Stella Adler - Técnica Da Representação Teatral
Stella Adler - Técnica Da Representação Teatral
Stella Adler - Técnica Da Representação Teatral
ISBN 85-200-0061-4
A VIDA É UM PALCO.
O PALCO É A VIDA
Enio Silveira
Técnica da Representação
Teatral
Stella Adler
TÉCNICA DA REPRESENTAÇÃO
TEATRAL
civilização • brasileira
Título original: THE TECHNIQUE OF ACTING
Copyrigbt © 1988 by Stella Adler
ISBN: 85-200-0061-4
1992
Impresso no Brasil
Printed iri Brazíl
Para meu pai, Jacob P. Adler,
e minha mãe, Sara Adler
AGRADECIMENTOS
Marlon Brando
15
to feliz por ter estado ligado a ela, pessoal e profissionalmen-
te, ao longo de toda a minha existência.
Alegra-me que ela se tenha disposto a escrever este livro
sobre a arte da representação teatral, onde contribui de modo
marcante para que compreendamos a essência dessa antiga e
aparentemente instintiva técnica de atuarmos diante de tercei-
ros, algo que, hoje, já sabemos refletir aquilo que na realidade
somos. Creio, até, que uns breves comentários sobre ele não
sejam descabidos.
A mais velha profissão do mundo, pensando bem, não é
a prostituição, mas a representação, e não se pense de modo
algum que essa lembrança seja pejorativa. É verdade elemen-
tar que todos nós lançamos mão de técnicas de representação
para alcançar quaisquer fins que desejemos atingir, quer se trate
duma criança fazendo beicinho por um sorvete, ou de um po-
lítico no curso de animada peroração, determinado a alcançar
os corações e as carteiras de possíveis eleitores. Estadistas do
mundo inteiro teriam carreiras divertidamente curtas sem o au-
xílio e a sábia aplicação dessa arte de representar. Em verda-
de, a persistência do conceito de que existe uma diferença en-
tre o atar profissional e nós, que representamos pelas nossas
necessidade diárias, constituiu um enigma. É difícil imaginar
que sobreviveríamos neste mundo sem sermos atares. A re-
presentação funciona como perfeito lubrificante social, além
de instrumento para proteger nossos interesses e levarmos van-
tagem em cada aspecto da vida.
Representar é um fenômeno fascinante da natureza huma-
na, e Stella Adler nos presenteia com uma análise incisiva e in-
teligente da técnica de atuar, que há muito tempo aguardáva-
mos. Espero que todos tenham tanto prazer em ler este livro
quanto eu tive.
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INTRODUÇÃO
o ATOR E A PROFISSÃO
GÔETIlE
17
inquietação incomparável na alma do atar, e é isto o que lhe
motiva o talento ser revelado.
Há mais de um século têm havido muitos estilos em lite-
ratura: Realismo, Expressionismo, Simbolismo e assim par dian-
te. Um autor tem muitos anos para explorar tais estilos, passa-
dos e presentes. O jovem atar deve fazer todas essas mudan-
ças de estilo virem à tona no presente. Para superar os obstá-
culos, o jovem atar de hoje pode contar com uma escola de
atuação, e este talvez seja o primeiro passo que o conduza à
profissão teatral.
Freqüentemente, o atar inicia sua carreira sem modelo al-
gum. Em outros períodos do teatro, o principiante era influen-
ciado por atares de grande talento. Ele entrava no palco tra-
zendo um germe e, desse modo, lentamente aprendia seu ofí-
cio através de peritos, como Salviní e Kean. Em tempos mais
recentes, as escolas de interpretação erammuitas vezes vincu-
ladas a teatros, e o ator acabava por tornar-se parte desse tea-
tro. Primeiro tornavam-se ateres - e então diretores e tam-
bém professores. O Teatro de Arte de Moscou é um exemplo
disso.
A história dos dramaturgos revela a amplitude de seu co-
nhecimento; muitos viajavam pelo mundo, entendiam de pin-
tura, literatura e música, e dessa maneira se preparavam para
escrever peças 'de mérito. E assim muitos escritores, cenógra-
fos e figurinistas têm uma linha direta com o passado cultural
que influencia solidamente seu trabalho atual.
