não tributável nos termos
do art. 4°, alínea “d”, do DecretoLei n° 1.510/1976;
iii) Seja feita a imputação dos recolhimentos de IRPF relacionados no
parágrafo 106 do Termo de Verificação Fiscal;
iv) Seja feita a imputação dos recolhimentos de IRPF relacionados no
parágrafo 108 do Termo de Verificação Fiscal, com a redução cabível da multa de 75%;
v) Seja deduzido o valor objeto de pedido de parcelamento;
vi) A multa de ofício seja reduzida para 75%.
O Acórdão da DRJ (fls. 1440 e ss) julgou a impugnação procedente em parte,
recebendo a seguinte ementa:
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF
Exercício: 2010, 2011, 2012, 2013
Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que
importem alienação, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou
promessa de cessão de direitos à sua aquisição, tais como as realizadas por
compra e venda, permuta, adjudicação, desapropriação, dação em
pagamento, doação, procuração em causa própria, promessa de compra e
venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de direitos e contratos
afins.
Para as ações adquiridas após a revogação do Decretolei nº 1.510, de 1976,
sob a égide da Lei nº 7.713, de 1988, inaplicável o instituto do direito
adquirido, para efeito do benefício da isenção do ganho de capital na
alienação das ações.
A alienação de participação societária adquirida sob a égide do artigo 4º,
alínea “d”, do Decretolei nº 1.510, de 1976, após decorridos cinco anos da
aquisição, não garante o direito à isenção, que pode ser modificada ou
revogada, por lei, aplicandose a lei vigente na data da alienação, quando
ocorre o fato gerador da obrigação tributária.
JUROS
Os valores recebidos a título de reajuste, no caso de pagamento parcelado
do preço de alienação sujeita a ganho de capital, qualquer que seja sua
designação não compõem o valor de alienação, devendo ser tributados à
medida de seu recebimento.
QUALIFICAÇÃO DA MULTA
4
DF CARF MF Fl. 1536
Processo nº 10140.721760/201336 S2C3T1
Acórdão n.º 2301005.377 Fl. 4
A simples apuração de omissão de receita ou de rendimentos, por si só, não
autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação
de condutas previstas para tanto.
Impugnação Procedente em Parte
Crédito Tributário Mantido em Parte
Em 28 de agosto de 2014, a Recorrente apresentou petição (fls. 1465 e ss)
informando que parte da exigência foi objeto do parcelamento no processo 10140
722.084/201318, cujo saldo em 25/08/2014, foi liquidado com as reduções previstas na Lei n.
12.996/14, para pagamento à vista, qual seja, redução de 100% da multa de ofício e 45% dos
juros, resultando num recolhimento de R$ 390.781,66 conforme comprova a cópia do DARF,
que foi apresentada como anexo. Como resultado, a Recorrente entende que deve ser excluída
da base de cálculo da multa prevista no §1º do artigo 44 da Lei 9.430/96, o valor do
parcelamento do processo 10140722.084/201318.
Como consequência, foi emitido termo de desentranhamento (fl. 1472) em
virtude do refazimento da planilha de cálculos dos débitos/saldos remanescentes (fls. 1473 e
ss).
Em Informação Fiscal (fls. 1478 e ss), de 11 de fevereiro de 2015, foi feita a
alocação proporcional dos pagamentos feitos pelo Recorrente, nos seguintes termos:
“Tratase de Auto de Infração de imposto de renda pessoa física IRPF
sobre ganho de capital e omissão de rendimentos dos períodos base 2009,
2010, 2011 e 2012.
Na impugnação o contribuinte alega que efetuou pagamentos de IRPF sobre
ganho de capital da competência janeiro de 2009 que não foram
aproveitados na apuração fiscal. Então, solicita que sejam imputados agora.
O acórdão da DRJ decidiu que esse procedimento pode ser realizado pela
unidade local.
