Resumos História Da Comunicação

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História da Comunicação

ORALIDADE

Em primeiro lugar, a origem do ser humano é muito imprecisa.

A oralidade é importante porque é o grau zero da comunicação.

É qualquer coisa que precede a nossa imagem de seres civilizados (com tudo o que isso implica
em termos históricos e políticos). Pensar a oralidade é um exercício condicionado: acontece
sempre na perspetiva do homem alfabetizado por relação a um que não é.

Tudo é som. Tudo é evento, tudo é ocorrência. Não há qualquer possibilidade de consulta,
nem de “reconstituição”, apenas de “recriação”. Há uma melodia contínua, apenas ritmada
pela entoação. O império do som enquanto tal. Ao contrário de outros elementos, como a
imagem, não pode ser parado. Se se parar, apenas se tem silêncio.

Consultar é, por exemplo, uma palavra sem sentido.

A sistematização abstrata é praticamente impossível. Tudo é concreto e situacional. Não há


teorias sobre nada.

Exemplo: apenas se “sistematizam” pequenas técnicas (sabe-se como utilizar uma enxada; a
agricultura não existe enquanto ciência).

Apenas há:

 a memória viva
 a narrativização e a mitologização de tudo
 “casos de estudo”

A fase mágica / oralidade / originário:

 Maior dependência da natureza.


 O desconhecido é por excelência um campo de superstição: (tempestades, caça,
reprodução e sobrevivência). Não se poderá falar propriamente de Deus. Acima de
tudo, estamos perante animismos – intencionalidades e agenciamentos de toda a
ordem.

A estrutura mais primária da existência, uma estrutura em rede de pontos-chave: uma árvore
gigante, um planalto, uma pedra gigante, um rio.

O poder da ação humana sobre o mundo e a capacidade do mundo para influenciar os


humanos estão concentrados por excelência. Há, portanto, bidirecionalidade.

Mundo mágico = quando havia uma tempestade, por exemplo, era porque alguém
superpoderoso assim o quis.

Os primeiros objetos – o BÍFACE como exemplo (imagens no ppt):

Uma das primeiras armas usadas pelos humanos.

Este objeto terá surgido em várias partes do globo em tribos que não tinham ligação entre
elas, segundo estudos. Isto quer dizer que este objeto não será uma criação exclusivamente
humana, senão não teria aparecido ao mesmo tempo em diferentes sítios. E era por isso que
as tribos as usariam. Este objeto tem 4 dimensões: técnica (através da técnica aperfeiçoam a
peça), natural (através do desgaste, erosão, etc, ela adquire o formato ‘’perfeito’’), estética
(no sentido do belo ou do design, a simetria, a primeira ideia não consciente de forma, a
inutilidade dos objetos) e mágica (como se fosse uma bênção porque pode ser usado em
várias ocasiões que os ajudavam, é útil e belo. Torna-se mágico, quase um amuleto).

Pensamento da analogia e não da rutura – revê-se a folha de uma árvore no objeto criado –
nesse preciso momento anula-se a suposta “intenção” criadora.

Tudo isto é indestrinçável e inconsciente. Não é ainda objeto de um processo de cultura. E isso
só acontecerá verdadeiramente com a escrita.

A alfabetização e a escrita não distinguem apenas a história da pré-história. Distinguem aquele


que é civilizado daquele que é primitivo ou é selvagem.

A isto não é independente a ideia (ideológica) de progresso.

Rousseau: Ensaio sobre a origem das línguas (a distinção entre os letrados, por um lado, e os
selvagens, os bárbaros e os civilizados, por outro)

Hoje analisaremos os traços dessa cultura oral. Tanto de um ponto de vista antropológico
como da teoria da comunicação e da linguagem.

Nota importante: a cultura oral não desapareceu com a invenção da escrita e da alfabetização
(o analfabetismo dominava em Portugal até há poucas décadas atrás; em todo o caso,
podemos dizer que o mundo terá entrado num processo irreversível de codificação, abstração
e artificialização).

Mas isto é apenas um cenário hipotético. Porque desde cedo se terão começado a desenvolver
modalidades de:

a) Estruturação e sistematização da comunicação (mesmo pré-escrita)

b) Formas de inscrição (mesmo pré-verbal)

Walter Ong “Orality and Literacy” (1982):

Psicodinâmicas da oralidade.

As origens da comunicação são, por excelência, de natureza mnemónica.

Primeiro princípio:

 think memorable thoughts/mnemonic patterns, padrões repetições, provérbios – a


importância do ritmo. Esses padrões não são ocasionais, são incessantes.
 Os padrões, os formatos, as métricas, os ritmos do dizer (da oralidade) são os mesmos
do pensar
 A lei está nesses provérbios, nessas fórmulas
Características dessas psicodinâmicas da oralidade:

a) Técnicas

 Repetição de nomes e palavras-chave, adjetivação (o sábio, o belo, o corajoso, etc.),


redundância ou insistência das mesmas ideias
 Carácter agonístico ao nível da expressão

b) culturais

 Pensamento tradicionalista/conservador / não há tanto lugar para a especulação


(porque não há paragens ou interrupções); mas isso não significa que não haja
originalidade
 Não há aprendizagem abstrata (manuais); tudo é aplicado e situacional
 É inconcebível a ideia de definições concetuais ou de dicionários
 É situacional, não é abstrato: nunca vêem quadrados ou círculos abstratos; vêem
coisas concretas que lhes correspondem
 Não seriam capazes de formar silogismos (ninguém age através de silogismos)
 O auto-conhecimento é improvável pois implica remover-se da situação

NOTA: Tudo isto não quer dizer que as culturas orais não denotassem complexidade ou
inteligência. E também não dizem que a técnica/tecnologia nasce com a escrita. Já existia,
desde o trabalho com e sobre os objetos até às mnemónicas.

Apenas diz que a invenção e o uso da palavra escrita constitui uma rutura radical e irreversível.

Oral/Escrito (Enciclopédia Einaudi):

Roland Barthes e Eric Marty

1º paradoxo

O homem soube ler antes de saber escrever.

Escrita – gravar, fazer uma marca (etimologia). No chinês: conjunto de traços.

A escrita não tem forçosamente origem na palavra.

Exemplos:

 Primeiras inscrições, as marcas deixadas pelos animais lidas pelos caçadores.


 Primeiro código (correspondência): cada marca corresponde a um animal (relação de
analogia)

Estruturação em torno do visual - (depois do olfato, por exemplo)

Conjunto de traços:

 nos veios das pedras ou de uma planta


 nas constelações
 a identificação de padrões (a repetição, a técnica, a expectativa) – dar forma ao
informe

Não se trata necessariamente de um antes e um depois.

Relação não necessária com a oralidade: O signo escrito não tem integralmente origem na
palavra ou no auditivo, traduzindo-os, mas também, de uma maneira autónoma, no visual.

A escrita não é apenas transcrição do falado no ato gráfico, tem origem no reconhecimento
visual da marca

2º paradoxo

O homem soube escrever antes de saber falar

Papel da “linguagem” gestual (ou a importância do gesto mesmo antes da fala) – tudo foi físico
antes de ser codificado – o apontar como exemplo (como as crianças são também exemplos)

Importância da ritmicidade e da repetição (tudo é cíclico) – (a atmosfera rítmica da produção –


da agricultura às primeiras fábricas à máquina de escrever)

E o nascimento da ideia de possibilidade de domesticação do real (30 000 a.C.)

- Inscrever e marcar, territorializar, adornar,

- Contar, medir o tempo e o espaço

Traços, nós – Quipu – Inca (Peru)

Os terços católicos ou rosário são também um exemplo

Síntese:

Os primeiros meios (naturais) de comunicação são partes vazias que melhor recebem as
marcas, como a areia, a madeira, a cortiça, o osso, a pedra, a pele humana. Partes quase
decalcadas das utilizadas pelos animais, mas que visam agora intencionalmente preservar e
enviar mensagens.

Dá-se um passo importante quando o homem começa a produzir o meio de comunicação


(paredes engessadas lisas, tabuinhas finas, papiros, etc.), substituindo o trabalho de marcar
(talhar, cinzelar) pelo de desenhar ou pintar. Posteriormente, estes símbolos tornam-se
convencionais – código.

