4 Convergência Entre A Televisão e A Internet: A Transformação Da TV Tradicional em Uma Plataforma Digital
4 Convergência Entre A Televisão e A Internet: A Transformação Da TV Tradicional em Uma Plataforma Digital
4 Convergência Entre A Televisão e A Internet: A Transformação Da TV Tradicional em Uma Plataforma Digital
4.1.
A evolução do hábito de assistir televisão
16
World Series é a série final do campeonato da Major League Baseball. Uma disputa melhor de
sete jogos entre os campeões da Liga Nacional e da Liga Americana. O time que vencer quatro
jogos primeiro consagra-se o campeão da temporada (BLOG DO BEISEBOL, 2011?).
Capítulo 4 - Convergência entre a televisão e a internet: a transformação da TV 72
tradicional em uma plataforma digital
17
Programação vertical: divisão da grade de programação em horários, de acordo com o público,
mantendo uma sequência racional entre os telespectadores dos programas (SIQUEIRA, 2011).
18
Programação horizontal: programas que vão ao ar todos os dias, rigorosamente no mesmo
horário, como forma de criar o hábito de assistir aos mesmos (SIQUEIRA, 2011).
Capítulo 4 - Convergência entre a televisão e a internet: a transformação da TV 73
tradicional em uma plataforma digital
19
HBO é um canal de televisão por assinatura, cuja programação consiste na exibição de filmes
campeões de bilheteria, documentários e séries originais que estreiam simultaneamente nos EUA e
no Brasil (CANAIS HBO, 2013?).
Capítulo 4 - Convergência entre a televisão e a internet: a transformação da TV 74
tradicional em uma plataforma digital
CAREY (2002) destaca que é importante entender que isto é uma evolução
e não uma revolução do comportamento das pessoas. As mudanças ocorreram
gradualmente, desde o início da década de 1970 até os anos de 1990. O hábito de
assistir TV em grupo não desapareceu, apenas se tornou um dos diversos padrões
de comportamento observados hoje em dia. Além disso, o número de canais que
as pessoas assistiam cresceu de forma muito mais lenta do que todos os canais que
eram oferecidos para elas.
JOHNSON (2011) explica a diferença entre evolução e revolução através
dos exemplos da HDTV (High Definition Television ou televisão de alta
definição) e do YouTube20. A passagem da televisão analógica para a HDTV é
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1113327/CA
uma mudança de grau, não de categoria: há mais pixels, o som é mais envolvente,
as cores são mais vivas. Mas os consumidores assistem à HDTV exatamente da
mesma maneira como assistiam à antiquada TV analógica: eles escolhem um
canal, reclinam-se e assistem. Isso, portanto, é uma evolução. O YouTube, por
outro lado, alterou de maneira radical as regras básicas do meio. Para começar,
transformou o ato de assistir a vídeos online em um fenômeno de massa. Mas com
o YouTube, as pessoas não estão limitadas a se sentar e assistir um vídeo (ou
programa), tal como ocorre com a televisão. As pessoas também podem fazer o
upload dos seus próprios vídeos, recomendar ou avaliar os vídeos de outros
usuários, ou fazer comentários sobre estes vídeos. Além disso, com apenas alguns
cliques, é possível pegar o vídeo que está sendo exibido no site de outra pessoa e
colocá-lo no seu próprio site. A tecnologia permitiu a entusiastas comuns
20
O YouTube pode ser considerado como um serviço de vídeo universal, pois está presente em
cada dispositivo móvel conectado e em quase todas as TVs conectadas. Além disso, seu player
está inserido nas páginas de vários outros sites, incluindo os mais populares, como o Facebook. A
ubiquidade (fato de estar presente em todos os lugares) do YouTube ajudou a alimentar a sua
popularidade. Considerando-se apenas os EUA, por exemplo, mais da metade da população
assistiu os vídeos do YouTube no mês de março de 2013 - gastaram 13 minutos por dia, segundo a
Comscore. Neste mesmo período, o YouTube atingiu 1 bilhão de visitantes únicos mensais
(DIXON, 2013).
Capítulo 4 - Convergência entre a televisão e a internet: a transformação da TV 75
tradicional em uma plataforma digital
4.2.
A mudança da TV analógica para a TV digital
bastante utilizados na televisão digital, assim como o vídeo sob demanda (VoD -
Video on Demand).
Navegar através dos menus de uma TV interativa é um tremendo desafio.
No passado, em termos de organização de canais, a televisão era uma mídia linear.
Os canais começavam pelo número um e seguiam através dos números 12, 40 ou
200. Se algum canal fosse introduzido, mais cedo ou mais tarde o telespectador
iria encontrá-lo. Mas com tantos serviços oferecidos pela TV interativa, o usuário
precisa fazer escolhas a partir de uma estrutura de menus cheia de ramificações ou
através de um botão específico localizado no controle remoto do aparelho. Uma
vez que o espaço na tela é limitado, uma pessoa tem que navegar entre três ou
quatro níveis antes de alcançar alguns destes serviços. Além disso, como existem
vários controles remotos nas casas das pessoas, cada um com vários botões, a
opção para ativar a TV interativa pode ficar perdida entre vários outros botões.
