Contrato Promessa
Contrato Promessa
Contrato Promessa
Funções do contrato-promessa
► Função de segurança e de garantia– visa que a pessoa possa assegurar-se de que, em momento
futuro, vai poder celebrar determinado negócio que, no momento presente, não pode ou não lhe convém (ou
por falta de dinheiro; falta de documentos cuja obtenção requer tempo, por carência de consentimento ou de
autorização necessária de terceiro, por inexistência da coisa, etc.).
► Função instrumental-preparatória – ele é um meio para alcançar um fim, pois ele não é o contrato
prometido em si. A promessa é o iter/caminho que tem por destino o contrato prometido (que é o contrato
efetivamente querido entre as partes). Para além disso, o contrato-promessa assegura ainda que o contrato
futuro seja celebrado em determinados termos: as partes podem celebrar previamente os termos que se
celebrará o contrato prometido – adianta os termos em que esse contrato virá a ser celebrado. nenhuma das
partes. Ou seja, mediante o contrato-promessa, os contraentes preparam e garantem o contrato definitivo.
Estas duas funções – de segurança e de preparação – justificam a importância prática do contrato-promessa:
este serve para vincular os sujeitos à celebração, num momento futuro, de um contrato que não convém ou
não pode ser celebrado no presente, e também prepara esse contrato futuro, porque dele constarão já, pelo
menos, alguns dos elementos que deverão constar do contrato prometido.
Ora, para que, quando esteja em causa a transmissão ou constituição de direitos reais sobre bens imóveis ou
bens móveis sujeitos a registo, o contrato-promessa produza efeitos erga omnes, em relação a terceiros (casos
excecionais previstos no n.º2 do artigo 413.º), é necessário que se verifiquem 3 requisitos cumulativos:
1) Declaração expressa (art. 217.º CC)
A declaração não pode ser tácita, tem de ser feita por um meio direto de manifestação da correspondente
vontade de tornar a eficácia oponível a terceiros, com eficácia absoluta (erga omnes).
2) Forma
A promessa terá de ser solenizada: através de escritura pública, ou por documento particular autenticado, se o
contrato prometido exigir igual forma.
3) Registo
Para ser oponível a terceiros a promessa deve ser inscrita no registo respetivo.
Do contrato-promessa decorrem sempre apenas direitos de crédito, os quais, porém, são oponíveis a terreiros
por efeito da inscrição da promessa no registo. → Por isso mesmo, a aquisição feita por terceiro do bem
imóvel ou do bem móvel sujeito a registo que é objeto do contrato prometido será ineficaz em relação ao
promissário, que pode exigir a execução específica à celebração do contrato prometido, nos termos do artigo
830.º do CC. → Assim, quer a ação seja proposta contra o promitente ou contra o promitente e o terceiro
adquirente, o terceiro está, em qualquer das hipóteses, obrigado a entregar o imóvel ao promitente-comprador
que obtenha ganho de causa.
Figuras afins
Negociações preliminares – as negociações são a atividade instrumental da conclusão de um contrato, e
também da conclusão de um contrato-promessa. É a fase pré-contratual, na qual as partes devem proceder
segundo os ditames da boa-fé (art. 227.º CC). Ora, através das tratativas as partes não assumem qualquer
obrigação de celebrar o contrato que está em negociação, sendo a violação culposa da boa fé sancionada
apenas pelo dever de indemnizar o interesse contratual negativo.
O contrato-promessa situa-se, portanto, entre a fase pré-negocial e o contrato definitivo, sendo que há um
contrato promessa apenas quando os contraentes se obriguem à conclusão de certo (futuro) contrato – o
contrato prometido (definitivo).
Pacto de opção
Pode confundir-se o pacto de opção com a promessa unilateral. Ora, o contrato-promessa unilateral é sempre
um contrato que se aperfeiçoa com a aceitação do promissário, sendo, todavia, necessário uma nova
declaração de vontade no futuro, a fim de se celebrar o contrato prometido no contrato-promessa, isto é,
tem de haver nova declaração de vontade de ambas as partes para que o contrato definitivo se conclua.
Já no pacto ou contrato de opção existe uma declaração contratual de uma das partes, que a vincula de forma
irrevogável, enquanto a outra parte, a beneficiária, se reserva a faculdade de, livremente, aceitar ou não
esse mesmo contrato, sendo essa aceitação suficiente para a perfeição do negócio.
Ou seja, através do pacto de opção atribui-se ao credor um direito potestativo à celebração de determinado
contrato, sendo que a perfeição do contrato a que a outra parte se vinculou se basta com o mero exercício do
direito potestativo de que é titular a beneficiária do pacto de opção, não sendo necessário aqui uma nova
declaração de vontade a posteriori.
