Vinicius Frate O CONTRABAIXO BRASILEIRO Um Álbum-Panorama

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE LETRAS E ARTES


ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM MÚSICA

VINICIUS FRATE

O CONTRABAIXO BRASILEIRO
Um álbum-panorama

Rio de Janeiro
2020
Vinicius Frate

O CONTRABAIXO BRASILEIRO
Um Álbum-Panorama

Dissertação de mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação Profissional em
Música (PROMUS), Escola de Música,
Universidade Federal do Rio de janeiro, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Música

Orientador: Prof. Dr. André Luiz de Campello Duarte Cardoso

Rio de Janeiro

2020
Produto Artístico:

O contrabaixo brasileiro
Um Álbum Panorama
Este trabalho é dedicado a Sandrino Santoro,
pilar fundamental da escola de contrabaixo
brasileira. Mestre e amigo que mudou a minha
história e de tantas outras pessoas dividindo e
espalhando música e amor. E que, com especial
generosidade, abriu para mim o mundo do
contrabaixo.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. André Cardoso sua orientação precisa e
profunda em suas análises, por sua pesquisa histórica fundamental para este trabalho.

Aos colaboradores que com sua arte deram vida a esse álbum musical: Stefano Bravo,
Sanderson Cortez, Sandrino Santoro, Maestro Leonardo David e Músicos da Orquestra
Sinfônica da UFRJ, Ramon Feitosa e Músicos da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa.

Ao luthier Andrea Spada que construiu um contrabaixo especialmente para este


projeto.

A Caio Cesar Loures por todo o suporte e expertise técnico compartilhado durante os
processos de gravação.

Aos meus mestres Ronal Silveira, Cláudio Alves e Massimo Giorgi, pessoas
fundamentais na minha caminhada.

À minha companheira Anna Luna Palatnic pelo projeto gráfico.

Agradeço aos meus pais Dilea Frate e Vitor Cezar Paranhos por sempre terem
apoiado e incentivado a continuar crescendo como músico.
RESUMO

FRATE, Vinicius. O Contrabaixo Brasileiro – Um Álbum Panorama. Rio de Janeiro,


2020. Dissertação (Mestrado em Música). Escola de Música, Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro, 2020.

O projeto “O Contrabaixo Brasileiro – Um Álbum Panorama” pretende produzir um


registro fonográfico de peças brasileiras escritas originalmente para o contrabaixo solista.
Através de um álbum sonoro e um texto sobre a gênese de cada obra, apresenta-se o
contrabaixo em duas vertentes: solista e camerista. Com músicas de José Nunes, Miguez,
Gnattali, Santoro, Mahle, Villani-Côrtes, Ficarelli e Aguiar, este trabalho procura valorizar a
produção de compositores brasileiros que dentro de um período de 174 anos, de 1838 a 2012,
compuseram para o contrabaixo para assim lançar luz sobre esta parte pouco conhecida da
música brasileira.

Palavras-chave: Música brasileira, contrabaixo, gravação.


ABSTRACT

FRATE, Vinicius. The Brazilian Double Bass - A Panorama Album. Rio de Janeiro, 2020.
Dissertation (Master in Music). School of Music, Federal University of Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro, 2020.

The project “The Brazilian Double Bass - A Panorama Album” intends to produce a
phonographic record of Brazilian pieces originally written for the soloist double bass.
Through a sound album and a text about the genesis of each work, the double bass is
presented in two modes: soloist and chamber instrument. With music by José Nunes, Miguez,
Gnattali, Santoro, Mahle, Villani-Côrtes, Ficarelli and Aguiar, this work seeks to highlight the
production of Brazilian composers who within a period of 174 years, from 1838 to 2012,
composed music for the double bass, and as a result it attempts to shed a light on this little-
known part of Brazilian music.

Keywords: Brazilian music, classical double-bass, recording


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 DEBRET, Jean Baptiste. A coroação de D. Pedro I do Brasil. Rio de Janeiro.


1826 Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/diplomacia-cultural-mre/21572-
coroacao-dom-pedro. (Acessado em 15/5/2019)..................................................14
Figura 2 DEBRET, Jean Baptiste. A coroação de D. Pedro I do Brasil (Detalhe). Rio de
Janeiro. 1826. Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/diplomacia-cultural-
mre/21572-coroacao-dom-pedro. Acessado em 15/5/2019 ................................15
Figura 3 Foto de Leopoldo Miguez. Fonte:
https://musicabrasilis.org.br/compositores/leopoldo-miguez. Acessado em
19/10/2018...........................................................................................................17
Figura 4 Antonio Leopardi e Arnaldo Estrella. Fonte: Revista da Semana de 13 de agosto
n de 1938. Cópia do original cedida por André Cardoso........................................18
Figura 5 Frente do Programa-convite do concerto de estréia da orquestração de 1982.
Foto do original. Fonte: SANTORO, Sandrino. Rio de Janeiro. 2020...............19
Figura 6 Verso do Programa-convite do concerto de estréia da orquestração de 1982.
Fonte: SANTORO, Sandrino. Rio de Janeiro 2020.............................................19
Figura 7 Foto de Claudio Santoro. Fonte:
http://www.claudiosantoro.art.br/Santoro/image.html. Acessado em
„ 31/7/2018.............................................................................................................21
Figura 8 Villani-Côrtes ao seu piano. Fonte: o Compositor. São Paulo. 2018.................23
Figura 9 VILLANI-CÔRTES, Edmundo. Praeludius Omnibus, Compassos 35 e 36
Fonte: o Compositor, 2018..................................................................................25
Figura 10 Gravação com Stefano Bravo ao piano. Salão Leopoldo Miguez, Rio de
Janeiro. 8/7/2018 Fonte: LOURES, Caio César.................................................27
Figura 11 Concerto com a OSUFRJ e Leonardo David. Foto: COSTA, Nadejda.
Fonte: https://musica.ufrj.br/ Rio de Janeiro. 15/05/2019..................................30
Figura 12 Concerto com a Orquestra Sinfonica de Barra Mansa. Fonte: ROCHA
Thiago. Barra Mansa. 28/05/2019......................................................................31
Figura 13 Gravando os Dois Estudos de Mario Ficcarelli com Sandrino Santoro no
estúdio Visom Digital. Fonte: LOURES, Caio César. Rio de Janeiro,
6/09/2019........................................................................................................33
Figura 14 Gravando as Lições de Lino no Estúdio Guidon. Fonte: o Autor. São Paulo.
2/12/2019..........................................................................................................34
Figura 15 Contrabaixo construído especialmente para o projeto. Fonte: SPADA,
Andrea. Rio de Janeiro. 2019...........................................................................35
Figura 16 Microfone Sanken CU-55. Fonte: www.sanken-mic.com................................36
Figura 17 Gráficos de frequência do microfone Sanken CU-55 a 1m de distância.
Fonte: www.sanken-mic.com............................................................................37
Figura 18 Posição preferida para captação do contrabaixo com microfone cardioide.
F Foto: PALATNIC, Anna...................................................................................38
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................11
2. REPERTÓRIO.................................................................................................13

2.1 Lino José Nunes – duas Lições (1789-1847) ..................................................13

2.2 Leopoldo Miguez (1850-1902) /Roberto Macedo - Impromptu para


contrabaixo e piano..........................................................................................16

2.3 Radamés Gnattali (1906-1988) – Canção e Dança para contrabaixo e


orquestra de cordas..........................................................................................17

2.4 Claudio Santoro (1919-1989) - Fantasia Sulamerica para contrabaixo


solo......................................................................................................................21

2.5 Ernst Mahle (1929) – Duas Peças: Sonatina 1975 e Concertino


1978.....................................................................................................................22

2.6 Edmundo Villani-Côrtes (1930) ......................................................................23

2.6.1 Praeludius Omnibus............................................................................................23

2.6.2 Choron................................................................................................................24

2.6.3 Ponteio................................................................................................................25

2.7 Mário Ficarelli (1935-2014) - Dois estudos para dois Contrabaixos............26

2.8 Ernani Aguiar (1950) – Duos de Oxósse para dois contrabaixos...............26

3. RELATOS DE EXPERIÊNCIA......................................................................28

3.1.1 Sessões de gravação...........................................................................................28

3.1.2 Salão Leopoldo Miguez - 8/07/2018 ..................................................................28

3.1.2 Concerto da série Talentos na Sala Guiomar Novais 24/10/2018....................29

3.1.3 Concerto com a Orquestra Sinfônica da UFRJ 15/05/2019.............................30

3.1.4 Concerto com a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa 28/05/2019..................31

3.1.5 Estúdio Visom Digital, Rio de Janeiro, 06/09/2019............................................32

3.1.6 Estúdio Guidon, São Paulo, 02/12/2019.............................................................34

3.2 Instrumentos Musicais......................................................................................35


3.3 Instrumentos de gravação...............................................................................35

3.4 Encontrando os microfones e as posições ideais para captar o

contrabaixo ......................................................................................................36

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................39
5. COLABORADORES........................................................................................41
REFERÊNCIAS................................................................................................44
Anexo 1 Análise comparativa dos repertórios de orquestras entre

Brasil e Itália....................................................................................................48

Anexo II Entrevista com Edmundo Villani Côrtes........................................57

Anexo III Entrevista com Ernani Aguiar.......................................................63

Anexo IV Entrevista com Ernst Mahle...........................................................65

Anexo V Entrevista com Sandrino Santoro....................................................67

Anexo VI Radamés Gnattali Canção e Dança para contrabaixo e cordas

1ª edição, por André Cardoso........................................................................71

Anexo VI Projeto gráfico para álbum...........................................................106

Lista de QR Codes...........................................................................................109
11

1.INTRODUÇÃO:

Nosso país foi pródigo em produzir música original para o contrabaixo como
instrumento solista. Esta história começa a ser escrita em 1838 com as Lições de Lino José
Nunes, primeiras composições brasileiras hoje conhecidas para o instrumento, e se amplia
consideravelmente durante o século XX. Com o desenvolvimento da técnica do contrabaixo
no país e no mundo, impulsionado pela invenção das cordas sintéticas de aço na década de
1930 1 e a chegada de renomados professores imigrantes europeus, como o russo Wasili
Eremeev e o italiano Antonio Leopardi, ambos professores da Escola Nacional de Música,2
foram formadas várias gerações de contrabaixistas com cada vez melhores níveis de
performance que por sua vez estimularam vários compositores a explorar a sonoridade
peculiar do contrabaixo e produzir cada vez mais obras originais.
O último catálogo publicado de composições brasileiras originais para o contrabaixo
solista, pesquisa da contrabaixista e professora da UFG Sonia Ray, havia identificado até
então 136 obras com esse perfil entre solos (19), peças com piano (61), música de câmara (44)
e peças para contrabaixo e orquestra (12). Do total, somente 21 são transcrições, e as 116
restantes, peças originais.3
A ideia deste trabalho foi concebida após a constatação de que não há registros
fonográficos profissionais da maior parte desse repertório acessível ao ouvinte, estudante ou
pesquisador. A maioria das peças propostas neste trabalho, quando encontradas, são acessíveis
somente através do site “https://www.youtube.com”, sendo em sua maioria gravações
amadoras e execuções ao vivo, o que muitas vezes não nos permite ter uma referência sonora
precisa dessas obras. E por que existem tão poucos registros desse repertório?
Na minha experiência como estudante e intérprete entre Brasil e Itália, sempre notei
grande desconexão entre o meio musical erudito, sua cultura local e o contexto histórico no
qual está inserido. Se analisarmos o repertório das principais orquestras sinfônicas e de ópera
do Brasil e da Itália durante os anos de 2018 e 2019, percebemos um ponto comum que
caracteriza os dois meios musicais: apresenta-se pouca música contemporânea e nacional.4

1
BRUN, Paul A New History of the Double Bass, pg. 212-213
2
Fundada como Conservatório de Música em 1848, transformou-se no Instituto Nacional de Música em 1890
e é hoje a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
3
RA S nia 6 p -111)
4
Ver Anexo I
12