Os pagamentos totalizaram R$ 238.604,729 e foram efetuados no mês de
dezembro de 2012.
Tanto os pagamentos como o principal foram corrigidos pelo mesmo índice
da taxa Selic até outubro de 2013, prazo final da impugnação.
Vale observar que a contribuinte realizou parcelamento e deixou em aberto o
valor de várias competências.
5
DF CARF MF Fl. 1537
Após alocação proporcional, o único saldo alterado foi do PA 01/2009, que
passa do valor de R$ 1.417.589,90 para 1.300.791,15. Os demais
permanecem inalterados.
Em 10 de março de 2015 (fl. 1506), a Recorrente foi intimada do Acórdão da
DRJ.
Em 30 de março de 2015, a Recorrente apresentou Recurso Voluntário (fls.
1508 e ss) reiterando os argumentos trazidos na impugnação, bem como requerendo que: (i) as
parcelas consideradas como “Juros sujeitos à tabela progressiva” sejam tidas como parte
integrante do “preço de alienação” recebido da conta de depósito em garanti – “Escrow
account”; (ii) o valor correspondente a 43,42% do Ganho de Capital seja considerado como
parcela isenta do imposto de renda nos termos do art. 4º, d, do Decretolei n. 1.510/76; e (iii)
no cálculo da imputação dos recolhimentos realizados em 28/12/12 seja considerado a multa de
ofício no percentual de 75%, com redução de 50%, já que tida como liquidada no prazo de
impugnação.
É o relatório.
Voto Vencido
Conselheiro Alexandre Evaristo Pinto Relator
Conclusão
(...) II – Não conhecer dos pedidos de imputação de pagamentos, posto que
já feita pela Auditoria ou, no caso de pagamentos após o início do
procedimento fiscal, por ser providência a ser adotada pela unidade
preparadora, a título de quitação do crédito tributário, se cabível;
Assim, entendo que a imputação dos recolhimentos realizada em 28/12/2012
já reconheceu a eventual redução da multa.
No tocante às demais argumentos, deles conheço.
Da Questão da Isenção das Participações Adquiridas na Vigência do
Decretolei nº 1.510/76
O Decretolei nº 1.510/76 determinava em seu artigo 4º, "d", a não incidência
do imposto de renda sobre o ganho de capital das pessoas físicas nas alienações efetivadas após
decorrido o período de cinco anos da data da subscrição ou aquisição da participação
Art 1º O lucro auferido por pessoas físicas na alienação de
quaisquer participações societárias está sujeito à incidência do
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DF CARF MF Fl. 1538
Processo nº 10140.721760/201336 S2C3T1
Acórdão n.º 2301005.377 Fl. 5
imposto de renda, na cédula "H" da declaração de rendimentos.
(Revogado pela Lei nº 7.713, de 1988)
Art 2º O rendimento tributável de acordo com o artigo anterior
será determinado pela diferença entre o valor da alienação e o
custo de subscrição ou aquisição da participação societária,
corrigido monetariamente segundo a variação das Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional. (Revogado pela Lei nº 7.713,
de 1988)
Art 3º Considerase valor da alienação: (Revogado pela Lei nº
7.713, de 1988)
a) o preço efetivo da operação de venda ou da cessão de
direitos;
Parágrafo único. Nos casos de alienação a título gratuito, será
sempre imputável à operação o valor real da participação
alienada.
Art 4º Não incidirá o imposto de que trata o artigo 1º:
(Revogado pela Lei nº 7.713, de 1988)
(...)
d) nas alienações efetivadas após decorrido o período de cinco
anos da data da subscrição ou aquisição da participação.
Todavia, tal benefício fiscal foi revogado pelo artigo 58 da Lei nº 7.713/88. O
referido benefício visava excluir da tributação os ganhos de capital decorrentes da alienação de
participações societárias, após decorrido o período de cinco anos da data da subscrição ou
aquisição da participação.
