JONAS E AS NAÇÕES O estado das nações é representado por Nínive, que ê como que a imagem da condição moral dos gentios aos olhos de Deus. “Levanta-te” — diz o SENHOR a Jonas, “vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença” (Jn 1:2). A maldade, a ausência completa do bem — eras isso que os caracterizava aos olhos de Deus. A Sua paciência tinha suportado por longo tempo essa maldade, e essa aproveitou-se da oportunidade para se desenvolver até aos seus extremos limites. Por isso não restava mais a Nínive do que o julgamento, a não ser que houvesse da parte de Deus algum recurso ou algum meio de salvação. Quem porém, poderia anunciá-lo? O profeta Jonas, tipo aqui do povo de Israel, estava sob o mesmo juízo. Tinha-se mostrado desobediente e rebelde a Deus, e não podia esperar da Sua parte senão a condenação. Um outro profeta, Isaías, tipo de um remanescente fiel em Israel, encontrou-se mais tarde perante Deus e não procurou evitar a Sua presença (Is 6). Antes de ser enviado, reconheceu a sua mácula e foi purificado dela por uma brasa viva, que tinha consumido o holocausto. O SENHOR disse então: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” E o profeta responde: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6:8). Deus envia-o para Israel, para lhe anunciar o juízo, que vai atingi-lo, e a graça que poupará um pequeno remanescente. Jonas, longe de se encontrar perante Deus, evita a Sua presença, para não ser enviado às nações. Ora, são precisamente elas que Deus quer poupar, e Jonas sabia isso muito bem. Os marinheiros são tipos de todas as nações, embarcados num navio que cada vez mais as afasta de Deus. “Clamavam cada um ao seu deus” (Jn 1:5), mas, perante a tempestade que ameaça tragá- los, eles aprendem o que valem esses ídolos mudos, que não lhes respondem. Talvez o Deus de Jonas se lembre deles, para que não pereçam? (Jn 1:6). Mas qual é a causa da sua aflição? A ignorância do seu próprio estado leva-os a atribuírem esta desgraça a outrem, talvez a algum de entre eles: “Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por que causa nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas” (Jn 1:7). Não conhecendo Deus, apelam a um poder desconhecido deles — a sorte — para serem informados. Vê-se aqui a ignorância do coração natural do homem, sem conhecimento de si mesmo, sem conhecimento de Deus. Os dois grandes temas, nos quais se resume toda a revelação, são-lhes desconhecidos. São cegos, mas Deus, na Sua graça, responde-lhes colocando-Se ao nível da sua inteligência: a sorte fala e designa Jonas. Jonas, apesar do julgamento que o espera, apesar da sua fuga, para longe de Deus, que ele lhes tinha declarado anteriormente (Jn 1:9), rende testemunho ao caráter de Deus, segundo o que a sua inteligência obscurecida podia discernir: “Eu sou hebreu, e temo ao SENHOR, o Deus do céu, que fez o mar e a terra seca” (Jn 1:9). O testemunho da fé de Israel em um só Deus Criador, recorda às nações o que Deus lhes tinha revelado por Suas obras, de maneira a torná-los indesculpáveis (Rm 1:20). A pregação de Paulo aos atenienses (At 17) não tem outro caráter. Aqueles pobres gentios ignorantes pronunciam três frases:
1. “Declara-nos tu agora, por causa de quem nos sobreveio este
mal” (Jn 1:8). Deus respondeu pelas sortes, mas empregando aí Israel, objeto do Seu juízo, para trazer a luz ás nações, porque, como está escrito: “A salvação vem dos judeus” (Jo 4:22). 2. “Por que fizeste tu isso?” Jonas tinha já respondido antes, de maneira que esses gentios não podiam equivocar-se acerca disso: “…fugia da presença do SENHOR, porque ele lho tinha declarado” (Jn 1:10). Assim são eles que repreendem o profeta: Você diz que conhece e teme a Deus e não tem medo de Lhe desobedecer?! Quantas vezes os judeus, para vergonha sua, se encontraram sob a crítica severa das nações — tal como os cristãos de hoje, sob a crítica do mundo! 3. “Que te faremos nós?” (Jn 1:11). A confiança na palavra de Deus nasce em seus corações e, cm vez de se desviarem de Israel, servo infiel, compreendem que só o Seu representante os pode informar acerca da vontade de Deus. Jonas reconhece que a sua infidelidade é a causa das dispensações de Deus para com as nações. Ele diz: “Eu sei” — verdadeira expressão de um coração que conhece a Deus — “que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade” (Jn 1:12). “Levantai-me, e lançai-me ao mar”. Assim, a rejeição de Israel é a reconciliação do mundo (Rm 11:15).
