Prescricao Farmaceutica de Formulas Homeopaticas

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Prescrição Farmacêutica de

Fórmulas Homeopáticas

Brasília-DF.
Elaboração

Paulo Angelo Lorandi

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS
HOMEOPÁTICOS.................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
SEMIOLOGIA X SEMIOLOGIA HOMEOPÁTICA............................................................................. 9
CAPÍTULO 2
SINTOMAS EM HOMEOPATIA.................................................................................................... 14
UNIDADE II
ANAMNESE HOMEOPÁTICA.................................................................................................................. 27
CAPÍTULO 1
DOENÇAS AGUDAS E CRÔNICAS........................................................................................... 27
CAPÍTULO 2
REPERTORIZAÇÃO................................................................................................................... 34
CAPÍTULO 3
A TERAPÊUTICA SINTOMÁTICA.................................................................................................. 48
UNIDADE III
ÉTICA................................................................................................................................................... 56
CAPÍTULO 1
CÓDIGO DE ÉTICA FARMACÊUTICO........................................................................................ 58
CAPÍTULO 2
ASPECTOS ÉTICOS NA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS................................ 63
UNIDADE IV
LEGISLAÇÃO........................................................................................................................................ 71
CAPÍTULO 1
NORMAS JURÍDICAS............................................................................................................... 72
CAPÍTULO 2
NORMAS JURÍDICAS EM HOMEOPATIA..................................................................................... 76

CAPÍTULO 3
ROTEIRO DE INSPEÇÃO DE FARMÁCIA..................................................................................... 87

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 92
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Hahnemann era um indivíduo naturalmente questionador. Ao ler sua história sabe-se
que a Homeopatia surgiu por seu descontentamento com as práticas terapêuticas da
época. Estudou, observou e após esse processo, fez uma nova proposição de cuidado
com a saúde e com a doença para a época, a Homeopatia. Depois disso, fez contínuas
progressões em suas ideias. Elaborou seis edições do Organon da Arte de Curar, o mais
importante referencial para a Homeopatia. E a cada edição incorporava novos conceitos
e aprimorava outros.

Além disso, Hahnemann propôs o método homeopático pela observação positiva


de sintomas e experimentações, além de acrescentar deduções a partir de suas
observações contrárias às bases científicas clássicas vigentes à época. Mas também não
aderiu plenamente ao pensamento científico derivado do racionalismo, que estava se
impondo à época. Em parte, por causa dessa opção filosófica, há intensa dificuldade
para a Homeopatia se afirmar dentro das normas científicas estabelecidas e, portanto,
há dificuldade em comprovar sua eficácia pelos métodos científicos aceitos.

Mas outros argumentos mais objetivos serão apresentados, como o estado da arte da
pesquisa científica em torno da Homeopatia. Ainda que polêmica, muitos pesquisadores
estão mostrando resultados que sustentam a Homeopatia como prática racional.
Mas como a Homeopatia é uma terapêutica que se afasta, em termos, do mercado
farmacêutico, muitos são seus detratores e nem todos baseados apenas em interesse
sanitários.

Nesse contexto, essa teoria abre espaço para múltiplas interpretações, as chamadas
Escolas da Homeopatia, assim como para as palavras de Hahnemann. Muitos seguidores
importantes de Hahnemann acrescentaram suas próprias concepções e que são
seguidas. Assim, o presente capítulo busca apresentar os conceitos hahnemannianos
clássicos da Semiologia, deixando as variações para estudos futuros e individuais.

Objetivos
»» Apresentar o significado de sintomas para a Homeopatia.

»» Analisar a classificação e valorização dos sintomas.

»» Discutir a hierarquização dos sintomas para a definição de um diagnóstico


homeopático.
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CONCEITOS DE
SEMIOLOGIA
PARA PRESCRIÇÃO UNIDADE I
FARMACÊUTICA DE
MEDICAMENTOS
HOMEOPÁTICOS

CAPÍTULO 1
Semiologia x semiologia homeopática

Semiologia é o ramo da medicina que estuda os sinais e os sintomas da doença, e por


meio desse estudo se pode interpretar o que o paciente está sentindo para chegar a um
diagnóstico.

Portanto, tratamos semiologia como a arte e a ciência, que nos ajudará a chegar a um
diagnóstico, e com ele chegar ao tratamento apropriado.

Para realizar uma semiologia bem sucedida os profissionais devem ter conhecimentos
de diferentes áreas como anatomia, fisiologia, patologia, microbiologia e farmacologia.

Esses conhecimentos nos guiarão para examinar um paciente e interrogá-lo, com o


objetivo de entender melhor sua condição e obter uma hipótese do que está acontecendo
com ele e de suas necessidades.

Em 2013, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) previu que os farmacêuticos possam


prescrever medicamentos sem a necessidade de receita médica. A Resolução no 585
afirma que, faz parte das atribuições clínicas do farmacêutico “prescrever, conforme
legislação específica, no âmbito de sua competência profissional”.

A prescrição farmacêutica é definida como o ato pelo qual o profissional farmacêutico


seleciona e documenta terapias farmacológicas e não farmacológicas, e também atua
em outras intervenções relativas ao cuidado à saúde do paciente. Esse ato surge como
um novo ramo na busca pela saúde da população, com o objetivo de promover, proteger
e recuperar a saúde, além de prevenir doenças, nas farmácias principalmente.

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UNIDADE I │ CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

Entre as décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos, surgiu a Farmácia Clinica, onde
estimulou a participação do farmacêutico em programas de uso seguro de medicamentos
em hospitais, e nos anos 2000 chegou ao Brasil. Mais de uma década depois, sabemos
que hoje é uma prática que pode ser desenvolvidas em hospitais, ambulatórios,
unidades de atenção primária à saúde, farmácias comunitárias, instituições de longa
permanência e domicílios de pacientes, entre outros, e esse conceito se relacionará
muito com a Semiologia Farmacêutica.

Em 1998, a Farmácia Clinica ganhou força com a ajuda da OMS e da Federação


Internacional de Farmacêuticos (FIP) que preconizaram a atuação do farmacêutico na
automedicação e no autocuidado.

Essa decisão vem juntamente com o seguinte critério:

... A expansão das atividades clínicas do farmacêutico ocorreu, em parte,


como resposta ao fenômeno da transição demográfica e epidemiológica
observado na sociedade. A crescente morbimortalidade relativa às
doenças e agravos não transmissíveis e à farmacoterapia repercutiu nos
sistemas de saúde e exigiu um novo perfil do farmacêutico. (Resolução
no 585/2013 CRF)

Para começar podemos falar um pouco sobre o surgimento do diagnóstico clínico.


Historicamente, o exame físico era o momento em que, segundo Hipócrates (500 anos
aC) se realizava a inspeção e palpação em um paciente. Falamos de Hipócrates porque
ele é considerado o pai da Medicina e historicamente desmistifica as funções sacerdotais
mitológicas que até então predominavam nessa época e introduz o conceito de que a
interpretação da doença só será possível pela observação e pelo controle do paciente,
formando assim o caminho inicial de medicina.

Depois, naturalmente foram surgindo os avanços da medicina na segunda metade do


século XVIII.

Os quatro ramos da semiologia podem ser divididos em:

I. Semiótica: é o conjunto de métodos de pesquisa utilizados para obter ou


apreciar os sinais e sintomas. É, sem dúvida, a parte mais importante da
construir um diagnóstico correto e inclui os materiais e métodos clínicos
complementares.

II. Semiogenesis: este ramo lida com o estudo da origem dos sinais e
sintomas.

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CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS │ UNIDADE I

III. Semiografía: corresponde ao sinal de escrita ou sintoma de uma


transcrição. E este nos possibilita estudar as características desses
próprios sinais utilizando gráficos. Exemplo: curva febril.

IV. Propedêutica Clínica: interpreta, recolhe e classifica o conjunto de


sinais e sintomas de integrados em um quadro clínico para chegar a um
diagnóstico.

A Homeopatia é uma estratégia terapêutica baseada substancialmente nos sinais e


sintomas apresentados pelo paciente, assim é necessário um olhar atento e livre de
preconceitos para o que for relatado. Isso não significa que, nos dias de hoje, não se vá
dar a devida atenção aos dados clínicos e bioquímicos, porém Hahnemann considerou
que os dados apresentados pelo paciente já são suficientes. Assim, a Semiologia
Homeopática é a coleta de informações referentes aos sinais e sintomas apresentados
pelo paciente, a classificação desses dados a partir de um critério valorativo, para
posterior escolha e prescrição do medicamento.

Você terá de estar preparado para uma nova forma de pensar a terapêutica
medicamentosa. A Homeopatia baseia-se em uma lógica diferente da que é aceita pela
ciência atual e a que, provavelmente, você está acostumado.

Os homeopatas definem a saúde como um estado de liberdade existente em três níveis


correlados: o físico, o emocional e o mental. Uma pessoal saudável tem vitalidade física
e liberdade de disfunção fisiológica, paz emocional e liberdade e expressão, e clareza
mental com criatividade. Os sintomas quando mais graves, afetam as partes mais
profundas e vitais da pessoa. Ao avaliar o estado de saúde global de um paciente, o
homeopata considera o estado mental como o mais importante, seguido pelo estado
emocional e depois pelo estado físico (CUMMING; ULLMAN, 1999).

O homeopata não fica satisfeito se apenas o sintoma pelo qual o paciente o procurou,
veio a melhorar. O profissional busca o que mudou, para melhor ou pior, e se a
vitalidade global da pessoal aumentou ou diminuiu. Por exemplo, se um problema de
pele melhorou mas desenvolveu uma infecção no tórax, o homeopata pode concluir que
a terapia na verdade faz a pessoa piorar.

Com o tratamento homeopático, seguindo a administração do medicamento correto no


tratamento de uma doença crônica, os sintomas nos níveis mais profundos melhoram,
ao passo que os dos níveis mais externos em geral pioram temporariamente. Passou-se
a esperar que a cura se processe de dentro para fora e esse processo pode ser usado para
validar o sucesso do tratamento. Os detalhes das mudanças importantes nos sintomas
do período pós-tratamento foram classificados por Constantine Hering, um homeopata

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UNIDADE I │ CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

alemão que emigrou para os Estados Unidos em 1830 e que é considerado o pai da
Homeopatia Americana. Os três princípios gerais do processo de cura homeopático são
conhecidos como as Leis de Cura de Hering ou os Guias de Cura de Hering.

Segundo a primeira das Leis de Hering, a cura progride das partes mais profundas do
organismo, os níveis mentais e emocionais e os órgãos vitais, para as partes externas,
como a pele e as extremidades. A cura está em andamento quando os sintomas
psicológicos da pessoa diminuem e os sintomas físicos aumentam (desde que os
sintomas físicos não sejam gravemente patológicos). Por fim, à medida que a cura chega
ao nível externo, até mesmo os sintomas superficiais são aliviados. Entretanto, se os
sintomas físicos melhoram mas o estado psicológico piora, considera-se que o estado
de saúde da pessoa está se deteriorando.

Dentro de cada um dos três amplos níveis do sistema de defesa, os sintomas que afetam
as funções mais vitais são os mais profundos e os mais ameaçadores à saúde.

Em 1980, um homeopata renomado, George Vithoulkas, esquematizou os diversos níveis


de profundidade dos sintomas de cada nível em ordem descendente de profundidade,
sintomas e seu impacto no estado de saúde da pessoa.

Quadro 1. Níveis de profundidade dos sintomas.

FÍSICO EMOCIONAL MENTAL


Doença do cérebro Depressão suicida Confusão mental
Doenças do coração Apatia Delírio destrutivo
Doenças endócrinas Tristeza Ideias paranóicas
Doenças do fígado Angústia Ilusões
Doenças pulmonares Fobias Letargia
Doenças dos rins Ansiedade Estagnação
Doenças dos ossos Irritabilidade Falta de concentração
Doenças dos músculos Descontentamento Esquecimento
Doenças da pele Desatenção

Fonte: Cumming, Ullman, 1999.

A localização exata desses sintomas demonstrada no quadro 1 não é decisiva, mas o


esquema serve como um guia para se avaliar o progresso do paciente de acordo com a
Primeira Lei de Hering.

A Segunda Lei de Hering estabelece que, conforme a cura progrida, os sintomas


aparecem e desaparecem no sentido contrário de sua ordem cronológica original
de aparecimento. Sistematicamente, os homeopatas observam que seus pacientes
apresentam brevemente os sintomas de estados anteriores, mesmo que esses estados
tenham ocorrido muitos anos antes do presente tratamento. Essas observações, é claro,

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CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS │ UNIDADE I

referem-se mais a pacientes tratados em estados crônicos, mas mesmo durante uma
doença aguda pode ser observada uma retração no desenvolvimento dos sintomas
depois que é administrado o medicamento.

Já, a Terceira Lei de Hering, diz que a cura progride das partes superiores às mais
inferiores do corpo. Por exemplo, considera-se que a pessoa está se curando se a dor
artrítica em seu pescoço tiver diminuído, embora agora apresente dor nas articulações
dos dedos.

Como os sintomas mudam conforme as Leis de Hering, é comum que os sintomas


individuais piorem em relação a sua situação antes do tratamento. Esses agravamentos
são bem recebidos pelos homeopatas experientes, contanto que haja uma melhora
correspondente nos sintomas em níveis mais profundos, de ocorrência mais recente
e posições mais elevadas do corpo. Se a cura estiver realmente em desenvolvimento, o
paciente se sentirá mais forte e em geral melhor, apesar do agravamento. E em pouco
tempo, os sintomas do agravamento passam e deixam a pessoa mais saudável em todos
os níveis.

No séc. 19, a Homeopatia surgiu como uma ciência médica altamente sistemática,
pelos esforços do médico alemão Samuel Hahnemann. Antes de desenvolver
a ciência homeopática, Hahnemann foi um médico e químico de renome. Era
o médico pessoal dos integrantes da realeza alemã e autor de uma das mais
respeitadas obras sobre química de seu tempo. Apesar do sucesso, ele acabou
abandonando a prática médica ortodoxa; achava que causava mais mal que bem
com o uso rotineiro de sangrias, doses venenosas de mercúrio e arsênio, além
das outras práticas médicas muitas vezes prejudiciais em voga no seu tempo.

Semiologia é o estudo dos sinais e sintomas da doença.

A Semiologia Homeopática é a coleta de informações referentes aos sinais e


sintomas apresentados pelo paciente, a classificação desses dados a partir de
um critério valorativo, para posterior escolha e prescrição do medicamento.

Os homeopatas definem a saúde como um estado de liberdade existente em


três níveis correlados: o físico, o emocional e o mental.

Com o tratamento homeopático, seguindo a administração do medicamento


correto no tratamento de uma doença crônica, os sintomas nos níveis mais
profundos melhoram, ao passo que os dos níveis mais externos em geral pioram
temporariamente.

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CAPÍTULO 2
Sintomas em homeopatia

§ 24 do Organon da Arte de Curar

Não resta assim, nenhum outro método de emprego de medicamentos


contra moléstias que ofereça possibilidades, a não ser o homeopático,
pelo qual procuramos, para a totalidade dos sintomas do caso de doença,
considerando-se a causa original se esta for conhecida e as circunstâncias
secundárias, um remédio que dentre todos os outros (cujos efeitos patogenéticos
são conhecidos por experimentos realizados em indivíduos sãos) tenha a força e
propensão de produzir um estado mórbido artificial o mais semelhante ao caso
de doença em questão. (HAHNEMANN)

O primeiro aspecto a ser ressaltado na proposta de Hahnemann é a inexistência da


doença como entidade. Todos os sinais e sintomas de uma “doença” representam e
expressam o desequilíbrio do princípio vital e apenas isso. O Organon da Arte de Curar,
obra referencial do trabalho de Hahnemann, apresenta o entendimento da força vital
como aquilo que “dá vida” (§§10 e 15), “anima” (§9o), “mantém” o organismo material
humano (§10); que “mantém as sensações e atividades do organismo em harmonia”
(§ 9o); que desempenha um papel essencial na percepção e nas ações do corpo (§10)
(HAHNEMANN, 2013). O conceito de vitalismo será mais explorado no módulo “Teoria
Geral da Homeopatia”.

Vamos comparar os diferentes entendimentos do que seja a doença. Para a ciência


dominante, clássica ou ocidental, a doença é entendida como a perda da homeostasia,
ou seja, a capacidade do organismo de se adaptar às diferentes condições fisiológicas.
Os agentes agressores poderão ser de toda ordem: físicos, químicos ou biológicos.
Frente a esses agressores, o organismo irá mobilizar mecanismos de adaptação
e/ou de defesa frente a esse agente agressor. Na condição do extrapolar a capacidade
de defesa, o organismo se desarranjará e irá produzir o quadro da doença, tanto em
nível celular quanto sistêmico. Esse conjunto de sintomas será definido como doença,
independentemente de quem os apresente.

Na Homeopatia, o processo será considerado diferentemente. Um fato importante ao


ler os tratados hahnemannianos é o de que foram escritos bem antes de se conhecer
a microbiologia. Assim, os termos “infeccioso”, “morbífico” ou “nocivo” precisam ser
entendidos nesse contexto. Porém, é possível entender que todos os tipos de agentes
agressores podem provocar o desequilíbrio do organismo, desde que ele esteja suscetível.

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CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS │ UNIDADE I

Para Hahnemann (2013, p. 19), a suscetibilidade não é uma condição orgânica, nem a
doença é o resultado de “perturbações mecânicas ou químicas da substância material
do corpo físico”, mas sim a expressão de um desequilíbrio dinâmico. Dinâmico porque
altera a energia vital, elemento que anima o corpo físico, que liga as funções biológicas
com a individualidade que coexiste com o corpo físico.

Assim, os agentes agressores, em contato com o corpo físico, irão alterar a dinâmica
existente entre o princípio vital e o ser, alterando, assim, a maneira como esse equilíbrio
se expressa. Por ser uma condição individual, o desequilíbrio terá um caráter pessoal,
porém Hahnemann chama a atenção para que certas condições se apresentam como
“doenças artificiais” e ressalta a importância para os bons hábitos de vida, como
alimentação, repouso e evitar excessos de toda ordem.

De forma mais clara, comer muito, por exemplo, alimentos gordurosos, irá causar
dispepsia em todos, assim como excesso de bebidas alcoólicas. Altas temperaturas no
ambiente, sem a devida ingestão de água, provocará a desidratação em todos. Todos
os que se expuseram ao fogo, ficarão queimados. Mas mesmo nessas circunstâncias,
dentro de um limite, o organismo irá reagir de forma própria e individual. Portanto,
a cada agente agressor dinâmico, seja ele físicos (inverno ou verão, por exemplo),
químicos (agentes poluentes) ou biológicos (agentes infecciosos), o complexo corpo,
princípio vital e se apresentarão o desequilíbrio de forma própria, em um conjunto de
sintomas. Então, será isso que deverá ser percebido como doença e que o medicamento
homeopático irá recompor.

O Organon está estruturado em 294 e 291 aforismos (parágrafos), dependendo


da edição consultada (5ª e 6ª, respectivamente). Aos parágrafos, Hahnemann
acrescentou várias notas com comentários variados, quer apresentando
o percurso do raciocínio que percorreu, quer fazendo a crítica de práticas
terapêuticas daquela época. Os parágrafos do Organon não são organizados em
forma de capítulos, mas dispersos e as vezes se tornam repetitivos. Alguns autores
organizaram esses aforismos/afirmações e os, apresenta como um conjunto
de ideias comuns e não na forma numérica crescente, como originalmente foi
escrito.

A doença, como desequilíbrio do Princípio Vital, será revertida apenas com o


medicamento homeopático apropriado, fazendo os sintomas desaparecerem, passando
do estado de doença para o de sanidade. A escolha do medicamento homeopático se dá
de uma forma bastante própria, desenvolvida por Hahnemann, que considerará todos
os sintomas apresentados. Hahnemann aprimorou o conceito hipocrático do Princípio
da Semelhança (Similia similibus curentur – Semelhante curso o semelhante).

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UNIDADE I │ CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

O entendimento do Princípio da Semelhança é fundamental para a aplicação da


Homeopatia. Que pode ser definida assim: toda e qualquer substância capaz de provocar
no indivíduo são, porém sensível, um conjunto de sinais e sintomas, será capaz
de curar outra pessoa que apresenta o mesmo quadro, desde que o medicamento seja
produzido de forma adequada. Iremos retomar o tema.

Os negritos no parágrafo anterior precisam ser esclarecidos: a experimentação


no indivíduo irá gerar a patogenesia; a condição da sensibilidade é derivada da
individualidade que a Homeopatia considera; a patogenesia será utilizada para comparar
com o quadro da doença; e a Homeopatia é produzida por uma farmacotécnica própria.
Os três primeiros elementos serão explicados nesse módulo e no módulo Teoria Geral
da Hoemopatia. O último conceito, a farmacotécnica homeopática, terá um módulo
próprio.

Coletar as informações dos pacientes é a primeira etapa do tratamento homeopático. Há


de se ouvir atentamente todos os sintomas, todas as queixas. É certo que alguns desses
sintomas serão mais importantes do que outros (como veremos no próximo capítulo),
mas a escolha do medicamento se dará pela totalidade sintomática, como característica
muito forte da terapêutica homeopática.

Como totalidade de sintomas, há de se entender não apenas os mais evidentes,


diretamente ligados a uma queixa do paciente, porém, suas variações na apresentação.
Como exemplo, a queixa de uma dor de cabeça terá de levar em conta em qual região
(à esquerda, direita ou ao centro; frontal ou mais atrás), além de dar atenção a outros
fatores como o horário de piora ou de melhora. E mais, se está vinculado a algum hábito
ou a qualquer outra coisa, como alimentos, esforço etc. Um elemento importante para
o leitor atento é entender que os sintomas não podem ser considerados na perspectiva
orgânica, apenas.

A ciência hoje sabe que dor é resultado da estimulação de terminais nervosos pela
prostaglandina, por exemplo, como resultado de um processo inflamatório. Essa visão
leva à origem dos medicamentos analgésicos que impedem a produção do mediador
químico responsável pela dor. É importante você lembrar que, Hahnemann não tinha
esse conhecimento, mas, mesmo que tivesse, talvez não estaria muito preocupado com a
informação. Na Homeopatia, os sintomas são apreciados na condição da individualidade.

Em Homeopatia, levar em conta essas características individuais é denominado de


modalização. Todos os medicamentos são modalizados e é por isso que, diferentemente
da alopatia, não há um medicamento homeopático específico para cada quadro. Não
é possível dizer que exista um “analgésico homeopático” ou qualquer outra classe

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CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS │ UNIDADE I

terapêutica. Agora, você poderá perguntar: mas como é escolhido o medicamento, se


vários deles poderão ser usados genericamente para dor, por exemplo?

