MTP 01 - Intervenção Policial

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MANUAL TÉCNICO-PROFISSIONAL Nº 3.04.

01/2020-CG

MTP 01
INTERVENÇÃO POLICIAL, PROCESSO DE
COMUNICAÇÃO E USO DA FORÇA

BELO HORIZONTE – MG
2020
MANUAL TÉCNICO-PROFISSIONAL
Nº 3.04.01/2020-CG

Intervenção Policial, Processo de Comunicação e


Uso da Força

BELO HORIZONTE - MG
2020
Direitos exclusivos da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG).
Reprodução condicionada à autorização expressa do Comandante-Geral da PMMG.
Circulação restrita.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral.


Manual Técnico-Profissional nº 3.04.01/2020: Intervenção Policial,
M663m Processo de Comunicação e Uso da Força / Comando-Geral. Belo
Horizonte: Assessoria Estratégica de Emprego Operacional (PM3). 2020.

78p.

1. Preparo Mental. 2. Avaliação de Riscos. 3. Pensamento Tático.


4. Intervenção Policial. 5. Processo de Comunicação. 6. Uso da Força

CDD - 353.3
CDU - 351.75(815.1)
Bibliotecária responsável: Tatiane Krempser Gandra – CRB 6/2963

ADMINISTRAÇÃO
Comando-Geral da Polícia Militar
Quartel do Comando-Geral da PMMG
Cidade Administrativa Tancredo Neves, Edifício Minas,
Rodovia Papa João Paulo II, nº 4143 – 6º Andar, Bairro Serra Verde
Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP 31.630-900

SUPORTE METODOLÓGICO E TÉCNICO


Assessoria Estratégica de Emprego Operacional – PM3
Quartel do Comando-Geral da PMMG
Cidade Administrativa Tancredo Neves, Edifício Minas,
Rodovia Papa João Paulo II, nº 4143 – 6º Andar, Bairro Serra Verde
Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP 31.630-900
E-mail: [email protected]
GOVERNADOR DO ESTADO
ROMEU ZEMA NETO

COMANDANTE-GERAL DA PMMG
CEL PM RODRIGO SOUSA RODRIGUES

CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA PMMG


CEL PM EDUARDO FELISBERTO ALVES

CHEFE DO GABINETE MILITAR DO GOVERNADOR


CEL PM OSVALDO DE SOUZA MARQUES

CHEFE DA ASSESSORIA ESTRATÉGICA DE EMPREGO OPERACIONAL


TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS

COLABORADORES 1ª EDIÇÃO (2010)


CEL PM FÁBIO MANHÃES XAVIER
CEL PM ANTÔNIO LEANDRO BETTONI DA SILVA
TEN CEL PM MARCELO VLADIMIR CORRÊA
MAJ PM ALFREDO JOSÉ ALVES VELOSO
MAJ PM WÁGNER EUSTÁQUIO DA SILVA ALMEIDA
MAJ PM EDUARDO DOMINGUES BARBOSA
MAJ PM EDUARDO FELISBERTO ALVES
MAJ PM ÉDSON GONÇALVES
CAP PM ARNALDO AFFONSO
CAP PM MARCO AURÉLIO ZANCANELA DO CARMO
CAP QOS FABRÍZIA LOPES BRANDÃO PEREIRA
CAP PM RODOLFO CÉSAR MOROTTI FERNANDES
CAP PM RENATO SALGADO CINTRA GIL
CAP PM WANDERSON GARCIA COSTA NEVES
1º TEN PM ÉDSON H. RABELLO DE S. MENDES
1º TEN PM RODRIGO SALDANHA
1º TEN PM MOLISE Z. FONSECA DE SOUZA
1º TEN PM LUCIANA DO CARMO S. NOMINATO
2º TEN PM ANDERSON PEREIRA DE SOUSA
2º TEN PM RICARDO PEREIRA DE ARAUJO GOMES
1º SGT PM ANTÔNIO GERALDO ALVES SIQUEIRA
2º SGT PM RINALDO ARAÚJO MARÇAL
3º SGT PM RICARDO MARTINS LOPES
3º SGT PM MÁRCIA DANIELA BANDEIRA SILVA
3º SGT PM NADJA ALVES DE SOUSA
3º SGT PM EDNA MÁRCIA COSTA MENDONÇA
CB PM ELIAS SABINO SOARES
SD PM LEONARDO GIORI DE OLIVEIRA
SD PM ALINE VANESSA ALVES
PROFº. HUGO DE MOURA
PROFª. MARIA SÍLVIA SANTOS FIÚZA
PEDAGª. ISABEL CRISTINA DE P. MOREIRA NAZARETH
ASS. JURÍDICA MARIA AMÉLIA PEREIRA

COLABORADORES 2ª EDIÇÃO (2013)


TEN CEL PM SÍLVIO JOSÉ DE SOUSA FILHO
MAJ PM EUGÊNIO PASCOAL DA CUNHA VALADARES
MAJ PM CLEVERSON NATAL DE OLIVEIRA
CAP PM RICARDO LUIZ AMORIM GONTIJO FOUREAUX
1º TEN PM HELIVELTON SALVADOR SANTANA
SUBTEN PM ANTÔNIO GERALDO ALVES SIQUEIRA
2º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA
2º SGT PM LUIZ HENRIQUE DE MORAES FIRMINO
CB PM ELIAS SABINO SOARES

COLABORADORES 3ª EDIÇÃO (2020)


REDAÇÃO
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
TEN CEL PM RODRIGO SALDANHA
TEN CEL PM SANDRO ALEX CANUTO GONÇALVES
MAJ PM WELVISSON GOMES BRANDÃO
CAP PM IRAN MARTINS DE OLIVEIRA
1º TEN PM PABLO SÉRGIO DE SOUZA CORREA
1º TEN PM CLÁUDIO JOSÉ VIRGÍLIO
1º TEN PM BRUNO DINIZ CAMPOS
1º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA
1º SGT PM SANDRO GONÇALVES MAIA
1º SGT PM CÉSAR AUGUSTO VILAÇA JÚNIOR
2º SGT PM DANIEL CORDEIRO RODRIGUES

FOTOGRAFIAS
CAP PM IRAN MARTINS DE OLIVEIRA
1º TEN PM CLÁUDIO JOSÉ VIRGÍLIO
1º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA

REVISÃO DOUTRINÁRIA
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
1º TEN PM BRUNO DINIZ CAMPOS
3º SGT PM DANIELLE SUELI VENTURA

REVISÃO FINAL
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APF - Auto de Prisão em Flagrante


AR - Auto de Resistência
BO - Boletim de Ocorrência
CCEAL - Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação da Lei
CG - Comando-Geral
COPOM - Centro de Operações Policiais Militares
HPM - Hospital da Polícia Militar
IMPO - Instrumento de Maior Potencial Ofensivo
IPM - Inquérito Policial Militar
MG - Minas Gerais
MTP - Manual Técnico-Profissional
NAIS - Núcleo de Atenção Integral à Saúde
ONU - Organização das Nações Unidas
Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos
PBUFAF -
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei
PIDCP - Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
PIDSEC - Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais
PM3 - Assessoria Estratégica de Emprego Operacional
PMMG - Polícia Militar de Minas Gerais
REDS - Registro de Evento de Defesa Social
SIPOM - Sistema de Inteligência da Polícia Militar
TCAF - Treinamento com Armas de Fogo
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Quarteto do pensamento tático ........................................................................... 21


Figura 2 - Etapas da intervenção policial............................................................................. 32
Figura 3 - Modelo do uso diferenciado da força .................................................................. 59
Figura 4 - Local para transporte da arma portátil em viatura que não possui cabide. ......... 63
Figura 5 - Policial militar com a arma na posição 1 (arma localizada) e suas variações ...... 64
Figura 6 - Policial militar com a arma na posição 2 (arma em guarda-baixa) e suas
variações ............................................................................................................................. 65
Figura 7 - Policial militar com a arma na posição 3 (arma em guarda-alta) e suas variações
............................................................................................................................................ 66
Figura 8 - Policial militar com a arma na posição 4 (arma em pronta-resposta) e suas
variações ............................................................................................................................. 66
SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 8
2 PREPARO MENTAL ......................................................................................................... 11
2.1 Estados de prontidão .................................................................................................. 12
2.1.1 Classificação dos estados de prontidão ...................................................................... 12
2.2 Estados de prontidão e a atuação policial-militar ..................................................... 15
3 AVALIAÇÃO DE RISCOS................................................................................................. 18
3.1 Metodologia de avaliação de riscos ........................................................................... 18
3.2 Aplicação ...................................................................................................................... 20
4 PENSAMENTO TÁTICO .................................................................................................. 21
4.1 Quarteto do pensamento tático .................................................................................. 21
4.1.1 Leitura do ambiente .................................................................................................... 24
4.1.2 Alinhamento com os estados de prontidão.................................................................. 25
4.2 Processo mental da agressão..................................................................................... 27
5 INTERVENÇÃO POLICIAL .............................................................................................. 30
5.1 Níveis de intervenção .................................................................................................. 30
5.2 Etapas da intervenção ................................................................................................. 31
5.3 Abordagem policial ...................................................................................................... 33
5.3.1 Fundamentos da abordagem policial a pessoa em atitude suspeita............................ 34
5.4 Requisitos básicos para intervenção policial-militar ................................................ 36
6 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO ................................................................................... 37
6.1 Comunicação na intervenção policial ........................................................................ 38
6.1.1 Verbalização durante a abordagem policial................................................................. 41
6.2 Considerações finais ................................................................................................... 48
7 USO DA FORÇA .............................................................................................................. 50
7.1 Princípios do uso da força .......................................................................................... 51
7.1.1 Níveis de comportamento da pessoa abordada .......................................................... 54
7.1.2 Uso diferenciado da força ........................................................................................... 55
7.1.3 Modelo Gráfico do uso diferenciado da força .............................................................. 59
7.1.4 Responsabilidade pelo uso da força ........................................................................... 60
7.2 Arma de fogo................................................................................................................ 61
7.2.1 Regras gerais de controle ........................................................................................... 61
7.2.2 Normas de segurança ................................................................................................. 62
7.2.3 Usar ou empregar arma de fogo ................................................................................. 63
7.2.3.1 Possibilidades de uso ou emprego de armas de fogo: ............................................. 64
7.2.4 Atirar ou disparar arma de fogo ................................................................................... 67
7.2.4.1 Objetivo do disparo .................................................................................................. 67
7.2.4.2 Procedimentos para o disparo da arma de fogo ....................................................... 70
7.2.4.3 Circunstâncias especiais para o disparo de arma de fogo........................................ 72
7.2.4.4 Procedimentos após o disparo de arma de fogo ...................................................... 76
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 77
MANUAL TÉCNICO PROFISSIONAL Nº 3.04.01/2020 – CG

Intervenção Policial, Processo de Comunicação e Uso da


Força

1 APRESENTAÇÃO

Os fundamentos aplicados neste “Manual Técnico-Profissional” estão em conformidade com


a legislação brasileira e com os documentos oriundos da Organização das Nações Unidas
(ONU), aplicáveis à função policial, quais sejam: Princípios Básicos sobre a Utilização da
Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei
(PBUFAF), o Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação da Lei (CCEAL), o
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP), o Pacto Internacional dos
Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (PIDSEC) e a Convenção Contra a Tortura e
outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes.

Expressar toda a complexidade da atividade policial-militar em um conjunto de textos é


desafiador. Cada intervenção é singular e exige flexibilidade do profissional. Mas é
necessário ter parâmetros bem definidos que deem sustentação às ações policiais militares,
mesmo considerando essa versatilidade. Diante dessa realidade, caracterizada por tantas
variáveis, é imprescindível respeitar os princípios legais e éticos que conferem identidade e
legitimidade à profissão policial-militar e aplicar técnicas e procedimentos consolidados pela
experiência de seus integrantes. A construção do escopo doutrinário declara o que esta
atividade tem de essencial, constante e estável; uma estrutura sólida que servirá de guia
sobre a atividade operacional da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG).

Registra-se ainda que o vigor operacional da Corporação, sua força e eficiência devem se
mostrar no esforço e energia diária desprendidos por todos os policiais militares na garantia
da lei e da ordem no Estado de Minas Gerais. Este exercício profissional deve traduzir-se
também, individualmente, na disciplina militar, lealdade, honestidade, espírito de corpo,
iniciativa, dedicação, equilíbrio emocional, coragem, abnegação, vigor físico, civismo e
patriotismo.

A PMMG apresenta um conjunto de Manuais Técnicos-Profissionais que estabelecem


métodos, técnicas e parâmetros que propiciam suporte à sua prática profissional e, por isso,
consistem em instrumentos educativos e de proteção, tanto para o policial quanto para o
cidadão.

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Este Manual Técnico-Profissional nº 3.04.01 (MTP 01) – Intervenção Policial, Processo
de Comunicação e Uso da Força tem como finalidade apresentar orientações básicas para
a efetividade das intervenções policiais e deve ser tomado como referencial obrigatório para
os demais Manuais Técnicos-Profissionais.

A Seção 2 deste manual, trata do Preparo Mental e dos Estados de Prontidão,


ressaltando a importância de o policial militar ensaiar possibilidades para antecipar
respostas e observar sua capacidade de reação para as diferentes situações do cotidiano
operacional.

A Seção 3 traz a metodologia para proceder à Avaliação de Riscos, ferramenta necessária


para diagnosticar as diversas situações de ameaça e as condições de segurança para uma
intervenção.

O Pensamento Tático é outro recurso importante para o diagnóstico de cada ocorrência.


Ele fornece elementos para analisar e controlar as diferentes áreas do “teatro de operações”
e buscar interferir no processo mental do agressor, subsidiando o planejamento da
intervenção. Será desenvolvido na Seção 4, em complemento à seção anterior.

A Seção 5 aborda o tema Intervenção Policial-Militar, suas etapas e classificação em três


níveis diferentes, em função dos objetivos e riscos avaliados. A Abordagem Policial, como
exteriorização da intervenção, também é tratada nesta seção, contudo, de forma introdutória,
pois será retomada mais detalhadamente nos outros Manuais Técnicos, devido à sua
importância na atividade policial-militar.

O Processo de Comunicação é tema da Seção 6, destacando a importância dos


elementos verbais e não verbais do processo de comunicação, como instrumento facilitador
em qualquer intervenção, aplicável em todos os níveis de uso da força pela Polícia Militar.

Finalizando, a Seção 7 dispõe sobre o Uso da Força, seus diferentes níveis, além de trazer
considerações e orientações sobre o Uso da Arma de Fogo e de Força Potencialmente
Letal, consistindo num referencial para que o policial militar tenha segurança em utilizá-la,
desde que em conformidade com os princípios éticos e legais que regem seu emprego.

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Este conjunto de Manuais Técnicos-Profissionais operacionais denomina-se Prática
Policial-Militar Básica e será composto pelos seguintes documentos:

a) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.01 – Intervenção Policial, Processo de Comunicação


e Uso da Força (MTP - 01);

b) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.02 – Abordagem a Pessoas (MTP - 02);

c) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.03 – Blitz Policial (MTP - 03);

d) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.04 – Abordagem a Veículos (MTP - 04);

e) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.05 – Escoltas Policiais e Conduções Diversas (MTP -


05).

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2 PREPARO MENTAL

É fato que cada ocorrência policial possui um conjunto de variáveis que a torna única. Cada
intervenção é singular, exigindo que o policial militar seja versátil e capaz de adaptar-se às
peculiaridades de cada situação do cotidiano operacional. Nesse contexto, a segurança do
policial militar, na execução das suas tarefas, está diretamente relacionada ao seu preparo
mental.

Considera-se preparo mental o processo de pré-visualizar os prováveis problemas a serem


encontrados em cada tipo de intervenção policial-militar e ensaiar mentalmente as
possibilidades de respostas. Essa antecipação desencadeia um conjunto de alterações
fisiológicas e psicológicas, colocando o policial militar num estado de prontidão que
ampliará sua capacidade de resposta a cada situação.

A falta do preparo mental do policial militar durante uma intervenção prejudicará o seu
desempenho, levando a um aumento de seu tempo de resposta à agressão e, assim, o uso
da força poderá ser inadequado (excessivo ou aquém do necessário para contê-la). Num
cenário mais grave, o policial militar pode ser levado a uma paralisia ou a um bloqueio na
sua capacidade de reagir, comprometendo, consequentemente, a segurança e o resultado
da ocorrência.

Visualizar as situações e respostas possíveis prepara o policial militar para a tomada de


decisões. Mesmo em circunstâncias adversas (por exemplo, ferido ou sob estresse), o
policial militar bem treinado terá como responder, adequadamente, dentro dos padrões
técnicos, legais e éticos.

O treinamento policial-militar baseado em situações práticas que se aproximam do cotidiano


profissional, somado à análise crítica de erros e acertos vivenciados na experiência real,
contribuem para o desenvolvimento da habilidade do policial militar pensar sobre como ele
agiria nas diversas situações, visualizando mentalmente suas respostas e definindo
previamente o seu procedimento básico. Dessa forma, ele criará rotinas seguras para sua
atuação.

