Sanara Luiz
Sanara Luiz
Sanara Luiz
SANARA LUIZ1
ANAMÉLIA FONTANA VALENTIM2
Resumo: Com o passar dos anos o jeans evoluiu e o que era usado somente para o trabalho
pesado, tornou-se um dos itens indispensáveis do vestuário contemporâneo. Esta pesquisa, tem
como objeto de estudo a calça jeans, o objetivo principal é comparar dois processos de lavanderia
em jeans aplicados a este mesmo produto, estimando custos e recursos utilizados em cada
processo. Nomeou-se os processos como "Tradicional" e "Eco", o primeiro compreendendo
processos já utilizados há algum tempo em lavanderias industriais e o segundo mais atual,
envolvendo economia de recursos e ou mudança nos processos. Desta forma, foi necessário
fundamentar o estudo contando brevemente a história do jeans, desde o seu surgimento aos dias
atuais. Além disso, considerou-se importante explorar o contexto que envolve o surgimento das
lavanderias em jeans, e os processos realizados por este setor da indústria de moda. Com a
fundamentação teórica e realização do comparativo com a descrição dos processos de lavanderia
utilizados no produto, a pesquisa aborda o ciclo de vida dos produtos e a sustentabilidade na
moda, apresentando escolhas aplicáveis ao jeans e que contribuem para a preservação do meio
ambiente.
Palavras-chave: Jeans; Design de Lavanderia; Sustentabilidade;
Abstract: Over the years jeans have evolved and what was only used for heavy work has become
one of the indispensable items of contemporary clothing. The main objective of this research,
which is to study jeans, is to compare two laundry processes in jeans applied to this same product,
estimating costs and resources used in each process. He named the processes as "Traditional" and
"Eco", the first comprising processes already used for some time in industrial laundries and the
second most current, involving resource savings and or change in processes. In this way, it was
necessary to base the study briefly telling the history of jeans, from its emergence to the present
day. In addition, it was considered important to explore the context that involves the emergence of
laundries in jeans, and the processes carried out by this sector of the fashion industry. With the
theoretical basis and the comparison with the description of the laundry processes used in the
1. Introdução
O jeans ficou conhecido a partir do século XIX quando Levi Strauss passou a utilizar um
tecido grosso que tinha em sua bagagem para confeccionar roupas para que os garimpeiros
pudessem trabalhar nas minas americanas, pois eles precisavam de um tecido forte e resistente. Foi
aí que Strauss utilizando o molde de uma calça de um marinheiro genovês criou a primeira calça
jeans em 1850.
O denim passou a ser um tecido conhecido mundialmente, com o tempo deixou de ser
relacionado apenas a trabalhadores e passou a ser usado pelos grandes astros do cinema e da
música, provocando umas das principais revoluções no modo de se vestir, como não sofreu muitas
modificações, logo tornou-se um clássico. Mesmo com ressalvas, jovens no mundo todo usavam
jeans e impulsionaram sua associação também ao lazer, manifestando socialmente seu potencial
múltiplo.
Com a aceitação e o crescimento do jeans, as indústrias têxteis começaram a desenvolver
novos processos de beneficiamento para o jeans. Surgem assim as lavanderias industriais, que são
responsáveis pelas inúmeras lavagens, dando ao produto características que aumentam seu valor
agregado. O jeans tornou-se um verdadeiro ícone de moda, um item indispensável no guarda-
roupa de muitas pessoas.
Partindo deste entendimento inicial, elencou-se então a calça jeans como objeto de estudo
desta pesquisa, que tem como objetivo principal comparar dois processos de lavanderia aplicados
a um mesmo produto. Os dados comparativos obtidos foram utilizados para estimar custos e
recursos de cada processo, além de demonstrar visualmente o resultado dos processos nas duas
calças confeccionadas especialmente para esta análise. Os processos foram chamados de
"Tradicional" e "Eco", o primeiro com processos já utilizados há algum tempo em lavanderias
industriais e o segundo mais atual, envolvendo economia de recursos e ou mudança nos
processos.