Projetar menus fáceis de usar e uma nova geração de controles remotos é um
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1113327/CA
velho padrão analógico. Como resultado, mais de 10% dos televisores dos lares
norte americanos deixaram de funcionar.
De acordo com o PORTAL PUC-RIO DIGITAL (2012), o que temos hoje
são apenas áudio e imagem melhores. Com a digitalização, pelo receptor, se
transforma o sinal e se consegue ter a imagem do canal igual à da sua origem, sem
ruídos. Isso, basicamente, e uma interatividade primária, como menu de
informações, algumas fotos e resumos de novelas, foram o resultado da
digitalização da TV brasileira. Por conta deste fato, o Brasil está perdendo tempo,
pois o país poderia estar fazendo inclusão digital pela televisão e não somente pela
internet. O desenvolvimento desta tecnologia permitiria, por exemplo, que as
pessoas marcassem consultas no SUS e fizessem testes de saúde pelo controle
remoto da TV. Além disso, elas poderiam ampliar suas informações por meio de
vídeos de determinados assuntos que passam no noticiário, ver mapas, etc. Usar a
televisão para a inclusão digital é uma ideia especialmente interessante porque, de
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1113327/CA
4.3.
A transformação da TV em uma plataforma digital
internet. JORDÃO (2010) também relata que o cenário atual é bastante diferente
de 1995, quando começaram as tentativas de fazer a TV e a internet convergirem.
Vários esforços foram feitos na década de 1990, porém, não resultaram em
tecnologias aproveitáveis na época. Várias questões que, no passado, dificultavam
o acesso à rede mundial de computadores pela TV já têm solução. As principais
eram problemas com a usabilidade e a falta de conteúdo. Dependendo da interface
do aparelho de TV, por exemplo, a experiência de navegar na internet sentado no
sofá pode ser decepcionante, já que digitar palavras usando um controle remoto
não é nada prático.
De acordo com RICHTEL e STELTER (2010), estes são tempos de
confusão na sala de estar. A proliferação dos vídeos na internet levou a se falar
muito de “corte do cabo”, um termo que passou a significar o cancelamento da TV
por assinatura tradicional e substituí-la pela programação a partir de fontes online.
Dados do IBOPE (2013a) demonstram que o advento das novas tecnologias tem
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1113327/CA
21
Programa de TV do chef Jamie Oliver. Em cada episódio, ele tenta reformular o programa de
alimentação de uma escola norte americana, ajudando no combate à obesidade, na mudança de
hábitos alimentares e ensinando como é possível ter uma vida mais longa e saudável (IMDB, 201-
?).
Capítulo 4 - Convergência entre a televisão e a internet: a transformação da TV 84
tradicional em uma plataforma digital
4.4.
O que se diz sobre o futuro da televisão
“Um dos grandes truísmos de nosso tempo é que vivemos numa era de aceleração
tecnológica; novos paradigmas continuam surgindo em quantidade crescente e a
intervalos cada vez menores. Essa aceleração reflete não apenas o fluxo de novos
produtos, mas também nossa crescente disposição para abraçar esses novos
aparelhos estranhos e pô-los em uso. As ondas chegam em frequências cada vez
maiores e estamos nos tornando, em números crescentes, surfistas experientes,
remando ao encontro delas no instante em que começam a quebrar” (JOHNSON,
2011).
ESPELIEN (2013) afirma que, ao longo das próximas décadas, a internet irá
substituir a TV linear ao redor de todo o mundo. Segundo JORDÃO (2010), o
aparelho de televisão do futuro deverá mostrar conteúdo da internet relacionado à
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1113327/CA
internet, o conteúdo online (cada vez mais disponibilizado através de vídeo sob
demanda), interativo e customizado irá mandar na programação e o engajamento
nas redes sociais passará a valer mais do que a audiência. Como resultado destas
mudanças, a televisão se tornará onipresente (estará em todos os dispositivos,
como um objeto híbrido).
O tempo para isto tudo acontecer (se, de fato, acontecer) ainda é incerto. É
provável que irá levar cerca de uma década ou mais. Esta mudança também irá
gerar algumas outras implicações em relação à maneira como as pessoas assistem
televisão. Segundo SMITH (2011), por exemplo, os usuários da internet se
acostumaram a agir de uma forma multitarefa, realizando breves desvios para
procurar uma outra camada de informação. Desta maneira, as pessoas se
acostumaram a clicar em links, sair de onde estão para procurar algo novo e
depois voltar para o ponto inicial. Este tipo de comportamento pode ser
transferido para a TV, fazendo com que as pessoas queiram mais da televisão,
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1113327/CA
uma vez que elas estão cada vez mais adeptas ao processamento de mais de uma
informação ao mesmo tempo.
O comportamento multitarefa descrito no parágrafo anterior se reflete na
tendência de que as pessoas discutem episódios de programas de televisão via
Twitter e Facebook, navegam na web à procura de conteúdos relacionados a estes
episódios e também fazem check-in22 nos seus programas de TV favoritos. E estas
pessoas estão fazendo tudo isso a partir de seus smartphones ou tablets, por meio
de aplicativos específicos que oferecem conteúdos relacionados à televisão.