Por isso, o treinamento policial-militar deve ser contínuo, valorizando o preparo mental,
tanto quanto todas as atividades da capacitação profissional.

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LEMBRE-SE: Ao desenvolver o preparo mental, o policial militar
antecipa-se, fazendo uma avaliação preliminar das ameaças e
considera as possibilidades de atuação.

2.1 Estados de prontidão

Na atividade profissional, o policial militar lida com diversas situações caracterizadas por
diferentes níveis de risco e complexidade. Cada momento exigirá dele uma habilidade de
antecipar e reagir ao perigo e atuar em um estado de prontidão diferente.

Os estados de prontidão são definidos por um conjunto de alterações fisiológicas


(frequência cardíaca, ritmo respiratório, dentre outros) e das funções mentais (concentração,
atenção, pensamento, percepção, emotividade) que influenciam na capacidade de reagir às
situações de perigo. É importante destacar que os estados de prontidão dependem de
fatores subjetivos, tais como experiências anteriores, domínio técnico e relacionamento com
a equipe de trabalho, que influenciam no modo como cada policial militar percebe e
responde a um mesmo estímulo.

2.1.1 Classificação dos estados de prontidão

Os diferentes estados de prontidão são classificados da seguinte forma:

a) Estado Relaxado

É caracterizado pela distração em relação ao que está acontecendo ao redor, pelo


pensamento disperso e pelo relaxamento psíquico do policial militar. Pode ser ocasionado
por uma percepção errônea da ausência de perigo ou mesmo por cansaço. É representado
pela cor branca.

O policial militar encontra-se despreparado para um eventual confronto e, caso uma


intervenção seja necessária, aumentará consideravelmente os riscos e comprometerá a sua
segurança individual e a de sua guarnição.

Exemplo: o policial militar de folga, em casa, almoçando com sua família, pode se encontrar
no estado relaxado. Por outro lado, em patrulhamento, escutar uma música com fone de

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ouvido ou usar o celular para assuntos diversos que desviem sua atenção do policiamento
executado, colocará a sua segurança e a de seu grupo em risco, caso tenha que fazer uma
intervenção inesperada.

ATENÇÃO! Na atividade operacional ou em deslocamento fardado


ou à paisana, em ambientes não controlados, o policial militar NÃO
deve estar no estado relaxado (branco).

b) Estado de Atenção

Neste estado de prontidão, o policial militar está atento, precavido, mas não está tenso.
Apresenta calma, porém, mantém constante vigilância das pessoas, dos lugares, das coisas
e ações ao seu redor por meio de uma observação multidirecional e da atenção difusa (em
360º). É representado pela cor amarela.

No Estado de Atenção, o policial militar estará preparado para empregar ações de


respostas adequadas às situações de normalidade. Não há identificação de um ato hostil e,
embora não haja um confronto iminente, o policial militar está ciente de que uma agressão é
possível. Percebe e avalia constantemente o ambiente, atento a qualquer sinal que possa
indicar uma ameaça em potencial e a necessidade de intervenção.

Exemplos: o policial militar, realizando patrulhamento em sua área de responsabilidade e


interagindo com comerciantes, orientando-os quanto a dicas de segurança e, ao mesmo
tempo, estando atento a toda a movimentação de pessoas dentro e fora do estabelecimento
comercial; Qualquer deslocamento do policial militar fardado ou à paisana durante sua folga.
O mesmo se aplica aos Policiais Militares do Sistema de Inteligência da Polícia Militar
(SIPOM).

c) Estado de Alerta

Neste estado de prontidão, o policial militar detecta um problema e está ciente de que um
confronto é provável. Embora ainda não haja necessidade imediata de reação, o policial
militar se mantém vigilante, identifica prováveis riscos que exijam uso da força e calcula o
nível de resposta adequado. É representado pela cor laranja.

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Manter-se no estado de alerta diminui os riscos do policial militar ser surpreendido,
propiciando a adoção de ações de resposta, conforme a situação exigir. Deve-se avaliar a
necessidade de pedir apoio de outros policiais militares e, concomitantemente, identificar
prováveis abrigos (proteções) que possam ser utilizados.

Exemplos: o policial militar acionado pelo rádio por meio do Centro de Operações Policiais
Militares (COPOM) para atender a uma ocorrência em um local considerado zona quente de
criminalidade ou a um chamado de um roubo à mão armada ocorrido na sua região de
patrulhamento, e desloca-se a fim de tentar realizar a prisão dos agentes.

d) Estado de Alarme

Neste estado de prontidão, o risco é real e uma resposta do policial militar é necessária. É
importante focalizar a ameaça (atenção concentrada no problema) e ter em mente a ação
adequada para controlá-la, aliando a intervenção verbal ao uso das demais técnicas
(inclusive de menor potencial ofensivo), ou da força potencialmente letal, conforme as
circunstâncias exigirem. É representado pela cor vermelha.

O preparo mental e o treinamento técnico recebido possibilitarão ao policial militar condições


de realizar sua defesa e a de terceiros e, mesmo em situações de emergência, decidir
adequadamente.

Exemplos: o policial militar intervindo no atendimento de uma ocorrência, como num conflito
entre vizinhos, e um deles ameaça o outro com uma arma de fogo; ou quando se depara
com um veículo que acaba de ser tomado de assalto, iniciando-se uma perseguição ao
veículo em fuga.

e) Estado de Pânico

Quando o policial militar se depara com uma ameaça para a qual não está preparado ou
quando se mantém num estado de tensão por um período de tempo muito prolongado, seu
organismo entra num processo de sobrecarga física e emocional. É representado pela cor
preta.

Nesse caso, podem ocorrer falhas na percepção da situação, comprometendo sua


capacidade de reagir adequadamente à ameaça enfrentada. Isso caracteriza o estado de
pânico .

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O pânico é o descontrole total que produz paralisia ou uma reação desproporcional,
portanto ineficaz. É chamado assim porque a mente entra em uma espécie de “apagão”, o
que impossibilita ao policial militar dar respostas apropriadas ao nível da ameaça sob a qual
estaria exposto.

Durante o estado de pânico, poderá ocorrer o retorno parcial e momentâneo ao estado de


alarme, o que até poderá propiciar alguma capacidade de reação. Contudo, é importante
interpretar essas oscilações dos estímulos mentais (percepção, atenção ou pensamento)
como um grave sinal de perigo e esgotamento mental, e não como indicativos de que o
policial militar suporta bem o estresse oferecido pela situação.

Exemplos: o policial militar que abandona um abrigo e atraca-se fisicamente com um


agressor ou que utiliza a arma de fogo sem controle, atirando de maneira instintiva ou, até
mesmo, entrar em uma situação de letargia física ou paralisia momentânea, deixando de
acompanhar sua guarnição, quando em deslocamento no local da ocorrência.

2.2 Estados de prontidão e a atuação policial-militar

O estado de atenção (amarelo) é o estado de prontidão no qual o policial militar deve


operar durante uma situação de normalidade (exemplo: patrulhamento ordinário), dando
prioridade para a identificação de possíveis riscos.

Durante uma intervenção, policiais militares podem ser feridos em decorrência de situações
de risco que não anteciparam, não viram ou não estavam mentalmente preparados para
enfrentar. No transcorrer da ação, quando uma mudança de estado de prontidão é exigida,
aumentando o nível de concentração do policial militar (para o estado de alerta - laranja
ou alarme - vermelho), a partida do estado de atenção (amarelo) é muito mais fácil do que
um salto do estado relaxado (branco).

Como já foi dito anteriormente, nesse último caso, partindo do estado relaxado (branco), o
policial militar estaria tão despreparado que poderia até entrar numa situação de pânico
(preto).

Ressalta-se que o estado de atenção (amarelo) pode ser mantido por um período mais
prolongado sem sobrecarregar as funções físicas e mentais. Contudo, o estado de alerta
(laranja) e o estado de alarme (vermelho) podem ser mantidos pelo organismo e pela mente
apenas por períodos de tempo relativamente curtos, pois exigem um dispêndio maior de

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energia. Operar continuamente nesses avançados níveis de prontidão pode desencadear
reações adversas, tanto no âmbito físico quanto psicológico, levando a síndromes de
esgotamento (estresse crônico).

Caso a ocorrência tenha exigido atuação no estado de alarme (vermelho), quando cessada
a situação de ameaça, é importante incentivar o policial militar a retornar ao estado de
atenção (amarelo), se as condições de segurança do ambiente assim permitirem. Essa
medida favorece o retorno do organismo às condições de funcionamento normal, sem muito
desgaste.

Esse processo pode ser conduzido, logo após o desfecho da ocorrência, pelo próprio
comandante da guarnição ou pelo comandante do turno, incentivando o grupo a conversar
sobre a experiência vivida. A manutenção do espírito de equipe e da confiança entre líder e
liderados são fatores importantes para minimizar o desgaste do profissional.

Posteriormente, durante os horários de folga, em ambientes controlados, os policiais


militares devem ser incentivados a buscar um repouso (estado relaxado – branco). A
participação em atividades junto à família ou amigos, a prática de esportes, atividades
culturais, ou outros hábitos de vida mais saudáveis devem fazer parte da rotina durante as
folgas.

Caso o policial militar sinta os efeitos do estado de pânico, mesmo durante as folgas, é
extremamente recomendado buscar apoio na sua unidade e incentivado o contato com
profissionais da área de saúde, (psicólogos, terapeutas, etc) seja nos Núcleos de Atenção
Integral à Saúde (NAIS), diretamente no Hospital da Polícia Militar (HPM) ou profissionais de
saúde da rede de conveniados.

Caso não haja preocupação com essas medidas, o policial militar estará mais propenso a
desenvolver um quadro de estresse crônico. Comportamentos de irritabilidade, intolerância e
impaciência são sintomas comuns e, agindo sobre os efeitos deste quadro, o policial militar
poderá responder de forma impulsiva quando se deparar com situações de ameaça e perigo,
ou ainda, com reações exageradas mesmo em ocorrências com baixo nível de risco e
complexidade (nível de força incompatível com a análise de risco e reação do abordado).

Tudo isso pode favorecer o surgimento do estado de pânico (preto) durante o serviço
operacional. Medidas que incentivam o retorno ao estado relaxado (branco) são, portanto,
estratégias que contribuem tanto para a prevenção da saúde mental do profissional de

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segurança pública quanto para evitar a banalização de atos de violência nas intervenções
policiais militares.

O acompanhamento com o profissional de saúde promoverá uma melhora na qualidade de


vida do policial militar, e permitirá um resultado positivo na atividade profissional, além de
evitar atingir graus de estresse mais elevados que o serviço exige.

Assim, o estado de prontidão do policial militar é considerado tão fundamental quanto os


equipamentos e armamentos colocados à sua disposição no serviço ou patrulhamento, pois,
juntamente com o domínio técnico e o condicionamento físico, é ele que determinará sua
condição de resposta à situação apresentada.

Quanto melhor preparado mentalmente, melhor condição o policial militar terá para:

a) detectar sinais de riscos e de ameaças;


b colocar-se no estado de prontidão apropriado para cada situação;
c) ter autodomínio para passar para um nível mais alto ou mais baixo de prontidão, de
acordo com a evolução da intervenção.

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3 AVALIAÇÃO DE RISCOS

Toda intervenção envolve algum tipo de risco potencial que deverá ser considerado pelo
policial militar. O risco é a probabilidade de concretização de uma ameaça contra pessoa e
bens.

Cada situação exigirá que ele se mantenha no estado de prontidão compatível com a
gravidade dos riscos que identificar, podendo migrar de um estado de prontidão para outro
que a situação exigir. Uma ponderação prévia irá orientar o policial militar sobre a
necessidade e o momento de iniciar a intervenção, escolhendo a melhor maneira para fazê-
lo.

Toda ação policial-militar deverá ser precedida de uma avaliação dos riscos envolvidos, que
consiste na análise da probabilidade da concretização do dano e de todos os aspectos de
segurança que subsidiarão o processo de tomada de decisão em uma intervenção,
formando um componente importante do diagnóstico provável da intervenção.

O risco é incerto, mas é previsível e em sua avaliação o policial militar deverá ter em mente
que, em qualquer processo de tomada de decisão em ambiente operacional, a Polícia Militar
tem o dever funcional de preservar vidas, de servir e proteger a sociedade, preservar a
ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, garantindo o cumprimento da
lei1.

3.1 Metodologia de avaliação de riscos

Esta metodologia compreende cinco etapas, sendo elas:

a) Etapa 1 - identificação de direitos e garantias2 sob ameaça: consiste em identificar


qual direito ou garantia está exposto ao risco, os bens móveis e imóveis sujeitos a algum
tipo de dano, as circunstâncias e o histórico dos fatos, o comportamento das possíveis
vítimas envolvidas, o tipo de delito e a possibilidade de evolução do problema.

b) Etapa 2 - avaliação das ameaças: consiste em avaliar as características dos fatores que
ameaçam direitos e garantias. Para tanto, o policial militar deve obter informações do infrator
em potencial (idade, sexo, compleição física, estado emocional e psicológico, motivação

1 Inciso V do art. 144 da Constituição Federal Brasileira.


2 Os direitos e garantias são os previstos na Constituição Federal de 1988.

18
para o ato, armas empregadas, trajetória criminal, registro anterior de agressão ou da ação
contra policiais, entre outros);

c) Etapa 3 – classificação de risco: a classificação de risco permite ao policial militar agir


dentro de padrões de segurança, auxilia na escolha do comportamento tático mais
adequado, além de lhe propiciar melhores condições para assegurar os direitos e proteger
todos os envolvidos. A classificação de risco está estruturada em 3 níveis:

 Risco nível I - caracterizado pela reduzida possibilidade de ocorrerem ameaças que


comprometam a segurança. Este nível de risco está presente em situações rotineiras do
patrulhamento e intervenções de caráter preventivo, educativo e assistencial. O estado de
prontidão coerente com o risco de nível I é o estado de atenção (amarelo);

 Risco nível II - caracterizado pela real possibilidade de ocorrerem ameaças que


comprometam a segurança. São situações nas quais existe fundada suspeita, mas que a
intervenção policial-militar consiste numa averiguação preventiva. O estado de prontidão
coerente com o risco de nível II é o estado de alerta (laranja);

 Risco nível III - caracterizado pela concretização do dano ou pelo risco real e iminente.
São situações nas quais a intervenção policial-militar é de caráter repressivo3. O estado de
prontidão coerente com o risco de nível III é o estado de alarme (vermelho).

d) Etapa 4 – análise das vulnerabilidades: consiste em analisar os recursos que existem


para responder à ameaça, dentre eles:

 Competências profissionais dos policiais militares para agir no cenário em função das
técnicas e táticas adequadas aos tipos de ameaças;

 Efetivo policial-militar suficiente para atuar com supremacia de força;

 Meios que o policial militar dispõe para intervir de forma efetiva e segura (armamento,
colete balístico, equipamento para comunicação, veículos, entre outros).

3A palavra “repressivo” admite conotação depreciativa relacionada, principalmente, a fatores históricos, políticos,
culturais e ideológicos referentes à tríade classe, raça e gênero. Contudo, no âmbito da atividade policial-militar,
o termo é empregado para caracterizar ações de cunho técnico e profissional voltadas a coibir atos ilícitos que
ameaçam direitos fundamentais.

19
e) Etapa 5 – avaliação dos possíveis resultados: é a análise da relação custo-benefício
da intervenção policial-militar diante de cada situação de risco. Cabe ao policial militar
estimar quais serão os resultados de suas ações e seus reflexos na defesa da vida e das
pessoas, no reforço de um cenário de paz social e na imagem da PMMG.

3.2 Aplicação

A Avaliação de Riscos possibilita o uso de técnicas e táticas adequadas às diversas formas


de intervenção policial (ver Intervenção Policial – Seção 5).

Para cada nível de risco determinado, haverá condutas operacionais pré-estabelecidas


como referência para a ação policial-militar, cabendo-lhe selecionar os procedimentos mais
adequados a cada situação.

Cada atuação da Polícia Militar é cercada de particularidades. Não existem ocorrências


iguais, contudo é possível desenhar um conjunto de “situações básicas” que podem servir
de modelos aplicáveis ao treinamento.

A sistematização das respostas esperadas a partir da identificação e classificação de riscos


em uma intervenção policial-militar viabiliza a seleção e a aplicação de procedimentos
adequados à solução de problemas, como será visto na seção seguinte.

LEMBRE-SE: não é possível afastar completamente o risco em uma


intervenção policial militar, mas o preparo mental, o treinamento e a
obediência às normas técnicas garantem uma probabilidade maior
de sucesso.

20
4 PENSAMENTO TÁTICO

Pensamento tático é o processo de análise do cenário da intervenção policial-militar (leitura


do ambiente). Consiste em mapear as diferentes áreas do “teatro de operações” em função
dos riscos avaliados, identificar perímetros de segurança para atuação, priorizar os pontos
que exijam maior atenção e tentar interferir no processo mental do agressor, limitando sua
ação.