Aqueles homens hesitaram em executar a ordem do profeta e
esgotam todos os meios ao seu alcance antes de lhe obedecerem, mas não podem ser bem sucedidos, porque “o mar se ia embravecendo cada vez mais contra eles” (Jn 1:13). Para que eles sejam salvos é necessária uma vítima, senão o juízo os atingirá. Veremos mais tarde quem é essa verdadeira vítima, mas o que nos interessa agora é Jonas, como tipo ou figura do Israel rejeitado. Havendo-se executado o juízo, o barco dos gentios pode doravante continuar seu rumo. lsrael rejeitado abriu a porta à bênção dos nações. Essa cena é uma imagem para o tempo atual, um exemplo antecipado da salvação de indivíduos fazendo parte de todos os povos idólatras que “clamavam cada um a seu deus” (Jn 1:5), segundo está escrito: “e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação” (Ap 5:9). A iminência do perigo fá-los clamar ao SENHOR, porque é sempre por aí que começam as nossas relações com Deus. Mas a revelação de um sacrifício, do qual eles são responsáveis, que pode afastar para sempre o juízo, repugna ao seu coração natural. Prefeririam muito mais remar para alcançarem a terra! Por outro lado, eles não podem ignorar que, lançando o servo de Deus às ondas, recai sobre eles “sangue inocente” (Jn 1:14). São, portanto, culpados, mas Deus ensina-lhes que, apesar de sua participação no sacrifício, este último é para eles o único meio de salvação. Notemos agora a mudança moral que se produz nos tripulantes do envio: “Temeram, pois, estes homens ao SENHOR com grande temor; e ofereceram sacrifício ao SENHOR, e fizeram votos” (Jn 1:16). O seu primeiro passo no caminho da sabedoria é o de temerem muito a Deus. Tomam em seguida perante Ele uma atitude de adoradores, oferecendo-Lhe um sacrifício. Depois “fazem votos”. Um voto é a livre devoção a Deus, para O servir sem restrições (Dt 23:21; Lv 7:16). Encontramos, pois, aqui todo um conjunto de homens salvos, conduzidos a Deus, transformados em testemunhas da Sua graça, adoradores e servidores que Lhe são consagrados. Naquele barco das nações encontram-se doravante pessoas salvas, enquanto que Jonas, representando Israel, é submergido nas profundezas do mar dos povos. O primeiro capítulo deste livro mostra-nos como a obediência da fé se tornou hoje a parte das nações; o terceiro capítulo atrai os nossos olhares para um tempo futuro. O julgamento é anunciado a Nínive, a “grande cidade”, representando, como capital, o conjunto dos povos. A Escritura diz-nos que “os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor” (Jn 3:5). Notemos que se trata aqui de um jejum nacional. Não se poderá dizer que não seja real, porque é baseado sobre a fé na Palavra de Deus, mas, entre os habitantes de Nínive, essa fé “não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração” (Mt 13:21). Apesar disso, um arrependimento exterior, baseado no te mor do juízo, afasta-o por algum tempo. Dois séculos mais tarde a sorte de Nínive torna-se definitiva e a cidade é inteiramente destruída. Sucederá o mesmo quando se estabelecer o reino milenar de Cristo. Colocadas em presença dos seus julgamentos, as nações submeter-se-ão a Ele e reconhecerão o Deus de Israel (Sl 18:44), mas quando, depois de mil anos desse reinado glorioso, Satanás for solto e puder de novo seduzir as nações, elas sofrerão então o juízo final. Esse arrependimento de Nínive leva os nossos pensamentos para os sérios dias que atravessamos. A mão de Deus paira ameaçadora sobre os povos. Parece que a Sua voz se faz ouvir, dizendo: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn 3:4). Não deveriam as nações, como tais, arrepender-se e “proclamar um jejum”? Imperadores e reis, grandes e pequenos, não deveriam eles clamar “fortemente a Deus, e converter-se, cada um do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos” (Jn 3:8)? “Quem sabe se se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?” (Jn 3:9). Deus pode arrepender-se e mudar a direção dos Seus caminhos para com os homens, quando eles mudam os seus próprios caminhos e se afastam deles. Pudessem essas palavras, como outrora as de Jonas, encontrar eco no coração dos povos! JONAS E O POVO DE ISRAEL Temos visto que Jonas, apesar da sua fé e do seu caráter de profeta, encarna em si o espírito do povo do qual faz parte, espírito de desobediência, de independência de Deus, de orgulho espiritual e de justiça própria, que Deus constantemente assinala pelos Seus profetas. E não se trata aqui de idolatria, aliás tão frequentemente anatematizada, porque havia muito tempo que esse povo a tinha deixado, mesmo antes de, pela rejeição do Cristo, ter sido disperso entre as nações. Ora, é precisamente desse tempo que o livro de Jonas nos fala, embora em figura. Verificamos esse fato no momento em que a história de Israel vai terminar. O povo persiste nos seus caminhos de independência e de vontade própria, sem se ter realmente arrependido das “falsas vaidades” (Jn 2:8), que o tinham caracterizado por longo tempo. A casa estava vazia, varrida e ornamentada (veja Mt 12:44). O estado