Ciente desta lacuna, creio que seja importante inserir a própria produção artística na
realidade local contribuindo assim não somente com satisfação pessoal e do público, mas para
a construção da identidade cultural da sociedade na qual me insiro.
Estudar e pesquisar mais a fundo estas obras nacionais, a maioria nunca gravada de
maneira profissional, significa para mim possibilitar a mais pessoas o acesso a essa parte da
nossa música. Uma pequena contribuição nesse esforço de tornar conhecido, inclusive
internacionalmente, o repertório brasileiro para o contrabaixo.
Muitos estudantes de música no Brasil enxergam o próprio país como um lugar onde é
impossível alcançar a excelência, pois recebem um ensino de raiz europeia e entendem a
música de concerto como uma manifestação cultural identificada com essa visão. Para sairmos
desse lugar comum é fundamental a valorização da cultura brasileira através da circulação de
fonogramas de obras nacionais. O conhecimento da nossa história e de nossas manifestações
de arte e cultura formam a base para edificar um meio musical clássico brasileiro, que, mesmo
influenciado em sua origem por escolas estrangeiras, encontra nesta terra uma voz singular e
bela.
13

2. REPERTÓRIO

A escolha das obras foi feita para percorrer o maior período de tempo histórico possível,
abrangendo em panorama geral um período de 174 anos de composições brasileiras escritas
para o contrabaixo. As obras mais antigas do repertório são as Lições de Lino José Nunes,
compostas em 1838, e a mais recente é o Ponteio de Edmundo Villani-Côrtes, composta em
2012.
A ordem das peças neste álbum é determinada pela data de nascimento de cada
compositor e não pela data de composição, para poder manter a unidade estilística de cada
autor durante a escuta.
A gênese de cada obra foi usada como ponto de partida para pensar e construir a
interpretação. Por isso foi importante coletar informações sobre as circunstâncias nas quais as
obras foram criadas e qual finalidade eventualmente tiveram. A maior parte da pesquisa foi
feita a partir de reportagens e publicações. Alguns compositores, porém, cordialmente
concordaram em ceder entrevistas e dar sua própria versão sobre a origem de suas obras: Ernst
Mahle respondeu às perguntas por e-mail, Ernani Aguiar por telefone e Villani-Côrtes
concedeu uma entrevista filmada em sua residência em São Paulo.

2.1 Lino José Nunes (1789-1847) – Duas lições para contrabaixo.

Lino José Nunes foi um contrabaixista, pedagogo e compositor do Brasil Imperial. Pouco
ainda se sabe sobre sua vida. Segundo BORÉM:

Lino José Nunes foi um dos músicos brasileiros mais ecléticos e inovadores até, pelo
menos, a primeira metade do século XIX. Mulato, filho da escrava mineira
alforriada „ Paula Joaquina Oliveira parda liberta natural de Minas Gerais e [de]
Pay incógnito ‟ Teixeira 8 8) Lino José foi batizado no Rio de Janeiro em 3
de maio de 789 e faleceu em 5 de setembro de 847”

Composto em 1838, o Methodo pratico ou Estudos complettos para o contrabaxo abriga


as composições brasileiras mais antigas criadas originalmente para o contrabaixo que se tem
notícia. O manuscrito incompleto de 15 páginas foi redescoberto na Biblioteca Alberto
14

Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ a partir do primeiro inventário realizado 5 e


posteriormente revisadas e editoradas pelo contrabaixista e pesquisador Fausto Borém.
O methodo é dividido em duas partes: a primeira voltada para o lado técnico, com escalas,
exercícios harmônicos e exercícios melódicos preparatórios; a segunda parte são as seis
Lições, músicas curtas em diversas tonalidades para contrabaixo solo. A sétima lição
encontra-se incompleta, sugerindo uma interrupção no projeto inicial do método.
De José Nunes, conhece-se além desta obra didática, três modinhas. As modinhas eram
um estilo de música muito popular na época do Brasil imperial e o fato de Nunes ter composto
nesse estilo nos mostra uma íntima ligação com a música popular, comum a muitos
compositores brasileiros, não só de seu tempo, como o Padre José Maurício, Marcos Portugal
e Gabriel Fernandes da Trindade, que também compuseram modinhas, mas também os que
viriam depois dele como por exemplo Heitor Villa-Lobos, Radamés Gnattali, César Guerra
Peixe e Villani-Côrtes.
Sobre o compositor, CARDOSO discorre:

O autor da obra, Lino José Nunes, músico que viveu no Rio de Janeiro, entre o final
do século XVIII e a primeira metade do século XIX, estudou com o padre José
Maurício Nunes Garcia no curso gratuito que o mesmo mantinha em sua residência.
Como seu discípulo, ingressou no coro da Capela Real. Em 1821, oferecia-se em
anúncio na imprensa carioca para “ensinar a todas as pessoas de ambos os sexos que
quiserem aprender a cantar toda a qualidade de música, e demais cançonetas
italianas e modinhas portuguesas tudo com acompanhamento de viola” Ayres de
Andrade informa que em 1824 foi nomeado contrabaixista da Capela Imperial com
salário de 200 mil réis por ano. Um documento datado de 15 de novembro de 1842,
de Monsenhor Fidalgo inspetor da Capela Imperial informa que “Lino José Nunes
serve desde 8 5”, o que pode representar uma diferença de tempo entre o ato de
nomeação e a efetiva entrada em exercício. 6

Fig. 1 Jean-Baptiste Debret: Coroação de D. Pedro I. Rio


de Janeiro, 1826. Atual Igreja de Nossa Senhora do
Carmo, da Antiga Sé e Capela Real na época do Império.
Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/diplomacia-
cultural-mre/21572-coroacao-dom-pedro

5
CARDOSO, André. 2011, pg.425
6
Idem pg. 426-427
15

Fig.2 Detalhe superior esquerdo da


mesma pintura de Debret que mostra um
contrabaixista tocando ao lado do coro.

Em 1838, a Capela Imperial do Rio de Janeiro passava por seu momento de pior crise,
marcado pela dissolução do grupo em 1831. Segundo CARDOSO:

Após ser desfalcada de seus mestres compositores Capela Imperial chegou, em


1831, ao seu ponto mais baixo. Em 7 de abril, D. Pedro I abdicou em favor de seu
filho, partindo para Lisboa para assumir o trono português, provocando grave crise
institucional no recém-criado império brasileiro. Poucos meses depois, o Ministro
dos Negócios da Justiça, Manuel José França, assinou portaria extinguindo a
orquestra da Capela Imperial. O grupo de músicos foi reduzido para 23 cantores e
apenas 4 instrumentistas que davam apoio ao coro, sendo dois contrabaixos e dois
fagotes. (CARDOSO, André. 2005 pg.)

7
Lino foi um dos remanescentes da orquestra, o que demonstra a importância do
instrumento para o funcionamento do conjunto, além de sugerir a boa capacidade técnica e o
prestígio desse contrabaixista.
Das seis lições, escolhi executar as de números 2, em lá menor, e 4, em mi menor. O
baixo usado é um instrumento de quatro cordas com afinação solo8, diferentemente do
contrabaixo de três cordas usado por Lino, e o arco utilizado foi um modelo clássico como os
utilizados na Europa do final do século XVIII, emulando a articulação da época e evitando ao
máximo mudar as articulações originais.

7
BORÉM, Fausto. 2017 pg.
3 8Fá#1, Si 1, Mi 2 e La 2.
16

2.2 Leopoldo Miguez(1850-1902)/Roberto Macedo - Impromptu para contrabaixo e


piano

A peça Impromptu foi composta por Leopoldo Miguez em 1898 para a prova de
exame final do aluno de contrabaixo Alfredo de Aquino Monteiro, do Instituto Nacional de
Música (atual Escola de Música da UFRJ). Acreditava-se tratar-se de um concerto, como
destacou Arzolla:

Alfredo de Aquino Monteiro foi talvez o primeiro aluno de contrabaixo a se


destacar, tanto que Leopoldo Miguez - então diretor do Instituto Nacional de Música
- compôs um concerto para contrabaixo e piano para a sua formatura, em 1898. No
concurso a prêmio para alunos formados, que já existia na época, Alfredo repetiu a
execução do concerto 8 com sucesso, o que lhe valeu a medalha de ouro.
(ARZOLLA, Antonio. 1996, pg.3)

Esta peça ficou quase desconhecida por muitos anos até que, segundo relato de Fausto
BORÉM:
O contrabaixista e pedagogo Sandrino Santoro, ex-professor da UFRJ e um dos mais
reconhecidos nomes da história do contrabaixo no Brasil, me cedeu a cópia de um
manuscrito de duas páginas (Miguez, s.d.), com uma parte de contrabaixo apenas,
denominada Impromptu. (2005, pg.284)

Em 2004 realizou-se um concurso para a criação de uma parte de piano perdida, que
teve como vencedor o professor da UFRJ e especialista na obra de Miguez, Roberto Macedo
Ribeiro. Esta é a parte utilizada nesta gravação. Miguez é considerado por muitos autores
como um compositor de estética europeia nascido no Brasil. Segundo Vasco Mariz,
“ Miguez ) regressou ao Brasil em 884 completamente convertido ao wagnerismo”
Mário de Andrade cita Miguez como pertencente a um grupo de compositores brasileiros
“presos por demais à lição europeia e cujas tentativas de músicas abrasileirada mais parecem
concessão ao exótico ” ANDRADE Mário de 5 pg 6 ). Por ser um compositor tão
ligado à tradição romântica europeia, a abordagem interpretativa desta obra acabou sendo
completamente voltada para concepções de estilo romântico: frases longas e vibrato
abundante.

8
A publicação de Arzolla é anterior a descoberta da partitura do Impromptu, por isso ele é chamado aqui de
“concerto“
17

Fig.3 Leopoldo Miguéz Fonte:


https://musicabrasilis.org.br/co
mpositores/leopoldo-miguez

2.3 Radamés Gnattali - Canção e Dança para contrabaixo e orquestra de cordas .

Escrita originalmente em 1934 para contrabaixo e piano, Canção e Dança (Dansa na


ortografia original) é talvez a peça mais icônica e conhecida do repertório erudito brasileiro
original para contrabaixo. O primeiro movimento foi dedicado ao pai do compositor,
Alessandro Gnattali. Já a Dança, de características virtuosísticas foi dedicada ao professor do
Instituto Nacional de Música9 Antonio Leopardi. Sobre Leopardi lê-se na Revista da Semana,
em publicação de 13 de agosto de 1938:

Para demonstrar o enthusiasmo com o qual Leopardi encara o Contrabaixo basta este
facto: vae mandar imprimir por sua conta as peças de Radamés Guattelli e Leopoldo
Miguez, escriptas originalmente para o instrumento(...) Leopardi desejando ampliar
o repertório para Contrabaixo fez um apello a todos os Compositores brasileiros
afim de que escrevam para o instrumento, comprometendo-se a divulgar por todos
os meios essas futuras obras

9
Ver nota 2
18

Fig 4: Antonio Leopardi e Arnaldo Estrella na “Revista da Semana”

de 13 de agosto de 1938, pg. 31. Fonte: André Cardoso

A influência de Leopardi parece crucial na origem da dança, como se vê na matéria da


Revista da Semana. Leopardi era um músico bem conhecido, com muitos recursos técnicos e
que tinha o desejo de incentivar a criação e o registro da música brasileira para contrabaixo. A
dedicatória da Dança ao contrabaixista reforça essa ideia e sugere também uma contribuição
do intérprete na escrita idiomática, que utiliza virtuosisticamente as características naturais do
instrumento.

Em 1982, a pedido de Sandrino Santoro, o compositor adaptou a obra para contrabaixo


solista e orquestra de cordas. O manuscrito original da versão com piano da obra de Radamés
chegou às mãos de Sandrino através do contrabaixista Renato Sbragia, seu colega de naipe na
Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que por sua vez havia herdado o
19

acervo que pertencera a Leopardi. 10 Necessitando de uma obra orquestral com solo de
contrabaixo para incluir em seu recital de mestrado, Sandrino propôs ao compositor11 a versão
com orquestra de cordas. A estréia da versão orquestral aconteceu no dia 3 de agosto de 1982
no Salão Leopoldo Miguez da UFRJ com Sandrino como solista e a Orquestra de Câmara da
Rádio MEC sob a regência de Nelson Nilo Hack.

