Análise de Propagandas e Charges À Luz Da Semântica Da

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Universidade Estadual de Maringá – UEM

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350


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ANÁLISE DE PROPAGANDAS E CHARGES À LUZ DA SEMÂNTICA DA


ENUNCIAÇÃO

Maria de Lourdes Carvalho Guimarães 1 (Unimontes)

Introdução

A análise de propagandas e charges à luz da semântica da enunciação, aqui proposta,


objetiva mostrar que as unidades da linguagem não possuem significação autônoma em
relação à situação enunciativa. Isso implica dizer que a significação de uma dada
expressão é (re) construída a partir do significado linguístico enunciado, com fortes
implicações das convenções sociais e das intenções individuais de uso da língua,
dependentes do processo de inserção sócio-histórico-cultural dos indivíduos envolvidos.
Ancorados nos pressupostos teóricos da Semântica Argumentativa, analisamos
aspectos de charges e propagandas descrevendo os artifícios retóricos, propostos por
Ducrot (1987) como auxiliares no estabelecimento de sentido. A partir da leitura de
charges e propagandas, procuramos estabelecer as relações entre pressuposto, posto e
subentendido e a relação entre sentido do falante (intenção) e sentido da sentença
(convenção).
A motivação para esta proposta de trabalho foi o fato de observarmos que a crítica
inscrita nos textos por meio de sátira, da irreverência, da ironia, da zombaria, e de
outros recursos linguísticos, gráficos e visuais e, ainda, de aspectos dependentes do
contexto sócio-histórico, são aspectos que nem sempre são apreendidos pelo leitor.

1. Considerações iniciais

Em nosso cotidiano, somos constantemente solicitados a estabelecer significação seja


nos processos de conversação que estabelecemos em nossas atividades familiares e
profissionais, seja nas diversas atividades de leitura que realizamos.

1
. Doutoranda em Língua Portuguesa: Linguística do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC-MG.
Projeto Interinstitucional - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG e Universidade
Estadual de Montes Claros – Unimontes/MG. Órgão financiador: Fapemig. Orientador Professor Doutor
Paulo Henrique A. Mendes.
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Ao que parece, o processo de (re) construção de significação, em primeira instância,


se apresenta bastante simples, posto que nos “comunicamos” diariamente, sem maiores
empecilhos. Entretanto, ao empreendermos um estudo linguístico, ancorado em teorias
sobre a linguagem, somos levados a concluir que, muito embora pareça automático, o
processo de estabelecimento da significação nem sempre é tão fácil. Conforme afirma
Ducrot (1987), há situações de enunciação que extrapolam a simples constatação.
Sabe-se, por exemplo, que a estruturação composicional das charges e das
propagandas, textos que se estruturam, na maioria das vezes, pela linguagem verbal e
não-verbal, exige da função enunciativa leitor, a apreensão/construção de pressupostos e
subentendidos para que a significação seja produzida. Com base nos princípios da
Análise do Discurso (AD) a charge pode ser considerada uma trama tecida a partir de
inscrições históricas, sociais e ideológicas que reclamam novos significados. Entende-se
com isso que todo dizer é ideologicamente marcado e que toda interpretação é o vestígio
do possível e não uma sentença absoluta e única.
Para Nogueira (2003), no Brasil, o significado de charge está estreitamente ligado a
um acontecimento político que, com sua capacidade de sedução, tornou-se um
instrumento eficaz de persuasão do público leitor. Pêcheux (1990), a partir das
concepções da AD de linha francesa, parte do princípio de que, as charges podem ser
tomadas como práticas discursivas situadas no cosmo das relações entre o linguístico e
o histórico-social.
Assim, a charge pode ser considerada uma trama tecida a partir de inscrições
históricas, sociais e ideológicas que reclamam novos significados. Parte-se da ideia de
que todo dizer é ideologicamente marcado e que toda interpretação é o vestígio do
possível e não uma sentença absoluta e única, mesmo porque sempre é passível de
equívoco.

1. Um pouco de teoria

Ao tentarmos identificar um conceito de semântica, encontramos em Katz (1982, p.


