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Resumo: Abstract:
O objetivo deste trabalho é discutir a The objective of this work is to discuss the
construção do conhecimento histórico construction of historical knowledge
através das Tecnologias de Informação e through Information and Communication
Comunicação, especificamente do podcast Technologies, specifically the podcast -
– mídia digital de distribuição de arquivos digital media distribution of audio files
de áudio pela internet – e indicar algumas over the Internet – and to indicate some
possíveis contribuições dessa mídia para o possible contributions of this media to
Ensino de História. Desenvolvemos a History Teaching. We developed the
discussão de que a Escola é um espaço discussion that the Schoolis a hybrid space,
hibrido, constituído em meio ao processo constituted in the middle of the process of
de globalização como lugar de globalization as a place of convergence
convergência entre as diversas mídias between the diverse media belonging to
pertencentes à cibercultura e que, a partir cyber culture and that, from a choice by the
de uma escolha pela utilização da use of the temporality of Present Time,
temporalidade do Tempo Presente, teachers of history and students can
professores de história e alunos podem mobilize knowledge beyond formal
mobilizar saberes para além dos espaços learning spaces. Thus, the convergence of
formais de ensino. Assim, a convergência digital media in the school space creates
das mídias digitais no espaço escolar criam potentialities for the production of original
potencialidades para a produção de historical narratives carried out by teachers
narrativas históricas originais and students for publics paces. Realizing
protagonizadas por professores e alunos this potential articulation between digital
para os espaços públicos. Percebendo essa and school space, we propose the
potencial articulação entre o espaço digital development of a podcast workshop to
e escolar, propomos o desenvolvimento de beused by history teachers in Basic
uma oficina de podcast a ser utilizada por Education.
professores de história na Educação
Básica. Keywords: Podcast - Historyteaching -
ICTs
Palavras-chaves: Podcast – Ensino de
história – TICs
Introdução
sociais se intensificou a partir dos anos 2000. Esse fenômeno de transformação das relações
de consumo na internet foi chamado de Web 2.0.1
É nesse momento que surge o Podcast, mídia transmitida via feed RSS
(ReallySimpleSyndication), tecnologia que permite que usuários assinem conteúdos e os
recebam em seus computadores. Segundo MOURA & CARVALHO (2006, p. 88) o termo
podcast surgiu através da programação feita por Dave Winer – criador de software – e o DJ
Adam Curry da MTV. O objetivo da parceria era disponibilizar áudios para transmissão e
download através de uma subscrição de feed via web. A popularização dessa tecnologia se
deu a partir do uso do iPod como sistema que direcionava os downloads. É desse uso que
surge a palavra Podcast, derivada das palavras podcasting (método de transmissão ou
distribuição de dados) e iPod (dispositivo de reprodução de áudio/vídeo da Apple).
É muito comum que se confunda o podcast com outras mídias de áudio
disponibilizadas na internet. Em 2004, data de criação do podcast, era muito comum a
disponibilização de programas de rádio em formato MP3 para download. O usuário acessava
determinado Blog ou site e fazia download diretamente para o seu computador. Assim, para
que este usuário tivesse acesso a um novo programa ele deveria sempre acessar o endereço da
página na internet para ver se um novo conteúdo já estava disponível. Com o surgimento de
aparelhos portáteis que reproduziam arquivos em formato de áudio, várias ideias para
automatizar o acesso dos usuários aos conteúdos surgiram. Dentre estas tecnologias a mais
popular foram os chamados “agregadores”, programas que utilizavam da tecnologia RSS
presente nos Blogs para transmitir os arquivos de áudio ao mesmo tempo que avisava aos
usuários que estavam disponíveis.