Fig. 5 e 6 Programa-convite do concerto de estréia da orquestração de 1982.


Fonte: Sandrino Santoro

10
RODRIGUES, Ricardo. (2003, pgs. 104-108)
11
Ver Anexo V
20

Sobre a produção de Radamés o musicólogo Vasco Mariz discorre: “ devemos


distinguir dois períodos em suas composições sérias. O primeiro de 1931 a 1940, cujas
características são: folclorismo direto, resquícios do estilo de Grieg e também um pouco de
Jazz ” 5 pg 65) José Maria Neves enxerga também essa separação e acrescenta como
característica desse primeiro período a escrita virtuosística:

Sua grande produção pode ser dividida em duas fases: a primeira marcada por um
folclorismo direto e por certo virtuosismo de escritura, e a segunda por uma
transfiguração do espírito folclórico e um melhor domínio da técnica composicional,
que se torna mais simples e menos virtuosística. (2008, pg. 110)

Do folclorismo citado pelos autores, podemos dar como exemplo os acentos


característicos e os cantos com inspirações no folclore do nordeste brasileiro. A Canção
possui o subtítulo “sobre canto de aboio”, referindo-se ao canto tradicional dos vaqueiros do
sertão, usado tradicionalmente para acalmar o gado.12 Esse foi um ponto de partida para a
construção da interpretação, pois o canto de aboio tem características fortes e únicas,
diferentes do estilo de canto europeu e sonoramente mais similar ao canto árabe. Do aboio
destaquei as seguintes características, traduzíveis ao tocar contrabaixo: o uso de vibrato
marcado e rápido no final das frases; grande quantidade de glissandos; fluidez melismática no
canto que gera um pulso rítmico maleável.
A influência Grieg, citada por Mariz, pode ser notada aqui no uso de motivos
folclóricos modais como o tema inicial da Canção e a sessão intermediária da Dança, ambas
no modo mixolídio típico da música folclórica do nordeste brasileiro. O uso de modos típicos
do folclore de cada país é o que une Grieg e Gnattali neste caso.
Sobre a citada característica jazzística de Gnattali, podemos destacar sobretudo na
parte do acompanhamento os encadeamentos harmônicos repletos de substituições e acordes
com sextas, sétimas, nonas, décimas-primeiras. Estes acordes eram pouco usuais na música
popular brasileira, mas comuns na música popular estadunidense da época. Não que o jazz
seja a única influência harmônica de Gnattali, pois vale lembrar que a didática musical
francesa era a mais utilizada no período de formação do compositor.

12
Esta afirmação se baseia nas nos relatos contidos nos documentários sobre os aboiadores nordestinos
descritos na bibliografia.
21

2.4 Claudio Santoro (1919-1989)- Fantasia Sulamerica para contrabaixo solo

Fig. 7. Claudio Santoro. Fonte:


http://www.claudiosantoro.art.br/Santoro/image.html

Cláudio Santoro pode ser caracterizado como um compositor versátil. Fez parte de
diferentes movimentos musicais, compondo música tonal e atonal, nacionalista e universal,
acústica e eletrônica.
Para o concurso Jovens Intérpretes de Música Brasileira de 1983, Cláudio Santoro
escreveu uma série de 14 peças para diversos instrumentos, todas nomeadas Fantasia
SulAmérica. Como não havia neste concurso categorias para distintos instrumentos, Santoro
fez esta série de solos curtos para diversos instrumentos, como peças de confronto que, apesar
de não serem iguais, apresentam características semelhantes: atonalismo; contrastes
tímbricosdinâmicos exagerados e escrita virtuosística dentro de uma estrutura formal livre.
Isto permitiu que a banca examinadora da qual Santoro fez parte pudesse comparar os
diferentes instrumentos dentro da mesma estética musical, mantendo um elevado padrão de
exigência técnica adaptado à realidade de cada instrumento. O concurso foi vencido pela
contrabaixista Renate Kollarz, atualmente contrabaixista da Orquestra Sinfonica de Porta
Alegre (OSPA).
Compreendendo a função da obra, busquei uma interpretação com a maior fidelidade
possível às inúmeras marcações de dinâmica, tempo e articulação minuciosamente colocadas
pelo autor. Assim, coloquei-me no papel de um competidor a ser julgado por uma banca
examinadora, simulando o contexto para o qual esta música foi escrita.
22

2.5 Ernst Mahle (1929) Sonatina 1975 para contrabaixo e piano e Concertino 1978 para
contrabaixo e orquestra de cordas

Nascido em Stuttgart, Alemanha, Ernst Mahle imigrou aos 22 anos para o Brasil,
aqui formando-se compositor e regente pelo Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo.13 Apesar de não ser brasileiro de nascimento, Mahle contribuiu imensamente para o
meio musical brasileiro através de seu trabalho como pedagogo e fundador da Escola de
Música de Piracicaba, de onde saíram muitos músicos importantes desde sua fundação em
1953.
Sobre a relação de Mahle com o contrabaixo discorre o eminente contrabaixista
piracicabano, ex-aluno de Mahle e atual professor da UNI-Rio, Antonio Arzolla:

A intimidade de Mahle com o contrabaixo também se deve ao fato de que ele já


tinha escrito para seus alunos iniciantes o “Método elementar” os “6 duetos
fáceis” arranjo) o “Quarteto para violino, viola, violoncelo e contrabaixo” 956)
a “Dança dos palhaços” para clarinetas contrabaixo e piano, o concertino sobre
“Atirei um pau no gato” (1971) e as “Melodias da Cecília” (1972). (AZOLLA.
1996, pg. 37)

Nota-se, portanto, o escopo didático de tais obras que, em geral, não exploram a
região mais aguda do instrumento, dificilmente trabalhada pelos estudantes nos primeiros
anos de estudo. Sobre estas peças, Arzolla prossegue:

Para um compositor não afeito à publicidade, como Mahle, e relativamente isolado


em Piracicaba é espantoso notar como o conhecimento da “Sonatina 1975” e do
“Concertino 1978” se espalhou por vários pontos do país, devido à sua utilidade,
como peças brasileiras de nível intermediário. De certa forma, a divulgação de suas
peças foi beneficiada pelo concurso bienal para jovens instrumentistas que lá existe
há vinte e cinco anos, recebendo concorrentes de todas as regiões do Brasil, o que,
porém, não diminui o seu mérito e valor. (AZOLLA. 1996, pg. 37)

Considerando-se o caráter didático dessas obras, assim como nas Lições de Lino José
Nunes, procurei não alterar nenhuma dinâmica ou articulação original do compositor, visto
que as articulações e dinâmicas são pensadas para se adequar naturalmente ao instrumento.

13
ARZOLLA, Antonio. 1996 pg. 16
23

2.6 Edmundo Villani-Côrtes (1930)

Para entender o estilo musical deste compositor, é importante saber que ele transitou
durante toda sua carreira profissional entre os universos da música erudita e popular. A
Maestrina Monica Giardini compara a atuação de Villani-Cortes na música popular com a de
Radamés Gnattali:

Para ganhar a vida, ambos se lançaram no mercado da música popular. Radamés


Gnattali sobrevivia tocando nas orquestras de Romeu Silva e de Simon Bountman,
em bailes de Carnaval, operetas, estacoes de rádio e gravações de discos; Villani-
Cortes tocava na orquestra do Maestro Cipó, de Luiz Arruda Paes, no rádio e em
bailes. Assim, começaram suas carreiras de arranjadores por acaso: Radamés
Gnattali pelo caminho das editoras; Villani-Cortes, na própria orquestra de rádio.
(GIARDINI. 2013, pg. 31)

Fig. 8 Villani-Côrtes ao seu piano em 2018. Fonte: O Autor

2.6.1 Choron para contrabaixo e piano

O nome Choron vem segundo o compositor de „choro para On‟ On é o apelido de sua
filha Gê Cortes) e segundo o próprio compositor a peça é simplesmente um “choro para
contrabaixo e piano”
Considerando a simplicidade com a qual o compositor se refere à interpretação,
procurei pelo estilo e fraseado de mestres do choro como Pixinguinha, Altamiro Carrilho,
24

Garoto e Jacob do Bandolim a fim de trazer o caráter „chorão‟ ao contrabaixo Como a peça
possui muitas repetições do 1o tema, busquei um espírito diferente para cada uma e com
variações rítmicas.

2.6.2 Praeludius Omnibus para contrabaixo e piano

Composta e dedicada para sua filha Gê Cortes, que na infância se apelidava de „On‟ a
peça Praeludius Omnibus Em latim „para On‟)
Sobre a importância das sonoridades graves nesta música, o compositor discorre:

O que significa o contrabaixo são os baixos, não é? Então eu fiz questão de fazer
uma música que não fosse para explorar o virtuosismo de fazer o contrabaixo tocar
como se fosse violino. Não concordo com isso, acho que o baixo é importante
porque ele é o baixo. 14

O objetivo do intérprete na visão do autor é, portanto, assumir, explorar e desenvolver


a tessitura grave e única do contrabaixo. Deixa assim de querer emular sons de outros
instrumentos para focar em um registro que nenhum outro da família das cordas é capaz de
alcançar.
Consciente desta ideia do compositor, foquei minha interpretação na questão tímbrica.
De acordo com o caráter melancólico e contemplativo que identifiquei nessa peça, evitei
inicialmente o uso da corda mais aguda do instrumento, que tem som mais aberto e claro. O
uso desta corda se dá somente na última colcheia do compasso 35.

14
Ver Anexo II
25

Fig. 9 Praeludius Omnibus, compassos 35 e 36. Fonte: O compositor

Neste momento, a música caminha para sua conclusão que me pareceu ser de caráter
sereno e pleno, contrastando com o sentimento inicial. O timbre mais agudo e definido da 1a
corda é aqui inserido para reforçar ao ouvinte esse contraste de espírito dentro da música, com
a adição de um elemento sonoro até então inexplorado.

2.6.3 Ponteio para contrabaixo solo

A peça Ponteio de Edmundo Villani-Côrtes foi escrita em 2012 e estreada por Gê


Côrtes, contrabaixista filha do compositor. Segundo o próprio autor, a peça é inspirada na 1ª
suíte para violoncelo solo de Bach. Ao ver tantos contrabaixistas tocando esta suíte, Villani,
que gosta de ouvir o contrabaixo em seu registro natural, quis compor uma música original
para contrabaixo solo com aspectos próximos a peça bachiana, mas com elementos rítmicos
brasileiros e linguagem e tessitura características do instrumento. 15 Seguindo a tradição
barroca, ele escreve pouquíssimas dinâmicas deixando à escolha do intérprete, característica
também da música popular, onde o músico assume a liberdade criativa de imprimir suas
própria nuances interpretativas.

Ao saber da história da peça, decidi inserir nesta composição moderna conceitos de


interpretação de música antiga. Busquei, por exemplo, diferenças de dinâmicas entre frases

15
Ver Anexo II
26

repetidas para dar o efeito de eco (chiaro-scuro), crescendos nas frases ascendentes e
diminuendos nas descendentes, elementos interpretativos comuns na era barroca.
No início da peça, tem-se a indicação de caráter molto marcato (rítmico). Busquei
aqui marcar o ataque das ligaduras desiguais presentes para evidenciar as síncopes para
produzir efeito marcado e percussivo.
Após esta primeira parte enérgica, a música apresenta uma um tema mais lento e
contemplativo, descrito com as palavras menos (molto cantabile). Para se obter o efeito de
contraste com o marcado da primeira parte, procurei aqui emendar o máximo possível o som
das notas através da flexibilidade dos dedos e mão do braço direito para que, ao voltar ao tema
marcado do princípio, a interpretação possa causar mais impacto com a mudança brusca de
ataque de arco.