desse povo, que o demônio da idolatria já não assediava, estava particularmente marcado nos tempos dos derradeiros profetas e durante a vida do SENHOR na terra por ser uma geração incrédula e perversa, sepulcros branqueados por fora e cheios de corrupção por dentro, uma raça hipócrita, mas vaidosa da sua própria justiça, orgulhosa e vangloriando-se de ter por pai a Abraão, fugindo da luz e evitando o testemunho de Deus, hostil à verdade e rebelde à graça. A fidelidade estrita às normas da Lei, normas exteriores às quais, de resto, juntaram ainda as suas tradições que invalidavam o mandamento de Deus — eis o que revestia todas as suas aparências de piedade (veja Mc 7:9). Os chefes empregavam todos os seus esforços para conservarem a sua dignidade, a sua reputação, a sua influência sobre o povo. Contudo, o que mais os caracterizava, era o ódio à graça, que lhes trazia à memória a verdade acerca do seu próprio estado espiritual: Se estavam condenados — consideravam eles — não havia, pois, diferença alguma entre eles e os outros homens; a graça abria a porta da salvação a todo o pobre pecador de entre as nações — e isso é que eles não podiam suportar! Jonas, embora fosse um homem de Deus, oferece-nos mais de um aspecto desse quadro. Chegou um momento que, pela rejeição do Salvador e do Espírito Santo, a condenação definitiva dos judeus foi pronunciada: “Transportar-vos- ei, pois, para além da Babilônia” (At 7:43). Israel é então lançado no mar dos povos, onde é retido até ao dia da sua ressurreição nacional. Portanto, ele renascerá como nação! Porém, vamos ao capítulo 3, no segundo período da sua história: O seu coração, porventura, havia mudado? De modo nenhum! Embora retorne, exteriormente, mesmo sob o poder do anticristo, às formas antigas do seu culto (Dn 9:27), o seu estado moral é caracterizado pela irritação contra Deus. Ele irrita-se ao ponto de desejar a morte e acha que faz bem (veja Jn 4:8 9). Aqui o livro cala-se acerca do fim da sua história. É como se esse povo revoltado regressasse ao nada, de onde saíra! Observemos nós também esse solene silêncio a seu respeito. A rejeição de Israel, em relação com a profecia de Jonas, nos é anunciada pelo SENHOR de uma maneira muito assombrosa. No Evangelho segundo Mateus, capítulo 12, Jesus fala de Jonas como sendo um sinal da Sua morte e da Sua ressurreição. Consideraremos mais à frente esse assunto, mas notemos desde já que no capítulo 16 do mesmo evangelho, o SENHOR volta a fazer- lhe referência e, sem dúvida, com intenção bem distinta: Os fariseus e os saduceus pediram-lhe de novo um sinal. Jesus fala-lhes dos sinais do céu, do bom tempo e da tempestade — imagens da graça e do juízo —, que eles sabiam discernir bem, enquanto que não podiam discernir “os sinais dos tempos”. O julgamento estava à porta e eles não se apercebiam disso: “nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas” (Mt 16:4). Israel ia ser definitivamente lançado ao mar, abandonado, para dar lugar aos caminhos da graça de Deus para com todos os povos. Por isso o evangelista acrescenta: “E, deixando-os, retirou-se”. O verdadeiro Israel, porém, ressuscitará e virá a ser, como vamos ver, o Enviado e a Testemunha de Deus, para conduzir ao arrependimento a grande multidão das nações. JONAS E O REMANESCENTE A finalidade principal do livro de Jonas ressalta, parece-nos, do capítulo 2, que nós intencionalmente temos omitido até aqui. Temos visto que a pessoa de Jonas nos apresenta os caracteres que teriam possuído os testemunhos de Deus, e, por conseguinte, o profeta judeu, como testemunha. Enfim, que essa mesma pessoa ilustra também, para nós, a história do povo que, apesar de tudo, tem sido e será ainda a testemunha de Deus perante as nações. Dizemos “será”, porque se o povo, como conjunto, foi rejeitado definitivamente quando a paciência de Deus se esgotou, dali sairá, mais tarde, um remanescente, núcleo de um futuro povo, carregado, como toda a sua raça, com a culpa do sangue, quer dizer, da responsabilidade da morte do Messias, e disso sofrendo as consequências por ocasião da grande tribulação do fim. Mas a angústia de então produzirá no coração desses fiéis um sincero arrependimento, para salvação. Não procurarão separar a sua responsabilidade da do povo a que pertencem; reconhecerão que o seu castigo é merecido, que a tempestade que vai crescendo sempre é a justa retribuição da sua perversidade e que devem ser suprimidos da terra dos viventes, por terem crucificado o Filho de Deus! Mas, tragados pelo grande peixe, descobrirão, no infortúnio, que o seu Messias atravessou as mesmas angústias, e que Deus Lhe respondeu! Essa convicção dará uma grande segurança a esses fiéis, de modo que clamarão a Deus com a certeza de serem ouvidos por Ele. As suas experiências são-nos descritas no capítulo 2 do nosso profeta. A oração de Jonas contém dois temas: o primeiro indica as experiências do remanescente fiel, do verdadeiro Israel, no dia da angústia (Jn 2:3), da qual é salvo. O segundo indica os sofrimentos e a morte de Cristo — tema este que