Como os processos aplicados ao jeans atualmente, independentemente de serem
considerados tradicionais ou ecológicos, visam tornar a aparência do jeans mais próxima da
aparência que ganhava com o uso em sua origem, considerou-se necessário abordar também o
caminho percorrido pela calça jeans na história e que trouxeram significados materiais e simbólicos
a esta peça tão popular e clássica do vestuário. A pesquisa buscou esclarecer a diferença entre
termos muitas vezes utilizados como sinônimo, como jeans, denim e índigo. A base teórica
principal sobre jeans é da autora Lu Catoira (2006; 2009).
2. História do jeans
O jeans passou por diversas mudanças ao longo de sua história, sua trajetória é ampla,
tanto no sentido material, como simbólico. Para Catoira (2006. p.83), “O jeans, na verdade, já
começou sua trajetória como um elemento globalizado: é um tecido francês, as primeiras roupas
foram italianas, mas o mérito é do alemão Levi Strauss, e o produto virou ‘febre’ no mundo todo”.
Não somente com o intuito de proteção, quando se relaciona ao trabalho pesado, o jeans começa
a ser usado como um símbolo social, jovens começaram a usá-lo como forma de expressão de
contracultura e o item passou a destacar-se como um elemento que transcende a moda.
Segundo Catoira (2006) Levi strauss chegou nos Estados Unidos em 1845 e tinha na sua
bagagem um tecido muito resistente, então decidiu oferecer alguns pedaços deste tecido para que
assim os garimpeiros pudessem construir tendas de coberturas ou as coberturas dos vagões de
minérios. Mas o que os garimpeiros precisavam na verdade eram de roupas com bastante
resistência às atividades pesadas, lama e terra que os mineradores enfrentavam no dia a dia.
Strauss decidiu então confeccionar algumas calças com este tecido reforçado, ele usou como
molde a calça de um marinheiro genovês e criou um modelo próprio, como já mencionado nascia
em 1850 o primeiro jeans.
Strauss no início produzia as calças para os garimpeiros, mas, logo em seguida os cowboys
começaram a usá-las pois o tecido era mais resistente e os protegia na lida com o gado. O jeans
estava longe de ser um produto com bom caimento e bom acabamento, pois era um tecido
produzido com o fio 100% algodão, com um processo de tecimento plano que consiste em 2 fios,
com trama de algodão cru e urdume, tingido com corante índigo.
Ainda conforme Catoira (2006) a origem do nome denim vem da junção de de+nim, isso
porque em 1853 o tecido francês era conhecido como “ toile de Nimes” e fabricado na cidade de
Nimes. A expressão americana acabou deixando o denim conhecido no mundo todo. Porém, desde
a idade média o tecido já era utilizado para fabricação de velas de barcos e até mesmo para as
roupas dos marinheiros de Gênova, cidade que em francês significa Gênes, o que dá origem a
palavra jeans.
Segundo Fabianis, Ferreti e Rocca (2014) Jacob Davis, alfaiate que produzia calças para Levi
Strauss, ao confeccionar teve a ideia de acrescentar pequenos metais nos bolsos para evitar que
rasgassem, criando assim os rebites. Mas, Jacob não tinha os 68 dólares necessários para poder
patentear este processo e então ofereceu uma sociedade a Levi Strauss. Levi Strauss e Jacob Davis
em 1873 receberam a patente 139.121 que nada mais era que a concessão para aplicar rebites de
cobre nas calças de algodão cru, reforçando assim partes da calça utilizada pelos trabalhadores,
especialmente bolsos.
Catoira (2009) diz que um dos primeiros concorrentes de Levi Strauss foi Henry David Lee,
na época ele era um fabricante de enlatados que teve a ideia de criar um macacão em denim para
seus funcionários conhecido como Lee Bib Overall. Em 1926 Lee iniciou sua fábrica de roupas e foi
o primeiro a utilizar o zíper de metal nas peças em denim.