2.7 Mário Ficarelli (1935-2014) - Dois estudos para dois contrabaixos

Sobre Ficarelli Vasco MARIZ discorre: “Considerado o mais independente dos


compositores e não aceita rótulos nem se julga filiado a nenhuma corrente estética” 5
pg. 421)
Esta afirmação é bastante pertinente em relação a estas peças, pois neles encontram-se
linguagens estéticas distintas misturando neoclassicismo e atonalismo de maneira singular.
Apesar de ter se iniciado cedo na música, Mario Ficarelli só pôde se dedicar à
composição mais tarde que seus companheiros de geração. A presente obra, escrita em 1969 é
uma das mais antigas de seu catálogo. Nela encontramos uma escrita clara e contrapontística,
sem tonalidade definida que, sem traços de nacionalismo, explora muito as sutilezas rítmicas e
de articulações para construir uma obra complexa e transparente. A interpretação desta obra,
portanto, foi direcionada para o equilíbrio e uniformidade de articulações, a fim de evidenciar
a pureza do contraponto marcante destes estudos.

2.8 Ernani Aguiar (1950) – Duos de Oxósse para dois contrabaixos

Acadêmico da Academia Brasileira de Música, Ernani Aguiar ocupa a cadeira de


número quatro, cujo patrono é José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita. No site da ABM
consta sua biografia:
27

Nasceu em Petrópolis/RJ, em 1950. Estudou no Brasil com Paulina D‟Ambrosio e


Santino Parpinelli (violino e viola), César Guerra-Peixe (composição) e Carlos
Alberto Pinto Fonseca (regência). Foi bolsista do Mozarteum Argentino, tendo
estudado com Sérgio Lorenzi. Na Itália foi aluno do Conservatório Cherubini, em
Firenze, onde estudou com Roberto Michelucci (violino) e Annibale Gianuario
(regência). Ainda na Europa fez cursos de aperfeiçoamento em regência com Adone
Zecchi, Franco Ferrara e Sergiu Celibidache.

Parte de uma série de duos para instrumentos de cordas escritos após um período de
crise criativa do compositor, os Duos de Oxósse foram estreados no dia 24 de janeiro de 1985
no auditório do Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis pelos contrabaixistas Tarcísio
José da Silva e Luiz Felipe Klein. Como os duos foram compostos no dia 20 de janeiro do
mesmo ano, dia de São Sebastião, o autor os nomeou segundo a correspondência sincrética
regional deste santo, ou seja, Oxóssi.
O primeiro movimento -andante- é um contraponto lírico entre os dois contrabaixos,
onde as vozes se entrelaçam sem uma definição clara entre quem acompanha e quem é o
solista. O trabalho de grupo foi mais focado em equilibrar as vozes do ponto de vista dinâmico
e tímbrico, para fazer soar claramente as duas partes.
O segundo movimento – moderato - é baseado na exploração tímbrica, com extenso
uso de efeitos como pizzicato-Bártok, glissandos e arco sul ponticello(próximo ao cavalete). A
busca interpretativa dos músicos aqui foi por definir bem os diferentes efeitos sonoros para
que a violência das mudanças tímbricas ficasse mais evidente e sentida pelo ouvinte.
A ligação do autor com a cultura africana 16 é bastante evidente nessa série de três
peças que compõem esses duos, principalmente no ritmo dançante do terceiro movimento –
vivo – que termina com os contrabaixistas tocando o tampo do instrumento como um atabaque
em semicolcheias com acentos sincopados, emulando padrões rítmicos afro-brasileiros.

16
Ver Anexo III
28

3. RELATOS DE EXPERIÊNCIA

Nestes relatos de experiência, pretendo mostrar o processo de produção do álbum


fonográfico ao longo dos dois anos do curso. Foram seis gravações em situações e lugares
diferentes: Rio de Janeiro, Volta Redonda e São Paulo, em apresentações ao vivo e estúdios
de gravação.

3.1 GRAVAÇÕES:

3.1.1 Salão Leopoldo Miguez - 8/07/2018

No dia 8 de julho de 2018 realizou-se uma gravação-teste no Salão Leopoldo Miguez,


local inicialmente escolhido para as todas gravações por seu valor histórico e acústica
especial.
O repertório gravado foi: Villani-Côrtes – Melodia para Luciana para contrabaixo e
piano (posteriormente retirada do projeto); Praeludius Omnibus para contrabaixo e piano;
Choron para contrabaixo e piano; Leopoldo Miguez/Roberto Macedo– Impromptu para
contrabaixo e piano
A microfonoção do baixo foi feita com um microfone cardioide Rode Nt-1 e um
omnidirecional oktava mk-012 conforme mostrado abaixo:

Fig. 10 Gravação de 8/7/2018 com Stefano


Bravo ao piano. Foto: Caio Cesar Loures
29

O resultado da microfonação, feita com microfones próximos para não captar ruídos
externos, acabou não me satisfazendo pela diferença entre o som captado e a memória do som
do contrabaixo in loco. A captação do piano, feita no sistema AB, formado por um par com
cápsulas omnidirecionais oktava mk-012 produziu uma captação satisfatória.

Os problemas enfrentados, principalmente em relação ao isolamento da sala, projetada


em um tempo onde não existiam automóveis e tantos ruídos nas ruas, tornou nossa gravação
muito demorada e arriscada, e acabamos, à contragosto, desistindo de utilizar o icônico local
para os registros.

Praeludius Omnibus com Stefano Bravo


no Salão Leopoldo Miguéz

3.1.2 Concerto da série Talentos na Sala Guiomar Novais 24/10/2018

Este concerto dentro da série de música de câmara Talentos foi produzido pela Escola
de Música da UFRJ e realizado por alunos do PROMUS.
A captação de áudio foi feita por Eduardo Monteiro e o repertório gravado foi:
VillaniCôrtes – Praeludius Omnibus para contrabaixo e piano; Radamés Gnattali – Canção e
Dança para contrabaixo e piano; Leopoldo Miguez – Impromptu para contrabaixo e piano;
Ernani Aguiar – Duos de Oxósse para dois contrabaixos. Ao piano esteve Stefano Bravo. A
gravação audiovisual desta apresentação foi feita por Felipe Portinho (vídeo) e Eduardo
Monteiro (áudio).
30

Canção e Dança de Gnattali com


Stefano Bravo ao Piano

3.1.3 Concerto com a Orquestra Sinfônica da UFRJ 15/05/2019

Fig. 11 Concerto com a OSUFRJ. Foto: Nadejda Costa

Tive a oportunidade de tocar e gravar a Canção e Dança de Gnattali com a OSUFRJ


regida pelo Maestro Leonardo David no salão Leopoldo Miguez da Escola de Música da
UFRJ, mesmo lugar onde, em 1982, Sandrino Santoro estreou a orquestração da obra com a
presença do próprio Radamés.
31

A possibilidade de tocar esta obra com uma orquestra de excelente qualidade, me


levou a incluir no álbum esta gravação ao vivo, diferentemente da maioria das outras obras
gravadas no ambiente sonoro controlado do estúdio.
Para esta execução, uma nova edição da partitura foi produzida por André Cardoso a
partir de manuscrito fotocopiado da versão para orquestra de cordas cedida por Sandrino
Santoro, presente no concerto durante esta gravação.17
A captação do áudio no concerto foi feita pelo flautista e técnico de som Eduardo
Monteiro com os seguintes microfones:
-Contrabaixo solo: 1 Neumann modelo KM140 e 1 Neumann modelo TLM193
-Na orquestra: 2 Neumann modelo KM130, 4 Neumann KM184 1 Neumann TLM193

3.1.4 – Concerto com a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa 28/05/2019

Fig. 12. Concerto com a Orquestra Sinfonica de Barra Mansa. Foto Thiago Rocha

O concerto com a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa foi uma oportunidade rara de
poder fazer um registro do Concertino 1978 de Ernst Mahle, gravado em apresentação ao vivo
com esta orquestra no Instituto Cultural Municipal de Barra Mansa.

17
Ver Anexo VI
32

A preparação dos músicos foi feita pelo violinista e spalla da orquestra Ramon
Feitosa.

A microfonação, pensada pelo técnico Caio Cesar Loures e montada por mim, foi feita
usando um gravador de campo Zoom F8 em 3 canais:
-Par de microfones estéreo Oktava mk – 012 com capsulas omnidirecionais em padrão
AB afastado 2,5 metros entre eles para a captação geral da orquestra.
-Microfone cardioide Sanken CU-55 para o contrabaixo solista.

3.1.5 Estúdio Visom Digital, Rio de Janeiro, 06/09/2019

A penúltima seção de gravação foi realizada nas condições controladas de estúdio que,
apesar da pouca reverberação natural do ambiente, naturalmente imprescindível para a
audição da música de concerto, proporciona o silêncio fundamental para eventuais cortes e
edições necessárias para a obtenção de registro sonoro possivelmente sem erros de execução.
Fator decisivo para a escolha deste estúdio foi a qualidade do piano, um Yamaha C9
de cauda inteira, de excelente sonoridade e mecânica.

Nesta seção foram gravadas as obras: Choron e Praeludius Omnibus de Villani-Côrtes


para contrabaixo; Sonatina 1975 de Ernst Mahle para contrabaixo e piano; impromptu de
Miguez/Macêdo para contrabaixo e piano; Dois estudos de Mario Ficarelli para dois
contrabaixos; Duos de Oxósse de Ernani Aguiar para dois contrabaixos.
Os microfones usados na captação de dois contrabaixos foram
- Microfone Estéreo ORTF Schoeps modelo MSTC 64 U
- Cardióide Sanken CU-55 para o primeiro contrabaixo
- Cardióide Manley modelo REFC para o segundo contrabaixo
- Par Omnidirecional SANKEN modelo CO-100K
33

Fig. 13 Gravando os Dois Estudos de Mario Ficcarelli com Sandrino

Santoro no estúdio Visom Digital. Foto: Caio César Loures

Para o piano usou-se


-Um par de microfones de fita AEA modelo RC44CE em par não coincidente no
centro da caixa acústica.
- Microfone Estéreo ORTF Schoeps modelo MSTC 64 U sobre os martelos.
- Par Omnidirecional SANKEN modelo CO-100K
A duração total desta gravação acabou sendo de sete horas, ultrapassando um pouco a
previsão inicial de seis horas feita pelos intérpretes.
34

3.1.6 – Estudio Guidon, São Paulo, 2/12/2019

Foi a sessão mais longa de todas, durando um total de 17 horas. Trabalhei com o
engenheiro de som Clement Zular na mixagem das obras gravadas anteriormente e na
gravação das peças solo. O repertorio gravado nesse dia foi: Villani-Cortes – Ponteio, Claudio
Santoro – Fantasia Sulamerica e Lino Jose Nunes – Lições 2 e 4.
O microfone próximo ao baixo utilizado foi o Sanken-55, além de um par estéreo
BRUEL & KJAER 4006 mais afastado para captar a sala.

Fig. 14 Gravando as Lições de Lino no Estúdio Guidon. Fonte: O Autor


35

3.2 Instrumentos musicais

1. Contrabaixo fabricado em 2019 no Rio de Janeiro por Andrea Spada, pensado e


construído especialmente para este projeto, com 4 cordas em afinação solo (Fá#,Si,Mi,La).
Este baixo foi pensado para o projeto e construído em abeto de primeira qualidade e pereira
europeia com fundo chato visando obter-se projeção e clareza de articulação, mas mantendo
um timbre escuro característico da madeira da pereira.

Fig. 15 Contrabaixo construído especialmente para o

projeto. Foto: Andrea Spada

2. Arco em pau-brasil e prata 39 gramas modelo “top” fabricado por Daniel Romeu
Lombardi (SP).
3. Arco clássico de autor desconhecido feito em pau-cobra para as lições de Lino José
Nunes.

3.3 Instrumentos de gravação

1. Gravador de campo multipistas Zoom F8


36

2. Mixer Sound Devices MixPre-D

3. Microfones SDC cardioides e omnidirecionais Oktava MK-012 (Par estéreo)


4. Microfone cardioide de capsula larga Sanken CU-55

Fig. 16 Microfone Sanken CU-55.


