Apostila Ceramicas

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 8

Cerâmicas – E.

Becker
Estrutura Cristalina
A estrutura dos materiais sólidos é resultado da natureza de suas ligações químicas, a qual
define a distribuição espacial de seus átomos, íons ou moléculas. A grande maioria dos materiais
comumente utilizados em engenharia, particularmente os metálicos, exibe um arranjo geométrico
de seus átomos bem definido, constituindo uma estrutura cristalina. Um material cristalino,
independente do tipo de ligação encontrada no mesmo, apresenta um agrupamento ordenado de
seus átomos, íons ou moléculas, que se repete nas três dimensões. Nesses sólidos cristalinos,
essa distribuição é muito bem ordenada, exibindo simetria e posições bem definidas no espaço.
Em estruturas cristalinas, o arranjo de uma posição em relação a uma outra posição qualquer deve
ser igual ao arranjo observado em torno de qualquer outra posição do sólido, ou seja, qualquer
posição em uma estrutura cristalina caracteriza-se por apresentar vizinhança semelhante.
A partir do conceito de estrutura cristalina, onde, é possível descrever um conjunto de
posições atômicas, iônicas ou moleculares repetitivas, surge o conceito de célula unitária. Uma
célula unitária é definida como a menor porção do cristal que ainda conserva as propriedades
originais do mesmo. Através da adoção de valores específicos associados às unidades de medidas
nos eixos de referências, definidos como parâmetros de rede, e aos ângulos entre tais eixos, pode-
se obter células unitárias de diversos tipos. Os metais em estado sólido apresentam seus átomos
geometricamente ordenados, ou seja, em reticulados cristalinos. Os três tipos mais comuns são:
- cúbico de corpo centrado (CCC), - cúbico de faces centradas (CFC), - hexagonal compacto (HC).

Figura 1

A estruturas ocorrem nos seguintes elementos:


Tipo de Estrutura Cristalina Elementos:

CCC Sódio, Vanádio, Cromo, Ferro, Molibdênio, Bário, Tungstênio.

CFC Alumínio, Cálcio, Níquel, Cobre, Prata, Ouro, Chumbo.

HC Berílio, Magnésio, Escândio, Zinco, Zircônio, Lantânio, Ósmio.


Estruturas Cerâmicas
As aplicações mais comuns são:
• Refratários - define-se refratário como um material que resiste a altas temperaturas sem ser
corroído ou reagir com o ambiente que opera. Como exemplo podemos citar a alumina (Al 2O3) que
é utilizada em fornos de fusão de metais e em outras aplicações sujeitas a altas temperaturas
como velas de ignição, por exemplo. Outro exemplo é a argila comum que é à base de tijolos
refratários.
• Uso elétrico – as cerâmicas são muito utilizadas como proteção de circuitos de alta voltagem
(porcelana). Algumas cerâmicas possuem características elétricas especiais que permitem várias
aplicações: dielétricos para capacitores, óxidos condutores, supercondutores, encapsulamento
elétrico e outras.
• Uso habitacional – concreto, vidro, peças sanitárias.
Os materiais cerâmicos são inorgânicos e não metálicos. A maioria das cerâmicas é
formada por átomos de um elemento metálico e átomos de elementos não metálicos(ametálicos).
Lembrando-se da tabela periódica os metais estão à esquerda (ex: Ca, Mg, Na) e possuem
tendência a perder elétrons (formando cátions), os ametais estão à direita (ex: O, F, Cl) e com
tendência a ganhar elétrons (formando ânions).
O termo cerâmica vem do grego keramicos, que significa “matéria queimada”, indicando que
estes materiais são obtidos geralmente por processo que envolve altas temperaturas, chamado
cozimento. Como exemplo desses materiais podemos citar porcelana da louça, a argila do tijolo e
da telha e os vidros, sem esquecer os componentes eletrônicos e materiais aeroespaciais.
Alguns compostos estão presentes na maioria destes materiais cerâmicos: a sílica (SiO 2); o
calcáreo (CaCO3); o feldspato (Na2CO3); a dolomita (NaSO4).
Duas características influenciam as estruturas cristalinas das cerâmicas:
- A carga elétrica: o cristal deve ser eletricamente equilibrado, ou seja, a quantidade de cargas
elétricas positivas dos cátions deve ser igual à quantidade de cargas elétricas negativas dos
ânions. Por exemplo, o fluoreto de cálcio, cada íon cálcio tem carga positiva e cada íon flúor tem
uma única carga negativa, assim devem existir duas vezes mais íons F-1 do que íons Ca+2 e o
composto terá fórmula química CaF2.
- Segundo o tamanho dos íons devem ser compatíveis, em função dos seus raios atômicos.
Normalmente os cátions metálicos são menores que os ânions ametálicos, sendo que estes
valores referidos pela razão rc / ra é menor que 1.