Depois de conhecido o jeans foi cada vez mais conquistando espaço e aos poucos começa
a fazer parte do dia a dia de outros profissionais. “O jeans foi, através dos tempos, conquistando
novos públicos. Por ser um tecido barato e resistente, ele foi usado por mineiros do gold rush3,
lenhadores, marinheiros, escravos e trabalhadores do campo ainda no século XIX ” (CATOIRA, 2009,
P.70). Fabianis, Ferreti e Rocca (2014) afirmam que as calças jeans foram compradas pela marinha
dos Estados Unidos para os marinheiros usarem na Segunda Guerra Mundial, aumentando assim a
clientela. Décadas depois outra marca surge e começa a fabricar o jeans, a Wrangler. Com o
sucesso deste item de vestuário, estas marcas surgidas posteriormente à Levi Strauss não
3Febre do ouro ou corrida do ouro designa um período de migração súbita e em massa de trabalhadores
para áreas onde se fez alguma descoberta espetacular de quantidades comerciais de ouro (FEBRE... 2016).
prejudicaram seu negócio pela concorrência, pois o crescimento e a busca pelo jeans estavam cada
vez maiores.
Segundo Fabianis, Ferreti e Rocca (2014) Levi Strauss já não fabricava mais as peças em
denim somente para os garimpeiros, e então começou a fabricação em escala mundial vendendo
as peças por US$1,25 e logo tornou-se milionário. O jeans, que nasceu masculino e rústico, tornou-
se em 1934 uma peça feminina com modelagem especial, deste modo podendo ser usada por
ambos os sexos, vestindo a juventude e ajudando nas revoluções seja sexual, social ou dentro da
própria indústria têxtil.
De uniforme para trabalho à roupa de lazer, o jeans levou um certo tempo para agradar a
todos. Pezzolo (2003) afirma que a introdução da calça jeans ao vestuário se dá a partir dos anos
50 quando passamos a vê-lo em grandes astros do cinema como Marlon Brando, no filme o
selvagem de 1953, James Dean em Juventude transviada de 1955 e da música, como Elvis Presley.
As calças usadas com a bainha virada facilitavam os passos de dança frenéticos da época, o que
acabou conquistando os jovens. O jeans acaba tornando-se uma peça verdadeiramente unissex.
Como roupa de trabalho o jeans conquistou adeptos facilmente, porém, como roupa de lazer nem
sempre alcançou o seu lugar no mundo de forma simples ou fácil. Segundo Catoira (2006) quem
usava o jeans nos anos 60 acabava sendo barrado em restaurantes, colégios, salões de festas e até
mesmo em igrejas, isso se dá pelo fato de o jeans ser usado também em protestos e considerado
como uma forma de rebeldia dos jovens. É importante acrescentar que a alta-costura ainda era a
fonte de referência de moda, e como era conservadora, não agradava a todos jovens.
O imaginário juvenil daqueles anos determinou a indiferença em relação ao
vestuário de haute couture, identificado como símbolo do que era velho.
Com sua grande tradição de requinte, como seus modelos reservados a
mulheres adultas e bem de vida, essa instituição foi desacreditada pela nova
exigência do individualismo moderno: parecer jovem. (CALANCA, 2008, p.
206).
Catoira (2009) diz que na metade dos anos 60 a música foi o centro das atenções, deixando
para trás os livros e surge assim bandas como Rolling Stones e Beatles, a autora se refere ao
período como uma revolução psicodélica. Após essa época a invasão do jeans na Europa foi
extremamente rápida, assim como em todo o mundo. Nos anos 60 os hippies surgem com o seu
jeans desbotado e customizado pregando a paz eo amor em um movimento politizado e
expressivo, com músicas na época bem ao estilo Jimi Hendrix. Os hippies compravam os uniformes
que eram utilizados pelos militares em brechós e acabavam customizando eles com flores,
estampas psicodélicas, este comportamento influenciou grande parte do mundo. O jeans amplia
seu público e a calça desbotada finalmente aparece na passarela em um desfile de moda da Calvin
Klein na década de 70, causando indignação nas pessoas mais conservadoras, para a moda este foi
um momento marcante de sua história.