Fonte: : www.sanken-mic.com

5. Dois Pedestais com adaptador (barra) de estéreo, 4 cabos de microfone de 4 metros,


computador Macbook pro 5”

3.4 Encontrando os microfones e as posições ideais para captar o contrabaixo.

Muito se escreveu sobre a microfonação do contrabaixo com arco, principalmente em


referência à microfonação do baixo dentro da orquestra. Ora, sabe-se bem que o espectro de
frequências normalmente utilizado no contrabaixo dentro da orquestra, que geralmente se
atém à parte grave do instrumento, é diferente do que no repertório solístico deste álbum.
Depois de analisar um espectro bastante amplo de microfones, entre eles modelos de
alto padrão como Neumann u87e Schoepps MK 2s, baseando-nos nos gráficos de frequência
de cada um e na relação sinal-ruído chegou-se a decisão de adquirir para o projeto o
microfone japonês Sanken CU-55 devido ao seu baixíssimo efeito de proximidade e
linearidade de captação desde as frequências mais graves às mais agudas a fim de obter o som
mais próximo à realidade possível.
37

Fig. 17 Gráficos de frequência do microfone Sanken CU-55

a 1 metro de distância. : www.sanken-mic.com

Foram feitos testes com estes microfones das seguintes maneiras:


- Ângulo de 90º em relação ao o chão, a 70 cm de altura apontando para o F do
instrumento nas distâncias de 50, 75 e 100 centímetros de distância.
- Ângulo de 60º em relação ao chão, a 120 cm de altura apontando para o F do
instrumento nas distâncias de 50, 75 e 100 centímetros de distância.
- Ângulo de 45º em relação ao chão, a 160 cm de altura apontando para o f do
instrumento nas distâncias de 75, 100 e 120 centímetros de distância.

Para mim a forma de captação que mostrou com maior fidelidade o som que desejo
alcançar (ou que esperava ouvir) foi a última, com ângulo de 45º em relação ao solo a 160 cm
de altura apontando para o F do instrumento distando entre 100 a 120 centímetros do f do
instrumento, dependendo das condições da sala. Talvez essa forma de captação me tenha
parecido ideal por emular de forma espelhada a relação de distância que existe entre o ouvido
do contrabaixista e o f do instrumento, referência natural sobre a qual nós contrabaixistas
construímos nosso som. Essa é uma percepção subjetiva, baseada somente no timbre sonoro
que me foi mais agradável no resultado natural da gravação.
A desvantagem desta posição, constatada durante a edição, é a maior quantidade de
sons de respiração captados pelo microfone, forçando o intérprete a controlar e acalmar a
respiração se quiser evitar esses ruídos.
38

Fig. 18. Posição preferida para microfones cardioides.


Foto: Anna Palatnic
39

4. CONIDERAÇÕES FINAIS

O processo que envolveu a pesquisa, aulas, ensaios em grupo, gravação e edição foi
extremamente benéfico para meu desenvolvimento como intérprete.
A pesquisa ajudou imensamente na construção das performances, criando referencias e
conceitos que guiaram as escolhas interpretativas e objetivos musicais novos. Os objetivos
interpretativos que as pesquisas históricas indicam
As aulas pontuais foram essenciais para a concretização do projeto, pois focaram em aspectos
práticos da elaboração do produto artístico, lidando com assuntos para mim inéditos como:
Direito autoral, Psicoacústica, Estudo Metodológico entre outros, dando-me ferramentas
práticas para ser um músico mais adaptado ao meio musical contemporâneo.
O processo de gravação foi de grande ajuda para o desenvolvimento da percepção
sobre meu próprio som, pois me colocou no lugar do ouvinte. Daí pude perceber com mais
clareza a diferença entre intenções que tinha ao tocar e como elas reverberavam desde uma
perspectiva externa. Colocando-me no lugar de professor, pude analisar e melhorar pontos
específicos como afinação e fraseado para chegar gradualmente a um resultado cada vez mais
consciente na minha performance que, creio eu, sem o uso da tecnologia de registro sonoro
seria mais difícil.
Na edição, pude comparar as diferentes acústicas e posicionamento de microfones. A
diferença entre as acústicas mostrou o caminho e tipo de gravação que irei seguir daqui em
diante. Depois da experiência de ter gravado em diferentes ambientes sonoros, entre grandes
auditórios e o ambiente seco e controlado do estúdio, cheguei às seguintes conclusões:
- O jeito de tocar é diferente nos dois ambientes. Percebi que no estúdio é melhor buscar um
timbre doce, com ataques suaves de arco, enquanto as salas reverberantes exigem um toque
mais ríspido e articulado.
- Durante esse processo, descobri que o tipo de gravação que me pareceu mais adequado para
a interpretação e o timbre que busco extrair do instrumento é o de salas amplas, com maior
reverberação, com maior destaque para os microfones afastados, captando a sala como um
todo para filtrar ruídos indesejados de ataques de arco e valorizar a relação instrumentista-
sala. O problema neste caso é conseguir uma sala grande, com agradável reverberação e que
tenha bom isolamento acústico.
- Não existe timbre ou posição ideal para microfonar o contrabaixo. Corresponder às
expectativas sonoras do instrumentista requer diferentes posicionamentos e tipos de
40

microfones segundo o gosto de cada músico. Por isso convido aqui todos os cantores e
instrumentistas acústicos a experimentarem com o maior número possível de captações
diferentes, pois o controle de timbre que este conhecimento propicia também é um meio de
expressividade, principalmente no contexto contemporâneo da difusão musical.
41

5. COLABORADORES:

Stefano Bravo (Piano) - Iniciou seus estudos com Rodrigo Balloussier, sendo posteriormente
orientado por Marcelo Verzoni a partir de seu ingresso na Escola de Música da UFRJ, em
2013. Tendo se dedicado sobretudo às atividades da própria faculdade, destacando-se em
master classes e recitais de alunos sua participação com a Orquestra Sinfônica da Escola de
Música na primeira montagem da ópera O Diletante, de João Guilherme Ripper, iniciou no
último ano sua participação em concursos, tendo sido premiado com o terceiro lugar no 23º
concurso Abrão Calil Neto, de Ituiutaba, em outubro de 2016, e também no I Concurso
Nacional de Piano recentemente realizado na Escola de Música Villa-Lobos, e tendo também
participado,em 2016, do IV Concurso Internacional Piana de Cavaliere [Arsoli (RM), Itália],
onde recebeu o inusitado Prêmio Simpatia. Mais recentemente, foi aceito como candidato no
IX Concurso Internacional María Clara Cullell, na Costa Rica.

Sandrino Santoro (Contrabaixo): Um dos pilares da moderna escola brasileira de


contrabaixo, Sandrino foi professor de contrabaixo da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), da Universidade do Rio de Janeiro (UniRio) e da Escola Villa-Lobos (EMVL), entre
outras instituições. Foi primeiro contrabaixista das orquestras: Sinfônica do Theatro
Municipal do RJ, Sinfônica Nacional da UFF, e de Câmera da Rádio MEC. Atuou como
solista da Orquestra Sinfônica Brasileira, da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de
Brasília e da Orquestra de Câmera da Rádio MEC (1966), e realizou vários recitais de
contrabaixo. Participou de diversas gravações de artistas da música popular.

Sanderson Cortez Paz (Contrabaixo): Concertino do naipe de contrabaixos da Orquestra


Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo, Sanderson Cortez é formado no curso de
especialização em música orquestral pela Academia de Música da OSESP (Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo), tendo aulas ministradas pela Professora Ana Valéria Poles
(Solista A OSESP). Como músico já integrou a Orquestra de Ópera do Theatro São Pedro,
Orquestra Sinfônica de Santo André, Companhia Brasileira de Ópera, Orquestra de Câmara da
USP e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (como Academista/Estagiário).
42

Leonardo David (Regência): Iniciou seus estudos musicais aos sete anos, em um projeto
musical do SESI-ES. Foi aluno dos professores Carmelita Reis (RJ), Edson Queiroz de
Andrade (MG), e na classe do Prof. Hariton Nathanailidis graduou-se Bacharel em Música -
Habilitação em Violino. Foi professor de violino da Faculdade de Música do ES de 2001 a
2008. É Maestro titular e diretor artístico da Orquestra de Câmara Camerata SESI-ES e Coro
do SESI-ES e Maestro Adjunto na Orquestra Sinfônica do Espírito Santo. Foi o fundador e
regente da orquestra camerata jovem da Faculdade de Música do ES, com a qual realizou
diversas apresentações pelo Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais. É regente e
coordenador dos coros e orquestra da IEBV.

Ramon Feitosa (Violino e Regência): Bacharel em violino pela UFPB e Mestre pelo
PROMUS – UFRJ, iniciou seus estudos aos sete anos no Centro Musical Suzuki. Como seus
principais professores de violino, contou com a orientação de Ademar Rocha e Daniel
Guedes. Como camerista, vem tocando ao lado de importantes músicos como Fabio
Presgrave, Alexandre Razera, Horacio Schaefer, Heleno Feitosa, John MacGrosso, Daniel
Khalikov, Marcio Malard, Yerko Tabilo, entre outros. Desde 2014 atua também como
violista. Em 2019 atuou como diretor pedagógico e coordenador geral do Festival
internacional de Música de Barra Mansa. Atualmente é spalla da Orquestra Sinfônica de Barra
Mansa, professor do Projeto Música nas Escolas, violinista no Quarteto da Guanabara e atua
frequentemente como solista.

Caio César Loures (Técnicas de Gravação): Técnico de som, graduado em Tecnologia da


Gravação e Produção Fonográfica (UNESA, 2008), pós-graduando no MBA em TV Digital,
Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica (UFF) e Gestão de Empresas de
Radiodisão (UNINTER). Atualmente é servidor técnico-administrativo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, lotado no Fórum de Ciência e Cultura, no cargo de Técnico em
Audiovisual, exercendo a função de Assessor Técnico da Superintendência de Comunicação,
Rádio e TV e Coordenador de Tecnologia e Operações no projeto de implantação da Rádio
Educativa UFRJ FM. Membro da Audio Engineering Society - AES e da Associação
Brasileira de Profissionais de Áudio - ABPAUDIO.

Orquestra Sinfônica da UFRJ – Violinos: Marco Catto, Andreia Carizzi, Felipe Prazeres,
Fabio Peixoto, André Bukowitz, Angélica Alves, Her Agapito, Inah Pena, Kelly Davis,
43

Marília Aguiar, Mauro Rufino, Talita Vieira e Ricardo Coimbra. Violas: Thaís Mendes, Rúbia
Siqueira, esse Pereira, Ivan Zandonade, Francisco Pestana, Cecília Mendes. Violoncelos:
Ricardo Santoro, Paulo Santoro, Mateus Ceccato, Marzia Miglietta, João Bustamante,
Tarcísio Silva e Rodrigo Favaro. Oboés: Leandro Finotti, Thiago Neves, Pierre Descaves,
Juliana Bravim. Clarinetes: Igor Carvalho, Gabriel Peter, Márcio Costa. Fagotes: Pedro Paulo
Parreiras, Paulo Andrade, Mauro Ávila. Trompas: Mateus Lisboa, Gilieder Verissimo, Tiago
Carneiro, Sérgio Motta. Trombone: Everson Moraes. Percussão: Tiago Calderano, Pedro
Moita.

Orquestra Sinfônica de Barra Mansa - Primeiro Violino: Olga Galeano, Ramon Feitosa,
Isaque Andrade, Jorge Oliveira, Lucas Santana, Luís Oliveira Marcos, Vinícius Mateus
Soares, Taira Lima, Wesley Ramon. Segundo Violino: Elizeu Moreira, Alisson da Cruz,
Aléxia Freitas, Ataly Odara, Elioenai Seabra, Gabriel Carmo, Kimberly Alves, Mariana
Oliveira, Rosélia Marinho, João Marques. Viola: Adlas Gabriel, Gutemberg Mamedes, Mikil
Francis, Patrícia Souza, Marinara Bogado, Nícolas Dias, Patrick Almeida, Sheila Dias.
Violoncello: Priscila Assumpção, Bárbara Mitrof, Douglas Lara, Guilherme Aguiar, Jéssica
Faria, Jouseane Valvano, Luis Fernando Lopes, Michele Medeiros, Raiane da Silva, Suzana
Dias. Contrabaixo, Johnny Lamim, Amanda Karen, Caio Vinícius, Clarice Roberta, Michel
Lamim, Nathália Silva, Silvano Guimarães, Bernardo.
44

REFERÊNCIAS

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ARZOLLA, Antonio. Uma abordagem analítico-interpretativa do concerto 1990 para


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2006

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Architecture. Ed. Springer, 1996

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Ed. Academic Press, 2019.