Enquanto o preparo mental ocorre antes da intervenção, o pensamento tático ocorre


concomitantemente com a avaliação de riscos, sendo importantes componentes do
diagnóstico provável da intervenção. Num processo dinâmico, atualiza-se em função da
evolução da ocorrência.

AVALIAÇÃO DE RISCOS + PENSAMENTO TÁTICO =

DIAGNÓSTICO PROVÁVEL DA INTERVENÇÃO

4.1 Quarteto do pensamento tático

O pensamento tático é norteado pelo quarteto: área de segurança, área de risco, ponto
de foco e ponto quente.

Figura 1 - Quarteto do pensamento tático

Fonte: Elaborado pelo autor.

21
Ao aplicar esses conceitos, o policial militar terá melhores condições para avaliar e reagir
adequadamente aos riscos que possa vir a enfrentar, mesmo sob estresse.

O emprego do pensamento tático permite ao policial militar:

 Dividir em diferentes níveis de perigo o local onde se encontra ou para onde se dirige
(“teatro de operações”);

 Formular um plano de ação;

 Estabelecer prioridade para dirigir a atenção e determinar pontos que devam ser
controlados;

 Manter segurança individual e da equipe no desenrolar da ocorrência;

 Controlar ameaças que possam surgir.

Os conceitos que se seguem devem ser entendidos de maneira ampla e sistêmica, sendo
adaptáveis às diversas situações operacionais:

a) Área de segurança

É a área na qual a Polícia Militar tem o domínio da situação, não havendo, presumidamente,
riscos à integridade física e à segurança dos envolvidos. É o espaço onde o policial militar
deve, primeiramente, se colocar durante a intervenção, evitando se expor a perigos
desnecessários.

Exemplo: Manter-se abrigado nos arredores de uma residência já cercada por policiais
militares, devidamente protegidos onde, no interior da edificação, se encontra o suspeito da
prática de um delito, armado.

b) Área de risco

Consiste num espaço físico delimitado, no “teatro de operações”, onde há maior


probabilidade de existir ameaças, potenciais ou reais, que ponham em perigo a integridade
física e a segurança dos envolvidos. Via de regra, o policial militar não deve estar neste
espaço sem controlá-lo. É a área na qual o policial militar não detém o domínio da situação,

22
por ainda não ter realizado buscas, torna-se, uma fonte de perigo para ele ou terceiros, e
por isso requer que os riscos envolvidos sejam rigorosamente avaliados (ver Avaliação de
Riscos – seção 3).

Exemplo: o interior de uma residência onde se encontram suspeitos da prática de um delito,


considerando que os policiais militares já dominaram os arredores da edificação.

ATENÇÃO! O policial militar para adentrar a área de risco deve


considerar os perigos que ali se encontram.

c) Ponto de foco

Os pontos de foco são partes dentro da área de risco que requerem monitoramento
específico e demandam imediata atenção do policial militar, uma vez que deles podem
surgir ameaças que representem risco à segurança dos envolvidos, ou seja, elementos no
ambiente para os quais há a convergência do pensamento, acerca do risco real ou potencial
que representa para a atuação policial, e que demandam cautela na conduta operacional.
Portas, janelas, escadas, corredores, partes dos veículos, obstáculos físicos, escavações,
uma pessoa, ou qualquer outro elemento no local de atuação que possa oferecer ameaça,
mesmo que não imediatamente visível ou conhecida.

Exemplo: Uma porta que dá acesso a um dos cômodos do interior da residência,


considerando que os policiais encontram-se no interior da residência executando um
adentramento tático.

d) Ponto quente

Os pontos quentes são partes do ponto de foco que possuem um maior potencial de se
tornarem fontes reais de agressão e que, por isso, devem ser cautelosamente monitorados
para garantir a segurança de todos os envolvidos. O policial militar direcionará sua atenção,
energia e habilidade para essas fontes a fim de responder adequadamente, considerando os
princípios e as regras para o uso da força.

Seguindo o exemplo da alínea “c) Ponto de foco”, o ponto quente será o suspeito da prática
de um delito, que está posicionado na porta que dá acesso a um dos cômodos.
É necessário compreender que a definição do que será ponto de foco e ponto quente ocorre
de maneira contínua e dinâmica, decorrente da avaliação de riscos. Isso permite ao policial

23
militar reclassificá-los à medida que os locais de onde podem partir as ameaças vão sendo
identificados e/ou controlados, mais especificamente.

No exemplo anterior, no primeiro momento, o suspeito na porta foi definido como um ponto
quente. Contudo, quando o policial militar identifica que ele está com uma arma de fogo, a
partir de então, o abordado será considerado como um ponto de foco e suas mãos passam
a ser o ponto quente.

Outro exemplo: um veículo suspeito será considerado ponto de foco e um indivíduo que está
em seu interior o ponto quente. Esse mesmo indivíduo poderá tornar-se o ponto de foco e
suas mãos serão definidas como o ponto quente. Igual atenção deverá ser dada às janelas,
portas e porta-malas, pois são locais prováveis para o surgimento de ameaças (pontos
quentes).

4.1.1 Leitura do ambiente

Existem três questões chaves para uma correta leitura do ambiente, que levam à
identificação dos riscos presentes numa intervenção policial:

 Onde estão os riscos potenciais nesta situação?

Ao se aproximar de uma residência para atendimento de uma ocorrência, uma mulher sai
correndo de dentro da casa na direção ao policial militar. Considere, a mulher, em si mesma,
é uma ameaça?

Onde estão as portas e janelas das quais o policial militar pode ser visto ou atingido por
alguém que se encontre dentro da residência? Que outros locais podem abrigar um
agressor que não foi visto?

 Esses riscos estão controlados?

Na cena descrita, existem locais de ameaça que o policial militar ainda não controla.
Qualquer foco de ameaça que não esteja sob o controle visual de pelo menos um policial
militar é um risco que não se controla. No exemplo, o policial militar não deve se colocar
parado no passeio em frente à residência, exposto a tais pontos de foco, pois aumenta o
perigo potencial de sofrer um ataque.

24
 Se esses riscos não estão controlados, como fazer para controlá-los?

Nesse exemplo, o policial militar pode considerar os possíveis abrigos próximos: uma
grande árvore, uma coluna de varanda, um carro estacionado, uma caçamba ou outro meio
de proteção. Abrigado numa área de segurança, o policial militar utiliza a verbalização para
identificar e direcionar a mulher para uma posição segura e, simultaneamente, checa,
periodicamente, o ambiente em sua volta, avalia a área de risco, identifica os pontos de foco
e visualiza os pontos quentes.

LEMBRE-SE: ao se colocar num estado de prontidão adequado,


passando do estado de atenção (amarelo) para o estado de alerta
(laranja) ou para o estado de alarme (vermelho), quando necessário,
o policial militar estará melhor preparado para identificar os pontos
de foco e seus pontos quentes.

4.1.2 Alinhamento com os estados de prontidão

É possível alinhar os conceitos do pensamento tático com o estado de prontidão. Quando o


policial militar se aproxima da área de risco e começa a analisá-la, o seu estado de
prontidão deve ser o de alerta (laranja), precavendo-se contra situações adversas e estando
consciente de que o perigo pode estar presente.

Ao chegar ao local de intervenção, é necessário avaliar a área de risco, procedendo à


identificação dos pontos de foco e seus pontos quentes. O policial militar deve questionar se
é possível controlar todos os pontos (todas as pessoas e suas mãos, casas e suas janelas e
portas, dentre outros).

Ao identificar um ponto de foco, o policial militar deverá esforçar-se ainda mais para manter
o controle visual da situação. O estado de prontidão poderá subir para o estado de alarme
(vermelho), conforme o caso. O policial militar deverá estar atento e preparado para fazer
uso da força diante de uma possível agressão.

Quando o policial miliatar localiza um risco real no ponto quente, o estado de prontidão
deverá atingir, definitivamente, o estado de alarme (vermelho), contribuindo para que o
policial militar esteja em condições de controlar a ameaça.

25
Em algumas situações, a avaliação de riscos leva o policial militar à conclusão de que não
possui condições suficientes (efetivo de policiais, armamento, treinamento, entre outros)
para agir imediatamente (etapa 4 da avaliação de riscos). Nesse caso, recomenda-se ao
policial militar algumas ações de primeiro interventor4:

a) não adentrar a área de risco;


b) conter a crise, ou seja, impedir que outras pessoas ou áreas sejam envolvidas;
c) isolar o local;
d) solicitar apoio via rede de rádio;
e) iniciar a verbalização.

O objetivo do policial militar em uma ocorrência é, de modo geral, impedir o agravamento de


qualquer situação e solucionar os problemas. Quando o policial militar não se expõe a
perigos desnecessários e trabalha sem invadir a área de risco, identificando e controlando
os pontos de foco, ele possui mais chances de evitar confronto direto e terá mais tempo e
maior segurança para decidir quando e como agir.

Em situações em que há mais de um policial militar, é possível dividir os pontos de foco de


uma área de risco. O número de policiais militares empregados em uma intervenção deve
ser, sempre que possível, capaz de proporcionar o controle de todos os pontos de foco e
seus pontos quentes.

Algumas vezes, policiais militares se concentram em um mesmo ponto de foco deixando


outros sem controle. Todos os pontos de foco devem estar sob vigilância e, para isso,
deverá ocorrer uma ação coordenada por parte dos policiais. Jamais um ponto de foco pode
ser desconsiderado.

O policial militar que verbaliza manterá contato visual com o abordado, sempre olhando para
ele. Isso interferirá no processo mental do agressor, reduzindo sua capacidade de reação.

Se uma ameaça real surge de um ponto de foco, a habilidade e o preparo mental para
entender e controlar os seus pontos quentes serão os suportes para a resposta correta do
policial militar. Nesse sentido, duas considerações são importantes:

4Primeiro interventor é o primeiro policial que chega no local da ocorrência e inicia o protocolo de solução de
crise, quando esta extrapola o atendimento rotineiro.

26
 Não dispersar e não dividir a atenção!

Pode ser possível monitorar mais de um ponto de foco, ao mesmo tempo, pelo policial
militar, dependendo da situação, da distância em que se encontram e do tempo necessário
para a reação. Mas ele não conseguirá controlar, plenamente, mais de um ponto quente por
vez. O estado de alarme (vermelho) demanda muita atenção quando um ponto quente é
identificado, sendo necessário avaliar qual ameaça é a mais séria e imediata e nela
concentrar esforços. Estando ela dominada, a probabilidade de agressão diminui.

 Não confundir atenção concentrada com visão em Túnel;

Em uma situação de risco iminente, o policial militar deve concentrar toda a sua força e
energia para controlar a ameaça o mais rápido possível. Por outro lado, a “visão em túnel”
ocorre quando o policial militar fixa seu olhar e sua atenção em apenas um ponto, perdendo
a capacidade de percepção do que se encontra à sua volta. Como consequência, poderá
eleger um objetivo incorreto ou um conjunto de ações inadequadas para atingi-lo.

O policial militar, na sua prática operacional diária, deve lidar com a probabilidade de riscos,
preparando-se para enfrentar ameaças onde quer que elas possam ocorrer. Não é possível
eliminar todos os riscos da sua atividade, mas, usando corretamente os princípios do
pensamento tático, haverá uma redução substancial do perigo.

4.2 Processo mental da agressão

Consiste nas etapas percorridas por uma pessoa que intenciona agredir o policial militar, da
seguinte maneira:

 Identificar: captar o estímulo por meio da visão, dos sons ou de outra forma de perceber
a presença do policial militar;

 Decidir: definir o que fazer, isto é, preparar-se para o ataque ou ocultar-se;

 Agir: colocar em prática aquilo que decidiu.

Conhecer esse processo é identificar os estágios de pensamento que uma pessoa seguirá
para agredir o policial militar. Utilizar essa informação no contexto das ações e operações
possibilita minimizar ou evitar uma ameaça direta.

27
Usualmente, as etapas do processo mental da agressão percorridas pelo suspeito ocorrem
nesta sequência (IDENTIFICAR, DECIDIR E AGIR), porém, ocasionalmente, podem não
ocorrer nesta ordem. Exemplo: o suspeito pode estar com a arma pronta para disparar,
apontada para a esquina de um beco em um aglomerado urbano, antes mesmo de
identificar um alvo.

Qualquer que seja a ordem, um provável agressor tem apenas esse processo de
pensamento para percorrer. Isso coloca o policial militar em desvantagem, pois, enquanto o
agressor passa por TRÊS fases para executar o ataque, o policial militar passa por
QUATRO fases, a fim de responder a ameaça.

IDENTIFICAR – CERTIFICAR – DECIDIR – AGIR

Após identificar a provável agressão, o policial militar deve se certificar para depois decidir e
agir em consonância com os princípios do uso da força (legalidade, necessidade,
proporcionalidade), e com os parâmetros éticos. A interpretação da execução do ato policial
varia de acordo com a situação fática.

O conhecimento do processo mental do agressor propicia a construção de ideias em um


pequeno espaço de tempo para antecipar o perigo, identificar e entender o ato de agressão
que está ocorrendo. Sabendo que o tempo para reagir é curto, a melhor maneira de
trabalhar com essa desvantagem é alongar e manipular o processo mental do agressor.

Cinco fatores são úteis na tentativa de compensar as possíveis desvantagens entre os


processos mentais do agressor e do policial militar:

a) ocultação: se o agressor não sabe exatamente onde o policial militar está, ele terá
dificuldades em IDENTIFICÁ-LO para um ataque. Assim, poderá atirar ou atacá-lo a esmo,
em um “esforço cego” para atingi-lo, mas, muito provavelmente, sua tentativa será inútil,
caso o policial militar se encontre devidamente abrigado e coberto (oculto) na área de
segurança.

b) surpresa: caracteriza-se por medidas que dificultam a percepção do abordado em


relação ao policial militar, ou seja, é uma ação inesperada para o suspeito, surpreendendo-o
e reduzindo seu tempo de reação.

28
c) distância: de uma maneira geral, o policial militar deverá manter- se a uma distância que
dificulte qualquer tipo de ação por parte do abordado. Certamente, se um ataque físico é a
preocupação, quanto maior a distância a ser percorrida pelo agressor para atacar, mais
tempo ele demorará para atingir o policial militar que, por sua vez, terá mais tempo para
identificar, certificar, decidir e repelir a ameaça.

Quanto mais próximo de um agressor, maiores são as chances do policial militar ser atingido.
O policial militar estará mais seguro, quando permanecer a uma distância adequada e sob a
proteção de um abrigo. Principalmente considerando se tratar de infratores com armas
brancas, onde o policial poderá usar a regra de Tueller5 ou regra dos 21 pés (6,4 metros).

d) autocontrole: na ânsia de ver o êxito de suas atuações, os policiais militares,


frequentemente, abreviam boas táticas ou se lançam dentro da área de risco na presença
de um suspeito potencialmente hostil. Por outro lado, se o policial militar faz com que ele
venha até a área de segurança, que está sob seu controle, estará provavelmente
interferindo em todo o processo de pensamento do agressor, desarticulando, desse modo,
suas ações.

e) proteção: este princípio é, sem dúvida, o mais importante entre todos. Se o policial militar
pode posicionar-se atrás de algo que verdadeiramente o proteja dos tiros e, ao movimentar-
se, utiliza abrigos, um agressor terá muita dificuldade em atacá-lo com sucesso. O abrigo
também lhe dará mais tempo para identificar qualquer outra ameaça que se apresente.

Em resumo, o policial militar deve procurar aumentar o tempo de decisão do agressor,


enquanto simplifica e encurta o seu próprio processo mental. Entender este processo
ajudará a avaliar as áreas de risco, estabelecendo perímetros de segurança e determinando
corretamente as prioridades, segundo os respectivos pontos de foco que se apresentarem.

5 Sargento Dennis Tueller, do Departamento de polícia de Utah (Estados Unidos) criou a Regra de Tueller ou
regra dos 21 pés (6,4 metros). A regra estabelece que esta distância é a mínima para ter possibilidades de se
defender com uma arma de fogo, diante de uma agressão com arma branca, considerando a arma no coldre em
condições de disparo.

29
5 INTERVENÇÃO POLICIAL

Entende-se por intervenção policial, a ação ou a operação que empregam técnicas e táticas
policiais, em eventos de defesa social, tendo como objetivo prioritário a promoção e a
defesa dos direitos fundamentais da pessoa. Toda intervenção policial deve ser
transformadora da realidade, objetivando, de modo geral, a prevenção e a resolução de
conflitos, o combate ao crime e à violência, a preservação da ordem e a garantia do
cumprimento da lei.

Uma intervenção da Polícia Militar pode ter como objetivos: o esclarecimento de dúvidas ou
o fornecimento de informações junto a um transeunte; a realização de uma busca pessoal,
em um veículo ou em uma edificação; uma ação de auxílio a uma pessoa acidentada ou
perdida; o cumprimento de mandado de prisão; a imobilização, a algemação e a condução
de pessoas; disparar arma de fogo de acordo com os princípios do uso da força e outras
formas de contato do policial militar com a sociedade.