Figura 2

Na figura 2 os cátions estão representados pelos círculos menores e os ânions pelos


círculos maiores. As estruturas da esquerda e do meio são estáveis, já a estrutura da direita é
instável.
Quando esta razão é muito baixa (valores abaixo de 0,15) representam uma estrutura pouco
estável devido à diferença no tamanho dos átomos associados. À medida que esta razão se
aproxima de 1, a estrutura fica mais estável.

razão rc / ra = 0,15 razão rc / ra = 0,50 Figura 3

Um conceito muito utilizado em cristalografia é o da “célula unitária”, que é o menor volume que
possui todas as características no cristal inteiro. Abaixo podemos ver algumas células unitárias:

NaCl CsCl

ZnS CaF2 Figura 4

Exercício:
Considerando a figura anexa como uma célula unitária entre dois elementos, um metálico e outro
ametálico, calcule a razão entre os raios atômicos:

a) Para sódio (Na) e cloro (Cl). Raios atômicos respectivamente: 0,102nm e 0,181nm.
b) Para potássio (K) e iodo (I). Raios atômicos respectivamente: 0,138nm e 0,220nm.
c) Qual a estrutura mais estável?
Outro parâmetro no estudo dos cristais é o número de coordenação, que vem a ser o
número de átomos vizinhos de um átomo no reticulado. Na estrutura CCC é 8, no CFC e no HC é
12.
Cerâmicas de Silicatos
Os silicatos são substâncias formadas principalmente por silício e oxigênio, os dois
elementos mais abundantes na crosta terrestre, assim, a maioria das rochas, solos, argilas e areias
são considerados silicatos.
O silicato mais simples que aparece na natureza é o dióxido de silício (SiO 2), comumente
chamado de sílica. O material é eletricamente neutro e sua estrutura muito estável. Os átomos de
silício estão na proporção de 1:2 com os de oxigênio, como indicado na fórmula molecular.

Célula Unitária do SiO2 Figura 5

Vidros de Sílica
A sílica é muito utilizada na fabricação de vidros e estes são considerados sólidos não
cristalinos com alta viscosidade. Outros óxidos vítreos são associados á sílica vítrea nesta
fabricação (B2O3; CaO; Na2O; Al2O3). A adição destes compostos diminui a temperatura de fusão e
facilitando sua manipulação. Lembrando que os vidros não são considerados como estado sólido
por não apresentarem estrutura para isso e por não terem ponto de fusão determinado, é chamada
de temperatura de transição vítrea, à medida que a temperatura aumenta estes ficam mais
pastosos e moldáveis.
Os materiais à base de sílica são muito utilizados como isolantes térmicos, refratários,
abrasivos, material de laboratório e utensílios pyrex.
Diamante
O elemento carbono se apresenta de várias maneiras, além de estar presente em metais,
algumas cerâmicas e diversos polímeros. A estrutura do diamante vale ser descrita por suas
características específicas. É uma estrutura cristalina formada exclusivamente por átomos de
carbono, cada um ligado a outros quatro átomos de carbono em ligações do tipo covalente.