43), que “A semântica é o estudo do significado linguístico. Interessa-se pelo que é
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expresso por sentenças e outros objetos linguísticos, não pelo arranjo de suas partes
sintáticas ou pela sua pronúncia”. Marques (1996, p.18), ao buscar em Katz (1982,
1972) argumentos que justifiquem a necessidade de um tratamento científico sobre a
noção de significado, afirma que,

[...] “a marginalização da semântica decorre da existência de propostas


teóricas diversas para o estudo do significado, que estas propostas
levam em conta fatos semânticos muito diferentes, sem características
comuns, e consideram a noção de significado irredutível a um
conceito ‘científico’.”.

Também é consenso que as questões relativas à semântica se apresentam de forma


desdobradas em vários planos. No parecer de Marques (1996, p.16), “Uma primeira
subdivisão, por exemplo, distinguiria questões do plano semântico-linguístico, num
sentido estrito, de questões semânticas, linguísticas num sentido lato, que se prendem
também a outras disciplinas, como por exemplo, a psicologia, a filosofia, a lógica etc.”.
Para a referida autora, no tocante ao plano linguístico estrito, tem-se ainda que os
estudos sobre o significado são distribuídos em três domínios básicos, a saber: domínio
da semântica lexical, domínio da semântica da sentença e domínio da semântica do
texto. Em consonância com a estruturação proposta por Ducrot (1987), a perspectiva de
abordagem sobre a significação é passível de ser inscrita a partir das seguintes
denominações: semântica formal, a semântica da enunciação ou argumentativa e a
semântica cognitiva. Cumpre ressaltar que, a despeito de o quadro conceitual ser
específico conforme cada abordagem, o objeto de estudo/fenômeno estudado figura
como sendo de mesmo estatuto. Ou seja, trata-se de uma similitude de natureza do
objeto, qual seja: ocorrências de enunciados em diversificadas situações. Desse modo,
levando em conta a especificidade de cada quadro teórico, observa-se que os conceitos e
os enfoques se diferenciam.
Para fins de fundamentação teórico-analítica do estudo que aqui se apresenta, será
considerado o arcabouço teórico da Semântica da Enunciação, também denominada
Semântica Argumentativa, conforme teorizações postuladas por O. Ducrot (1987).
Nessa medida, diferentemente da perspectiva formal, esse quadro teórico concebe que a
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linguagem não tem a função de falar sobre o mundo, mas a de convencer o interlocutor
sobre algo. Se a preocupação central da Semântica Formal é o valor de verdade dos
enunciados, para a Semântica Argumentativa, o foco a ser estabelecido em relação ao
enunciado é quanto à sua eficiência comunicativa.
Ora, se o que importa nos estudos semânticos é a compreensão sobre o
funcionamento da significação – nos termos de autor, trata-se de entender a “condição
necessária para o funcionamento de uma língua”, ressalta-se que necessário se faz
dedicar especial atenção à própria questão da leitura. 2
Essa atenção se justifica, pois o estudo sobre o funcionamento da significação se
pauta, de certa maneira, em decorrências que se manifestam do ato de ler.
De acordo com Mari e Mendes (2007, p. 11), a produção de sentidos é condição
necessária ao funcionamento de uma língua e “a leitura é uma estratégia possível para a
produção do sentido”. Nesse sentido, Mari e Mendes (2007, p. 11), afirmam:

Logo, a correlação não resulta apenas do fato de a leitura ser uma


estratégia de produção de sentido, mas também de ela ser a atividade
de um sujeito-falante que precisará mobilizar recursos (físicos,
mentais, cognitivos, linguísticos, sociais) para dar conta da
compreensão de um texto. Ler é, portanto, produzir sentido, mas numa
extensão em que talvez tivéssemos de qualificar um pouco mais nossa
atividade de leitura.

Os autores em questão alertam quanto à necessidade de uma maior qualificação da


atividade de leitura e estabelecem determinantes para que a leitura de fato produza
sentido, ao afirmarem que, associados aos procedimentos linguísticos fonéticos
(prosódicos), morfológicos (regras), sintáticos (relações sintagmáticas...), semânticos
(relações lexicais...e processos enunciativos), estão os processos extralinguísticos
históricos.