Ao iniciar uma intervenção, o policial militar deve observar os aspectos éticos, normativos e
técnicos que regulam e orientam a sua execução. O conhecimento do conjunto normativo,
somado ao treinamento diuturno, garantirá o sucesso dessas ações.

5.1 Níveis de intervenção

Os Níveis de intervenção são classificações em função da respectiva avaliação de risco


(ver Avaliação de Riscos – seção 3), que podem ser adotadas como referência para a
atuação policial-militar. Estão estruturados em três níveis:

a) Intervenção nível I: adotada nas situações de caráter preventivo, educativo e


assistencial. A finalidade das ações policiais militares neste nível é promover um ambiente
seguro por meio de patrulhamento ordinário e contatos com a comunidade, para prevenir,
educar e assistir (risco de nível I). No entanto, é sempre necessário lembrar que as
situações rotineiras não podem provocar diminuição no nível de atenção do policial militar. O
estado de prontidão, neste tipo de intervenção, deverá iniciar no estado de atenção
(amarelo). O policial militar deve estar preparado para o caso da situação evoluir e ser
necessário fazer o uso da força.

b) Intervenção nível II - adotada nas situações em que haja a necessidade de


verificação preventiva. Neste caso, a avaliação de riscos indica que existe indício de

30
ameaça à segurança (do policial militar ou de terceiros). Assim, o policial militar deverá
manter-se em condições de respondê-la. (Risco nível II e estado de alerta - laranja). Neste
tipo de intervenção, além das ações descritas no nível 1, podem ser realizadas buscas em
pessoas, veículos ou edificações, pois as equipes envolvidas iniciam suas ações com algum
risco já conhecido (indício) e o policial militar deverá estar pronto para enfrentá-lo.

Exemplo: abordagem a pessoa ou veículo com características semelhantes às de


envolvidos em delitos; execução de patrulhamento e verificações em locais com histórico de
violência.

c) Intervenção nível III: adotada nas situações em que há certeza do cometimento da


infração, caracterizando ações repressivas. Neste caso, a avaliação de riscos indica a
iminência de algum tipo de agressão (Risco de nível III e estado de alarme - Vermelho). Os
policiais militares deverão estar prontos para o emprego de força, quando assim a situação
exigir, sempre com segurança, e observando os princípios da legalidade, necessidade e
proporcionalidade. (ver Uso da força - Seção 7).

Exemplo: um infrator avistado no momento de uma ameaça direta à vítima ou que, logo
após, empreende fuga e é perseguido pela polícia; um agente de crimes procurado pela
Justiça e que é identificado pelo policial militar.

5.2 Etapas da intervenção

Uma intervenção policial-militar deve ser dividida em etapas para garantir o seu sucesso:

a) Etapa 1 - DIAGNÓSTICO: elaborado a partir das informações sobre o motivo, o abordado


e o ambiente, obtidas por meio da avaliação de risco e do pensamento tático.

b) Etapa 2 - PLANO DE AÇÃO: consiste na decisão, acerca das atribuições de cada policial
militar, dos métodos e procedimentos para alcançar objetivos da intervenção. Os policiais
militares, trabalhando em equipe, devem ter atitudes coerentes entre si, fruto de uma
mesma avaliação de risco e um consequente escalonamento da força. É imprescindível
considerar os dados que subsidiaram o diagnóstico, os fundamentos da abordagem, os
princípios do uso da força e os recursos disponíveis (pessoas e equipamentos). O plano de
ação pode ser elaborado de forma simples e verbal, ou exigir maior estruturação, conforme
a avaliação da complexidade.

31
O policial militar precisa responder às seguintes perguntas:

- Porque estamos intervindo?


- Quem ou o quê iremos abordar?
- Onde se dará a intervenção?
- O que fazer?
- Como atuar?
- Qual a função e a posição de cada policial militar?
- Quando intervir?

c) Etapa 3 - EXECUÇÃO: é a ação propriamente dita, resultante das fases anteriores.


Consiste na aplicação prática do plano de ação, bem como da adoção de medidas
decorrentes da própria intervenção (prestação de auxílio ou orientação, busca pessoal,
prisão e/ou condução do agente e o registro do fato em Boletim de Ocorrência/Registro de
Evento de Defesa Social(BO/REDS).

d) Etapa 4 - AVALIAÇÃO: as condutas individuais e do grupo, os resultados alcançados e


as falhas notadas em cada intervenção devem ser, posteriormente, discutidas e analisadas,
e possíveis correções devem ser apresentadas, visando aperfeiçoar as competências
profissionais.

Figura 2 - Etapas da intervenção policial

Fonte: Elaborado pelo autor.

32
5.3 Abordagem policial

Na relação cotidiana entre a Polícia Militar e a comunidade, a abordagem policial é a forma


de intervenção policial mais comum, sendo executada em todos os níveis, como veremos a
seguir.

Trata-se de um conjunto de ações policiais militares ordenadas e qualificadas para que o


policial militar possa se aproximar de pessoas, veículos ou edificações com o intuito de
orientar, identificar, advertir, realizar buscas e efetuar detenções. Para tanto, utiliza-se de
técnicas, táticas e meios apropriados que irão variar de acordo com as circunstâncias e com
a avaliação de risco.

Qualquer contato do policial militar com as pessoas, decorrente da atividade profissional, é


considerada abordagem. Exemplos: orientações diversas, coleta de informações, contatos
comunitários, medidas assistenciais, buscas pessoais, imobilizações físicas, prisão e
condução.

O contato físico, necessário e inevitável em alguns tipos de abordagem (aquelas que geram
busca pessoal, principalmente), se torna um momento crítico, tanto para os policiais
militares quanto para os envolvidos. Por um lado, o abordado pode se sentir constrangido
pela intervenção à qual foi submetido e, por outro, pode oferecer riscos ao policial militar.
Por isso, ao realizar este procedimento, deve-se atuar, respeitando a dignidade e os direitos
fundamentais, sem descuidar-se das medidas de segurança.

Na abordagem policial, a busca pessoal, prevista e fundamentada no art 244 do Código de


Processo Penal, é realizada de ofício a partir de circunstâncias de fundada suspeita e que
se impõe, independentemente, de concordância da pessoa (ver MTP 02).

A posição em que o policial militar sustenta sua arma durante a abordagem dependerá da
avaliação de riscos da intervenção. O policial militar deve manter-se sempre atento ao
comportamento do abordado e não descuidar da sua segurança.

Quando, inicialmente, o abordado não apresentar indícios de suspeição, como nos casos de
orientação ou assistência, a abordagem poderá ser iniciada com a arma no coldre ou
localizada.

33
ATENÇÃO! Em relação às posições das armas 1, 2, 3 e 4, descritas na
seção 7.2.3 sobre o uso de arma de fogo, LEMBRE-SE SEMPRE:

ARMA LOCALIZADA: Adotada em casos de possibilidade de ruptura da


normalidade com a percepção de que a situação pode agravar-se – RISCO
NIVEL I ou II;

ARMA EM GUARDA-BAIXA: Adotada em deslocamentos táticos e


situações nas quais existem fundada suspeita, mas que a intervenção
policial-militar consiste numa averiguação preventiva (análise subjetiva) –
RISCO NIVEL II;

ARMA EM GUARDA-ALTA: Adotada em deslocamentos táticos e situações


onde há risco potencial ou real à segurança do policial militar e terceiros
(análise subjetiva) – RISCO NIVEL II ou III de acordo com a avaliação de
risco;

ARMA EM PRONTA-RESPOSTA: Adotada em situações onde está


ocorrendo risco real à segurança do policial militar e terceiros (percepção
objetiva) – RISCO NÍVEL III.

5.3.1 Fundamentos da abordagem policial a pessoa em atitude suspeita

Ao realizar este tipo de abordagem, o policial militar deverá observar a sigla SSRAU 6 ,
indicativa dos fundamentos da abordagem elencados abaixo, para potencializar suas ações
e assegurar que o objetivo proposto seja alcançado:

a) Segurança: caracteriza-se por um conjunto de medidas adotadas pelo policial militar para
controlar e mitigar os riscos da intervenção policial. Antes de agir, o policial militar deverá
identificar a área de segurança e a área de risco, monitorar os pontos de foco, controlar os
pontos quentes e certificar-se de que o perímetro está seguro. Sempre que possível, o
policial militar deverá agir com supremacia de força;

6 SSRAU é um processo mnemônico, descrito no Manual Básico de Policiamento Ostensivo Geral.

34
b) Surpresa: caracteriza-se por medidas que dificultam a percepção do abordado em
relação ao policial militar, ou seja, é uma ação inesperada para o suspeito, surpreendendo-o
e reduzindo seu tempo de reação.

c) Rapidez: é a velocidade com que a ação policial-militar é processada, o que contribui


substancialmente para a efetivação da “surpresa”. Não se pode confundir rapidez com
afobamento ou falta de planejamento. Em uma abordagem que resulta em busca pessoal, o
policial militar deve usar todo o tempo necessário para uma verificação exaustiva por objetos
ilícitos ou indícios de crime;

d) Ação vigorosa: é a atitude firme e resoluta do policial militar na ação, por meio de uma
postura imperativa, com ordens claras e precisas. Não se confunde com truculência. O
policial militar deve ser firme e direto, porém cortês, sereno, demonstrando segurança,
educação e bom senso adequado às circunstâncias da intervenção;

e) Unidade de comando: é a coordenação centralizada da intervenção policial-militar que


garante o melhor planejamento, fiscalização e controle. Da mesma forma, cada policial
militar envolvido na abordagem deve conhecer sua tarefa e qual a sua função específica
naquela intervenção, interagindo de forma harmônica, sabendo a quem recorrer,
respeitando a cadeia de comando.

LEMBRE-SE: O treinamento constante propicia condições ao policial


militar para agir com rapidez, sem descuidar dos princípios da
segurança.

A aplicação dos conceitos apresentados nesta seção e a observação das etapas da


intervenção e dos fundamentos da abordagem são essenciais para o resultado satisfatório
das intervenções policiais.

A educação e a polidez devem sempre ser observadas nas abordagens, uma vez que
alguns desfechos são agravados pela postura inadequada adotada pelo policial militar.

35
5.4 Requisitos básicos para intervenção policial-militar7

a) Conhecimento da missão: o desempenho das funções de Policiamento Ostensivo


impõe, como condição essencial para eficiência operacional, o completo conhecimento da
missão, que tem origem no prévio preparo técnico-profissional, decorre da qualificação geral
e específica e se completa com o interesse do indivíduo.

b) Conhecimento do local de atuação: compreende o conhecimento dos aspectos físicos


do terreno, do interesse policial-militar, assegurando a familiarização indispensável ao
melhor desempenho operacional.

c) Relacionamento: compreende o estabelecimento de contatos com os integrantes da


comunidade, proporcionando a familiarização com seus hábitos, costumes e rotinas, de
forma a assegurar o desejável nível de controle policial-militar, para detectar e eliminar as
situações de risco, que alterem ou possam alterar o ambiente de tranquilidade pública.

d) Postura e compostura: a atitude, compondo a apresentação pessoal, bem como, a


correção de maneiras no encaminhamento de qualquer ocorrência influem decisivamente no
grau de confiabilidade do público em relação à Corporação e mantém elevado o grau de
autoridade do policial militar, facilitando-lhe o desempenho operacional.

e) Comportamento na ocorrência: o caráter impessoal e imparcial da ação policial-militar


revela a natureza eminentemente profissional da atuação, em qualquer ocorrência, requer
que seja revestida de urbanidade, energia serena, brevidade compatível e, sobretudo,
isenção.

7 Conforme "Procedimentos Básicos" do Manual Básico de Policiamento Ostensivo.

36
6 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

A comunicação é um grande facilitador para o sucesso da atuação policial nas diversas


interações com o público, como um dos fatores mais importantes das intervenções policiais
militares, se bem realizado propiciará a melhoria da sensação de segurança e facilitará,
entre outros aspectos, as ações durante a abordagem propriamente. Por isso, o policial
militar deve dar atenção a este processo, para maximizar resultados positivos na sua
atividade profissional.

A comunicação é um processo de interação estabelecida no mínimo entre duas pessoas,


construindo entre ambas um intercâmbio de sentimentos e ideias. Este processo, por si só,
já remete a uma série de interpretações diferenciadas, pois, com características únicas que
temos, podemos entender distintamente as mensagens. Isso significa que, cada pessoa,
que se passa a considerar como interlocutor, troca informações baseadas em seu repertório
cultural, sua formação educacional, vivências, emoções e toda a "bagagem" que traz
consigo, assim como, o receptor agirá da mesma maneira, segundo o seu próprio filtro
cultural.

A maior dificuldade de interpretação está em fatores como a escolha de palavras utilizadas


na fala e na escrita, gestos e postura corporal, bem como o meio pelo qual a mensagem é
transmitida e estabelecida. Este canal também pode estar sujeito aos ruídos (celulares que
tocam em hora errada, barulho do trânsito, tom de voz alto ou baixo demais) e tantos outros
problemas que atrapalham a compreensão da mensagem enviada. A falta de clareza e a
adequação para o tipo de público, a impropriedade da técnica, a urgência com que a
mensagem é transmitida, e outros fatores, podem dificultar ou mesmo impossibilitar a
compreensão.

A escolha dos meios de comunicação e a utilização das ferramentas disponíveis devem ser
observadas de modo a facilitar todo o processo com o menor índice de ruídos possível. O
sucesso na comunicação não depende só da forma como a mensagem é transmitida, a
compreensão dela é fator fundamental, lembre-se que vivemos em sociedade de cultura
diversificada, e o que às vezes parece óbvio para você para seu interlocutor não é.

ATENÇÃO: Para que a comunicação atinja o seu objetivo, o melhor


caminho é a simplicidade.

37
Simplicidade quer dizer que o emissor transmite uma mensagem para o receptor de forma
clara, fácil e possível de ser entendida.

 Emissor é aquele que fala, escreve, desenha, faz mímica; é o ponto de onde parte a
mensagem;
 Receptor é aquele que quer ou precisa ouvir e aprender; é o destinatário da mensagem;
 Mensagem é o conteúdo do que se quer dizer e comunicar.

6.1 Comunicação na intervenção policial

Para potencializar o uso da comunicação nas intervenções policiais militares, serão


apresentadas, a seguir, algumas orientações baseadas em áreas específicas do
conhecimento (fonoaudiologia, psicologia e neurolinguística).

O primeiro contato com o abordado é de fundamental importância, haja vista que irá
construir mentalmente uma imagem do policial militar (e da Polícia Militar), por meio da
análise da postura, apresentação pessoal e, principalmente, da fala e gestos. Esses fatores
contribuem para a credibilidade, legitimidade e confiança na autoridade. Mesmo quando não
está realizando um contato, ou fora do serviço, sua postura deve ser exemplar, porque esse
é o primeiro aspecto que se avalia.

O processo de comunicação decorre dessa avaliação prévia do cidadão e é moldado pela


maneira como o policial conduz a interação.

A APRESENTAÇÃO PESSOAL É O CARTÃO DE VISITA DO POLICIAL MILITAR.

Uma boa imagem é representada por detalhes importantes como: fardamento limpo e
adequado e cuidados com a higiene pessoal, dentro dos padrões estabelecidos pelas
normas da PMMG. Outros comportamentos como o uso irregular de cobertura e de
acessórios exóticos ou extravagantes transmitem a ideia de descaso e relaxamento.

Algumas atitudes contribuem para a solução pacífica dos conflitos e o alcance dos objetivos
institucionais e, consequentemente, para a boa imagem e a legitimidade de suas
intervenções. Dentre elas, o policial militar deve ser:

38
 firme: agir de forma segura, estável, constante, comunicando de maneira polida e sem
truculência;

 justo: atuar de acordo com o ordenamento jurídico e em conformidade com os princípios


éticos, respeitando a dignidade da pessoa;

 cortês: o policial militar deve ser educado, atencioso e solícito. A seriedade e a firmeza
necessárias não podem ser confundidas com indiferença ou grosseria.

O diálogo entre o policial militar e o abordado pode ser prejudicado e sofrer interferências
diante de uma postura que denote agressividade, arrogância ou descaso.

Exemplo: o policial militar que aponta o dedo indicador para o abordado, ou se lhe apresenta
com os braços cruzados ou com o rosto sisudo.

Ao dirigir-se às pessoas, o policial militar não deve fazer uso de gírias ou palavras
vulgares porque transmitem uma má impressão e afetam a credibilidade junto aos
envolvidos. Mantendo uma linguagem firme e cordial, o policial militar demonstra
profissionalismo e controle da situação.