A escolha do medicamento se dará pelo Princípio da Semelhança que é fundamental para


a Homeopatia. Essa forma de escolha do medicamento é uma comparação entre o que
foi apresentado pelo doente com a patogenesia de um medicamento. Essa patogenesia
foi produzida por experimentações de substâncias em indivíduos sãos. Isso é muito
importante entender, então vamos estudá-la.

§ 25, Organon: o único e infalível oráculo da arte de curar, a experiência pura, nos
ensina em todos os ensaios cuidadosos, que é realmente aquele medicamento
que provou poder provocar em sua ação sobre o corpo humano são, o maior
número de sintomas semelhantes que se encontram no caso de doença sob
tratamento; e em doses devidamente potencializadas e diminuídas, remove
rápida, radical e permanentemente todos os sintomas deste estado mórbido,
isto é (§§ 6-16), toda a doença atual, transformando-a em saúde; e que todos os
medicamentos curam, sem exceção, todas as doenças cujos sintomas mais se
assemelham aos seus, sem deixar de curar nenhum. (HAHNEMANN, 2013)

O Princípio da Semelhança, por sua importância, será apresentado na sequência, porém


de forma mais detalhada em outro módulo. Hahnemann era um estudioso. Trabalhou
como tradutor de várias obras de autores clássicos daquela época. Essas traduções lhe
permitiram apropriar-se e criticar as teorias que embasavam a terapêutica utilizada
naquela época. Um fato que chamou bastante atenção de Hahnemann foi a de que
os autores entravam em aparente conflito entre si, pois se uns apresentavam uma
substância como tóxica com a descrição de um quadro característico de intoxicação,
outros apresentavam o uso dessa mesma substância para curar doenças. Em vários
textos diferentes, a mesma substância era apresentada como capaz de provocar um
quadro de intoxicação e por outros autores, elas eram usadas para o tratamento de
doenças que eram descritas com quadro semelhante ao que ela provocava.

Hahnemann falava em efeito secundário do medicamento e que consiste em uma


espécie de reação do organismo a uma substância ao efeito ponderal. Como exemplo, é
possível descrever a vasodilatação periférica que segue a vasoconstrição provocada pelo
gelo em contato da pele, como primeira resposta do organismo à exposição do agente,
no caso o frio. Com o conhecimento atual da fisiologia, nos parece óbvia essa resposta.
Se em um primeiro momento a vasoconstrição é uma forma de proteção para evitar
a perda de calor, a vasodilatação é uma resposta local, secundária ao agente agressor
(frio) para impedir uma condição isquêmica e morte celular.

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UNIDADE I │ CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

A descrição minuciosa do estudo teórico de Hahnemann sobre ação secundária


das substâncias, e que permitiu propor esse novo método, está apresentado em
“Ensaio sobre um novo princípio para se determinarem as virtudes curativas das
drogas com um breve exame dos até aqui utilizados”, por Samuel Hahnmann,
1796.

Esse documento foi transcrito em: SELECTA HOMEOPÁTICA. Rio de Janeiro:


Instituto de Homeopatia James Tyler Kent, v. 3, no 1, janeiro-junho 1995.

Também pode ser encontrado, porém em trechos destacados com comentários,


em:

TEIXEIRA, Marcus Zulian. Ensaio sobre um novo princípio para se averiguar os


poderes curativos das substâncias medicinais (1976). In: ______. Semelhante
cura semelhante: O princípio de cura homepático fundamentado pela
racionalidade médica e científica. São Paulo: Editorial Petrus, 1998. pp. 129 – 150.

Após ter esse insight, Hahnemann construiu a Homeopatia pelo método indutivo, ou
seja, a partir da observação de fatos, como fator bastante importante. Hahnemann
percebeu a regra similia similibus curentur (semelhante cura o semelhante). Antes de
continuarmos, vamos apresentar essa ideia com um exemplo simples. A picada de uma
abelha irá apresentar um quadro bastante conhecido: a região ficará dolorida, com edema
e eritema pronunciados. Por outro lado, quando um paciente apresentar uma situação
semelhante, como o excesso de exposição ao sol ou alguns casos de conjuntivites, o
medicamento homeopático Apis mellifica, produzido a partir de abelhas, será capaz de
resolver essa situação. Lembrando que a técnica homeopática é própria.

Ao perceber essa regra de cura, ou seja, uma substância cura aquilo que ela capaz de
provocar em um indivíduo são, Hahnemann considerou necessário ir além do que se
sabia àqueles tempos e propôs a investigar novas substâncias e detalhar melhor o quadro
que elas provocavam. Não bastava estudar o que já se sabia, pois o pai da Homeopatia
considerava importante separar o efeito da substância ingerida, daquele produzido pela
doença.

Além disso, muito do que se sabia sobre as substâncias eram derivadas de processo
de intoxicação e ele achava que isso poderia obscurecer algumas informações. Afinal,
as pessoas intxicadas poderiam apresentar quadros muito radicais, incluindo a morte
e Hahnemann passou a considerar em quadro de sintomas mais abrangente. Então
propôs um método científico e revolucionário para à época, o da experimentação. Com
ela, pretendeu descobrir quais possíveis efeitos que uma substância poderia produzir.

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CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS │ UNIDADE I

A partir da relação dos sintomas causados em um indivíduo são, seria possível elaborar
os medicamentos.

Hahnemann estabeleceu que a experimentação deveria ser em indivíduo são para


evitar que houvesse a mistura com os sinais e sintomas do curso próprio da doença.
Assim, inicialmente, Hahnemann passou a experimentar em si próprio as substâncias,
principalmente porque acreditava que todas as alterações fossem importantes, não
apenas as orgânicas, mas também, e sobretudo, as emocionais. Como em um diário
de campo, anotava todas essas alterações percebidas após a ingestão de determinada
substância, incluindo variações de horário ou fatos cotidianos, como as refeições, sono
ou atividades fisiológicas (defecação ou ato de urinar).

A opção hahnemanniana pela experimentação permitiu que ele percebesse que


a diluições sucessivas da substância estudada expressava melhor os sintomas
característicos do medicamento, enquanto mais concentrado, os efeitos mais evidentes
são os decorrentes da ação ponderal, química sobre o organismo. Mas Hahnemann
dá valor ao aspecto vitalista da terapêutica (DEMARQUE. 1985) e as diluições
permitiriam a ação mais sutil sobre o ser. Ainda nesse capítulo, serão apresentadas
mais argumentações para a importância da diluição para a Homeopatia.

A experimentação também permitiu à Hahnemann (2013) entender que cada indivíduo


responde de forma característica às mesmas agressões:

(§ 31, Organon) As forças inimigas, em parte psíquicas e em parte físicas,


a que está exposta a nossa existência terrena, os chamados agentes
morbíficos, não possuem o poder de afetar morbidamente a saúde
do homem, incondicionalmente; mas estes fazem adoecer somente
quando nosso organismo se encontra suficientemente predisposto
e suscetível ao ataque da causa morbífica presente, e ser alterado em
seu estado de saúde, que pertubado, é levado à sensações e funções
anormais – daí não produzirem moléstia nem em todos e nem sempre.
(grifo nosso)

Suscetibilidade não poder ser entendido como predisposição genética. Suscetibilidade


está fortemente vinculado ao quadro individual de fragilidade frente a um agressor.
Como exposto acima, a agressão pode ser “em parte psíquicas e em parte físicas”. Pense
em como cada um de nós reage à vida moderna, por exemplo. Como a rotina cotidiana
interfere no bem estar (ROSEMBAUM, 1995). Organicamente, podemos explicar
situações como a queda da imunidade que o estresse provoca, em função do cortisol.
Porém, em Homeopatia não se trata apenas das condições orgânicas, mas a relação
entre a individualidade e o ser orgânico. Isso significa o desequilíbrio do Princípio Vital.

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UNIDADE I │ CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

Retomando, para Hahnemann (§ 210, Organon), “a disposição psíquica e mental está


sempre se modificando” levando modificações ao quadro geral das pessoas. Assim,
a anamnese homeopática valoriza esses sintomas não como doença emocional ou
transtorno psíquico, mas como uma interpretação holística do ser humano, entendendo
haver plena integração dos aspectos biológicos, mentais e sociais do indivíduo, em sua
homeostase.

Quando se pensa na “disposição psíquica e mental” procure entender como a


individualidade do ser. É possível usar os termos alma ou espírito, porém esses são
carregados de religiosidade. A Homeopatia, ainda que baseia-se na existência de Deus,
não professa nenhum tipo de religião. A individualidade pode ser interpretada como o
centro da razão e do sentimento. É o modo como cada um racionaliza a vida e sente os
seus percalços e alegrias. Cada pessoa tem uma relação com a vida e essa está interligada
ao corpo físico e vice e versa. A ligação é o Princípio Vital.

Em uma consulta homeopática, o quadro mental de uma pessoa, com suas angústias,
medos e desequilíbrios não é considerado como uma doença em si, mas como um
conjunto de informações necessário para a escolha do medicamento. Como veremos, o
quadro mental considerado genericamente é uma forma bastante pessoal de expressar
o desequilíbrio do Princípio Mental.

Para Demarque (1991), importante médico homeopata francês, a Homeopatia seguiu


dois caminhos diferentes devido a dois influenciadores distintos: Bœnninghausen e
Kent. Enquanto Bœnninghausen adotava uma análise bastante positiva dos sinais e
sintomas que se apresentam pela anamnese, Kent, baseando-se em ideias teosóficas
da época, buscava a origem psíquica das doenças. Daí, é possível perceber-se “escolas”
diferentes na Homeopatia, que privilegiarão os sintomas de forma diferenciada.

A análise positiva de Bœnninghausen significa valorizar aquilo que é facilmente


perceptível, procurando os sintomas de forma mais objetiva. Para alguns, preocupar-se
com os sintomas orgânicos para a escolha do medicamento é caracterizado como uma
linha francesa de pensar a Homeopatia. Por outro lado, dar ênfase aos sintomas mentais
é seguir uma “escola” kentiana. Isso significa em explorar e evidenciar os desequilíbrios
pelos sintomas mentais e nem sempre considerar como esse desequilíbrios se apresenta
no corpo, nos órgãos.

PROGRAMA FARMACÊUTICO + SAÚDE: Homeopatia e Florais.

Produzido pelo Conselho Federal de Farmácia.

Disponíveis em: <https://www.youtube.com/watch?v=9C7fpBulT6Y>.

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CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS │ UNIDADE I

Após esse detalhamento, é importante entender como se desenvolve a experimentação


em Homeopatia. Os sintomas que surgiam da experimentação eram catalogados,
sintetizados e denominados de patogenesia da substância. O conjunto de patogenesias
formam uma Matéria Médica. Na medida em que Hanhnemann passou a ter seguidores,
a experimentação também era feita por eles. Hahnemann publicou 67 patogenesias
de medicamentos diferentes e utilizou mais de 50 voluntários. A partir daí, outros
pesquisadores passaram a conduzir as suas próprias experimentações, tanto das
substâncias já realizadas por Hahnemann quanto a de outros elementos. Com isso, há
várias Matérias Médicas importantes: Hughes, Stephenson, Boger, Jahr, Allen, Hering,
Tyler, Kent, Lathoud, entre outras (NASSIF, 1995).

No Brasil, o introdutor da Homeopatia foi o médico francês Benoit (Bento, no Brasil)


Mure que elaborou 36 patogenesias de plantas brasileiras (DANTAS, 2017).

Hahnemann era muito metódico e apresentou, inclusive, as características morais


necessárias para os experimentadores (do § 126 ao § 141, Organon). O indivíduo que
tenha experimentado a substância deverá estar focado no processo, não podendo
ter muitos afazeres, nem atividades físicas e mentais estafantes. Além de ser atento
observador, para entender as mudanças que ocorrem consigo, deverá ser capaz de
expressá-las por escrito.

O mestre também introduziu preocupações metodológicas, como a de criar grupo de


experimentadores diversificado distribuídos pelos dois gêneros, idades diferentes e
constituições diversificadas. E uma vez ingerida a substância, os experimentadores
deveriam apresentar todas as modificações na sequência de aparecimento. O médico
responsável pela elaboração da Matéria Médica cotejaria todas as informações e
descartaria aquelas que julgasse não confiáveis.

No Organom, Hanhemann (2013, § 128) expressou a importância de se experimentar as


substâncias diluídas para que todas as alterações pudessem ser percebidas e não apenas
aquelas derivadas diretamente da ação de massa que os constituintes produziriam no
organismo. Com essa prática, foi possível desenvolver a patogenesia de substâncias
inertes quando ingeridas in natura. Alguns exemplos se sobressaem, como o Natrum
muriaticum, ou cloreto de sódio, que como medicamento homeopático tem uma
patogesia extensa e importante.

A diluição também permitirá a experimentação de substâncias ditas heroicas, ou


farmacologicamente muito ativas, podendo causar situações de intoxicação, como
a Belladonna (Atropa belladonna) ou Aconitum napelus. Hahnemann instrui que a
experimentação deve ser feita utilizando-se o medicamento diluído à trigésima potencia,
ou 30 CH. O modo de prepará-lo será visto no módulo de Farmacotécnica, mas é uma

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UNIDADE I │ CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

diluição centesimal sequencial feita por trinta vezes. Isso significa uma substância
original diluída a 1060.

A dose recomendada seria uma vez ao dia, mas poderá ser necessário fazer uso mais
vezes ao dia porque nem todos reagirão na mesma dimensão. Por isso, a palavra “porém
sensível” foi formatado em negrito. Essa sensibilidade também poderia aparecer de
forma diferenciada no mesmo experimentador, daí a importância de fazer esse processo
mais de uma vez.

Durante a experimentação, havia a orientação para que o experimentador variasse sua


condição. Por exemplo, alternasse repouso e movimento; ou mudasse o ambiente de
aberto para um quarto; também experimentasse ambientes quentes e frios; e assim
tantos outros. Essa variação permitirá a modalização, ou seja, entender como os
sintomas causados pelo medicamento se comportam nessa situação. Isso porque, ao
fazer a anamnese para a escolha do medicamento, essa modalização será usada para a
escolha dos medicamentos.

Apesar de todos esses critérios, e outros mais, a proposta de Hahnemann seria inviável
nos dias de hoje, quando há protocolos mais rígidos para o controle das experimentações,
como a necessidade da aprovação por Comitês de Ética em Pesquisa. Além disso,
Hahnemann não utilizou critérios que garantam a imparcialidade dos resultados, como
a técnica de ensaios randomizados e em duplo cego. Porém, há de ressaltar que não
havia esse tipo de exigência a aquela época.

Alguns grupos internacionais de pesquisa, inclusive no Brasil, têm discutido a


modernização e revisão das patogenesias já realizadas por Hahnemann e pelos demais
homeopatas históricos. Mas tudo isso tem um custo, além da resistência de alguns
grupos mais tradicionalistas (DANTAS, 2017). Como forma de aplicação mais ampla da
Homeopatia, faz-se, inclusive, a patogenesia em plantas para que os vegetais possam
ser tratadas por essa terapêutica (OLIVEIRA et al, 2013).

Protocolo de experimentação patogenética homeopática em humanos.

Disponível em:

<https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/download/80006/83924>.

No percurso da História da Homeopatia, vários autores importantes passaram a


contribuir e a discordar, em parte, daquilo que foi apresentado por Hahnemann.
Por exemplo, Hahnemann (2013) postulou a necessidade de se prescrever um único
medicamento por vez, sendo o escolhido aquele que apresentasse maior número de
sintomas concordantes na comparação com a patogenesia (§ 248, ORGANON).

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CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS │ UNIDADE I

A prática de se ministrar um único medicamento é denominada unicismo e o


medicamento escolhido é designado de Simillium, sendo aquele medicamento que
apresenta a maior similitude possível entre o quadro da pessoa com o descrito na
patogenesia. Mas na evolução do tempo, com outros autores estudiosos da Homeopatia,
foram surgindo outras “escolas” como a dos complexistas, alternistas, sintomáticos etc.
Isso será discutido posteriormente.

Mas qual a explicação de Hahnemann para o Princípio da Semelhança? No parágrafo


23 do Organon, o mestre apresenta o conceito de efeito primário e secundário. O efeito
primário seria a ação química da substância sobre o organismo, nos mesmos moldes
de como entendemos os princípios da farmacologia e toxicologia. Isso é explicação
possível nos dias de hoje, pois, lembre-se que a Homeopatia foi postulada no final do
século XVIII e início do século XIX. A essa força química, há uma reação contrariado
organismo, na tentativa de restabelecer a homeostase alterada pela força da substância.
É possível explicar que esse efeito secundário age naquilo que a farmacologia atual
designa como efeito rebote (TEIXEIRA, 2013). Esse efeito rebote é facilmente
encontrado no efeito fugaz dos descongestionantes nasais, o quais após o alívio inicial,
espera-se uma congestão aumentada. Ou mesmo no efeito depressor causado após o
uso de estimulantes como a cocaína.

A grande diferença da Homeopatia, proposta por Hahnemann, é a de que é possível


preparar um medicamento para despertar apenas a força secundária de cura. O
medicamento homeopático, preparado em farmacotécnica própria, irá despertar
a potencialidade de agir exclusivamente no efeito secundário. Nesse momento de
aprendizado, você estudante, tem de ter claro que Hahnemann propunha uma visão
vitalista de saúde, de doença e de ação dos medicamentos.

Para isso, a farmacotécnica homeopática irá fazer diluições sucessivas em escala


centesimal (como está no Organon até a 5ª Edição ou em escala cinquenta-milesimal
como descrito na 6ª Edição). O medicamento homeopático é bastante diluído porque
sua intenção é despertar a força de reorganização do Princípio Vital.

É preciso acatar a existência de uma interação dinâmica entre o ser e a maneira de


expressar sua condição vital. A doença e o processo de cura são alterações dinâmicas e
não químicas do corpo físico. A doença e a cura terão de ser entendidas por alterações
no princípio ou força vital como sendo um elo não material, nem espiritual, entre a
individualidade do ser (razão e emoção que são próprias de cada um) e o corpo físico.

(§ 63, Organon) Cada potência que atua sobre a vitalidade, cada


medicamento, afeta mais ou menos a força vital, e causa certa alteração
na saúde do indivíduo, por período mais longo ou mais curto. Isto

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UNIDADE I │ CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

chama-se ação primária. Embora sendo conjuntamente um produto


das forças vital e medicinal, pertence principalmente à segunda. À
sua ação a nossa força vital procura opor sua própria energia. Essa
ação resistente é uma propriedade, é, de fato uma ação automática de
nosso poder de preservar a vida, chamada ação secundária ou reação.
(HAHNEMANN, 2013)

Vamos retomar a discussão do que é Princípio/Força Vital, porém agora em termos


menos acadêmicos e mais corriqueiros. Vamos pensar em um exemplo do cotidiano.
Quantas vezes você já teve uma sensação boa ou ruim pelo simples fato de olhar para
os olhos de uma pessoa que mal conhecia? Não estamos falando de beleza ou qualquer
outro tipo de interesse, mas tem pessoas que emitem boas ou más vibrações e que é
possível de se perceber.

E ainda, é possível sentir a renovação de nossa energia quando estamos em um bosque,


junto ao mar, ou mesmo entre os animais. Essa energia que flui pela natureza é uma
forma de entender que o mundo não é feito apenas de elementos físicos palpáveis, mas
também há algo para além dos sentidos. E não é necessário se ter uma crença religiosa
específica, uma vez que a Homeopatia é uma forma própria de se entender o mundo.
Esse aspecto é bastante importante, pois a confusão no entendimento da Homeopatia
introduz um misticismo desnecessário e infundado para a Homeopatia (DIAS; MELO;
SILVA, 2014).

Entender e/ou aceitar o conceito do vitalismo é uma construção histórica, fruto


do determinismo epistemológico. A ciência é uma construção dialética, na qual as
verdades vão se constituindo em um movimento em espiral e progressivo. Vários foram
os filósofos que contribuíram para a epistemologia da ciência. Um bastante importante
foi Descartes, e que afirmou “penso, logo existo”.

A razão humana passa a definir as coisas, porém sem descartar os elementos divinos.
Com base em outros filósofos, a ciência vai se tornando exclusivamente experimental,
quantitativa e determinística, em busca de leis gerais. Com isso, ciência estuda coisa
objetivas, deixando para a religião e a filosofia cuidarem das coisas abstratas e divinas.
O dualismo corpo e alma de Descartes impregnou a forma de pensar da ciência, assim
como as questões de saúde e da doença (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006).
Dualismo que significa que os dois elementos precisam ser pensados separadamente,
deixando de lado o conceito de ser integral.

A ciência atual valoriza o objetivo em detrimento do subjetivo. Como objetivo há de


se entender aferições de toda ordem. Das mais simples como temperatura ou pressão
arterial e as mais complexas como variação circadiana dos hormônios. Esses dados

24
CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS │ UNIDADE I

objetivos são os que definem a doença na perspectiva moderna, vigente. A subjetividade,


nessa forma de olhar, passa a ser desprovida de “verdade”, na medida em que ela
não é passível de ser provada em uma perspectiva laboratorial. Muitas pesquisas em
Homeopatia têm sido desenvolvidas, porém há muita polêmica sobre elas, à medida
que não seguem o absoluto modelo vigente (MASTRANGELO; LORÉ, 2005; TESSER;
MADEL, 2002).

Quando falamos em subjetividade, é preciso assumir que cada indivíduo reage


diferentemente aos mesmos estímulos. Pensando que um agente agressor provoca um
tipo de reação que pode ser considerada típica do ser biológico. Por exemplo, as espécies
reativas de oxigênio, geradas em nosso organismo frente aos poluentes, irão provocar a
mesma lipoperoxidação em todos os indivíduos. Porém, viver em um ambiente poluído
fará com que as pessoas sofram genericamente de forma diferente. Assim, estudar
os efeitos da poluição sobre os seres vivos não pode ser estudado em uma dinâmica
estatística, em que prevalece o acontece na maioria. A Homeopatia irá privilegiar as
características individuais de reação frente à poluição.

A Homeopatia valoriza o singular e não os valores gerias como a ciência moderna.


A Homeopatia baseia-se em um ser integral unido pelo princípio vital, em que a razão,
o sentimento e o corpo influenciam-se mutuamente. A Homeopatia considera que o
movimento entre equilíbrio e desequilíbrio orgânico é afetado dinamicamente e não por
forças materiais químicas como a farmacologia preconiza. Não se espera uma reação de
dose/resposta, mas a movimentação individual de suas próprias capacidades.