Em suma: A promessa é um contrato que por objeto a celebração de um outro, ou seja, é sempre necessário a
celebração de um contrato definitivo, tendo de se emitir uma nova declaração de vontade no futuro. → No
pacto de opção isto não acontece.
Pacto de preferência
Pode igualmente confundir-se com o contrato-promessa unilateral.
Ora, o pacto de preferência faz nascer a obrigação de escolher outrem como contraente, mas isto apenas no
caso de o obrigado à cedência de preferência se decidir livremente a contratar. Mas ele não se obriga a
contratar no futuro, ao contrário do que sucede no contrato-promessa – apenas se obriga a dar preferência, em
condições de igual, caso se decida (livremente) a contratar.
Assim, se se justifica que a compra e venda de coisa alheia seja nula, já não se justificaria que a promessa de
coisa alheia, porque o motivo da nulidade da venda da coisa alheia assenta no facto de o contrato de compra
e venda produzir efeitos translativos, já não se justifica no caso da promessa de venda de coisa alheia, porque
o contrato-promessa não produz efeitos translativos: a razão de ser que justifica a proibição de coisa alheia
não se estende à promessa de venda de coisa alheia, porque da promessa de compra e venda apenas nasce a
obrigação de celebrar o contrato definitivo.
EM SUMA:
Ao contrato-promessa, pelas razões supramencionadas, não são aplicáveis:
- As regras de proibição da alienação de coisa alheia;
- Não se aplica à promessa de venda de bens imóveis, a proibição de alienação sem consentimento do
cônjuge (art. 1682.º-A CC);
- Não se aplica a proibição de venda a netos ou filhos, sem o consentimento dos outros netos ou filhos
(art. 877.º CC).
Afinal, em todos estes casos do contrato-promessa não nascem efeitos translativos, mas apenas a obrigação
de celebrar o contrato definitivo, cujo cumprimento pode vir a ser possível no tempo devido, se entretanto o
promitente obtiver a coisa ou o consentimento (ou o seu suprimento judicial) necessário à realização do
negócio definitivo (esse sim produtor de efeitos translativos). → Caso tal não suceda, haverá incumprimento
do contrato-promessa validamente celebrado, por impossibilidade subjetiva, que poderá ou não ser culposa
consoante o exato conteúdo ou alcance da promessa. Assim:
► Se o promitente assumir uma obrigação de meios → obrigou-se apenas a fazer o que estivesse ao seu
alcance no sentido de adquirir a coisa alheia ou de obter o consentimento necessário para a alienação, sendo
que se se provar que procedeu às diligencias adequadas para o efeito → não haverá lugar a responsabilidade
civil pelos danos causados (tendo havido sinal, o promitente terá de o restituir).
► Se, pelo contrário, o promitente assumiu uma obrigação de resultado → tendo assegurado ao
promissário a celebração do contrato prometido, então haverá responsabilidade civil – logo, tendo havido
sinal, terá de restituir o dobro.
Assim: excecionalmente, sempre que a lei exija documento (quer autenticado, que particular) para o
contrato prometido, é necessário que o contrato-promessa conste de documento assinado pelos
promitentes ou promitente (consoante a promessa seja bilateral ou unilateral), bastando, para este efeito,
documento particular, mesmo que o contrato prometido dependa de documento autêntico.
Dr. Calvão da Silva – defende a redução do contrato-promessa, nos termos do artigo 292.º do CC.
Assim: se uma promessa bilateral que deveria ter sido reduzida a escrito e assinada por ambos os promitentes,
só for assinada por um dos promitentes pode ser reduzida a uma promessa unilateral, formalmente sã.
Ou seja, retiramos da promessa bilateral a parte inválida, a declaração de vontade do promitente-comprador
que não assinou, pois é esta que é a fonte da nulidade da promessa bilateral. Assim, se subtrairmos à promessa
bilateral a parte invalida (promessa de compra), ficando apenas a promessa de venda, supera-se a dua patologia
formal, uma vez que a promessa de venda é formalmente válida.
Fundamentos:
- Dr. Calvão da Silva invoca, desde logo, como argumento a favor da redução da promessa bilateral e promessa
unilateral de venda a questão da divisibilidade objetiva (abstrata) da promessa bilateral: a promessa bilateral
é decomponível em duas promessas unilaterais. Em abstrato, uma promessa bilateral pode sobreviver como
uma promessa unilateral, porque uma promessa bilateral pode ser decomposta em duas promessas bilateral, o
que permite a subtrair uma delas e permitir a sobrevivência daquilo que era uma promessa bilateral como uma
promessa unilateral → isto é viável do ponto de vista jurídico.