Já nos anos 80 segundo Catoira (200) a calça jeans surge em um estilo mais break4 que com
Michael Jackson tornou-se um estilo de dançar. É tempo de jeans com brilho e sem lavagens,
somente o denim na cor índigo, surge também o fio de elastano, que incorporado ao algodão
deixa o jeans com conforto e silhuetas mais marcadas.
Desde então o jeans não foi mais o mesmo, novos processos começaram a ser usados para
que o jeans pudesse chegar em vários tons, e tipos de lavagens, pedras pomes começaram a ser
usadas para desgastar o jeans dando assim um efeito de desbotamento das peças. Década após
década o jeans foi mudando, mas podemos perceber que esses processos de lavanderia quase
sempre remetem ao jeans em seu surgimento original, com desgastes e desbotamento causados
pelo uso do jeans em trabalhos pesados. O comparativo que o estudo apresenta adiante
demonstra como outros processos mais avançados vêm sendo incorporados às lavações e
permitem atualizações desta peça clássica.
4Breakdance (também conhecido como breaking ou b – boying em alguns lugares) é um estilo de dança de
rua, parte da cultura do Hip-Hop criada por afro-americanos e latinos na década de 1970 em Nova Iorque,
Estados Unidos, normalmente dançada ao som do Hip-Hop ou de Breakbeat (ESTILOS, 2019).
níquel que servia para guardar as pepitas de ouro encontradas nas minas. Segundo Oliveira (2008,
p.23) “Jeans não é somente um tecido, mas sim um conceito de roupa, um estilo, que tem uma
enorme variação de tipos de tecido e formas”. O nome do tecido utilizado na confecção do jeans é
o denim blue índigo.
Originalmente esse tecido pesava 14 oz 5 ou até mais, por se tratar de um tecido bem
pesado e resistente com o passar do tempo foram produzidos em outras gramaturas para poder
atender um número maior de consumidores.
O tecido Denim índigo blue tem como principal característica seu princípio
de fixação do corante na fibra, que é feita através de um processo de
redução do tamanho da molécula do corante através de alcalinidade e
oxidação desse corante por meio do oxigênio (exposição ao ar) que faz as
moléculas se fixarem na fibra fisicamente, ou seja, superficialmente, o que
possibilita o envelhecimento do tecido por fricção, ou ação mecânica
(OLIVEIRA, 2008, p. 24).
Índigo é o corante utilizado para o tingimento do denim, conforme Catoira (2006, p.83) este
corante é extraído das plantas orientais Indigofera e Isati tinctoris, e encontra-se registrado na
alfândega de Gênova desde 1140. O corante sintético foi colocado no mercado pela Basf, em 1897.
A versão sintética tem um valor muito mais baixo que o natural pois o corante natural dependia da
maceração e fermentação das plantas, sendo usada a urina humana ou animal para a fermentação,
ficando vários dias fermentando sob o sol e o calor do tempo até transformar-se em uma pasta e
depois pó ou barra de pigmento.
Na década de 60 logo após o surgimento do denim novos filamentos foram inseridos,
dando assim maior maleabilidade e conforto, esses filamentos são conhecidos como poliéster e
elastano, que ao ser inserido junto ao algodão permitem novas formas e aplicações para o tecido,
conferindo a peça produzida melhor acabamento e maior valor agregado.
Uma peça em denim antes de chegar ao consumidor final precisa passar por vários
processos como: desenvolvimento, modelagem, corte, costura, lavanderia, passadoria e
acabamento, aí sim ele estará pronto para a venda. As lavanderias industriais são responsáveis pelo
beneficiamento do jeans, conferindo o aspecto visual desejado e o toque de maciez no produto
através de processos, abrasivos, corrosivos, rasgos e tingimentos consegue-se deixar a peça com o
mesmo aspecto obtido antigamente através do uso por mineradores nos trabalhos pesados.
Ao longo da história o denim se caracterizou como um tecido de grande durabilidade e
popularidade, por ser um tecido de fácil lavagem, resistente e utilitário, sendo assim, pode ser
considerado um nivelador social. Como peça de vestuário conseguiu sobreviver a diversas
mudanças sociais ou estéticas e vem atravessando gerações, segundo Catoira (2006) é o material
mais manejado pela indústria têxtil nos últimos 150 anos.
