Afeicoes Religiosas Trecho
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ção, também chamada de vontade. As afeições estão ligadas à última e, como ele
mesmo as de_ ne, “são as atividades mais pujantes e sensatas da inclinação e da
vontade da alma”. Com notável erudição e respaldo bíblico, Edwards mostra que
essas afeições santas são essenciais à santidade e à religião, tão indispensáveis a
ponto de ele afirmar que aqueles contrários a essa proposição deveriam jogar suas
Bíblias no lixo. Mas, ao mesmo tempo que certas afeições devem ser cultivadas, o
autor defende que outras precisam ser constantemente rejeitadas e mortificadas.
E é exatamente isso que esse livro nos ensina a fazer.
Justin Taylor, The Gospel Coalition
“Examinai a vós mesmos, para ver se estais na fé.” Podemos dizer que a reco-
mendação de Paulo em sua Segunda Carta aos Coríntios foi uma das principais
inspirações de Edwards para escrever Afeições religiosas, um livro que a cada página
encoraja os leitores a pôr em prática o conselho do apóstolo. De acordo com
Edwards, os verdadeiros cristãos manifestam seus corações regenerados por meio
de anseios e desejos divinos, como o amor e a alegria. Ore enquanto ler esse livro
e você encontrará muito para iluminar sua mente e aquecer seu coração. Na ver-
dade, você vai se deparar com verdades que lhe oferecerão alegria a partir de agora
e durante toda a eternidade.
Mark Talbot, PhD, professor-adjunto de Filosofia na Wheaton College e um
dos autores do livro Suffering and the sovereignty of God
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Sumário
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Prefácio ........................................................................................................................ 9
Primeira parte
Sobre a natureza das afeições e sua importância na religião ....................... 17
Segunda parte
Não há sinais inquestionáveis de que as afeições religiosas sejam
cheias da graça nem de que não sejam ......................................................... 51
I. As afeições religiosas serem mui grandiosas ou de nível elevado não significa
nem uma coisa nem outra ............................................................................... 52
III. As afeições religiosas capacitarem aqueles que as têm a falar com eloquência,
fervor e prodigalidade das coisas da religião não significa que sejam cheias
da graça nem que não sejam ............................................................................ 60
Terceira parte
Apresentam-se os sinais característicos das afeições genuinamente
santas e cheias da graça .............................................................................. 115
I. As afeições verdadeiramente espirituais e cheias da graça nascem das
influências e operações espirituais, sobrenaturais e divinas no coração........... 119
XII. As afeições santas e cheias da graça têm ação e frutos na prática cristã;
isto é, têm sobre o crente que as vive influência e poder capazes de fazê-lo
adotar, como prática e profissão de vida, uma conduta absolutamente
harmoniosa com as normas cristãs e por elas regida. ..................................... 293
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ão há pergunta mais importante para a humanidade, nem mais pre-
ocupante para cada indivíduo bem responder, do que estas: “Quais
as características próprias de quem tem o favor de Deus e recebeu o
direito às recompensas eternas que ele concede?”. Ou, o que vem a ser o mes-
mo: Qual é a natureza da verdadeira religião? Além disso, em que consistem os
sinais característicos dessa virtude e santidade aceitáveis aos olhos de Deus?”.
A despeito da sua importância e da luz clara e intensa com que a Palavra de
Deus nos orienta nessa questão, não há nenhum outro tema em que os cristãos
professos mais divirjam entre si. Seria interminável enumerar a variedade de
opiniões sobre esse assunto que divide o mundo cristão, o que põe em evidência
a veracidade da declaração de nosso Salvador: “A porta é estreita, e o caminho
que conduz à vida, apertado, e são poucos os que a encontram”.
A reflexão sobre essas questões há muito tem me levado a perscrutar aten-
tamente o tema com o máximo zelo e diligência de que tenho sido capaz e com
toda a precisão possível na busca e investigação. Trata-se de um assunto a que
minha mente tem se dedicado particularmente desde os primeiros dias em que
comecei o estudo de teologia. Mas o juízo quanto ao êxito de minhas perquiri-
ções deve ser deixado ao critério do leitor deste tratado.