Sob minha ótica, o benefício fiscal previsto no Decretolei n° 1.510/76 tinha
por objetivo excluir da tributação os ganhos auferidos quando da alienação de participações
societárias, após decorrido o prazo de cinco anos da aquisição ou subscrição das participações.
Dessa forma, se faz fundamental que sejam analisadas se as participações
societárias alienadas pelo Recorrente, quando o dispositivo normativo isentivo do
Decretolei n° 1.510/76 já não estava mais vigente, cumpriram ou não o requisito de terem
permanecido durante mais de cinco anos da aquisição ou subscrição das participações.
É importante destacar que caso cumprido tal requisito, tratase de direito
adquirido do contribuinte e não de expectativa de direito, uma vez que se o prazo de cinco anos
foi atendido, o Recorrente já fazia jus à isenção do Decretolei n° 1.510/76.
Considerando que o artigo 58 da Lei nº 7.713/88, norma que revogou o
dispositivo normativo isentivo do Decretolei n° 1.510/76, entrou em vigor em 01/01/1989 e
que o Decretolei nº 1.510/76 condiciona a isenção do imposto de renda sobre o ganho de
capital a participação societária ter permanecido durante 5 anos sob a propriedade do alienante,
as ações e quotas adquiridas até 31/12/1983 e mantidas por ele até 01/01/1989 farão jus à
isenção do Decretolei nº 1.510/76.
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DF CARF MF Fl. 1539
Dessa forma, em todos os casos do Recorrente em que as ações ou quotas
foram adquiridas até 31/12/1983 e alienadas em um período posterior a 01/01/1989, haverá
isenção do imposto de renda sobre o ganho de capital.
Vale lembrar ainda o texto da Súmula 544, que dispõe que isenções
tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem ser livremente suprimidas.
Cumpre ressaltar, ainda, o texto da Solução de Consulta n. 505 do Cosit de
17 de outubro de 2017, que assim dispõe:
Solução de Consulta nº 505 Cosit 17 de outubro de 2017
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA
IRPF AQUISIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA SOB A
ÉGIDE DO DECRETOLEI Nº 1510, DE 1976. ALIENAÇÃO NA
VIGÊNCIA DE NOVA LEI REVOGADORA DO BENEFÍCIO.
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL.
A hipótese desonerativa prevista na alínea “d” do art. 4º do
DecretoLei nº 1.510, de 27 de dezembro de 1976, aplicase às
alienações de participações societárias efetuadas após 1° de
janeiro de 1989, desde que tais participações já constassem do
patrimônio do adquirente em prazo superior a cinco anos,
contado da referida data.
A isenção é condicionada à aquisição comprovada das ações até
o dia 31/12/1983 e ao alcance do prazo de 5 anos na titularidade
das ações ainda na vigência do Decretolei nº 1.510, de 1976,
revogado pelo art. 58 da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de
1988. Dispositivos Legais: art. 4º, alínea “d”, do DecretoLei nº
1.510, de 27 de dezembro de 1976; art. 178 da Lei n° 5.172, de
25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN)
Assim, com relação às aquisições que tenham ocorrido até 31/12/1983 e que
tenham sido objeto da presente autuação por terem sido alienadas nos exercícios de 2010,
2011, 2012 e 2013, isto é, aquelas marcadas como "fração anterior" no Relatório de
Fiscalização (fls. 35), estas serão isentas do imposto de renda sobre ganho de capital, tendo em
vista que o contribuinte permaneceu com sua participação societária por mais de cinco anos,
durante a vigência do DecretoLei nº 1.510/1976, e tratase de direito adquirido, uma vez que
foram cumpridos os requisitos legais para fruição da isenção prevista no referido DecretoLei.
Da Questão dos Juros Recebidos e de sua Natureza Jurídica para fins de
Tributação
Argumenta a Recorrente que não recebeu juros, uma vez que recebeu apenas
parcialmente o preço de venda acertado, e que tal rendimento apenas ocorreria a partir do
momento em que os recebimentos superassem o valor daquele preço.