A Homeopatia é vitalista, assim como outras propostas terapêuticas: Medicina


Tradicional Chinesa, incluindo acupuntura, Ayurvédica, Unani árabe e as diversas
terapias indígenas. A OMS (2013) valoriza essas práticas e instrui aos países membros
que elaborem políticas específica para o seu desenvolvimento.

A defesa incondicional da Homeopatia pelo poder público da Inglaterra.

House of Commons

Science and Technology Committee - Fourth Report

Evidence Check 2: Homeopathy

Disponível em: <https://publications.parliament.uk/pa/cm200910/cmselect/


cmsctech/45/4502.htm>.

Retornando à discussão sobre a técnica de dinamização ou de potencialização de uma


substância. A diluição de uma substância irá torná-la homeopática, possibilitando-a

25
UNIDADE I │ CONCEITOS DE SEMIOLOGIA PARA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

para agir no processo de cura, pois só assim será possível atingir o princípio vital
desequilibrado, responsável pelo quadro que se apresenta como doença.

Hahnemann (2013) descartava investigar o porquê do desequilíbrio do princípio vital


gerava os sinais e sintomas caracterizando a doença. No parágrafo 12, do Organon
afirmou: “[...] Tais questões não são de nenhum valor para o médico. Suas respostas
sempre estarão ocultas para ele. O Mestre e Senhor da vida revelou aos seus sentidos
somente o que é necessário e completamente suficiente para curar as doenças.” Ao
considerar os sinais e sintomas como expressão do desequílio do princípio ou força
vital, afirmava ser a Homeopatia suficientemente capaz de resolver esses problemas.
Porém, excetuava as situações de necessidade cirúrgica ou de infecções venéras.

Na forma de exemplo, podemos citar o caso do diabetes melitus. Quando em seu


tipo I, com destruição de tecidos produtores de insulina, a Homeopatia é incapaz de
resolvê-la, necessitando, obrigatoriamente, da reposição hormonal. Porém, no caso
do tipo II, que é considerada uma disfunção, a Homeopatia poderá ser aplicada com
êxito, até o momento em que haja a degeneração do pâncreas, impedindo-o de produzir
insulina suficiente. A Homeopatia pretende recuperar a capacidade de homeostase do
indivíduo.

Mas é preciso ressaltar que os bons hábitos de vida são fundamentais, mesmo com o
uso da Homeopatia. O indivíduo portador de Diabetes do tipo II terá de se alimentar
adequadamente, manter-se ativo e, eventualmente, emagrecer. Ainda que seja
repetitivo, não há medicamento homeopático para o diabetes, mas “o” medicamento
escolhido para cada caso em particular.

A Homeopatia é uma terapêutica vitalista e que não se baseia nos pressupostos


científicos vigentes.

Hahnemann propôs a Homeopatia a partir do princípio da semelhança, ou seja,


uma substância será capaz de curar, desde que preparada adequadamente, um
quadro semelhante ao que ele provoca em um indivíduo são.

A experimentação em um indivíduo irá produzir um conjunto de sinais e


sintomas que é denominado patogenesia de uma substância.

O conjunto de patogenesias publicadas formam a Matéria Médica. Vários


homeopatas produziram suas próprias Matérias Médicas.

26
ANAMNESE UNIDADE II
HOMEOPÁTICA

CAPÍTULO 1
Doenças agudas e crônicas

§ 5o Como auxílio da cura servem ao médico os dados detalhados da causa


ocasional mais provável da doença aguda, bem como os momentos mais
significativos na história inteira da doença crônica, do sofrimento prolongado,
para encontrar a sua causa fundamental, na maioria dos casos devida a um
miasma crônico, no que se deve considerar a constituição física visível do
paciente (especialmente do paciente crônico), suas características afetivas e
intelectuais, suas ocupações, seu modo de vida e hábitos, suas condições sociais
e domésticas, sua idade e função sexual etc. (HAHNEMANN, ORGANON)

Para Hahnemann, as doenças aguda e crônica devem ter tratamento homeopático


diferenciado e definido a partir de uma lógica distinta. Apesar de toda a doença ser
resultante do desequilíbrio do Princípio Vital, a doença aguda comporta-se de forma
diferente da crônica. As doenças agudas, em Homeopatia, são consideradas aquelas
provenientes de causas externas bem definidas como clima, fadiga, processos
infecciosos (lembre-se sempre que Pasteur e Koch apresentaram suas teses sobre os
micro-organismos ao final do sec. XIX, bem depois de Hahnemann, apesar de que este
já os pressupunha em sua forma miasmática) ou fatores mecânicos (como torção ou
fratura), cortes, queimaduras, corpos estranhos etc.

As doenças agudas, com causa bem definida, produz sintomas semelhantes em várias
pessoas acometidas pelo mesmo problema. Explicando casualmente, uma queimadura
apresenta respostas semelhantes em várias pessoas diferentes. Ou mesmo uma
agressão microbiana, que tem um tropismo por um órgão e, portanto, causa lesões bem
específicas. Os vírus da hepatite (A, B ou C) infectarão e causarão danos no fígado.

Mas Hahnemann também considerava ser necessário dar atenção às variações


individuais dependentes da condição própria. Assim, uma epidemia infecciosa, como

27
UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

um resfriado, terá um quadro geral, muito semelhante a todos, mas também poderá
haver expressões próprias derivadas da maneira como a força vital individual foi
afetada. O pai da Homeopatia afirma, nos parágrafos de 152 até 168, que mesmo uma
doença aguda deve ser vista pelos sintomas mais característicos e mais amplos.

E Hahnemann (2013, § 186) também considerava importante conter o elemento


externo, como a extração de corpos estranhos ou fechamento de feridas, mas considera
fundamental o efeito “vitalista e dinâmico” da Homeopatia para tentar reduzir os
sintomas como o da dor. Sim, a Homeopatia age em situações agudas, reduzindo dor
ou outro sintoma que seja necessário, mas sempre pelo reequilíbrio do Princípio Vital
e não por uma ação contrária (contraria contrariis curantur) de anulação sintomática
(FURUTA; WECKX; FIGUEIREDO, 2015; TEIXEIRA, 2010).

Ainda que Hahnemann reafirme a importância da individualização para a escolha


do medicamento, ele cita no parágrafo 102 do Organon que é possível escolher-se
o medicamento para um quadro epidêmico, considerando-se que várias pessoas
estariam afetados pela mesma doença. Assim, o medicamento seria escolhido pelo
gênio epidêmico, ou seja, o quadro comum a todas as pessoas afetadas por uma doença
infecciosa transmissível. Infelizmente, talvez por interesse comercial, talvez por
desconhecimento dos princípios da Homeopatia, é comum encontrarmos a divulgação
de conceitos TOTALMENTE inadequados como “vacina homeopática”, a “prevenção
homeopática” para doenças do tipo dengue e febre amarela.

ALERTA do CFF AOS FARMACÊUTICOS E À POPULAÇÃO

Disponível em: <http://www.cff.org.br/noticia.php?id=4803>.

Mas essa ideia de gênio epidêmico permite, por outro lado, o uso racional da Homeopatia
em doenças infecciosas. Mais adiante, veremos que alguns laboratórios criaram os
“complexos homeopáticos” procurando elaborar medicamentos que apresentem em
sua anamnese os sintomas mais comuns de determinadas doenças.

Quando a escolha se dá na forma individualizada e certeira haverá maior chance


de cura e de forma mais rápida. O medicamento bem escolhido poderá fazer com
que o fenômeno da agravação homeopática surja, que é quando o quadro tem uma
pequena piora tão logo o medicamento seja administrado. Hahnemann considerava
que a despeito das doses baixas diluídas usadas em Homeopatia, ainda é possível
presenciar-se o efeito primário da substância, explicando a agravação homeopática.
Mas depois de curto espaço de tempo, a cura acontece.

28
ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

O processo da agravação homeopática será abordado no módulo Teoria Geral


da Homeopatia. Mas leia esse texto do eminente médico homeopata Matheus
Marim.

Disponível em: <http://www.bvshomeopatia.org.br/saladeleitura/


texto14serounaoseramado.htm>.

Porém, se a escolha do medicamento não é feita de maneira integral,


restringindo-se o olhar apenas para o gênio epidêmico, e não para as características
pessoais do desequilíbrio do princípio vital, a cura poderá ser mais demorada e alguns
sintomas não necessariamente resolvidos por completo.

A despeito dos critérios individualizantes hahnemannianos e que exigem a escolha de


medicamentos baseados na totalidade sintomática, a Homeopatia está sendo usada
com sucesso na agricultura (LORENZETTI; STANGARLIN; KUHN, 2017) e na pecuária
(VIDAL et al, 2016). Alguns estudos também apresentam resultados, mesmo quando
não são conduzidos pelo Princípio da Semelhança, mas usados em uma perspectiva
mais sintomática, como o uso sedante de Passiflora 6 CH (RAMOS PADILLA et al,
2015).

Ao pretender atingir sintomas mais específicos, como o da sedação em Passiflora ou


o do prurido em Urtica urens, essa opção de escolha de medicamentos é denominada
de Homeopatia organicista. Organicista por olhar apenas os desvios orgânicos e não
a totalidade sintomática. Para alguns homeopatas, essa opção ocorre por ter uma
visão mais restrita da Homeopatia, ou também quando há dúvidas na escolha de um
medicamento para o quadro agudo. Nessas situações é possível optar por administrar
mais de um medicamento que pode ser administrado de forma alternada ou misturados
em um mesmo medicamento (KOSSAK-ROMANACH, 2003).

O grande problema da visão organicista, segundo uma proposta holística ou integradora,


é a de que os sintomas periféricos, orgânicos como uma simples tosse ou um exantema,
podem fazer parte do desequilíbrio mais central do indivíduo e não apenas o resultado
de uma doença epidêmica. Por isso, é importante ressaltar que o parágrafo 187 do
Organon (HAHNEMANN, 2013) fala que nem todas as afecções externas têm como
causa primária elementos externos. E isso precisa ser bem diferenciado. Pois, o quadro
agudo pode ser resultante das doenças crônicas.

Outro fator há ser valorizado é a preservação da condição de saúde pelos hábitos


individuais. Ter um estilo de vida ruim (sedentarismo, alimentação não balanceada,

29
UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

fumo, estresse etc.) irá gerar uma condição de desequilíbrio do Princípio Vital que a
Homeopatia não conseguirá reverter. Com isso, Hahnemann diferencia o que seria o que
seria de fato uma doença crônica e que ela não pode ser considerada quando derivada de
agressores que poderiam ser retirados. Hahnemann (2013, § 77) apresenta um conceito
extremamente moderno, valorizando o estilo de vida como fator de proteção.

Os males impropriamente chamados crônicos são os contraídos


pelas pessoas que se expõem continuamente à influências nocivas
evitáveis, que se habituam a abusar de líquidos ou alimentos nocivos,
que se entregam a dissipações de muitos tipos, as quais prejudicam
a saúde, que se privam por muito tempo de coisas necessárias para o
sustento da vida, que residem em locais insalubres, principalmente
em lugares pantanosos, que habitam em oficinas úmidas, porões ou
outras moradias fechadas, que se privam de exercícios ou de ar puro,
que arruínam a saúde, forçando o corpo ou a mente, que vivem em
constantes preocupações etc. Esses estados de falta de saúde, que as
próprias pessoas contraem, desaparecem espontaneamente (desde que
não haja, latente no corpo, nenhum miasma crônico), com um método
de vida mais sadio, não podendo ser chamados doenças crônicas.

Doença crônica para Hahnemann, portanto, tem outro sentido do aquele assumido
pelo Ministério da Saúde e pela ciência moderna que as denominam de Doenças
Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Essas são aquelas causadas pelo uso do tabaco,
pela inatividade física, pelo uso prejudicial do álcool e por dietas não saudáveis, sendo
responsáveis por cerca de 70% de todas as mortes no mundo. Provocam distúrbios
cardiovasculares, respiratórios crônicos, cânceres e diabetes (MALTA et. al, 2017).

A Homeopatia, apesar de ser uma terapêutica de caráter individual, também tem a


dimensão do risco coletivo. Hahnemann era um visionário, pois já previa a infecção
microbiana e os danos derivados pelo estilo de vida.

Assim, o estudo da doença crônica em Homeopatia introduz um novo conceito associado


a elas: a dos miasmas. Conceito muito polêmico em Homeopatia que Hahnemann
apresentou depois de 11 anos de estudos, em uma publicação em 1828, “Doenças
Crônicas – Sua natureza peculiar e sua cura”. Hahnemann percebeu que, a despeito de
uma escolha acertada dos medicamentos, algumas pessoas não conseguiam o completo
reequilíbrio. No parágrafo 78 do Organon, Hahnemann (2013) relatou casos de pessoas
que continuavam a piorar indefinidamente. Então propôs que a doença tinha um
antecedente comum que impediria a cura, salvo ela fosse retirada. E a essa condição
denominou de miasma.

30
ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

Como entendimento complexo, gerou múltiplas interpretações nos seguidores e


sucessores de Hahnemann. Miasma, como conceito histórico do tempo de Hahnemann,
era toda doença sabidamente contagiosa. Sem ter ainda o conhecimento dos
microrganimos, acreditava-se que o ar carregasse essa condição maléfica. Os pântanos
eram vistos com ambientes altamente insalubres por estar carregados de miasmas.
Porém, Hahnemann ampliou o conceito para obstáculo à cura e que poderia ter surgido
de uma contaminação prévia de algum agente infeccioso, ainda que essa não mais se
expressasse (CAMPOS, 1995).

Para a Homeopatia, como miasma inicial, gerador de todas as doenças teríamos a Psora.
A Psora, na teoria homeopática, é um obstáculo à cura derivada de alterações no Princípio
Vital causadas por uma infecção no próprio indivíduo ou nos seus antepassados. Na
evolução das ideias homeopáticas, a escola francesa considera o miasma como somente
a predisposição genética, passando para a denominação de diátese (MERIADEC, 1985).

Em um outro extremo, e bastante criticado, temos a ideia de um homeopata argentino,


Masi Elizalde (2004). Para ele, o miasma tem origem no Pecado Original e passa a dar
uma visão religiosa à Homeopatia. Como relatado mais acima, o conceito de doença
crônica é complexo até mesmo para os homeopatas mais experientes.

Hahnemann (2013) expressa a ideia da psora em vários momentos do Organon. No


parágrafo 73, a Psora pode ser responsável por alguns sintomas,

como uma “explosão passageira” do seu estado latente. No parágrafo 80 afirma ser
“[...] a Psora, a única causa fundamental real, produtora de todas as demais numerosas
outras, direi mesmo incontáveis, formas de moléstia [...]”. Mas no parágrafo 82
considera a possibilidade de existir medicamentos específicos que liberem o obstáculo
à cura causado pelos miasmas, mais especificamente pela Psora.

Retomaremos essa discussão no módulo da Teoria Geral da Homeopatia.

Para a Homeopatia, o conceito de doença aguda ou crônica é particular e


diferenciada e estabelecerá o plano de prescrição.

A despeito da proposta de Hahnemann para a escolha dos medicamentos ser


bastante restritiva, o seu uso tem se difundido em uma perspectiva mais prática,
na pecuária, agricultura e até com efeitos mais objetivos em humanos.

A Homeopatia tem várias escolas que buscam entendimentos diferentes sobre


a sua prática.

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UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

As ideias de Hahnemann precisam ser entendidas no contexto histórico e não


permite dogmatismo, principalmente se considerarmos que ele sempre esteve
a frente do seu tempo e, portanto, muito afeito a mudanças.

Provas homeopáticas
A maioria dos experimentos com drogas conduzidos por pesquisadores médicos
ortodoxos é realizada em pessoas doentes, em animais ou em laboratórios. Em
sua contribuição radicalmente inovadora para a ciência médica, Hahneman foi o
primeiro a recomendar a administração de drogas medicinais às pessoas saudáveis
para avaliar suas características fisiológicas. Essas experiências, chamadas “provas”,
constituem-se da administração diária à pessoa de pequenas doses da substância pura
até trazer à tona os sintomas. A dose usada é extremamente pequena e é escolhida de
acordo com as especificações das propriedades tóxicas do medicamento potencial. São
feitas observações cuidadosas e registros dos sintomas que ocorrem. Cada substância
cria uma variedade de sintomas físicos, emocionais e mentais peculiares à referida
substância.

De início Hahnemann usou em suas provas principalmente ervas e metais pesados como
o mercúrio e o arsênio, que eram as drogas empregadas pelos médicos ortodoxos da
época. Depois ele testou várias usadas na medicina tradicional europeia, e desde então
outros homeopatas têm “provado” medicamentos à base de ervas de muitas regiões,
além de muitas outras substâncias derivadas de minerais e animais.

As provas homeopáticas fornecem a base experimental para a compreensão dos sintomas


que uma substância produz e assim, de acordo com a lei de similitude, o que pode curar.
As provas permitem ao médico individualizar a escolha de um medicamento e acordo
com a totalidade dos sintomas do paciente.

Os registros dos sintomas produzidos durante as provas são compilados detalhadamente


em livros de referência conhecidos como matéria médica. A matéria médica relaciona os
medicamentos usados na Homeopatia e descreve em detalhes os sintomas psicológicos
e físicos específicos de cada medicamento. Os repertórios catalogam milhares de
sintomas e são índices para a informação encontrada na matéria médica. Abaixo de
cada sintoma listado encontram-se todos os medicamentos homeopáticos pertinentes,
os medicamentos capazes de causar os sintomas que, portanto podem ser indicados no
tratamento de uma pessoa com aquele sintoma.

Matéria médica é uma expressão latina que significa matérias primas dos
medicamentos.

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ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

Embora a maior parte das provas tenham sido feitas no séc. 19 e início do séc.
20, o Instituto Americano da Homeopatia iniciou um programa para refazer as
provas dos medicamentos nos anos de 1940. Esse trabalho terminou quando
o instituto descobriu que os medicamentos causavam os mesmos sintomas
relacionados anteriormente. Os livros de referência homeopáticos são tão
valiosos hoje quanto eram quando foram inicialmente publicados. No entanto,
diversos pesquisadores têm conduzido provas atualmente para descobrir as
aplicações terapêuticas de medicamentos novos.

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CAPÍTULO 2
Repertorização

Organon, § 2: O ideal máximo da cura é o restabelecimento rápido, suave e


duradouro da saúde, ou remoção e aniquilamento da doença, em toda a sua
extensão, da maneira mais curta, mais segura e menos nociva, agindo por
princípios facilmente compreensíveis. (HAHNEMANN, 2013)

A repertorização é a seleção das queixas apresentadas pelo paciente e que sejam


significativas para a escolha do medicamento homeopático. Da totalidade dos sintomas
homeopáticos elencados é necessário se fazer uma hierarquização para se proceder
a escolha do melhor medicamento, aquele que representa a totalidade sintomática
segundo Hahnemann. A partir dos medicamentos elencados, a escolha recairá sobre
aquele que seja mais significativo para o quadro apresentado. Como veremos adiante,
a escolha será por aquele que apresentar o maior número de sintomas coincidentes
com a patogenesia ou por aquele que apresentar um sintoma bem diferenciado ou
característico de um medicamento homeopático.

Como já discutido diversas vezes ao longo desse módulo, não existe medicamento
homeopático específico para uma doença. Isso significa que não há um anti-hipertensivo,
analgésico ou antiácido. A partir da descrição dos sintomas vivenciados pelo paciente,
os medicamentos serão escolhidos a partir dos sintomas expostos pelo sujeito. Quanto
mais sintomas envolvidos, mais evidente à escolha do medicamento.

Dependendo de como os sintomas foram considerados, o medicamento terá uma


finalidade terapêutica. Uma divisão é histórica na Homeopatia e ocorre desde os tempos
de Hahnemann (DEMARQUE, 1985). No desenvolvimento da Homeopatia, alguns
homeopatas passaram a considerar três categorias de medicamentos homeopáticos:
o similimum (ou de fundo), o sintomático (ou funcional) e o orgânico (ou depurador)
(KOSSAK-ROMANACH, 2003).

O medicamento similimum é o prescrito na conformidade dos preceitos de Hahnemann,


buscando a totalidade sintomática. Os medicamentos sintomáticos são aqueles que
visam resolver os sintomas mais evidentes e que trazem mais desconforto ao paciente.
E a terceira classe de medicamentos pretende atender ao conceito homeopático de
exoneração, que será discutido no módulo da Teoria Geral da Homeopatia.

Os medicamentos sintomáticos são aqueles que tem ação significativa sobre um


determinado sistema. Vamos a um exemplo. Nas matérias médicas dos medicamentos

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ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

Kalium bichromicum, Gelsemium e Hydrastis canadensis é possível encontrar uma


complementação de efeitos.

Ao se estudar os sintomas de cada um desses medicamentos é possível notar que o


quadro de eliminação das secreções nasais apresentam-se com aparências e contextos
diferentes. Secreção espessa, de difícil eliminação e com sensação de pressão no nariz
(Kalium bichromicum). Coriza com dores de cabeça e extremo mal estar (Gelsemium).
Secreção espessa e muito aderente por detrás do nariz. Dor frontal na cabeça (Hydrastis
canadensis).

O uso desses complexos facilita a escolha dos medicamentos, sem precisar fazer uma
anamense aprofundada. No caso acima, a associação dos três medicamentos poderia
ser indicado, por exemplo, para um quadro genérico de sinusite.

Esse mesmo raciocínio poderá ser aplicado para cada uma das patologias. Mais um
exemplo. Cantharis vesicatoria tem forte ação no sistema urinário. A patogenesia
apresenta a necessidade constante de urinar, que pode se apresentar com sangue. Em
Thuya occidentalis, temos a sensação de que a urina continua a escorrer após a micção.
A perda de controle da micção, que se apresenta inesperadamente e com urgência. A
associação dos dois medicamentos pode ser indicada para cistite sem a examinação
profunda do quadro individual.

Desse modo, os complexos são compostos para as mais variadas condições do


desequilíbrio orgânico, sem que a modalização ou a análise das características
individuais sejam realizadas. É nesse conceito que os complexos homeopáticos se
apoiam para escolher sua composição. Alguns laboratórios homeopáticos, nacionais
e estrangeiros, optaram por produzir complexos com vistas a atender a um grande
mercado. São elaborados com um conjunto de medicamentos que atuam de maneira
forte sobre um sistema específico, como respiratório, digestório ou outro qualquer.

O uso de medicamentos sintomáticos podem ser usados em complexos, quando


todos estão formulados em um único frasco ou formulados individualmente,
alternando-se sua administração. Respectivamente, são chamadas de práticas
complexistas ou alternistas.