Tenho consciência de quanto é difícil julgar com isenção o objeto deste
discurso em meio à poeira e à fumaça de tal estado de controvérsia em que ora
se encontra a nação sobre problemas dessa natureza. Assim como é penoso
escrever sem parcialidade, também é difícil ler sem parcialidade. Muitos pro-
vavelmente terão o espírito ferido ao descobrir condenada aqui grande parte do
que diz respeito às afeições religiosas. Já outros talvez se abalem com indignação
e desprezo ao encontrarem aqui tanta coisa justificada e demonstrada. É possí-
vel também que alguns estejam prontos para me acusar de incoerente comigo
mesmo por aprovar com tal zelo algumas coisas e condenar com o mesmo zelo
outras tantas. Conforme vim a descobrir, tais são as objeções que alguns têm-
-me apresentado desde o início de nossas últimas controvérsias sobre a religião.
É difícil ser amigo zeloso e sincero do que há de bom e glorioso nas recentes e
extraordinárias manifestações e muito regozijar-se nisso; e perceber, ao mesmo
tempo, a tendência maligna e perniciosa do que é mau e opor-se a isso sincera-
mente. Todavia, estou plena e humildemente convicto de que jamais estaremos
no caminho da verdade, nem trilharemos uma via aceitável por Deus e não
estaremos dispostos a promover o progresso do reino de Cristo enquanto não
agirmos assim. Na verdade, há algo de muito misterioso nisto, que tanto bem
e tanto mal se mesclem na igreja de Deus, bem como misterioso é, e intriga e
espanta muitos bons cristãos, haver algo tão divino e precioso quanto a graça
salvadora de Deus e a nova e divina natureza habitando no mesmo coração,
ao lado de tanta corrupção, hipocrisia e iniquidade de um santo. No entanto,
as duas coisas são tão misteriosas quanto reais, e nenhuma é novidade nem
raridade. Não é nada novo que, numa época de grande avivamento da religião
verdadeira, prevaleça muito de falsa religião. Também não é novidade surgirem
nesses períodos multidões de hipócritas no meio dos santos genuínos. Assim foi
na grande reforma e avivamento da religião dos dias de Josias — como se lê em
Jeremias 3.10 e 4.3,4 — e também na desmedida apostasia que houve na terra
logo após o seu reinado. O mesmo ocorreu no profuso derramar do Espírito
sobre os judeus nos dias de João Batista, como se observa na enorme apostasia
desse povo logo depois de um despertar tão amplo e das efêmeras consolações
e alegrias religiosas de tantos: “... quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo
com a sua luz” (Jo 5.35). Assim foi na notável comoção das multidões com a
pregação de Jesus Cristo: muitos foram os chamados na ocasião, mas poucos,
escolhidos. Da multidão despertada e tocada pela pregação e que vez ou outra se
mostrava fortemente comprometida, cheia de admiração por Cristo e enlevada
de alegria, poucos foram os verdadeiros discípulos que suportaram o golpe das
grandes provações subsequentes e resistiram até o final. Muitos eram como o
terreno pedregoso ou cheio de espinhos, mas relativamente poucos foram como
o solo bom. De toda a colheita, boa parte era palha, que o vento depois disper-
sou; e o monte de trigo que restou era relativamente pequeno, como mostra
com largueza a história do Novo Testamento. O mesmo aconteceu no gran-
de derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos, como se lê em Mateus
24.10-13; Gálatas 3.1; 4.11,15; Filipenses 2.21; 3.18,19; as duas epístolas aos
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om essas palavras, o apóstolo retrata o estado de espírito dos cristãos a
quem escreve, então sujeitos a perseguições. É a essas perseguições que
ele se refere nos dois versículos anteriores, quando fala da provação da
fé desses crentes e das múltiplas provações pelas quais estão sendo afligidos.
Tais provações constituem um benefício triplo para a verdadeira religião,
por elas a sua verdade se manifesta, e ela se mostra de fato a religião genuína.