Célula Unitária do Diamante Figura 6

Suas propriedades o tornam em um material extremamente duro, opticamente transparente


e com alto índice de refração. Industrialmente este material é utilizado para polir, cortar e fazer
medições em materiais de dureza inferior. A tecnologia moderna já permite que pequenos
diamantes sejam produzidos artificialmente, porém a sua cristalinidade não ocorre tão
perfeitamente como os encontrados em jazidas naturais.
Imperfeições nas cerâmicas
Assim como nos metais, vagas e interstícios são possíveis, no entanto, desde que os
materiais cerâmicos que contenham íons de pelo menos dois tipos, dentre os tipos de defeitos
pontuais atômicos existentes em cerâmicas, pode-se destacar: o defeito de Frenkel e o defeito
Schottky mostrados na figura 7. O primeiro pode ser pensado como sendo formado por um cátion
deixando sua posição e se movendo para um espaço intersticial. Não há mudança na carga porque
o cátion mantém a mesma carga positiva que o interstício. O segundo pode ser pensado como
sendo criado pela remoção de um cátion e um ânion do interior de um cristal e colocando ambos
numa superfície externa. Em ambos, as condições de eletroneutralidade devem ser mantidas, pelo
fato de íons serem átomos carregados. Eletroneutralidade é o estado que existe quando existem
números iguais de cargas positivas e negativas dos íons. A taxa de cátions para ânions não é
alterada pela formação de tanto o defeito Frenkel quanto o defeito Schottky.

Figura 7

Propriedades Mecânicas
As cerâmicas suportam bem altas temperaturas de fusão e são resistentes à compressão.
Para esforços de tração e flexão não suportam muito bem, sendo consideradas muito frágeis.
Os materiais cerâmicos têm a sua aplicabilidade limitada a principal desvantagem é uma
disposição à fratura catastrófica de uma maneira frágil, com muita pouca absorção de energia As
cerâmicas possuem um processo de fratura frágil consiste na formação e na propagação de trincas
através da seção reta do material em uma direção perpendicular à carga aplicada. Uma
concentração de tensões na extremidade de um defeito pode causar a formação de uma trinca, a
qual pode se propagar até uma fratura real.
Na tabela da figura 8 é possível observar os valores de resistência à tração, flexão e
compressão para alguns materiais cerâmicos.
Material Lim. Tração (MPa) Lim. Flexão (MPa) Lim. Compressão (MPa)
Al2O3 207 552 2758
Si3N4 138 241 1034
ZrO2 448 690 1862
Figura 8
Podemos citar como exemplos os vidros à base de silicato são especialmente suscetíveis a
esse tipo de fratura, isso também tem sido observado em outros materiais cerâmicos, incluindo a
porcelana, o cimento, as cerâmicas com alto teor de alumina, o titanato de bário e o nitreto de
silício.

Moldagem, extrusão e Injeção


Na laminação, vidros planos são obtidos ainda no estado fundido. Pode-se resfriá-los com água ou
o escoamento se dará sobre um tanque de estanho fundido, o vidro flutuará sobre o banho de
estanho líquido, garantindo excelente acabamento à superfície do vidro. Esse processo se chama
Float Glass, ou vidro flutuante em português (figura 9).

Figura 9

Um importante método para aumentar a resistência de um vidro plano é a têmpera. O vidro


temperado é produzido a partir do resfriamento da sua superfície com um sopro de ar, abaixando,
assim, a temperatura da camada superficial que se contrai. Surgem então tensões residuais
(compressivas) benéficas entre as camadas superficiais e internas, dando mais durabilidade e
resistência a impactos.

Figura 10

Na figura 10 é possível ver o esquema do processo de extrusão. A extrusora é abastecida


com a matéria prima, um parafuso tipo rosca sem fim comprime o material contra um molde e logo
em seguida é cortado com a massa desejada. Especificamente na produção de vidro uma gota de
vidro é depositada em um molde e em seguida é prensada (figura 11) ou soprada (figura 12) com
ar comprimido, onde o material adquire o formato do molde.