A relação entre escrita, economia e propriedade:

 Marcação dos objetos e dos animais


 A escrita (neste sentido expandido enquanto inscrição) não é originariamente literária
nem religiosa: é administrativa (as 700 000 tábuas de argila encontradas na
Mesopotâmia)
 Mais uma vez, não haverá uma linearidade absoluta: a agricultura é efeito e causa
destes exercícios de contagem do tempo, dos animais, dos objetos, do espaço.
Nascimento da economia e da política (gestão de recursos e poder).

Tese: as correspondências entre a oralidade e a escrita são parciais, não necessárias, não
lineares. São mais de coordenação do que de subordinação.

Aí intervêm:

 sentido táctil
 ritmos pulsionais
 a voz (determinada também pela manipulação de utensílios)

Funções das pré-escritas:

 Mnemotécnicas
 Ornamentais
 Mágicas

A escrita é uma estrutura autónoma que, no decorrer dos séculos, foi preenchida com a
palavra; a escrita é uma estrutura que a pouco e pouco se fonetizou.

Aí ocorreu a passagem do oral para o visual.

Do mundo mágico da oralidade para o mundo neutro e racionalizado da visão

William Burroughs:

A palavra escrita antecedeu a palavra falada.

“No início a palavra foi carne.” – Palavra não falada, não escrita, sentido expandido.

“O animal que encadeia o tempo.” – Mas só se distingue da dimensão animal a partir da


invenção da palavra escrita. Foi essa que possibilitou a palavra falada no sentido humano do
termo.

A palavra escrita como vírus – não há volta a dar: o Homem constitui-se tecnicamente e a
partir daí não será mais o mesmo. Racionalidade, exteriorização, abstração. Particularidade:
alojou-se tão harmoniosamente com o nosso organismo que não demos conta.

Quando nasce a escrita, nasce uma civilização.

Só existe a articulação da palavra falada porque existe a escrita.

‘’Eu sugiro que a palavra falada, tal como a conhecemos, é subsequente à palavra escrita.’’

A palavra escrita é um pressuposto do discurso humano, nós só falamos como falamos porque
escrevemos.

A ‘’escrita’’ antes da escrita propriamente dita, é a escrita pré alfabética (os animais falam e
transmitem informações). A escrita alfabética é um código.
A palavra é um vírus porque é um corpo estranho – não damos conta dele.

A Mutação Biológica provoca no hospedeiro (ser humano) uma alteração biológica que foi
transmitida geneticamente. A partir do momento que o vírus da palavra escrita se instalou em
nós, o homem constitui-se de forma diferente – homem da abstração, da memória.

Ligação simbiótica – O vírus e o hospedeiro sobrevivem e nenhum dos dois sai prejudicado,
saindo ambos a ganhar com esta ligação biológica, apesar do autor sobressair aspetos
negativos – sistema de poder e violência.
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O ALFABETO E A ESCRITA

O primeiro alfabeto chama-se Cuneiforme e surge na Suméria entre 5000-3000 a.C.

Depois surgiu a escrita hieroglífica, no Egito (3000 a.C.) e, mais tarde, o alfabeto Fenício
(1500-1000 a.C). Este último é o alfabeto antigo mais próximo do nosso, porque trabalha com
caracteres que se associam a sons e não a imagens. É um alfabeto fonético. Depois surge,
também na Grécia, o Disco de Festo (Civilização Minoica, 1000-700 a.C.), uma espécie de
sebenta para a aprendizagem do alfabeto, o primeiro propriamente dito.

Passamos de Pictogramas (figura que representa uma coisa/objeto/ser), para Ideogramas


(figura que representa uma ideia inteira) e, por fim, Fonogramas (cada símbolo/caracter
corresponde a uma ideia/som/letra) (No ppt 12 tem uma imagem explicativa).

A ideia de palavra surge após o alfabeto fonográfico. Da semelhança e da analogia


(pictogramas) à abstração e à operacionalização (fonogramas) – o código. Da escrita
logográfica figurativa à codificação da escrita linear. A combinatória torna-se infinita.

A invenção da escrita alfabetizada não corresponde apenas ao surgimento de uma nova


técnica de registo e de transcrição do oral; corresponde, mais fundamentalmente, ao
surgimento de um novo tipo de cultura (que integra também os analfabetos).

Produção da História, da língua, do pensamento e da cultura.

A transformação mais importante na evolução humana é a capacidade de exteriorizar as suas


técnicas.

Como é que o Homem foi transferindo grande parte das suas faculdades para suportes
externos (instrumentos, suportes de inscrição). Esse processo de transferência, mesmo que
não seja de forma absolutamente linear, marca a passagem da oralidade à escrita.

Em suma, o gesto técnico original é a criação manual de uma cultura material extracorporal.

O novo mundo da escrita:

Fim do homem como médium primário (tudo o que vem depois é amplificação técnica dos
seus sentidos); da natureza como primeira matriz de inscrição e de leitura. O homem
estabelece regras de matriz com a natureza. Não transfere as faculdades para algo que é
externo.

Início do processo de mortificação das coisas (as coisas passam a ser as palavras escritas que as
designam); da metafisica enquanto sistema geral de nomeação e classificação das coisas – o
mito bíblico da criação – ‘’nomear é acalmar’’ (Roland Barthes) – a escrita como sistema de
poder.

A palavra escrita como ordem (relação entre escrita, economia, poder):

Distinção entre:

 O pensamento mítico e as sociedades orais sem escrita


 O pensamento racional e as sociedades alfabetizadas

As analogias entre o desenvolvimento da escrita e a organização racionalizante do quotidiano,


das práticas ou até do território.

Apontamentos (mais sofisticados, mas mais simples, porque mais operacionalizáveis) de toda a
ordem: horários, diários, calendários, registos, ficheiros, etc.

“Como a máquina, o escrito é uma exteriorização do indivíduo, um fenómeno de socialização


do discurso, da coletivização e, finalmente, um fenómeno de hierarquização muito forte.”

Coincidência com a sedentarização, a agricultura, a escrita e a racionalização/domesticação do


mundo.

A escrita institui o pensamento da uniformidade e da quantificação visual.

A totalitarização da escrita:

 O domínio endémico da visão sobre os outros sentidos


 Calor, volume, peso – tudo o que se jogava na diferença, na qualidade específica
 É uniformizado
 É reduzido e nivelado pelo poder totalitário da visão (e pelo poder técnico da escrita)

A escrita corresponde à hierarquização rígida das sociedades – quem detém os meios de


escrita é quem nomeia, conta e descreve (gestão dos recursos e do território).

A ordem da escrita:

 reforça as estruturas coercitivas – a escrita como ordem (palavra de ordem, ordem do


discurso, a Lei, etc.).
 reforça a racionalidade face às civilizações sem escrita (o espaço mítico de um
imaginário sem rédeas).

Não será assim tão simples separar oral/escrito como se separa mito/racionalidade. Até
porque houve durante muito tempo indiferenciação entre o desenho e o grafismo.

E a escrita logográfica persistiu. Na matemática ou na química, por exemplo.

Mas alguma coisa decisiva começou aí…


Isto prepara o lento surgimento do sujeito ocidental como sujeito da razão cujo culminar é a
invenção da imprensa, ou seja, a Escrita suportada por uma tecnologia, por um lado, e a Escrita
como técnica, por outro.

Metafísica – sistema de nomeação e classificação

 A metafísica teve o sentido de provar algo – dá forma ao mundo (a religião é a prova


da metafísica).
 As tecnologias compõem a metafísica.
 A escrita contribui para a nomeação das coisas, pois as gravava.
 Como a máquina, o escrito e uma exteriorização do indivíduo, um fenómeno de
socialização do discurso, da coletivização e finalmente de hierarquização muito forte.

A condenação da escrita em Platão:

A escrita tem efeitos na hierarquização dos sujeitos.

Mas é também com ela que começa a hierarquização das mediações. Há umas mais puras do
que outras?

Início do pensamento filosófico sobre as condições do suporte (dito do modo mais simples,
falar não é o mesmo que escrever).