constituirá o assunto de outro capítulo. Quanto ao primeiro tema, supomos que os nossos leitores estão suficientemente familiarizados com o Antigo Testamento, para saberem que os Profetas e os Salmos nos falam constantemente do remanescente judeu crente do fim e das tribulações que ele suporta. A oração de Jonas é uma prova em apoio dessa verdade. Os oito versículos reproduzem tão numerosas passagens dos salmos e do profeta Isaías que, citá-las todas, seria sobrecarregar inutilmente o nosso texto. Cada leitor, munido de uma boa concordância bíblica, poderá, por si próprio, formar a lista delas. Limitar-nos-emos, pois, à citação de algumas passagens mais essenciais. “E orou Jonas ao SENHOR, seu Deus, das entranhas do peixe. E disse: Na minha angústia clamei ao SENHOR, e ele me respondeu; do ventre da sepultura gritei, e tu ouviste a minha voz” (Jn 2:1-2). E de notar que o clamor de Jonas não vem aqui senão depois do clamor dos gentios. E assim será, com efeito. Hoje o navio dos nações, contendo os que, pela fé, se tornaram adoradores do verdadeiro Deus, continua o seu curso, e aqueles que nele seguem obtiveram a salvação depois de terem “clamado ao SENHOR” (Jn 1:14). Israel, pelo contrário, está submerso no mar dos povos; mas, do seio desse abismo, do fundo da sua angústia, do meio dessa grande tribulação, que pesará, em primeiro lugar, sobre os fiéis do antigo povo de Deus, um remanescente se erguerá e clamará também ao seu Deus, que tanto ofendeu! Esse versículo reveste-se da forma habitual dos salmos. É um recreio de todo o conteúdo da oração e indica desde logo o resultado, enquanto que os versículos seguintes descrevem por que caminho esse resultado será obtido. Atirado ao fundo do abismo, tragado pelo grande peixe preparado por Deus como instrumento de sua preservação, o fiel ora e clama. E com que alegria ele verifica que a resposta à sua prece chegou! O salmo 120, que serve de prefácio à pequena compilação dos Cânticos de Degraus, fala exatamente nos mesmos termos. Trata-se, neste salmo, do remanescente expulso de novo do seu país pela perseguição, depois de ali ter entrado em companhia da nação incrédula: É o dia da aflição de Jacó (veja Ap 12:13-16). Então ele diz: “Na minha angústia clamei ao SENHOR, e me ouviu” (Sl 120:1). “E clamaram ao SENHOR na sua angústia, e os livrou das suas dificuldades” é-nos dito repetidas vezes no Salmo 107, que, por sua vez, serve de prefácio ao quinto livro dos salmos, onde se encontram os Cânticos de Degraus. “Ele respondeu-me” — é o resumo de todas as experiências dos fiéis: uma completa libertação. E o mesmo sucede no salmo 130: “Das profundezas a ti clamo, ó SENHOR!”. Esse Salmo descreve-nos os solenes exercícios de consciência do remanescente, e os resultados eternamente benditos da sua libertação (veja também os salmos 18:6 e 86:7). “Do ventre da sepultura gritei, e tu ouviste a minha voz” (Jn 2:2). Depois do resumo de que acabamos de falar, a oração de Jonas retoma a sequência das experiências que suscitaram essa resposta de Deus. Primeiramente, o fiel clama do seio do abismo e Deus ouve. A resposta efetiva ao seu clamor não veio ainda, mas ele tem a consoladora certeza de que a oração da fé chegou aos ouvidos do SENHOR. A oração de Ezequias (Is 38:10) tem muito em comum com a de Jonas, somente ali a angústia é menor: Ezequias desce ao abismo e Jonas está lá. David, no salmo 30:3 sai dele (veja ainda o Sl 18:4-5). “Porque tu me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado por cima de mim” (Jn 2:3). Encontra-se exatamente a mesma expressão no salmo 42:7. Todo o leitor um pouco familiarizado com as Sagradas Escrituras, sabe que o segundo livro dos salmos (salmos 22 a 72) descreve os sentimentos e as experiências do remanescente de Judá disperso entre as nações durante a grande tribulação. Ora, são precisamente essas experiências que nos apresenta a oração de Jonas. “E eu disse: Lançado estou de diante dos teus olhos; todavia, tornarei a ver o teu santo templo” (Jn 2:4). Voltamos a encontrar aqui a oração de Ezequias (Is 37:10-11); as numerosas passagens do segundo livro dos salmos (salmos 43:2; 44:9 e 60:1 e 10), e ainda outras passagens mais como os salmos 74:1, 77:7, 31:22 ou Lamentações de Jeremias 5:22. A consciência de ser rejeitado não destrói a certeza da fé entre o remanescente na angústia. Expulso de Jerusalém, não cessa de olhar para o templo, como Daniel fazia em frente das janelas abertas para o lado de Jerusalém (Dn 6:10. Veja também Sl 42:4; 43:3-4; 18:6; e Hc 2:20). Os santos de hoje, que podem aplicar a si próprios essa passagem quando estão em aflição, sabem que esse templo é, para eles, a casa do Pai, nos céus. “As águas me cercaram até à alma, o abismo me rodeou; e as algas se enrolaram na minha cabeça” (Jn 2:5). A alma faz, na aflição, a experiência daquilo que é o juízo de Deus por causa do pecado. No segundo livro dos Salmos, de que temos falado, essa posição terrível está pintada em traços indeléveis: “Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas cachoeiras; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim” (Sl 42:7). O salmo 69 descreve a grandeza dessa angústia. Entrar no lodo profundo do pecado tem como consequência o juízo: a profundeza das águas que traga e a corrente que submerge, ao mesmo tempo que se abre um abismo sem fundo (Sl 69:2 e 15). Veremos mais à frente que o fiel encontra Cristo no abismo, esse Jesus que ali desceu por ele. Nós também, cristãos, temos feito a mesma experiência, mas sem sermos obrigados, como o remanescente, a conhecermos o abismo, a não ser na nossa consciência. “Eu desci até aos fundamentos dos montes; a terra me encerrou para sempre com os seus ferrolhos; mas tu fizeste subir a minha vida da perdição, ó SENHOR meu Deus” (Jn 2:6). A angústia chega aos seus últimos limites; o aflito não pode descer mais baixo. É a morte em todo o seu horror. As portas que fecham o acesso à terra dos viventes são fechadas para sempre. Estas mesmas experiências se reencontram no cântico de Ezequias (Is 38:10-11), e também a mesma resposta de Deus: “…mas a ti agradou livrar a minha alma da cova da corrupção; porque lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados … O SENHOR veio salvar me” (Is 38:17 e 20). É pela ressurreição de Cristo que todos os nossos pecados são deixados no abismo onde nunca mais serão encontrados. “Quando desfalecia em mim a minha alma, lembrei me do SENHOR; e entrou a ti a minha oração, no teu santo templo” (Jn 2:7). No momento da suprema angústia e da agonia, o fiel lembra-se do SENHOR, e a sua oração não é já somente ouvida, mas também recebida no lugar onde Deus habita. “Os que observam as falsas vaidades deixam a sua misericórdia” (Jn 2:8). Aqui vem a reprovação pronunciada contra o povo apóstata, novamente invadido pelo demônio da idolatria (Mt 12:43-45), e que, por vaidades ou ídolos mentirosos, abandona a graça colocada perante ele. Mais vale estar mergulhado na angústia, mas com uma esperança, do que compartilhar a sorte dos que têm o anticristo como amo. No salmo 31 vemos a diferença entre os que adoram ídolos vãos (veja Sl 31:6), e aqueles que confiam no SENHOR, cuja graça é o seu único recurso. “Mas eu te oferecerei sacrifício com a voz do agradecimento; o que votei pagarei. Do SENHOR vem a salvação” (Jn 2:9). Aqui o fiel remanescente chega ao mesmo culto que os gentios tinham encontrado no tempo da sua infidelidade. É esse culto que os cristãos rendem agora. Somente no porvir profético as nações sacrificarão, sob o reinado do Messias, ao SENHOR, o Deus de Israel, e subirão a Jerusalém para O adorarem, em companhia do Seu povo (Sl 115:14-15; 22:25). Haverá então para Israel, assim como para os gentios (Jn 1:16) “votos”, o serviço do SENHOR, livre e sem restrição, de um “povo de boa vontade” (Sl 56: 12; 61:8; 66:13; 76:11; Dt 23:21). A última frase desta oração profética é: “Do SENHOR vem a salvação”. Ela está lá. Só Ele a operou. Ela é unicamente o fruto da Sua graça (Is 38:20; 52:10). Nos últimos dias, Israel encontrará essa grande verdade, que faz hoje a alegria, a segurança de todos os crentes, e sobre a qual a sua certeza está para sempre fundada. Como se produzirá essa libertação? É o que vamos ver no próximo capítulo. JONAS FIGURA DE CRISTO A pessoa de Jonas representa o Cristo sob dois aspectos diferentes: a) a morte e a ressurreição de Cristo, para cumprir a obra da redenção, descrita nos evangelhos segundo Mateus e Lucas, e b) como sofrendo ele mesmo a ira de Deus. Ocupando nos com o primeiro aspecto, vemos no evangelho segundo Mateus, os escribas e os fariseus, que acabavam de acusar o Senhor de “não expulsar os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (Mt 12:24), pedir-Lhe um sinal da (veja Mt 12:38), ou seja, um milagre que pudesse acreditá Lo aos olhos deles! Pedir a Jesus o que O acreditasse, quando toda a Sua vida e os milagres de bondade que Ele operava a cada passo proclamavam, de forma incontestável, que Ele era Emanuel, o que quer dizer Deus Conosco! Essa geração má e adúltera poderia ainda ser convencida por meio de um sinal?! Por isso o Senhor lhes responde: “Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará sinal, senão o sinal do profeta Jonas; pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no coração da terra” (Mt 12:39-40). Tipo maravilhoso, dado na pessoa de Jonas, dos sofrimentos de Cristo, cerca de 900 anos antes da Sua vinda! Com efeito, os Seus sofrimentos e a Sua morte são o principal assunto da profecia. Contudo, a permanência de Cristo no sepulcro era também o sinal de que era agora demasiado tarde para o povo. Demonstrava que não havia mais possibilidades para ele de receber o Profeta, o Enviado, o Filho do homem, o Filho de Deus, como seu Rei. A partir dali, todas as antigas relações de Deus com o Seu povo estavam interrompidas e, para serem reatadas, não poderiam ser baseadas senão na sua rejeição, e nunca mais na sua apresentação ao Seu povo como Messias e como Rei. Cristo veio tomar, em amor, o lugar de Israel, rejeitado por causa da sua desobediência, afim de que este último, em virtude da