Em nosso momento na história, não há critérios para o atar
e, muitas vezes, nem para o professor. Desde os anos 30, to-
das as regras sociais para o atar mudaram: seu comportamen-
to, a maneira de vestir, seu discurso, Todos esses fatos cria-
ram um individualismo em cada atar que dificulta a habilida-
de do professor para julgá-lo. Ele sabe que cada ator vem des-
pido de quaisquer valores, mas que, apesar disso, seu talento
pode estar latente, ,
O.ator de hoje precisa ser ajudado. Aqui, a influência do
professor é muito específica. Ele orienta o atar quando este
começa a trabalhar com idéias. O esclarecimento do texto, o
entendimento do personagem, do estilo, da linguagem, do rit-
mo da peça - estimulam o atar a experimentar a vida e o esti-
lo do dramaturgo.
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. Atingir esse despertar incentiva o ator a perceber que sua
alma, seu espírito e seu intelecto têm importância. Ser apenas
.um rapaz ou uma moça comum não basta. Não é suficiente para
o ator ser o que somos hoje, e, mais importante, isso não inte-
ressa à platéia.
O ator tem em si o consciente coletivo. É como se todo
o conhecimento e toda a sabedoria estivessem contidos em sua
mente. Através de sua vasta imaginação, ele herda a sabedoria
de seus ancestrais sem ter tido a experiência pessoal. O ator,
através da história, sempre teve uma compreensão profunda
e cósmica. O professor pode agora captar essa compreensão
e libertar a imaginação do atar. O ator pode então crescer e
aproximar-se da vida e do estilo de muitos dramaturgos mo-
dernos, desde Ibsen até o presente.
A imaginação do ato r agora absorve a vida do personagem.
Ele adquire a capacidade de lidar especificamente com a peça
e também com a moral, a ética, a educação, a vida familiar,
a vida sexual, a crença religiosa e a profissão do personagem.
Essa aproximação dá maior domínio ao ator e lhe permite se-
gurança interior. A união de seu espírito com sua profundida-
de interna é o caminho para essa independência na profissão.
Seu conhecimento dos seres humanos, herdado ou instintivo,
sempre virá em seu auxílio.
o IMPULSO DE REPRESENTAR
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Não será extravagante considerar que o ator, porque ele
é o intérprete, seja o elemento mais importante no teatro. E
dessa forma talvez não seja surpreendente que uma extensa
variedade de pessoas das mais diferentes condições, cujas qua-
lificações educacionais e conhecimentos tendem a variar am-
plamente, escolha a arte de representar como uma profissão.
Mesmo diferindo radicalmente em seus objetivos sociais, são
semelhantes em seu desejo de se tornar atores. Ao mesmo tem-
po que esse desejo incontrolável de representar os convence
de que podem atuar e que h-ão se tornar ateres, é provável que
tenham problemas ou bloqueios que tornem difícil o alcance
de suas metas, senão impossível. Timidez, insegurança e ten-
são são problemas freqüentes, assim como falta de disciplina,
desconhecimento de tradição e método e nenhuma consciên-
cia de controle corporal. Como almas perdidas, podem sentir-
se soltos no espaço, sem rumo definido, mas apesar disso a
ambição os lança ao palco.
Assim, vamos começar do início. Tentarei tornar tudo tão
claro quanto possível. Deixem-me começar dizendo que o sis-
tema de Konstantin Stanislavski é uma técnica de atuação e téc-
nicas sempre existiram, Porém a dele é a mais moderna, em-
bora tenha sido descoberta e formulada quase cem anos atrás.
A razão pela qual Stanislavski, o fundador do Teatro de
Arte de Moscou, criou uma nova técnica decorria duma ne-
cessidade teatral elementar: os estilos antiquados de represen-
tação não se adequavam aos novos tipos de peças escritas por
Tchekhov, Ibsen, Strindberg e outros.
Nos Estados Unidos, o sistema de Stanislavski começou
a ser conhecido simplesmente como "o Método". Por alguma
razão, seus ensinamentos rapidamente se tornaram distorcidos
na América. Não por todos os atores, mas por muitos. Colu-
nistas mexeriqueiros e redatores de revistas favoreceram essa
interpretação errônea a tal ponto que o freqüentador comum
de teatro deve ter pensado que a profissão fora inventada por
um bando de atores inarticulados - e freqüentemente debi-
lóides - exigindo seus "sentimentos reais" mesmo quando
estes nada tinham a ver com o autor ou seus personagens.