O problema é que o facto de ser objetivamente divisível, não significa que subjetivamente o seja:
Sinalagmaticidade da promessa bilateral: quem promete vender, fá-lo porque a contraparte promete
comprar. Se temos uma promessa bilateral, como contrato sinalagmático que é, isto significa que cada um dos
promitentes só promete porque o outro prometeu também. Portanto, objetivamente, uma promessa bilateral é
divisível →verifica-se a nulidade parcial do contrato-promessa.
Art. 292.º do CC → a nulidade parcial não determina a invalidade de todo o negócio, SALVO quando se
mostre que este não teria sido concluído sem a parte viciada (critério da vontade hipotética ou conjetural das
partes).
A redução resolve este problema da nulidade parcial (que objetivamente é perfeitamente viável): se uma das
partes (suponhamos o promitente-vendedor) fizer prova de que nunca teria celebrado o contrato promessa
os termos reduzidos, então a nulidade parcial deixa de o ser, e aquilo que seria um contrato-promessa
parcialmente nulo, passa a sê-lo por inteiro. (art. 292.º/2ª parte do CC) → Não se considerando, por este
motivo, vinculado o próprio vendedor.
PROVA
A prova da vontade hipotética ou conjetural do promitente-vendedor é uma prova relativamente fácil de se
fazer: tem de ser o promitente-vendedor, interessado na nulidade total da promessa bilateral (e não na
subsistência da promessa unilateral de venda) a fazer prova de que nunca teria celebrado a promessa como
promessa unilateral, nunca teria celebrado o contrato-promessa enquanto promessa unilateral de venda.
➔ Esta é uma prova fácil de se fazer dada a sinaglamaticidade do contrato-promessa bilateral.
A conversão (art. 293.º do CC) parte do pressuposto de que o negócio (no caso, o contrato-promessa bilateral)
é totalmente nulo, a não ser que o fim prosseguido pelas partes permita supor que elas o teriam querido, se
tivessem previsto a invalidade. → Assim, se fossemos pela solução da conversão partiríamos do princípio de
que todo o contrato-promessa de compra e venda é nulo → e que a parte interessada (promitente-
comprador) na sobrevivência dessa promessa bilateral como promessa unilateral de venda é que teria de fazer
prova de que ambos (ele e o promitente-vendedor) teriam querido o contrato como promessa unilateral. Há
aqui uma inversão do ónus da prova, que já não impende sobre a parte interessada na nulidade total, que passa
a ter de ser feito pela parte interessada na nulidade parcial (e esta é uma prova mais complicada de se fazer).
CONLUSÃO: No caso de uma promessa bilateral de compra e venda que apenas seja assinada pelo
promitente-vendedor, seguindo a solução da redução da promessa nos termos do artigo 292.º do CC, parte-se
do princípio que a promessa bilateral pode sobreviver na parte sã, ou seja, como promessa unilateral de venda,
a não ser que o promitente-vendedor faça prova de que nunca teria concluído aquela promessa se soubesse
que o promitente-comprador não iria assinar o documento exigido pelo n.º 2 do artigo 410.º do CC.
Calvão da Silva remata dizendo que:
- Não só a divisibilidade objetiva do contrato-promessa justifica a redução do contrato, que parte da
ideia da nulidade parcial.
- Como se justifica mais o ónus da prova ser suportado por quem está interessado na invalidade total,
porque é uma prova relativa a um facto próprio dele (ao contrário do que sucede no caso da conversão).
- Também se justifica pelo princípio de conservação dos negócios, isto é, por exigências de
estabilidade e segurança jurídica do comércio jurídico.
Não há aqui uma sinalagmaticidade perfeita, pois esta só existiria se à obrigação de vender correspondesse a
obrigação de comprar. Todavia, não é menos certo que a contrapartida pecuniária fixada se apresenta como a
causa da promessa unilateral de venda, sem a qual a esta não teria sido celebrada.
São prestações sinalagmáticas apenas funcionalmente, e não estruturalmente (sinalagmaticidade imperfeita),
pois a obrigação de vender não existiria sem a estipulação da indemnização de imobilização, para a
eventualidade de o promissário não comprar.
Apesar de só uma das partes se vincular a contratar, a outra também se obriga ao pagamento de uma
contraprestação pecuniária (o preço da imobilização), sem a qual aquela parte não prometeria contratar. Assim,
o contrato-promessa unilateral de venda com cláusula de preço de imobilização deve considerar-se sujeito aos
mesmos requisitos formais exigidos pelo n.º 2. Tornar-se-á, portanto, necessária a assinatura de ambas as
partes.