ESPELIEN (2013) afirma que as lojas de aplicativos para smartphones ou tablets
estão alterando o ecossistema da televisão e que a visualização de conteúdos
através destes dispositivos móveis irá aumentar. Além disso, os controles remotos
irão desaparecer e os smartphones ou tablets passarão a ser utilizados para esta
função, enquanto os aplicativos irão substituir os canais e as segundas telas irão
proliferar.
Conforme os telespectadores ganham experiência com as TVs interativas,
TVs conectadas, VoDs, DVRs e os aplicativos de segunda tela, a forma de criar e
produzir os programas de TV tradicionais e lineares pode mudar. Nos EUA, por
22
Fazer check-in significa utilizar uma funcionalidade específica de alguns aplicativos, que
publica nas redes sociais a informação de que a pessoa está assistindo um determinado programa
de TV (nota do autor).
Capítulo 4 - Convergência entre a televisão e a internet: a transformação da TV 87
tradicional em uma plataforma digital
algo totalmente novo, que temos que pensar, programar, criar curadoria e
construir novas plataformas digitais.
A convergência entre a TV e os dispositivos de mídia conectados pela
internet não levanta apenas questões relacionadas às novas possibilidades de
interação dos telespectadores com as novas tecnologias. Grandes empresas, que
tradicionalmente ocupam outros segmentos de mercado, também estão de olho na
televisão. De acordo com RUIC (2011), parece que a Google está à procura de
uma nova oportunidade de negócio, de preferência uma empreitada um pouco
mais bem sucedida do que as recentes tentativas de criar a sua própria rede social
(ou seja, o Google+). A empresa parece ter planos de entrar no mercado de
televisão por assinatura e está analisando maneiras de expandir o pacote de
internet de alta velocidade em duas cidades norte americanas, adicionando
serviços de vídeo e telefonia. Além disso, parece que a companhia já discutiu o
assunto com grandes conglomerados da indústria de televisão, entre eles Walt
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1113327/CA
Dinsey Co., Time Warner Inc. e Discovery Communications, sobre uma possível
distribuição de seus principais canais. TITLOW (2011) também relata que Steve
Jobs, alguns meses antes de sua morte, disse ao seu biógrafo, Walter Isaacson,
que ele havia conseguido reinventar o design e as funcionalidades da televisão,
algo que ele tinha vontade de fazer há muito tempo. Seu objetivo era criar um
aparelho de TV integrado e completamente fácil de usar, com uma interface de
usuário mais simples, perfeitamente sincronizado com todos os dispositivos da
Apple e com o iCloud (uma espécie de área de armazenamento virtual de arquivos
e conteúdos).
Com ou sem ajuda de empresas como a Google ou a Apple, um aparelho de
televisão conectado à internet e capaz de ser sincronizado através de diversos
dispositivos é uma ideia que pode ser apontada como a grande tendência sobre o
futuro da TV. No entanto, como as novidades surgem em ritmo acelerado e a
indústria de televisão é bastante dinâmica, não é possível prever ao certo como
será o rumo deste futuro da TV. É importante ressaltar que, neste cenário de
evolução tecnológica, onde as pessoas dispõem, cada vez mais rápido, da
possibilidade de consumo de mídias em diferentes dispositivos, muitas das
suposições que foram encaradas como verdades absolutas no passado não
aconteceram (como o paradigma da revolução digital que foi apresentado no
Capítulo 4 - Convergência entre a televisão e a internet: a transformação da TV 89
tradicional em uma plataforma digital
4.5.
Conclusão do capítulo
Não havia uma grande variedade de escolha em relação ao que assistir, tanto em
termos de canais quanto em termos de programação. Os consumidores eram
considerados passivos, previsíveis, isolados e ficavam onde mandavam que
ficassem.
A partir de 1995, o conteúdo da televisão passou a ser distribuído pela
internet. As emissoras de televisão passaram a ter a possibilidade de utilizar o
ambiente da rede mundial de computadores para oferecer uma experiência
complementar ao que era assistido na tela da TV, por meio de iniciativas
transmidiáticas, onde os personagens vivem histórias independentes que são
desenroladas em dispositivos diferentes - a compreensão de uma história em um
dispositivo não depende da compreensão da outra história em um segundo
dispositivo e assim sucessivamente. Mas este conceito era muito inovador para
aquela época e isso foi pouco explorado nos primeiros anos de convergência entre
a TV e a internet. Portanto, é importante ressaltar que, em um primeiro momento,
essa convergência era realizada apenas através dos sites de canais ou de
programas de televisão, a partir de conteúdos como notícias, fotos, grade de
programação e sinopses (os vídeos só passaram a fazer parte desse “pacote”
quando o YouTube foi lançado, em 2005 - desde então, as emissoras também
passaram a investir na disponibilização de conteúdos em vídeo). Com isso, apesar
Capítulo 4 - Convergência entre a televisão e a internet: a transformação da TV 92
tradicional em uma plataforma digital