A principal característica do Podcast e que o diferencia das demais mídias de áudio, a
exemplo das Web Rádios, é o sistema de pull e push. O podcast possui uma especificidade
tecnológica que permite aos usuários uma maior liberdade na sua relação com o conteúdo,
permitindo que seja possível escolher seus programas preferidos sem depender
exclusivamente de conteúdos previstos em uma grade de programação. As mídias
tradicionais, como o rádio e a televisão, permitem apenas que os usuários recebam
passivamente o conteúdo sem, no entanto, estabelecer uma relação interativa. Esse sistema é
1
1 O conceito de Web 2.0 surgiu em meados de 2004 e foi cunhado por Tim O’Reilly, chefe executivo da
O’Reilly Media, durante uma sessão de brainstorming com a MediaLiveInternational. Em setembro do ano
seguinte O’Reilly publicou o artigo “Whatis Web 2.0” em que discutia as transformações da web a partir da
bolha das lojas online no início do século XXI.
Um dos podcasts mais ouvidos do Brasil é o Nerdcast5 do site Jovem Nerd. Com
conteúdo voltado ao público Geek6, o podcast além de tratar sobre temas como RPG,
quadrinhos, filmes, series e outros assunto da cultura pop, também discute fatos relacionados
à vida dos participantes. Temas como histórias de carnavais, coisas irritantes, entrevistas,
ciência, fatos do cotidiano e viagens são tratados de forma humorística e descompromissada.
Outros podcasts possuem essa mesma temática geek e alcançam milhares de ouvintes, como
Matando Robos Gigantes7,Rapaduracast8, 99 vidas9, Canal 4210.
Podcast relacionados à Educação ainda são poucos, mas alguns programas têm
crescido e alcançado um público cada vez mais diversificado. Citamos o podcast do site
Escriba Café11 que trata de temas históricos, passando por temas como Idade Média,
Mitologia grega, Segunda Guerra Mundial, Revolução Francesa e muitos outros. Estes
programas possuem uma modalidade diferente, sendo o podcast narrado apenas por um
participante e sonorizado com efeitos que contextualizam a narrativa. Já o podcast do site
2
Do inglês “empurrar”.
3
Os arquivos da internet em sua maioria se encontram localizados em endereções específicos na rede. Portanto,
quando falamos em push, estamos dizendo que os usuários precisam acessar determinado local na web para fazer
o download de arquivos.
4
Termo utilizado para designar o espaço digital em que são disponibilizados os podcast. Também se usa este
termo para associar ao “mundo” que circulam os podcasts.
5
Disponível em: <<www.jovemnerd.com.br/categoria/nerdcast/>> Acesso em 28 de janeiro de 2017.
6
Geek é um sinônimo para nerd e também é usado para caracterizar pessoas que se interessam e possuem
afinidades com tecnologia, cinema, séries, quadrinhos, eletrônica, jogos eletrônicos ou de tabuleiro e etc.
7
Disponível em: <<http://jovemnerd.com.br/categoria/matando-robos-gigantes/>> Acesso em 29 de janeiro de
2017.
8
Disponível em: <<http://cinemacomrapadura.com.br/rapaduracast-podcast/>> Acesso em 29 de janeiro de 2017.
9
Disponível em: <<http://99vidas.com.br/>> Acesso em 29 de janeiro de 2017.
10
Disponível em: <<http://canal42.tv/category/podcast/>> Acesso em 29 de janeiro de 2017.
11
Disponível em: <<www.escribacafe.com.br>> Acesso em 29 de janeiro de 2017.
História Online12 possui características didáticas, em que o professor Rodolfo Neves discute
os temas históricos apresentando conceitos, discussões teóricas e conteúdos voltados,
principalmente, para alunos que desejam realizar o vestibular. Divididos em ordem
cronológica, os podcasts deste site se organizam em três grandes temas: História Geral,
História do Brasil e Atualidades. O Scicast13 se distingue como um podcast relacionado à
divulgação da ciência ao grande público, passando de temas das ciências exatas como física,
química, mecânica até temas relacionados a ciências humanas, como história e geografia.