Após ter atuado e dirigido no teatro americano, tive a opor-
tunidade de estudar pessoalmente com Stanislavski em Paris,
em 1934. Fui muito estimulada por isso. E quando retornei
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aos Estados Unidos, quis repartir essa extraordinária experiência
com outros ateres americanos.
Enquanto continuava a atuar, comecei a ensinar e dirigir,
tentando corrigir a confusão que fora feita a respeito das teo-
rias de Stanislavski. .
A arte de ensinar deve ter um alicerce forte. Meu ensino
era e é baseado não apenas nas idéias de Stanislavski, mas tam-
bém num sistema natural que está ao alcance de todos. Atuar
é um trabalho obstinado, necessitando de atenção constante
e de planejamento rigoroso. Não é algo para gênios. É para pes-
soas que trabalham passo a passo. Embora não haja propria-
mente uma receita para atuar, deve-se seguir uma seqüência
de princípios. As idéias e exercícios que exporei podem servir
ao pretendente de ator e lhe dar a coragem de lutar por seu
desenvolvimento técnico e profissional.
Antes de tudo, e+e deve se ver como um artista, identifi-
cando e superando seus erros.
É natural que o jovem ator comece deforma errada. O
ceticismo da vida cotidiana e o abandono de ideais artísticos
criam um ambiente de irreverência. Má educação e pequenês
de padrão e objetivo são os produtos de nossos tempos. Pare-
ce mais difícil para, o ator contemporâneo se disciplinar do que
para os ateres de gerações anteriores. Os atores freqüentemente
surgem. despedaçados física e emocionalmente. Por esse mo-
tivo, seu relacionamento com a vida se vê completamente amor-
tecido. Parece que não têm idéia alguma de onde estão ou pa-
ra onde estão indo-Porém, há uma necessidade básica nos se-
res humanos qu.e:' os leva a querer expandir suas personalida-
des. Existe um sinal de vida que quer progredir. Esta centelha
deve ser mantida viva. Com muito esforço, o ator pode pro-
gredir e transformar-se gradualmente, partindo da insensibili-
dade e do vazio para a maturidade estética dentro de um pé-
ríodo de tempo relativamente curto. O mais importante é que,
com treinamento apropriado, ele pode estender imensurável-
mente seus talentos, criando uma nova penetração e alcance
das funções cênicas.
No palco, espera-se que o ator faça mágica. Ele precisa criar
um personagem que cative as platéias noite após noite.
Os espectadores vão aos teatros por uma única razão: pa-
ra se divertir e se aprofundar na condição humana - para se-
rem surpreendidos, para terem uma experiência artística.
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Mais do que qualquer outra coisa, é tarefa do ato r pene-
trar nas criações do dramaturgo - nas sutilezas e mistérios que
as idéias dele possam conter.
a primeiro conceito que um ato r precisa dominar é bem
simples: atuar significa a eliminação de barreiras humanas. Ele
deve derrubar as paredes entre si mesmo e os outros atores.
Isso lhe dará uma sensação de liberdade no palco.
a ator dá provas de uma generosidade especial ao sugerir
à platéia:
"Vou dar-lhes idéias."
"Vou dar-lhes prazer."
"Vou dançar para vocês."
"Vou expor-lhes as dores do meu coração."
Tudo isso é uma forma de talento artístico, de dar de si.
É um caso de amor com a platéia. Porém, para levar adiante
esse caso de amor, ele deve começar a pensar e atuar de novas
maneiras.
Há uma diferença entre a verdade da vida e a verdade do
teatro. E é preciso aprender a não confundi-las. Devemos apren-
der como nos expressar com intensidade, quando expressar-
mos idéias épicas do autor. A razão para isso é que "o Homem
é eterno", e ele estará eternamente debatendo com idéias. a
ator é uma parte dessa luta eterna e tem de se entregar a ela.
No século XX, já que nossa linguagem é tão moderna, não sen-
timos nossas palavras. Nossas idéias não são postas em pala-
vras que interessem às pessoas.
Vivemos num tempo em que é difícil comunicar idéias.
Todavia, o ator deve comunicar-se no mais elevado nível.