O estudo dos repertórios, como os de Boerick, possibilita esse tipo de abordagem na


Homeopatia.

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UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

William Boerick, austríaco (1849 - 1929), emigrou para os Estados Unidos,


onde publicou, no ano de 1901, a Matière Médicale Homéopathique, obra de
referência, numerosas vezes reeditada, disponibilizada em inglês.

Disponível em: <http://www.homeoint.org/books/boericmm/index.htm>.

Essa é uma maneira de ver a homeopatia que não é coerente com os escritos de
Hahnemann, mas é uma prática corrente. No cotidiano das farmácias, percebe-se que
algumas pessoas não utilizam a Homeopatia na perspectiva pura hahnemanianna,
porém buscam medicamentos com finalidades específicas. Isso pode ocorrer tanto no
que se refere à automedicação quanto nas prescrições de alguns médicos.

Alguns livros também corroboraram para essa visão pragmática da Homeopatia.


Um autor foi muito importante na divulgação da visão sintomática da Homeopatia,
o do Nilo Cairo é um livro clássico. Escrito no início do século XX, apoiou e difundiu
a Homeopatia, com o objetivo de relacionar problemas concretos com indicações de
alternativas de medicamentos homeopáticos para aquele fim (SIGOLO, 2014)

A partir daqui, apresentaremos o processo de escolha dos medicamentos segundo


Hahnemann. Assim, está claro que para Hahnemann a escolha do medicamento deve
ser feita basendo-se nos critérios de similitude ampla (maior número de sintomas
coincidentes entre o quadro do doente e a patogenesia) ou em função de um sintoma
ser muito característico e pronunciado para aquele medicamento. Essa regra,
aparentemente simples é o grande diferencial entre todos os homeopatas.

Para que a escolha do medicamento seja a ideal é preciso explorar adequadamente os


sintomas apresentados pelo paciente. Por exemplo, cefaleia, indisposição, perda de
apetite são sintomas genéricos demais para se chegar a indicação de um medicamento.
Por isso, Hahnemann considerava que os sintomas descritos pelo doente deveriam ser
explorados o máximo possível quanto ao seu detalhamento. Isso significa entender como
a dor, por exemplo, se apresenta. Se ela é latejante, como em Belladonna, ou penetrante,
como em Apis mellifica, assim como pode ser intolerável, como em Aconitum napellus.

Além de sua forma, também é necessário saber a modalização. As dores características


de Belladonna melhoram quando em pé ou com a cabeça pressionada e pioram ao se
deitar. Em Apis mellifica, as dores também melhoram ao pressionar a cabeça ou em
ambientes abertos. Os sintomas em Aconitum também melhoram no ambiente aberto
e pioram em locais fechados.

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ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

Organon § 133: Ao experimentar qualquer sensação particular em virtude


do medicamento, é útil, e mesmo necessário, a fim de determinar o caráter
exato do sintoma, assumir diversas posições enquanto ela perdurar, e
observar se, movendo a parte afetada, caminhando pelo quarto ou ao ar livre,
levantando-se, sentando-se ou deitando-se, o sintoma aumenta, diminui ou
desaparece, e se retorna ao tomar outra vez a posição em que o primeiro se
observou; se é alterado ao comer, ou beber, ou ao fazer-se outra coisa, ou ao
falar, tossir, espirrar, ou mediante outra ação do organismo, bem como observar
a que hora do dia ou da noite ocorre geralmente, de forma mais aguda, pelo
que se tornará mais patente o que for mais peculiar e característico em cada
sintoma. (grifo nosso)

Esse detalhamento é fundamental para a melhor escolha do medicamento, como


ressaltamos, em negrito, as palavras de Hahnemann. Como processo prático podemos
considerar os sintomas para a decisão sobre o medicamento a ser escolhido na
classificação conforme apresentado na figura 1:

Figura 1. Classificação dos sintomas obtidos pela anamnese.


Sintomas mentais
do doente gerais
locais
Objetivos

mentais e
Patognomônicos gerais
Sintomas locais
da subjetivos
doença mentais
Comuns gerais
locais

Fonte: Kossak-Romanach (2003, p. 246)

Os sintomas do doente é como o indivíduo expressa o momento, em suas


particularidades. Os patognomônicos são os que caracterizam a doença em curso e
podem ser encontrados em diversos indivíduos com a mesma patologia. O sintoma
comum está presente em várias doenças, como febre ou dor. Quando falamos em
totalidade sintomática, significa buscar em uma matéria médica, uma descrição a
mais totalizadora possível. Alguns homeopatas consideram que isso nem sempre
é possível. Então se buscaria aquilo que seja mais individualizador, mesmo que não
tenha tantos sintomas em concordância e Hahnemann dava muito valor ao sintoma
mais característico.

Mas afinal, como os sintomas são apresentados? Vamos estudar a Matéria Médica de
Stramonium (Datura stramonium, Figueira do Inferno ou Trombeteira) elaborada pelo

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UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

próprio Hahnemann (IHJTK, 1995). A patogenesia foi apresentada com os seguintes


tópicos, nessa ordem: a) descrição da planta; b) o efeito medicamentoso e toxicológico; c)
relação dos experimentadores e de livros consultados apresentados como “autoridades
da escola antiga”; d) e os sintomas (546 na primeira edição e 569 na segunda).

Na descrição dos sintomas, estes foram divididos em categorias, a saber: Mind,


Sleep/dreams, Generalities e Sexual. As categorias estavam apresentadas em inglês
na fonte consultada e em tradução livre representam os sintomas da mente, sono/
sonhos, generalidades e é uma característica forte em Stramonium é o delírio e que
foi apresentada por diversos experimentadores homeopatas e relatos bibliográficos
de intoxicação. Na patogenesia do Stramonium feita por Hahnemann, o delírio é
apresentado assim (IHJTK, 1995, p. 9):

518 Ele fala com alguém que não reconhece respondendo como se
estivesse em um estado racional, mas não consegue lembrar da conversa
quando volta a si. [CP H A Costa, in SCHENK, lib. 7, obs. 139.]

519 Ele fala com pessoas ausentes como se estivessem presentes, e


dirige-se a objetos inanimados (por exemplo, as peças de um jogo de
xadrez), chamando-as pelos nomes destas pessoas, mas não os percebe
à sua volta. [Fz]

Os números (518 e 519) indicam o verbete do sintoma na patogenesia. Os escritos dentro


dos colchetes são a fonte bibliográfica consultada (presente no relato 518 - primeiro
sintoma) ou a indicação do experimentador que relata esse sintoma (no caso do
sintoma 518). Na consolidação de sua Matéria Médica, Hahnemann buscava conciliar
o seus experimentos com dados de literatura disponíveis à época. Do mesmo modo,
Allen e Clarke fizeram a experimentação do Stramonium e a apresentaram de forma
tão ou mais extensa quanto a de Hahnemann. Isso significa que um único medicamento
exige a leitura atenta e a memorização de muitas páginas referentes a todas as Matérias
Médicas diferentes que estudaram uma dada substância, o Stramonium em questão.

Ter a obrigação de memorizar todas essas informações tornaria a Homeopatia inviável


como prática terapêutica corriqueira, algo impossível e que foi percebido pelo próprio
Hahnemann. Tão logo ele percebeu o volume de informações que eram coletadas a cada
experimentação ou da leitura de livros sobre uma determinada substância, Hahnemann
iniciou a catalogação dos sintomas em “palavras-chave” ou rubricas como são conhecidas
no jargão homeopático. Além de catalogá-las, Hahnemann dava um valor a cada sintoma
registrado, valorizando de forma relativa sua importância e especificidade. Com isso,
os sintomas passaram a ser hierarquizados e facilitaram a escolha do medicamento
ideal (MARIM, 1996). Outra forma de condensação de informações foi que alguns

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ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

autores passaram a compilar o conjunto de matérias médicas provenientes de estudos


anteriores realizados pelos homeopatas mais antigos.

No processo de hierarquização, os sintomas deixaram de ser apresentados de forma


cursiva, como uma redação, e se tornaram palavras que passaram a designar um sentido
mais amplo. Além disso, cada sintoma também foi classificado em relação ao seu grau
de importância e de significância considerando-se cada medicamento. Essa forma de
apresentação, em palavras mais objetivas e tendo os medicamentos comparados entre
si, permitiu o uso mais corriqueiro e fácil da Homeopatia. Essa compilação de sintomas,
contendo a graduação de sua importância, é chamada de Repertório Homeopático.

Existem vários deles, inclusive traduzidos e escritos em português. A tradução é bastante


importante porque precisa relacionar de forma clara o sintoma a cada medicamento.
Como as Matérias Médicas foram redigidas em alemão, francês e inglês típicos do século
XIX e início do século XX, a conotação da palavra de cada sintoma pode ter um sentido
diversificado do que é entendido nos dias de hoje.

Nos Repertórios, os sintomas são apresentados em forma de rubricas. Kent apresentou,


em um importante repertório, os sintomas consolidados em 37 capítulos nos quais as
rubricas são classificadas. Alguns exemplos de capítulos do Repertório de Kent: mental,
vertigem, cabeça, dentes, genitais, sono, extremidades e generalidades entre outros.

Os medicamentos foram grafados em negrito, em itálico e em registro simples


demonstrando, nessa sequência, como esse sintoma é ou não característico para cada
medicamento. O Saiba Mais, a seguir, é um exemplo aleatório do Repertório de Kent,
apresentado o sintoma Hidrofobia

HIDROFOBIA (Brillantes – superfície / Excitación – agua / ilusiones – agua –


cucharada): act-ac acon aconin agar agav-a anan ant-c anthraci apis arg-n ars
Aspar Bell brom calc camph cann-i Canth cedr ceto chlol cocc-s crot Cupr Cur
euph-l fagu gels gente-c gua Hydr-ac Hyos hyper iod jatr-c Lach laur lys Lyss
merc nux-v phel Phos plb ran-s ruta Sabad scut spirae Stram stry strych-g sulph
tann-ac tarent ter trach veratr (non: xan) DOMINGUES, 2018

Ribeiro Filho (1996, p. 33) elaborou um Repertorio em português e adicionou a


modalização do sintoma, com o respectivo medicamento de forma hierarquizada.
À cada rubrica, seguem as sub-rubricas dando detalhes como a lateralidade;
horário e duração; modalizações de agravação e de melhora; estendendo-se para
(principalmente para os casos de dor); regiões e tipos; e sensações. E cada rubrica
recebe um tipo de notação que dá o grau de importância para aquele medicamento,
conforme apresenta-se no exemplo a seguir.

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UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

DELÍRIO: Absin., [...], acon.,Ars., [...], Stram.[...]

▲ dia e noite: Op., stram.

▲ manhã: Ambr., bry

● alvorecer, no: Bry, con.

● despertar, ao: Ambr., dulc., [...]

Como podemos notar, os medicamentos são apresentados abreviados, pois o Repertório


citado inclui 1611 medicamentos diferentes. Obviamente, há uma lista de abreviações
que identifica cada medicamento, ainda que, pela prática, o profissional seja capaz de
identificar os medicamentos mais comuns, mesmo que grafado na forma abreviada.

A rubrica “Delírio”, exemplo dado para comparar com o que foi apresentado acima
com a Matéria Médica de Hahnemann, foi retirada do capítulo denominado “Mental”.
Todos os sintomas, em todos os 42 capítulos (cinco a mais do que os encontrado no
Repertório de Kent), seguirão a mesma lógica.

No exemplo estudado, Ars. (Arsenicum album), Stram. (Stramonium) e Bry


(Bryonia alba) tem o delírio como sintoma importante, por isso são apresentados em
maiúsculo e em negrito. Já em relação aos demais medicamentos, o sintoma representa
menor importância, e por isso estão grafados em fonte romana (em pé) e em itálico
(em oblíquo), respectivamente em termos de importância, perdendo um grau para o
sintoma. Ribeiro Filho (1996) relaciona um total de 218 medicamentos que, de algum
modo, estão vinculados ao sintoma delírio.

Já os símbolos ▲ e ● são modulações do sintoma. No exemplo dado, Bryonia seria um


medicamento a ser considerado de forma mais significativa das dos demais 218 se o
delírio acontecer pela manhã e mais especificamente ao alvorecer, que são modalizações
exclusivas para o sintoma. Na medida em que os sintomas são apresentados na consulta,
há de se dar espaço para o paciente apresentar esse grau de detalhamento.

Logo na sequência, são apresentados todos os medicamentos que estão envolvidos


coma rubrica “delírio”. No caso, 218 medicamentos são listados para essa rubrica, ou
seja, todos eles apresentam alguma relação.

Repertório em inglês de Willian Boerick.

Disponível em: <http://www.homeoint.org/books4/boerirep/index.htm>.

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ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

Mas nem todos os sintomas falados na consulta são importantes. Por exemplo, se uma
pessoa que está com febre diz ter sede, essa característica está mais próxima de um
sintoma da doença (patognomônico) e portanto, sem nenhuma particularidade. De um
modo geral, a febre sempre irá trazer a condição de sede. Mesmo os sintomas mentais
precisam ser analisados com cuidado.

Rosenbaum e Priven (2004) discutem a falta de concordância sobre o que seja um


sintoma importante. Os autores também comentam o papel que James Tyler Kent
teve para a Homeopatia. Seus escritos são muito influentes na produção e conduta dos
homeopatas, sendo posterior à Hahnemann. Esse médico homeopata agregou uma série
de valores e posturas para a Homeopatia. Um desses aspectos é a extrema valorização
dos sintomas mentais sobre os demais.

No Brasil, o Instituto James Tyler Kent tem procurado divulgar a obra desse
homeopata. Ainda que esse grupo dê muita importância ao aspecto teosófico
na Homeopatia, mantem em seu portal muitas publicações disponibilizadas
gratuitamente.

Publicações

Disponível em: <http://www.ihjtkent.org.br/publicacoes.html>.

Fichas Síntese dos medicamentos.

Disponível em: <http://www.ihjtkent.org.br/medicamentos.html>.

Artigo da Revista da Homeopatia.

Hierarquização de Sintomas para a Prescrição Homeopática Segundo Kent.

Disponível em: <http://revista.aph.org.br/index.php/aph/article/view/11/0>.

A partir dos escritos de Hahnemann, temos os estados de doença só podem ser


reconhecidos por aquilo que foi alterado no Princípio Vital e alterado na dinâmica
própria do organismo. Então, seriam esses os sintomas a serem identificados como
importantes para a sua solução. De outro modo, como ressaltam Rosenbaum e Priven
(2004), os sintomas mentais são elementos a serem “curados” pela Homeopatia? Ou
caracterizam o indivíduo? Assim, é preciso perseguir o que deve ser curado e não o
indivíduo na sua característica.

Muitos homeopatas, influenciados pelas ideias de Kent, buscam escolher os


medicamentos principalmente a partir dos sintomas mentais apresentados.

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UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

E Rosenbaum e Priven (2004) continuam, até quando um sintoma mental pode ser
considerado patológico e significativo de mudança terapêutica.

A condução da consulta homeopática terá de permitir que o paciente expresse livremente


suas próprias percepções daquilo que o aflige. Com o conjunto de sintomas apresentados
é preciso fazer a escolha dos sintomas apresentados para a definição do medicamento.
É possível percorrer dois percursos: a totalidade dos sintomas ou a opção pelo sintoma
mais característico.

A crítica que se pode fazer pela opção da totalidade sintomática é a de que, em tese,
a consulta poderia ser feita em um computador, no qual um programa apresentasse
um cardápio de sintomas que seriam escolhidos, pontuados e, ao final, sairia à lista de
medicamentos envolvidos de forma ranqueada.

Essa estratégia deixaria de lado um medicamento pouco pontuado, mas que apresentasse
um sintoma raro, bastante característico de um medicamento. Diferentemente daquele
apontado pela totalidade sintomática também poderá apresentar falha no tratamento. A
ponderação entre esses dois recursos é fundamental para a escolha dos medicamentos.

Nassif (1995) avalia que o ideal é se buscar a “síndrome mínima de valor máximo”, ou
seja, busca-se os sintomas mais peculiares, porém não necessariamente os mais raros.
Ao mesmo tempo, procura-se o “máximo da totalidade” possível. Ressalta que sintomas
patognomônicos (característicos da doença e não do indivíduo), aparentemente sem
importância devido ao seu caráter geral, podem apresentar valor quando a modalização
é específica. Lembrando que a modalização se dá pela caracterização do horário mais
significativo para o sintoma, de forma surge melhora ou piora (se com repouso ou pelo
esforço) e outras detalhes possíveis.

Nassif (1995, pp. 464-5) mostra a necessidade do detalhe e do conhecimento da Matéria


Médica:

[Indivíduos que apresentem sintomas de] Secale e Arsenicum


[medicamentos homeopáticos] são friorentos, mas enquanto Secale
quer tirar a roupa da cama e necessita de ar frio, Arsenicum necessita
de tudo quente. E, no entanto, ambos têm sintomas em comum, como a
inquietude, abdome distendido, vômitos de sangue, sede inextinguível,
língua seca e vermelha e pulso rápido.

Caro aluno, perceba como a escolha do medicamento é complexa. A caracterização


do medicamento ideal poderá seguir percursos diferentes, dependentes do estilo e do
que o prescritor irá valorizar. Uma boa anamnese também será importante para ações
preconizadas por Hahnemann (2013), que no parágrafo 7o do Organon, estabelece
a premência de se retirar a causa de um possível distúrbio, como um alergêno ou

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ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

objeto inserido que promova a inflamação. Assim, é fundamental alimentar-se bem,


manter-se higienizado, descansar etc. A Homeopatia, ou nenhuma outra terapêutica,
substituirá essas práticas. Não havendo uma causa evidente, considerar-se-á que os
sinais e sintomas surgiram pelo desequilíbrio do princípio vital e, portanto, a totalidade
sintomática indicará a escolha do medicamento pela comparação com a patogenesia,
seguindo-se o princípio da semelhança.

Além disso, é possível haver mudanças de humor e de disposição ao longo do dia ou


devido a certos acontecimentos. Estar triste, por exemplo, no momento da consulta
não estabelece a tristeza como sintoma constituinte. Essas mudanças, portanto,
não caracterizam o sintoma em si. Por isso, é preciso de bastante discernimento na
escolha do medicamento. Dabbah (1990) é bastante enfática ao afirmar que, raramente
se prescreve o similimum, pois essa totalidade sintomática é difícil de acontecer.
É importante reafirmar que, sintomas derivados do caráter da pessoa não são condições
a serem tratadas, como o orgulho, docilidade, avareza, meticulosidade, sociabilidade,
entre outros.

No momento, vamos estudar o exemplo apresentado por Dias (2017), que discorre
sobre o processo de repertorização em um caso de clínico. No caso, a monografia
apresenta um quadro de controle de uma doença aguda, a Chikungunya. É interessante
notar que o medicamento escolhido, a partir da repertorização, é a Belladonna, da qual
trataremos em uma perspectiva apenas sintomática no próximo capítulo, mostrando as
possibilidades de uso do medicamento homeopático.

A autora selecionou cinco sintomas mais importantes a partir do relato do paciente.


Um dos sintomas é considerado como diretor, ou seja, é aquele que é o principal de um
caso, mais característico.

1. Desperta com e por calor febril (Sint.diretor).

2. Olho conjuntiva injetado.

3. Transpiração com calor febril.

4. Dor pontada joelho.

5. Febre com sensação de frio.

O sintoma diretor define a escolha, uma vez que ele terá de ser considerado na
repertorização. Não foram considerados medicamentos que apresentaram os demais
sintomas, mas não o sintoma diretor. Com isso, evita-se apenas a somatória de sintomas o
que poderia acarretar na escolha apenas de policrestos (medicamentos que apresentam

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UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

sintomas bem abrangentes e que estão presentes em muitos medicamentos) (KOSSAK-


ROMANACH, 2013).

A importância do sintoma diretor se deu em função da anamnese do quadro agudo


apresentado pelo paciente, ou seja, era a grande queixa a ser controlada. É preciso
sensibilidade para escolher o elemento alterado na dinâmica do indivíduo que mais
caracterize a situação. No caso estudado abaixo, trata-se de uma doença de caráter agudo.
Com isso, a sintomatologia é vinculada ao gênio epidêmico da doença chikungunya.
Tivesse sido um exemplo de doença crônica, segundo a Homeopatia, a coleta dos
sintomas teria sido diferente.

Trinta e oito medicamentos incluiam o sintoma diretor e, pelo menos, mais um dos
cinco sintomas considerados pela autora e são apresentados na Tabela 1, a seguir. Sete
medicamentos que, segundo o Repertório de Ribeiro Filho (1996), cobriam todos os
cinco sintomas. Cada sintoma foi pontuado considerando-se sua relevância na Matéria
Médica, sintetizada no Repertório de um a três, para cada medicamento, levando-se em
conta a hierarquização apresentada acima. Quando o medicamento estava escrito em
negrito, o sintoma pontuava três pontos; em itálico, dois; e em tipo normal, um ponto.
Reveja o exemplo no Saiba Mais sobre Hidrofobia.

A partir daí soma-se a pontuação de cada medicamento, totalizam-se os pontos e


classificam-se os medicamentos, Conforme apresentado na Tabela 1.

Dos sete medicamentos que totalizaram os sintomas, Belladonna (11 pontos),


Phosphorus (10 pontos) e Sulfur (11 pontos) foram os que mais pontuaram. O clínico,
nesse momento pode optar pela leitura da Matéria Médica para chegar a uma conclusão
melhor, mas a autora (DIAS, 2017) ainda considerou uma pontuação extra (três pontos)
para um sintoma raro apresentado pelo paciente e que aparece exclusivamente na
Matéria Médica de Belladonna, “dor rasgante em amígdalas ao engolir”. Dessa forma,
escolheu-se o medicamento, considerando-se a pontuação máxima, o sintoma raro e o
sintoma diretor. Essa estratégia é denominada de “síndrome mínima de valor máximo”

Com isso, o medicamento escolhido foi a Belldonna. Ainda falta decidir por qual
dinamização e frequência. Para isso é preciso experiência.

44
ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

Tabela 1. Repertorização dos sintomas apresentados.