Com o objetivo de discutir problemas de natureza histórica a partir das demandas do
presente o Sobre História14 é um podcast fundado a partir das discussões sobre o lugar do
historiador em meio às novas tecnologias de informação, sua inserção na sociedade como
referência em assuntos de natureza histórica e na sua atuação como divulgador cientifico. O
podcast tem apresentado temas relevantes para a sociedade, partindo do pressuposto de que
pensar historicamente é um fenômeno inerente ao ser humano e não algo exclusivo da
academia. O objetivo é discutir sobre história de forma acessível a todos os públicos
interessados no tema de maneira sempre embasada e ancorada nos pressupostos teóricos da
historiografia.
12
Disponível em: <<www.historiaonline.com>> Acesso em 29 de janeiro de 2017.
13
Disponível em: <<http://www.scicast.com.br/>> Acesso em 29 de janeiro de 2017.
14
Disponível em: <<https://soundcloud.com/sobrehistoriapodcast>> Acesso em 29 de janeiro de 2017.
15
O hipertexto é um caminho de navegação que conecta informações a partir de associações, seja através de
textos ou mesmo de imagens, vídeos e outras mídias disponíveis na web. O hipertexto pode ser construído em
delineamento coletivo, como é utilizado pelos verbetes do Wikipédia.
16
No Brasil vemos como marco dos estudos acerca da História publica a criação em setembro 2012 da Rede
Brasileira de História Publica. Em carta de apresentação, os membros da rede estabelecem que “A Rede
Brasileira de História Pública foi criada em torno do interesse comum de pesquisadores, profissionais,
professores e estudantes interessados em refletir sobre a história pública, suas potencialidades e desafios, bem
como de estimular a prática de produção do conhecimento histórico dirigido a diferentes públicos, com um
enfoque interdisciplinar”. Disponível em: http://historiapublica.com.br/?page_id=520 . Acesso em 21 de abril de
2016.
entrar na rede e acessar o conteúdo disponível. No entanto, como afirma Noiret, a ausência de
historiadores que dominem os espaços digitais pode criar consequência críticas em relação
aos discursos produzidos sobre o passado, ocasionando um distanciamento teórico e
metodológicos de se fazer história (NOIRET, 2015).
Nesse mesmo sentido, o historiador Carlo Ginzburg (2010) em conferência sobre a
"História na era Google"17, definiu a internet com espaço fragmentado de conhecimento e o
Google como uma ferramenta poderosa de pesquisa histórica. Essa contradição é evidente ao
pensarmos na teia de informações disponíveis na rede. De fato, disponibilidade não quer dizer
qualidade; vivemos numa era em que as informações dispersas na rede podem ser utilizadas
de maneiras diversas e imprevisíveis, sem ao menos possuir um caráter crítico. Assim também
acontece com a história. É nesse sentido que o historiador italiano caracteriza o Google como
ferramenta sem vida, com grande potencial para a pesquisa histórica, mas também possível de
negá-la. Nas palavras do próprio historiador:
O Google é, ao mesmo tempo, um poderoso instrumento de pesquisa histórica e um
poderoso instrumento de cancelamento da história. Porque, no presente eletrônico, o
passado se dissolve. Essa contradição já está modificando o mundo em que vivemos
e em que as gerações futuras viverão. Os conceitos de presente e futuro se tornam
mais frágeis. E de passado também. Ao menos, o passado como os historiadores o
viam. (GINZBURG, 2010)
Essa mudança de sentido no tempo analisada por Ginzburg nos apresenta problemas
epistemológicos claros da história na era digital. DARNTON (2010) ao problematizar a
questão do acesso e de como a informação se condensa nos espaços digitais, irá observar quer
a informação nunca foi algo estável e, com a aceleração das mudanças tecnológicas, “a
informação se tornou algo fora de controle” (DARNTON, 2010, p. 47). Das mudanças mais
claras observadas pelo historiador é que as fontes históricas deixaram de ser “objetos”
prontos, no sentido de sua produção no tempo, para se tornarem mutáveis.