Vale lembrar que de acordo com o Contrato de Compra e Venda da Sebival e
da Setal (fls. 97 e seguintes), o preço total da compra é R$ 110 milhões (fls. 110), sendo que
R$ 95 milhões foram pagos à vista e R$ 15 milhões foram depositados em conta de depósito
em garantia. Segundo a cláusula 9.10 do referido contrato (fl. 155), o montante depositado visa
garantir que eventuais danos sejam indenizados por esse montante, de modo que os vendedores
irão receber o referido montante líquido das indenizações pagas em virtude de danos cujos
fatos geradores são anteriores à aquisição das empresas.
8
DF CARF MF Fl. 1540
Processo nº 10140.721760/201336 S2C3T1
Acórdão n.º 2301005.377 Fl. 6
Tal qual exposto no Acórdão da DRJ, cumpre notar a redação do artigo 19,
§1º, da Instrução Normativa SRF nº 84/01, que assim dispõe:
Art. 19 . Considerase valor de alienação:
(...)
§ 3º Os valores recebidos a título de reajuste, no caso de
pagamento parcelado, qualquer que seja sua designação, a
exemplo de juros e reajuste de parcelas, não compõem o valor de
alienação, devendo ser tributados à medida de seu recebimento,
na fonte ou mediante o recolhimento mensal obrigatório (Carnê
Leão), quando a alienação for para pessoa jurídica ou para
pessoa física, respectivamente, e na Declaração de Ajuste Anual.
Dessa forma, valores recebidos a título de reajuste no caso de pagamento
parcelado não compõe o valor da alienação e devem ser tributados como juros, tributados à
medida de seu recebimento, na fonte ou mediante o recolhimento mensal obrigatório. Como
exemplo de valores a título de reajuste, a norma se refere a juros e a reajuste de parcelas. Vale
notar que a tributação de tal reajuste acaba sendo de acordo com a tabela progressiva do IRPF,
cuja alíquota máxima é de 27,5%, ao passo que a tributação do ganho de capital, à época dos
períodos autuados, se baseava na aplicação de alíquota fixa de 15% sobre o montante do ganho
de capital.
Todavia, também se faz necessário citar o artigo 31 da Instrução Normativa
SRF nº 84/01, que assim dispõe:
Art. 31. Nas alienações a prazo, o ganho de capital é apurado
como se a venda fosse efetuada à vista e o imposto é pago
periodicamente, na proporção da parcela do preço recebida, até
o último dia útil do mês subseqüente ao do recebimento.
II a alíquota de quinze por cento sobre o valor apurado na
forma do inciso I.
Assim, se a alienação geradora do ganho de capital é feita a prazo, o ganho de
capital é calculado como se a venda tivesse sido feita á vista, no entanto, o imposto sobre o
ganho de capital (calculado à alíquota de 15%) é pago na proporção da parcela do preço
recebida, até o último dia útil do mês subsequente ao do recebimento.
Como se vê, a depender do enquadramento jurídico do valor recebido pela
Recorrente, a tributação aplicável será totalmente diferente, isto é, aplicarseá à tributação pela
tabela progressiva do IRPF se for entendido que se trata de valor de reajuste, ou se aplicará a
tributação de 15% a título de IRPF sobre ganho de capital se for entendido que se trata de
alienação a prazo.
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DF CARF MF Fl. 1541
Somese a isso o fato de que existe resposta para questão parecida com a da
Recorrente no “Perguntão” da Receita Federal. A título de exemplo, citamos aqui a resposta do
“Perguntão” relativa ao último exercício objeto da autuação, isto é, 2013:
555 Como devem ser tributados os resultados obtidos em
alienações de participações societárias quando o preço não pode
ser predeterminado?