Outro aspecto importante da comunicação é o volume da voz. O policial militar deve atentar
para este aspecto, a fim de facilitar sua comunicação, adequando-o às diversas situações,
podendo modificá-lo para alcançar melhor seu objetivo. O volume da voz deve se adaptar ao
nível de cooperação do abordado, devendo aumentar ou diminuir, conforme o nível de força
empregado. O som da voz deve chegar claramente ao ouvinte, para que ele possa entender
e interagir com o policial militar.

Cabe ao policial militar fazer uma leitura do ambiente, para adequar o uso da voz a cada
situação, lembrando que o volume muito baixo inviabiliza a comunicação, por dificultar o
entendimento, e o volume muito alto, quando desnecessário, pode se tornar agressivo,
incômodo e deseducado. Devem ser levadas em consideração as possíveis interferências
sonoras (ruídos) presentes em um determinado ambiente.

Outros fatores como o timbre (qualidade sonora que identifica a voz de uma pessoa), a
dicção (pronúncia correta dos sons das palavras) e a velocidade com que se fala são
determinantes para a qualidade da comunicação estabelecida. Nos treinamentos, o policial
militar deve buscar o timbre em que sua voz fique mais clara, pronunciar as palavras com

39
calma e correção e em velocidade que possibilite ao interlocutor compreender exatamente o
que está sendo dito. A fala confusa ou vagarosa causa a impressão de indecisão ou
desânimo, gera descrédito e insegurança. Em contrapartida, falar muito rápido denota
ansiedade, dúvida e desatenção.

O silêncio também pode transmitir mensagens não verbais. O policial militar, ao se


comunicar, deve utilizar-se de pausas em suas falas, verificando o nível de cooperação do
abordado, proporcionando tempo para que este entenda e cumpra o que lhe foi determinado.
Pausas eficazes na interlocução e um processo de perguntas e respostas logicamente
ordenadas podem ser determinantes para o sucesso da verbalização.

Outro aspecto a ser considerado é que toda pessoa tem um espaço (área física em seu
entorno) que considera psicologicamente reservado para aqueles que são íntimos a ela. Ao
aproximar-se demasiadamente de uma pessoa, o policial militar invade este “espaço
pessoal” e pode provocar, no abordado, o desejo inconsciente de afastar, fugir, ou defender-
se. Qualquer palavra dita nessa situação poderá soar agressivamente.

Assim sendo, o policial militar deverá estabelecer o contato inicial com o abordado, a uma
distância segura (ver MTP 02), para criar um vínculo verbal e de confiança. Por exemplo,
numa intervenção nível I, pode “quebrar o gelo” com o uso do “aperto de mão”,
demonstrando interesse ao também olhar diretamente nos olhos do interlocutor sorrindo.

Numa intervenção nível II, explicando o que será realizado, antes de se aproximar, exemplo:

“— Fique Parado! Vamos realizar uma busca pessoal. Você me


entendeu?”
Numa intervenção nível lII, dando comandos imperativos, como:
“— Deite-se! Coloque as mãos sobre a cabeça!”

É importante ressaltar que os elementos não verbais utilizados na comunicação durante a


abordagem influenciam na percepção que policial militar e o abordado constroem um do
outro. Por isso, os policiais militares devem estar atentos aos efeitos que suas mensagens
não verbais provocam e, ao mesmo tempo, observar e retirar conclusões dos elementos
emitidos pelo abordado.

A comunicação bem trabalhada pode evitar o emprego de níveis de força superiores,


facilitando o desenrolar das intervenções policiais. O policial militar passa a ter um maior

40
controle da situação, minimizando, em grande parte dos casos, a possibilidade de uma
reação indesejada.

O modo de agir, de se postar e falar com o abordado interfere diretamente na sua reação,
auxilia no nível de cooperação e no acatamento das ordens. Dessa forma, a postura do
policial militar, durante a abordagem, pode evitar manifestações de descontentamento que
exijam a adoção de medidas coercitivas pela polícia, como os controles de contatos e os
controles físicos, as técnicas de menor potencial ofensivo e, como medida extrema, o uso da
arma de fogo.

6.1.1 Verbalização durante a abordagem policial

Uma das formas da comunicação é a verbalização. Verbalizar 8 significa expressar ou


exprimir algo na forma de palavras. Na técnica policial-militar, o conceito de verbalização diz
respeito ao uso da fala e de comandos verbais que, apesar de constituírem um dos níveis
de uso da força, conforme seção 7, estarão presentes em todo tipo de intervenção policial-
militar.

Nas teorias de comunicação, diz-se que, uma informação somente é eficaz quando
apresenta, dentre outras, duas características fundamentais:

 clareza: utilização de linguagem de fácil compreensão;

 precisão: grau de detalhamento suficiente para produzir o resultado desejado (ser prático,
objetivo, direto).

As técnicas de comunicação estabelecem que antes mesmo de haver a troca de palavras


propriamente dita entre as pessoas, existem elementos verbais e não verbais que interagem
entre o emissor e receptor.

O policial militar não deve alimentar a expectativa de que o abordado sempre se disponha a
colaborar de forma espontânea. Assim, deve buscar o controle da situação por meio de uma
verbalização adequada, emitindo ordens legais, claras, objetivas e pertinentes.
Durante a abordagem, o policial militar deve explicar os motivos da intervenção e o
comportamento que se espera do abordado.

8FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1993.

41
Ao abordar, não aponte o dedo indicador para a face do abordado, nem toque no seu corpo,
salvo nos casos em que se faz necessário o controle de contato, o controle físico e a busca
pessoal. Respeitando seu espaço pessoal, será mais fácil obter sua cooperação.

ATENÇÃO! A verbalização pode e deve ser empregada em conjunto


com todos os outros níveis de força. Deve estar presente durante
toda a intervenção policial.

O policial militar deve manter o equilíbrio e o autocontrole, mesmo se o abordado não


obedecer, se fizer comentários ofensivos, ignorar a sua presença ou atrair a atenção de
pessoas em volta. A linguagem que deve prevalecer é a do policial militar e não a do
abordado. Manter um diálogo claro, direto, não emocional e sem abusos, demonstra
profissionalismo e domínio da situação. Dessa forma, o policial militar ganha credibilidade
junto à população e atrai a confiança de testemunhas, que poderão confirmar que foram
dadas todas as chances ao abordado para cooperar, sem utilizar a força, mas que ele se
recusou a acatar.

O policial militar deve transmitir ao abordado uma mensagem clara, de que poderá agir em
resposta às suas agressões ou à falta de cooperação. Por meio de um diálogo moderado e
incisivo, o policial militar deve explicar que seus comandos são ordens legais e que o
descumprimento pode configurar infração penal e resultar no uso da força.

Deve ser considerada a possibilidade de a pessoa abordada ter dificuldade na compreensão


e no cumprimento da ordem, por tratar-se de pessoa portadora de necessidades especiais
(físicas e/ou mentais) ou por estar sob efeito de substâncias como álcool, drogas ou
medicações específicas, que alteram a capacidade cognitiva.

O policial militar deve ter consciência da existência de uma insatisfação natural das pessoas
quando são abordadas. O policial militar se apresenta como autoridade, intervindo
momentaneamente no direito de ir e vir, podendo ainda causar uma exposição
constrangedora do abordado perante seus familiares ou o público presente.
Exemplo: possibilidade de se gerar atraso em deslocamentos para compromissos, devido a
operações do tipo Blitz.

42
Um grande número de pessoas não gosta de ser parado pela polícia, ainda que seja para
uma simples verificação de rotina, visto que, na maioria das vezes, seja de senso comum a
ideia de que foi “escolhido” por ter sido considerado suspeito. Nesses termos, é razoável
que o abordado, nas diversas intervenções, tente argumentar ou questionar a forma ou a
legalidade da ação policial militar, não cumprindo de imediato as recomendações, alegando
não admitir ser tratado como “infrator”. É importante diferenciar essa compreensível
sensação de incômodo vivenciada pelo abordado, de outra conduta mais séria que configure
os crimes de resistência, desobediência e/ou desacato.

Dessa forma, o policial militar deve iniciar a comunicação, sabendo que os elementos de
empatia, na maioria das vezes, estarão ausentes. Por isso, deve aumentar sua preocupação
com os aspectos não verbais, de forma a garantir que suas mensagens sejam claras e
precisamente transmitidas.

Para evitar percepções equivocadas por parte do abordado e prejuízo na comunicação, o


policial militar deve treinar constantemente, de preferência diante de um espelho, analisando
a sua imagem, considerando todos os elementos verbais e não verbais, enquanto pratica os
comandos típicos de uma abordagem policial militar.

O policial militar deve variar sua comunicação, de acordo com as diferentes formas de
reação do abordado. O diálogo deve ter uma sequência lógica. A fala do policial militar deve
ser concisa, simples e de fácil execução.

Seguem abaixo, exemplos de diálogos que podem servir de referência.

a) Abordado cooperativo

Mantendo-se no estado de prontidão apropriado, após realizar a avaliação dos riscos e


decidir por executar a abordagem, o policial militar inicia o contato verbal.

“— Bom dia! Eu sou o Sargento ... (dizer o posto / a graduação e o


nome), da Polícia Militar. Tudo Bem?”

Utilize o complemento POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, caso esteja em operação


próximo à divisa / fronteira do Estado.

43
Deve utilizar pausas e interromper a sua fala, aguardando a resposta do abordado, para
verificar se houve entendimento da sua mensagem e qual é o nível preliminar de
cooperação demonstrado.

Utilizando comandos simples e sequenciais, o policial militar explica para a pessoa o que
está ocorrendo e, se possível, o que motivou a abordagem.

Por se tratar, a princípio, de abordado cooperativo, o policial militar dá sequência às ordens,


pausadamente, dando tempo para que o abordado cumpra as determinações, mantendo-se
atento aos elementos verbais e não verbais do abordado, para facilitar o processo de
análise de riscos.

“— Permaneça parado, coloque as mãos sobre a cabeça e entrelace


os dedos.”
“— Pare! Vire-se de frente para a parede.” ou “— Vire-se de frente
para mim.”
“— Pare! Preste atenção! Lentamente, tire sua mão do bolso (sacola,
mochila ...).”

É conveniente fazer perguntas ao abordado e mantê-lo constantemente com a atenção


voltada para o policial militar que verbaliza. Isso contribuirá para reduzir sua capacidade de
reação (ver Processo mental da agressão - Seção 4).

Terminada a abordagem:

“— Agradeço pela colaboração e conte com o nosso serviço. Tenha


um bom dia!”

b) Abordado resistente passivo

Caso o abordado descumpra algum comando, agindo de forma passiva, morosa, apática ou
indiferente (mas que não constitua agressão), o policial militar deve, inicialmente, alertá-lo
sobre as consequências da desobediência à ordem legal. Persistindo tal comportamento,
deve agir com superioridade de força, usando os meios necessários e moderados para
compeli-lo ao cumprimento da determinação legal.

44
Dessa forma, a entonação da voz do policial militar poderá se tornar mais enérgica e o
volume mais alto, demonstrando a seriedade da situação e impondo a autoridade, caso o
abordado demonstre resistência ao acatamento das ordens.
A desobediência do abordado e a resistência em cumprir as ordens deverão ser entendidas
como indicativos de ameaça. Nesse caso, o policial militar deve estar pronto para responder
a algum tipo de agressão.

O policial militar deverá verificar, por meio de verbalizações, se o abordado compreende o


que está sendo dito:
“— Você está me entendendo?” ou,
“ O que está acontecendo? ” ou,
“Está tudo bem? Você está com algum problema?”

Se o abordado demorar a responder ou a acatar as determinações, mas não estiver


esboçando algum tipo de agressão, o policial militar deverá insistir na recomendação dada,
repetindo a mesma ordem por duas ou três vezes. Esse procedimento de repetição literal da
ordem, de forma pausada, sistemática e firme, reforça a autoridade profissional da Polícia
Militar, demonstrando determinação e convicção, além de contribuir para que as eventuais
testemunhas possam confirmar a legalidade da ação.

Utilize expressões que facilitem a aproximação com o abordado. Não seja ríspido ou
impaciente. Procure alcançar o receptor com seu discurso. Ao invés de responder com
negativas, use afirmativas que desestimulem a sua falta de cooperação:

“— Entendo o seu ponto de vista! Mas é uma questão de segurança.”


ou,

“— Entenda, é o meu dever. Se você obedecer, será mais seguro


para todos.”

Caso o abordado continue descumprindo as ordens, deverá ser


advertido quanto a este comportamento, esclarecendo tratar-se de
infração penal (desobediência).

“— Obedeça! Desobediência é crime!” ou,


“— Cidadão, isto é uma ordem legal! Faça o que estou mandando!”
ou,

45
“— Isto é uma advertência, vou usar de força!”
O policial militar deve considerar que poderão existir diversas razões para que o abordado
possa resistir de maneira passiva às ordens dadas pelo policial militar, por exemplo:

 quando não compreende a ordem emanada pela autoridade;

 quando não acata simplesmente porque quis desafiar a autoridade ou desmerecer a ação
policial-militar, tentando, assim, expô-lo a uma situação humilhante frente ao público, ou
ainda, provocar o uso excessivo de força;

 quando busca conseguir a simpatia de pessoas a sua volta, colocando-as contra a


atuação da polícia, assumindo assim uma posição de vítima;

 quando tem algo a esconder (armas, drogas, outros) e busca distrair a atenção do policial
militar;

 quando quer ganhar tempo para fugir ou enfrentar fisicamente os policiais militares, isto
é, com resistência ativa.

O policial militar procura, então, identificar no comportamento do abordado, as possíveis


causas de sua resistência, devendo estar atento para não se deixar levar por provocações
do abordado, o qual procura fazer-se de vítima, diante da intervenção.

Nesses casos, o policial militar deve se resguardar, podendo fazer uso de tecnologias que
possibilitem gravar a sua ação e, sempre que possível, por meio do testemunho de
pessoas, presumidamente idôneas, que estejam próximas ao local, acionando-as para que
presenciem a repetição da ordem legal emitida e o descumprimento, ou
resistência/relutância do abordado em cumpri-la.

“— Ei! Você! me acompanhe! Preciso que o senhor presencie esta


situação.”

Repita a ordem ao abordado diante da testemunha.

“— Esta é uma ordem legal ou Estou ordenando legalmente a este


cidadão. Ele se recusa a colaborar / foi advertido de que será usada

46
força contra ele / foi alertado de que poderá ser preso por
desobediência.”

Os recursos tecnológicos (aparelhos telefônicos celulares que tiram fotos, filmam, gravam
áudio, ou outros similares) que estejam acessíveis para comprovar a atuação legítima do
policial militar e a resistência do abordado, podem ser utilizados. Nesse caso, o policial
militar deve proceder com especial atenção, com relação a sua postura e segurança, de
forma que não se torne vulnerável durante este procedimento, e alertar formalmente ao
interlocutor que estará registrando a intervenção.

ATENÇÃO! Cuidado com o uso e a destinação do material


registrado. O direito à imagem é parte da dignidade humana e cabe
ao policial militar protegê- la. Esses registros eletrônicos só poderão
ser utilizados de maneira oficial, sendo vedada a divulgação ou a
distribuição à imprensa ou a outros órgãos.

c) Abordado resistente ativo

Caso a ação por parte do abordado se materialize em algum tipo de agressão,


caracterizando a resistência ativa, a ação policial-militar deve prosseguir na reação,
utilizando o nível de força proporcional sem, contudo, interromper a verbalização.

Nos casos de resistência física, o policial militar deve mensurar e avaliar as atitudes do
abordado, adaptando a verbalização, sendo mais imperativo e impositivo, alertando
imediatamente o restante da equipe sobre essa resistência do abordado, com foco na
segurança dos policiais e de terceiros.

Diante da agressão, o policial militar deverá repelir a agressão com os meios necessários,
proporcional a ameaça e reforçará o volume de voz, emitindo ordens diretas, devendo
advertir o abordado de que tal procedimento implica crime (desacato ou resistência).

“— Parado! Não se aproxime!


— Mostre as mãos!
— Obedeça a ordem policial!
— Vou empregar a Força!”

47
Nesse caso, o abordado já iniciou algum tipo de agressão e o policial militar deve estar
pronto para repelir a injusta agressão utilizando os meios necessários.

d) Verbalização no caso de prisão

Após a constatação de uma situação que se configure em prisão do abordado, são


adequadas as seguintes frases:

“— Fulano ... (citar o nome da pessoa presa). Sou o ... (citar o posto
ou a graduação e o nome do policial condutor da prisão).
— Você está preso pelo cometimento do crime de (citar o delito).
— Depois de ser qualificado, você tem o direito de permanecer
calado, durante seu interrogatório.
— Você tem o direito a assistência da sua família e de advogado.
— Você será encaminhado à delegacia... (citar o local onde será feito
o encerramento do BO/REDS).
— Na delegacia, sua família ou a pessoa indicada por você poderá
ser comunicada.”

É conveniente fazer perguntas à pessoa presa, na presença de


testemunhas, tais como:

“ — Você conferiu os seus pertences?


— Você está machucado?
— Precisa de atendimento médico?”