2
A abordagem sobre as questões relacionadas à atividade de leitura é mobilizada, neste momento da
discussão, pelo fato de se conceber essa atividade como a via possível de apreensão de certos aspectos da
significação. Assim, toma-se aqui, essa atividade como a possibilidade de se produzir sentido; inclusive,
como a instância deflagradora dos elementos constituintes do enunciado, tais como: posto, pressuposto,
subentendido, conforme processo de enunciação que se instaura entre destinador e destinatário em um
dado universo cultural.
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Sendo assim, a concepção de leitura aqui destacada não pressupõe apenas a


perspectiva da decodificação, pois corroborar estritamente essa perspectiva significaria
defender a existência de um (e apenas um) conteúdo semântico pronto, à espera do
leitor/decodificador. Tal concepção, na verdade, deve ser focada como um processo em
que a construção de sentidos está pautada na apropriação do dito explicitamente, bem
como nas relações semântico-argumentativas que possibilitam a recuperação do não-
dito. Isto é, essa concepção está orientada não só em recursos formais que a língua
disponibiliza na produção de diferentes efeitos de sentido, mas também em
condicionantes sócio-históricos constitutivos do leitor.
Em conformidade com Ducrot (1987), ao se estabelecer uma significação com o
auxílio de um enunciado sinônimo, buscado no dicionário, o que se tem,
verdadeiramente, é apenas “[...] a impressão de registrar um dado, de constatar um
fato”, Ducrot (1987, p. 13). É apenas uma forma de obter ocorrências possíveis em
diferentes situações de sua utilização. Vejamos a citação de Ducrot (1987, p.13) que
ancora essa afirmativa,

[...] à medida que compreendo uma língua, sou capaz de atribuir


significados hic et nunc. Mas, decidir qual é a significação do
enunciado, fora de suas ocorrências possíveis, implica ultrapassar da
experiência e da constatação, estabelecer uma hipótese – talvez
justificável, mas que, de qualquer forma precisa ser justificada.

O autor afirma que o fato de não poder justificar a hipótese relacionada à descrição
semântica, não significa que ela seja injustificável e, sendo assim, ela deve ser
formulada mesmo que não encontre apoio em evidências. Ele afirma, inclusive, que
“[...] hipóteses desse tipo constituem a condição necessária para a existência de uma
descrição semântica especificamente linguística das línguas naturais” Ducrot (1987,
p.14). Nessa perspectiva, o significado depende da identificação de um objeto no
mundo, o que, por sua vez, permite chegar a um valor de verdade da sentença.
Pela noção de verdade, para Ducrot (1987), perpassa a ideia de que não se pode
entender a língua fora dos liames que ela mantém com suas condições de produção e de
circulação. O contexto situacional da enunciação, os vazios, os interesses
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‘subterrâneos’, as ‘ideologias subjacentes’, são aspectos inerentes ao produtor/emissor e


ao receptor que devem, necessariamente, ser considerados no processo de reflexão sobre
a significação.
Isso implica entender que por meio da linguagem, realidades e significações (fora da
linguagem) são trazidas para o processo de significação. O significado, inclusive, varia
de acordo com os diferentes ângulos e com os variados saberes constitutivos de cada
emissor e de cada receptor, de modo que as práticas linguageiras deixam entrever
também particularidades no modo de ver o mundo. Nesse caso, o emissor é alguém que
tenta, consciente ou inconscientemente, construir as realidades organizadas. Já o
receptor é o agente ativo no processo de comunicação, a linguagem corresponde ao
canal complexo e o código, por ter uma virtualidade, precisa ser ativado.
Embora seja consenso que o estabelecimento de uma descrição semântica de uma
dada língua natural seja algo complexo, segundo Ducrot (1987), é preciso considerar
que a descrição deverá se orientar, a priori, pela “[...] descrição semântica linguística,
independentemente de qualquer contexto” Ducrot (1987, p.15), o que corresponde
pensar no estabelecimento do significado linguístico semântico-denotativo.
Ainda para Ducrot, em segundo lugar, nesse processo de descrição, é necessário que
sejam considerados conhecimentos de outras ciências tais como: legais, psicológicos,
sociológicos, lógicos, figuras de estilo, condições de uso etc. É essa descrição, via
componente retórico, que possibilita chegar a uma interpretação, a um determinado
significado que é próprio de uma situação enunciativa efetivamente pertencente ao
contexto de enunciação. Ducrot (1987, p. 6), firma que,

[...] as circunstâncias de enunciação são mobilizadas para explicar o


sentido real de uma ocorrência particular de um enunciado, somente
depois que uma significação tenha sido atribuída ao próprio
enunciado, independentemente de qualquer recurso ao contexto.