❖ E a entidade que realiza esse reconhecimento tem, ainda, de certificar-se da existência da respetiva
licença de utilização ou de construção.
Visou superar um problema de construção clandestina (problema de poderem estar a ser vendidos a pessoas –
aos “promitentes-compradores” amadores – edifícios clandestinos, isto é, sem licença de construção ou de
utilização).
FUNDAMENTOS
1. O legislador prevê, no próprio artigo 220.º, a possibilidade de aplicação de uma outra sanção
(atípica).
2. O artigo 285.º permite a aplicação de um regime especial de invalidade. Dr. Calvão da Silva
considera que a regra do artigo 410.º, n.º 3 é justamente um regime especial, fundamentando isto em
2 elementos:
RATIO LEGIS
► A ratio legis, a razão de ser, a teleologia do n.º 3 que já analisamos supra – tentando superar os problemas
de construção clandestina que afetam o promitente-aquirente (normalmente, promitente-comprador). Este
preceito legal visa, portanto, proteger quem promete comprar, logo, a invalidade do n.º 3 do artigo 410º deve
adaptar-se, quanto ao seu regime, a essa finalidade que presidiu e justifica a existência da norma.
Ou seja, visando o preceito legal impedir que, sem conhecimento do promitente-comprador, possam ser objeto
de promessa de venda prédios de construção ou utilização clandestina, exige-se uma adaptação do regime da
nulidade a esse facto.
► Para além da ratio legis, o n.º 3 é uma norma de ordem pública de proteção caracterizada, no que toca à
forma, por formalismos informativos (não de ordem pública de direção). Isto é, que subalterniza
interesses de terceiros, do comércio jurídico aos interesses de um dos contraentes tido por “mais frágil”, pois
o promitente-adquirente é objetivamente o contraente mais débil. O n.º 3 do artigo 410.º visa, então, informar
o promitente-adquirente relativamente à existência ou inexistência de licenças de quem quer prometer vender.
*NOTA: Ordem pública de direção – subalterniza os interesses dos contraentes aos interesses mais latos ao
comércio jurídico de terceiros, etc.
Como?
✓ Numa nulidade típica qualquer dos interessados a pode invocar (art. 286.º CC). PORÉM, no caso do
n.º 3, se é um formalismo informativo que aqui está em causa e a sua falta dá origem a uma nulidade
que visa proteger o promitente-comprador, então há-de poder ser invocada só por ele (promitente-
comprador): não podendo ser invocada por terceiros, não pode ser invocada pelo promitente-vendedor
não pode ser incoada oficiosamente pelo tribunal.
✓ Ao contrário da nulidade típica, então a nulidade que subjaz à inobservância das exigências previstas
no n.º 3 do art. 410.º pode ser sujeita a sanação, a convalidação (normalmente, no caso da nulidade
típica, a nulidade não pode sanada). Todavia, no caso desta nulidade atípica isso deve suceder, porque
se o promitente-vendedor acaba por obter a licença de que precisava, então deixa de se justificar a
proteção do promitente-adquirente.
Até abordamos sempre estas questões no âmbito e na perspetiva de estar em causa um contrato-promessa
oneroso de constituição ou transmissão de um direito real.
E se se tratar de um contrato-promessa oneroso de extinção de um direito real?
Dr. Calvão da Silva esclarece que a consagração do n.º 3 foi movido por preocupações quanto à
aquisição de direitos sobre coisas que não pudessem ser ocupadas ou construídas por faltar licença de
utilização ou construção, respetivamente. Então, se se tratar de um contrato-promessa oneroso de extinção de
um direito real sobre um edifício não há aí qualquer problema subjacente.
Se A e B celebram um contrato-promessa de extinção de um usufruto sobre um edifício não há necessidade
de proteger nenhuma das partes, porque não se está a adquirir um direito sobre algo que possa vir a levantar
problema.
E quanto ao contrato-promessa de modificação de um direito real?
Depende:
Se a modificação amplia o direito real (ex.: contrato-promessa que alarga por mais 10 anos um direito
de usufruto já existente) → há aqui uma aquisição, logo aplica-se o n.º 3: uma modificação que amplia um
direito real é uma aquisição.
Se restringe o direito real (ex.: contrato-promessa que reduz esse direito de usufruto em 10 anos) →
uma modificação que restringe, é ums extinção parcial, pelo que não se aplica o n.º3 do artigo 410.º do CC.