expiação consumada na Cruz do Calvário, pudesse reencontrar o seu lugar no Reino. Para nós, cristãos, Ele tomou o nosso lugar, como pecadores sob o juízo, afim de que os céus nos pudessem ser abertos. A essas palavras Jesus acrescenta: “Os ninivitas ressurgirão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é maior do que Jonas” (Mt 12:41). Os gentios, tão desprezados pelos judeus, eram muito menos culpados do que este povo. Nínive tinha-se arrependido sem nenhum sinal, e pela simples pregação de um profeta acerca do julgamento ou juízo que os esperava. Porventura se tinha arrependido Jerusalém com a pregação de Um maior que Jonas, que era não somente o profeta da graça, obedecendo a vontade de Deus, mas o próprio Filho de Deus? Por isso, esses homens gentios serão, no dia do juízo, as angustiantes testemunhas da justa condenação de Israel, que rejeitou Deus na pessoa de Cristo, vindo em graça. Em Lucas 11:29-32, o Senhor é ainda mais explícito. Depois de ter dito, no versículo 29, que não seria dado a essa geração má outro sinal senão o de Jonas, Jesus acrescenta, no versículo 30: “Porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração”. Aqui o Senhor compara esta geração judia, culpada, aos ninivitas, um povo pagão! Jonas, morto e ressuscitado em figura, era não apenas um pregador, mas também um sinal para os ninivitas — sinal que o acreditava junto deles. Com efeito, não se trata, nessa passagem, da pregação, mas da pessoa de Jonas. Um Cristo morto e ressuscitado, recebido agora entre as nações como Salvador, e do qual Jonas é o tipo, condena doravante Israel. Este povo era culpado da Sua morte, e ressuscitando-O, Deus declarava a Sua plena satisfação acerca da obra do Seu amado Filho, ao qual Israel tinha rejeitado — o que o condenava sem remissão. Por isso o Senhor acrescenta, no versículo 32: “Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas”. De fato, os ninivitas tinham-se arrependido sem nenhum sinal especial, enquanto que os judeus pediam um sinal! A simples pregação de Jonas os tinha levado ao arrependimento! A sua palavra tinha bastado para produzir esse resultado. Que tinham eles feito, eles, judeus, da pregação de Cristo? E, no entanto, que extraordinária diferença havia entre estes dois testemunhos! Jonas vinha anunciar o julgamento e a destruição de Nínive; Cristo vinha anunciar a graça e a salvação ao Seu povo culpado! Quão profundo era, pois, o endurecimento do coração de Israel, para ter rejeitado uma tal mensagem! Tal é o tipo de Jonas, no Novo Testamento: Jonas rejeitado, Jonas passando três dias e três noites no ventre do peixe, Jonas ressuscitado — Cristo rejeitado, Cristo passando três dias e três noites no coração da terra, Cristo ressuscitado! Assim o Senhor é apresentado hoje para salvação a todos os homens! O livro de Jonas mostra-nos, de resto, mais do que qualquer outro livro profético, que a profecia não pode ser interpretada à luz de acontecimentos históricos — um dos numerosos erros da teologia moderna — e que só Cristo é o seu alvo final e única solução. Cristo é-nos também apresentado neste livro sob um segundo aspecto. Jonas é ali um tipo de Cristo, sofrendo ele mesmo a ira de Deus e dela sendo livrado afim de que os fiéis do fim (o remanescente de Israel), atravessando a grande tribulação, ali encontrem o ânimo e o conforto do que carecerão para a suportarem. Essa verdade importante está resumida numa passagem de Isaías: “Ele se fez o seu Salvador. Em toda a angústia deles ele foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou” (Is 63:8-9). E assim que o remanescente de Judá, culpado da rejeição do Messias, passando, em virtude desse pecado, pelo crisol da angústia, e encontrando-se ele próprio rejeitado segundo Mateus 16:4, encontrará, quando for submerso nas águas profundas, que um outro, seu Salvador e seu Redentor, ali esteve também antes dele e por amor dele, e delas foi libertado. Que bendita segurança uma tal descoberta dará então à sua alma, não é?! Com efeito, na dura prova do Getsêmani, Ele pôde dizer: “No dia da minha angústia, inclina para mim os teus ouvidos” (Sl 102:2), e “tenho misturado com lágrimas a minha bebida, por causa da tua ira e da tua indignação, pois tu me levantaste e me arremessaste” (Sl 102:9- 10). Ele próprio disse também: “Livra-me, ó Deus, pois as águas entraram até à minha alma” (Sl 69:1). Ele próprio, Ele, Jesus “nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia” (Hb 5:7). Vemos nessas passagens e em muitas outras Cristo no Getsêmani, atravessando o dia da “angústia” (Sl 102:2), e as angústias do juízo merecido pelo Seu povo. Simpatizava com ele, realizando na sua alma o que é a ira de Deus contra o Israel culpado. É considerando isso que os fiéis do remanescente do fim serão animados na sua piedade, na sua confiança em Deus, na certeza da sua salvação final, e que poderão dizer: “Até quando, SENHOR?”, certos de que um dia eles serão favoravelmente recebidos. Na profundidade das águas e compartilhando a sua angústia, aprenderão a conhecer Cristo e saberão