Para a descrição semântica nesses moldes, pressupõe-se que o componente


linguístico, a ser primeiramente considerado, deve merecer uma sistematização em
termos de regras gerais inerentes à língua (flexão nominal e verbal, acentuação,
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pontuação, regência, etc.). E, para as circunstâncias de enunciação, denominadas por


Ducrot (1987) como componente retórico, as justificativas para certos aspectos dessa
descrição deverão ser validadas pelas demais ciências que as ancorarem. Trata-se de
aspectos inscritos nas variadas condições de aplicação situacional e contextual, do
produtor e do receptor da mensagem, bem como nas informações referentes às
diferentes utilizações da linguagem pela comunidade. Isso equivale ao que Ducrot
(1987, p. 16), ilustrou com o seguinte esquema:

Enunciado A Circunstância de produção X

Componente1: descrição
semântica linguística

A’

Componente 2: retórico

Sentido de A no contexto X

Fonte: DUCROT, O. Pressupostos e subentendidos: a hipótese de uma semântica linguística. In:


O dizer e o dito (1987, p. 16).

Levando-se em conta a estruturação desse esquema, nota-se que, conforme propôs


Ducrot (1987), é possível explicar, de uma forma mais natural, certos efeitos de sentido
produzidos a partir dos processos de leitura. É importante levar em consideração que,
para o autor, o sujeito não é a fonte do sentido. O que lhe interessa é a noção de locutor,
que é o ser do discurso, alguém a quem se deve imputar a responsabilidade do
enunciado. Ele faz, inclusive, várias distinções entre o que chama de ‘cadeias
enunciativas’. A primeira distinção é entre ‘locutor’ – ou enunciador (1) aquele que
profere o discurso – e o ‘sujeito falante’ – enunciador (2), sendo que esses sujeitos
podem coincidir ou não.
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Para o autor, a enunciação é o ato de colocar, em cena, diferentes instâncias


enunciativas, as quais podem ser tomadas como ‘seres de linguagem’, e, é o
componente linguístico que permite a inscrição de indícios da enunciação na própria via
do enunciado, dado o momento e as circunstâncias específicas.
Com base neste pensamento é que podemos examinar a questão do pressuposto na
construção dos discursos, mais notadamente na estruturação que compõe certos gêneros
textuais, como, por exemplo, a charge e a propaganda. Os pressupostos vêm satisfazer
as exigências discursivas, além daquelas que já são dadas pelo posto.
O posto e o pressuposto, neste caso, são as ferramentas utilizadas pelos locutores
para resgatar os referentes comuns entre os interlocutores. São contribuições próprias do
enunciado e decorrem, necessariamente, de algum elemento linguístico colocado na
frase sem considerar as condições de ocorrência.
Já o subentendido, diz respeito ao papel enunciativo do ouvinte. Esse componente
retórico do enunciado permite que o falante se esconda atrás do sentido literal das
palavras e das imagens e negue que tenha dito o que o ouvinte depreendeu de suas
palavras e de suas imagens. Ducrot (1987, p. 20) afirma que:

Se o posto é o que afirmo, enquanto locutor, se o subentendido é o que


deixo meu ouvinte concluir, o pressuposto é o que apresento como
pertencendo ao domínio comum das duas personagens do diálogo,
como objeto de uma cumplicidade fundamental que liga entre si os
participantes do ato de comunicação.

Assim, o subentendido, segundo Ducrot (1987, p. 25):

[...] resulta de uma reflexão do destinatário sobre as circunstâncias de


enunciação da mensagem e deve ser captado, através da descrição
linguística, ao final de um processo totalmente diferente, que leve em
conta, ao mesmo tempo, o sentido do enunciado e suas condições de
ocorrência e lhes aplique leis lógicas e psicológicas gerais.

Em face ao exposto, para fins analíticos, consideremos que a leitura de charges e de


propagandas exige do leitor a construção de uma pluralidade de sentidos; o que implica
a perspectiva de que apenas o nível de descrição linguística, por si só, não é suficiente
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para desencadear o efeito de humor, a compreensão ou o sentido pretendido em tais


modalidades de gêneros textuais.
Há que se levar em conta as contingências contextuais e as sócio-culturais de
produção e de inserção do enunciador e do leitor, bem como o contexto de produção, de
modo a afirmar que os artifícios retóricos podem ser encontrados também na linguagem
não-verbal e na linguagem verbal e não verbal ao mesmo tempo (caso de propagandas e
charges).