Acima de tudo, as provações costumam distinguir entre a verdadeira e a falsa
religião e fazer que a diferença entre elas se manifeste com clareza meridiana.
Por isso têm o nome de provações no versículo imediatamente anterior ao texto e
em outras inumeráveis passagens. Elas põem à prova a fé e a religião dos profes-
sos para verificar de que tipo são, assim como o que parece ouro é provado pelo
fogo e se manifesta verdadeiro ou falso. A fé do cristão genuíno, assim testada
e comprovada verdadeira, redunda em “louvor, glória e honra”, como afirma o
versículo precedente.
Desse modo, as provações são um benefício a mais para a verdadeira reli-
gião, pois não somente revelam sua verdade, mas também lhe fazem manifestar
extraordinariamente a genuína beleza e atratividade. A verdadeira virtude jamais
parece tão bela como quando é mais oprimida, e a excelência divina do verdadei-
ro cristianismo nunca se mostra tão benéfica como quando passa pelas maiores
provas. É nessas ocasiões que a fé autêntica se mostra muito mais preciosa que o
ouro. Também por causa disso ela redunda “em louvor, glória e honra”.
Mais uma vez, outro benefício que as provações trazem à religião verda-
deira está em purificá-la e desenvolvê-la. As provações não só manifestam a
religião verdadeira, mas também costumam refiná-la e livrá-la das misturas de
falsidade — que a sobrecarregam e obstruem —, de tal modo que nada mais
reste de espúrio, mas somente o que é verdadeiro. Elas revelam da melhor ma-
neira possível a atratividade natural da verdadeira religião, como já se disse. E
não somente isso, mas também costumam aumentar-lhe a beleza, proclaman-
do-a e confirmando-a, tornando-a mais cheia de vida e vigorosa e purificando-a
de tudo quanto lhe obscurece o brilho e a glória. Assim como o ouro provado no
fogo é purificado das ligas com outros metais e de todos os refugos, tornando-se
mais sólido e mais belo, também a fé verdadeira, provada no fogo como o ouro,
torna-se mais preciosa e redunda “em louvor, glória e honra”. No versículo que
antecede o texto, o apóstolo parece ter em vista cada um desses benefícios que
as perseguições representam para a verdadeira religião.
Nessa passagem, o apóstolo observa como a religião verdadeira se manifes-
tava nos cristãos perseguidos a quem ele escreve e de que maneira os benefícios
da perseguição se mostravam neles; ou que modo de funcionamento da religião
verdadeira atuava neles, de sorte que, sob a perseguição, tal religião revelava-
-se autêntica e patenteava-se absolutamente na beleza e atratividade genuínas,
mostrando-se também aumentada e purificada; e tudo isso para “redundar em
louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo”. Naqueles cristãos em sofri-
mento, havia duas espécies de atuação, ou exercício, da religião verdadeira, para
as quais o apóstolo chama a atenção no texto, nas quais se viam tais benefícios.
1. Amor por Cristo. “Pois, sem tê-lo visto, vós o amais.” O mundo se per-
guntava que estranho princípio era esse que os levava a se expor a tamanhos so-
frimentos, a abrir mão das coisas visíveis, renunciar a tudo quanto lhes era caro e
agradável, qual era o objeto do sentido. Para as pessoas do mundo ao seu redor,
era como se eles estivessem fora de si, como se tivessem ódio por si mesmos. Essas
pessoas não conseguiam ver nada que as induzisse a sofrer assim, nem que as fi-
zesse passar por tais provações. Contudo, apesar de não haver nada visível, nada
que o mundo pudesse enxergar, nem nada que os próprios cristãos vissem com
os olhos físicos e, portanto, os inspirasse e sustentasse, ainda assim eles tinham
um princípio sobrenatural de amor por algo invisível; amavam Jesus Cristo, pois
enxergavam com olhos espirituais aquele que o mundo não enxergava, a quem
eles mesmos jamais tinham contemplado com os olhos físicos.