É, para o filósofo, um objeto fóbico.

Será uma simples técnica (techné), como a retórica dos sofistas, esfera que Platão opõe
sempre à verdade dos filósofos, cujo método é o da dialética e da maiêutica socráticas.

Para Platão, a escrita é menos favorável do que a oralidade. O texto escrito não é exatamente
o texto que oralizamos.

Pharmakon – É um remédio para a memória. Uma droga porque é um vício e torna todos
viciados na escrita. Um veneno porque qualquer fármaco tem efeitos colaterais e o deste é
ficarmos mais esquecidos. Cosmética como uma ideia de maquilhagem, como se atrapalhasse
sempre a descoberta da verdade.

Do lado da retórica e da escrita:

 Coisa artificial e exterior;


 Utilitarismo e subordinação aos fins;
 Arte do empréstimo;
 Não é dialógica, é passiva;
 É um mero simulacro.

Do lado da dialética e da oralidade viva:

 O espontâneo;
 O orgânico;
 O vivo;
 O intuitivo;
 O que é fruto da inspiração;
 É um organismo vivo;
 Funda-se na eloquência como um dom e não na arte como técnica;
 Corresponde à voz de Sócrates (ironia, pois Platão cede a escrita).

“O diálogo é a versão viva daquilo que a escrita (denegada na sua própria prática) só pode
restituir de forma inexata e mortífera”.

“O escrito mata no pensamento a atividade viva da memória.”

Platão fez Sócrates dizer no Fredo que escrever é desumano. Pretende-se estabelecer fora da
mente o que na realidade só pode estar na mente. É uma coisa, um produto manufaturado. O
mesmo é dito dos computadores. Em segundo lugar, Platão diz que a escrita destrói a
memória. Aqueles que usam a escrita, vão tornar-se esquecidos, contando com um recurso
externo com o que lhes falta de recursos internos. Escrever enfraquece a mente. Para Platão
ajudas à memória, como a escrita, provocam mais esquecimento que lembrança. A tecnologia
é um pensamento artificial.

A escrita, atribuída ao grande inventor Toth está próxima do cálculo, da geometria e da


astronomia, por um lado, e do jogo dos dados, por outro.

Analogia entre o alfabeto grego e o sistema numérico.

Isto é, a escrita como técnica artificial tem uma origem comum com a álgebra, a aritmética, o
raciocínio abstrato e a espacialização conceptual da qual decorre a própria geometria.

Se a escrita, nomeadamente egípcia, cria um elo indissociável entre a figurabilidade do


desenho e o carácter simbólico e convencional dos caracteres pictográficos, a escrita
alfabética, posteriormente, como a dos Gregos, concebe uma escrita já totalmente
sistemática, económica e que atinge um grau de simplicidade e de abstração assinaláveis na
correspondência que estabelece ao sistema fonemático.

Dessa escrita híbrida, que guarda uma relação estreita com o ícone, como a escrita
pictográfica, há toda uma elaboração para a escrita alfabética/fonética que dramatiza a figura,
o figural, dando à iconicidade da escrita uma certa sistematicidade e iterabilidade que vêm a
constituir os fundamentos daquilo que os Gregos chamaram gramma, e que redobra, na
escrita, o seu carácter gráfico – graphein: iterável, por um lado, diferencial, por outro. Na
escrita alfabética, a marca distintiva, na sua negatividade fundadora, é estruturante.

A escrita linear como pura artificialidade.

Crítica a Platão:

Mas o próprio texto platónico torna-se, nesta lógica, uma aberração, dado que é, ao mesmo
tempo:

 empréstimo - a fala de Sócrates emprestada a Platão


 e escrita - arte artificial que se dá na ausência do seu garante - do lado do não-vivo ou
do morto: a voz de Sócrates transposta por Platão para o registo da escrita. Os
diálogos pretensamente dialógicos são, paradoxalmente desnaturados, segundos,
repetidos.

__
O LIVRO

O Livro é o sucedâneo natural da escrita e dos artifícios naturais. Vai ser um diapositivo, uma
marca que vai contribuir para a humanidade.

Para Platão a única forma de chegar à verdade é a palavra viva que está presente na memória
do humano – mortificar a palavra.

A escrita vai transformar a palavra como hoje a conhecemos.

A primeira ideia de livro surge com o volumen (rolo).

Volumen:

O Volumen surge entre 1500 a 1200 a.C., no Egito e Mesopotâmia. Primeiro de papiro (a partir
da planta, 2500 a.C., Egito). Depois em pergaminho (a partir de pele de animal, 2200 a.C.,
Egito).

O papiro tinha um problema, era frágil. Comprometia o comportamento material. O


pergaminho era mais resistente. Feito através de pele de animal, aumentou
consideravelmente o tempo de conservação.

Consequência natural das primeiras inscrições em suporte (destacáveis, como as pedras ou


não). Começa a escrever-se na parede, depois na pedra. Supõe-se que os primeiros
“volumens” não se escreviam numa mesa, mas sim numa parede. O volumen marca um
momento de rutura pois marca a divisão entre a escrita em diversas superfícies (paredes etc)
para a escrita num só objeto.

Portabilidade – objeto mais leve que as pedras, podemos carregar de baixo do braço.

Arquivamento – Num pequeno espaço podem ser arquivados vários documentos.

 Ainda não há verdadeiramente o que se pode chamar de ‘’leitura privada’’, mas sim
leituras públicas, por exemplo, nas Assembleias, nas reuniões importantes.
 O rolo entra como lei – alterações nas dinâmicas políticas. O rolo é um documento que
serve de prova, de explicação. Vantagem da política. Há um meio que sustenta e serve
de prova para situações de conflito, por exemplo (todo o processo de escrita formaliza
todos os processos de administração das coisas).
 Surgimento, progressivo, da ideia de biblioteca (gregos e romanos)

Códex:

Surge entre o séc. II e o séc. IV no Império Romano (comunidades cristãs). É uma evolução do
volumen, substituindo-o como suporta da escrita.

Codex, que significa árvore, madeira, advém do fato de que o livro, no formato de cadernos
reunidos, utilizou durante muitos séculos pranchas de madeira como suporte e capas desses
cadernos, sendo que as folhas seriam em pergaminho.

É na origem da palavra códex que vem o código. Os primeiros códexes foram os primeiros
códigos de leis – como o livro codifica, e o código de leis – duas razões. Código, formalização
abstrata. Não há qualquer tipo de ligação entre a letra “a” e o seu som.
Características do códex:

 Passagem da leitura oralizada para uma leitura silenciosa e visual.


 Nova relação corporal com o escrito.
 Leitura discreta (não contínua) ou a verdadeira primeira forma de consulta –
navegação que o volumen não permite.
 Possibilidade de escrita nas duas faces da mesma página (menor custo de fabricação).
 Mais compacto e maior armazenamento de informação.
 Maior facilidade de transporte.
 Possibilidade de leitura mais rápida, de mais textos e de textos mais complexos.
 Maior facilidade de arquivamento (lombada).

O livro como ordem:

 A ordem da sua descodificação;


 A ordem da sua compreensão;
 A ordem da sua produção (deriva da entidade de que o encomendou ou que o
permitiu).

Quem detêm os livros é quem tem o poder. O livro surge em esferas de poder – religião e
monarquia – era uma minoria que tinha acesso.

Autoria como produto do trabalho individual e original. ≠ A autoria como produto de uma
herança comum, um bem público, como o é todo o saber. Um autor dá forma às suas ideias de
modo a criar a sua propriedade intelectual, sendo essa influenciada por aquilo que o rodeia.

As ideias são transmitidas mesmo involuntariamente e cada um de nós lhe dá uma forma mais
conveniente, criando a propriedade intelectual.

Passaremos a ver o livro, enquanto a máquina, como médium.

Com a evolução da tecnologia, o médium é algo material e não um fenómeno do meio. O


médium é aquilo pelo meio do qual algo aparece. O livro não é só a matéria física portátil, é
também um espaço de apresentar, um meio: um mediador entre a escrita e a leitura, entre o
pensamento e a sua interpretação.