6.2 Considerações finais

Algumas atitudes por parte do policial militar podem contribuir para tornar a comunicação
simples, rápida e eficaz, por abrangerem pontos importantes para o sucesso em uma
abordagem, dentre elas:

a) saber ouvir e compreender a mensagem do abordado, sendo capaz de responder ao que


foi perguntado;
b) adaptar a mensagem a cada tipo de público, sem perder a clareza e a objetividade;
c) escolher o momento certo para realizar a comunicação;

48
d) ser paciente, pois cada pessoa tem um ritmo, um modo e uma capacidade de internalizar
e compreender a mensagem;
e) demonstrar segurança e confiança.
Uma das principais funções do policial militar moderno é a resolução pacífica de conflitos. A
verbalização é uma ferramenta fundamental colocada à disposição do policial militar na
resolução de conflitos.

O uso correto das técnicas aqui apresentadas aumenta a segurança nas intervenções
policiais militares e diminui, consideravelmente, a necessidade do uso da força em níveis
mais elevados.

49
7 USO DA FORÇA

É necessário ter um conceito claro e objetivo de “força”. A palavra tem significados


diferentes dependendo do contexto. Geralmente, força representa energia, ação de contato
físico, vigor, robustez, esforço, intensidade, coercibilidade, dentre outros.

A força, no âmbito policial, é definida como sendo o meio pelo qual a Polícia Militar controla
uma situação que ameaça à ordem pública, o cumprimento da lei, a integridade ou a vida
das pessoas. Sua utilização deve estar condicionada à observância dos limites do
ordenamento jurídico e ao exame constante das questões de natureza ética. A força, no
âmbito militar, com possibilidade de emprego em missões extraordinárias pela Polícia Militar,
será objeto de Instruções específicas, como em caso de perturbação da ordem, ou grave
perturbação, conflito armado interno ou outras missões.

O presente conteúdo deverá ser aplicado como referência de doutrina institucional da


PMMG para todas as intervenções policiais militares que exijam o uso da força no âmbito
policial. As particularidades referentes ao uso da força pela Polícia Militar de forma coletiva
(formações de tropa), tais como ações de controle de distúrbio civil, rebeliões em presídio,
eventos com grandes públicos e outras operações, além do conteúdo desta seção, serão
complementadas em Manual Técnico-Profissional próprio.

O uso da força é um tema que engloba muitas variáveis e possibilidades de ação. De acordo
com as circunstâncias, sua intensidade pode variar desde a simples presença policial-militar
até o emprego de força potencialmente letal como o disparo da arma de fogo contra pessoa,
sendo, neste caso, considerado como o único recurso capaz de cessar a ação delituosa e
de medida extrema de uma intervenção policial.

O Estado detém o monopólio do uso da força que é exercida por intermédio dos seus
órgãos de segurança. Assim, o policial militar, no cumprimento de suas atividades, poderá
usá-la para repelir uma ameaça à sua segurança ou à de terceiros e à estabilidade da
sociedade como um todo (uma violência contra o policial militar é um atentado contra a
própria sociedade e pode ser considerado crime hediondo (vide Lei nº 13.142/159).

9A Lei nº 13.142/15 define os crimes de homicídio, lesão corporal de natureza gravíssima e lesão corporal
seguida de morte praticados contra agentes de segurança pública como hediondos, seja no exercício da função
ou em razão dela.

50
A força aplicada por um policial militar é um ato discricionário, legal, legítimo e profissional.
Pode e deve ser usada no cotidiano operacional, sem receio das consequências advindas
de seu emprego, desde que o policial militar cumpra com os princípios éticos e legais que
regem sua profissão.

Deve ficar claro para o policial militar que o uso da força não se confunde com violência10,
haja vista que esta última é uma ação arbitrária, ilegal, ilegítima e não profissional.

O policial militar poderá usar a força no exercício das suas atividades, não sendo necessário
que ele ou outrem seja atacado primeiro, ou exponha-se desnecessariamente ao perigo,
antes que possa empregá-la. O seu emprego eficiente requer uma análise dinâmica e
contínua sobre as circunstâncias presentes, de forma que a intervenção policial resulte num
menor dano possível. Para tanto, é essencial que ele se aperfeiçoe, constantemente, em
procedimentos para a solução pacífica de conflitos, estudos relacionados ao comportamento
humano, conhecimento de técnicas de persuasão, negociação e mediação, dentre outros
que contribuam para a sua profissionalização nesse tema.

7.1 Princípios do uso da força

O uso da força pelos integrantes da PMMG deve ser norteado pelo cumprimento da lei e da
ordem, pela preservação da vida, da integridade física das pessoas envolvidas em uma
intervenção policial-militar e, ainda, pelos princípios relacionados a seguir:

 Legalidade

Constitui-se na utilização de força para a consecução de um objetivo legal e nos estritos


limites do ordenamento jurídico.

Este princípio deve ser compreendido sob os aspectos do:

Resultado: Considera a motivação ou a justificativa para a intervenção da Polícia Militar. O


objeto da ação deve ser sempre dirigido a alcançar o objetivo legal. Deste modo, a lei
protege o resultado da ação policial-militar.

10O assunto foi discutido no artigo “Uso de Força e a Ostensividade na Ação Policial”, de Jacqueline Muniz,
Domício Proença Junior e Eugênio Diniz, publicado no periódico Conjuntura Política. Boletim de Análise -
Departamento de Ciência Política da UFMG, BELO HORIZONTE, pp:22-26, 20 de abril de 1999.

51
Exemplo: o princípio da legalidade não está presente se o policial militar usa de violência
para extrair a confissão de uma pessoa. A tortura é vedada em qualquer situação e não
justifica o objetivo a ser alcançado, por meio de mecanismos que infringem o direito do
indivíduo de não produzir prova contra si mesmo ou declarar-se culpado.

Processo: considera que os meios e os métodos utilizados pelo policial militar devem ser
legais, ou seja, em conformidade com as normas (leis, regulamentos, diretrizes, entre
outros).

Exemplo: o policial militar não cumpre o princípio da legalidade se, durante o seu serviço,
usar arma e munições não autorizadas pela Instituição, tais como armas sem registro, com
numeração raspada, calibre proibido, munições particulares, dentre outras.

 Necessidade

O uso da força será empregado quando, devido as circunstâncias apresentadas no cenário


de atuação, for impossível de se evitar. Guarda relação com a ação que se espera e o meio
disponível.

O uso da força num nível mais elevado é considerado necessário quando, após tentar
outros meios (verbalização, persuasão, entre outros) para solucionar o problema, torna-se
único recurso capaz de solucionar a crise, a ser utilizado pelo policial militar. Sendo
necessário utilizar imediatamente um nível de força mais elevado, o policial militar não
precisa percorrer os demais níveis.

Exemplo: o policial militar pode utilizar a força potencialmente letal (disparo de arma de
fogo), para defender a sua vida ou de outra pessoa que se encontra em perigo iminente,
provocado por um infrator, sempre que outros meios não tenham sido suficientes ou
oportunos para impedir a agressão.

 Proporcionalidade

O nível de força utilizado pelo policial militar deve ser compatível, adequado e aceitável, ao
mesmo tempo, com a gravidade da ameaça representada pela ação do infrator, e com o
objetivo legal pretendido.

52
Um nível maior de força pode ser empregado quando outros de menor intensidade não
forem suficientes para atingir os objetivos legais pretendidos.

Gravidade da ameaça: para ser avaliada, deverão ser considerados, entre outros aspectos,
a intensidade, a periculosidade e a forma de proceder do agressor, a hostilidade do
ambiente (histórico e fatores que indiquem violência do local de atuação, além de
experiências e relatos de situações semelhantes conhecidas que resultaram em risco de
morte para os policiais e envolvidos) e os meios disponíveis ao policial militar (habilidade
técnica e equipamentos).

De acordo com a evolução da ameaça (aumento ou redução) o policial militar readequará o


nível de força a ser utilizado, tornando-o proporcional às ações do infrator, o que confere
uma característica dinâmica a este princípio.

Exemplo: não é considerada proporcional a ação policial-militar, com o uso da força


potencialmente letal (disparando sua arma de fogo) contra um cidadão que resiste
passivamente, com gestos e questionamentos, a uma ordem de colocar as mãos sobre a
cabeça, durante a busca pessoal. Neste caso, a verbalização e/ou o controle de contato
corresponderão ao nível de força indicado (proporcional). Entretanto, é considerado
proporcional a ação policial-militar, com o uso da força potencialmente letal (disparando sua
arma de fogo) contra um cidadão que atenta contra a vida do policial utilizando uma arma
branca com potencial igualmente letal. Isto porque neste caso, a verbalização e ou o
controle de contato podem não ser suficientes par cessar a ação e resultar em graves
ferimentos ou mesmo a morte do policial.

Objetivo legal pretendido: consiste em aferir se o resultado da ação policial-militar está


pautado na lei. Visa à proteção da vida, da integridade física e do patrimônio das pessoas
que estejam sofrendo ameaças, além da manutenção da ordem pública e do cumprimento
da lei. Guarda correlação direta com o princípio da legalidade, no que se refere ao aspecto
“resultado”.

O princípio da proporcionalidade não exclui o princípio da supremacia de força que


deverá imperar sempre que possível, nas ações ou operações policiais militares. A força é
parte da natureza institucional da Polícia Militar de Minas Gerais.

53
7.1.1 Níveis de comportamento da pessoa abordada

A pessoa abordada durante a intervenção policial-militar, pode atender ou não às


determinações dadas pelo policial militar, ou seja, ela poderá colaborar ou resistir à
abordagem. O seu comportamento é classificado em níveis que devem ser entendidos de
forma dinâmica, uma vez que podem subir, gradual ou repentinamente, do primeiro nível até
o último, ou terem início em qualquer nível e subir ou descer.

Nesse sentido, o abordado pode apresentar os seguintes níveis de comportamento:

a) Cooperativo

A pessoa abordada acata todas as determinações do policial militar durante a intervenção,


sem apresentar resistência.

Exemplo: o motorista que apresenta, prontamente, toda a documentação solicitada e atende


as orientações do policial militar durante operação do tipo Blitz.

ATENÇÃO! O nível de risco deverá ser reclassificado quando o


policial militar identificar, pelo menos, uma das seguintes situações:
- presença da arma;
- comportamento dissimulado;
- indicativo de fundada suspeita ou qualquer outra ameaça subjetiva
ou objetiva.

b) Resistência passiva

A pessoa abordada não acata, de imediato, as determinações do policial militar, ou o


abordado opõe-se a ordens, reagindo com o objetivo de impedir a ação legal. Contudo, não
agride o policial militar nem lhe direciona ameaças.

Exemplo 1: o abordado reage de maneira espalhafatosa, acalorada, falando alto,


procurando chamar a atenção e conseguir a simpatia dos transeuntes, colocando-os contra
a atuação da Polícia Militar, assumindo assim, a posição de vítima da intervenção policial-
militar.

54
Exemplo 2: a pessoa, durante uma abordagem, corre na tentativa de empreender fuga para
frustrar a ação de busca pessoal.

c) Resistência ativa

Apresenta-se nas seguintes modalidades:

 Com agressão não letal:


O abordado opõe-se à ordem, agredindo os policiais militares ou as pessoas envolvidas na
intervenção, contudo, tais agressões, aparentemente, não representam risco de morte.

Exemplo: o agressor que desfere chutes contra o policial militar quando este tenta
aproximar-se para efetuar a busca pessoal.

 Com agressão Letal:


O abordado utiliza-se de agressão que põe em perigo de morte o policial militar ou as
pessoas envolvidas na intervenção.

Exemplo: o agressor, empunhando uma faca, desloca-se em direção ao policial militar e


tenta atacá-lo.

7.1.2 Uso diferenciado da força

Caracteriza-se pelo uso da força de maneira seletiva. Trata-se de um processo dinâmico,


no qual o nível de força pode aumentar ou diminuir, em função de uma escolha consciente
do policial militar, de acordo com as circunstâncias presentes em uma determinada
intervenção. Este dinamismo denomina-se uso diferenciado da força.

Não é conveniente utilizar a terminologia “uso progressivo de força”, porque o termo


progressivo nos remete à ideia somente de elevação (de escalada, de subida, atitude
ascensional), sendo que, em muitos casos, o uso “regressivo” de força é apropriado, quando
verificada a diminuição da violência do agressor.

Todo policial militar deverá utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) específicos
para sua atuação, além de alternativas de armamentos e tecnologias, quando disponíveis e
se for habilitado para tal uso, para propiciar opções de uso diferenciado de força. Não portar
tais materiais no momento oportuno, muitas vezes por negligência do policial militar, pode

55
levá-lo a fazer uso de técnicas que contrariam os princípios do uso da força. Exemplo: o
policial militar que não se equipou com bastão tonfa, em que pese estar disponível, e usa a
arma de fogo como objeto contundente”.

Entende-se por uso diferenciado da força o resultado escalonado das possibilidades da


ação policial militar, diante de uma potencial ameaça a ser controlada. Essas variações de
níveis podem ser entendidas desde a simples presença e postura correta do policial militar
(devidamente fardado, armado e equipado) em uma intervenção, bem como o emprego de
Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo (IMPO) e, em casos extremos, o disparo de
armas de fogo.

O emprego de todos os níveis de força nem sempre será necessário em uma intervenção.
Na maioria das vezes, bastará uma verbalização adequada para que o policial militar
controle a situação. Por outro lado, haverá situações em que, devido à gravidade da ameaça,
o uso da força potencialmente letal (disparo de arma de fogo) deverá ser imediato, antes
mesmo de qualquer verbalização.

É fundamental que o policial militar mantenha-se atento quanto às mudanças dos níveis de
comportamento do abordado, para que selecione corretamente o nível de força a ser
empregado.

A decisão entre as alternativas de força se baseará na avaliação de riscos e, como já visto,


é importante considerar a relevância da formação e do treinamento de cada policial militar.
Assim, ele observará a seguinte classificação dos níveis para o uso diferenciado de força:

a) Nível primário

 Presença policial-militar:

É a demonstração ostensiva de autoridade. O efetivo policial-militar corretamente


uniformizado, armado, equipado, em postura e atitude diligente, geralmente inibe o
cometimento de infração ou delito naquele local.

 Verbalização:

É o uso da comunicação oral (falas e comandos) com a entonação apropriada e o emprego


de termos adequados que sejam facilmente compreendidos pelo abordado.

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As variações das posturas e do tom de voz do policial militar dependem da atitude da
pessoa abordada. Em situações de risco é necessário o emprego de frases curtas e firmes.

A verbalização pode e deve ser empregada em todos os demais níveis de uso da força. O
treinamento continuado e as experiências vivenciadas proporcionam melhoria na habilidade
de verbalização.

b) Nível secundário (Técnicas de menor potencial ofensivo)

 Controle de contato:

São técnicas em que o policial militar faz a intervenção sem recorrer a quaisquer
armamentos, instrumentos ou equipamentos. É realizada por meio de posturas de
abordagem que orienta a distância e a angulação de aproximação, bem como a posição de
mãos e braços do policial militar (ver posturas táticas – MTP 02)

 Controle físico:

É o emprego das técnicas de defesa pessoal policial, com um maior potencial de submissão,
para controlar o abordado sem o emprego de instrumentos. Visa a sua imobilização e
condução, evitando, sempre que possível, que resulte lesões do uso da força.

 Controle com instrumentos de menor potencial ofensivo:

É o emprego de Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo (IMPO), para controlar o


abordado resistente. Visa a sua imobilização e condução, evitando, sempre que possível,
que resulte em lesões do uso da força. Neste nível, o policial militar recorrerá aos
instrumentos disponíveis, tais como: bastão tonfa, gás/agentes químicos, algemas,
elastômeros (munições de impacto controlado), armas de impulso elétrico, emprego de cães,
entre outros, com o fim de anular ou controlar o nível de resistência.

A Polícia Militar de Minas Gerais considera o cão policial, devidamente treinado e


conduzido, como um recurso equiparado a um instrumento de menor potencial ofensivo,
levando-se em conta as mais diversas situações de emprego tático, as circunstâncias de
exclusão de antijuridicidade ou crime. No caso de uso diferenciado de força, o emprego do
cão objetiva menor contundência que a utilização do meio potencialmente letal, isto é, o
disparo da arma de fogo.

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ATENÇÃO! Considere que, quando utilizar o IMPO, o risco de morte
ou de graves lesões continua existindo, mas em um nível
significativamente inferior, quando comparado ao emprego de nível
de força potencialmente letal.

 Uso dissuasivo de armas de fogo:

Trata-se de opções de posicionamento que o policial militar poderá adotar com sua arma,
para criar um efeito que remova qualquer intenção indevida do abordado e, ao mesmo
tempo, estar em condições de dar uma resposta rápida, caso necessário, sem, contudo,
dispará-la. As posições adotadas implicam percepções diferentes pelo abordado, quanto ao
nível de força utilizado pelo policial militar.

A ostensividade da arma de fogo tem um reflexo sobre o abordado que pode ter sua ação
cessada pelo seu impacto psicológico, que a arma provocar.

