Ecologia Aplicada
Ecologia Aplicada
Ecologia Aplicada
Material Teórico
Ecologia de Comunidades
Revisão Textual:
Profª. Me. Selma Aparecida Cesarin
Ecologia de Comunidades
• Ecologia de Comunidades;
• Sucessão Ecológica;
• Resistência e Resiliência.
Nesta Unidade, serão apresentados os principais aspectos que definem uma comunidade
ecológica, como estes componentes estruturadores se relacionam no tempo e no espaço,
fazendo com que haja a evolução das comunidades, indicando ainda neste processo os
parâmetros quantitativos e qualitativos presentes nas comunidades mais simples até as mais
complexas e desenvolvidas.
Recomendo que você, além de fazer uma leitura tranquila do conteúdo desta Unidade,
consulte os materiais complementares e assista também aos vídeos sugeridos, como uma
forma de orientação para a resolução dos exercícios. Recomenda-se ainda, que você utilize a
internet e busque outras fontes que possam contribuir com o seu aprendizado.
“Os mesmos átomos do passado são os que compõem o mundo hoje, inclusive você.”
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Unidade:
Contextualização
Vídeos:
Sucessão Ecológica – Ecologia – Professor Paulo Jubilut:
https://www.youtube.com/watch?v=RPvTbMyfpok
Biogeografia de Ilhas:
https://www.youtube.com/watch?v=4zbzeqJHDcs
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Ecologia de Comunidades
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Unidade:
A estreita relação que as espécies estabelecem entre si foi considerada pelo botânico norte-
americano Frederic Edward Clements (*1874 - †1945) uma força motriz capaz de manter as
comunidades organizadas funcionalmente de tal modo a ponto de poderem ser consideradas
superorganismos.
Tal qual a importância das engrenagens para o perfeito funcionamento de um relógio,
as espécies, na visão do botânico, são peças que mantêm as comunidades estruturadas e a
ausência de uma delas pode significar o colapso de todo o sistema. Durante suas expedições
a diferentes biomas, ele notou que a distribuição geográfica de uma espécie era a mesma das
demais espécies e chamou de ecótono a zona de transição entre duas diferentes comunidades
(Figura 2).
Gradiente geográfico
Adaptado de Ricklefs (2003)
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Por que estudamos as comunidades?
Estudos sobre comunidades podem ser realizados em diversas escalas espaciais e temporais
dependendo do enfoque do pesquisador, e quase sempre se destinam à generalização de padrões
em testes de teorias ecológicas, as quais deveriam subsidiar ações públicas de conservação dos
biomas e de áreas prioritárias à biodiversidade. Mas falaremos dessas teorias mais adiante, em
Biogeografia de Ilhas e Metapopulação.
Agora vamos explorar os métodos que os ecólogos utilizam para descrever as comunidades
e a estrutura que as mantêm. A primeira característica que nos ajuda a conhecer uma
comunidade tem caráter qualitativo e diz respeito à composição de espécies, ou seja, quais
as espécies identificadas naquela determinada comunidade.
Esse é um trabalho árduo, feito por taxonomistas, que visa nomear as espécies segundo a
classificação binomial lineana.
Algumas espécies são bem conhecidas até pela população mais leiga e sua presença
na lista de espécies pode dizer muito sobre o ambiente em questão. Por exemplo,
se na lista houver o nome científico do Lobo-guará, Chrysocyon brachyurus,
podemos deduzir que se trata de uma comunidade localizada no bioma Cerrado,
assim como deveria se tratar da Floresta Amazônica caso houvesse na lista o
nome da ave Uirapuru, Cyphorhinus arada. Essas espécies são conhecidas como
endêmicas, ou seja, apresentam distribuição restrita a um bioma ou habitat.
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Unidade:
Riclkefs (1996)
Equação 1
ni
Pi=
N
onde:
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Equação 2
H'
J=
H'máximo
onde:
Equação 3
H'= -Σ Pi In Pi
onde:
∑ representa o somatório.