O livro é reprodução porque é uma forma de registo, fixa o conhecimento. Para além de
reproduzir, também se apresenta (através da capa, por exemplo). Tudo aquilo que está a ser
transmitido é influenciado pelo meio em que ele é transmitido.

Os escritores não escrevem livros, escrevem textos. Os textos têm de depois ser sujeitos ao
dispositivo. O livro é essa máquina que organiza algo e depois é descodificado.

Descodificação: saber ler, no primeiro sentido. No segundo sentido, perceber o que está
escrito. O livro abdica de um saber, normalmente, administrado pelos soberanos – como
separasse uma hierarquização, quem sabe ler tem o poder nas suas mãos.

O livro como reprodução (reproduz, fixa): o livro como registo, que reproduz a linguagem, a
memória. Aquilo que digo é reproduzido.
O livro como apresentação (apresenta e apresenta-se): o livro que apresenta alguma coisa que
é o conteúdo, mas também apresenta, não apenas aquilo que está dentro, mas apresenta-se
como tal.

O livro como objeto: “o texto superfície torna-se corpo no livro, fecha-se, delimita-se através
de instâncias fixas que não a deixam transbordar. Torna-se autónoma. É a capa que vem
outorgar tal autonomia ao livro, uma etiqueta pausada sobre o objeto”. – Passam a ser objetos
destacados no mundo, estatuto próprio. Já não se confundem com a natureza.

O livro como o que distingue a forma da ideia: As ideias pertencem à comunidade, só a forma
de que elas se revestem a respeito da propriedade individual. Autor = propriedade intelectual
(dono da ideia). As ideias pertencem as pessoas.

Duas perspetivas:

 A autoria como produto do trabalho individual e original. (o indivíduo isola-se de


todos)
 A autoria como produto de uma herança comum, um bem público, como o é todo o
saber – comum, de todos.

[Cada ator na sua criação, é alguém que já se inspirou nessa herança e o seu produtor é o que
está para trás dele]

‘’Se vi mais longe foi porque estive aos ombros de gigantes’’ Newton.

1. Perigrafia ou paratexto:

Perigrafia e paratexto são sinónimos. Complementam o texto principal com mais texto.

“A perigrafia é uma zona intermédia entre o fora-do-texto e o texto. É preciso passar por ela
para aceder ao texto. É uma cenografia que coloca o texto em perspetiva, e cujo autor é o
centro”. – É o que está na periferia do texto:

 Capítulos e subcapítulos
 Dedicatória
 Índice
 Epígrafe
 Notas de rodapé
 Bibliografia
 Anexos
 Conclusão
 Prefácio

Intertextualidade produz todo o sentido da obra. Estamos a falar de texto, mas de um texto
sobre o texto. Um texto que produz a visibilidade do texto principal. Um texto que vai
aparecendo e desaparencendo de acordo com a forma como foi disposto. É uma espécie de
protocolo da leitura. É aquilo que determina o horizonte expetacional – permite criar uma
ideia do objeto sem ter necessariamente de se penetrar nele.
´´O paratexto é pois aquilo pelo qual um texto se torna livro e se propõe como tal aos seus
leitores, e mais geralmente ao público. É a franja do texto impresso que na realidade comanda
qualquer leitura.’’

O paratexto prepara o texto, estrutura o texto, divide e contextualiza, para assim auxiliar o
texto principal. A Perigrafia é aquilo que anda em torno do texto (Capa, Título, Autor). Estes
elementos vão funcionar em 3 níveis:

 Interpretação (promover a eficácia da mensagem)


 Mercantilização (que seja sedutor/desejável/comercializável)
 Poder (controlo do conhecimento e da interpretação)

2. Epitexto

“O epitexto é, por excelência, o discurso do mundo, na medida em que ele envolve o livro, o
lança mesmo, mas sem ele se misturar. É-lhe totalmente exterior. Espeço da crítica, espaço
mediático da entrevista, espaço público da boata, da formação de opinião. Espaço privado da
correspondência, aquela que muitos autores mantêm paralelamente à escrita e que, em geral,
vem a público postumamente dialogar com o texto”.

O epitexto quer dizer que cada livro é dependente do contexto cultural, político que envolve a
época em que o livro é lançado. O discurso do mundo em relação ao livro, espaço da critica, da
firmação da opinião. Isso é totalmente exterior ao autor. Ele não controla a repercussão do seu
livro.

O futuro do livro:

Volumen – Codex – Volumen

“A revolução do texto eletrónico será também ela uma revolução da leitura. Ler num ecrã não
será como ler num codex. A representação eletrónica dos textos altera completamente a sua
condição: à materialidade do livro substitui a imaterialidade dos textos sem lugar próprio; às
relações de contiguidade estabelecidas no objeto impresso, opõe a livre composição de
fragmentos indefinidamente manipuláveis; à apreensão imediata da totalidade da obra,
tornada visível pelo objeto que a contém, faz suceder a navegação de longo curso por
arquipélagos textuais sem margens nem limites.

Essas mutações comandam, inevitável e imperativamente, novas maneiras de ler, novas


relações com a escrita, novas técnicas intelectuais.”

O texto, agora digital, volta ao princípio do volumen. Perde-se aquele facto que o livro fica
fechado no códex para uma ideia sem margens como era no volumen que eles ficavam
expostos em parede e no chão.

“A distinção fortemente marcada no livro impresso, entre a escrita e a leitura, entre o autor do
texto e o leitor do livro, desaparece para dar lugar a uma outra realidade: aquela em que o
leitor se torna num dos atores de uma escrita com várias vozes ou, pelo menos, se encontra
em posição de criar um texto novo a partir de fragmentos livremente recortados e reunidos.”

Carácter aberto do texto eletrónico: copy/paste. Paradigma da co-autoria. O hiper-texto


transborda o livro.
A IMPRENSA

A modernidade começa no século XVX e coincide com o renascimento. Substitui o primado da


igreja sobre homem e o modelo geocêntrico do vaticano.

Foi (a imprensa) a primeira invenção que marcou e ditou o início desta época. O renascimento
marca a transição da superstição da religião para a crença na ciência.

A Imprensa é o 4 paradigma da escrita. É a mecanização e a multiplicação. Falamos da


imprensa que é a tipografia. Quando aconteceu a revolução industrial, a escrita também foi
beneficiada. A história da mecanização do homem surge na imprensa. Aquilo que era um
trabalho solitário (ao copiar um livro etc), passa a funcionar numa cadeira de montagem.

A imprensa surge na china, mas, devido à sua escrita ideográfica demasiado extensa (2 mil),
não vingou. Esta imprensa ainda não produzia em massa, a diferença entre em relação à
produção manuscrita não era significativa.

O alfabeto grego seria mais codificado e mais abstrato, com apenas 26 letras, permitindo
combinações praticamente infinitas.

A meados do séc. XV o alemão Gutenberg desenvolve uma prensa com caracteres metálicos e
móveis. Esta criação permitiu a reprodução de livros em massa. A mecanização da arte do
escriba ou copista foi provavelmente a primeira redução de qualquer trabalho manual a
termos mecânicos.

O primeiro livro reproduzido foi a Bíblia, mas a Igreja não gostou disto. As pessoas começaram
a ler por si próprias a bíblia. O conhecimento religioso começa a ser objeto de analises
individuais, pondo em causa a Teocracia e a Igreja. Nasce uma critica livre – o ser humano
emancipa-se.

A Igreja dizia que o texto religioso era ditado pela alma quando escrito à mão (uma cena divina
entrava no escritor, como se deus lhe mandasse algo. Se começasse a ser uma máquina a fazer
isso, estávamos a profanar). Platão também dizia que apenas a voz é a única forma pela qual o
pensamento pode fluir naturalmente – critica à escrita – TECNOFOBIA (medo do tecnológico,
medo da evolução do mundo). Diziam que os textos iriam ficar empobrecidos.

O conhecimento pode ser uma arma. Se as vezes o conhecimento pode unir, tem também o
poder de fragmentar. Porque aquilo que se oferece ao debate, tem tendência a fragmentar-se,
as opiniões dividem-se. Cria-se uma esfera de discussão que não existia.

Isto vai se ligar ao protestantismo.

