Análise de Propagandas e Charges À Luz Da Semântica Da
Análise de Propagandas e Charges À Luz Da Semântica Da
Análise de Propagandas e Charges À Luz Da Semântica Da
Introdução
1. Considerações iniciais
1
. Doutoranda em Língua Portuguesa: Linguística do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC-MG.
Projeto Interinstitucional - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG e Universidade
Estadual de Montes Claros – Unimontes/MG. Órgão financiador: Fapemig. Orientador Professor Doutor
Paulo Henrique A. Mendes.
Universidade Estadual de Maringá – UEM
Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350
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1. Um pouco de teoria
expresso por sentenças e outros objetos linguísticos, não pelo arranjo de suas partes
sintáticas ou pela sua pronúncia”. Marques (1996, p.18), ao buscar em Katz (1982,
1972) argumentos que justifiquem a necessidade de um tratamento científico sobre a
noção de significado, afirma que,
linguagem não tem a função de falar sobre o mundo, mas a de convencer o interlocutor
sobre algo. Se a preocupação central da Semântica Formal é o valor de verdade dos
enunciados, para a Semântica Argumentativa, o foco a ser estabelecido em relação ao
enunciado é quanto à sua eficiência comunicativa.
Ora, se o que importa nos estudos semânticos é a compreensão sobre o
funcionamento da significação – nos termos de autor, trata-se de entender a “condição
necessária para o funcionamento de uma língua”, ressalta-se que necessário se faz
dedicar especial atenção à própria questão da leitura. 2
Essa atenção se justifica, pois o estudo sobre o funcionamento da significação se
pauta, de certa maneira, em decorrências que se manifestam do ato de ler.
De acordo com Mari e Mendes (2007, p. 11), a produção de sentidos é condição
necessária ao funcionamento de uma língua e “a leitura é uma estratégia possível para a
produção do sentido”. Nesse sentido, Mari e Mendes (2007, p. 11), afirmam:
2
A abordagem sobre as questões relacionadas à atividade de leitura é mobilizada, neste momento da
discussão, pelo fato de se conceber essa atividade como a via possível de apreensão de certos aspectos da
significação. Assim, toma-se aqui, essa atividade como a possibilidade de se produzir sentido; inclusive,
como a instância deflagradora dos elementos constituintes do enunciado, tais como: posto, pressuposto,
subentendido, conforme processo de enunciação que se instaura entre destinador e destinatário em um
dado universo cultural.
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O autor afirma que o fato de não poder justificar a hipótese relacionada à descrição
semântica, não significa que ela seja injustificável e, sendo assim, ela deve ser
formulada mesmo que não encontre apoio em evidências. Ele afirma, inclusive, que
“[...] hipóteses desse tipo constituem a condição necessária para a existência de uma
descrição semântica especificamente linguística das línguas naturais” Ducrot (1987,
p.14). Nessa perspectiva, o significado depende da identificação de um objeto no
mundo, o que, por sua vez, permite chegar a um valor de verdade da sentença.
Pela noção de verdade, para Ducrot (1987), perpassa a ideia de que não se pode
entender a língua fora dos liames que ela mantém com suas condições de produção e de
circulação. O contexto situacional da enunciação, os vazios, os interesses
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Componente1: descrição
semântica linguística
A’
Componente 2: retórico
Sentido de A no contexto X
2 Um tanto de prática
Fonte: http://rlv.zcache.com/chicago_2016_president_obama_tshirt-p235951156216521635yemq_400.jpg
No texto “Chicago 2016. Candidate city. Yes we can” (Chicago 2016. Cidade
candidata. Sim, nós podemos). O Locutor 1 é o site de divulgação, o Locutor 2 é pessoa
que está vestindo a camisa e o Enunciador é Barack Obama. Sobre o que está posto é
possível afirmar: Referência ao ano de 2016. Afirmação de que a cidade de Chicago é
candidata. Afirmação “sim, nós podemos” e a foto de um homem. Já os pressupostos: a)
Existe a eleição para alguma coisa em 2016 na qual a cidade de Chicago é candidata. b)
A afirmação “Sim, nós podemos”, leva a acreditar que alguns pensam que a resposta é
“não”, a cidade de Chicago não poderia ser a campeã na eleição. c) A imagem na
camisa remete ao presidente dos Estados Unidos, devido aos traços físicos. d) A
afirmação “Sim, nós podemos” colocada ao lado da imagem, faz pressupor que essa seja
uma afirmação do presidente e, e) A pessoa que está usando a camisa apóia a
candidatura da cidade de Chicago.
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parabeniza a cidade do Rio de Janeiro por mais essa vitória, a vitória nas eleições para
sediar as Olimpíadas de 2016.
Está Pressuposto que: a) Houve uma eleição para escolher uma cidade para ser sede
das Olimpíadas de 2016. b) O Rio de Janeiro foi a campeã e, por isso, recebe os
parabéns da operadora. b) A vitória da cidade está diretamente vinculada ao sucesso dos
Jogos Pan-americanos de 2007 e d) A cidade já teve outras vitórias, já que essa foi
“mais uma vitória”. Subentende-se que: a) A propaganda faz referência ao discurso de
posse do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já citado, em uma alusão à
outra candidata a sediar as Olimpíadas, Chicago e que b) Ao dizer que a vitória para
sediar as olimpíadas veio com o sucesso do PAN e que a Oi foi a operadora oficial do
PAN, a empresa se inclui na conquista do Rio de Janeiro, como um coadjuvante dessa
vitória.
O Sentido do falante (intenção): naturalmente é divulgar a vantagem de ser um
usuário dos serviços da operadora de telefonia. Já o Sentido da sentença (convenção)
seria a leitura linear do texto como uma propaganda de uma operadora de telefonia.
Fonte: http://arquibancadashow.wordpress.com/2009/10/04/charge-as-olimpiadas-no-rio-2016/
créééu...” Pode ser pressuposto: a) O homem na charge é o presidente Lula, que pode
ser identificado pelos traços fisionômicos. b) O interlocutor é o presidente americano
Barack Obama e c) A expressão “Yes, we créééu...”, leva-nos a pressupor que o Brasil
derrotou os Estados Unidos em alguma questão. Subentende-se que: a) A charge faz
referência à vitória do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, que
derrotou a cidade americana Chicago. b) A fala do presidente Lula faz referência ao
discurso de posse de Barack Obama, que afirmou “Yes, we can.” E, c) A charge faz
referência, ainda, ao funk carioca “Dança do Créu”, do Mc Créu.
O Sentido do falante (intenção): no caso do presidente Lula, é não só reafirmar a
vitória do Brasil para sediar as olimpíadas, mas também, ironicamente satirizar,
debochar da fala do presidente dos Estados Unidos, já que ele afirmava “podemos
tudo”, o que incluía sediar as olimpíadas de 2016. Convencionalmente trata-se apenas
de um texto humorístico, cujo intento é fazer rir.
Conclusão
Referências
MARI, H.; MENDES, P.H. Produção do sentido e leitura: gênero e intencionalidade. In:
Ensaio sobre a leitura 2. MARI, H.; WALTY, I.; FONSECA, M.N. (Org.). Belo
Horizonte: PUCMinas, 2007. (11 – 53).
MARQUES, M.H.D. Iniciação à semântica. 3. ed. Rio der Janeiro: Zahar, 1996.
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