5“Onças ou oz é a medida de peso inglesa, que equivale a 28,34 gramas e quando dizemos que um tecido
tem 12 oz, queremos dizer que um metro quadrado de tecido pesa 12 oz ou seja 28,34x12 que é igual
340,08 gramas por metro quadrado de tecido” (OLIVEIRA, 2008).
4. Sustentabilidade na moda: o caso do jeans
5. Metodologia
Esta pesquisa, de caráter multidisciplinar, envolve áreas diferentes do conhecimento em
busca de um objetivo final. Foi realizado um estudo de caso para considerar o resultado de dois
processos diferentes de lavanderia aplicados a um mesmo de produto de moda.
Segundo Yin (2005) o estudo de caso pode ser tratado como importante estratégia
metodológica para a pesquisa em ciências humanas, pois permite ao investigador um
aprofundamento em relação ao fenômeno estudado, revelando nuances difíceis de serem
enxergadas “a olho nu”. Sendo assim a pesquisa é de natureza aplicada e experimental. O estudo é
qualitativo pois se dá por meio de investigação a partir de observações extraídas de pessoas,
lugares ou processos, segundo Godoy (1995) os estudos denominados qualitativos têm como
preocupação fundamental o estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural.
7Abordagem holística para a questão dos produtos químicos perigosos utilizados nos processos têxteis
(ZDHC, 2019).
8Empresa de inspeção que ajudam a reduzir riscos, a controlar a qualidade e quantidade e a cumprir todos
os requisitos regulamentares em diferentes regiões e mercados (SGS, 2019).
9O Portal Ecoera é o resultado de um trabalho conjunto, uma força tarefa que envolveu empresários,
profissionais liberais, artesãos, designers, jornalistas, e participantes da sociedade civil, todos movidos pelo
mesmo propósito: fazer diferença na sociedade e no meio ambiente. Nossos focos são os setores de moda,
beleza, design e gastronomia, e estamos embasados nos quatro pilares da sustentabilidade: ambiental,
social, cultural e econômico e nos orientamos pelos 17 Objetivos para O Desenvolvimento Sustentável (ODS)
da ONU (PORTAL... 2018).
Durante o estudo foram coletados dados e cada processo de beneficiamento do jeans foi
analisado, levando em consideração os produtos utilizados, tempo e quantidade água gastos em
cada tipo de lavação. Visualmente também foram avaliadas características esperadas em um jeans
de qualidade, como contraste entre cores, marcação de costuras e valorização dos aspectos
exclusivos de cada tecido. Estas características visuais são geralmente descritas nas informações
que fornecedor de tecido oferece ao cliente.
O estudo contextualizou a história do jeans desde o seu surgimento em 1850, os processos
de lavanderia e a sustentabilidade na moda relacionada ao jeans com uma pesquisa bibliográfica
feita através de livros e artigos periódicos publicados. Informações próprias dos produtos citados
na pesquisa e utilizados no desenvolvimento das peças foram extraídos dos manuais de cada
fornecedor. A seguir apresenta-se as etapas e os dados coletados no estudo de caso que detalhou
o processo de desenvolvimento das duas peças comparadas.
10Monóxido de carbono (CO); Óxidos de nitrogênio (NOx); Dióxido de enxofre (SO2) (KAWAS, 2014).
11Enzimas são moléculas orgânicas de natureza proteica e agem nas reações químicas das células como
catalisadoras, ou seja, aceleram a velocidade dos processos sem alterá-los. Geralmente são os catalisadores
mais eficazes, por sua alta especificidade. Sua estrutura quaternária é quem determinará sua função, a que
substrato ela se acoplará para acelerar determinada reação (COSTA, 2019).
dessa forma, não existe uma mesma sequência de processos a serem aplicados, tudo depende do
objetivo final.