Prensagem
Figura11

Sopro
Figura 12

Os vidros de silicato são os mais utilizados na produção de peças de vidro. A sílica fundida,
formada por SiO2 pura, tem alto ponto de fusão e as alterações dimensionais durante o
aquecimento e o resfriamento são pequenas. Geralmente porém, os vidros de silicatos contêm a
adição de outros tipos de óxidos, como pode ser observado na tabela da figura 13.

Formadores de reticulado Intermediários Modificadores


B2O3 TiO2 Y2O3
SiO2 ZnO MgO
GeO2 PbO2 CaO
P2O5 Al2O3 PbO
V2O3 BeO Na2O
Figura 13

Assim os componentes dos vidros podem ser classificados em três tipos:


- Formadores de reticulado: óxidos de sílica
- Intermediários: óxidos de chumbo e alumínio, que não formam vidros sozinhos, mas podem ser
incorporados à estrutura dos reticulados dos óxidos formadores de reticulados.
- Modificadores: rompem a estrutura da rede e podem favorecer a desvitrificação, que é a
cristalização dos vidros.

Reticulado do vidro de sílica Reticulado modificado

Figura 14

O formato desejado definirá o processo de moldagem e também a sua composição. O vidro


comercial comum contêm aproximadamente 75% de SiO2, 15% de Na2O, 10% de CaO e é
conhecido como vidro cal-soda. Na tabela da figura 15 é possível ver a composição de alguns tipos
de vidro.
Vidro SiO2 Al2O3 CaO Na2O B2O3 MgO
Pyrex 81 2 4 12
Vasos 74 1 5 15 4
Janelas 72 1 10 14 2
Lâmpadas 74 1 5 16 4
Termômetr 73 6 10 10
o
Composição de vidros em percentual Figura 15

O vidro de para-brisas de automóveis são feitos por duas lâminas de vidro recozido com um
polímero vinílico no meio. Desta forma caso o vidro quebre em serviço se manterá integro para não
colocar em risco os passageiros do veículo. O polímero também ajuda Ana absorção de impactos
contra o vidro.
Exercício:
A mulita é uma matéria-prima utilizada na produção de alguns tipos de cerâmicas refratárias e tem
sua fórmula química 3Al2O3.2SiO2. Calcule o percentual em peso do Al2O3 na composição da mulita.
Pesos atômicos: Al = 27; O = 16; Si = 28.
Cimento
Vários materiais cerâmicos são familiares são classificados como cimentos inorgânicos:
cimento, gesso e cal, os quais são produzidos em grandes quantidades. A característica especial
destes materiais é que quando misturados com água, formam uma pasta e em seguida endurecem.
Esse comportamento é especialmente útil no sentido de construir estruturas solidas e rígidas
moldadas com rapidez. Além disso, alguns desses materiais atuam como uma fase de união, que
aglutina quimicamente agregados particulados para formar uma única estrutura coesa. Outra
importância é que esta reação ocorre à temperatura ambiente.
O cimento portland é o consumido em maiores quantidades. Ele é produzido pela moagem
e mistura íntima de argila e minerais contendo cal em proporções adequadas e, então, pelo
aquecimento da mistura em um forno rotativo até aproximadamente 1400 0C. Este processo
chamado de calcinação, produz mudanças físicas e químicas nas matérias-primas.O produto
resultante, um pó muito fino recebe a adição de gesso (CaSO 4) a fim de retardar o processo de
pega.
Vários constituintes são encontrados no cimento portland, dos quais os principais são o
silicato tricálcico (3CaO-SiO2). A pega e o endurecimento resultam da hidratação de todos os
constituintes do cimento, etapa que demora várias horas. A hidratação prossegue durante dias, até
estar completa. A utilização deste tipo de cimento é em argamassa, concreto e outros materiais
compósitos.

Você também pode gostar