Ele deve ser o senhor de palavras e idéias.
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Técnica da Representação
Teatral
CAPÍTULO UM
As Metas da Atar
25
/
MÉRITOS DEFICIÊNCIAS
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viver, .de crescer como artista. Isso lhe impõe uma força espe-
cial, uma nova disciplina e autoconsciência. Deve saber o que
quer e ter a coragem de prosseguir.
É importante dizer em voz alta: "Eu sou eu mesmo
e tenho minhas próprias normas".
27
CAPÍTULO DOIS
ENERGIA
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EXERCÍCIO 1
ALCANÇANDO A PLATÉIA
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rante os ensaios e posteriormente em sua execução. Estar num
palco requer energia. Comunique-se com seu parceiro sem con-
tê-la. A comunicação salvará sua vida.
TENSÃO
EXERCÍCIO 2
CONTROLES FÍSICOS
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Como um atar é chamado a interpretar muitos tipos dife-
rentes de pessoas, você deve aprender a controlar seu corpo
de modo a que. possa executar movimentos a que não esteja
habituado e desenvolver maneiras diferentes de andar que com-
binem com o personagem que está interpretando. A técnica
para fazer isso é estabelecer alguma alteração física em seu corpo
- um joelho rígido, por exemplo, ou uma corcunda - e lo-
calizá-la, bem como os músculos que a sustentam e controlam.
EXERCÍCIO 3
EXERCÍCIO 4
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Você deve estar convencido da verdade do que estejafazen-
do. Deve aprender a viver constantemente com tal controle e
também aprender a esquecê-lo. Ele deve passar a ser sua segun-
da natureza para que você fique totalmente inconsciente dele.
O controle de seu corpo e de sua voz dependem de você.
É uma tarefa trabalhosa tornar-se ato r. Quando estudei com
Stanislavski em Paris, ele quase nunca me podia receber de ma-
nhã porque todos.os dias, durante duas horas, trabalhava sua
voz na tentativa de superar uma leve tendência de ciciar. Sta-
nislavski tinha 71 anos nessa época.
DOMÍNIO DA FALA
Cicios
Para causar a impressão de cicio, ponha a língua atrás dos
dentes e fale a seguinte sentença:
c 'Era uma moça muito sedutora e chamou a atenção dos
EXERCÍCIO 5
Pratique cicios.
Sotaques
Para adquirir sotaques:
1. É aconselhável escolher uma vogal e duas consoantes do idio-
ma que se pretende trabalhar.
2. Para sotaques regionais e idiomatismos, queremos que exerça
esse controle e o pratique na sua vida diária até poder viver
com ele.
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EXERCÍCIO 6
MEMÓRIA MUSCULAR
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A realidade que você cria no palco ao enfiar uma linha na
agulha e costurar, ou limpar seus óculos e colocá-los, não é
gerada para que a platéia acredite em você, mas a fim de que
você acredite em si próprio. A atuação teatral ocorre quando
você mesmo está convencido da verdade do que está fazen-
do. Esta é uma das essências do realismo, e ela é aperfeiçoada
fazendo-se coisas muito costumeiras.
Você aprenderá, a partir desses exercícios, a usar a verda-
de sensorial da memória muscular.
EXERCÍCIO 7
EXERCÍCIO 8
EXERCÍCIO 9
Há cola em sua mão. Use uma mão de cada vez, lave-a e veja
se cada dedo está limpo da cola imaginária.
MOVIMENTO ANIMAL
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EXERCÍCIO 10
EXERCÍCIO 11
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CAPÍTULO TRÊS
Imaginação
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CONSCIENTE COLETIVO
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ginar rapidamente. Em exercícios para estimular a imaginação,
procuro pelas reações instantâneas dos atores a quaisquer ob-
jetos com que estiverem trabalhando. Para a imaginação vir
depressa, tudo que o ator precisa fazer é deíxá-Ia acontecer.
EXEMPLO:
• A camisa nova - qual era sua cor?
• Em que posição se encontrava?
• O que estava debaixo da camisa?
• A gravata - de que cor era?
II Qual era a largura da gravata?
EXERCÍCIO 12
EXERCÍCIO 13
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6. Veja um carrinho com sacolas de supermercado.