MED/sint 1 2 3 4 5 Cobertura Pontos


Allum 1 X 3 3 X 3 7
Anac 1 X 1 1 2 4 5
Ars 1 1 X 1 2 4 5
Bar-c 3 X X 2 X 2 5
Bell 2 2 2 3 2 5 11
Benz-ac 2 X X X X 1 2
Bor 1 X 1 X 1 3 3
Calc 1 2 2 2 3 5 8
Calc v 1 X 1 X 1 3 3
Caust 1 X 1 X 1 3 3
Chin-s 1 2 X X X 2 3
Choc 1 X 1 X X 2 2
Cina 1 X 1 1 X 3 3
Ferr 1 2 2 X X 3 5
Graph 1 2 X 1 X 3 4
Kali-bi 2 2 1 X 3 4 8
Kali-c 1 1 X 3 2 4 7
Kali-n 1 X 1 1 X 3 3
Mag-c 2 X 1 1 X 3 4
Mag-m 1 X 1 1 X 3 4
M-aret 2 X X X X 1 2
Mosch 1 X X X X 1 2
Nat-m 1 3 1 2 1 5 8
Nicc 1 X X X X 1 1
Petr 1 X X 2 X 2 3
Ph-ac 1 X 1 X X 2 2
Phos 3 1 3 2 1 5 10
Puls 1 X 3 2 3 4 9
Ran-s 1 X X X X 1 1
Sabad 1 X 2 1 X 3 4
Sep 1 1 2 2 2 5 8
SIL 1 2 X 2 1 4 4
Sulf-ac 1 X 3 1 X 3 5
Teucr 1 X X X 1 1
Thuj 1 1 1 2 3 5 8

Fonte. DIAS, 2017.

Caso queira, analise o caso por completo, apresentado pela autora, acesse o link
disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=CURA+DA+CHIKUNGUNY
A+PELA+HOMEOPATIA%3A+RELATO+DE+CASO&oq=CURA+DA+CHIKUNGU
NYA+PELA+HOMEOPATIA%3A+RELATO+DE+CASO&aqs=chrome..69i57.713j0j4-
&sourceid=chrome&ie=UTF-8>.

É sempre importante ressaltar que, a Homeopatia é uma terapêutica individualizada.


Wadhwani (2013), em um estudo realizado na Índia, tratou 126 pessoas diagnosticadas
45
UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

com chikungunya. Obteve a recuperação completa em 84,5% dos casos de FC em


um tempo médio de 6,8 dias. Depois de 32 dias, 90% dos casos estavam plenamente
curados. Foram escolhidos 20 medicamentos diferentes para o tratamento de todas as
pessoas.

O uso da Homepatia no tratamento de doenças crônicas, a partir de uma terapêutica


individualizada, apresenta resultados consistentes em diversos estudos. Teixeira
(2009), em tese de doutorado, analisou 41 pacientes crônicos com quadro de rinite
alérgica. Em uma abordagem homeopática individualizada, concluiu que foram
necessários 12 meses de uso do medicamento prescrito para que o quadro alérgico,
medido pela titulação de anticorpos e qualidade de vida analisado por questionário
validado, revertesse. Há de se considerar que os pacientes apresentavam anteriormente
com medicamentos alopáticos sem resolutividade.

O uso do medicamento homeopático em doenças crônicas não se atém aos problemas


somáticos. Bidane (2016) apresentado um estudo de caso em esquizofrenia concluiu
que o medicamento homeopático corretamente selecionado melhorou o transtorno
esquizotípico em várias perspectivas como a autoconfiança, os sintomas somáticos, o
estresse e a preocupação, a ansiedade e as alucinações.

O autor (BIDANE, 2016) elencou 12 sintomas para definir a escolha do medicamento.


Um referente à mente. O paciente relata tornou-se prostrado a partir do início dos
transtornos psicóticos. No repertório, capítulo MENTE, esse sintoma se apresenta
como mortificação por transtornos. Além disso, a pessoa relata diversas ilusões
(capítulo ILUSÕES do repertório), como a de ouvir vozes injuriosas, a de ter uma
doença incurável, de sofrer acusações, além de se sentir perseguido.

O indivíduo doente também fala em ter se tornado desconfiado de que as pessoas


estão falando sobre si e que esses pensamentos são persistentes. Esses sintomas
ecaixam-se no capítulo MENTE. Outros sintomas também foram considerados.
Do capítulo GENERALIDADES, o paciente relata aversão à peixe. E em PELE apresenta
um formigamento na pele com a sensação de vermes andando por debaixo e uma
intensa necessidade de coçar.

Feita a repertorização, Bidane (2016) encontrou 16 possíveis medicamentos e elegeu


Zincum metallicum pela totalidade sintomática, com nove pontos definidos. Outros
medicamentos apresentavam sintomas mais característicos, mas com menos pontuação.
É uma decisão do prescritor. Após 40 dias, houve um quadro de melhora na condição
mental e somática, porém passados seis meses houve uma recaída e posterior melhora
continuada. O desequilíbrio do Princípio Vital é dinâmico, necessitando controle
contínuo para evita recaídas.

46
ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

É necessário ouvir todas as queixas para elencar os sintomas mais importantes.

Os sintomas precisam ser modalizados para que possam adquirir sua real
importância.

A fonte de estudo original para a decisão terapêutica são as diversas Matérias


Médicas produzidas até hoje.

O uso de Repertórios se faz necessário para sistematizar a busca de informações


a respeito dos sintomas.

47
CAPÍTULO 3
A terapêutica sintomática

Até o momento, a Homeopatia foi apresentada aqui como predominantemente


unicista, com a busca do medicamento que atenda a totalidade sintomática. Isso porque
Hahnemann sempre defendeu a escolha de um único medicamento único que poderia
ser modificado na progressão do tratamento, caso não apresentasse sucesso.

Por outro lado, a Homeopatia tem uma prática mais pragmática bastante difundida.
Nessa condição, tem sido apresentada dentro do rol de terapias complementares,
proposta como política de saúde para atender em larga escala as necessidades sociais.
Nessa lógica, a OMS (2013) apresenta a importância da Homeopatia, assim como a
Anvisa elaborou a primeira edição do Formulário Homeopático da Farmacopeia
Brasileira. Nele são apresentados 84 medicamentos em uma única dinamização, com a
indicação organicista. A ideia é que esse rol de medicamentos seja padronizado como os
demais medicamentos alopáticos e que possa ser implantada no SUS.

Com isso, a despeito da defesa filosófica baseando-se em Hahnemann, sugere-se que a


Homeopatia, como política de saúde, seja aplicada em uma perspectiva mais objetiva.
Que os usuários do SUS recebam a prescrição e o medicamento em uma mesma unidade
de saúde.

RESOLUÇÃO - RDC No 129, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2016.

Aprova o Formulário Homeopático da Farmacopeia Brasileira e dá outras


providências.

Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/3653739/For


m+atual+data+de+publica%C3%A7%C3%A3o/10ab986a-0ad8-4743-8a5b-
a3aa6fd8b567>.

Assim, passamos a abordar o uso sintomático dos medicamentos homeopáticos. Para


exemplificar, apresentaremos a febre, pois é uma demanda muito comum para o uso de
medicamentos homeopáticos na perspectiva organicista.

O uso do medicamento homeopático não é ponderal, ou seja, não é quantitativo.


Percebe-se que no cotidiano, as prescrições variam de um glóbulo ou uma gota até dez
ou mais unidades. Como posologia mais comum para os medicamentos homeopáticos,
utiliza-se de cinco gotas ou cinco glóbulos, três tabletes ou um comprimido tomados em
intervalos que variam de hora em hora até uma vez ao dia. No Formulário Homeopático

48
ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

há a sugestão de quatro vezes ao dia, até a melhora dos sintomas, quando se deve espaçar
as tomadas (ANVISA, 2017).

Há um consenso não escrito de que as doses baixas (até 6 CH) são para os casos em
que a similitude não está completa, enquanto que as altas devem ser usadas para o
Similimum. Hahnemann considerava 30 CH uma dose alta e nunca prescreveu além
disso. Porém Kent e seus seguidores trabalham com dinamizações muito mais altas
(KOSSAK-ROMANACH, 2003).

Como será visto no módulo de Farmacotécnica, as altas diluições podem ser preparadas
por métodos distintos como o de Fluxo Contínuo ou mesmo Korsackov.

Hahnemann (2013, p. 163), no parágrafo 270, sem especificar a dinamização fala que
“nas febres agudas, as pequenas doses dos graus menos dinamizados destes preparados
muito mais aperfeiçoados, mesmo os de medicamentos de longo efeito medicamentoso
(por exemplo, a Belladonna), podem ser repetidas em breves intervalos”. Na prática,
percebe-se que muitas prescrições para casos agudos se dão de forma muito intensa,
com repetições a cada cinco ou dez minutos.

Pensando-se em indicação sintomática, a busca de medicamentos para a febre no


Formulário Homeopático encontramos as seguintes sugestões: Aconitum napellus 6
CH, Allium sativum 6 CH, Belladonna 6 CH, Eupatorium perfoliatum 5 CH e Ferrum
phosphoricum 6 CH.

Dessa lista, Aconitum napellus e Belladonna são considerados medicamentos


policrestos, da lista original de Hahnemann. Medicamentos policretos são os de
uso comum, com um quadro encontrados em diversas patologias, como a febre
(KOSSAK-ROMANACH, 2003). Eupatorium e Ferrum phosphoricum são
semipolicrestos que apresentam uma patogenesia comum a muitas doenças, porém
menos do que os policrestos em si. Em vista disso, esses medicamentos são muito
usados na prática homeopática organicista.

Guía ilustrada de la biotipología delos principales policrestoshomeopáticos.

Universidad Nacional de Colombia. Facultad de Medicina, Maestría en


Medicina Alternativa – disponível em: <http://www.bdigital.unal.edu.
co/5162/1/598644.2011.pdf>.

Outro aspecto que chama atenção é a de que Belladonna e Aconitum napellus são
medicamentos associados a quadros agudos, pela características de suas patogenesias.
Como podemos ver o que apresenta a Belladonna 6 CH, que recebe a seguinte indicação
no Formulário Homeopático (ANVISA, 2017, p. 36):
49
UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

febre alta e de instalação rápida (rosto vermelho, secura das mucosas,


calor radiante, transpiração intensa); processos inflamatórios com
congestão local (tumor, rubor, calor, dor). Dores pulsáteis. Melhora pelo
repouso. Piora pela luz intensa, pelo ruído, pelo toque e sobressaltos,
pelo ar frio, pelo calor na cabeça.

Se compararmos essa indicação com o que está descrito na Matéria Médica de Boerick
(1999) perceberemos que a indicação está restrita apenas ao processo inflamatório.
Foram deixadas de lado as características mais amplas como efeito na mente, estômago
ou urina. Isso significa que a semelhança não foi plena. Na prática médica e farmacêutica
esse uso restrito apresenta resultados satisfatórios que tem estimulado a difusão da
Homeopatia e das farmácias.

A patogenesia da Belladonna é conseguida a partir da administração de Atropa


belladona. Segundo a Farmacopeia Brasileira (ANVISA, 2010, p. 679), é uma planta
que “[...] apresentar no mínimo 0,3% de alcaloides totais, expressos em hiosciamina
[...] acompanhada de pequenas quantidades de escopolamina.”

Para o Aconitum napellus 6 CH, as indicações propostas pelo Formulário Homeopático


(ANVISA, 2017, p. 21):

dor aguda intensa nos ouvidos de aparecimento repentino, com


tímpano vermelho; febre alta; agitação. Essas manifestações geralmente
ocasionadas pelo frio intenso e brusco e com início ou agravamento à
noite.

Se compararmos os dois medicamentos, Belladonna e Aconitum napellus, a febre


está presente contextos diferentes. Enquanto a característica de Belladonna é a dor
pulsátil e as características da face (rosto vermelho, secura das mucosas, calor radiante,
transpiração intensa). Em Aconitum napellus, a sensibilidade ao frio e a agitação estão
presentes. Ainda que não seja a totalidade sintomática de Hahnemann, mesmo os
medicamentos sintomáticos precisam ser diferenciados entre si.

Obviamente, o estudo mais profundo sempre é interessante. Vamos comparar a rubrica


febre, segundo a Matéria Médica de Boerick (1999).

Aconitum Napellus:

Cold stage most marked. Cold sweat and icy coldness of face. Coldness
and heat alternate. Evening chilliness soon after going to bed. Cold
waves pass through him. Thirst and restlessness always present. Chilly
if uncovered or touched. Dry heat, red face. Most valuable febrifuge

50
ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

with mental anguish, restlessness etc. Sweat drenching, on parts lain


on; relieving all symptoms.

Belladonna:

“A high feverish state with comparative absence of toxæmia. Burning,


pungent, steaming, heat. Feet icy cold. Superficial blood-vessels,
distended. Perspiration dry only on head. No thirst with fever”.

A febre nesta Matéria Médica é apresentada de forma mais rica. Em Aconitum napellus,
a febre apresenta-se em pele fria, enquanto o indivíduo com quadro característico de
Belladonna se apresenta de forma mais quente. Aconitum napellus tem salvas de calor
e de frio. E Belladonna não apresenta sede durante a febre.

Hahnemann (2013, p. 56) fez a comparação entre esses dois medicamentos considerando
o gênio epidêmico em duas epidemias, purpura e febre escarlate.

Depois do ano de 1801, uma “purpura miliaris” proveniente do Ocidente,


foi confundida pelos médicos com a febre escarlate, não obstante aquela
apresentar sintomas inteiramente diferentes desta, havendo encontrado
seu remédio curativo e profilático na Belladonna, ao passo que esta o
encontrou no Aconitum, sendo a última, geralmente, apenas esporádica,
e a primeira sempre apenas epidêmica. Ultimamente parece que as
duas uniam-se ocasionalmente formando uma febre eruptiva de tipo
peculiar, para a qual nenhum dos dois remédios citados, empregados
separadamente, será considerado exatamente homeopático.

Purpura miliaris.

Disponível em: <https://medlineplus.gov/ency/article/003232.htm>.

Disponível em:

<https://books.google.com.br/books?id=9-
F X A A A A M A A J & l p g = PA 2 7 8 & o t s = X M d A Q R X c R U & d q = p u r p u r a % 2 0
miliaris&hl=pt-BR&pg=PA278#v=onepage&q=purpura%20miliaris&f=false>.

Febre escarlate (escarlatina)

Disponível em: <https://g.co/kgs/X8Zv2A>.

Hahnemann, nesse trecho do Organon chama a atenção para dois elementos: a) há


de se ter o olhar atento para possibilitar a melhor escolha do medicamento; b) havia
certa concordância de Hahnemann em tratar os sintomas genéricos, como os derivados
51
UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

de doenças infecciosas. Com isso, justifica-se, em parte, a terapêutica homeopática


organicista. Mas é necessário entender os limites desse tipo de atuação. Não cabe às
doenças crônicas.

Outro medicamento indicado pelo Formulário é o Allium sativum, assim expresso


(ANVISA, 2017, p. 25): “sintomas das gripes e resfriados com ou sem febre. Coriza com
tosse seca ou produtiva. Dores articulares e musculares relacionadas ao resfriado.”

Nesse caso, a febre é apenas subsidiária para a escolha do medicamento. O quadro mais
característico é a coriza e dores vinculadas. Do mesmo modo, a febre apresenta-se como
coadjuvante em Ferrum phosphoricum (ANVISA, 2017, p. 59): “inflamação do sistema
respiratório de aparecimento progressivo e febre moderada; auxiliar no tratamento de
rinofaringites, otites e bronquites com secreções”.

Em Eupatorium perforiatum (ANVISA, 2017, p. 57), a dor é o sintoma predominante:


“febre acompanhada de sensação de dores nos ossos do tipo quebradura, prostração
generalizada, náuseas, cefaleia e/ou dores nos globos oculares como nas síndromes
gripais e de dengue”. Esse medicamento faz parte de um complexo bastante usado
considerando-se o gênio epidêmico da dengue.

Em maio de 2001, foi aplicado uma dose do medicamento Eupatorium perfoliatum


30 CH a 40% dos moradores de uma das regiões do Estado de São Paulo mais afetadas
pelo vírus, àquela época. O resultado foi surpreendente, com uma redução significativa
em número de casos, quando comparado às cidades vizinhas (MARINO, 2008). Outra
pesquisa com uma fórmula contendo o Eupatorium foi realizada em Macaé e que
apresenta resultados interessantes (HOLANDINO, 2012)

Por outro lado, outra pesquisa realizada em Macaé, RJ, no qual optou-se pela totalidade
sintomatológica e a pesquisadora (NUNES, 2016) encontrou:

Os medicamentos que mais apareceram nas repertorizações de 2007


a 2012, em ordem decrescente, foram: Phos e Pusatilla nigricans nos
7 estudos; Ars, Bry e Rhus toxicondendron em 6 estudos; Aconitum
napellus, Belladona e Nat-M em 5 estudos. Todos os medicamentos
citados apareceram também no estudo da dengue grave. Já Crot-h,
medicamento muito estudado e utilizado em dengue só apareceu com
maior cobertura no estudo dos casos graves de dengue do ano de 2010.
Finalmente, Eup praticamente não apareceu.

52
ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

De forma bem explícita, o Instituto Hahnemanniano do Brasil estimula o uso da fórmulas


contendo Eupatorium perfoliatum, tanto na dimensão curativa, quanto preventiva
para a dengue: <http://www.ihb.org.br/newsletter/2011/receituario_(formula).pdf>.

Alguns laboratórios industriais produzem fórmulas complexas desses medicamentos


com o objetivo do tratamento da dengue.

Jurj (2013) estuda como a acne se mostra considerando-se dois medicamentos Arsenicum
album e Pulsatilla nigra, ambos policrestos. O autor apresenta a característica
genérica da acne para ambos medicamentos, e os diferencia a partir de sintomas mais
individualizantes como a face quente com extremidades frias em Pulsatilla ou lábios
secos, sede intensa de pequenas quantidades para Arsenicum album.

Retomando o estudo do Formulário Homeopático, agora para o quesito Dispepsia,


entendido popularmente como indigestão e que pode ser caracterizado como qualquer
comprometimento do sistema digestivo. O Formulário Homeopático relaciona essa
indicação a cinco medicamentos, a saber, Anacardium orientalis 6 CH; Antimonium
crudum 6 CH; Carduus marianus 6 CH; Lycopodium clavatum 6 CH; e Nux vomica 6 CH.

Como já dito de forma exaustiva, é preciso diferenciar os medicamentos, como


ressaltando os dados apresentados na Quadro 2.

Quadro 2. Estudo comparativo dos medicamentos homeopáticos elencados no Formulário Homeopático que

referem a dispepsia como sintoma.

Sintoma Anac. or. Ant. crudum Carduus mar. Lycop. clav. Nux vomica
Sim, na região do fígado que
Dor Sim, no estômago se agrava pela pressão ou Na cabeça
movimento
Excessos
Estômago vazio e Excessos
Piora alimentares ou
trabalho intelectual alimentares
bebidas
Língua Saburrosa
Diarreia presente
Presente, com
Gases
distensão
Irritação e agressividade presentes
Fonte: própria.

Ao se fazer uma busca no Repertório (RIBEIRO FILHO, 1996) o capítulo 16 versa sobre
o tópico “Estômago” é composto por 40 páginas. As diversas rubricas mostram muitas
especificidades. Só a rubrica eructação são cinco páginas e meia. Daí se denota que
cinco medicamentos significa uma redução grande para a Homeopatia.

Apesar de reduzido, é possível supor a possibilidade de efetivo controle com os poucos


medicamentos. Nux vomica é um policresto no conceito homeopático, podendo ser

53
UNIDADE II │ ANAMNESE HOMEOPÁTICA

usado de forma mais genérica. Vidal e colaboradores (2016) em estudo com diarreia
em suínos, comparou o efeito de Nux vomica com o uso de antibióticos e encontrou
resultados significativos de melhora.

Segundo Boerick (2018) é um policrestos poderoso, porque muito de seus sintomas


correspondem a doenças comum e frequente. Ao fazer a leitura de sua patogenesia
verifica-se que um medicamento voltado para o estresse e agitação e suas consequências.

Esse mesmo raciocínio pode ser realizado para os demais medicamentos sintomáticos,
aqui tendo como referência o Formulário Homeopático (ANVISA, 2017). Ao se
considerar a insônia como sintoma de referência encontraremos 8 medicamentos:
Cocculus indicus 6 CH; Coffea cruda 6 CH; Ignatia amara 6 CH; Kalium phosphoricum
6 CH; Passiflora incarnata 5 CH; Valeriana officinalis 5 CH; Zincum metallicum 6 CH.

Segundo Ramos Padilla e colaboradores (2015) foi possível atingir um nível de sedação
com Passiflora no 6CH tão efetiva quanto a medicamentos convencionais, com hidrato
de cloral e xarope de difenidramina, para o registro eletroencefalográfico em crianças.
Os autores ainda ressaltam que isso foi possível sem o aparecimento de reações adversas.

Em Coffea cruda, a insônia caracteriza-se pelo pensamento intenso


vivenciando-se os acontecimento passados e os que estão por vir nos dias seguintes. Uma
outra possibilidade de uso de Coffea cruda é no sentido de reduzir as consequências
do uso contínuo e excessivo de café. Esse tipo de uso do medicamento homeopático
é considerado como isoterapia, que é o uso do agente causal dinamizado para reduzir
os efeitos da mesma substância consumida em forma ponderal. Essa abordagem será
apresentada na Teoria Geral da Homeopatia.

Além do uso dos medicamentos individualizados, é possível a associação de um ou


mais medicamentos. A alternância dos medicamentos ou o uso conjunto (complexos)
pode fazer parte da prática homeopática. Laboratórios nacionais e estrangeiros tem
disponíveis medicamentos industrialmente formulados para esse fim.

Um das críticas recorrentes da Homeopatia é o tempo necessário para o efeito desejado


do medicamento se instale. Ou de que a Homeopatia não funciona em casos agudos. Isso
não se consolida na prática. Os escritos de Hahnemann (2013; § 24 do Organon) e os
trabalhos científicos realizados com Homeopatia têm demonstrado que a Homeopatia,
além de eficaz, pode ser usada com o objetivo de resultados em curso prazo. Porém há
de se ressaltar que é preciso respeitar-se o tempo natura da própria doença.

54
ANAMNESE HOMEOPÁTICA │ UNIDADE II

A despeito das argumentações de Hahnemann sobre o uso da totalidade de


sintomas para a escolha dos medicamentos homeopáticos, a Homeopatia pode
ser usada em uma perspectiva organicista, sintomática.

Não há medicamento homeopático fechado para uma única finalidade.

Mesmo com essa opção de uso dos medicamentos, há de se ter um mínimo


de análise dos sintomas, distinguindo-se características essenciais de cada
medicamento.

55
ÉTICA UNIDADE III

Ética é o saber científico que reflete sobre as morais, criando um distanciamento


crítico. A pergunta básica da moral é o que devemos fazer e a questão central da
ética é por que devemos fazer.