Em 1517 Martinho Lutero vai afixar na porta da Universidade de Winttenberg as 95 teses


contra as indulgências (construção da Basílica de S. Pedro no Vaticano).

Qual a relação com a imprensa?

 Impressão das teses (circulação no meio académico)


 Impressão da literatura (subsequente) da Reforma
 Impressão de Bíblias e, posteriormente, tradução (o direito à interpretação e à auto-
constituição da fé - o fim do dogmático)

A destruição dos monopólios do conhecimento (O Nome da Rosa de Umberto Eco) e uma nova
concepção do conceito de Biblioteca (como esfera privada – os livros passam também, mesmo
que muito progressivamente, a ser objetos colecionáveis - só a partir da imprensa é que isso se
torna verdadeiramente possível porque só a partir daí existem em número suficiente para tal.

Tudo, em certa medida, ficou fora de controlo.

‘’Seguramente tenho medo de que não sejamos bem-sucedidos, mesmo que eu e todos os
meus cardeais, bispos, priores e seus cónegos e todos os nossos clérigos a comprássemos por
toda a Alemanha, e a queimássemos, na esperança de que não pudesse ficar nenhum
exemplar pelo qual se pudesse compor novamente’’. Queimar a bíblia anularia a capacidade
de analisar. A produtividade geral – todos estão a criar pequenos fenómenos de
individualização. A imprensa na base da criação do mundo moderno

Quando tudo é dogmático, a evolução é complicada – “Para que uma mutuação (ou heresia)
sobreviver, para que tenha impacto, deve aparecer num ambiente que a suporta”.

A heresia como fonte de novas ideias – como heterodoxia em relação ao dominante. Mas a
maioria não tem condições favoráveis. Quando tudo é dogmático, a inovação é impossível.

Mas é precisa de um ambiente, de um contexto: que é cultural, mas, talvez de forma mais
essencial, é técnico.

Como é que a Reforma é sintoma de uma revolução maior? Porque se multiplicaram:

 Os livros
 Os leitores
 As perspetivas
 Multiplicou-se o próprio mundo

A Modernidade que se funda com o Renascimento: antropocentrismo, secularização, a ciência


como novo sistema de explicação universal.

A autoria impressa do mundo moderno:

1. A descoberta de um novo mundo (América).


2. O método científico.
3. A escola pública.
4. A capitalização da informação.

A descoberta do Novo Mundo:

 A circulação das notícias/relatos: não havia forma de se espalhar as notícias, era de


forma oral. Cada relato é feito aos olhos desse país (“Os Lusíadas” é um exemplo).
 A emancipação dos estudos nacionais.

Os viquingues estiveram na américa 500 anos antes de Colombo. A descoberta deste território
não se constituiu como notícia universal nem inaugurou a época dos Descobrimentos

Porquê:

 Evolução técnica (os barcos e os aparelhos de orientação dos árabes)


 Cultura ainda ‘’demasiado” oral e reduzido número de manuscritos de relatos
 A imprensa esteve na base do primeiro sistema (mais ou menos global) de informação
(proto-correios, proto-jornalismo, etc.) – espalhar notícias – criação de uma
consciência (planetária)

O relato impresso da viagem de Colombo foi campeão de vendas em 1493 (latim, espanhol,
francês e italiano)

Com a crise da Igreja, dá-se a libertação em relação à autoridade do vaticano e o orgulho


nacional (as bandeiras e a identidade; o culto da própria língua – o início da tradução – já não
se tratavam de textos de culto, mas de relatos – eram para ser compreendidos – a produção
da Bíblia adotaria os mesmos princípios).

O método científico:

 A ciência como teste universal.


 A ciência como saber cumulativo – progresso ilimitado.

Escrita e ciência como processo racional, experimentável e transmissível: antes, na fase


mágica, ouve-se, não se visualiza (ou não se lê em formulações universais e conceptuais), não
se prova. Tal posição levou a não se admitir como verdadeiro senão o que fosse verificável em
termos palpáveis e, de modo crescente, mensuráveis ou em termos de demonstrações
matemáticas

É impossível oferecer a mesma espécie de prova palpável e obter a mesma espécie de


concordância em questões de fé, de moral e de estética. Isso passaria para o domínio do
subjetivo, opinião pessoal.

O saber universal seria outra coisa.

Qualquer teoria tem de sobreviver a um teste universal (não está viciada pessoalmente, não
está em desacordo com a realidade) – precisa de suportes multiplicados, maior produção de
tratados/manuais (invenção no sentido moderno do termo – algo para ser estudado e
divulgado)

Galileu como exemplo (perdeu a batalha pessoal, não perdeu a científica): reprodução dos
relatórios de Galileu para outros astrónomos para que eles próprios pudessem confirmar as
experiências; reprodução e transmissão de notícias dessas corroborações para uma audiência
crescente.

A cada novo tratado, um pequeno grupo de cientistas posiciona-se perante ele, analisando-o,
perpetuando-o, refutando-o. Cada investigador acrescenta conhecimento, cada nova geração
tem mais conhecimento. Arquivo. Otimismo – melhorar as condições de vida à escala
universal. Isto só é possível pela difusão da ciência (novo método).

‘’O Universo (natureza) como o grande livro que está permanentemente aberto e ao alcance
do nosso olhar, escrito com caracteres matemáticos e geométricos disponíveis para serem
decifráveis por qualquer um com a formação certa e os aparelhos certos.’’

A mecanização como modo de conhecer o mundo. A decomposição matemática do mundo. O


mundo tem uma forma. A técnica é a via para aceder a essa forma. A formação (literacia) é
necessária. O mundo é uma matriz matemática que deve ser interpretada.
A escola pública:

 A crise do império dogmático da igreja.


 A necessidade de literatura.

Toda a ideia de educação se estrutura em torno da ideia do livro.

O controlo do livro deixa de ser da igreja e passa a ser do mercado. Deixa de haver apenas
pensamentos ligados à escolástica. Passam a ser comercializáveis. Há um mercado de livros em
função de uma procura crescente de pessoas que querem ler e fazê-lo em privado. Os livros
passam a ser também instrumentos de ensino – relação entre a imprensa e o surgimento da
literacia/alfabetização/escola pública.

A capitalização da informação:

 Materialização e abstração do dinheiro.


 A ética protestante e o capitalismo.

A palavra impressa foi a primeira coisa produzida em massa, foi também o primeiro "bem" ou
"artigo de comércio" a repetir-se ou reproduzir-se uniformemente.

A palavra impressa, por assim dizer, transformou o diálogo: da troca em comum de ideias e
propósitos fez o comércio de informações empacotadas, bem móvel e portátil de produção.
Deu à linguagem e à percepção humanas uma distorção que Shakespeare define como
"Commodity" ou "Interesse". E que outra coisa se podia esperar? A palavra impressa criara a
economia de mercado e o sistema de preços. Pois enquanto as mercadorias não fossem
uniformemente idênticas, o preço de qualquer artigo estaria sujeito a regateio e ajuste. Os
mercados modernos e o sistema de preços, inseparáveis da difusão da alfabetização e da
indústria, não são, aliás, os únicos frutos da uniformidade e reprodutibilidade em série do
livro.

Tipografia, que séculos mais tarde irá imprimir notas. Tal como a escrita, o dinheiro é um
código.

O início do capitalismo – é a tecnologia do individualismo.


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ELETROMAGNETISMO, SOM E UBIQUIDADE

O fim do visual e do Império da escrita.

O regresso a um regime multissensorial, de coisas em circulação. E também da segunda


oralidade.

A rádio antes da telefonia.

Os meios de comunicação surgem no séc. XIX.

Contextualização histórica:

2ª revolução industrial (século XIX):

 Eletromagnetismo
 Eletricidade
 Telegrafia
 Telefone
 Telegrafia sem fios

(A internet é a forma mais visível destas inovações).

A teoria eletromagnética é essencial para o funcionamento de eletrodomésticos como


computadores, recetores de televisão, aparelhos da radio e lâmpadas. Além disso, é
responsável por fenómenos naturais como o relâmpago, as auroras polares e o arco iris.
Cosmologicamente, a força eletromagnética permite a coesão de átomos e moléculas que
compõem a matéria do Universo, permitindo, por consequência, a complexidade advinda da
química e, no planeta Terra, da biologia.