7. Repare na cor do carrinho.
8. Uma criança está pulando corda.
9. Olhe para o sapato que ela calça.
10. Olhe para o homem que está puxando o carrinho.
11. Veja de que maneira ele está vestido.
Se os ateres puderem acompanhar as imagens e criá-las,
terão um esboço da rua. Desenhe-a num pedaço de papeL Nessa
espécie de cena imaginária, eu sou seu autor e você me seguiu
com a imaginação.
EXERCÍCIO 14
VENDO E DESCREVENDO
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c Uma macieira
• Uma cerca de madeira
•. Um cavalo e uma carroça de madeira
Você deve gravar vividamente as imagens, e com preci-
são, antes de poder descrevê-las. Só então poderá transmiti-
las e fazer seu parceiro ou a platéia sentir o que você viu.
Mantenha os olhos abertos e assimile tudo visualmente.
Ao descrever alguma coisa, você deve vê-la de fato. A diferen-
ça entre relatar e assimilar uma imagem e saber transmiti-la é
o que faz de você um artista. Todos os dias você se alimenta
das coisas reais que estão em torno de você. Por outro lado,
numa peça teatral você se apoia numa situação imaginária, e
sua responsabilidade é tornar real tudo que se ligue a ela.
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EXERCÍCIO 15
EXERCÍCIO 16
Ver Especificamente
Descreva uma pedra.
Esta pedra é minha, apanhada no parque.
"Eu vi uma grande pedra no parque. Era cinza e sua su-
perfície era irregular. Em torno dela havia grama, porém alguns
trechos já estavam mortos e amarelecidos."
Para tornar a pedra mais vívida para seu parceiro, você am-
plia o que vê. Não use palavras decorativas.
Agora, dê-me a sua pedra.
EXERCÍCIO 17
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Se eu falo sobre uma rosa, a imagem da rosa é bem espe-
cífica.
"Eu vi uma rosa. É vermelha e amarela e tem um longo
talo verde com espinhos."
Agora a rosa não é apenas um fato. Requer uma certa ener-
gia fazer seu parceiro ver o que você vê. Não basta que só vo-
cê veja. Faz parte de sua técnica transmitir essas imagens ao
parceiro.
EXERCÍCIO 18
Ver Rapidamente
Certos exercícios possibilitam ao ator fortalecer sua capacidá-
de de olhar. Um deles, muito conhecido, é sobre concentração:
Vá à seção de verduras num supermercado.
1. Veja tudo que puder em dez segundos.
2. Anote num papel o que você viu.
Olhe para seu parceiro ou parceira.
1. Veja tanto quanto puder em cinco segundos.
2. Vire o rosto.
3. Anote o que ele ou ela está vestindo.
Olhe ao redor da sala.
1. Conte até cinco, olhe para longe.
2. Cite dez objetos que você observou.
EXERCÍCIO 19
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EXERCÍCIO 20
EXERCÍCIO 21
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EXEMPLO:
A maior parte do tempo, somos indiferentes ao que vemos.
• Isto é uma mesa.
• Isto é uma cadeira.
• Estas são abelhas.
Ao fazer isso, banalizamos a vida.
EXEMPLO:
Um homem e sua mulher estão juntos numa viagem.
Ele poderia dizer: "Meu Deus! Aquela é a Notre Dame!".
Ela responde: "Sim, eu sei."
• Ele vê a magnífica arquitetura de Notre Dame.
• Ela vê o fato.
Eles estão vendo a catedral de formas diferentes.
Como atares, vocês devem compreender que cada item
que vêem é especial. Vocês devem estar atentos a tudo que
vejam e, com isso, devem tornar cada coisa viva, a fim de que
possam transmiti-la ao seu parceiro.
Vocês não deveriam usar palavras em demasia, mas somen-
te aquelas de que gostam. O sentimento evocado pela descri-
ção é mais importante do que a própria descrição.
EXERCÍCIO 22
EXERCÍCIO 23
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2. Veja cinco diferentes brancos, azuis, etc.
Cada cor é relacionada com um objeto, isso é o que a tor-
na viva para você. .
À noite, antes de dormir, anote o que viu durante o dia.
EXERCícIO 24
Imagine:
1. Um menino sendo surrado por um policial.
2. Uma multidão que está quebrando vitrines.
3. Um carro onde as pessoas feridas estejam sendo remo-
vidas pela polícia.