(PMF nº 454, de 1977; PMF nº 227, de 1980)
Destaquese, ainda, que a resposta à questão 555 do “Perguntão” do exercício
2013 traz exemplo expresso de situação em que não é possível identificar o preço de imediato,
que é o caso quando a determinação do valor das prestações e do preço depende do
faturamento futuro da empresa adquirida, no curso do período do pagamento das parcelas
contratadas.
Tal modalidade de cláusula variável do preço de venda de uma “empresa”
com base em seu faturamento futuro é comumente denominada no mercado como “earn out”,
de forma que parte do preço será aumentada na medida do desempenho da “empresa” vendida.
Por sua vez, no caso em tela, a cláusula variável do preço de venda de uma
“empresa” tem por base o cumprimento de determinadas condições, de modo que cumprida tais
condições ao longo de um determinado tempo, o vendedor fará jus à parcela do preço
previamente depositada em uma “escrow account”.
O momento de tributação do ganho de capital de parcela do preço de venda
depositada em “escrow account” já foi objeto inclusive da Solução de Consulta n. 58/2013 do
Cosit, que possui a seguinte ementa:
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA
IRPF
Ganho de capital. “Escrow account”. Tributação.
10
DF CARF MF Fl. 1542
Processo nº 10140.721760/201336 S2C3T1
Acórdão n.º 2301005.377 Fl. 7
Somente haverá a incidência do Imposto de Renda sobre o ganho
de capital, decorrente da alienação de bens e direitos, no tocante
a rendimentos depositados em “escrow account” (conta
garantia), quando ocorrer a efetiva disponibilidade econômica
ou jurídica destes para o alienante, após realizadas as condições
a que estiver subordinado o negócio jurídico.
Dispositivos Legais: Lei nº 5.172, de 1966 (CTN), arts. 43 e 114
a 117; Lei nº 10.406, de 2002 (Código Civil), arts. 121, 125 e
126; Decreto nº 3.000, de 1999 (RIR/1999), arts. 117, § 2º; 123,
§ 6º, e 140, § 1º; Instrução Normativa SRF nº 84, de 2001, arts.
19, § 3º, e 31.
Após acurada análise sobre a natureza jurídica do “escrow account”, do
potencial conflito entre os já citados artigos 19, §1º e 31 da Instrução Normativa SRF nº 84/01
e até da pergunta n. 555 do “Perguntão”, a Solução de Consulta n. 58/2013 do Cosit conclui
que “somente haverá a incidência do Imposto de Renda sobre o ganho de capital, decorrente da
alienação de bens e direitos, no tocante a rendimentos depositados em escrow account (conta
garantia), quando ocorrer a efetiva disponibilidade econômica ou jurídica destes para o
alienante, após realizadas as condições a que estiver subordinado o negócio jurídico, nos
termos da legislação suso colacionada”.
Ocorre que, no caso concreto, a partir da análise dos "Valores Recebidos
pelos Vendedores pela Alienação das Quotas da Sebival e da Setal" (fls. 60), verificase que a
autuação fiscal já havia segregado os montantes recebidos a título de principal (ganho de
capital) e a título de juros.
Diante de todo o exposto, os valores depositados na "escrow account"
recebidos conforme o cumprimento das condições já estão tendo a tributação de ganho de
capital, de modo que a autuação somente se refere aos valores recebidos como juros. Nesse
sentido, a tributação dos juros aqui entendidos como parcelas de reajuste do principal serão
tributadas pela tabela progressiva do IRPF, nos termos do artigo 19, §1º, da Instrução
Normativa SRF nº 84/01.
Conclusão
Com base no exposto, voto por conhecer parcialmente do recurso voluntário
e, na parte conhecida, darlhe parcial provimento reconhecendo a isenção da parcela marcada
como "fração anterior" no Relatório de Fiscalização (fls. 35) uma vez que a contribuinte teria
permanecido com sua participação societária por mais de cinco anos, durante a vigência
do DecretoLei nº 1.510/1976.