Documentos, textos jornalísticos ou mesmo materiais multimídia, como vídeos e
áudios, podem ser retirados da web, apagados ou mesmo alterados de acordo com a vontade
do usuário que o criou. Essa problemática aponta para o sentido de preservação das fontes
históricas, principal questão levantada por Darnton (2010) ao discutir o desenvolvimento da
plataforma Google BooksSearch, ferramenta online que tem como objetivo catalogar e
disponibilizar livros online em forma de uma biblioteca digital, anexando obras das mais
diversas universidades do mundo. A principal questão levantada pelo autor é se o Google (ou
qualquer meio digital) conseguiria preservar documentos digitais. Darnton atribui importância
17
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wSSHNqAbd7E . Acesso em 22 de janeiro de 2017.
ao sentido de se digitalizar fontes – entenda-se o livro como uma fonte –, divulgando através
das tecnologias de informação e comunicação, elogiando o sentido de distribuição e
mecanismos de busca que a internet proporciona. Por outro lado, o autor defende a
preservação dos depositórios tradicionais da informação, isto é, as bibliotecas e os arquivos,
afirmando que as tecnologias se apresentam rapidamente como obsoletas e passiveis de perda,
principalmente por erros tecnológicos.
Bits se degradam com o passar do tempo. Documentos podem se perder no
ciberespaço por conta da obsolescência da mídia em que estão registradas. Hardware
e software vêm se tornando indistintos a um ritmo preocupante. A menos que o
problema enervante da preservação digital seja resolvido, todos os textos que
“nasceram digitais” pertencem a uma espécie em risco de extinção. (DARNTON,
2010: p. 56)
Todo esse embate nos leva a estabelecer que ainda existem dificuldades dos
historiadores em lidar com a ampla gama de tecnologias digitais presentes na internet e que,
por sua vez, ao estabelecer problemáticas sobre esses objetos digitais, encontram-se impasses
metodológicos e teóricos. Sendo assim, alguns autores têm discutido a relação entre a História
e o digital, relacionando discussões e problemas de outras áreas do conhecimento como a
comunicação, a filosofia, a informática, entre outras.
LUCCHESI (2012) irá discutir que a apropriação da Internet pela História através da
Tecnologias de Informação e Comunicação estabelece problemas sobre “o uso da Internet
como fonte e ferramenta de pesquisa, suporte de memórias e novo espaço público, lugar
também de divulgação dos resultados de trabalhos historiográficos” (p. 01). Esses problemas
emergem sob a égide de duas correntes historiográficas que tratam da relação História/Digital,
a primeira denominada de Digital History nos Estado Unidos, seguido da Storiografia
Digitale na Itália. Nesse sentido, partindo da ideia do hipertexto e das discussões em torno do
conceito de ciberespaço Lucchesi evidenciou uma mudança na maneira com que se escreve e
pesquisa História.
Vê-se que, a partir da utilização de hipertextos, os leitores de materiais digitais
conseguem se conectar diretamente às referências citadas pelos historiadores em sua pesquisa
(LUCCHESI, 2012). Esta conexão se dá a partir do ciberespaço como lugar de
disponibilização e acesso de documentos, textos, livros e outras fontes digitais, que criam
camadas sob camadas e articulam diversas mídias a partir de um mesmo documento. Está em
evidência que, ao colocar o texto historiográfico como produção no/para o meio digital, o
torna suscetível a mudanças na construção de seu oficio, na medida em que se articulam e
conectam as mais diversas mídias. Sendo assim, os leitores do texto podem ter acesso direto
às fontes e à bibliografia utilizada pelo autor, levando-o a conexões muito mais amplas na
compreensão do texto que, sem o acesso em rede, seria impossibilitado por dificuldades
físicas de se acessar determinadas fontes nos repositórios tradicionais, isto é, as bibliotecas e
os arquivos.