Use sua imaginação. Essas situações exigem fortes reações.
Alguns atores se contêm e não reagem. Os ateres devem,
conscientemente, escolher coisas que os façam reagir. Na sua
escolha está seu talento. Atuar está em tudo, exceto em pala-
vras frias.
Freqüentemente um atar protestará: "Tenho medo de for-
çar-me." Ele está com medo de violentar suas emoções, de ex-
pressar mais do que a ocasião e as circunstâncias pedem. Eu
digo a você, não force, mas seja capaz de deixar acontecer. Nós
fomos muito amortecidos pela televisão. Se sua relutância em
se forçar inibe suas reações, você está receoso demais de ter
sentimentos. Se você abafar seus sentimentos por muito tem-
po, acabará por eliminá-los. Em vez de ter uma honestidade
falsa, eu preferiria que você fizesse um esforço extra.
De agora em diante seu trabalho o conduzirá a viver com
imaginação. Você verá e atuará em circunstâncias imaginárias.
Não será difícil se você aceitar que tudo que se imagina é ver-
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dadeíro. A função do atar é desinventar a ficção. Se você pre-
cisa de um limoeiro mas nunca viu um, terá que imaginar al-
guma espécie de limoeiro. Você o aceitará como se o tivesse
visto. Você o imaginou, portanto, ele existe. Qualquer coisa
que passa pela sua imaginação tem o direito de viver e tem sua
própria verdade.
EXERCÍCIO 25
EXERCÍCIO 26
46
Pergunte-se:
1. Qual era a altura da grama de ambos os lados da alameda?
2. Como era feita a ponte?
3. Onde estão os girinos?
4. Descreva os tênis.
5. A toalha de mesa.
O que você viu é agora inteiramente seu.
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o atar é como um escritor, cheio de impressões que o ins-
piram. Ele não anda por aí como um funcionário desocupado,
dizendo: "Vou comer bacon. e ovos." Quando o atar compra
bacon e ovos, ele vê:
• A garçonete
• A mesa
• O restaurante em sua ativídade agitada
O atar assimila tudo. Ele é capaz de ver que:
o O piso está sujo.
• A mesa não tem mancha.
• O café está fraco.
• Ninguém está realmente prestando atenção em ninguém.
• Todos estão com pressa.
Ele não está lá apenas para comer, pagar sua conta e ir em-
bora. Ele é capaz de viver lá, prestando atenção, vendo, en-
tendendo e até dizendo: "O que é isto? Em que tipo de lugar
estou eu?" - da maneira como faz um pintor ou escritor.
Ao fazer esses exercícios, sua segurança aumentará. Você
se sentirá enriquecido pela compreensão de que pode experi-
mentar qualquer coisa. Você precisa tornar-se independente,
e a habilidade que adquire através desses exercícios lhe dará
confiança e grandeza para alcançar essa independência.
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CAPÍTULO QUATRO
Circunstâncias
A VERDADE DO LUGAR
49
para o texto, é imperativo que ele se locomova fisicamente nas
novas circunstâncias e use-as. Por exemplo:
• Sentando no sofá.
• Abrindo uma porta.
o Olhando por uma janela.
Até que essa facilidade seja adquirida pelo ator, ele estará
perdido.
O tempo que ele leva para se acostumar ao cenário, que
é agora uma sala ou um jardim específico, dará a ele o relaxa-
mento, o senso de verdade e a autoconfiança necessários para
se iniciar num novo texto.
Se os atares não estiverem confortáveis no espaço, não
poderão trabalhar. A menos que possam obter o comportamen-
to relaxado que lhes permitirá ver os objetos que pertencem
ao ambiente e reagir a eles, estarão perdendo seu tempo. Os
atores devem familiarizar-se com as circunstâncias.
Stanislavski disse: "A verdade na arte é a verdade das cir-
cunstâncias do ator". Circunstâncias é o termo que gostaría-
mos que você usasse como parte de vocabulário da atuação.
"Onde estou?" é a primeira pergunta que você se deve fazer
quando vai para a cena. Andar no palco para localizar o cená-
rio imaginário faz você se sentir em casa e também retira a ten-
são da representação. O relaxamento vem do seu reconheci-
mento da veracidade das circunstâncias. Em cena, você nun-
ca está realmente em circunstâncias semelhantes à vida, mas
tem que aceitá-las como se fossem.