2 Um tanto de prática

Fonte: http://rlv.zcache.com/chicago_2016_president_obama_tshirt-p235951156216521635yemq_400.jpg

No texto “Chicago 2016. Candidate city. Yes we can” (Chicago 2016. Cidade
candidata. Sim, nós podemos). O Locutor 1 é o site de divulgação, o Locutor 2 é pessoa
que está vestindo a camisa e o Enunciador é Barack Obama. Sobre o que está posto é
possível afirmar: Referência ao ano de 2016. Afirmação de que a cidade de Chicago é
candidata. Afirmação “sim, nós podemos” e a foto de um homem. Já os pressupostos: a)
Existe a eleição para alguma coisa em 2016 na qual a cidade de Chicago é candidata. b)
A afirmação “Sim, nós podemos”, leva a acreditar que alguns pensam que a resposta é
“não”, a cidade de Chicago não poderia ser a campeã na eleição. c) A imagem na
camisa remete ao presidente dos Estados Unidos, devido aos traços físicos. d) A
afirmação “Sim, nós podemos” colocada ao lado da imagem, faz pressupor que essa seja
uma afirmação do presidente e, e) A pessoa que está usando a camisa apóia a
candidatura da cidade de Chicago.
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De modo subentendido estão as informações: a) Chicago é candidata a sediar as


Olimpíadas de 2016 e b) A camisa faz uma alusão ao discurso de posse do atual
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que, ao citar vários desalentos e
problemas enfrentados pela América, usou a expressão “Yes, we can” (Sim, nós
podemos) para enfatizar que para eles tudo é possível.
Quanto ao Sentido do falante (intenção): Fazer acreditar que a cidade de Chicago é
quem deve sediar as olimpíadas de 2026 porque, segundo o presidente Barack Obama,
“nós” os Estados Unidos “podemos tudo”. Discurso autoritário com intuito de
convencer, possivelmente os membros da equipe internacional que votariam na eleição
para escolha da cidade sede das olimpíadas de 2016. Numa leitura de modo
convencional passaria despercebido ao leitor o sentido de autoritarismo impositivo e de
poder absoluto enunciado.

Revista Veja, Edição 2133, 07 de outubro de 2009. Disponível em http://www.veja.com.br/acervodigital

Nessa propaganda, o Locutor é a Revista Veja. O Enunciador 1 é a Operadora de


Telefonia Oi. O Enunciador 2 é Rio de Janeiro. Está Posto que: a) Ser sede das
Olimpíadas de 2016 era uma dúvida, marcada pela interrogação. b) Afirmação de que a
o PAN de 2007 foi um sucesso. c) Afirmação de que esse sucesso ajudou ao Rio dizer:
“Eu posso”. d) A Oi foi a operadora oficial do PAN no Rio de Janeiro e, d) A operadora
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parabeniza a cidade do Rio de Janeiro por mais essa vitória, a vitória nas eleições para
sediar as Olimpíadas de 2016.
Está Pressuposto que: a) Houve uma eleição para escolher uma cidade para ser sede
das Olimpíadas de 2016. b) O Rio de Janeiro foi a campeã e, por isso, recebe os
parabéns da operadora. b) A vitória da cidade está diretamente vinculada ao sucesso dos
Jogos Pan-americanos de 2007 e d) A cidade já teve outras vitórias, já que essa foi
“mais uma vitória”. Subentende-se que: a) A propaganda faz referência ao discurso de
posse do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já citado, em uma alusão à
outra candidata a sediar as Olimpíadas, Chicago e que b) Ao dizer que a vitória para
sediar as olimpíadas veio com o sucesso do PAN e que a Oi foi a operadora oficial do
PAN, a empresa se inclui na conquista do Rio de Janeiro, como um coadjuvante dessa
vitória.
O Sentido do falante (intenção): naturalmente é divulgar a vantagem de ser um
usuário dos serviços da operadora de telefonia. Já o Sentido da sentença (convenção)
seria a leitura linear do texto como uma propaganda de uma operadora de telefonia.