que Ele saiu ressuscitado do grande abismo, afim de que eles reencontrem a bênção sobre “a terra dos viventes”. Esta salvação que nós, cristãos, possuímos hoje, nos abriu o céu. A salvação de Israel, nos últimos dias, abrir-lhe-á a terra renovada sob o reinado do Rei da Paz, de maneira que esse povo poderá dizer, com a mesma segurança que nós dizemos hoje: “Do SENHOR vem a Salvação”. DEUS NO LIVRO DE JONAS Deus Se manifesta no livro de Jonas sob dois aspectos. Primeiro, quando Ele envia a tempestade como um juízo sobre o Seu profeta infiel e sobre os gentios, Ele tem um propósito de graça para com esses últimos. Eles eram, até ali, completamente indiferentes e sem conhecimento do verdadeiro Deus, mas o SENHOR conduz os marinheiros às portas da morte, para os obrigar a clamar a Deus — ao Deus único e verdadeiro (Jn 1:4; compare Sl 107:23-32). Então Ele Se revela como o Deus Salvador para esses gentios, um Deus que sacrifica o Seu profeta em favor deles. É preciso que o servo de Deus seja entregue à morte para que algumas almas, alheias a Deus, aprendam a conhecê-Lo e sejam levadas a servi-Lo. Mas Deus é também um Deus Salvador para o Seu povo. Ele não pode suportar a desobediência e é forçoso punir as transgressões, porque Ele não pode abandonar a Sua justiça nem a Sua santidade; mas o ventre do peixe que tragou Jonas esconde, por assim dizer, um outro Jonas obediente e fiel, que sofre sem culpa, mas que ressuscita, afim de que, para Israel, “a salvação seja do SENHOR”. O segundo aspecto por que Deus se manifesta neste livro é: “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós” (Ef 4:6). Ele é o Deus Criador e Conservador de todos os homens e de toda a criação. Ele dirige os elementos, os ventos e o mar conforme a Sua vontade; prepara um grande peixe, um kikayon1, um verme, um vento do oriente, para cumprir os seus desígnios. A Sua providência vela por tudo; a Sua bondade infinita está cm toda a parte. A este “Deus do céu, que fez o mar e a terra seca” (Jn 1:9), os gentios adorarão finalmente, quando eles reconhecerem o “Pai de todos” no Deus que, “sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um” (1 Pe 1:17). O amor de Deus para com todas as Suas criaturas é universal, e os homens de hoje bem o querem reconhecê-lo, mas, infelizmente, só com a condição de que isso não os obrigue a arrependerem se dos seus pecados! Contudo, não foi esse o caso de Nínive. Quando esses gentios souberam que o Deus de paciência e de mansidão ia julgá- los, porque O tinham ofendido gravemente, foram levados ao arrependimento. Deus não se revelou a Nínive como o SENHOR, o Deus de Israel, mas como Deus — Elohim, o Criador (Jn 3:5 e 8- 10). Aquela cidade, cuja maldade tinha subido até Deus e que se prostrava perante os seus ídolos, arrependeu-se. O jejum foi proclamado, e não foi o Deus Salvador, mas sim o Deus Criador que teve isso em conta e que poupou Nínive por algum tempo. A conversão das nações, nos últimos dias, pelo evangelho eterno, não terá outro caráter. O anjo que o há-de anunciar dirá em alta voz: “Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap 14:7). As nações arrepender-se-ão e serão poupadas durante mil anos, como Nínive o foi durante dois séculos. Jonas tinha de aprender esta verdade elementar: O amor universal de Deus; a providência do “Pai de todos”. Ele, sob a Lei, conhecia o SENHOR, o Deus de Israel como um Deus misericordioso. Conhecia-O como um Deus Salvador, que o tinha livrado, mas o seu orgulho de judeu não podia admitir que o coração de Deus estivesse igualmente aberto para todas as Suas criaturas! O seu egoísmo levava-o a pensar que os cuidados de Deus deviam dirigir-se exclusivamente para a sua pessoa. Que Jonas fosse poupado — estava certo! Que a grande cidade fosse destruída — era necessário para salvaguardar a honra do profeta! Não é verdade que o nosso amor próprio nos leva, muitas vezes, a ignorar as verdades mais elementares no tocante ao caráter de Deus? Por isso a última lição desse livro é destinada ao profeta. A providência de Deus prepara um kikayon2 para fazer sombra sobre a cabeça de Jonas e “livrá-lo do seu enfado”. Ele conta agora, cheio de alegria, com a proteção que lhe oferece uma planta, íntima criatura de Deus, em vez de olhar para Aquele que a preparou. Deus dá a planta por pasto a um verme, que também preparou. Assim, tudo se encadeia nos caminhos da providência: O Criador pensa em tudo, numa planta, num ver me, num Jonas (que humilhação para o profeta!), numa grande cidade com toda a sua população e o seu rei, nas pessoas incapazes de discernirem entre a mão direita e a mão esquerda, no gado numeroso que enchia os estábulos! Onde está, pois, o teu coração face ao Meu — diz o Pai de todos a Jonas? O teu egoísmo cega-te acerca do que Eu sou e te irritaste. É razoável essa tua ira? Acaso Eu me irritei contra ti? O coração de Jonas é julgado, ou, pelo menos, convencido de egoísmo e de orgulho. O justo Jó teve de fazer uma experiência semelhante, cujos resultados a Palavra de Deus nos dá a conhecer. Quando Jó