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Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de Santa Bárbara-MG.

Autos nº 317.98.005533-5

JOANA DE SOUZA , já qualificada, vem, por seu advogado infra-assinado,


perante Vossa Excelência, com espeque no artigo 581, IV do CPP, interpor RECURSO EM
SENTIDO ESTRITO DA DECISÃO DE PRONÚNCIA, cujas razões seguem inclusas.

Na oportunidade, requer a Vossa Excelência que se digne, nos termos do artigo


589 do CPP, proceder à reforma da decisão de pronúncia, para absolver sumariamente a
acusada, com fulcro no artigo 415, inciso IV do CPP, vez que restou plenamente comprovado
que a recorrente agiu sob o abrigo da excludente de ilicitude consistente na legítima defesa.

Pede deferimento.

Belo Horizonte, 02 de setembro de 2017.

JOAQUIM MÁRCIO DE CASTRO ALMEIDA


OAB/MG 102157
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Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do egrégio Tribunal de Justiça de Minas


Gerais.

Autos de origem: 027.98.005725-7

RAZÕES DE RECURSO

Eminentes Desembargadores,

A recorrente foi pronunciada pela prática do crime de homicídio simples, conduta


capitulada no artigo 121 do Código Penal Brasileiro.

Restou assentado na decisão de pronúncia que “não há nos autos a certeza necessária
para a configuração dos requisitos necessários para o reconhecimento da legítima defesa”.
(fls. 169).

Nessa linha de argumentação, restou positivado ainda na aludida decisão que “nos
limites da prova até então produzida, existe uma aparente desproporção entre a injusta
agressão invocada e o uso moderado dos meios necessários” (fls. 169).

No entanto, não é esta a conclusão que se obtém a partir de uma leitura atenta dos autos.
Com efeito, tratava-se de uma agressão física prestes a ser cometida por um homem contra uma
mulher, que se defendera disparando um só tiro de arma de fogo em direção ao seu algoz.

Calha, a propósito, o depoimento da testemunha José Rodrigues:

“ Que assistiu os fatos descritos na denúncia; que esclarece o


seguinte: que estava tomando cerveja no bar da vítima quando ali
chegou a acusada; que vítima e acusada começaram a discutir;
que a vítima agredia com palavras a acusada; que em determinado
momento a vítima “partiu” para cima da acusada para agredi-la
fisicamente; que nesse momento a acusada afastou um pouco e
efetuou um disparo contra a vítima” (fls. 133).
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Ficou demonstrado, portanto, que a vítima estava na iminência de agredir a recorrente,


quando esta repeliu a agressão, utilizando-se do meio necessário, isto é, valendo-se do meio que
tinha à sua disposição naquele momento:

“ É bem de ver que, se o meio empregado era o único de que, no


momento, dispunha o agredido, não fica excluída a moderação ou
proporção da defesa, ainda que tal meio não pudesse deixar de
infligir uma lesão mais grave do que a que poderia resultar da
agressão impedida” ( HUNGRIA, Nelson, Comentários ao Código
Penal, Rio de Janeiro: Editora Forense. p. 461).

Não se pode desconsiderar o fato de que se tratava de uma agressão física prestes a ser
levada a cabo por um homem contra uma mulher; o que, por óbvio, revela a desproporção de
forças, existente entre o agressor e a agredida; o que autorizaria a utilização de uma arma de
fogo, tal como fora empregada, isto é, de forma moderada. Não é demais insistir que a
recorrente disparou um só tiro de revólver no sentido de repelir a agressão física que estava na
iminência de sofrer. Aqui, novamente, a lição de Hungria amolda-se como uma luva ao caso
concreto:

“ Um meio que, prima facie, pode parecer excessivo, não será tal se
as circunstâncias demonstrarem sua necessidade in concreto.
Assim, quando um indivíduo franzino se defende com arma de fogo
contra um agressor desarmado, mas de grande robustez física, não
fica elidida a legítima defesa”. (id. p. 462).

Resta inconteste, portanto, que Joana agira em legítima defesa própria. Não há
dúvida alguma neste aspecto. E mesmo que esta existisse não seria uma dúvida séria a
ponto de se proclamar o repisado, anacrônico, irracional e desumano: in dubio pro
societate... Pois não se pode fazer disto um hábito: “O maior inimigo dos juízes!”. “ O
hábito, esse demônio que devora todos os sentimentos”... A acusação é data venia,
estapafúrdia e leviana, e por isso mesmo, extremamente perigosa... Dito de outra forma:

“Não se pode admitir que os juízes pactuem com acusações


infundadas, escondendo-se atrás de um princípio não
recepcionado pela Constituição, para, burocraticamente,
pronunciar réus, enviando-lhes para o Tribunal do Júri e
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desconsiderando o imenso risco que representa o julgamento


nesse complexo ritual judiciário.” ( Lopes Júnior, Aury. Direito
Processual Penal. 11ª edição – São Paulo: Saraiva, 2014. P.
1026).

O juiz sumariante preferiu, contudo, se é lícita a expressão: “lavar as mãos”; e


remeter o caso ao Conselho de Sentença, asseverando, em outras palavras, que ainda
restavam dúvidas se Joana agira ou não em legítima defesa.

Sendo assim, pede a esse ínclito Tribunal que se digne reformar a sentença de pronúncia
para ABSOLVER SUMARIAMENTE a recorrente, com base no artigo 415, inciso IV do
Código de Processo Penal Brasileiro.

Pede deferimento.

Belo Horizonte, 02 de setembro de 2017.

JOAQUIM MÁRCIO DE CASTRO ALMEIDA


OAB/MG 102157

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