Equação 4
1
D=
Σ (Pi)2
Esses parâmetros matemáticos vistos até agora são úteis aos ecólogos, pois são fáceis de
calcular e permitem apresentar, de forma resumida, características importantes à avaliação da
estrutura das comunidades.
Dessa maneira, utilizando tais parâmetros, podemos facilmente comparar duas ou mais
comunidades que estejam sob suspeita de influência de um efeito qualquer. Por exemplo,
podemos testar o efeito da urbanização sobre a estrutura de comunidades de formigas.
De modo geral, a diversidade (H’) das comunidades apresenta relação positiva com a
equidade (J) e a dominância (D). Em outras palavras, comunidades com altos valores de J
e D terão H’ também alto. Para exemplificar essas relações, tomemos como base quatro
comunidades hipotéticas representadas na Tabela 1.
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Unidade:
Tabela 1. Comparação da estrutura de quatro comunidades hipotéticas. Os valores sublinhados de Pi indicam as espécies dominantes.
S = riqueza de espécies. J = equidade. D = dominância. H’ = diversidade.
Comunidades Abundância Relativa (Pi) das Espécies Descritores de Comunidades
A B C D E S J D H’
1 0,64 0,20 0,10 0,05 0,01 5 0,64 1,57 1,03
2 0,45 0,40 0,05 0,05 0,05 5 0,73 2,27 1,17
3 0,35 0,20 0,20 0,20 0,05 5 0,92 4,11 1,48
4 0,20 0,20 0,20 0,20 0,20 5 1,00 5,00 1,61
Nós vimos antes que a riqueza de espécies depende da latitude, ou seja, da posição geográfica
em que a comunidade está localizada em relação à linha do Equador.
Entretanto, as observações dos naturalistas norte-americanos MacArthur e Wilson (1967)
(Figura 4) trouxeram ao mundo da ciência uma nova abordagem sobre a estrutura das
comunidades que seria utilizada para fins conservacionistas até a atualidade.
Eles notaram três fatos importantes que sustentariam o que chamaram de teoria da
biogeografia de ilhas:
1) As comunidades insulares são mais 2) A riqueza de espécies aumenta com o 3) A riqueza de espécies diminui com o
pobres em espécies do que as comunidades tamanho da ilha; aumento do isolamento da ilha (Figura 5).
continentais equivalentes;
Essas riquezas são relativamente constantes, mas determinadas por um equilíbrio dinâmico
entre extinção e colonização das espécies.
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Figura 5. Esquema da teoria de biogeografia de ilhas de MacArthur e Wilson. Sc e S acompanhados de
comparações par a par, que representam as riquezas de espécies no continente e nas ilhas, respectivamente.
S1 > S3
S3 S1
S3 > S4 S1 > S2 Sc
S4 S2
S2 > S4
Dessa forma, entre duas ilhas de tamanhos diferentes, mas situadas à mesma distância
do continente (S1 e S2, S3 e S4), a teoria prevê maior riqueza de espécies na ilha maior (S1
e S3). Isso ocorre porque ilhas menores abrigam populações de pequeno tamanho que têm
maior probabilidade de extinção. Por outro lado, entre duas ilhas de mesmo tamanho, mas
situadas em diferentes distâncias do continente (S1 e S3, S2 e S4) a teoria prevê maior riqueza
de espécies na ilha mais próxima do continente (S1 e S2). Isso ocorre porque a proximidade do
continente aumenta a probabilidade de colonização.
Dois anos após a publicação da teoria da biogeografia de ilhas, Levins (1969) descreveu um
modelo matemático para explicar a dinâmica populacional de insetos-praga em sistemas de
cultivos, que ele chamou de metapopulação.
Esse modelo tem parâmetros e premissas muito semelhantes à teoria da biogeografia
de ilhas e tem sido amplamente utilizado na biologia da conservação frente às ameaças da
fragmentação dos biomas devido à expansão do agronegócio (MARINI-FILHO; MARTINS,
2000). Mas trataremos desse assunto mais profundamente nas Unidades seguintes.