TELE – do grego longe (distancia vs proximidade). É um conceito fundamental da relação do


Homem com a Técnica: a questão da sua finitude / a imagem das aves (o sonho de voar tem
uma ligação com o problema da distância).

O Telefone era atribuído a Bell.

Edison: fonógrafo, cinematógrafo, dictafone, lâmpada elétrica, aperfeiçoamento do telefone

Ondas eletromagnéticas (TSF)

A descoberta da Terra como um planeta eletrificado – o ar é um médium – consciência


atmosférica e consciência planetária.

Guglielmo Marconi e a história de que o som não morre, apenas se torna impercetível ao
ouvido humano. Foi o que teve mais destaque. Coloca estas descobertas numa ideia de futuro.
Não admitia apenas o som, como antecipa a rádio, a televisão e uma onda de computação. Ao
fazer um balanço, começa a especular sobre o que não é percetível no ser humano. Foi um
grande inventor e acaba por dar uma humanidade ao ser humano – há sempre coisas que não
conseguimos descobrir. A sua ciência, a descoberta através do entendimento humano, pode
explicar tudo e a fé substitui deus.

McLuhan chamará a Galáxia Marconi a este novo regime (que sucede à Galáxia Gutenberg) e
falará cada vez mais no Homem Elétrico. É também a esfera do inapreensível.

Como McLuhan aponta, a eletricidade é importante, não sobre contenção, mas sim sobre
relação e posição entre os corpos.

A Rádio produziu uma nova ideia de público, muito mais misturada, promíscua e democrática
do que o livro poderia acolher.

Uma característica particular do rádio consiste exatamente no fato de que o espaço aberto
imaterial entre o transmissor e o recetor é um elemento indispensável da tecnologia. O ar é
um meio.

Ubiquidade – está presente em toda a parte ao mesmo tempo – Omnipresença.

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A FOTOGRAFIA

A fotografia é a escrita da luz. Não é apenas o meio (câmara), nem o resultado (foto em si),
mas é um processo. Como é que um clique vira uma réplica do real? É o homem que ativa esse
processo (através do clique) mas é a natureza, a própria luz entrando por uma lente e
refletindo-se numa determinada superfície que faz a fotografia. Ou seja, o papel do humano é
muito menor, comparando com a luz. Quem está em ação é a luz e o próprio aparelho (com as
suas lentes e etc). Surge na segunda metade do séc. XIX

Objetivos da fotografia:

 Gravar qualquer coisa que não é verdadeiramente da apreensão humana (o som


primeiro, a luz depois).
 Descobrir novos motivos do real.
 Duplicar as coisas e as imagens.
 Registar e gravar o real

Já não é apenas o sujeito que escreve. É também o aparelho ou a máquina e a própria


natureza. A fotografia beneficia a ausência do homem enquanto todas as outras artes (pintura,
por exemplo) baseia-se na sua presença. Por ouro lado a fotografia tem efeito em nós
enquanto fenómeno natural:

 Ao contrário da escrita, que tem a primeira palavra e a última, na fotografia não havia
intromissão
 A palavra vai ser subalterne da imagem

“Ao contrário da escrita, a média técnica não utiliza o código (código claro e que não dependa
de mais ninguém a não ser daqueles que percebem desse código) de uma linguagem de
trabalho. Eles fazem uso de processos físicos que são manifestamente mais rápidos ou lentos
do que a perceção humana”

A capacidade de guardar dados transformou-se completamente com os media tecnológicos.


Existe um aumento do arquivamento que antes estava confinado à escrita e ao pensamento.

A primeira fotografia:

A primeira fotografia (1826), demorou entre a 8 a 12 horas. Joseph Niépce, pai da fotografia.

O homem ativa o processo, mas depois é a máquina que faz tudo.

Rudolf Amheim ‘’Sobre a natureza da fotografia’’:

1) A imagem é co-produzida pelo homem e pela natureza e, nalguns aspetos, parece-se


notavelmente com a natureza.

2) A imagem é vista como algo feito pela natureza

3) A fotografia beneficia da ausência do homem, enquanto todas as outras artes as


baseiam na sua presença. A fotografia tem efeito sobre nós enquanto fenómeno
natural, como uma flor ou um cristal de neve cuja beleza é inseparável das origens
vegetais ou telúricas
Louis Daguerre (1838) desenvolve a fotografia e cria os daguerreótipos (fotografias que
utilizam a sua técnica). A imagem era mais nítida, consegue maior definição. A exposição ainda
era de alguns minutos. Através de um procedimento químico e físico, permite à natureza a
possibilidade de se reproduzir a si própria.

Baudelaire vai criticar a fotografia dizendo que é uma simples técnica e não arte. Assim sendo,
a fotografia começa a ‘’imitar a pintura’’. Aproximam-se à temática da pintura através de
poses, da dramatização, encenação da cena.

Edgar Poe presta homenagem à invenção da fotografia. Vê a fotografia como uma invenção
representativa do potencial ‘’miraculoso’’ ou mesmo mágico da era moderna (precisão mágica
da imagem fotográfica. A fotografia revela a verdade. Representa o real tal como ele é, e não
através da conceção artística de um pintor.

Paradoxo: depois da Modernidade, os novos aparelhos podem mostrar um real, mas que agora
surge ‘’encantado’’.

Nadar é o primeiro a popularizar o retrato fotográfico.

Fotomicrografias – tirar fotos através do microescópio (relação do microscópio com a


fotografia). Permitia um raio X da imagem e do tempo (como é que o tempo pode ser
aprisionada

Calótipo – técnica desenvolvida por Talbot: a natureza é vista como algo que está sempre a
criar, é onde o tempo se reflete

A natureza foi o primeiro espelho, as primeiras imagens. Logo aí terá começado a divisão
originária: Humano (cultura, artificial) vs Natureza. Aquele que e conhece a si próprio.
Contínuo vs. Descontínuo – Na natureza tudo é continuo. Nós é que começamos a
particularizar, a individualizar, a pará-las. A fotografia pára o que é continuo.

Inicio do materialismo.

A fotografia não cria apenas novas formas de comunicação, mas produz um olhar retrospetivo.

Conjugação entre a cultura e a natureza.

Fotografia e o espectral:

A fotografia é o que imortaliza. É o que revela os espetros (fantasmas) do real que não vemos.

Como diz Bazin, ‘’fixar artificialmente a aparência corporal do ser é retira lo do fluxo do tempo,
prendê-lo à vida’’.

Já as múmias no antigo Egito já satisfaziam uma necessidade fundamental da psicologia


humana: a luta contra o tempo – a petrificação.

A temática da morte.
A teoria de Balzac sobre sermos feitos de camadas de imagens fantasmáticas – a cada
exposição menos uma camada que era materializada na chapa fotográfica – a exposição total
aniquilaria o Homem.

Os fantasmas e o virtual, a realidade híbrida, o simulacro, etc.

O século XIX é ambivalente. Por um lado, está marcado pela racionalização. Por outro lado, é
caracterizado pelo "fantástico" e mesmo o fantasmático: "marionetas", "sombras", "duplos",
"sosias", "fantasmas", que começam a vaguear, primeiramente pela literatura, depois pela
fotografia e o cinema, e finalmente por toda a experiência.

Trata-se de uma mutação fundamental sobre as forças de ligação e de desligação, que


mostravam que algo de mais radical estava em causa: a transformação das relações entre
"metafísica" e "física", entre "visível" e "invisível", de que dependia toda a arquitetónica da
experiência ocidental.

A fotografia não só começou a transformar em seu objeto a totalidade das obras do passado e
a submeter a sua repercussão às mais profundas transformações, como também conquistou
um lugar entre os modos de produção artística.

Multiplicação da imagem (tal como a imprensa multiplica o livro) e o fim do culto.


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A MODERNIDADE ESTÉTICA

O cinema surgiu entre o séc. XVI e XVII na Alemanha.