Ainda nos lembra LUCCHESI (2013) de que as tecnologias causam distorções em
relação às noções de temporalidade e espacialidade (p. 06). Nunca se viu um alcance tão
imediato de notícias e acontecimentos como hoje; alcance este que implica em demandas de
consumo de informação que se espera que sejam produzidas por historiadores, como se o
passado fosse portador de respostas às questões do presente. O Tempo e o Espaço são
distorcidos pelo próprio processo de aceleração, conexão e disponibilidade da informação nos
meios digitais? Seria possível que o advento da internet, sua popularização e o
desenvolvimento rápido das TICs, tornariam possíveis uma mudança nos regimes de
historicidade?
18
Disponível em: <<https://www.facebook.com/acervoconhecimentohistorico/?fref=ts>>. Acesso em 24 de abril
de 2016.
É necessário que os historiadores que pesquisam por essa vertente, estejam cientes que
estudar temas relacionados a esse modelo de temporalidade implique em coerência com a
metodologia que se pretenda utilizar, questão na qual recai grande parte das críticas: os
testemunhos. Uma das metodologias mais utilizadas nas pesquisas são os registros orais,
comumente chamados de história oral. Entrevistas, por exemplo, são utilizadas para a
construção de narrativas que, sem a presença dos testemunhos, perderíamos a oportunidade de
refletir sobre a descrição dos indivíduos e a interdependência coletiva que se tecem nos laços
sociais (FERREIRA, 2000).
Deve-se, no entanto, entender que a esfera do tempo vivido, isto é, aquilo se chama
comumente de Memória (NORA, 1990) deve ser encarada a partir de um olhar mais
cuidadoso. A História e a Memória, longe de serem sinônimos, apresentam características
muito diferentes. A memória está sempre em constante evolução e se refere à vida, estando
aberta a dialética da lembrança e do esquecimento, é sacralizada, vulnerável aos usos e
manipulações, é por vezes coletiva, plural e individual. A história, por outro lado, é sempre a
problematização do vivido, do acontecimento. É dessacralizante e possui direção a
universalidade; é relativa e possui no âmago a deslegitimação do passado vivido. “A memória
se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga às
continuidades temporais, às evoluções e às relações das coisas. A memória é um absoluto e a
história só conhece o relativo.” (NORA, 1990, p. 7)
Para LE GOFF (2003) outra importante característica da Memória é a de que ela
também é produção coletiva, estando inserida na história vivida das sociedades humanas,
possuindo um conjunto de processos psíquicos na qual o indivíduo irá analisar as impressões
e informações passadas. Assim, o estudo da memória, segundo o autor, está diretamente
relacionado aos aspectos psíquicos do ser humano e sua relação social. Outros autores, como
ROUSSO (2006), também colocam a Memória como um processo psíquico e social:
“A Memória, para prolongar essa definição lapidar, é uma reconstrução psíquica e
intelectual que acarreta de fato uma representação seletiva do passado, um passado
que nunca é aquele do indivíduo somente, mas de um indivíduo inserido no contexto
familiar, social, nacional” (ROUSSO, 2006, p. 94)
historiográfica remete a problematização dos objetos de análise a partir do lugar de fala dos
historiadores – o presente – e que, independentemente do tempo/espaço do objeto que
estudam, o historiador está imbuido de referenciais do seu “lugar de fala”, isto é, os
professores ensinam no tempo presente “a partir de demandas emergentes que estão
registradas nas diretrizes e propostas curriculares vigentes, exames vestibulares, avaliações
sistêmicas, questionamentos dos alunos, tradições escolares, e que emergem dos debates
políticos da sociedade da qual estão inseridos” (MONTEIRO, 2015: p. 04).