Em muitos casos, o atar fica tenso porque recorre primei-
ramente às palavras.
As palavras não fazem a peça. Você deve entender que a
primeira regra é aceitar as circunstâncias que o dramaturgo lhe
dá como a verdade. Se você trabalhar por vinte anos uma pe-
ça sem conhecer suas circunstâncias, fracassará. Se você par-
tir primeiro para as palavras, não será um ator moderno - se-
rá apenas um mau ator. Como um ator, você está sempre em
circunstâncias dadas. A responsabilidade de preencher esse lu-
gar é sua. Tire a ficção das circunstâncias ao deixar o lugar lhe
dizer o que fazer.
A absorção completa do ato r nas circunstâncias tem um
outro enorme benefício. Se você prestar atenção às circunstân-
cias,..,não tomará conhecimento da platéia e não se preocupará
50
com as pessoas que o assistem: Sevocê as ignorar completamente
e apenas prestar atenção no que está fazendo, elas o amarão.
Se você atua de fato, a satisfação está na execução. Se você
aceitar as circunstâncias da peça e os parceiros com quem tem
que lidar, a platéia estará completamente ao seu lado. O ator tem
muito mais prazer vivendo em suas circunstâncias dadas do que
a platéia tem em assistir. Qualquer bom ater que está no palco
e tem consciência do que seja experimentar as circunstâncias,
não trocaria essa experiência por nenhuma outra.
EXERCÍCIO 27
51
de experimentar as circunstâncias. Você não deve tomar a si
mesmo e pôr isso em Hamlet. Hamlet é um príncipe da Dina-
marca. Por esse motivo, a verdade do personagem não se en-
contra em você, mas nas circunstâncias da posição real de Ham-
let, personagem que você está representando. A ação de Ham-
let - decidir entre viver ou morrer - tem que ser posta nas
circunstâncias dele, não nas suas. A verdade é sempre a verda-
de nas circunstâncias do personagem.
EXERCÍCIO 28
EXERCÍCIO 29
EXERCÍCIO 30
52
CONSTRUINDO CIRCUNSTÂNCIAS MAIS AMPLAS
53 '
CAPÍTULO CINCO
. Ações
Existem ações fortes e fracas. Para ser forte, uma ação necessi-
ta de um fim ou objetivo. Por exemplo, vou sair do quarto.
O quarto é o fim de ação e o fim a torna forte.
Vou escrever. Esta é uma ação sem um fim e, portanto,
fraca. Se sua ação é "ir embora", ela é mais fraca que "ir para
casa" .
54
.t}çÃO FORTE AÇÃO FRACA
55
Mas você não sabe como fazer. O como é espontâneo e
inesperado. A ação nunca inclui o como.
EXEMPLO:
Ação:
• Limpando o escritório. o que você está fazendo?
• Sala particular num Onde você está fazendo?
apartamento
• Nove horas da manhã Quando você está fazendo?
• Dois clientes estão vindo Por que você está fazendo?
para um encontro.
56
EXEMPLO:
Ação: Acender um Fogo
Atívtdades:
• Pegar madeira.
o Conseguir tiras de papel.
• Obter líqüido inflamável.
EXEMPLO:
Ação. Jantar
Atividades:
o Passar a sopa.
o Cortar as verduras.
o Misturar o molho .
. Uma vez que tenhafísícalízado essas ações (nos exem-
plos acima), a ação total será passar a noite em casa.
57
EXERCÍCIO 31
AÇÃO ETAPAS
Ir para o trabalho Etapa 1. Vestir-se (As atividades ou
natureza da ação são):
Atividades:
a. Trocar os sapatos.
b. Colocar os brincos.
c. Arrumar a bolsa.
Etapa 2. Tomar o desjejum.
Atividades:
a. Colocar o pão na torradeira.
b. Preparar café na cozinha.
c. Preparar os cereais.
Etapa 3. Arrumar minha pasta de
negócios.
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Atlvidades:
a. Pôr a correspondência em ordem.
b. Examinar a pasta de papéis do
advogado.
c. Assinar cartas.
Suas etapas são extraídas da ação. Detenha-se na ação
- alimente-se dela.