Dizer que o mundo do trabalho está em constante mudança é pouco esclarecedor e


pode ser considerado lugar comum. É preciso definir quais são as mudanças desejadas
ou as que estão acontecendo. Apesar de a sociedade ocidental contemporânea estar
baseada, de forma predominante, em valores individuais, no predomínio do desejo do
consumo e na busca do conhecimento de aplicação imediata, é necessário imaginar que
a complexidade das relações exigem novas formas de pensar e de agir, de forma utópica.

Utopia entendida como sendo a grande motivação a mover as pessoas e os coletivos


e, desse modo, precisa ser incentivada. Para o desenvolvimento profissional, a utopia
é propor que o profissional entenda seu papel social e de que modo seu trabalho pode
contribuir no desenvolvimento social. No que se refere ao farmacêutico, é preciso que
se assuma como profissional da saúde, na promoção do empoderamento do cidadão,
na manutenção do seu papel como educador em saúde para a busca do uso racional do
medicamento, atuando em qualquer âmbito do profissional.

Nessa perspectiva, a despeito de toda a formação técnica de qualidade, atualizada,


profunda e vista de forma integrada, o farmacêutico tem de desenvolver a capacidade
de resolver os dilemas éticos profissionais que, com certeza, enfrentará. Para isso,
precisa entender os princípios éticos universais que encaminhem sua vida profissional.
Primeiro, precisa ter a clareza do contexto em que vive. A despeito da saúde ser um
direito universal e o medicamento ser um instrumento importante na manutenção
da mesma, seu desenvolvimento se dá em um mundo capitalista, com foco na
comercialização lucrativa, não necessariamente percebendo o medicamento como
instrumento terapêutico no desenvolvimento da saúde.

Como segundo ponto a ser considerado é a de o farmacêutico também ser um sujeito


coletivo. O conjunto das ações individuais dá o significado social da profissão. É na
somatória das ações de todos os profissionais que a sociedade conhece e reconhece o
farmacêutico. Como a significação social interfere na qualidade da atuação de todos

56
ÉTICA│ UNIDADE III

os farmacêuticos, justifica-se, assim, que sua conduta individual seja balizada por
parâmetros coletivos, definido pelos pares e consolidado na estrutura de seu Conselho
Profissional e pelo Código de Ética.

O Código de Ética Profissional visa estabelecer os elementos mínimos esperados do


profissional, dando a ele as possibilidades de escolha quando se deparar com o novo,
que está sempre por vir e sempre acontecendo. As grandes referências do farmacêutico
têm de ser as evidências científicas e a promoção do uso racional do medicamento.

Todo o arcabouço legal que está posto há de ser seguido e o farmacêutico tem de se
manter proativo para que as normas jurídicas estejam sempre em evolução, na busca
do aperfeiçoamento dos serviços farmacêuticos.

A prática da Homeopatia carece dessa base como o próprio Hahnemann já exigia.

57
CAPÍTULO 1
Código de ética farmacêutico

Direito sanitário e deontologia. Noções para a prática farmacêutica.

Baixe gratuitamente o link disponível em: <http://www.culturaacademica.com.


br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=496>.

Pensar uma profissão ou prática profissional na dimensão da ética significa revisar e


analisar seu código moral ou a deontologia. Ética, moral e deontologia são palavras
que se confundem e são usadas, muitas vezes como sinônimos. A ética deve ser
entendida como a ciência que estuda e analisa a conduta humana (ABBAGNANO,
1998). A partir dessa análise, a sociedade passa a estabelecer um regramento, ou seja,
estabelece a conduta moral aceita. A moral e a ética assumem uma relação dialética de
desenvolvimento.

Analisando esses dois conceitos em um caso concreto. A ética estabelece a universalização


dos direitos, aquilo que seria inerente ao ser humano, como a vida, por exemplo. A
humanidade, a despeito das guerras e dos confrontos realizadas pelas sociedades, tem
defendido a vida para todas as pessoas. Porém, nas últimas décadas o direito à vida tem
se estendido aos não humanos. E mais, há um movimento social que passa a considerar
os animais não humanos como seres sencientes, ou seja, com a capacidade de sentir
emoções como medo ou ansiedade.

O movimento ético tem analisado essa condição dos animais e buscado mais e mais
defesas jurídico-morais a esses seres. Mas a moral social ainda permite o seu abate para
alimentação, ainda que a legislação tenha exigido cada vez mais um comportamento
de respeito ao ser vivo que irá servir de alimento. A moral da sociedade exige a análise
ponderada e sistemática por parte da ética.

ÉTICA X MORAL: RELATIVISMO • Leandro Karnal (Vídeo).

Palestra proferida em evento farmacêutico promovido pelo CRFSP.

<https://www.youtube.com/watch?v=wtqym2q8I0c>.

E o Bem, de onde emanam os princípios para o código de conduta, não tem a precisão
científica das ciências naturais. A incerteza sobre o real é fundamental para conduzir
nossas ações para a consecução de nossas finalidades. Então a Ética desenvolve seus

58
ÉTICA│ UNIDADE III

princípios e a moral define o que se considera como certo e/ou adequado para a
convivência social.

A deontologia, por sua vez, é o regramento moral a um grupo específico, como a dos
profissionais. O código de ética profissional é uma norma deontológica, moral, balizada
pela ética universal. A deontologia, portanto, evolui, modifica-se com a evolução da
própria sociedade. Por isso, a necessidade de revisões periódicas, incluindo-se questões
que antes não eram abordadas.

Nos dias de hoje, não poderíamos participar da experimentação de substâncias nos


moldes em que Hahnemann realizou os estudos das patogenesias. O Código de Ética
Profissional proíbe claramente ao farmacêutico participar de pesquisa que não seja
aprovada por Comitê de Ética em Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CEP/CONEP) ou Comissão de Ética no Uso de Animais (art. 14, inciso I; CFF, 2014).

O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Farmácia foram criados pela Lei


no 3.820, de 11 de novembro de 1960 (BRASIL, 1960). Esses órgãos foram criados e
“[...] dotados de personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa
e financeira, destinados a zelar pela fiel observância dos princípios da ética e
da disciplina da classe dos que exercem atividades profissionais farmacêuticas no
País.” (grifo nosso).

Um Conselho Profissional não se justifica se não observar o disposto na lei. Além


disso, o CEP prevê a liberdade de ação responsável, não como um fim já posto, porém
pela adequação da realidade ao princípio da Ética Universal. Ele não é prescritivo do
“bom” farmacêutico, ao contrário, busca prevenir as possíveis ações danosas para
com a sociedade. A profissão precisa ser regulada e normatizada pelos seus pares. E
é desse modo que, tanto a fiscalização, quanto o CEP se inserem em nosso cotidiano
profissional.

A Constituição Federal estabelece que o exercício de qualquer trabalho, ofício ou


profissão é livre. Porém, a lei exige formação específica para determinadas atividades,
com o objetivo de zelar para que a sociedade não seja prejudicada por empresas ou
profissionais que prestam serviços sem conhecimentos técnicos necessários. No caso da
área farmacêutica, o objetivo maior é a proteção à saúde.

O Conselho Profissional se insere na ideia da necessidade do controle da ação individual


de cada profissional como responsabilidade da coletividade profissional. O CEP é o
instrumento necessário para o controle da atividade farmacêutica.

59
UNIDADE III │ ÉTICA

A Resolução no 596 (CFF, 2014) é composta por três Anexos, a saber, o Código de Ética
Farmacêutica, o Código de Processo Ético e o terceiro que estabelece as infrações e as
regras de aplicação das sanções disciplinares. O Processo Ético Disciplinar (PED) gerado
em função de uma possível infração ética tem de seguir o rito processual estabelecido
por essa Resolução.

RESOLUÇÃO No 596 DE 21 DE FEVEREIRO DE 2014. Ementa: Dispõe sobre o Código


de Ética Farmacêutica, o Código de Processo Ético e estabelece as infrações e as
regras de aplicação das sanções disciplinares.

Disponível em: <http://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/596.pdf>.

O PED é composto por três etapas fundamentais: a) averiguação do fato ocorrido


que poderá se configurar como infração; b) a composição do PED na juntada de
documentos e depoimentos que possibilitem o melhor julgamento; c) e o julgamento
com a atribuição cabível com a gravidade do fato ocorrido. Cada uma dessas fases é
realizada por instâncias diferentes do Conselho Regional de Farmácia (CRF) que tem a
obrigação legal de realizar todo esse processo.

Como já visto, a infração ética é fruto da transgressão das normas jurídicas. Como fato
ocorrido, a infração pode vir de uma denúncia da fiscalização do CRF, de Conselhos
Profissionais de outras profissões (por exemplo, pelo exercício ilegal da profissão), de
qualquer instância do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (municipal, estadual ou
nacional), de autoridades policiais (devido, p. ex., de investigação da comercialização
ilícita de substâncias psicoativas), de autoridades judiciais (processos cíveis ou
criminais) ou mesmo do próprio consumidor do serviço ou produto farmacêutico.

A Resolução no 596 (CFF, 2014), de 21 de fevereiro de 2014, que fala sobre o Código de
Ética Farmacêutica (CEF), diz no art. 10: “o farmacêutico deve cumprir as disposições
legais e regulamentares que regem a prática profissional no país, sob pena de aplicação
de sanções disciplinares e éticas regidas por este regulamento”.

Após a averiguação do fato ocorrido, o CRF inicia o PED internamente seguindo o rito
do Código de Processo Ético. Cada fase interna tem prazos definidos, assim como o
farmacêutico tem de atentar para os prazos em sua relação com o CRF. Nessa fase,
será feita a chamada tipificação, ou seja, em quais artigos e incisos do CEP que o fato
ocorrido poderá ter infringido.

As atribuições do farmacêutico homeopático estão definidas nas Resoluções do CFF


de no 576 (2013) e no 635 (2016). Supondo-se que um farmacêutico se apresente como
homeopata sem atender tais Resoluções, esse profissional estaria infringindo o artigo

60
ÉTICA│ UNIDADE III

14, inciso XI, que diz ser proibido ao farmacêutico “declarar possuir títulos científicos ou
especialização que não possa comprovar, nos termos da lei” (CFF, 2014). Isso significa
a tipificação do PED.

Iniciado internamente, o profissional é notificado a prestar depoimento sobre o fato


ocorrido, ainda não caracterizado como infração. Esse depoimento é tomado por um
membro da Comissão de Ética, formada por, pelo menos, três farmacêuticos voluntários.

Qualquer farmacêutico regularmente inscrito no CRF, e que não tenha sobre si um PED,
poderá participar da Comissão de Ética. Nessa fase, o farmacêutico poderá apresentar
argumentos e provas que indiquem a sua defesa. O profissional tem de mostrar que o
fato ocorrido ocorreu a sua revelia, descaracterizando sua culpa/responsabilidade.

Como terceira fase, haverá o julgamento pela Plenária do CRF, constituída pelos
Conselheiros eleitos. Um dos Conselheiros assume o PED como relator, analisa-o
e estabelece a vinculação ou não do farmacêutico como culpado/responsável pelo
fato ocorrido. Nesse mesmo ato, o Conselheiro relator irá apresentar a punição
correspondente e que, atualmente, pela Resolução do CFF no 596 (2014) vincula a
punição à tipificação, ou seja, ao artigo do CEP que o farmacêutico tenha infringido.

No caso acima apresentado, da assunção indevida do título de farmacêutico homeopata,


a infração é considerada mediana, segundo o art. 8o do Anexo III da Resolução no 596
(2014). Isso significa que o farmacêutico estará sujeito à penas pecuniárias (multas) no
valor que variam de um a três salários mínimos regionais. Se reincidente, o profissional
terá a multa elevada ao dobro ou aplicada a pena de suspensão.

O PED é realizado pelos Conselhos Regionais, porém, esses são instâncias delegadas
pelo Conselho Federal para que realizem as ações pertinentes atribuídas pela legislação.
Além das questões referentes à ética, como a fiscalização e PED, os Conselhos Regionais
também são responsáveis pelo registro dos farmacêuticos, que é obrigatório para que
o profissional exerça sua atividade. Esse registro tem um custo anual estabelecido
pelo CFF. Ao CFF cabe normatizar as ações do farmacêutico, estabelecendo o âmbito e
atribuições das áreas farmacêuticas, como a da Homeopatia.

Os indivíduos que veem o trabalho apenas como o lugar onde percebem remuneração,
não encontram razão naquilo que fazem. Estão sempre queixosos, consideram que
ganham menos do que merecem, comparam seu salário aos de outros e sentem-se
continuamente injustiçados.

61
UNIDADE III │ ÉTICA

Ética, moral e deontologia significam três aspectos diferentes do mesmo tema.


Ética é a ciência e a reflexão sobre os direitos universais dos seres vivos. Moral
é o regramento social baseado em princípios éticos. Deontologia é moral
profissional.

O Conselho profissional tem como função legal fiscalizar os profissionais para


impedi-los de prejudicar os cidadãos.

O Código de Ética Profissional (CEP), elaborado pelos próprios farmacêuticos, é o


instrumento para que os conselhos realizem a sua missão.

PED é o Processo Ético Disciplinar que é gerado em função de uma possível


infração ética. Após averiguação do fato ocorrido e junção de documentos e
depoimentos, ocorre o julgamento adequado.

A Lei no 3.820 de 11 de novembro de 1960, criou o Conselho Federal e os


Conselhos Regionais de Farmácia.

A Resolução no 596 de 21 de fevereiro de 2014, dispõe sobre o Código de Ética


Farmacêutica, o Código de Processo Ético e estabelece as infrações e as regras de
aplicação das sanções disciplinares.

As Resoluções noS 576 (de 2013) e a 635 (de 2016) definem as atribuições do
Farmacêutico Homeopático.

62
CAPÍTULO 2
Aspectos éticos na prescrição
farmacêutica de medicamentos

A ação do farmacêutico em Homeopatia tem de se pautar pela legislação geral e pela


específica no se refere a essa terapêutica. Assim, a Ética Profissional e a Legislação
devem ser pareadas. Nesse sentido, algo muito atual e que tem criado polêmica é a
prescrição farmacêutica, regida pela Resolução no 586 (CFF, 2013). Essa resolução
apresenta no art. 5o que:

O farmacêutico poderá realizar a prescrição de medicamentos e


outros produtos com finalidade terapêutica, cuja dispensação não
exija prescrição médica, incluindo medicamentos industrializados
e preparações magistrais ─ alopáticos ou dinamizados ─, plantas
medicinais, drogas vegetais e outras categorias ou relações de
medicamentos que venham a ser aprovadas pelo órgão sanitário federal
para prescrição do farmacêutico. (Grifo nosso)

A quase totalidade dos medicamentos homeopáticos é considerada isenta de prescrição


pela Lei no 5.991, de 17 de dezembro de 1973, que expressa essa condição de forma
clara, mas com algumas ressalvas. O art. 13 (BRASIL, 1973) diz que “dependerá da
receita médica a dispensação de medicamentos homeopáticos, cuja concentração de
substância ativa corresponda às doses máximas farmacologicamente estabelecidas.”

Com isso, podemos afirmar que, excetuando-se as substâncias heroicas em diluições


nas quais as concentrações ainda possam causar intoxicações, todas as demais
dinamizações homeopáticas são passíveis de prescrição pelo farmacêutico. Assim,
em tese, o farmacêutico poderá prescrever praticamente todo o arsenal terapêutico
homeopático, quase que na mesma condição do médico.

Essas concentrações estão elencadas em uma lista emitida pela Anvisa que será discutida
dentro desse módulo em capítulo posterior.

Ao prescrever os medicamentos homeopáticos, o farmacêutico irá agir dentro das


normas jurídicas. Porém, nem tudo está claramente estabelecido, ainda! É possível
levantar-se algumas polêmicas no que se refere ao farmacêutico assumir a prescrição
da Homeopatia em sua totalidade.

O primeiro aspecto polêmico a ser ressaltado está no conceito de Medicamentos Isentos


de Prescrição (MIP), que assim são conceituados pela RDC No 98 (ANVISA, 2016):
63
UNIDADE III │ ÉTICA

Art. 3o Para um medicamento ser enquadrado como isento de prescrição,


é necessário que comprove os critérios estabelecidos a seguir:

III- Indicação para o tratamento, prevenção ou alívio de sinais


e sintomas de doenças não graves e com evolução inexistente ou
muito lenta, sendo que os sinais e sintomas devem ser facilmente
detectáveis pelo paciente, seu cuidador ou pelo farmacêutico, sem
necessidade de monitoramento laboratorial ou consulta com o
prescritor;

Como é possível depreender da Resolução, os MIP visam situações bastante pontuais e


específicas e com evolução inexistente. Mas para a Homeopatia, todo desequilíbrio do
princípio vital faz parte de uma evolução, mesmo quando falamos de doenças agudas.

Como segundo ponto polêmico destaca-se que a Resolução RDC no 44 (ANVISA, 2009)
define que é não permitido ao farmacêutico realizar diagnóstico nos serviços realizados
em uma farmácia (Art. 69) e estabelece, no Glossário da mesma Resolução, que a
anamnese farmacêutica deve ser realizada por meio de entrevista.

Como já foi apresentado, a escolha do medicamento homeopático se dá fortemente


pelos sinais e sintomas relatados pelo paciente, não necessitando de avaliação clínica
extensa e que é proibida ao farmacêutico. Como já visto, não há o conceito de doença
em Homeopatia e, portanto, não se faz um diagnóstico específico. Porém, a escolha
do medicamento homeopático, ao ser realizada pela escolha da totalidade sintomática,
poderia ser considerada, de forma analógica, a um diagnóstico.

A Homeopatia é uma opção terapêutica e de vida, para o qual devemos ser coerentes
aos seus postulados, mas não se pode manter a mente obscurecida por dogmas em
detrimento da razão. A proposição Hahnemann não pode ser visto de forma absoluta.
É certo que a racionalidade da Homeopatia é divergente do paradigma da ciência
dominante, mas é preciso manter-se esclarecidos e abertos para a evolução científica.
Hahnemann sempre prezou o escrúpulo da ação do médico, buscando atentar a todos
os cuidados possíveis para com o paciente.

Nessa linha de raciocínio, a Resolução no 596 (CFF, 2014) que trata do Código de Ética
diz, em seu art. 14, inciso IV, ser “proibido ao farmacêutico [...] praticar ato profissional
que cause dano material, físico, moral ou psicológico, que possa ser caracterizado como
imperícia, negligência ou imprudência”. Postergar um tratamento necessário, criar
expectativas infundadas ou minimizar consequências do quadro do paciente, entram
nessa categoria.

64
ÉTICA│ UNIDADE III

Nessa condição crítica, vamos analisar uma situação do cotidiano da prática do


farmacêutico, pensando sobre uma situação simples como “dor de garganta”, comum o
suficiente para surgir em qualquer farmácia.

Alguns dados científicos: estima-se que 30% das faringoamidalites sejam causadas por
estreptococos e que a prevalência de Febre Reumática seja ao redor de 3% entre as
crianças e os adolescentes brasileiros (BARBOSA JUNIOR et al, 2014). Essa situação traz
maior responsabilidade para com o problema. A Homeopatia, na afirmação categórica
de Hahnemann, assim como está apresentado em vários parágrafos do Organon, é
plenamente suficiente para o tratamento de doenças infecciosas. Porém, nos dias de
hoje, temos mais informações sobre os processos infecciosos e suas complicações.

O uso consistente da Homeopatia no controle das infecções.

MITIDIERO, Ana Maria de Andrade. Potencial do uso de homeopatia,


bioterápicos e fitoterapia como opção na bovinocultura leiteira: avaliação
dos aspectos sanitários e de produção. 2002. 132 f. Dissertação (Mestrado
em Ciências Agrárias)-Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2002. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/
handle/123456789/82532/198173.pdf?sequence=1&isAllowed=y>.

ALEIXO, Denise Lessa et al. Homeopathy in parasitic diseases. International


Journal of High Dilution Research, [S.l.], v. 13, no 46, pp. 13-27, feb. 2014. ISSN
19826206. Disponível em: <http://highdilution.org/index.php/ijhdr/article/
view/683>. Acessado em: 13 fev. 2018.

LORENZETTI, Eloísa; STANGARLIN, José Renato; KUHN, Odair José. Antimicrobial


activity against Macrophomina phaseolina and the control of charcoal rot in
soybeans using the homoeopathic drugs Sepia and Arsenicum album. Arq. Inst.
Biol., São Paulo, v. 84, e 0562016, 2017. Disponível em <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-16572017000100239&lng=pt&nrm=i
so>. Acesso em 13 fev. 2018.

Então há de se ter critérios para melhor análise. A diferenciação entre a causa viral
ou bacteriana para a infecção da faringe ou das vias aéreas superiores é bastante
difícil utilizando-se apenas aspectos clínicos na propedêutica farmacêutica. Essa é
limitada e insuficiente porque, até o momento, a intervenção farmacêutica tem de estar
apoiada apenas nas informações subjetivas. Uma anamnese malconduzida pode trazer
consequências graves.

65
UNIDADE III │ ÉTICA

Há muitas controvérsias o quanto é permitido ao farmacêutico realizar algum exame


clínico. A Resolução no 585 do CFF (2013) regulamenta as atribuições clínicas do
farmacêutico. Nela estão expressas as atribuições clínicas do farmacêutico e a ênfase
está no auxílio, cooperação.

Art. 7o - São atribuições clínicas do farmacêutico relativas ao cuidado à


saúde, nos âmbitos individual e coletivo:

[...]

III - Participar do planejamento e da avaliação da farmacoterapia,


para que o paciente utilize de forma segura os medicamentos de que
necessita, nas doses, frequência, horários, vias de administração e
duração adequados, contribuindo para que o mesmo tenha condições
de realizar o tratamento e alcançar os objetivos terapêuticos;

[...]

XI - Solicitar exames laboratoriais, no âmbito de sua competência


profissional, com a finalidade de monitorar os resultados da
farmacoterapia;

XII - Avaliar resultados de exames clínico-laboratoriais do paciente,


como instrumento para individualização da farmacoterapia;

XIII - Monitorar níveis terapêuticos de medicamentos, por meio de


dados de farmacocinética clínica;

XIV - Determinar parâmetros bioquímicos e fisiológicos do paciente,


para fins de acompanhamento da farmacoterapia e rastreamento em
saúde.

Ao farmacêutico clínico cabe, com toda a competência participar, monitorar,


individualizar e acompanhar a farmacoterapia.

Outra norma legal que também estabelece limites para a investigação clínica ao
farmacêutico é a RDC no 44/2009 (ANVISA, 2009). Os únicos processos de aferição de
parâmetros fisiológicos e bioquímicos permitidos nessa norma estão no art. 69:

A aferição de parâmetros fisiológicos ou bioquímico oferecida na


farmácia e drogaria deve ter como finalidade fornecer subsídios para
a atenção farmacêutica e o monitoramento da terapia medicamentosa,
visando à melhoria da sua qualidade de vida, não possuindo, em
nenhuma hipótese, o objetivo de diagnóstico.