Lanterna Mágica – tratava-se de um projetor que inicialmente não era mecanizado, utilizava
uma tela para projetar imagens semelhantes numa dinâmica seguida. Estas acontecem num
ambiente escuro, projetando uma "terceira realidade" – um espaço simultaneamente interior
e exterior, pois nos transmite uma ideia de ilusão e do fantasmático sobrenatural

 O cinema traz uma ideia de ilusão – ele não é verdadeiro nem fácil, pois mesmo que
esteja em movimento e que pareça verdadeiro, revela-se totalmente artificial
 Os irmãos Lumiére, associados à descoberta do cinema, disseram: "O humano é o
único ser capaz de acreditar e não acreditar ao mesmo tempo
 Existe um todo clima de fantasia no cinema, sabemos que não é real, todavia quando o
assistimos sentimos uma realidade que evencíamos
 Existe um sentimento de alienação: apresentava-se um desfasamento daquilo que era
transmitido para a mente e o próprio corpo (podia estar na sala de cinema e noutro
lugar qualquer)
 A alienação tem um grande desfasamento: a partir dos anos 20/30 e do primeiro
cinema que integrava a história e o som – questão das massas e do empobrecimento
da experiência cinematográfica
 O cinema é constituído por uma diferença de expressões, tais como: a música, artes
plásticas, teatro etc. apresenta uma sofisticação no século 18 e ele mesmo revela-se
como um conjunto de todas as outras expressões existentes - ele é uma arte completa
 O cinema é a primeira arte multimédia, ele é o nascimento da multimédia
Em 1889 Thomas Edison cria o Cinetoscópio, uma lente que permitiria ver o movimento.
Corresponde a uma experiência individual – em vez de ser realizado em espaço publico, estas
máquinas deviam ser comercializadas e adquiridas

Em 1835 os irmãos Lumiére criam o Cinematógrafo, uma câmara que permitia gravar e
reproduzir imagem. Para eles, o cinema devia ter uma função documental e realista da
sociedade – o objetivo da câmara seria devolver o "real”

Segundo Baudelaire, o Flâneur é uma figura que pode personificar o sujeito moderno.
Deambula pela cidade e emerge nas multidões. É uma espécie de explorador urbano. Faz dos
novos fluxos dos transportes mercadorias, horas de ponta, como terreno onde ele se sente
confortável e familiar. Sujeito errante, transeunte. O paradoxo do observador (mas distraído).

Tudo o que está a circular e a ser exposto à volta do sujeito não deixa de o convocar e de lhe
mobilizar a atenção; neste sentido, o flâneur é, ainda, um sujeito que encerra um certo sentido
de atenção. No entanto, a sua atenção é de tal forma mobilizada a todo o instante por toda
uma variedade de objetos que o flâneur não fixa aquilo que o envolve de forma estável e
monolítica; antes se perde naquilo que é transiente e fugidio ou nos detalhes que rapidamente
são substituídos por outros, como num fluxo que lhe apresenta os objetos para além do seu
próprio arbítrio.

Esta, segundo Benjamin, “efetua-se muito menos num estado de concentração tensa do que
sob uma pressão fortuita.”. Neste sentido, apesar da atenção que está implicada no ato de
observar, o flâneur já não pode resolver as tarefas do aparelho percetivo apenas pela via da
contemplação concentrada. O tato e o hábito entram também no gesto de uma perceção
progressivamente descentralizada. O flâneur move-se, tateia e age como um sujeito distraído
que circula labirinticamente pela cidade e, em particular, pelas galerias, deixando essa
“distração” formar os hábitos que conduzem o seu modo de existência urbano. O flâneur
abandona assim uma postura contemplativa e, determinado pela convergência das
arquiteturas modernas e daquilo que elas expõem, adquire uma visão múltipla e adjacente,
sobrepondo vários objetos, num mundo em que tudo está em circulação e tudo o convoca,
potencialmente, de forma simultânea.

Já havia nesta intensidade urbana uma espécie de fluxo de imagens que não conseguimos
parar. Uma espécie de cinema sem haver cinema, cidade como mundo de sonho, espécie de
delírio ou embriaguez que atravessa todos os que emergem na multidão. Prepara o sujeito
para a experiência cinematográfica e da experiência da vida urbana do séc. XX. Mundo em
modo mosaico com múltiplos pontos de vista, cheio de ligações, montagens e sobreposições.

Surge ideia da modernidade estética que assinala uma evolução para um mundo de inércias.

Walter Benjamin -"A obra de arte (...) reprodução técnica":

Vai concentrar as críticas de quem critica o cinema como forma artística diminuída/superficial.
Walter não vê nas massas um objeto passivo e rebanho, acredita na sua voz e na sua atividade
e força conjunta/coletiva. Benjamim via no cinema uma forma de arte para inúteis, que não
necessita de grande raciocínio ou desperta luz/esperança, inferior a outras formas de artes -
posição conservadora + questão do monopólio das artes. Walter elogia a distração, definida
como abertura e pré-disposição livre para recebermos algo de novo. A distração na obra cria
uma apropriação da obra e das suas emoções (antes presente na arquitetura) pelas massas.
Conseguir ultrapassar as dificuldades na distração cria um controlo sobre as mesmas, nova
perceção consciente.

Com a existência de pormenores é como o cinema fizesse um raio x do que é real, nada fica de
fora, as coisas ganham outra vida, o que aumenta a consciência do tempo que não volta para
trás. Cinema dá vida a coisas que não a tinham, no mundo fechado, sem esperança e sem vida,
pré-industrial. O real recebe inércia, fantasia e aventura = libertação da rigidez política e social.

Tese final:

O cinema não é apenas uma forma de recriação de uma narrativa através da combinação de
som e de imagens em movimento.

O cinema é uma arte total:

 Enquanto APARELHO – na medida em que se desenvolve tendo por base uma lógica
multimédia
 Enquanto DISPOSITIVO – na medida em que reflete ao mesmo tempo que determina a
experiência contemporânea (fragmentada, hiperligada, hiper estimulada).
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GLOBALIZAÇÃO E PLANETÁRIO

Possíveis configurações da globalização (não será um fenómeno exclusivamente


contemporâneo):

1. Cristianismo e Império Romano


2. Descobrimentos (e invenção da imprensa)
3. Instalação das tele tecnologias (da ubiquidade) a partir do final do século XIX
(telégrafo, telefone, rádio, televisão) e desenvolvimento do modelo capitalista
4. WWW e instalação da rede cibernética planetária

Como é que podemos contar uma história alternativa da globalização?

Tudo começou numa imagem: a imagem que se captou com a primeira saída da Terra, com a
conquista espacial, a primeira imagem exterior do Planeta – Missão Apollo 17, Blue Marble
(1972).

A ligação como desejo:

Com exceção de certos redutos, fomo-nos esquecendo dessa tal utopia universalista e
abraçando a versão da globalização – em grande parte despoletada pelos meios de
comunicação de massa: uma globalização que diz sobretudo respeito às configurações
culturais ligadas à economia de mercado global (1) e às Teletecnologia (2). Ou seja, entre duas
possíveis perspetivas culturais, a da globalização prevaleceu sobre a do universalismo e da
planetarização (a perspetiva que se centrará sobre as condições do próprio objeto Terra).

E aí se joga a questão da ecologia. A Terra surgiu como grande habitáculo, mas não deixa,
nesse momento, de continuar a ser vista como um grande depósito, uma grande reserva de
energias e de matérias para serem exploradas e rentabilizadas.
O COMPUTADOR

Em 1804, Jacquard cria um Tear têxtil que seria o primeiro sistema binário, o primeiro sistema
automatizado da história. O sistema era construído por um conjunto de cartões metálicos
perfurados ligados uns aos outros por aros, constituindo uma ‘’fita’’ continua que avançava,
cartão a cartão, sobre uma ‘’estação de leitura’’. Aí, um conjunto de agulhas metálicas caía
sobre os cartões. Essa combinação constituía um código binário para a execução de uma
operação. Este tear antecipa o computador. Seria a primeira máquina automática.

Por volta da década, no seculo XIX, há um movimento chamado de ludismo. Começa a surgir
uma espécie de medo de que as máquinas, mais cedo ou mais tarde, substituiriam não apenas
os trabalhadores, como os próprios sujeitos na sociedade. Os ludistas são os primeiros a
temerem as máquinas – Tecnofobia.

