Art. Francisco Xavier
Art. Francisco Xavier
Art. Francisco Xavier
RESUMO
A ideia de formar cidadão crítico através do ensino de filosofia desde os anos iniciais de
escolarização, parte do pressuposto de que as crianças são aptas a pensar criticamente,
ter discernimento e consciência da sua posição e papel enquanto autores sociais. A partir
disso, este trabalho buscou realizar um estudo teórico acerca das concepções de
infância; fazer uma discussão a respeito da educação escolar que vem sendo direcionada
às crianças, além de trazer a discussão sobre o desafio que é formar o cidadão crítico em
um Estado marcado pela lógica burguesa capitalista, que através das mais diversas
instâncias, muitas vezes busca inviabilizar o pensamento crítico dos sujeitos. Nessa
perspectiva destacamos neste trabalho, como a escola, através do ensino de filosofia,
pode se tornar um veículo de resistência, formando os educandos desde cedo para a
consciência crítica do mundo em que vive.
ABSTRACT
The idea of forming critical individuals through the teaching of philosophy since the
early years of schooling, is based on the assumption that children are able to think
critically, have discernment and awareness of their position and role as social authors.
From this, this work sought to carry out a theoretical study about childhood
conceptions; make a discussion about school education that has been directed to
children, in addition to bringing up the discussion about the challenge of forming a
critical citizen in a State marked by capitalist bourgeois logic, which through the most
diverse instances, often seeks to make the critical thinking of the subjects. In this
perspective, we highlight in this work, how the school, through the teaching of
philosophy, can become a vehicle of resistance, training students from an early age for
the critical awareness of the word in which they live.
Key words: Childhood, education, citizenship, philosophy
INTRODUÇÃO
1
Graduando em Segunda Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade - IBRA
Atualmente muito se fala em educar as crianças desde cedo para a cidadania e em
uma educação crítica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), aponta como um
dos seus fins, formar o educando para a cidadania; Matthew Lipman com seu
programa instituído pioneiramente em filosofia para crianças, do qual falaremos mais
adiante, mostra-nos que a criança pode ser instruída de forma a utilizar
seu potencial criativo e questionador filosoficamente, e com isso, ser formada para uma
vida cidadã.
No entanto, vale questionarmos: que pensar é esse que se pretende do aluno?
Quais os objetivos da educação, de educar para a cidadania e o que se entende
por cidadania? Como a criança é compreendida socialmente e o que se espera dessa
criança, a mesma que estará em um futuro próximo comandando de forma direta ou
indireta os rumos da nação? Como o pensar crítico filosófico desde a infância, pode
estar a favorecer a formação de cidadãos críticos que estejam empenhados ativamente
no campo social? Essas são algumas questões que abordaremos no decorrer deste
trabalho, sem a pretensão de trazer verdades engessadas, mas sim, provocar uma
reflexão acerca do tipo de educação que está sendo dirigida às crianças, além de
estarmos a apontar os benefícios de uma educação crítica através da filosofia desde os
anos iniciais de escolarização.
Pensar em uma educação crítica desde a infância torna-se viável quando
atentamos para o fato de que, desde os últimos séculos, muitas civilizações vêm
passando pelos desafios de viver em uma sociedade globalizada, dinâmica e
competitiva, na qual muitas vezes é introduzido nas relações humanas, o mercado de
valores, o que muitas vezes acaba por restringir a criticidade dos sujeitos.
Diante disso, a necessidade de pensarmos em uma educação escolar que esteja
desvinculada do modelo liberal de educação e que esteja voltada para uma
reflexão problematizadora da realidade social em que vivemos, demonstra ser algo
relevante; sobretudo, ao compreendemos a escola como uma instituição educativa no
sentido de formar crianças enquanto sujeitos críticos, e não apenas uma instituição
voltada apenas para a alfabetização e promoção de algumas competências que
possibilitarão a inserção das crianças futuramente, no mercado de trabalho.
Desse modo, faz-se necessário que as instituições de educação repensem seus
objetivos educacionais e se voltem, sobretudo, para a formação das crianças, para que as
mesmas possam desde cedo, desenvolver sua autonomia; pois se pretendemos educá-las
para serem sujeitos sociais ativos e críticos, devemos, portanto, privilegiar muito mais
que a leitura da palavra, a leitura de mundo, conforme aponta Freire (1989),
promovendo dessa maneira a formação do pensamento crítico, favorecendo os meios
para que os alunos, desde os mais jovens, se constituam como cidadãos conscientes da
realidade onde vivem.