CARDOSO, André. A música na Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro. ABM,


2005

DANJAS, Kilder. Canção e Dança para piano de Radamés Gnattali: estudo de


aspectos técnico-interpretativos. UFMG 2008

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Sinfonia n° 1 para Orquestra de Sopros. USP, 2013

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LANGNES Cato. New recording techniques for solo double bass. Oslo, 2014
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MARIZ, Vasco. História da Música no Brasil. 6ª Ed. Ampliada, Rio de Janeiro, 2005

MEYER Jürgen. Acoustics and the Performance of Music. Ed. Springer 2004

NEVES, José Maria. Música Contemporânea Brasileira. Ed. Contra Capa, 2008

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RODRIGUES, Ricardo Pereira. Canção e Dança para contrabaixo e piano de


Radamés Gnattali: aspectos históricos, estudo analítico e edição. UFMG, 2003

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Performance. Oxford, 2004

ZORZAL, Ricieli Carlini. Dez estudos para violão de Radamés Gnattali: estilos
musicais e propostas técnico-interpretativas. UFBA 2005

Artigos:

BORÉM, Fausto. Lino José Nunes (1789-1847): um afro-brasileiro seria o compositor


mais cromático das Américas até meados do século XIX?

BORÉM, Fausto. Reflexos editoriais das práticas de performance: as lições e


modinhas de Lino José Nunes (1789-1847) DEBATES | UNIRIO, n. 14, p.52-74, jun.
2015.

BORÉM, Fausto; TAGLIANETTI Ana. Construção de uma performance cênica para as três
modinhas imperiais de Lino José Nunes (1789-1847). Opus, v. 22, n. 2, p. 193-215, dez.
2016.
46

BORÉM, Fausto. Improptu para contrabaixo e piano de Leopoldo Miguez: Aspectos


musicológicos, composicionais e de performance. ANPPOM – Décimo Quinto
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CARDOSO, André. Um método brasileiro de contrabaixo, do século XIX (1838): Lino


José Nunes. Rio de Janeiro, 2011.

RA S nia M sica rasileira para contra ai o: coleta e organi a o de o ras. Per


Musi, Belo Horizonte, n.13, 2006, p.100-111

Revista da Semana de 13 de agosto de 1938 pg. 31

Partituras publicadas:

FICARELLI, Mario. Dois estudos para dois contrabaixos. São Paulo, 1969. Editora
Novas Metas.

GNATALLI, Radamés. Can o e an a Rio de Janeiro, 1985. Edição Funarte.

MAHLE, Ernst. Concertino 1978. Piracicaba,1978. Edição eletrônica do próprio autor.

MIGUEZ, Leopoldo. MACEDO, Roberto. Impromptu. Ed. Fausto Borém 2005.

SANTORO, Claudio. antasia sul-am rica. Brasília, 1983.EdiçãoMusimed

VILLANI-C RTES E Praeludius Onnibus. São Paulo, 1979. Edição Eletrônica do


próprio autor.

VILLANI-C RTES E Ponteio. São Paulo, 2012. Edição Eletrônica do próprio autor.

Partituras Manuscritas:

AGUIAR, Ernani. Duos de Oxósse. Manuscrito cedido por André Cardoso


47

MAHLE, Ernst. Sonatina. Piracicaba, 1975. Manuscrito cedido por Sandrino Santoro

NUNES, Lino José. Methodo pratico ou Estudos complettos para o contrabaxo. Manuscrito
cedido por André Cardoso

Sites:

Sítio oficial do compositor Cláudio Santoro


http://www.claudiosantoro.art.br/Santoro/1.html - 1.8 visitado em 31/7/2018

Vídeos:

ARAÚJO, Tarso. Aboio, a poesia do vaqueiro. Curta Documentário. 2014


https://www.youtube.com/watch?v=DikSjNBXF94 Acessado em 20/5/2020

ROBERTO, Adriano. O som do abôio. Curta Documentário. 2014


https://www.youtube.com/watch?v=WbNwz7wVLWA. Acessado em 20/5/2020

Mini-Documentários produzidos pelo autor para este trabalho:

Edmundo Villani-Côrtes fala sobre composição e sua relação com o contrabaixo


https://www.youtube.com/watch?v=rM1gv8r55sM .

Villani-Côrtes fala sobre sua peça Choron para contrabaixo.


https://www.youtube.com/watch?v=KBcjHDbMCEI
48

Anexo I: Análise comparativa dos repertórios de orquestras no Brasil e Itália

A música contemporânea e local no


repertorio de orquestras sinfônicas entre
Brasil e Itália no
biênio 2018-2019

1. Introdução

Nesse estudo, pretende-se analisar as escolhas curatoriais das direções artísticas das
principais orquestras sinfônicas e de ópera do Brasil e Itália comparando em
assiduidade de execução de obras nas seguintes categorias: Obras Nacionais, Obras
Nacionais Contemporâneas, Obras Internacionais, Obras Internacionais
Contemporâneas.
Como instituições mais importantes de ópera e música sinfônica de cada país foram
escolhidos os grupos musicais que recebem maior montante de investimentos do estado
e, portanto, representam a politica oficial no que se refere à música clássica.
No Brasil analisou-se a OSESP e a Orquestra do Theatro Municipal de São Paulo.
Na Itália a Accademia Nazionale di Santa Cecilia de Roma e a Orquestra do Teatro alla
Scala de Milão.

2. Objetivos

O objetivo desta análise é compreender o quanto de música nacional e contemporânea é


apresentado por relevantes grupos orquestrais em respeito ao repertório tradicional de
música sinfônica. Isso pode nos ajudar a entender o quanto estas instituições estão se
dedicando atualmente a suas culturas locais e a seu tempo.

3.Critérios
49

3.1. Recorte Temporal:

Analisou-se a última temporada completa de cada instituição, ou seja, 2018-2019 na


Itália e a temporada 2019 no Brasil.

3.2. Definição de Música Contemporânea:


O conceito de música contemporânea é de difícil definição devido à falta de uma
linguagem comum nos compositores do passado recente, o que torna a música de nosso
tempo heterogênea demais para ser definida esteticamente. Por contemporâneo neste
estudo entende-se toda música escrita por compositor vivo até o começo de cada
temporada contabilizada, entendendose, portanto, que o compositor estava vivo quando
a obra foi programada.

3.3. Definição de contagem das obras.

Não se faz distinção de tamanho para se contar cada peça musical. Uma ópera de 5
horas tem o mesmo valor de uma peça orquestral curta. Isso faz com que, naturalmente,
orquestras especializadas em repertório sinfônico apresentem maior quantidade total de
peças por temporada.

4. Dados por orquestra:

4.1 Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (OSM).

Total de obras apresentado: 83

Obras de compositores brasileiros: 8 (2 contemporâneos)

Obras internacionais: 75 (1 contemporâneo)


50

Repertório 2019 OSM


1% 7%
3%

89%

Brasileira Brasileira Contemporânea Internacional Internacional contemporânea

4.2 Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP)

Total de obras apresentado: 130

Obras de compositores brasileiros: 16 (6 contemporâneas)

Obras internacionais: 114 (6 contemporâneas)


51

Repertório 2019 OSESP


8%
5%
4%

83%

Brasileira Brasileira Contemporânea Internacional Internacional contemporânea

4 3 Orchestra dell‟Accademia di Santa Cecilia Roma-


IT)

Total de obras apresentado: 75

Obras de compositores italianos: 3 (1 contemporânea)

Obras internacionais: 72 (1 contemporânea)


52

Repertório 2018-2019
Accademia di S. Cecilia
1% 3%1%

95%

Italiana Italiana Contemporânea Internacional Internacional contemporânea

4.4 Orchestra Sinfonica della Scala (Milão-IT)

Total de obras apresentado: 50

Obras de compositores italianos: 11 (1 contemporânea)

Obras internacionais: 39 (4 contemporâneas)


53

Repertório 2018-2019 alla Scala


8% 20…

2%

70%

Italiana Italiana contemporânea Internacional Internacional contemporânea

5. Dados Gerais

5.1. Comparativo obras Nacionais X Internacionais

Total de obras nacionais: 40

Total de obras internacionais: 298


54

Repertório Nacional x Internacional


12…

88%

Nacional Internacional

5.2. Música Contemporânea x Tradicional

Obras contemporâneas: 32

Obras tradicionais : 306


55

Repertório Contemporânea x Tradicional


9%

91%

Contemporânea Tradicional

6. Conclusão

A partir da análise dos gráficos e porcentagens pode-se afirmar que, apesar das
diferenças de cada orquestra, a música internacional e tradicional ocupa lugar de
imenso destaque em todas elas, enquanto a apresentação de obras nacionais e
contemporâneas ocupam, no máximo, 30% do total (Alla Scalla).

7. Bibliografia e fontes
56

GROVE, George. A dictionary of music and musicians. Cambridge University Press.


2009

http://www.santacecilia.it/file_gallery/Stagione_Sinfonica_2018-19.pdf

http://www.santacecilia.it/concerti_e_biglietti/index.html

http://www.teatroallascala.org/it/stagione/2018-2019/index.html

http://www.osesp.art.br/concertoseingressos/programacao.aspx

https://theatromunicipal.org.br/pt-br/programacao/
57

Anexo II: Entrevista com Villani-Côrtes, realizada na casa do compositor em abril


de 2018.

O compositor começa perguntando meu nome, com o qual fará um improviso


no final da entrevista.
O entrevistador: “Meu nome é Vinicius “

Villani-Côrtes: ”Não fala o sobrenome que você vai falar só na hora do improviso”

Entrevistador: “Você me disse na outra vez que seu impulso primordial para compor
foi o de ouvir uma música que não existe, ou seja, você queria ouvir alguma coisa, mas
aquilo não necessariamente existia. Como é o processo compositivo para você? O que
você diria que é seu moto inicial para compor? “
Villani-Côrtes: “Sintetizando pois agora já se passou muito tempo que eu comecei
originalmente a me dedicar a música, não comecei a estudar cedo. E a maioria dos
músicos que conseguiram algum sucesso, principalmente na composição, são gênios
que com cinco, seis anos de idade já o eram. Então, citando Mozart, Betthoven, Chopin
e mesmo os atuais, é tudo gente que começou cedo. E eu não comecei cedo, então estou
distante desse grupo, desse padrão. Eu realmente passei a me dedicar um pouco mais à
música e resolvi encarar a música como objetivo final da minha vida nos meus dezoito
anos de idade mais ou menos. Mas eu já tocava cavaquinho, violão, de ouvido mesmo a
partir dos meus dez anos de idade. O que acontecia comigo em relação à música? Eu
via, por exemplo, um dia bonito, florido, com sol, aquela alegria. Um poeta ele
naturalmente faz uma poesia para descrever aquilo. E eu não encontrava palavras para
descrever isso. Eu gostava, quando era menino e era muito franzino e leve, de subir em
árvores, de correr, de fazer essas coisas assim. Quando anunciava a tempestade, eu era
menino e começava aqueles trovões e tudo, havia uma goiabeira no quintal da minha
casa, e eu adorava subir naquela goiabeira e ficar balançando no meio daquela ventania.
Vendo aquela coisa, achava aquilo uma maravilha. Minha mãe ficava louca da vida
com o perigo de eu ser queimado até por um raio. E quando eu via nuvens bonitas, eu
adoro essas coisas da natureza, eu não tinha palavras para descrever isso e descobri que
determinadas musicas que eu ouvia me passavam aquela sensação daquela impressão
que eu tinha quando me ligava a esses fenômenos. Então eu descobri que a música era
58

o meio de comunicação mais próximo ao meu sentimento, a minha maneira de perceber


as coisas. Foi por isso que eu me dediquei à música. E logo que eu comecei mesmo a
mexer mesmo com violão, quando comecei a estudar piano na casa de uma tia,
determinados acordes que eu fazia me levavam para esse estado assim de encontro com
a natureza, encontro com o indescritível. Então a partir daí que eu comecei com essa
coisa de fazer umas musicas e etc “
Entrevistador: Em relação ao contrabaixo, quando foi que você se interessou pelo
instrumento?