Nesta altura surge uma expressão muito popular acerca do ludismo: The Ghost in The Mechine.
Começa uma espécie de superstição teriam uma alma que funcionava para além do controlo
humano.

Em 1837, Charles Babbage cria a Analytical Machine, composta por cartões de memória que
permitiam perceber este sistema. Seria o primeiro computador da história. Permitia fazer
operações aritméticas, era uma calculadora, permitia, ao introduzir cartões, introduzir
problemas matemáticos. Era uma unidade de processamento – Primeira ideia de cérebro
eletrónico.

Para Charles, não basta apenas fazer uma divisão do trabalho. É importante a mentalidade,
mesmo ao nível do trabalho fabril (operário) deve ser promovida uma divisão por etapas do
trabalho mental. Se as cadeiras de montagem já faziam a divisão manual, física, do trabalho,
precisávamos de fazer a divisão mental. É por isso que surge esta máquina. Diferentes
capacidades deviam ser desenvolvidas. No surgimento desta máquina há uma relação íntima
entre computorização, otimização do trabalho e produção capitalista (produzir mais). A origem
do computador está ligada as empresas, não está ligada à criatividade. Não está ligada ao uso
pessoal.

Partimos para a década 40/50:

 Surgimento da informática (tratamento automático da informação).


 Meios de comunicação de massa (rádio, televisão e telefone).
 Ciência da Cibernética (Nobert Wiener)
 II guerra Mundial possui um papel importante:
 Sistemas de interceção da comunicação;
 Desenvolvimento de sistemas de codificação/descodificação de informação.
 Alan Tering e a MÁQUINA UNIVERSAL.

Surge o estudo das trocas de mensagens, sempre que são codificadas em números, devido ao
facto de, ao longo da segunda guerra mundial, os alemães e os ingleses utilizarem diferentes
tipos de codificação para enviar mensagens. Mais cedo ou mais tarde, independentemente da
língua vai haver uma língua universal, binária que vai circular. Os computadores são
instrumentos de descodificação e codificação - no futuro tudo será convertido.
Aquilo que até então seriam máquinas aritméticas, passam a chamar-se Máquina Universal
(uma coisa enorme, sem ecrã, saía uma folha com a informação), máquinas que processem
qualquer tipo de informação. Máquina multimédia destinada a todos os meios e não apenas
um em particular.

Na década de 40 surge o Memex (memória+índex) – Vannevar Bush, As We May Think (1945).


Consistiria numa secretária com três tipos de função: na parte esquerda havia algo que
fotografava. Na parte direita havia uma consola de comandos (conjunto de comandos) para
operacionalizar a máquina. E no meio havia interfaces que permitia haver aquilo que foi
digitalizado. Para ele, a máquina seria funcionária. Antecipa a ideia de que os computadores
conseguiam digitalizar aquilo que fosse necessário relativamente à escrita, à fotografia, à
imprensa - isto são técnicas de registo. Registo na parte da esquerda, controlo na parte da
direita, e meio o ecrã que tem acesso à informação. A Máquina podia digitalizar todos os livros
do mundo, e iam ser reservados num microfilme. Funcionava como um género de motor de
pesquisa, podíamos escolher qual o livro que podíamos ler, tal como o google. Isto não se
conseguiu concretizar, não passou de uma ideia. Mas seria a ideia próxima dos computadores
que temos atualmente.

Para Charles Babbage, os computadores deveriam estar apenas dispostos para as empresas,
enquanto Vannevar não, os computadores poderiam estar ao serviço de qualquer um.
Vannevar propõe uma máquina para uso pessoal (privatização do computador; critica ao
corporativismo, ao controlo da tecnologia) que pode mecanizar ficheiros privados e bibliotecas
pessoais. Mecanizada de forma a consultar rápida e facilmente esses arquivos.

Ideias que estão na base deste dispositivo:

 A capacidade humana de armazenamento e de organização já não é suficiente para a


quantidade de conhecimento produzido na época (meados séc. XX).
 Começou a projetar-se com nova consistência técnica a ideia de interface – nova
relação entre o sujeito e a máquina (interatividade) e inteligência artificial.

A ideia de interface nasce na década de 60:

Surge o Sketchpad (Ivan Sutherland, 1963), o primeiro computador gráfico, com ecrã. O meio
militar continua a ser o motor da evolução tecnológica. Surge no contexto da Guerra Fria, uma
guerra da informação: produzir conhecimento, armazenar conhecimento. Existia a disputa da
vanguarda tecnológica.

Nós inseríamos coisas na máquina e ela saia com essas informações. Utilizar os computadores
não apenas para a matemática, mas também para a geometrização- relação entre utilizares e
computadores. Este meio, consegue transmitir o meio real, o que está a acontecer. Os
computadores passam a demonstram gráficos, fotografias, etc. Pequenas interfaces que se
deslocam, que se abrem, tal como as janelas que conhecemos, atualmente, no computador. As
imagens estão ao alcance de todos. Tornar os computadores operacionais, com uma grande
quantia de pessoas aderir.

Há possibilidade de ligar os computadores através de uma rede – Internet.


As origens da internet são militares, é desenvolvida pela ARPANET (projeto do ministério
defesa Norte Americano, 1969). O que está aqui em causa é a sofisticação, não se trata apenas
de enviar os primeiros emails, era o envio à distância. Pouco tempo depois, passou a estar em
causa também aquilo que estivesse num computador estaria também noutro computador – os
arquivos que existiam num computador existiam também nos outros. Só nos anos 90, surge a
WWE (já vamos abordar). Podíamos partilhar ficheiros entre si. A ideia de que as coisas (as
imagens, os textos) não estão nos computadores, mas na REDE (rede geral e o computador é
apenas a interface de acesso).

Um brasileiro Paul Baran, desenvolve o conceito de rede distribuída (1962): “On Distribued
Communications Networks”. A rede só existe verdadeiramente se for distribuída. Se houvesse
um ataque à rede, ela ia abaixo. No ponto de vista bélico, podíamos atacar vários pontos da
rede. Para Baran, só é verdadeiramente pleno se for um modelo distribuído onde não haja
centro nem periferia. Não se chegou a concretizar.

Décadas de 70 e de 80:

 Primeiros computadores pessoais (PC)


 Apple II (1977)
 Macintosh (1984)

 Computadores Pessoais vs. IBM:

O computador seria uma máquina das grandes empresas. Na década, o computador é uma
grande arma, o seu impacto é muito grande. A IBM possui a perspetiva de que o computador é
tao poderoso que deveria continuar a estar nas mãos das empresas. Contra esse espírito
corporativista a Apple e Microsoft defendiam que os computadores deveriam servir também
para fins lúdicos, ou seja, eles podiam estar ao serviço da produção artística, do
entretinimento, do lazer, valências inúteis, não servirem para nada, apenas para a sua
diversão.

Década de 90:

 World Wide de Web – Tim Berners – lee. A realidade utilizada em rede é diferente.

Ciberespaço – é o espaço constituído pela informação e pela comunicação produzido pelas


tecnologias que geram esse espaço. Ligação de pessoas dispersas geograficamente (não existe
presença física); espaço público de troca e comunicação (mail, redes sociais, chats, websites…)

 As infraestruturas físicas e dispositivos de telecomunicações que asseguram as ligações


e a comunicação entre os sistemas em rede (ex: routers, servidores, satélites, ondas
eletromagnéticas)
 Sistemas computacionais e softwares associados que garantem a operatividade e a
conetividade da rede.
 Redes entre computadores (1950).
 Redes de redes (internet- 1960).
 World Wide Web (1993).
 Dados constitucionais/dados residentes (base de dados).
 Clouds.
‘’A terra será revestida por uma pele eletrónica’’

Internet of things – descreve um mundo com tantos dispositivos digitais que o espaço entre
eles consiste não em circuitos escuros, mas no espaço da própria cidade. O computador saiu
da caixa e os objetos comuns são portadores de sinais digitais. O relógio é um bom exemplo
disso. Relógios inteligentes tem contacto com os telemóveis.

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