A importância deste trabalho está na relevância do tema em questão para a
Educação e para sociedade, considerando que a educação é um caminho para a
construção de uma sociedade consciente, produtora de conhecimentos e transformadora
da mesma. Nesse sentido, entendemos que o papel da escola vai muito além de
alfabetizar ou transmitir alguns conteúdos, ela deve preparar os sujeitos para a
autonomia, para que esses possam se constituir enquanto sujeitos críticos, criativos e
participativos no cenário social e é com tal finalidade, que defendemos o ensino de
filosofia desde a infância.
A partir do exposto, buscamos responder o seguinte questionamento: Qual a
importância da filosofia na infância para a formação do cidadão crítico? Para isso,
tivemos como objetivo geral analisar a importância da filosofia na infância para a
formação cidadã crítica do educando.
A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE INFÂNCIA
De acordo com Oliveira (2004) houve um grande percurso para que o ensino de
filosofia fosse incorporado aos sistemas de ensino como disciplina obrigatória. O ensino
dessa disciplina teve início com o ensino rígido e medieval dos jesuítas, passando mais
tarde pelo movimento Escolanovismo o qual surge em oposição ao ensino tradicional na
década de 20, objetivando a formação de um novo sujeito para uma nova sociedade em
transformação. Nesse período, embora a filosofia não fosse obrigatória no currículo,
esse movimento abriu portas para que isso pudesse acontecer. Até que durante os anos
de 1946 a 1960, nos anos de luta por uma lei de Diretrizes e Bases da Educação
nacional, a filosofia a princípio indicado como disciplina complementar, para os cursos
colegiais destinados às elites, por fim torna-se obrigatória nos cursos colegiais, hoje
ensino médio.
Contudo, durante o período militar, entre 1964 à 1982, a disciplina de filosofia
foi substituída pela Educação Moral e Cívica e a chamada Organização Social e Política
Brasileira (OSPB), sendo essas coerentes com o sistema de segurança e de democracia
restrita que surgia, a qual valorizava as ciências exatas em detrimento dos demais
campos do conhecimento humano, os quais eram considerados "inúteis e prejudiciais
aos bons e disciplinados comportamentos e aceitação do status quo" (OLIVEIRA, 2004,
p. 31).
Ainda segundo Oliveira, com a volta do regime democrático, e logo as
reformulação do sistema de ensino brasileiro, embora as ciências humanas tenham sido
reintroduzidas nos quadros curriculares, a disciplina de filosofia e de sociologia
permaneceu de fora até mesmo do currículo do ensino médio e o argumento foi que o
ensino das mesmas já estava integrado de forma interdisciplinar na organização
curricular. Isso levou à formação de um grande movimento em favor da inclusão dessas
disciplinas no ensino médio, até que o projeto de lei nº 9/2000 que visava essa inclusão
foi aprovado no congresso nacional, mas logo vetado pelo então presidente da república,
o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
O que consideramos com isso, é que a exclusão das disciplinas d caráter crítico,
se mostra desejável em um regime que não convive com o diálogo democrático e que
pretende impor um domínio de pensamento a fim de manter a ordem e os interesses
vigentes. Nesse caso, o pensamento reflexivo proposto pela filosofia, constitui uma
ameaça a tal ordem. São situações como essa que torna imprescindível pensar em um
ensino de filosofia já na infância, nas séries iniciais do ensino fundamental, a fim de que
as crianças desde cedo tenham consciência do regime opressor, camuflado de
democrático, que tenta restringir sua liberdade de agir, de pensar e de Ser.
O fato é que somente em 2006, após muitas lutas de movimentos ligados à
educação, o ensino de filosofia e sociologia tornou-se obrigatório no currículo do ensino
médio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: moderna, 1996
ARIÈS Philippe. História social da criança e da família. 2 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1986. Disponível em: http://documents.tips/documents/aries-philippe-
historia-social-da-crianca-e-da-familia.html. Acesso em: 10 de maio 2020.
DELEUZE, Guilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: 34, 1992
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder: Rio de Janeiro: Edições graal, 4° ed.
1984.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: Em três artigos que se completam. São
Paulo: Autores Associados, Cortez, 1989.
KOHAN, Walter Omar; WUENSCH, Ana Mírian. Filosofia para crianças: a tentativa
pioneira de Matthew Lipman. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.