66
ÉTICA│ UNIDADE III

§1o Os parâmetros fisiológicos cuja aferição é permitida nos termos


desta Resolução são pressão arterial e temperatura corporal.

§2o O parâmetro bioquímico cuja aferição é permitida nos termos desta


Resolução é a glicemia capilar.

Apesar dessas indefinições, a Resolução do CFF no 635, 14 dez. 2016, diz de forma mais
direta a competência do farmacêutico quanto à prescrição. O parágrafo único, inciso
e, do art. 15 diz que é atribuição do farmacêutico: “realizar o manejo de problemas
de saúde autolimitados, bem como outras atribuições clínicas, conforme previsto nas
Resoluções nos 585 e 586, ambas do Conselho Federal de Farmácia”.

Essa mesma resolução, no “Glossário”, apresenta o significado de manejo de problemas


de saúde autolimitado:

Serviço pelo qual o farmacêutico atende a uma demanda relativa


a problema de saúde autolimitado, prescrevendo medidas não
farmacológicas, bem como medicamentos e outros produtos com
finalidade terapêutica, cuja dispensação não exija prescrição médica
e, quando necessário, encaminhando o paciente a outro serviço ou
profissional da saúde.

Façamos uma pequena síntese antes de prosseguir com a discussão do assunto.

Ao farmacêutico não cabe fazer diagnóstico.

Legalmente, poucos exames são liberados para que o farmacêutico realize por
si só.

Qualquer exame clínico ou fisiológico tem de visar o acompanhamento da


terapêutica.

Do ponto de vista legal, o farmacêutico homeopata pode prescrever quase que


a totalidade do arsenal terapêutico homeopático.

O farmacêutico homeopata tem de ter clareza sobre os riscos que ele corre de
uma anamnese e terapêutica malconduzidas.

De acordo com a Resolução no 586 de 2013, o farmacêutico poderá realizar a


prescrição de medicamentos e outros produtos com finalidade terapêutica,
cuja dispensação não exija prescrição médica, incluindo medicamentos
industrializados e preparações magistrais como alopáticos ou dinamizados,
plantas medicinais, drogas vegetais e outras categorias ou relações de

67
UNIDADE III │ ÉTICA

medicamentos que venham a ser aprovadas pelo órgão sanitário federal para
prescrição do farmacêutico.

De acordo com a Lei no 5.991 de 17 de dezembro de 1973, com algumas ressalvas,


quase todos os medicamentos homeopáticos são isentos de prescrição.

Nesse momento é importante ressaltar que a Prescrição farmacêutica é um ato formal,


que difere de uma mera indicação de um melhor medicamento, feito em balcão de
farmácia. Segundo a Resolução no 586, do CFF, no artigo terceiro

[...] define-se a prescrição farmacêutica como ato pelo qual o


farmacêutico seleciona e documenta terapias farmacológicas e não
farmacológicas, e outras intervenções relativas ao cuidado à saúde do
paciente, visando à promoção, proteção e recuperação da saúde, e à
prevenção de doenças e de outros problemas de saúde. (grifo nosso)

É preciso ressaltar o aspecto apresentado em negrito. A prescrição farmacêutica terá de


ser documentada conforme a RDC no 44/2009 (ANVISA, 2009) tanto para resguardar
a integridade profissional, quanto para registrá-lo como ato profissional e não como
“um favor”. Como ato profissional, há de ser ter consequências profissionais. O art. 81
dessa RDC impõe os seguintes dados na documentação a ser entregue ao paciente:

Art. 81. Após a prestação do serviço farmacêutico deve ser entregue ao


usuário a Declaração de Serviço Farmacêutico.

§1o A Declaração de Serviço Farmacêutico deve ser elaborada em papel


com identificação do estabelecimento, contendo nome, endereço,
telefone e CNPJ, assim como a identificação do usuário ou de seu
responsável legal, quando for o caso.

§2o A Declaração de Serviço Farmacêutico deve conter, conforme o


serviço farmacêutico prestado, no mínimo, as seguintes informações:

I ─atenção farmacêutica:

a) medicamento prescrito e dados do prescritor (nome e inscrição no


conselho profissional), quando houver;

b) indicação de medicamento isento de prescrição e a respectiva


posologia, quando houver;

c) valores dos parâmetros fisiológicos e bioquímico, quando houver,


seguidos dos respectivos valores considerados normais;

68
ÉTICA│ UNIDADE III

d) frase de alerta, quando houver medição de parâmetros fisiológicos


e bioquímico: “ESTE PROCEDIMENTO NÃO TEM FINALIDADE DE
DIAGNÓSTICO E NÃO SUBSTITUI A CONSULTA MÉDICA OU A
REALIZAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS”;

e) dados do medicamento administrado, quando houver:

1. nome comercial, exceto para genéricos; [nsa]*

2. denominação comum brasileira; [nsa]*

3. concentração e forma farmacêutica;

4. via de administração;

5. número do lote; e

6. número de registro na Anvisa. [nsa]*

f) orientação farmacêutica;

g) plano de intervenção, quando houver; e

h) data, assinatura e carimbo com inscrição no Conselho Regional de


Farmácia (CRF) do farmacêutico responsável pelo serviço.

* [nsa] não se aplica; (grifo do autor)

O Conselho Federal de Farmácia disponibiliza modelos de Prontuário Farmacêutico,


acesse os links disponíveis: <http://www.cff.org.br/userfiles/file/Fevereiro%20
2015/Formul%C3%A1rios/1%20-%20MODELO%20%E2%80%93%20
PRONTU%C3%81RIO%20DO%20PACIENTE%20.doc>, <http://www.cff.org.br/
userfiles/file/Fevereiro%202015/Formul%C3%A1rios/2%20-%20MODELO%20-%20
PRONTU%C3%81RIO%20DO%20PACIENTE%20-%20PREENCHIMENTO.doc>.

A RDC no 44/2009 (ANVISA, 2009) também define as condições mínimas necessárias


para a execução dos serviços farmacêuticos. Dentre essas condições, o atendimento
terá de ser realizado em ambiente adequado que preserve a privacidade e o sigilo do
paciente, em relação às informações ali relatadas.

Um elemento importante está fixado pela Resolução no 586 (CFF, 2013), que exige
o reconhecimento de título de especialista em Homeopatia ou Antroposofia para a
prescrição dessa classe de medicamentos. E ainda veda a modificação das prescrições
de outros profissionais.

69
UNIDADE III │ ÉTICA

A prescrição farmacêutica é um ato formal.

O local onde se realiza a prescrição precisa ter autorização sanitária para essa
atividade.

A prática farmacêutica não substitui nem compete com a atividade médica.

70
LEGISLAÇÃO UNIDADE IV

Todo conteúdo é passível de estudo. Porém, legislação e ética profissional têm


características que exigem abordagens diferenciadas. O arsenal legal que regula a
profissão e as práticas em saúde são datadas. Alguns instrumentos legais são mais
longevos, porém há constante renovação do arcabouço jurídico. Portanto, o aluno,
mais do que o estudo de artigo por artigo de cada norma jurídica, é preciso saber
como é construída a arquitetura legal e a hierarquia das normas jurídicas; quais os
atores estão envolvidos nesse processo; e, sobretudo, como conquistar a autonomia
na compreensão pela leitura e busca da legislação de interesse para a solução de um
problema específico. O farmacêutico não pode ser analfabeto funcional em relação às
normais jurídicas, ainda que caiba aos profissionais do direito a competência e papel de
sua adequada interpretação. Por outro lado, uma série de exames (concursos, Enade)
exige o conteúdo legal de forma detalhado, obrigando o seu conhecimento pleno pelos
interessados.

71
CAPÍTULO 1
Normas jurídicas

Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942.

Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. (Redação dada pela Lei no


12.376, de 2010)

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o art. 180


da Constituição, decreta:

[...]

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Para o senso comum, toda norma legal é uma “lei”. Na realidade as normas jurídicas
apresentam-se de forma hierárquica dependendo de quem as emite e o seu grau de
abrangência. Obviamente, a Constituição brasileira como lei maior define em caráter
genérico todas as leis. Mas justamente esse caráter genérico exige normas que a
regulamentem.

A Constituição de 1988, lista, em seu art. 59, um conjunto de normas do processo


legislativo:

I - emendas à Constituição;

II - leis complementares;

III - leis ordinárias;

IV - leis delegadas;

V - medidas provisórias;

VI - decretos legislativos;

VII - resoluções.

A Constituição foi elaborada por um conjunto por um Congresso constituído


especificamente com esse poder. O conjunto de outros Senadores e Deputados Federais
que compuseram as legislaturas posteriores podem alterar parte da Constituição por
meio das Emendas Constitucionais. O meio jornalístico apresenta muitos comentários

72
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

sobre as Projetos de Emenda Constitucional (PECs). No ano de 2017, a PEC no 287/2016


tratou da Reforma da Previdência, que está expressa na Constituição.

Mas cada item que a Constituição apresenta precisa ser mais bem explicitada em leis
complementares. Os arts 196 a 200 da Constituição Federal referem-se à Saúde. A Lei
no 8.080/1990, Lei Orgânica da Saúde, é uma lei ordinária. A lei orgânica é aquela que
estabelece a estrutura de funcionamento de um serviço público, no caso da saúde. As
demais formas de lei caracterizam-se em situações específicas.

Mas o problema é que, só no âmbito federal há mais de 20 formas de instrumentos


normativos e mais 45.000 delas em vigor. Isso sem considerar que muitas normas
terminam com “revogam-se as disposições em contrário”, sem apresentar as que
efetivamente o são. Com isso, abre espaço para a subjetividade do Direito. À essas
normas do âmbito federal, ainda precisam ser considerar os atos normativos de nível
hierárquico inferior (portarias, resoluções, instruções normativas, avisos circulares,
pareceres normativos etc.) (MARTINS FILHO, 1999).

Quando as normas são conflitantes, há de buscar soluções baseando-se em algum


critério como o cronológico; hierárquico; ou da especialidade. Assim, instrumentos
jurídicos mais recentes sobrepõem-se sobre os anteriores, assim como as normas
superiores prevalecem sobre as inferiores (BOBBIO, 1995). Quanto à especialidade,
significa, por exemplo, quando o Superior Tribunal Federal suspendeu a eficácia da Lei
no 13.269/2016, que autorizava o uso da fosfoetanolamina sintética (pílula do câncer)
por entender que o Congresso Nacional não tem competência de legislar sobre produtos
da saúde e que foi contrário ao parecer técnico da Anvisa que afirmava não ter nenhum
produto registrado com esse princípio ativo.

Uma lei somente pode ser modificada parcial ou integralmente por outra lei que tenha
sido oficialmente publicada. A lei precisa ser lida de forma atualizada. O governo
federal mantém uma ferramenta de busca de toda a legislação brasileira e que pode ser
acessado por qualquer cidadão. O endereço eletrônico é: <http://www4.planalto.gov.
br/legislacao>.

Por exemplo, ao estudarmos uma lei qualquer no portal indicado faremos as seguintes
leituras: Em um caso de um artigo, parágrafo ou inciso ter sido incluído:

Art. 36 [...] (Lei no 5.991/1973).

§ 1o É vedada a captação de receitas contendo prescrições magistrais


e oficinais em drogarias, ervanárias e postos de medicamentos, ainda
que em filiais da mesma empresa, bem como a intermediação entre
empresas. (Incluído pela Lei no 11.951, de 2009).

73
UNIDADE IV │ LEGISLAÇÃO

Caso um artigo tenha sido modificado, a linha tachada representa a redação antiga. O
artigo a seguir exemplifica essa situação na Lei no 5.991/1973.

Art. 25. A licença terá sua validade fixada em regulamentação específica


pela autoridade sanitária local, de acordo com o risco sanitário
das atividades desenvolvidas pelos estabelecimentos, e poderá ser
revalidada por períodos iguais e sucessivos. (Redação dada pela Lei no
13.097, de 2015).

O Ministério da Saúde mantém um portal com uma ferramenta de busca exclusiva


para instrumentos jurídicos da área da saúde e que pode ser encontrado no endereço
eletrônico: <http://portal2.saude.gov.br/saudelegis/leg_norma_pesq_consulta.cfm>.

A realização da busca pode ser feita em diversos campos como: tipo da norma, número,
data ou período de publicação, ano de assinatura, origem (órgão do governo), fonte,
situação (vigente ou revogada), assunto. Não necessariamente todos os campos
precisam ser preenchidos, porém ao menos o tipo da norma e o número. Quanto ao
ano, é importante salientar que os números se repetem ano a ano.

Conhecer o direito do cidadão também é uma forma de aprendizado da


legislação. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) é uma associação
de consumidores sem fins lucrativos, independente de empresas, partidos ou
governos com expressiva participação.

Acesse do site disponível em: <https://www.idec.org.br/>.

Alguns instrumentos jurídicos podem ser necessários para consolidar outros


documentos. A Farmacopeias Homeopática Brasileira que é o Código Oficial
Farmacêutico do País, que define os requisitos mínimos de qualidade, é estabelecida
pela emissão de Resolução da Diretoria Colegiada por parte da Anvisa que é órgão
responsável por sua elaboração e renovação. As resoluções são atos administrativos
normativos que partem de autoridade superior, mas não do chefe do executivo. As
resoluções não podem contrariar os regulamentos e os regimentos, mas explicá-los.

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), documento


que contempla a Homeopatia no Sistema Único de Saúde é aprovada pelo Ministro
de Estado da Saúde que emite a Portaria no 971, de 3 de maio de 2006. A portaria é
instrumento jurídico é um ato originário do Poder Executivo.

74
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

As resoluções são exaradas por órgãos colegiados que aprovam suas decisões em
plenárias. A Anvisa é um órgão colegiado que emite Resoluções Resolução da Diretoria
Colegiada (RDC), assim como o Conselho Federal de Farmácia que também cria normas
no seu âmbito na forma de resoluções que podem ser acessadas no endereço: <http://
cff-br.implanta.net.br/portaltransparencia/#publico/Listas?id=704808bb-41da-
4658-97d9-c0978c6334dc>.

Os órgãos colegiados não podem legislar, ou seja, não podem criar situações que já
não estejam previstas em outros normas jurídicas. Os órgãos colegiados somente
podem regulamentar decisões prévias. Por isso, é necessário todos os “considerando”
que surgem antes do conteúdo específico que trata a resolução. Esses “considerando”
representam as referências prévias para a norma emitida.

Quando uma pessoa ou órgão se sente prejudicado por uma resolução, a discórdia
será resolvida pelo Judiciário. O Conselho Federal de Medicina se sente prejudicado
pelo Resolução do Conselho Federal de Farmácia que habilitou o farmacêutico para a
prescrição com as Resoluções de no 585 e no 586, ambas de 2013. Até o início do ano de
2018, o judiciário deu ganho de causa ao CFF por entender que esse órgão é competente
para isso e que não se contrapõe a outras normas jurídicas, nem à atividade médica.

As normas jurídicas se configuram em estrutura hierárquica, impedindo que


haja conflitos entre ela.

A estrutura jurídica brasileira é complexa e confusa, em algumas circunstâncias.

Além das leis básicas da saúde, as Resoluções emanadas pela Anvisa e pelo CFF
são importantes balizadores da atividade farmacêutica.

75
CAPÍTULO 2
Normas jurídicas em homeopatia

O estudo do arcabouço legal diretamente vinculado à prática profissional farmacêutica


em Homeopatia pode garantir segurança jurídica e profissional. É importante
compreender as competências específicas dos atores responsáveis pela geração da
legislação sanitária e profissional, assim como a pertinência de cada tipo de norma
jurídica. Isso nos possibilita conhecer as responsabilidades e consequências dos atos
profissionais do farmacêutico perante a legislação vigente. Assim, propõe estudar as
principais normas jurídicas e sanitárias vigentes.

Para o profissional da saúde, principalmente aqueles que lidam diretamente com a


prescrição, dispensação e administração de medicamentos é extremamente importante
o conhecimento da legislação que regulamenta os medicamentos. Nesse capítulo desse
caderno de estudos, será descrito alguns tópicos importantes sobre a legislação que
rege a área de Homeopatia e algumas questões éticas. Mas é interessante relembrar ou
informar-se sobre alguns conceitos.

»» LEI:

›› Norma ou conjunto de normas elaboradas e votadas pelo poder


legislativo.

»» DECRETO- LEI:

›› Ato administrativo da competência exclusiva dos chefes do Executivo,


destinados a aprovar situações gerais ou individuais, abstratamente
previstas de modo expresso, explícito ou implícito, pela legislação.
Como ato normativo, o decreto está sempre em situação inferior à lei
e, por isso mesmo, não a pode contrariar.

›› O decreto-lei foi substituído pela MEDIDA PROVISÓRIA que pode


ser expedida pelo Presidente da República e em caso de urgência ser
convertida em lei no prazo de 30 dias.

»» PORTARIA:

›› Atos administrativos internos pelos quais os chefes de órgãos,


repartições ou serviços expedem determinações gerais ou especiais

76
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

a seus subordinados, ou designam servidores para funções e cargos


secundários.

»» RESOLUÇÕES:

›› Atos administrativos normativos expedidos pelas altas autoridades do


Executivo (não pelo chefe do executivo que só deve expedir decretos)
ou pelos presidentes de tribunais, órgãos legislativos e colegiados
administrativos, para disciplinar matéria de sua competência
específica.

»» RESOLUÇÃO RDC:

›› Resolução da diretoria colegiada.

»» DELIBERAÇÃO:

›› Atos administrativos normativos ou decisórios emanados de órgãos


colegiados.

»» CONSULTA PÚBLICA:

›› Consulta sobre um ato administrativo normativo que está para ser


publicado.

As normas de interesse serão apresentadas em primeiro as normas legais, posteriormente


as resoluções, e cada grupo em sequência cronológica.

Decreto no 57.477, de 20 de dezembro de 1965


Ementa: dispõe sobre manipulação, receituário, industrialização e venda de produtos
utilizados em Homeopatia e da outras providencias.

Situação: não consta revogação expressa.

Dos 36 artigos, apresentamos apenas os três primeiros porque os demais serão


discutidos em normas mais atuais.

Art. 1o Considera-se farmácia homeopática aquela que somente


manipula produtos e fórmulas oficinas e magistrais que obedeçam à
farmacotécnica dos códigos e formulários homeopáticos.

77
UNIDADE IV │ LEGISLAÇÃO

Art. 2o A instalação e o funcionamento de farmácia homeopática


obedecerão ao disposto na legislação farmacêutica em vigor, excetuada
a relação de drogas, medicamentos e utensílios, que deverá ser
estabelecida em listas mínimas pelo órgão federal de saúde encarregado
da fiscalização da medicina e farmácia.

Art. 3o As farmácias homeopáticas não são obrigadas à manipulação de


prescrições não enquadradas nos moldes homeopáticas.

O primeiro aspecto dessa norma é a vinculação da farmácia homeopática à farmacotécnica


que esteja inserida em códigos e formulários homeopáticos. Nesse sentido elencamos a
Farmacopeia Homeopática Brasileira 3ª edição, vigente até o momento de elaboração
desse material didático. Acompanhe a atual edição e as futuras no seguinte endereço
eletrônico: <http://portal.anvisa.gov.br/farmacopeia-homeopatica>.

A RDC no 39/2010 que aprovou essa edição, também revoga todas as demais edições.
O artigo terceiro não obriga, porém não proíbe que as farmácias manipulem outras
terapêuticas.

As leis usam denominações típicas da época e que precisam ser atualizadas. O “órgão
federal de saúde encarregado da fiscalização da medicina e farmácia” que trata esse
decreto é a Anvisa criada em 1999. Outros órgãos cuidaram desse setor entre 1965 e
1999.

Lei no 5.991, de 17 de dezembro de 1973

Ementa: dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos,


insumos farmacêuticos e correlatos, e dá outras providências.

Situação: não consta revogação expressa.

Apesar da Lei no 5.991 já ter sido modificada em alguns artigos, os seis que tratam da
Homeopatia mantém inalterados. É importante entender que não havendo conflitos, as
normas se sobrepõem.

CAPÍTULO III - Da Farmácia Homeopática.

Art. 9o - O comércio de medicamentos homeopáticos obedecerá às


disposições desta Lei, atendidas as suas peculiaridades.

Art. 10 - A farmácia homeopática só poderá manipular fórmulas oficinais


e magistrais, obedecida a farmacotécnica homeopática.

78
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

Parágrafo único. A manipulação de medicamentos homeopáticos não


constantes das farmacopeias ou dos formulários homeopáticos depende
de aprovação do órgão sanitário federal.

Art. 11 - O Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia


baixará instruções sobre o receituário, utensílios, equipamentos e
relação do estoque mínimo de produtos homeopáticos.

Art. 12 - É permitido às farmácias homeopáticas manter seções de


vendas de correlatos e de medicamentos não homeopáticos quando
apresentados em suas embalagens originais.

Art. 13 - Dependerá da receita médica a dispensação de medicamentos


homeopáticos, cuja concentração de substância ativa corresponda às
doses máximas farmacologicamente estabelecidas.

Art. 14 - Nas localidades desprovidas de farmácia homeopática,


poderá ser autorizado o funcionamento de posto de medicamentos
homeopáticos ou a dispensação dos produtos em farmácia alopática.

Vale ressaltar que, a Lei no 5.991 modifica a possibilidade da Farmácia Homeopática


poder manipular medicamentos diferentes dos que estão inscritos na Farmacopeia
Homeopática, pois exige a necessidade de “aprovação do órgão sanitário federal”. Essa
questão será abordada posteriormente. A Anvisa substituiu o “Serviço Nacional de
Fiscalização da Medicina e Farmácia”.

O art. 12 autoriza as farmácias homeopáticas a comercializar especialidades


farmacêuticas, não a limite apenas à manipulação. E o artigo já foi comentado acima.

Decreto no 74.170, de 10 de junho de 1974

Ementa: regulamenta a Lei no 5.991, de 17 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o


controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e
correlatos.

Esse decreto, como diz a ementa, regulamenta a Lei no 5.991 e praticamente a transcreve,
sem maiores acréscimos.

Outras normas jurídicas afetam a farmácia homeopática de maneira geral, como


estabelecimento farmacêutico e não serão analisadas aqui como, por exemplo, a Lei
no 13.021, de 8 de agosto de 2014, que dispõe sobre o exercício e a fiscalização das
atividades farmacêuticas.