Fonte: http://arquibancadashow.wordpress.com/2009/10/04/charge-as-olimpiadas-no-rio-2016/

Nessa charge, também alusiva ás olimpíadas de 2016, o Locutor é o site


http://arquibancadashow.wordpress.com. O Enunciador é o cartunista Frank e, o
Enunciador 2, é o presidente Lula. Está posto que: a) Um homem está ao telefone com
Obama e b) Ao perceber que seu interlocutor está na linha, o homem afirma: “Yes, we
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créééu...” Pode ser pressuposto: a) O homem na charge é o presidente Lula, que pode
ser identificado pelos traços fisionômicos. b) O interlocutor é o presidente americano
Barack Obama e c) A expressão “Yes, we créééu...”, leva-nos a pressupor que o Brasil
derrotou os Estados Unidos em alguma questão. Subentende-se que: a) A charge faz
referência à vitória do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, que
derrotou a cidade americana Chicago. b) A fala do presidente Lula faz referência ao
discurso de posse de Barack Obama, que afirmou “Yes, we can.” E, c) A charge faz
referência, ainda, ao funk carioca “Dança do Créu”, do Mc Créu.
O Sentido do falante (intenção): no caso do presidente Lula, é não só reafirmar a
vitória do Brasil para sediar as olimpíadas, mas também, ironicamente satirizar,
debochar da fala do presidente dos Estados Unidos, já que ele afirmava “podemos
tudo”, o que incluía sediar as olimpíadas de 2016. Convencionalmente trata-se apenas
de um texto humorístico, cujo intento é fazer rir.

Conclusão

É possível afirmar que o estabelecimento de sentido, no processo de leitura de


charges e de propagandas, se pauta no entendimento de que ambos os gêneros se
constituem a partir de um repertório elaborado com base em práticas sócio-culturais
imediatas, referindo-se sempre ao modo como um determinado seguimento vê o outro.
No caso da charge, o humor se dá pelo exagero dos traços e pela síntese dos fatos,
mostrando além da imagem do alvo que pretende atingir, uma crítica à realidade
política. Apresenta julgamentos e compreensões que influenciam na opinião do leitor,
estabelecendo uma cumplicidade entre autor e leitor num mesmo contexto social.
As charges produzidas em relação à política brasileira, por exemplo, reproduzem a
imagem de sujeitos reais por meio de caricaturas ou de personagens. Registram o
cotidiano e as principais características do momento histórico, muitas vezes,
funcionando como porta-voz da sociedade e, quase sempre, permitindo a construção de
um ponto de vista crítico.
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É um recurso de protesto e de crítica ao sistema político e administrativo vigente,


bem como à política social, a pessoas simples e famosas, a fatos e acontecimentos
sociais. Nesse sentido, serve, ao mesmo tempo, para afirmar e para subverter, de modo
a explorar o riso que resulta da sátira, do escárnio, da ironia e do deboche usados como
recursos para criar vínculo de persuasão.
Para fins práticos, conclui-se que a charge e a propaganda pertencem a um gênero
que deve ser amplamente explorado nas aulas de Leitura e Produção de Textos com a
finalidade de ampliar a competência linguística e discursiva dos estudantes. São textos
que pressupõe não ignorar o acesso a usos de linguagens mais formais e convencionais,
tendo em vista a importância que o domínio da palavra pública tem no exercício da
cidadania, conforme afirmam os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua
Portuguesa. Entretanto, vale ressaltar que não basta promover, em sala de aula, a leitura
convencional no sentido de decodificar mensagens. É necessário orientar as atividades
de leitura contemplando os condicionantes sócio-históricos constitutivos do leitor.

Referências

BRESSANIN, A. Gênero charge na sala de aula: o sabor do texto - Universidade


Federal de Mato Grosso

DUCROT, O. O dizer e o dito. Rev. Téc. Trad. GUIMARÃES, E. Campinas, SP:


Pontes, 1987.

___________. Princípios de semântica linguística. São Paulo: Cultrix, 1972.

KATZ, J.J. O escopo da semântica. In: Fundamentos Metodológicos da Linguística,


Vol. III: Semântica (org.). DASCAL, M. Campinas, SP: Unicamp, 1982.

MARCUSCHI. L.A. Aspectos linguísticos, sociais e cognitivos na produção de sentido.


http://www.gelne.ufc.br/revista_ano1_no1_01.pdf. Acessado em 17/11/2009.

MARI, H.; MENDES, P.H. Produção do sentido e leitura: gênero e intencionalidade. In:
Ensaio sobre a leitura 2. MARI, H.; WALTY, I.; FONSECA, M.N. (Org.). Belo
Horizonte: PUCMinas, 2007. (11 – 53).

MARQUES, M.H.D. Iniciação à semântica. 3. ed. Rio der Janeiro: Zahar, 1996.
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MARINGONI, G. Humor da charge política no jornal. Comunicação & Educação. São


Paulo: Moderna, 1996.

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