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Unidade:
greenstyle.com.br
Sucessão Ecológica
A sucessão ecológica pode ser definida como um processo de substituição lenta e gradual
de uma comunidade por outra até atingir um estágio final de “amadurecimento” conhecido
como clímax (Figura 7).
Quando o local a ser inicialmente colonizado não foi previamente ocupado por organismos,
por exemplo, um solo recém-coberto por um derrame de lava vulcânica, a sucessão é
classificada como primária. Mas, se o local era habitado por uma comunidade, por exemplo,
uma clareira na Floresta Amazônica aberta pela queda de algumas árvores, a sucessão é
considerada secundária e a diferença básica entre os dois tipos é a presença de matéria
orgânica.
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Para qualquer um dos tipos de sucessão, os estágios iniciais são caracterizados por grande
oscilação meso e microclimáticas. Dessa forma, as espécies características dessa fase,
conhecidas como pioneiras, devem estar adaptadas às grandes oscilações de temperatura
e umidade, além da baixa taxa de produção e reciclagem de matéria orgânica, típicos de
ambientes abertos.
As espécies vegetais predominantes são pouco exigentes em relação à qualidade ambiental,
têm ciclo anual e pequeno porte. A ocupação dos substratos e a produção de biomassa pelas
espécies pioneiras promovem mudanças necessárias ao estabelecimento de novas espécies
cada vez mais exigentes. Essas fases intermediárias da sucessão ecológica são conhecidas
como seres e precedem a fase final ou clímax.
A fase de clímax, como o próprio nome sugere, é caracterizada pela estabilidade das variáveis
meso e microclimáticas, resultante do aumento da complexidade estrutural da comunidade
(riqueza de espécies, estratificação vertical da vegetação, acúmulo de serapilheira), que confere
proteção do solo contra a perda de água e nutrientes e serve de barreira à ação dos ventos e
da luz solar.
As espécies vegetais presentes nessa fase são exigentes, têm grande porte e ciclo de vida
perene. As características gerais das fases da sucessão ecológica podem ser conferidas no
Quadro 1.
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Unidade:
people.wku.edu
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Resistência e Resiliência
Ricklefs (2003)
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Unidade:
Esse fenômeno impôs limitações às espécies vegetais do Cerrado e muitas delas desenvolveram
adaptações, tais como troncos revestidos por grossa camada de suberina (cortiça) e caule
subterrâneo (xilopódio) (Figura 10).
paisagismodigital.com
iStock/Getty Images
Dessa forma, a evolução das espécies de plantas do Cerrado em relação ao fogo permitiu
que a comunidade se reestabelecesse após os incêndios, assim que as primeiras chuvas
começassem a cair. Mas, as espécies da Floresta Amazônica não teriam tal sorte se esse
fenômeno se tornasse comum. Uma seca prolongada nessa floresta traria consequências
desastrosas para o Brasil e o clima do Planeta devido à sua tamanha imensidão territorial de
importância ecológica.
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Material Complementar
Livros:
RICKLEFS, R. E. 2010. A Economia da Natureza. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. 2007. Ecologia de Indivíduos a Ecossistemas. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005
Leituras:
Ecologia de Populações e Comunidades
https://goo.gl/QdjbNW;
Vídeos:
Sucessão Ecológica – Ecologia – Professor Paulo Jubilut:
https://www.youtube.com/watch?v=RPvTbMyfpok
Biogeografia de Ilhas:
https://www.youtube.com/watch?v=4zbzeqJHDcs
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Unidade:
Referências
______. A economia da natureza. 53.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A., 2003.
USP. Universidade de São Paulo. Instituto Biociências. Sucessão ecológica. Disponível em:
<http://www.ib.usp.br/ecologia/sucessao_ecologica_print.htm>. Acesso em: 12 abr. 2015.
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Anotações
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