O professor de História configura o tempo histórico a partir do seu espaço de
experiência e do horizonte de expectativa que definem o passado e o futuro no presente. A
afirmação de que o professor/historiador precisa manter uma distância do seu objeto de
análise é, no nosso entender, impossível pois o agente, isto é, o professor parte sempre de um
lugar familiar – o seu lugar de fala – que é constituído no tempo presente a partir das
experiências constituídas na sua formação e profissionalização. Existe um mito da
neutralidade, que atribui sentidos de conhecimento não produzidos, mas repetitivo, não
problematizado a partir de referências teóricas e escolhas nas quais todo professor recai. São
"lugares de fala" pois todo agente produtor de conhecimento sempre é localizado no
tempo/espaço, mas também é socialmente construido.
As demandas profissionais também se articulam à proposta da história do tempo
presente na medida em que, para mobilizar saberes, professores articulam questionamentos
produzidos na experiência vivida dos alunos que procuram encontrar sentido no que se ensina
nas aulas de história. Nas aulas de história quando se problematiza as questões do passado, o
tornam presente na medida em que os alunos relacionam questões do seu próprio tempo. Na
pratica cotidiana de ensino o professor, por sua vez, faz o exercicio de racionalizar o
"estranho e o familiar" (MONTEIRO, 2005). No entanto, é preciso se evitar anacronismos. O
uso de analogias, mecânica potencialmente utilizada pelo presentismo, demanda
problematizações e intervenções do professor que deve levar em consideração a “construção
histórica da vida social” (MONTEIRO, 2005, p. 340). É preciso empreender clareza nesse
processo pois o “estranho”, isto é, o elemento não-familiar é pressuposto para superações do
conhecimento de senso comum. A simplificação pode acarretar problemas de compreensão do
passado, pois podem ocorrer relativizações ao atribuir sentidos do passado a acontecimentos
do presente.
É muito freqüente o uso, pelos professores, de atividades onde são desenvolvidas
analogias com situações similares à estudada, e encontradas na “realidade do aluno”,
em situações do tempo presente. Muitas vezes estas analogias induzem a erros, pois
operam numa dimensão comparativa muito simplificada, conduzindo os alunos a
Sendo assim, o ensino de história é, de fato, atribuição de sentido no tempo. Essas são
questões tomadas pela história do tempo presente, pois as indagações e problemáticas
relacionadas aos conteúdos deve fazer sentido com os enfrentamentos sociais e culturais
historicamente construidos na sala de aula, compreendendo as diferentes temporalidades sem
utilizar de simplificações. As aulas de história são, portanto, "espaços de experiências" que
articulam questões do passado vivido por outros, com o presente vivido dos alunos e o
"horizonte de expectativas" (MONTEIRO, 2015, p. 03).
19
Abreviação do inglês brainstorming (tempestade de ideias). Termo muito usado na publicidade para resolução
de problemas específicos. É um conjunto de exercícios mentais que servem para a criação de ideias a partir de
um conceito ou problema. Utilizamos esse conceito pois acreditamos que os alunos carregam uma serie de
conhecimentos anteriores aos apresentados nas aulas. Assim, motivamos a discussão coletiva a partir do
conhecimento prévio carregado pelos discentes, sendo eles direcionados pelo professor em função de se
construir, de forma cientifica e embasada, o conceito, tema ou expressão pretendida.
20
Disponível em: <<http://www.sobrehistoria.blog.br/o-projeto/>> Acesso em 01 de dezembro de 2016.
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Raone Ferreira de Souza: Possui graduação em História pelo Centro Universitário Geraldo
Di Biase e Mestrado em Ensino de História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem
experiência de pesquisa na área de História e Educação, com ênfase em História Pública,
Tecnologias de Informação e Comunicação e História Digital. Pesquisador do Laboratório de
Estudos e Pesquisas em Ensino de História-LEPEH.
***
Artigo recebido para publicação em: outubro de 2017
Artigo aprovado para publicação em: dezembro de 2017
***