encontrou o Deus Criador, o Pai de todos, face a face, diz: “Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:6). Mas Jonas, infelizmente, ao encontrá-Lo diz: “Faço bem que me revolte até à morte” (Jn 4:9). Tal é aqui a última palavra do profeta de Israel! Os marinheiros navegaram felizes e cheios de alegria pelo mar apaziguado; Nínive arrependida desfruta agora da sua libertação; os olhares do Pai de todos procuram as mais ignorantes das suas criaturas para as abençoar; e uma só fica de parte — ele, o depositário dos segredos de Deus, sombrio e irritado, porque, estando ocupado consigo mesmo, ignora o caráter e o coração do seu Deus! Mas, já o dissemos, essa benevolência universal do Pai de todos não é nunca de indiferença para com o mal. Esse mesmo Pai “julga segundo a obra de cada um”. Ele julga os que se aventuram sobre o mar, confiados na proteção dos seus deuses, e também julga as Suas testemunhas que, num espírito de desobediência, se afastam dEle; julga uma nação cheia de maldade e de violência. Não poupa ninguém, afim de salvar todos os homens! E quando a vontade do homem, mais obstinada num Santo do que no mais miserável dos pecadores, persiste em se Lhe opor e em contradizê- Lo, Ele, o Pai de todos, não se irrita; usa de paciência — paciência de que não vemos nem o resultado nem o fim nesta história! Assim passamos em revista nesse livro, tão especial entre todos os escritos proféticos, todo o conjunto da história do homem, desde o princípio até ao fim: A história da criatura caída, mas provida de uma vida nova; a da rejeição de Israel; a da graça concedida às nações; a de um remanescente preservado na angústia; a das nações do fim, recebendo o evangelho do Reino; e, coroando todo esse conjunto, o Cristo entregando-Se a Si próprio e ressuscitando de entre os mortos; o Deus Criador, no qual esperarão todas as nações; e o Deus Salvador, de Quem nos é dito: “Pouco é que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” (Is 49:6).
1 Veja as notas no final do livro.
2 Veja as notas no final do livro. NOTAS EXPLICATIVAS Para os leitores já familiarizados com as Sagradas Escrituras, estas breves notas podem parecer supérfluos; mas para os que iniciam agora os primeiros passos em tão glorioso terreno— o estudo da Palavra de Deus — são bastante úteis.
1. Gentios ou nações: Termos empregados aqui como sinônimos.
Os judeus davam o nome de gentios a todos os povos que não faziam parte do povo de Israel. Tal como os antigos romanos davam o nome de bárbaros a todos quantos não fizessem parte do império greco-romano. 2. Kikayon: Nome de uma planta que aparece em lugares arenosos, perto do Mediterrâneo e do Mar Morto. Quando as condições climáticas lhe são favoráveis, nasce e cresce rapidamente, sendo, geralmente, de pouca duração. Algumas edições bíblicas traduzem o “kikayon” por “aboboreira”, outras traduzem-no por “cabaceira”, ainda outras por “rícino”. Também aparece como “trepadeira de Gilgal” (que é uma planta de fruto venenoso). Mais acertadamente, algumas edições o chamam simplesmente “uma planta”. Sucede que, sendo o “kikayon” planta exclusiva daquelas paragens, não temos termo adequado para tradução do seu nome indígena e por isso achamos preferível conservar-lho a induzir os nossos leitores a erros. 3. É costume considerarmos os Salmos como formando um livro único, mas, na realidade, o “Livro dos Salmos” é formado por cinco livros: Livro 1: Salmo 1 a 41 Livro 2: Salmo 42 a 72 Livro 3: Salmo 73 a 89 Livro 4: Salmo 90 a 106 Livro 5: Salmo 107 a 150. 4. Israel renascerá como nação! Esse estudo ainda foi escrito nos alvores do século XX, antes da libertação de Jerusalém do poder dos turcos pelo general Allenby (Novembro de 1917) e antes da “declaração Balfour” que abriu a terra para os judeus muito tempo antes da formação do atual estado de Israel. O autor manifesta aqui uma certeza, que advém da fé que professa: Ele sabia que Israel havia de renascer como nação, porque assim no-lo assegura a Palavra de Deus — e a Escritura, divinamente inspirada, não pode falhar!
Bom seria se, crentes e não crentes, meditassem todos nesta
grande verdade: A ESCRITURA DIVINAMENTE INSPIRADA, NÃO PODE FALHAR! (compare Jo 10:35). As notas foram agregadas pelo tradutor. Pedidos Brasil e África direto com a editora: [email protected] www.boasemente.com.br Rua Athos Palma, 250 CEP 04476-020 - São Paulo - SP BRASIL Pedidos Portugal e África: www.ensino-biblico.org Pedidos outras partes do mundo: www.gbv-dillenburg.de Pedidos em Moçambique: Bíblias & Livros Cristãos Av. de Namaacha - loja 4 (Prédio Rio) Matola - Rio Maputo celular: +258 849 576 299 - falar com Ismael e-mail: [email protected] Table of Contents Introdução Jonas uma testemunha Jonas o profeta Jonas e as nações Jonas e o povo de Israel Jonas e o remanescente Jonas figura de Cristo Deus no Livro de Jonas Notas explicativas
Pecado, Expiação e Salvação como Processo: três doutrinas bíblicas, três temas bíblicos que, postos e estudados em sequência, formatam um Processo muito frequente ao longo da Bíblia - Volume 2