Villani-Côrtes: “isso daí a culpada e responsável de tudo é a Gê C rtes que é minha filha e
que se interessou. Ela começou a estudar um pouco de piano, depois violão, depois ela falou
que queria tocar contrabaixo. E como ela era uma mocinha miúda e eu falei: „mas você não
quer estudar violoncelo que é mais adaptável para você ?‟ ela falou: ‟ não eu quero é tocar
contrabaixo!‟ então ela escolheu o contrabaixo mesmo Eu falei com ela: ` É o seguinte Gê
você está estudando um pouquinho de violão, então você vai treinando fazer uns baixos no
violão e quando você estiver fazendo uns baixos no violão eu compro um contrabaixo para
você ‟ E naquela época ela ficava ouvindo as músicas e prestando atenção nos contrabaixos e
aí ela sabia fazer os baixos de todas as músicas que tocavam no rádio. E logo que ela
começou a se desenvolver no contrabaixo e a estudar contrabaixo e dedicar, eu então escrevi
uma música que chamei de Praeludius Omnibus. Essa palavra omnibus em latim significa
„para todos‟ tanto que tem o nibus de carro que todo mundo pega Mas esse nibus que eu
coloquei aí não é o Omnibus que é „para todos‟ em latim É Onnibus quer dizer um prelúdio
para On porque a própria Gê se intitulava de On Ela dizia „On quer fazer isso, On quer fazer
aquilo „ não sei porque ela tinha essa coisa com On. Então eu fiz essa peça, e fiz questão
também de explorar o contrabaixo como contrabaixo. Porque às vezes eu via as pessoas
falarem: „ As peças do ‟ não vou citar o nome que não lembro bem, um compositor para
contrabaixo que é citado considerado o Paganini do contrabaixo ”

Entrevistador: “Bottesini “

Villani: “Não o Bottesini não Um outro acho que é um nome russo ”

Entrevistador: “Ah o Koussevitzky?“

Villani: “Acho que é o Koussevitzky nas peças dele e tal Mas ele fica querendo fazer
do baixo um violino. Não, o que significa o contrabaixo são os baixos. Então eu fiz
questão de fazer uma música que não fosse para explorar o virtuosismo de fazer o
59

contrabaixo tocar como se fosse um violino. Não concordo com isso, acho que o baixo
é importante porque ele é o baixo. Tem uma frase de Beethoven muito importante.
Perguntaram a ele a respeito da existência de Deus, não é? Então Beethoven respondeu:
„Deus é como o baixo profundo nele não se mexe!‟ Ou seja o baixo profundo a nota
grave que vai ter como resultante de harmônicos outras notas e que é a base da estrutura
de toda música é o grave do contrabaixo. E quando eu estava fazendo um mestrado no
Rio orientado pelo Henrique Morelembaum, ele me comentou também uma coisa muito
importante: me falou que um maestro famoso dizia que o segredo da sonoridade da
orquestra está nos contrabaixos. Quando os contrabaixos são firmes e afinados e
seguros, os harmônicos que são oriundos daquele baixo fundamental é que fazem a
orquestra ter um brilho que a pessoa às vezes não sabe explicar. Então eu pensei em
todas essas coisas assim e fiz essa peça chamada Praeludius Omnibus. E que no fim ela
termina inclusive com você invertendo o arco, para mostrar uma coisa que é
contrabaixo. Só o contrabaixo pode fazer isso, entendeu? Então eu acho muito
importante a pessoa, sei lá, explorar o instrumento na natureza dele. Então essa peça o
Praeludius Omnibus é assim, ela explora uma região que é o contrabaixo mesmo. A
pessoa não é obrigada a fazer ” E vocaliza em falsete “ e fazer um agudíssimo lá pra
dizer que ele tem aquilo ali Isso é exibicionismo não é musicalidade”
O entrevistador pergunta sobre a gênese da peça Choron
Villani: “Como eu fiz o Praeludius omnibus para a Gê então eu fiz um choro para a
On, então chamei de Choron. Outras pessoas que me perguntam porque chamei de
choron acham que choron é porque é um choro grande ou alguma coisa assim, Mas não
é isso. Choron é porque é um choro para On. E esse choro é um choro para contrabaixo
e piano com as características, cada qual tem a sua característica, cada um tem os seus
efeitos. No fim tem umas cordas duplas que são um pouco mais virtuosísticas e etc.
Assim é um choro”
Entrevistador: “Sem mais é apenas um choro que você “

Villani: “ que eu fiz para a Gê também Inclusive eu tenho uma versão disso com
orquestra. Na época a Gê estreou esse choro com a Jazz Sinfônica, uma versão que eu
tenho para a Jazz Sinfônica e é difícil orquestrar para contrabaixo e orquestra porque,
como o baixo faz as fundamentais, então para sobressair o instrumento é um trabalho
bem difícil de fazer, mas acho que soa legal. É importante o Choron também, tem uma
60

gravação muito bonita feita pelo Milton Masciadri, ele gravou uma gravação muito
bem feita, muito bonita.
Entrevistador: “E em relação à Melodia para Luciana? “

Villani: “A Melodia para Luciana é uma História muito curiosa No ano dois mil e
poucos um grupo chamado grupo Aum, liderado pela Arlete Tirone, que é uma pianista,
eles gravaram um cd com coisas minhas. E nessa época a filha da Arlete que é a
Luciana, ela cuidava muito da propaganda do grupo e tudo, tirava fotos e tal e tudo, até
hoje ela se dedica a fotografia não é? E ela estava estudando contrabaixo. Estudando
violoncelo, estudando violoncelo! Então eu não sei se ela me pediu ou que eu resolvi
fazer. Fiz uma melodia para ela, para ela tocar no violoncelo e pensei na primeira
posição só, uma coisa bem simples e tudo. E a Luciana nunca tocou isso porque ela
começou a estudar e não se dedicou e tudo, e ficou aquela música ali. Uma peça para
violoncelo e piano, parada. Então eu encontrei nos corredores da ULM, que hoje
chama EMESP encontrei com o Raiff e falei „Raiff eu tenho uma peça lá que é bem
simples, só primeira posição e tudo. Você não quer ficar com ela aí para dar para algum
aluno? Então eu dei a peça para ele, era mais ou menos meados do ano, devia ser
setembro, alguma coisa assim, agosto sei lá. Então quando chegou no fim do ano o
Raiff me convidou para ir assistir uma apresentação que eles tinham de um trio, que
tinha piano, cello e violino. Um trio muito bonito que tocou, com o Ênio Antunes de
violino, o Raiff de violoncelo e o Paulo... não me lembro o sobrenome dele, agora me
falhou. Que absurdo, mas tudo bem depois eu lembro. Era um ótimo pianista, pianista
maravilhoso. Pessoal tocou e tudo. E depois que eles tocaram essa música, o Raiff
tocou uma música com cello e piano muito bonita, muito simples, todo mundo aplaudiu
muito eu achei muito bonito Era essa música Melodia para Luciana Eu falei „Ué não
sabia que essa música soava bem assim e tudo. Então o contrabaixista do grupo Aum da
Arlete se interessou pela música também, então eu fiz uma versão para contrabaixo e
piano, que aliás eu não mudei nota nenhuma, é só você tocar aquilo no contrabaixo e
pronto. E essa música ficou assim uma música curiosa, todo mundo ouve e gosta. É
bem simples, que eu fiz assim despretensiosamente, e soa muito bonito no contrabaixo
porque explora a região grave do instrumento também não é?”
O compositor discorre sobre sua peça Ponteio:

“O ponteio foi feito para baixo mesmo com intenção Eu fiz porque tinha um duo de
violão e contrabaixo que toca as minhas músicas. Então como eles iam gravar um CD,
61

não sei no que que deu, se gravaram ou não gravaram, como ficou isso. Um duo muito
bom, não é? E como nesse CD tinha uma peça para violão solo eu fiz uma peça para
baixo solo também, que foi esse ponteio. Mas eles acabara não gravando o CD e depois
eu não tive um contato mais estreito com eles e ficou. A Gê também estreou esse
ponteio, ela que me ajudou a ver as arcadas, essas coisas desse tipo. Eu fiz o ponteio
para baixo solo porque eu vejo por exemplo que o pessoal toca toda hora,
principalmente eles tocam aquele prelúdio solo de Bach que todo mundo toca. Então eu
falei, bom tem essa peça que todo mundo toca, então vou fazer para o contrabaixo uma
peça que os baixistas vão ter que trabalhar um pouquinho mais para tocar e tudo, não é?
Então eu fiz com essa intenção, procurando usar sempre umas coisas que são um pouco
características da nossa música Um pouco mais de sincopado as acentuações vão ser”
e demonstra cantando “ desencontrar um pouquinho não é as acentuações E explorar
harmonicamente um pouco mais o instrumento, a intenção foi essa. Agora está nas
mãos dos intérpretes é isso aí!”
Villani-Côrtes agora se senta ao piano e fala sobre seu processo compositivo inicial:
“Quando eu comecei a estudar piano e quando eu tive a oportunidade de ter um piano e
experimentar algumas coisas, eu achava assim que o que às vezes é chamado como
música clássica fica, às vezes, muito restrito àqueles encadeamentos oficiais. Tipo
primeiro quarto quinto primeiro Essa coisas assim” e demonstra os encadeamentos
ao piano “Então a primeira coisa que a primeira faz para tocar se estou em dó maior
então é um acorde de dó maior mesmo “ e demonstra um trecho musical em dó maior
com tríades simples “ Então eu acho que isso era meio simples e eu gostava muito de
ficar explorando uns sons assim” e toca uma harmonia com acordes alterados “ Eu
gostava desses sons assim usando uns acordes de sétima maior, umas nonas menores e
tudo. Então, um dos primeiros prelúdios que eu fiz ele é assim, ó. É todo, ao invés de
ser: “e toca uma sequência harm nica simples “ que é fá Eu então procurei explorar
assim: “ E toca a mesma sequência com os acordes alterados “ não é? Então um dos
primeiros prelúdios é assim ó ” E toca seu Prelúdio número 4 “Bom agora então
vamos fazer assim: vem aqui e me fala seu nome aqui perto de mim. E vamos ver o que
acontece ”
O entrevistador: “Meu nome é Vinicius Frate Paranhos ”

Villani: “Então vamos ver o que pode acontecer Então seria ta-ta-ra, ta-ra, ta-ta-ra.
Vamos tentar fazer sonoramente alguma coisa assim ”
62

O compositor então inventa uma melodia sobre a sonoridade rítmica do nome do


entrevistador pergunta “pode ser?“ e prossegue improvisando e criando uma música
nova sobre a melodia inicial.

Áudio da entrevista com Edmundo Villani-Côrtes


63

Anexo III: Entrevista com Ernani Aguiar, realizada por telefone em setembro de
2018

Ernani começa comentando sobre a gênese da peça:

“Eu fiquei um longo período sem compor (um ano e meio). Tive uma crise estética, aí
depois até conversei com o Leonardo Boff, meu amigo, e ele falou: -„não não se
preocupa com isso, daqui a pouco volta tudo ao normal`. E eu comecei a escrever duos.
Escrevi oito para violino, assim, duetos, não é?
Oito para violino, seis para viola, seis para violoncelo. E para contrabaixo eu fiz três,
mas três como se fossem um ligado ao outro. Na série de violino, violoncelo, viola cada
qual tocava dois, escolhia à vontade. O de contrabaixo não, é uma seriezinha dos três. E
foi engraçado que dois de violino, dois da viola, dois do violoncelo e os três do
contrabaixo estrearam no mesmo dia: vinte e quatro de janeiro de oitenta e cinco no
auditório dos Canarinhos de Petrópolis. Quem tocou foi o Luiz Felipe Klein e o
Tarcisio José da Silva. Depois o Fausto Borém fez uma revisão que o negócio tava
meio ruim. Agora, porque chamo de Oxósse? Porque eu compus no dia vinte de janeiro
de oitenta e cinco, e vinte de janeiro é são Sebastião, e é Oxósse. Minha ligação com a
música africana, afro-brasileira é grande Tem aqueles meus „Cantos Sacros para
Orixás` que cada vez que apresenta da uma merda desgraçada com os crentes não é? Se
tivesse inquisição crente eu estava na fogueira. Mas fora isso foi uma coisa foi uma
coisa bem despretensiosa, uma coisa bem tranquila, sem nenhum interesse. Quis dar
minha contribuição modesta para o contrabaixo que é o instrumento que , se faltar na
orquestra, a orquestra fica sem pé, sem base. Não pode ter orquestra sem contrabaixo.
O entrevistador: Você compôs essa música para o evento, ou porquê estava com
necessidade de compor mesmo?”
Ernani: “Não! Quis fazer para violino viola violoncelo e bom para contrabaixo
também, não é?. Estreou tudo no mesmo dia, as últimas escritas foram as de
contrabaixo eu como tinha o vinte de janeiro mandei ver as três lá não é?“
Entrevistador: “Vinte de Janeiro então é o que deu o nome Oxósse às peças ”

Ernani ri.