Normalmente os processos industriais de lavanderias em jeans são divididos quanto às suas
características, físicas ou químicas. Os processos físicos envolvem atrito e manipulação, como os
puídos, lixas, jatos de resina, aplicação do permanganato com pistolas de ar comprimido, aplicação
de tags, aplicação de pigmentos. Nos processos químicos é onde acontecem todas as etapas que
utilizam agentes químicos, por banhos de imersão e líquidos em temperatura elevada. É a
combinação destes processos químicos e físicos que confere ao jeans o aspecto desejado, há ainda
processos que podem ser considerados químicos e físicos.
Segundo Oliveira (2008) as lavanderias de jeans nascem no início dos anos 80 após a
produção do denim em larga escala. As lavanderias em jeans iniciaram com a aplicação dos
envelhecimentos e os desbotamentos, feitas a partir da aplicação do permanganato de potássio
que é um agente oxidante e ao entrar em contato com a peça acaba corroendo a cor do índigo
causando um efeito esbranquiçado. Após a aplicação do permanganato a peça é mergulhada em
solução responsável pela neutralização, revelando o efeito clareador do permanganato de
potássio. Outro agente clareador também utilizado é o hipoclorito de sódio e este por sua vez
também necessita de uma neutralização no final do seu processo.
Todos os processos de lavanderia e acabamento de jeans vão ao encontro
de possível aspecto que pudessem apresentar as calças usadas pelos
caubóis e mineiros da época de LEVI STRAUSS. Isso é comprovado pela
eternização de alguns processos que passaram a fazer parte do jeans, como
os envelhecimentos, os efeitos de usados e os bigodes (OLIVEIRA, 2008,
p.25).
Atualmente grande parte das lavagens em jeans remetem-se às peças que eram usadas
pelos trabalhadores e obtinham o processo de desbotamento em função do próprio uso, na
atualidade consegue-se obter esses resultados através de processos físicos e químicos em
lavanderia industriais, alguns já mencionados.
Outra forma de clareamento e envelhecimento de peças que ficou conhecido como Stone
Washed é feita com o uso de pedras pomes colocadas dentro das lavadoras e que ao entrar em
atrito com a peça em denim provocam o desgaste do índigo. Esse processo físico pode ser
chamado também de Super Stone, Destroyed, os nomes variam de acordo com a sua intensidade,
que está relacionada principalmente ao tempo de máquina com as pedras. Os produtos químicos
podem ser inseridos junto a essas pedras para que se reduza o tempo de máquina e assim o custo
do processo. Existe também o clareamento localizado, obtido nas peças com a aplicação de
permanganato de potássio aplicado com uma pistola de ar comprimido, deixando assim apenas
algumas partes da peça mais desbotadas, este processo é conhecido como Used.
Inicialmente as lavanderias eram responsáveis apenas por deixar as peças mais maleáveis
para o uso e conseguiam isso através dos processos de amaciamento, o qual mantém a mesma
tonalidade do índigo dando a ele apenas maciez. A partir do momento que o jeans virou e
incorporou tendências de moda processos a ele foram adicionados. Bigodes que podem ser feitos
na lixa, no laser ou na prensa para dar o efeito 3D nas peças; detonados, que são os rasgos e
podem ser feitos em vários tamanhos e em qualquer lugar da peça; lang que podem ser feitos na
lixa manualmente ou no laser; ripped nas barras e bolsos dando o efeito de pequenos rasgos;
corrosão que é a aplicação do permanganato de potássio com um de cotonete nas bordas de
bolsos, costuras e detalhes, deixando a peça mais clara nessas partes; amarras que são feitas com
uma espécie de rede, onde a peça é colocada dentro e amarrada, dando assim marcações mais
evidentes. Há ainda a aplicação de resinas; marmorizado; tingimentos. Os processos para o
beneficiamento do denim e suas combinações são inúmeras e vêm aumentando cada dia mais.
Com o avanço da tecnologia muitos processos descritos acima já são possíveis de se conseguir
através do uso do laser. A figura (1) abaixo representa uma das possíveis combinações de
processos químicos e físicos aplicáveis ao denim na etapa de lavanderia.