Exemplo: localizar a arma de fogo no coldre, empunhá-la fora do coldre ou apontá-la na


direção da pessoa correspondem a uma demonstração direta de níveis diferentes de força
que tem forte efeito no controle do abordado e, ao mesmo tempo, propicia ao policial militar
condições de repelir agressões contra a própria segurança.

As técnicas de menor potencial ofensivo se adequam ao comportamento do abordado


caracterizado como resistente passivo e resistente ativo (agressor não letal).

c) Nível terciário (Força potencialmente letal)

 Técnicas de defesa pessoal policial com ou sem o uso de equipamentos,


direcionados a regiões vitais do corpo do agressor:

Deverão ser empregados em situações que envolvam risco iminente de morte ou lesões
graves para o policial militar ou para terceiros, com o objetivo imediato de fazer cessar a
ameaça ou repelir a injusta agressão.

Tais técnicas são utilizadas em circunstâncias em que o seu uso for inevitável e a força
potencialmente letal representada pelo disparo de arma de fogo torna-se inviável. Exemplo:
agressor atracado ao policial militar, rolando ao solo, tentando tomar-lhe a arma.

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 Disparo de arma de fogo:

Consiste também no disparo de arma de fogo efetuado pelo policial militar contra um
agressor, devendo ocorrer em situações, que envolvam risco iminente de morte ou lesões
graves, com o objetivo imediato de fazer cessar a ameaça ou repelir a injusta agressão.

7.1.3 Modelo Gráfico do uso diferenciado da força

É um recurso visual, destinado a auxiliar na conceituação, no planejamento, no treinamento


e na comunicação dos critérios sobre o uso da força. A sua utilização aumenta a confiança e
a competência do policial militar, na organização e na avaliação das respostas práticas
adequadas.

Figura 3 - Modelo do uso diferenciado da força

Fonte: Elaborado pelo autor.

O modelo apresentado é um quadro dividido em três níveis, que representam os possíveis


comportamentos do abordado.

Do lado esquerdo, tem-se a percepção do policial militar em relação à atitude do


abordado, e, do lado direito, encontram-se os possíveis níveis diferenciados de resposta.
Cada nível possui intensidades e opções de força que possibilitarão um controle adequado
do abordado.

59
A seta dupla centralizada (sobe e desce) indica o processo dinâmico de avaliação e de
seleção das alternativas, bem como reforça o conceito de que o emprego da verbalização e
da presença policial deve ocorrer em todos os níveis.

O uso da força depende da compreensão das relações de causa e efeito entre as atitudes
do abordado e as respostas do policial militar. Isto possibilitará uma avaliação prática e a
tomada de decisão sobre o nível mais adequado de força.

Mentalmente, o policial militar percorre toda a escala de força em um tempo curto e escolhe
a resposta mais adequada ao tipo de ameaça que enfrenta (observar os princípios do uso
da força).

Se, ao escolher uma das alternativas contidas em um determinado degrau do modelo do


uso da força e esta vier a falhar ou as circunstâncias mudarem, ele poderá aumentar ou
diminuir o nível de força empregado.

Essa dinâmica, entre os níveis do uso da força, deve ser realizada de um modo consciente,
com ética e profissionalismo, nunca prevalecendo os sentimentos como a raiva, o
preconceito ou a retaliação. A avaliação dessas variáveis propiciará, ao policial militar, o
equilíbrio de suas ações.

LEMBRE-SE: apesar da “VERBALIZAÇÃO” constar como um dos níveis de


intensidade de força, o policial militar deverá, sempre que possível, empregá-la
durante todo o processo.

7.1.4 Responsabilidade pelo uso da força

Os policiais militares devem empregar a força quando estritamente necessária e na medida


exigida para o cumprimento do seu dever.

A responsabilidade pelo uso da força será:

a) do autor: é individual e, portanto, recai sobre o policial militar que a empregou. O


cumprimento de ordens superiores não será justificado quando os policiais militares tenham
conhecimento de que uma determinação para usar de força ou armas de fogo, foi
manifestamente ilegal e que esses policiais militares tenham tido oportunidade razoável de

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se recusarem a cumpri-la. Em qualquer caso, a responsabilidade caberá também aos
superiores que tenham dado ordens ilegais;

b) dos superiores: os superiores imediatos, igualmente, serão responsabilizados quando


os policiais militares sob suas ordens tenham recorrido ao uso excessivo de força e esses
superiores, cientes destas circunstâncias, não adotarem todas as medidas disponíveis para
impedir, fazer cessar ou comunicar o fato;

c) da equipe de policiais militares: qualquer policial militar que suspeite que outro policial
militar esteja fazendo ou tenha feito o uso da violência (ou cometido qualquer crime), deve
adotar todas as providências ao seu alcance, para prevenir ou opor-se, rigorosamente, a tal
ato. Na primeira oportunidade que tenha, deve informar o fato aos seus superiores e, se
necessário, a qualquer outra autoridade com competência para investigar os fatos.

7.2 Arma de fogo

7.2.1 Regras gerais de controle

Os policiais militares em serviço, via de regra, utilizarão armas de fogo e munições


autorizadas e pertencentes à carga da PMMG, disponíveis nas respectivas intendências
de material bélico, e definidas no Manual de Armamento Convencional da PMMG.

As armas de fogo e munições utilizadas não devem causar danos ou lesões desnecessárias.
Assim, não é permitido alterar as armas e munições com este fim (diminuição do cano
da arma, corte nas pontas dos projéteis, alteração na carga das munições, entre outras).

Os policiais militares devem obedecer, rigorosamente, às normas da PMMG sobre o


controle, o armazenamento e a distribuição de material bélico, podendo utilizar cada tipo
de arma de fogo somente após a respectiva habilitação.

Cada policial militar é responsável pela guarda, pelo destino e pela utilização da arma e da
munição recebidas (ver Manual de Administração do Armamento e Munição da PMMG).

ATENÇÃO! O chefe direto de qualquer policial militar, dispensado do uso de


arma de fogo por questões de saúde, deve buscar assessoramento do
profissional da respectiva área (QOS), quanto às medidas administrativas
decorrentes.

61
7.2.2 Normas de segurança

Para garantir a segurança de todos os envolvidos em uma intervenção, onde são utilizadas
armas de fogo, é importante observar as seguintes recomendações:

 considere a manuseie todas as armas de fogo como se estivessem carregadas;

 leia cuidadosamente todas as instruções e recomendações de segurança de cada


arma ou munição a ser utilizada;

 na intendência, ao receber uma arma de fogo, verifique se ela está ou não carregada, e
em perfeitas condições de funcionamento. A manutenção de 1° escalão é de
responsabilidade do usuário;

 direcione o cano da arma de fogo para a “caixa com areia”, durante o manejo;

 se não for disparar sua arma, mantenha sempre o controle de cano (arma apontada
para uma direção segura) e dedo fora do gatilho;

 no interior das viaturas, durante o patrulhamento ordinário, é recomendável que a arma


de porte fique no coldre, devidamente abotoado ou travado e presa pelo fiel retrátil,
evitando conduzi-la no colo ou sobre o banco da viatura11;

 as armas portáteis deve ser acondicionadas em suportes ou cabides adaptados. Caso


estes não existam na viatura, as armas devem ser acondicionadas entre o banco do
Comandante da guarnição e o console de marcha, travadas, com o cano voltado para baixo
conforme Figura 4;

11Armas sobre o banco ou colo: tudo o que estiver mal acondicionado dentro do veículo, durante uma frenagem
ou manobra brusca será arremessado para a direção inicial do deslocamento, devido a inércia. Neste caso,
aumentará o tempo de resposta a uma ameaça, colocando em risco a vida do policial e da guarnição.

62
Figura 4 - Local para transporte da arma portátil em viatura que não possui cabide.

Fonte: Elaborado pelo autor.

 em casa, procure locais seguros para acondicionar as armas, tipo cofres, armários com
fundo falso, longe do alcance de pessoas sem autorização para uso.

7.2.3 Usar ou empregar arma de fogo

Na atividade operacional, a ação de usar ou empregar armas de fogo tem um entendimento


prático específico que a diferencia, em termos de nível de força aplicado, da ação de
disparar ou atirar.

Os verbos usar ou empregar arma de fogo devem ser entendidos como sinônimos e
correspondem às ações do policial militar, de empunhar ou apontar sua arma na direção da
pessoa abordada (com efeito dissuasivo), sem, contudo, dispará-la.

As ações de empunhar ou apontar a arma durante a intervenção, acompanhada de uma


verbalização adequada, constitui demonstração de força que implicará forte efeito
dissuasivo no abordado. Além disso, proporciona ao policial militar condições para
apresentar uma resposta rápida, caso necessário, servindo como fator de autoproteção,
uma vez que ele estará com sua arma em condição de disparo.

As posições adotadas com a arma correspondem a níveis diferentes de percepções de uso


da força pelo abordado. Exemplo: localizar, empunhar e apontar a arma de fogo.

O policial militar, no seu cotidiano operacional, poderá empregar a sua arma, com o objetivo
de preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio12, no exercício
pleno do seu poder de polícia.

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ATENÇÃO! O fato de o policial militar somente portar a arma no coldre, como
parte do seu equipamento profissional, não será considerado “uso” ou
“emprego” de arma de fogo. Do mesmo modo, conduzir armas longas em
posição de bandoleira não será interpretado como “uso” ou “emprego”.

A ação do policial militar em levar a mão até a arma (arma localizada) enquanto verbaliza
demonstra ao abordado um grau de força mais elevado do que se estivesse falando com as
mãos livres. A posição com a arma de fogo empunhada, como uma demonstração de força,
permite que o policial militar também esteja pronto para defender-se, caso necessite
dispará-la contra uma eventual agressão letal. De igual maneira, efeito fortemente
dissuasivo pode ser obtido quando, durante a intervenção, já com a arma empunhada,
decide apontá-la na direção do corpo da pessoa abordada.

7.2.3.1 Possibilidades de uso ou emprego de armas de fogo:

a) Posição 1 (arma localizada): com a arma ainda no coldre, leva a mão até o punho ou
cabo, como se estivesse pronto para sacá-la, desabotoando o coldre ou acionando a tecla
de liberação da arma no coldre. Com armas portáteis, em bandoleira, caracteriza-se por
colocar as duas mãos no armamento, ainda travado, sendo que a mão forte localiza o punho
e a mão a fraca é posta no guarda mão, dedo fora do gatilho.

Figura 5 - Policial militar com a arma na posição 1 (arma localizada) e suas variações

Fonte: Elaborado pelo autor.

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b) Posição 2 (arma em guarda-baixa): com a arma, já empunhada, fora do coldre,
destravada, posicionada na altura do abdome e num ângulo de 45°, cano voltado para o
solo e dedo fora do gatilho. Com armas portáteis, em bandoleira, devidamente empunhada
com as duas mãos, destravada, com a coronha apoiada no ombro, estando a arma
posicionada, em relação ao operador, num ângulo de 45°, cano voltado para o solo e dedo
fora do gatilho.

Figura 6 - Policial militar com a arma na posição 2 (arma em guarda-baixa) e suas


variações

Fonte: Elaborado pelo autor.

c) Posição 3 (arma em guarda-alta): com a arma, já empunhada, fora do coldre,


destravada, posicionada entre o peito e o queixo, com o cano dirigido para o alvo de forma
que seja possível manter contato visual total com o alvo; Com armas portáteis, em
bandoleira, devidamente empunhada com as duas mãos, destravada, com a coronha
apoiada no ombro, estando a arma posicionada entre o peito e o queixo, com o cano dirigido
para o alvo de forma que seja possível manter contato visual total com o alvo. Nesta posição
é possível verbalizar, monitorar pontos quentes e iniciar os disparos de defesa caso seja
necessário.

65
Figura 7 - Policial militar com a arma na posição 3 (arma em guarda-alta) e suas variações

Fonte: Elaborado pelo autor.

d) Posição 4 (arma em pronta-resposta): com a arma destravada, apontada diretamente


para o abordado, posicionada na linha dos olhos do policial. O policial está na iminência de
se defender da agressão. Esta posição proporciona um alinhamento de visada com o alvo.

Figura 8 - Policial militar com a arma na posição 4 (arma em pronta-resposta) e suas


variações

Fonte: Elaborado pelo autor.

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O policial militar deve se preocupar em não banalizar o uso da posição 4 (arma em
pronta-resposta) durante a abordagem e, logo que possível, conforme a evolução da
situação, podendo variar as posições de acordo com a circunstância, mantendo ativa a
verbalização e o controle do abordado.

Deve-se evitar iniciar a abordagem com a arma na posição 4, porque além de demonstrar
agressividade, não há flexibilidade de evolução para um nível superior de força que não seja
efetuar o disparo, correndo ainda o risco de disparo acidental com graves consequências.

7.2.4 Atirar ou disparar arma de fogo

Os verbos atirar ou disparar arma de fogo devem ser entendidos como sinônimos e
correspondem ao efetivo disparo feito pelo policial militar na direção da pessoa abordada.
Ele disparará (atirará) contra essa pessoa, como último recurso da ação policial, em caso
de legítima defesa própria ou de terceiros, contra perigo iminente de morte ou lesões graves.

O disparo da arma por policiais militares contra uma pessoa constitui a expressão máxima
de uso da força, devido ao efeito potencialmente letal que representa, devendo ser
considerada uma medida extrema no âmbito policial do emprego da força.

7.2.4.1 Objetivo do disparo

O dever funcional do policial militar é garantir o cumprimento da lei, preservar a ordem


pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, garantindo a vida e a integridade de
todos.

Quando um policial militar dispara sua arma de fogo no exercício das suas atividades, como
último recurso na escala de uso diferenciado da força, não o faz para advertir, assustar,
intimidar ou ferir um agressor. Ele o faz para interromper, de imediato, uma ação que atente
contra a vida ou ameace uma pessoa de ferimento grave.

Desta forma, a intenção do policial militar não é matar o agressor, o que afasta de
pronto o conceito de uso da força letal. Se o disparo de sua arma de fogo for o meio
necessário empreendido contra uma agressão injusta atual ou iminente, que atente contra a
sua própria vida ou a de terceiros, o comportamento do policial militar não será de ação e
sim, como regra, de reação para repelir uma injusta agressão, o que evidencia o propósito
de defesa, consolidando como lícita a sua conduta. O policial militar não busca o resultado

67
morte, o que caracteriza a adequação da terminologia uso da força potencialmente letal.
O disparo da sua arma de fogo tem por fim a defesa da vida ameaçada.

Ao repelir a agressão, de modo a fazer cessar a ameaça à vida ou à integridade física


(ferimentos graves), o policial militar deverá se preocupar para que não ocorra excesso na
sua conduta. Assim, o resultado advindo do disparo de sua arma de fogo não tem por fim
causar ao agressor, propositadamente, maior lesão do que seria necessário para a defesa
pretendida. Nesse sentido, atenção especial deve ser dada para evitar o emprego
exagerado da força potencialmente letal, decorrente da inobservância do dever de cuidado12.

Assim, o policial militar preparado técnica e mentalmente não excede na sua reação, mesmo
sob a influência do medo, da pressão ou da fadiga.

Portanto, quando o policial militar atira contra um agressor está fazendo uso da força
potencialmente letal (e não o uso da força letal), reafirmando sua intenção de controlar a
ameaça e não a de produzir um resultado morte.

LEMBRE-SE! Imediatamente após efetuar o disparo, restando pessoa ferida,


o policial militar, obrigatoriamente, providenciará todo o socorro necessário
para minimizar os efeitos dos ferimentos, visando resguardar-lhe a vida.

O policial militar não deve atirar quando as consequências decorrentes do disparo de sua
arma de fogo forem mais graves do que as ameaças sofridas pelas pessoas que estão
sendo defendidas (objetivo legal pretendido).

Os agressores, ao contrário dos policiais militares, quando disparam suas armas de fogo,
não levam em consideração o número de pessoas que podem resultar feridas, nem se dão
conta de alguma limitação técnica (“balas perdidas”). Eles, inclusive, se aproveitam do fato
da Polícia Militar ter que prestar atendimento às pessoas atingidas, para facilitar a sua fuga.

O fiel cumprimento do ordenamento jurídico e dos preceitos da ética profissional policial-


militar é a diferença entre o disparo de arma de fogo efetuado por um policial militar e o
disparo desferido por um agressor.

12A inobservância do dever de cuidado existe quando, mesmo o policial militar não querendo, o resultado ocorre
por imprudência, negligência ou imperícia, podendo ser punido pelo excesso culposo.

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Os policiais militares devem dominar as normas de segurança, os fundamentos de tiro e os
aspectos éticos e legais para que possam utilizar adequadamente o armamento, com
segurança e precisão. Para tanto, deverão treinar, regularmente, as técnicas que melhorem
o manejo das diversas armas de fogo disponíveis para o serviço operacional.