Entrevistador:” tem algum jeito ou som que você admira do contrabaixo que você
gosta de ouvir dele?”
64

Ernani: “O contrabaixo é um instrumento muito rico você sabe disso melhor do que
eu. O agudo do contrabaixo é espetacular, o grave é substancial. Aquela história: o
contrabaixo é a base da orquestra “

Áudio da Entrevista com Ernani Aguiar


65

Anexo IV: Entrevista com Ernst e Cidinha Mahle, texto recebido por email em
dezessete de junho de 2019.

Vinicius: o Mahle gostou muito da execução, achou que você é um ótimo


contrabaixista e espera uma vez ouvir você pessoalmente. Também a Orquestra,
segundo ele é muito boa e tem um regente muito bom.

“Respondendo agora suas questões anteriores:

1-Qual sua relação com o contrabaixo e como isso começou?

Em 1952-53, Koellreutter, com o qual eu estudava composição, teve a ideia de formar


uma Orquestra de Cordas na recém-fundada Pro Arte, de S.P. Como ele sabia que eu
tinha muita facilidade para aprender um instrumento, pois , embora ,não muito bem,
tocava vários, sugeriu que eu me encarregasse de tocar contrabaixo na orquestra de
iniciantes. Providenciei um instrumento e comecei a tocar. A Orquestra não vingou,
mas eu fiquei muito ligado ao contrabaixo. Quando, em 1953 foi fundada a Escola de
Música de Piracicaba, como filial da Pró Arte, de S.P., de início eu quase lecionava
um grande numero de instrumentos, a exceção de piano, violino e alguns de sopro. Mas
em 1955 criamos uma Orquestra infantil, que depois passou a Juvenil. Chegou a vez do
contrabaixo...de início dei aulas também, até que mais tarde o Sandor Molnar trabalhou
conosco Mas .sempre gostei do contrabaixo e considero esse instrumento
imprescindível numa orquestra. Tanto que quando eu regia, na própria escola uma boa
orquestra de cordas, bem mais tarde, por volta de 72,73, preferia as vezes tocar o cbx,
de que reger, quando o contrabaixista , por alguma razão, faltava..

2- Qual sua relação com o contrabaixo, e como essa começou?

De início foi de escrever para alunos, a fim de que eles tivessem estímulo, para
continuar seus estudos; depois foi para ter obras para os Concursos Jovens
Instrumentistas, realizados de 1971 a 2001, na EMPEM, depois atendendo a pedidos,
até chegar ao Concerto para contrabaixo, dedicado ao Antonio Arzolla, nossos ex-
aluno.
66

3- Conselho: gostar de tocar e descobrir que é bom ter peças para tocar, originais , para
o instrumento. Considerações: o Mahle pediu para que eu digitasse, mas tudo isso ele
falou para mim-não há nenhuma invenção, de minha parte, não ditou. É QUE ELE
GOSTA MAIS... É DE ESCREVER MÚSICA... e conta comigo para a
correspondência, mesmo não sendo uma boa digitadora...
Lembranças nossas.
Cidinha Mahle ”
67

Anexo V: Entrevista com Sandrino Santoro realizada em sua residência em maio


de 2019.

Entrevistador: “Maestro você estreou aquela versão para cordas da Canção e Dança
do Gnattali”
Sandrino Santoro: “Isso “

Entrevistador: “Como que ele te conheceu o Gnattali? Como ele soube quem você
era?” Sandrino: “Bom eu na época fazia o mestrado também em contrabaixo. Então o
programa era difícil, eram quatro recitais que a pessoa tinha que fazer, eram dois por
ano com músicas diferentes: musica não brasileira e música brasileira. Então em oitenta
e dois, em agosto, eu encontrei a canção e dança, só que eu tinha somente a parte de
piano, que ela foi escrita, o Radamés escreveu a canção para o pai dele e a dança para o
Antonio Leopardi. Bom, aí eu precisava tocar isso com orquestra, e ai eu disse:
caramba, como é que vou fazer? Então fui procura-lo não e?“
Entrevistador: “Pessoalmente ”

Sandrino: “ é Fui ate a casa dele que não me lembro onde morava e aí eu falei „
maestro, precisava que o senhor fizesse por gentileza uma orquestração para a canção e
dança‟ Aí ele: „ Não posso porque estou ocupado!‟ Eu digo: „ Por favor precisaria
isso daqui a algum ‟ „Não não posso ‟ Muito bem e então deixei meu telefone com
ele Depois de três ou quatro dias ele me telefona e diz „Sandrino olha já está pronta a
parte de orquestra‟ Tudo bem eu aí mostrei para o Maestro Nelson Nilo Haack e a
gente fez ensaio e tocamos essa obra com a presença dele. Isso foi agosto me parece, de
oitenta e dois. Dois de agosto de oitenta e dois. Com a presença dele não foi fácil tocar.
Errei algumas coisas mas no final fomos até o final, muito aplauso e tal, e aí eu cheguei
perto dele: „E aí Maestro o que o senhor achou?‟ „É foi bom‟ Mas nada assim de
meus „parabéns por você ter tocado‟ não é? É foi bom foi bom e aí ficou Então essa
peça depois, essa Canção e Dança teve concurso com o MEC me parece e ele
imprimiram essa música. E o muno inteiro tomou conhecimento dessa peça para piano,
e a parte de solo do contrabaixo que não tinha. Mas um aluno meu, o Jorginho, Jorge
Soares fez muito bem. Naturalmente sempre aparece algum errinho e tal, mas foi tudo
bem. Eu sei que muita gente toca essa música porque ela é muito boa, tanto a Canção
quanto a Dança. Então é isso aí Vinicius, você também fez essa música. Não sei o que
você achou também, se estava dentro do teu programa da tua cabeça, do teu coração.
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Porque quando a gente toca, as músicas mexem com a gente, não é? Mexe com os
ouvidos, mexe com a cabeça, mexe com o coração enfim, mexe com uma porção de
coisas “

Entrevistador: “Cada vez que a gente toca a gente sente alguma coisa, diferente às
vezes “

Sandrino: “Com certeza “

Entrevistador: “ E essa estreia que você fez com qual orquestra?”

Sandrino: “Orquestra de Câmara da Rádio MEC“

Entrevistador: “Quem foi o regente?“

Sandrino: “Nelson Nilo Haack“

Entrevistador: “E o lugar de apresentação? “

Sandrino: Foi na Escola de Música (da UFRJ), no Leopoldo Miguêz, na sala grande.
Naturalmente que no contrabaixo sempre fica difícil de você tocar num salão daquele
com orquestra. Mas eu tinha, eu tenho essa gravação, mas é em fita cassete, teria que
passar para um
CD para alguma coisa para ouvir Ouvir se está bom se está ruim os erros ” E ri “
Enfim “ Entrevistador: “E o Radamés? Qual era relação do Radamés com o
contrabaixo na sua opinião?“
Sandrino: “Olha ele era fanático pelo contrabaixo. Só que ele gostava realmente era
do Vidal. O Vidal era um colega meu da Rádio MEC, da rádio ministério, onde ele
tocou o trio para piano contrabaixo e bateria“
O entrevistador tenta lembrar o nome da peça, sem sucesso. Presumivelmente o
Concerto Carioca No 2.
Sandrino: De qualquer maneira o Vidal tocava muito com ele. Porque o Radamés era
um monstrinho tocando piano. Aliás, tudo dele é bonito, não é? Tem peças para flauta,
sonatas para flauta maravilhosas. Meu sobrinho, sobrinho da minha esposa que toca
flauta tocou a obra do Radamés Então é um compositor de alto nível ”
Entrevistador: “como é que você acha que ele via o contrabaixo?“

Sandrino: “Ele naturalmente pelo que eu conheço é de obras difíceis Porque


antigamente, você sabe muito bem, tirando o Leopardi que foi professor da Escola de
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Música e foi meu primeiro professor também, estudei um ano e meio com ele, depois
veio a falecer. Leopardi tocava muito bem também, mas eram poucos, então, os
contrabaixistas da época...tocar acima da metade do instrumento era uma coisa horrível.
Hoje não hoje tem contrabaixistas “
Entrevistador: “ que só sabe tocar às vezes depois da segunda metade do
instrumento, esqueceu como toca o grave

Sandrino: “Também também E o baixo é um instrumento naturalmente que você tem


que se dedicar muito aos graves por causa da orquestra. Você, para ser solista do
contrabaixo, é uma coisa dificílima. Eu acho que no mundo deve ter o que de solistas?
Gary Karr foi um porque, ele tocou em orquestra sim, mas saiu muito cedo porque era
um grande solista Hoje todos tocam em orquestra ou dão aula “
Entrevistador: “Mas acho que até em outros instrumentos É difícil ver alguém que é
só solista de violino por exemplo, que não dê aula em algum lugar ”
Sandrino: “É também também Mas são instrumentos mais c modos mais audíveis
vamos dizer assim. Você pega um grande violinista. Caramba, o que é isso não é?
Violista também tem poucos, violoncelo tem muitos, muita gente. E por aí vai,
Vinícius, o contrabaixo de hoje toca praticamente tudo. Tem gente que toca as suítes de
Bach, eu não gosto no contrabaixo. Eu prefiro sempre para violoncelo, mas tem gente
que toca Concerto(para violoncelo) de Dvorak: o Gary Karr. Uma história se você
quiser ouvir, pode contar do Gary Karr? Ele teve aqui em casa e aí eu perguntei a ele
porque que ele tocou o concerto de Dvorak Eu digo „cara você é maluco?‟ e ele disse
„Não você também seria maluco‟ eu digo „como é que foi?‟ „Olha o Japão me fez um
convite e eu não aceitei que era para gravar ao vivo. O segundo convite dobraram, mas
eu também não aceitei O terceiro eu não pude dizer não ‟ Eu digo: „Porquê?‟ ele disse
„porquê a mansão onde moro eu comprei com esse concerto tocado no Japão ‟ E
realmente é muito bom. Só que se você mostra naturalmente para um violoncelista ele
não vai gostar não é? Porque é um pouco diferente. Mas ele conseguiu fazer o que ele
queria e ganhar o que o Japão prometeu. É isso aí “
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Áudio da entrevista com S andrino Santoro


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Anexo VI: Projeto Gráfico para álbum.

Por Anna Palatnic

Capa:
107

Disco:
108

Contracapa:
109

Lista de QR Codes

Produto Artístico

O Contrabaixo Brasileiro – Um álbum


panorama. Edição e mixagem: Clement
Zular

Praeludius Omnibus com Stefano Bravo

De Edmundo Villani-Côrtes. Gravado no


Salão Leopoldo Miguez da Escola de
Música da UFRJ em 8/7/2018. Engenheiro
de som: Caio Cesar Loures.

Canção e Dança com Stefano Bravo

De Radamés Gnattali. Gravação ao vivo do


concerto da série Talentos na Sala Guiomar
Novais, Rio de Janeiro, em 24/10/2018.
Stefano Bravo ao piano. Engenheiro de som:
Eduardo Monteiro

Entrevista com Villani-Côrtes

Entrevista realizada pelo autor na residência


de Edmundo Villani-Côrtes em São Paulo,
abril de 2018

Entrevista com Ernani Aguiar

Entrevista realizada pelo autor por telefone


em setembro de 2018.
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Entrevista com Sandrino Santoro

Entrevista realizada pelo autor na residência


de Sandrino Santoro, Rio de Janeiro, maio
de 2019.

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