Figura 1: Processos de beneficiamento e sua aplicação no jeans
Com a foto (figura 4) das duas calças desenvolvidas para análise também é possível
descrever algumas características visuais que as diferenciam. Na peça com lavagem tradicional, à
esquerda, percebe-se um aspecto mais fosco, sem tantos pontos de luz, com menos marcações nas
costuras e menor contraste entre partes claras e escuras. As diferenças no contraste e na marcação
de costuras podem ser observadas com maior clareza na figura 5. No comparativo do toque a peça
tradicional também é mais áspera. Isso acontece, pois, o processo tradicional com pedras acaba
agredindo mais o tecido. Na peça com lavagem Eco, à direita, as enzimas desbotam somente o
corante índigo da peça, a fibra permanece inalterada.
O custo também é um dos diferenciais, as lavações eco costumam ser mais caras. Mesmo
que para alguns esta diferença seja pequena, levando em consideração as características da
indústria têxtil ela é considerável e pode ser decisiva na hora da escolha pelo empresário que
contrata uma lavanderia. A peça tradicional custou R$52,56 e a peça Eco custou R$57,38, neste
valor estão inclusos o tecido, a confecção, o beneficiamento e o acabamento. No beneficiamento,
onde são desenvolvidos os processos de lavanderia o custo foi de R$6,80 para o processo
tradicional e R$11,02 para o processo eco. Cabe lembrar que este custo refere-se exclusivamente
aos dois produtos feitos para esta análise, ele pode mudar dependendo da escolha da lavação, se
forem escolhidas muitas combinações de processos esse valor será mais alto.
7. Considerações finais
O jeans sempre despertou muito interesse tanto para a orientadora desta pesquisa, quanto
para a autora, que no projeto final do curso desenvolveu uma coleção toda em denim. Além da
experiência com a coleção e o contato diário com lavanderia e processos de beneficiamento de
peças em denim, ao escrever este trabalho teórico o auxílio de livros e artigos engrandeceram
ainda mais o conhecimento sobre o assunto. As leituras foram fundamentais e proporcionaram
grande avanço no entendimento do contexto que envolve a história do jeans. Todo o trajeto da
pesquisa auxiliou profissionalmente a autora, além das etapas teóricas cada processo prático foi
acompanhado por ela na lavanderia onde trabalha, exigindo assim muito mais dedicação e
aplicação de conhecimento.
O jeans faz parte das nossas vidas há muito tempo e ao estudá-lo pode-se concluir que ele
é uma peça que sofreu muitas modificações ao longo da história, mas, ainda assim é uma peça
muito importante do vestuário, servindo como roupa de trabalho, lazer e como símbolo de
liberdade, sem distinção de classe e idade. Sua existência como item explorado pela moda mostra
que ao mesmo tempo que se adapta à desejos e tempos diferentes, sobrevive como clássico e isso
demonstra também sua rebeldia.
É provável que nenhum outro tecido conseguiu sobreviver a tantas mutações da moda
como o denim, produzido em larga escala nos anos 80 levou ao surgimento das lavanderias de
beneficiamentos em jeans. Este foi um passo importante para a história do denim, pois ele deixou
de ser uma peça grosseira e começou a receber processos como desbotamentos e
envelhecimentos. Este momento também mostra como a moda o incorporou ao seu universo e
passou a propor renovações constantes.
Nos dias atuais as lavanderias industriais estão crescendo e acompanhando cada vez mais
as necessidades mercadológicas. Pode-se concluir através disso que inovações no setor
continuarão acontecendo principalmente quando se fala em sustentabilidade. O futuro da moda é
dependente destes avanços.
Desde a década de 1960 os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social fazem
parte da indústria da moda, mas nunca estiveram tão fortes como atualmente, algumas empresas
buscam então adequar-se aos novos tempos. Ao realizar o comparativo entre as lavações pode-se
perceber que a lavanderia constitui um dos processos na cadeia produtiva que causam mais
impacto ao meio ambiente, tanto pelo uso de produtos químicos quanto pelo alto consumo de
água e energia. Com o processo eco podemos reduzir esses pontos de impacto em mais de um
aspecto, na parte do beneficiamento reduz-se a quantidade de água, o tempo dos processos,
esteticamente as peças ficam mais bonitas. Quando se pensa no ciclo de vida completo do produto
reduz-se os danos que processos mais nocivos trariam às fibras pelo fato de não agredirem muito
o tecido, assim os resultados permaneceram por muito mais tempo e a peça se torna mais durável.