É como voto.
(assinado digitalmente)
Alexandre Evaristo Pinto
Voto Vencedor
Conselheiro João Mauricio Vital – Redator Designado.
11
DF CARF MF Fl. 1543
Ouso discordar do sempre brilhante conselheiro relator. Como bem explicou,
o DecretoLei nº 1.510, de 1976, estabelecia que seriam isentos de Imposto de Renda sobre o
ganho de capital os ganhos auferidos em as operações de venda de ações que houvessem
permanecido por cinco anos em poder do alienante. A Lei nº 7.713, de 1988, que entrou em
vigor em 01/01/1989, revogou a isenção dada pelo decretolei.
Ora, o benefício concedido pela regra isentiva do DecretoLei nº 1.510, de
1976, não era por prazo certo, apenas exigia que o contribuinte mantivesse suas ações pelo
período mínimo de cinco anos. Estavase, pois, diante de uma isenção concedida sob condição,
mas por prazo indeterminado, pois o diploma não definia a data de vigência do benefício.
A Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional
(CTN) autoriza a revogação da isenção1, desde que não tenha sido concedida por prazo certo e
em função de determinadas condições2.
Observe que o legislador empregou a conjunção aditiva "e" para caracterizar
que a vedação à revogação da isenção somente ocorre quando as duas características do
benefício estiverem presentes: ser concedido 1) por prazo certo e 2) sob condição.
Em uma interpretação histórica, essa opção do legislador fica tanto mais
óbvia. A redação original do art. 178 do CTN empregava a conjunção alternativa "ou", mas a
Lei Complementar nº 24, de 7 de janeiro de 1975, deu nova redação ao dispositivo tãosomente
para substituir a conjunção alternativa pela conjunção aditiva. Não há, então, dúvidas de que o
legislador pretendeu condicionar a revogação de isenções somente quando o benefício
houvesse sido concedido por prazo certo e, também, sob condições.
Portanto, ao revogar a isenção do DecretoLei nº 1.510, de 1976, que havia
sido concedida sob condição, mas sem prazo certo, a Lei nº 7.713, de 1988, extinguiu a
possibilidade de fruição do benefício a partir de sua vigência. Desse modo, não há que se falar
em direito adquirido.
Não descuro da existência da Súmula STF nº 544, cujo enunciado é:
Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não
podem ser livremente suprimidas.
Porém, o enunciado é de 10/12/1969 e os julgado precedente mais recente é
de 27/12/1968. Ou seja, é bem anterior à alteração legislativa do art. 178 do CTN, que ocorreu
em 1975. Por ocasião do estabelecimento da súmula, o texto legal deixava evidente que a
isenção concedida apenas sob condição não poderia ser revogada, porque essa era a redação do
art. 178 do CTN.
1
Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os
dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda:
.....................................
III que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte, e
observado o disposto no artigo 178.
2
Art. 178 A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser
revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104.
12
DF CARF MF Fl. 1544
Processo nº 10140.721760/201336 S2C3T1
Acórdão n.º 2301005.377 Fl. 8
A despeito do enunciado, é necessário verificar os julgados que aplicaram o
entendimento sumulado após a novação normativa para bem compreender o seu alcance. Nesse
sentido, ilustro com as ementas seguintes, com destaques meus:
RE 91291 / SP, de 21/08/1979
RE 582926 AgR/CE, de 10/05/2011
AI 861261 AgR / MG, de 18/11/2014
Portanto, tendo, o sujeito passivo, alienado as ações quando já não vigia o
DecretoLei nº 1.510, de 1976, não estava amparado pela isenção de Imposto de Renda sobre o
ganho de capital, razão pela qual entendo que o lançamento é, também nesse ponto,
procedente.
Em tudo o mais, concordo com o relator.
É como voto.
13
DF CARF MF Fl. 1545
(assinado digitalmente)
João Mauricio Vital
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