79
UNIDADE IV │ LEGISLAÇÃO

Portaria no 971, de 3 de maio de 2006

Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no


Sistema Único de Saúde.

A PNPIC é apresentada como anexo dessa portaria. É uma proposta para introduzir
oficialmente as práticas integrativas dentro do sistema do SUS. Porém, o SUS não pode
ser confundido com o atendimento público de saúde. O SUS é o elemento estruturante do
sistema de saúde no país e inclui a rede privada de atendimento, no mínimo sob o manto
legal. A introdução do documento remete para o movimento internacional, capitaneado
pela OMS, para o estabelecimento das práticas integrativas e complementares, que
inclui a Homeopatia.

Outras normas

Além de leis, decretos e portarias, a atividade farmacêutica é regulada pela Anvisa por
suas resoluções. A Anvisa tem como função representar o Estado brasileiro no controle
do mercado para que esse não produza malefícios na sociedade, principalmente
considerando-se a diversidade de força, sendo que o interesse capitalista não poderá se
impor ao sanitário (MAIA, 2016).A sua forma de agir, além de ações de fiscalização, é o
de normatizar o mercado farmacêutico emitindo as Resoluções da Diretoria Colegiada.

Resolução RDC no 26, de 30 de março de 2007

Ementa: dispõe sobre o registro de medicamentos dinamizados industrializados


homeopáticos, antroposóficos e anti-homotóxicos.

Essa RDC sofre cinco alterações por outras RDC. Algumas procederam alterações e
outra revogações parciais. A Anvisa tende a regular de maneira única os medicamentos
dinamizados que incluem as três classes citadas: homeopáticos (preparado segundo
a Farmacopeia Homeopática), antroposóficos (preparado baseando-se nas teorias de
Rudolf Steiner) e anti-homotóxicos (preparado segundo a Farmacopeia Homeopática
Alemã).

A Homeopatia faz parte dos medicamentos oficinais e magistrais pois são preparados
baseando-se em Farmacopeia e Formulários. Quando preparado para atender às
prescrições é isento de registro. Porém, a indústria farmacêutica homeopática pode ter
interesse em produzir e comercializar medicamentos homeopáticos em larga escala.
Podem assim, fazer uma notificação simplificada junto à Anvisa para medicamentos
com um princípio ativos, apenas. Ou registrar fórmulas de seu interesse.

80
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

Segundo o art. 3o dessa RDC.

Os medicamentos homeopáticos, de componente único e/ou compostos,


devem atender à farmacotécnica homeopática e apresentar indicação
terapêutica de acordo com as informações constantes nas matérias
médicas homeopáticas, dados toxicológicos, artigos científicos e/ou
estudos clínicos, de acordo com o princípio da similitude.

Instrução Normativa no 3, de 11 de abril de 2007

Ementa: dispõe sobre a “Lista de Referências Bibliográficas para Avaliação de Segurança


e Eficácia de Medicamentos Dinamizados”.

Esta lista apresenta um conjunto de referências bibliográficas nas quais é possível


basear-se para justificar o uso dos medicamentos homeopáticos.

Essa lista foi renovada como apresentado pela Anvisa em justificativa publicada em
2 de agosto de 2017, como pode ser acessado no endereço a seguir. Porém, a lista
renovada ainda não está disponível, até o momento. <http://portal.anvisa.gov.br/
documents/10181/2959207/Justificativa+-+CP+373-2017.pdf/85db7a1e-c47f-45da-
84e5-a0abda0cc9ad>.

A lista antiga era composta por 187 publicações e poderá ser acessada no seguinte
endereço eletrônico: <http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/legislacao/2007/
abril/informe-eletronico-de-legislacao-em-saude-n-70-130407/legislacaofederal/
instrucaonormativams-anvsn3de11.04.07.pdf>.

Instrução Normativa no 4, de 11 de abril de 2007

Ementa: Dispõe sobre o Guia para a Realização de Estudos de Estabilidade para


Medicamentos Dinamizados.

Essa instrução normativa apresenta os testes necessários para determinar ou


acompanhar o prazo de validade e de estabilidade de produtos farmacêuticos
dinamizados. Quanto ao poder terapêutico, supõe-se ser impossível determinar a
presença ou ausência efetiva do efeito terapêutico homeopático. Porém, os insumos
inertes usados para o preparo do medicamento podem sofrer a ação de fatores
ambientais como temperatura, umidade e luz.

81
UNIDADE IV │ LEGISLAÇÃO

Instrução Normativa no 5, de 11 de abril de 2007

Ementa: dispõe sobre os limites de potência para registro e notificação de medicamentos


dinamizados.

Os limites estabelecidos no anexo I da IN no 5, de 2007 são utilizados como referência


para definição da restrição de venda de medicamentos dinamizados, sendo que
possuir insumos ativos em potências compreendidas dentro desses limites é um dos
pré-requisitos para que os medicamentos sejam enquadrados como de venda isenta de
prescrição médica.

Essa lista não está disponibilizada, atualmente, porque se encontra em processo de


Consulta Pública no 375/2017, sem previsão de conclusão. Para maiores detalhes,
acesse o link disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2959207/
Justificativa+-+CP+375-2017.pdf/7922ce2f-8b8d-4a30-ab31-3c62d0b5b474>.

Um elemento importante destacado na IN no 5/2007 está expresso no art. 2o

Para fins exclusivos de aplicação da Tabela do Anexo I considera-se a


tabela de equivalência entre as concentrações das dinamizações nas
escalas decimal e centesimal, conforme o Anexo II.

Parágrafo único. A equivalência não significa interconversão entre


escalas conforme preconizado na Farmacopeia Homeopática Brasileira

O parágrafo único reafirma o que está expresso na Farmacopeia Homeopática


Brasileira: não é permitido identificar medicamentos preparados na escala decimal
como seu equivalente em centesimal ou vice-versa. Exemplos: D2 é diferente de 1 CH;
D4 é diferente do 2 CH; e assim sucessivamente.

Resolução-RDC No 67, de 8 de outubro de 2007

Ementa: dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e


Oficinais para Uso Humano em farmácias.

Essa RDC complementa de forma significativa o parágrafo único do art. 10 da Lei


no 5.991/1973 que restringia “a manipulação de medicamentos homeopáticos não
constantes das farmacopeias ou dos formulários homeopáticos [...] [à] aprovação do
órgão sanitário federal”.

82
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

A resolução normatiza as atividades da farmácia (sem nenhuma designação quanto ao


tipo de manipulação) em grupos característicos, com exigências específicas para que
seja possível sua manipulação. Quanto à Homeopatia, as exigências estão expressas
no Grupo V e que, por sua vez, está vinculada ao Anexo I (BOAS PRÁTICAS DE
MANIPULAÇÃO EM FARMÁCIAS) e ao Anexo V (BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO
DE PREPARAÇÕES HOMEOPÁTICAS (BPMH) EM FARMÁCIAS).

Com isso, a restrição imposta pela Lei no 5.991/1973 resolveu uma questão histórica da
legitimidade da manipulação de medicamentos homeopáticas e alopáticos no mesmo
estabelecimento.

Essa RDC sofreu algumas alterações posteriores pela emissão de outras RDCs, porém
não houve mudança significativa no conceito das exigências para a manipulação
homeopática.

O Anexo V da referida resolução define exigências mínimas para a: a) organização e


pessoal; b) infraestrutura física; c) regras para limpeza e sanitização; d) armazenamento
de materiais; e) manipulação; f) rotulagem e embalagem; g) prazo de validade; h)
controle de qualidade.

Resolução - RDC No 129, de 2 de dezembro de 2016

Ementa: Aprova o Formulário Homeopático da Farmacopeia Brasileira e dá outras


providências

A Anvisa, órgão responsável pela elaboração da Farmacopeia Brasileira e da Farmacopeia


Homeopática Brasileira, lançou em 2017, o Formulário Homeopático da Farmacopeia
Brasileira, no qual foi definida uma lista de 84 (oitenta e quatro) medicamentos
homeopáticos oficinais de uso interno, nas seguintes formas farmacêuticas: gotas,
glóbulos, comprimidos, tabletes, géis, pomadas, cremes e outros.

Resoluções do Conselho Federal de Farmácia

Como já apresentado, a Lei no 3.820, de 11 de novembro de 1960, criou Conselho Federal


e os Conselhos Regionais de Farmácia, e dá outras Providências. Da leitura dessa lei
despreendem-se ao menos três funções fundamentais do CFF: regulamentar, registrar
e fiscalizar (as duas últimas sob competência dos Conselhos Regionais).

A regulamentação da profissão acontece pela emissão de resoluções. Dentro da


hierarquia das leis, a resolução não poderá se opor o que estiver estabelecido em normas
superiores como lei e decretos. Como apresentado no inciso h, do artigo 6o, ao CFF cabe:

83
UNIDADE IV │ LEGISLAÇÃO

h) propor às autoridades competentes as modificações que se


tornarem necessárias à regulamentação do exercício profissional, assim
como colaborar com elas na disciplina das matérias de ciência e técnica
farmacêutica, ou que de qualquer forma digam respeito à atividade
profissional (grifo nosso).

O papel do CFF também existe em outros países, como estruturas adequadas às


normas de cada nação, porém atendendo suas características próprias.

Como exemplo, temos a Ordem dos Farmacêuticos de Portugal, que


mantém estreito cooperação de trabalho com os brasileiros. <https://www.
ordemfarmaceuticos.pt/pt/>.

Resolução no 576, de 28 de junho de 2013

Ementa: dá nova redação ao art 1o da Resolução/CFF no 440/2005, que dispõe sobre as


prerrogativas para o exercício da Responsabilidade Técnica em Homeopatia.

Em relação à Resolução no 440/2005, houve redução da carga horária exigida em


estágio, justificando-se que assim haveria equiparação com outras normativas que
estabelecem as mesmas necessidades. A nova redação está transcrita a seguir:

Art. 1o - O artigo 1o da Resolução/CFF no 440, de 22 de setembro de


2005 passa a ter a seguinte redação:

Art. 1o - Considerar habilitado para exercer a responsabilidade


técnica de farmácia ou laboratório industrial homeopático que
manipule ou industrialize os medicamentos e insumos homeopáticos,
respectivamente, o farmacêutico que comprovar uma das seguintes
qualificações:

a) ter cursado a disciplina de homeopatia com conteúdo mínimo de 60


(sessenta) horas no curso de graduação, além de estágio obrigatório
com o mínimo de 120 (cento e vinte)horas nas farmácias de Instituições
de Ensino Superior ou conveniadas, em laboratórios de medicamentos
e/ou de insumos homeopáticos;

b) possuir título de especialista ou curso de aprimoramento profissional


em homeopatia que atenda as resoluções vigentes do Conselho Federal
de Farmácia.

84
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

E com isso fica mantida o art. 2o:

Aos farmacêuticos que comprovarem o exercício da responsabilidade


técnica em estabelecimentos farmacêuticos que preparem medicamentos
homeopáticos, obtida até a data da publicação da Resolução no 319
em 30/10/1997, são asseguradas as prerrogativas profissionais sem
prejuízo da aplicação do artigo anterior, onde o exercício será obtido
pelos registros perante o Conselho Regional de Farmácia respectivo.

O mesmo tema tem tido uma evolução que começou com a Resolução no 176/1998,
substituída pela Resolução no 232/1992 e assim sucessivamente, Resolução no 319/1997,
Resolução no 335/1998 e, por fim, Resolução no 440/2005.

Resolução no 635, de 14 de dezembro de 2016

Ementa: Dispõe sobre as atribuições do farmacêutico no âmbito da Homeopatia e dá


outras providências.

O CFF tem procurado emitir resoluções para designar de forma ampla diversos âmbitos
profissionais. A referida resolução trata do âmbito homeopático. A norma é bastante
abrangente e aborda vários aspectos. Chama a atenção o inciso I do art. 4o, exigindo
respeito às “especificidades da ciência homeopática”. Pode parecer “letra morta”, mas
há de deixar claro que a opção pela Homeopatia não pode ter apenas caráter comercial
ou de oportunidade de trabalho. Mas, no fundo, a Homeopatia é uma forma de ver o
mundo.

De maneira geral, a resolução estabelece que o farmacêutico homeopata tenha forte


proatividade em relação à Homeopatia quer seja em seu local de trabalho, quer seja
na dimensão de desenvolvimento político e/ou técnico. O mesmo protagonismo
apresentado por farmacêuticos brasileiros nos anos de 1980 que fundaram a Associação
Brasileira de Farmácia Homeopática (ABFH), criada em 1990, e que elaborou e
aperfeiçoou o Manual de Normas Técnicas (a quarta edição foi lançada em 2007).

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FARMACÊUTICOS HOMEOPATAS. Manual de


Normas Técnicas para Farmácia Homeopática. E. ed. São Paulo. 2007.

Disponível em: <https://www.facebook.com/ABFHBrasil/>.

A Resolução no 635/2016 revoga Resolução/CFF no 601/2014 e mantém os requisitos


previstos na Resolução/CFF no 576/2013 para responsável técnico em farmácia com
manipulação homeopática.

85
UNIDADE IV │ LEGISLAÇÃO

A atividade farmacêutica homeopática está sujeita às normas específicas e gerais


da profissão.

Além das normas legais emitidas pelo legislativo e judiciário, a profissão


farmacêutica tem de atender às regulamentações exaradas da ANVISA e do
Conselho Federal de Farmácia.

Uma norma mantém-se vigente até ser revogada por outra de igual status.

O farmacêutico terá de se manter atualizado pois não poderá alegar


desconhecimento como justificativa para eventual infração.

86
CAPÍTULO 3
Roteiro de inspeção de farmácia

Se quisermos que o medicamento homeopático seja considerado no contexto


da saúde pública, ele deve ser avaliado também sob o ponto de vista do risco
sanitário. Porém, segundo Alencar não há registro de risco sanitário relacionado
ao medicamento homeopático. Isto significaria que tal risco não foi notificado,
que não há risco ou que ele é desprezível? (CÉSAR et al, 2013).

Uma farmácia é um estabelecimento de saúde e, portanto, tem de estar sujeito a um


critério de qualidade progressivo com os conhecimentos científicos e disponibilidade
tecnológica. Do farmacêutico espera-se uma multiplicidade de ações que garantam a
qualidade dos serviços e dos produtos oferecidos pelo estabelecimento.

Os farmacêuticos homeopatas se mostram sensíveis e preocupados em atender às


exigências da legislação vigente. César e colaboradores (2013, p. 18) afirmam de forma
categórica que:

[...] há uma contraposição na busca do risco sanitário dos medicamentos


homeopáticos, que representaria uma sombra, em contraposição à luz
da nossa arte. Esta luz estaria associada à garantia de qualidade, ligada
à ética humana e profissional, à responsabilidade, ao conhecimento
atualizado, à credibilidade do farmacêutico homeopático, legítimo
detentor do conhecimento filosófico e técnico na área.

E ainda acrescentam

[...] não deixando de ter respeito pela legislação vigente, esse profissional
deve continuamente promover discussões sobre as regulamentações
que muitas vezes são inapropriadas, insuficientes ou excessivas, já que
ao serem estabelecidas, o legislador muitas vezes ignora ou desconhece
as peculiaridades da farmacotécnica e da terapêutica homeopática.

Esse padrão de qualidade, e sua eventual infração, estão sujeitos à legislação vigente
que espera que haja mecanismos de controle sobre, ao menos, quatro aspectos: a) o
produto oferecido; b) garantia da gestão do uso dos medicamentos; c) desenvolvimento
profissional constante, incorporando a evolução científica e tecnológica; d) agir como
um educador em saúde para a promoção da saúde individual e coletiva.

87
UNIDADE IV │ LEGISLAÇÃO

O farmacêutico precisa ter o controle absoluto da farmácia como estabelecimento da


saúde. No momento, como norma vigente, temos o Anexo VII da RDC no 67/2007, da
Anvisa.

O primeiro aspecto a ser atendido é garantir que todas as exigências de todos os


órgãos envolvidos com a abertura de uma farmácia. O SEBRAE mantém assessorias
espalhadas em vários municípios do Brasil, além do seu Portal que pode ser acessado
com tema específico sobre farmácia: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/
ideias/como-montar-uma-farmacia-de-manipulacao,48287a51b9105410VgnVCM100
0003b74010aRCRD>.

Lá estão listados os registros mínimos e iniciais para que uma farmácia possa funcionar,
além, obviamente, de toda a legislação sanitária:

»» Secretaria da Receita Federal (CNPJ);

»» Secretaria Estadual de Fazenda;

»» Conselho Regional de Farmácia;

»» Prefeitura do Município para obter o alvará de funcionamento;

»» Enquadramento na Entidade Sindical Patronal

»» Alvará da Vigilância Sanitária;

»» Responsável Técnico Habilitado;

»» Registro no Ministério da Saúde;

»» Cadastramento junto à Caixa Econômica Federal no sistema


“Conectividade Social – INSS/FGTS”.

»» Corpo de Bombeiros Militar.

Plano de negócio para abertura de farmácia (CRFSP e SEBRAE SP).

<http://portal.crfsp.org.br/component/phocadownload/category/18-
publicacoes-diversas.html?download=252:cartilha-como-abrir-e-fazer-a-
gestao-de-farmacias-e-drogarias>.

Vale a pena abrir uma farmácia? ASCOFERJ.

<http://ascoferj.com.br/noticias/vale-pena-abrir-uma-farmacia/>.

88
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

Todos esses documentos devem estar em local visível. Confira outros documentos em:
<http://portal.anvisa.gov.br/lista-de-documentos-necessarios-para-farmacias-de-
manipulacao>.

O Anexo VII passa, então, a caracterizar a farmácia em relação à abrangência de suas


ações. A RDC no 67/2007 caracteriza a farmácia por grupos de atividades:

Grupo I ─ Manipulação de medicamentos a partir de insumos/matérias


primas, inclusive de origem vegetal.

Grupo II ─ Manipulação de substâncias de baixo índice terapêutico.

Grupo III ─ Manipulação de antibióticos, hormônios, citostáticos e


substâncias sujeitas a controle especial.

Grupo IV ─ Manipulação de produtos estéreis.

Grupo V ─ Manipulação de medicamentos homeopáticos.

Grupo VI ─ Manipulação de doses unitárias e unitarização de dose de


medicamentos em serviços de saúde.

Para cada grupo, há um anexo específico exigindo alguns detalhes, como foi apresentado
com o Grupo V para a Homeopatia.

Um item importante é o que se refere à filiais. A RDC no 67/2007 estabelece que as


farmácias com manipulação que mantêm filiais, devem possuir laboratórios de
manipulação funcionando em todas elas, não sendo permitido filiais ou postos
exclusivamente para coleta de receitas. E apenas alguns tipos de medicamentos podem
ter a manipulação centralizada.

Depois disso, o Roteiro apresenta um conjunto de exigências, algumas comuns e


outras específicas para cada Grupo. No que se refere à manipulação homeopática são
28 quesitos específicos. Cada item do Roteiro é classificado como IMPRESCINDÍVEL
(I), NECESSÁRIO (N), RECOMENDÁVEL (R) e INFORMATIVO (INF). Toda farmácia
tem de atender o item (I) e o item (N), em uma primeira inspeção, passa a ser tratado
automaticamente como (I) na inspeção subsequente e assim, sucessivamente, o (R)
torna-se (N), mas não passará a calcificação (I). Alguns itens são discutidos a seguir.

Um aspecto que pode parecer pitoresco é a exigência que os funcionários estejam


“não odorizados” (N). Não se pode usar perfumes ou desodorantes perfumados em
Homeopatia. Sem nenhuma referência científica, mas na valorização que Hahnemann
e outros seguidores faziam dos odores e seus efeitos, sugere-se que o ambiente seja

89
UNIDADE IV │ LEGISLAÇÃO

livre de possíveis contaminantes, principalmente por parte dos manipuladores. Nessa


mesma perspectiva, os produtos de limpeza não podem ser odorizados (N).

Por outro lado, o laboratório homeopático tem de ser exclusivo para esse fim, não podendo
ser utilizado para a manipulação de nenhuma outra espécie (I). Isso, obviamente para
evitar contaminações, ainda que ínfimas. Lembre-se que a Homeopatia não age na
perspectiva ponderal, da massa das substâncias. Do mesmo modo, os equipamentos
usados em Homeopatia precisam ser higienizados separadamente (N). É possível, na
condição de não existir ambientes distintos, fazer uma escala de lavagem em que cada
tipo de preparo seja feito em momentos distintos (N).

Há exigência de Procedimentos Operacionais Padrão (N)escrito deforma objetiva que


estabelece instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e específicas
na produção, armazenamento e transporte de medicamentos. O Conselho Federal de
Farmácia (2007) considera os seguintes POP´s essenciais:

Limpeza da área de homeopatia; Limpeza e higienização de embalagens


e acessórios para homeopatia; Preparação de soluções hidro alcoólicas;
Preparação de matrizes homeopáticas; Preparação para obtenção de
formas farmacêuticas derivadas; Preparação da trituração; Preparação
de matriz LM; Preparação de medicamento homeopático líquido;
Preparação de medicamento homeopático glóbulo; Manipulação de
Auto isoterápico (quando aplicável) Manipulação de medicamento
em dose única; Preparação de medicamento LM; Preparação de
medicamento homeopático pelo método Korsakov; Controle de
qualidade em homeopatia; Rastreabilidade de matriz; Rotulagem de
medicamentos.

Os insumos inertes precisam ser analisados para garantir a qualidade (N), assim
como os insumos ativos precisam ter laudos dos fornecedores (N). E atenção,
organizados em pastas, em ordem alfabética, por exemplo, e mantidas em arquivo,
mesmo quando elas terminam para que seja possível o rastreamento. As matrizes
precisam ser avaliadas microbiologicamente de tempos em tempos, como a
periodicidade pré-estabelecida (N).

Nas fiscalizações sanitária e ou inspeções, sempre, sem exceção tem que ter a presença
de um profissional farmacêutico. Caso contrário a fiscalização é nula, tendo parecer
a favor da Justiça Federal: <http://portal.crfsp.org.br/images/arquivos/sentenca_
farmaceutico_visa.pdf>.

90
LEGISLAÇÃO │ UNIDADE IV

E durante o período de fiscalização sanitária, o farmacêutico tem o direito de acompanhar


todo o processo e receber por escrito, assinalando, inclusive o dispositivo legal a que
incorre a alegada infração.

A atividade farmacêutica está sujeita à fiscalização sanitária com normas bem


estabelecidas.

Ainda que se possa questioná-las, é necessário o atendimento estrito, uma vez


que visam a garantia da qualidade dos medicamentos homeopáticos.

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