Este fator é de extrema importância porque quando o cliente compra uma peça em jeans nem
sempre ele pode avaliar a durabilidade da peça, esteticamente ela pode satisfazer os anseios do
consumidor, porém, nem todos possuem conhecimento para avaliar o quanto os processos
atingiram negativamente as fibras. O processo eco de maneira geral garante mais qualidade ao
produto.
Observando e identificando quais etapas são possíveis de aprimoramento e mudanças,
algumas melhorias vêm sendo introduzidas nas lavanderias industriais, como o laser, a máquina de
ozônio, os produtos químicos e corantes menos danosos ao meio ambiente. Com o laser, utilizado
para clarear pontos específicos da peça, diminui-se ou elimina-se o uso de produtos como
permanganato de potássio e hipoclorito de sódio. Aumenta-se também a qualidade e a
produtividade, o mesmo efeito é reproduzido em todas as peças de maneira igual e de forma mais
rápida, pois o processo passa a ser computadorizado, o colaborador apenas posiciona a peça e o
laser faz o trabalho. A máquina de ozônio reduz o consumo de água porque a peça não precisa
estar imersa. Com relação aos produtos químicos e os corantes, por mais que a indústria esteja
procurando e lançando produtos que tornem os processos menos poluidores, eles ainda se
encontram em fase inicial, alguns em fase de teste e por isso é difícil precisar a dimensão de suas
melhorias. Para este comparativo, o uso de produtos eco manteve a qualidade do tecido, reduziu o
uso de água e o tempo de produção.
Além de perceber avanços no lançamento de equipamentos e produtos, nas formas de
aplicação dos processos considera-se importante acrescentar que toda a cadeia têxtil precisa estar
voltada para o aprimoramento de suas práticas, pois uma etapa é dependente da outra.
Outros parâmetros poderiam ser avaliados neste estudo, todos eles envolvendo
conhecimentos mais técnicos ao setor de lavanderia industrial e a parte química. No entanto, para
o objetivo desta pesquisa, que está mais voltado à área do design de moda, o comparativo foi
capaz de trazer elementos suficientes para uma análise aprofundada, observou-se tanto aspectos
visuais quanto materiais.
Para o designer de moda os conhecimentos advindos desta pesquisa colaboram para a
introdução de formas mais sustentáveis de produção em jeans, uma vez que o resultado não só
não deixa a desejar em relação aos processos já estabelecidos, como torna o produto melhor e
mais bonito. A procura por formas mais sustentáveis de produzir efeitos e beneficiar o denim pelos
designers também aumenta a disponibilidade destes produtos aos consumidores, incentivando um
consumo mais consciente.
Para além do designer, o consumidor tem papel importante na redução de impactos ao
meio ambiente, com a pesquisa entende-se a dimensão que o uso pelo consumidor traz em
termos de utilização de recursos como a água. Não cabe ao consumidor apenas exigir melhorias
por parte da indústria, é papel dele também a pesquisa por marcas corretas socioambientalmente
e o entendimento de que sua atuação durante o uso traz consequências ao meio ambiente.
Compreende-se que ainda é preciso avançar em termos de pesquisas como a Gateway
ZDHC e a Pegada hídrica vicunha, elas apresentam dados e acrescentam informações que auxiliam
em pesquisa acadêmicas como está e contribuem para o avanço tecnológico no setor têxtil e de
moda.
Finalmente, ao perceber mudanças nos rumos da moda, com relação a sua própria
sobrevivência, percebe-se que a manutenção da moda enquanto promotora de novidades está
vinculada à preservação e diminuição cada vez mais eficaz do uso de recursos naturais.
Referências
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CATOIRA, Lu. Jeans, a roupa que transcende a moda. Aparecida - Sp: Idéias & Letras, 2006. 132
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