ATENÇÃO! Durante a capacitação com armas de fogo, os policiais militares


deverão ser treinados a verbalizar, antes de efetuar os disparos nos alvos.

Algumas variáveis que estão presentes na intervenção policial-militar onde o confronto


armado pode resultar em morte do agressor:

a) variáveis controladas pelo policial militar: características balísticas da arma utilizada,


distância e quantidade dos disparos, tipo de munição (calibre, potência, alcance);

b) variáveis parcialmente controladas pelo policial: direcionamento do disparo, ou seja,


local do corpo do agressor em que se dará o impacto. Em situação de ambiência
operacional (“teatro de operações”), a precisão da pontaria pode sofrer graves reduções,
mesmo para atiradores experientes, devido a situações diversas, tais como fatores
ambientais (periculosidade do local, luminosidade, chuva, entre outros), condições
psicomotoras do policial militar (cansaço, agitação, nervosismo, frequência cardíaca,
tremores, entre outros) e o próprio dinamismo do alvo (movimentação do agressor);

c) variáveis não controladas pelo policial militar: compleição física, estado emocional e
resistência orgânica da pessoa atingida.

Nos casos em que o policial militar dispara sua arma de fogo contra uma pessoa, é
importante considerar as diversas circunstâncias que poderão interferir na precisão do tiro,
conforme descrição contida nas “variáveis parcialmente controladas pelo policial militar”.
Tomando-se em conta essas variáveis e, para assegurar que este disparo seja efetivo
(atinja seu objetivo de interromper imediatamente o ataque), o policial militar apontará sua
arma para a parte central do corpo (região torácica) do agressor e efetuará os disparos
necessários para cessar a agressão letal.

Em regra, os disparos devem ser direcionados para a “grande massa”, parte central do
corpo (região torácica) do agressor. Entretanto, podem existir situações em que o agressor

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esteja utilizando proteções balísticas e os disparos nesta região se tornem ineficientes ou
ineficazes; Para tanto, o policial deverá adotar a técnica de alteração de nível, buscando
áreas que não estejam protegidas, tais como, junção do peito com o pescoço, fossa jugular,
queixo, boca, nariz ou cabeça.

A capacitação para realizar esses disparos com efetividade deverá fazer parte do
Treinamento com Armas de Fogo (TCAF), aplicado aos policiais militares que já superaram
o nível básico de treinamento.

A letalidade (morte do agressor) nunca será entendida como o objetivo finalístico do policial
militar ao disparar sua arma de fogo em uma ação operacional. Contudo, o resultado “morte”
poderá ser decorrente dos efeitos lesivos, próprios do instrumento utilizado (arma de fogo).
Esses efeitos estão sujeitos ainda às diversas variáveis descritas, as quais não são
plenamente controladas pelo policial militar.

7.2.4.2 Procedimentos para o disparo da arma de fogo

O policial militar, antes de disparar sua arma de fogo, deve, sempre que possível, abrigar-
se imediatamente, e seguir o protocolo:
a) Identificar-se como policial militar, mesmo estando fardado;

“ —Polícia!
— Largue a arma!”

b) Advertir o abordado sobre a possibilidade de disparar sua arma de fogo, proporcionando-


lhe tempo suficiente para que entenda e desista da agressão, acatando as ordens do policial
militar.
“— Se você reagir, vou disparar !”

Este procedimento não deverá ser executado quando:

 o fator tempo (ameaça iminente) colocar os policiais ou outras pessoas em risco de morte
ou puder causar-lhes ferimentos graves;

 a advertência for, evidentemente, inadequada ou inútil, dadas as circunstâncias dos fatos.


Exemplo: agressor, aparentemente sob efeito de drogas, está atirando ininterruptamente
contra várias pessoas.

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O disparo de arma de fogo contra a pessoa é um procedimento excepcional. Constitui a
única opção capaz de cessar uma iminente agressão letal e ocorrerá quando os outros
meios se mostrem ineficazes e não garantirem, de nenhuma maneira, que a vida em risco
possa ser preservada.

ATENÇÃO! O policial militar está autorizado a disparar sua arma de fogo


contra pessoas, em caso de legítima defesa própria ou de terceiros, contra
ameaça iminente de morte ou ferimento grave.

O perigo de morte a que se refere a regra deve ser iminente, atual, imperioso e urgente,
portanto, não corresponde a uma ameaça remota, potencial, distante, presumida ou futura.

Exemplos: o policial militar não pode disparar contra um agressor, simplesmente baseado
no seu histórico criminal (“delinquente perigoso”). Também não é justificável disparar arma
de fogo contra uma pessoa em fuga, que esteja desarmada ou que, mesmo possuindo
algum tipo de arma, não a utilize de forma a representar um risco iminente ou atual de morte
ou de grave ferimento aos policiais ou a terceiros.

c) Havendo feridos (inclusive policiais militares), em consequência do disparo de arma de


fogo, proceder-se-á ao socorro imediato. O comandante responsável pela ação/operação,
onde servem os policiais militares, deverá empregar todos os esforços para comunicar o fato
aos familiares dos feridos ou mortos (inclusive policiais), no menor tempo possível.

d) O policial militar que disparou sua arma de fogo deverá comunicar o fato verbalmente e
imediatamente aos seus superiores (comandante responsável pela Unidade ou Fração) e
confeccionará o Boletim de Ocorrência (BO) e o respectivo Auto de Resistência (AR),
detalhando todos os motivos de sua intervenção e suas consequências, assim como as
medidas decorrentes adotadas.

Esse protocolo será aplicado quando:

 disparar munição de impacto controlado;

 disparar arma de emissão de impulso elétrico;

 disparar arma de fogo (força potencialmente letal).

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7.2.4.3 Circunstâncias especiais para o disparo de arma de fogo

Existem algumas situações típicas do serviço operacional, em que existe a possibilidade do


policial militar disparar sua arma de fogo:

a) Controle de distúrbio civil: a regra geral é não disparar a arma de fogo nesses tipos de
intervenção. Excepcionalmente, o policial militar que estiver encarregado da segurança da
equipe (grupo ou pelotão) poderá disparar sua arma de fogo, nos casos de legítima defesa
própria ou de terceiros, contra ameaça iminente de morte ou ferimento grave. Esses
disparos devem ser dirigidos a um alvo específico (agente causador da ameaça) e na
quantidade minimamente necessária para fazer cessar a agressão. Somente serão
utilizados quando não for possível empregar outros meios menos lesivos. Antes de atirar,
deverá dedicar especial atenção à segurança do público e empregar munições ou armas
adequadas (tipo, potência e alcance).

ATENÇÃO! O policial militar poderá disparar sua arma quando for


estritamente necessário para proteger vidas e, sob nenhuma circunstância,
será aceitável atirar indiscriminadamente contra uma multidão, como recurso
para dispersá-la.

b) Pessoas em fuga: a regra geral é não disparar a arma de fogo. Todavia, seu emprego
está autorizado, quando outros meios menos lesivos se mostrem ineficazes e seja
estritamente necessário o disparo, nos casos de legítima defesa própria ou de outrem,
quando o indivíduo, durante a fuga, provocar ameaça iminente de morte ou ferimento grave.

Exemplo: indivíduo que para fugir, utiliza veículo como arma, e dirige em alta velocidade, na
contramão direcional, conduzindo-o de forma perigosa, na direção de pessoas ou dos
policiais.

Não é justificável disparar arma de fogo contra uma pessoa em fuga, que esteja desarmada
ou que não represente um risco iminente ou atual de morte ou de grave ferimento aos
policiais militares ou a terceiros.

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ATENÇÃO! Policiais militares não deverão disparar contra veículos que
desrespeitem um bloqueio de via pública, a não ser que ele represente um
risco imediato à vida ou à integridade dos policiais militares ou de terceiros,
por meio de atropelamentos ou acidentes intencionais (o motorista utiliza o
veículo como “arma”).

c) Disparos com munições de menor potencial ofensivo: são disparos com equipamento
apropriado ou arma de fogo, em que se utiliza munição especial (elastômero - projétil de
látex macio ou similar). Normalmente, é empregada em operações de manutenção da
ordem pública e controle de distúrbios. Suas características e finalidades permitem seu
emprego em situações como as mencionadas, quando o nível de força a ser aplicado for
menor ao que se aplicaria nos disparos de armas de fogo com munições convencionais (ver
Manual de Tecnologia de Menor Potencial Ofensivo).

Nessas situações, o policial militar deve considerar as possíveis consequências (riscos) de


atirar e sua responsabilidade na proteção da vida de outras pessoas, devendo observar:

 as especificações técnicas para seu uso, sistemas de disparos, em que podem atirar com
segurança, alcance e trajetória de projéteis, entre outros;

 que os disparos com este tipo de munição tem pouca precisão;

 que devem ser evitado disparos para as partes mais sensíveis do corpo, principalmente
locais de risco de lesões graves: cabeça, olhos, ouvidos, entre outros. Os disparos devem
ser dirigidos para a musculatura dos membros inferiores (direcionar disparos com
elastômero para as pernas, mais precisamente região da coxa);

 mesmo quando utilizada dentro das regras citadas, o risco de um possível efeito letal ou
de graves lesões continua existindo, mas em um nível bastante inferior, quando comparado
ao uso de munições convencionais para arma de fogo;

 os disparos devem ser seletivos e realizados, especificamente, contra pessoas que


estejam causando as ameaças.

73
d) Disparos táticos: são realizados para obter uma vantagem tática, para dar mais
segurança ao reposicionamento da equipe de policiais militares no terreno.

São aqueles normalmente efetuados pelo policial militar, para dar cobertura a companheiros
durante confrontos armados (técnica de “fogo e movimento”, tiros de contenção para
resgates de feridos), também, para diminuir a luminosidade de um ambiente, romper a
fechadura de uma porta ou outros obstáculos.

O policial militar que o realiza deve estar devidamente treinado, para não colocar em risco a
sua integridade física e a de outras pessoas.

e) Disparos de dentro da viatura policial-militar em movimento: a regra é não atirar.


Nessas situações, ele deve considerar as possíveis consequências (riscos) de disparar, e
sua responsabilidade na proteção da vida de outras pessoas. Para isso observará que:
Esses disparos têm pouca eficácia para fazer parar um veículo e os projéteis podem
ricochetear (no motor ou nos pneus) ou atravessar o veículo ou, até mesmo, não atingi-lo,
convertendo-se em “balas perdidas;

Se o condutor for atingido, existe a possibilidade de que ele perca o controle do veículo;

Estes disparos tem pouca precisão. A pontaria fica prejudicada pelo movimento do veículo e
pelo balanço provocado por ele, inclusive quando efetuados por atiradores experientes;

Existe a possibilidade que existam vítimas (reféns) estejam no interior do veículo perseguido,
inclusive dentro do porta-malas;

O mais recomendável é distanciar-se do veículo em fuga e, sem perdê-lo de vista, adotar


medidas operacionais para efetuar o cerco e o bloqueio. E ainda, solicitar reforço policial-
militar para que a intervenção possa ser realizada com mais segurança.

f) Disparo contra animais: poderá ocorrer, após serem tentados outros meios de
contenção, e quando o animal:

 encontra-se fora de controle, agressivo ou representar grave e iminente perigo


contra as pessoas ou ao patrimônio;

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 encontra-se agonizante em situação de ferimentos ou enfermidade na qual necessite ser
sacrificado para evitar sofrimento desnecessário e não estiver próximo a veterinário que
possa realizar esta tarefa e não houver condições de atendimento por outros órgãos
responsáveis. Exemplo: animal atropelado, ferido, agonizante e caído em rodovia deserta
em situação de penúria.

É importante considerar que quaisquer tratamentos cruéis cometidos contra animais


poderão constituir em crime previsto na legislação brasileira. Sobre isso existem dispositivos
legais13 que estabelecem a proteção deles. Caberá, portanto, ao policial militar, antes de
disparar, avaliar os possíveis resultados desta ação, seus reflexos na segurança do público
em geral e dos prejuízos ou danos materiais ao proprietário do animal.

O disparo de advertência não é previsto como procedimento policial-militar, pois


quando o policial militar atira com sua arma, não o faz para advertir ou assustar, o faz para
interromper, de imediato, uma agressão contra a sua vida ou a de terceiros.

Considerando as possíveis consequências desse tipo de ação, os policiais militar não


devem atirar para fazer valer suas advertências.

Nos disparos feitos para cima, o projétil retorna com força suficiente para provocar lesões ou
morte. Nos disparos feitos contra o solo ou paredes, ele pode ricochetear e também
provocar lesões ou morte;

Estes disparos podem fazer com que outros policiais que estejam atuando nas proximidades
pensem, de maneira equivocada, que estão sendo alvos de tiros de agressores, provocando
neles uma reação indevida;

LEMBRE-SE: o treinamento e a avaliação constante do uso da arma de fogo


propiciarão melhor capacidade técnica ao policial militar, resultando em
credibilidade e legitimidade junto à população.

13Constituição Federal art. 225, § 1º, inciso VII; Lei nº 9.605/98 que trata dos crimes ambientais, em especial o
que dispõe o seu art. 32, caput; Decreto Federal nº 24.645/34; Contravenção penal (art. 64 da LCP).

75
7.2.4.4 Procedimentos após o disparo de arma de fogo

O policial militar que disparou sua arma de fogo no serviço operacional, intencionalmente ou
não, deverá reportar tal fato ao seu superior imediato (coordenador de policiamento,
comandante de unidade ou subunidade).

Este superior determinará adoção das seguintes providências:

 promover a preservação do local;

 acionar a perícia;

 recolher todas as armas e munições dos policiais militares envolvidos;

 relatar formalmente o fato à autoridade judicial competente conforme a respectiva esfera


de atuação (Inquérito Policial Militar - IPM, Auto de Prisão em Flagrante - APF);

 determinar uma imediata investigação dos fatos ou circunstâncias, por meio de um


encarregado para proceder à apuração, preferencialmente que não seja membro da equipe
envolvida no disparo da arma;

 promover assistência médica e psicológica em atenção às possíveis sequelas que os


policiais possam sofrer em consequência da intervenção, para que superem possíveis
efeitos traumáticos decorrentes do fato vivenciado no incidente;

 designar um policial militar para contatar com as famílias das pessoas atingidas, inclusive
com a dos policiais, se for o caso. Preferencialmente, tal atribuição dever recair em pessoa
que não seja membro da equipe envolvida no incidente;

 atenuar a tensão da comunidade onde se deu o fato, mantendo contato permanente e


esclarecedor com os familiares das pessoas envolvidas e com a mídia local;

 providenciar relatório logístico especifico para descarga de munições (ver Manual de


Administração de Armamento e Munições da PMMG).

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REFERÊNCIAS

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Brasília. (DF), 1988.

EQUADOR. Policia Nacional do Equador. Manual de Derechos Humanos Aplicados a la


Función Polícial. 2007.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

GIRALDI, Nilson. Tiro Defensivo na preservação da vida (apostila).

MINAS GERAIS. Lei n. 14.310, de 19 de junho de 2002. Aprova o Código de Ética e


Disciplina dos Militares de Minas Gerais.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Plano Estratégico da PMMG, para vigência no período
de 2020 a 2023. Belo Horizonte: EMPM3, 2019.

MINAS GERAIS.Polícia Militar. Manual de Básico de Policiamento Ostensivo. Belo


Horizonte: Imprensa Oficial, 1987. 114p.

MINAS GERAIS.Polícia Militar. Manual de Prática Policial nº 1: Abordagem, Busca e


Identificação. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1984.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Diretriz de Direitos Humanos nº 3.01.09/18-CG: Regula a


atuação da Polícia Militar de Minas Gerais segundo a Filosofia de Direitos Humanos.
Belo Horizonte: Comando-Geral, Assessoria Estratégica de Emprego Operacional (AE/3),
2018.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Diretriz Geral para Emprego Operacional Nº 3.01.01/2019:
Regula o emprego operacional da Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte:
Comando-Geral, Assessoria Estratégica de Emprego Operacional (PM3), 2019.

MINAS GERAIS.Polícia Militar. Nota Instrutiva n. 19 /93 – CG: Trata do isolamento e da


preservação de locais de crime.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Memorando Circular n. 31.687.6/08-EMPM, de 10 de


outubro de 2008. Uso de algemas – recomendações. Ref.: Súmula Vinculante nº 11, do
Supremo Tribunal Federal.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Manual de Armamento Convencional da PMMG. Belo


Horizonte. Comando-Geral, 2009.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Resolução nº 4.827/2019: Dispõe sobre o Portfólio de


Serviços da Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: Comando-Geral, Assessoria
Estratégica de Emprego Operacional (PM3), 2019.

MOREIRA, Cícero Nunes; CORRÊA, Marcelo Vladimir . Manual de Prática Policial. Belo
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ostensividade na ação policial. Conjuntura Polícia. Boletim de Análise - Departamento de
Ciência Política da UFMG. Belo Horizonte, PP 22-26, 20 de abril de 1999.

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Todas as Pessoas sob Qualquer Forma de Detenção ou Prisão – Conjunto de
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