EXEMPLO:
AÇÃO ETAPAS
Preparar-se para Etapa 1. Reunir minhas roupas.
uma festa. Atividades:
a. Escolher um vestido.
b. Escolher um par de sapatos.
c. Escolher uma bolsa.
Etapa 2. Preparar as bebidas.
Atividades:
a. Pegar as garrafas de licor.
b. Pegar o gelo.
c. Pegar os copos.
Tudo isso fará parte da natureza de "preparar-se para
uma festa". Tente não escolher mais que três atividades.
EXERCÍCIO 32
59
FISICALIZANDO (FAZER ALGUMA COISA FÍSICA)
EXEMPLO:
a. Ação: Ir ao teatro.
(Você perdeu seus ingressos.)
Você não pode completar sua ação. Você muda para uma ação
alternativa.
b. Açãoe Passar a noite em casa.
EXEMPLO:
a. Ação: Tomar banho.
60
(Não há água quente.)
Você não pode completar sua ação.
b. Ação: Vestir-se.
EXEMPLO:
a. Ação: Ir ao teatro.
(A campainha toca.)
A ação é interrompida.
b. Passe para a ação de receber sua visita.
c. Volte para a ação original de "ir ao teatro".
A vida pode intrometer-se na sua ação.
EXEMPLO:
Ação: Estudar anatomia.
A vida se intromete na ação.
- O telefone toca.
- Você fecha a janela.
- Você desliga o rádio.
-Você acerta o relógio.
- Você pega uma xícara de café.
Sempre retorne à sua ação de estudar anatomia.
EXEMPLO:
Ação, Preparar café.
- O carteiro toca a campainha.
.. O telefone toca.
- O inspetor quer checar as luzes.
- O cachorro está arranhando a porta para sair.
Continue a ação de prepàrar café.
61
EXEMPLO:
Ação: Ler na varanda.
• Afaste sua cadeira do sol.
• Coloque água nas flores da mesa.
• Pegue uma caneta sobre a mesa.
• Fuja das abelhas que estão a sua volta.
EXEMPLO:
Entrando:
• No escritório Pegue a correspondência ao passar.
Guarde os óculos.
Use a chave para abrir o escritório.
• No quarto Tire o cachecol.
Recoloque a chave na carteira.
Leia nome e endereço numa carta.
• Na sala-de-aula Tire o casaco,
Tire as luvas.
Arrume os papéis da aula.
62
EXERCÍCIO 33
DaRE MORTE
Mais cedo ou mais tarde, seu trabalho no teatro irá exigir que
você expresse dor ou choque, ou você será ferido e terá que
morrer à vista da platéia. São ações que não podem ser experi-
mentadas díretamente no palco e para as quais você precisa
de esforço. Nesta técnica as palavras "como se" são usadas para
estimulá-lo.
EXERCÍCIO 34'
Dor
Se o personagem tem uma terrível dor de cabeça, você, como
ator, deve localizar onde é a dor de cabeça. O meio de poder
imaginar que ela existe é "como se"
1. Alguém estivesse apertando seu globo ocular.
2. Você estivesse fazendo um buraco em seus olhos.
3. Eu estivesse enfiando uma agulha no seu olho.
4. Eu estivesse derramando álcool nele para limpá-lo.
Você não deve buscar a reação. Ela deve vir imediatamente
da imagem mental, e você deve escolher uma imagem que o
afete instantaneamente de modo que a reação possa sobreviver.
63
EXEMPLO:
Se você tem uma terrível dor de dentes:
• Localize a dor e então é "como se" alguém estivesse ras-
pando suas gengivas com uma gilete.
Morte
Se você recebe um tiro, deve situar o lugar onde foi ferido;
pode então cair para frente ou saltar com o baque. A reação
de John Barrymore ao receber um tiro em cena foi dar um sal-
to de 90cm no ar. A ação de dormir está próxima à de morrer
- o abandono da consciência. Você começa a perder vida, per-
der o mundo. Primeiro a vontade não está mais sob controle.
Você tenta estender o braço, mas não consegue. Continua a
respirar, mas não pode mais se mover. Os sentidos começam
a abandoná-lo - audição, visão, paladar; então o cérebro morre
e o coração pára. Ao morrer, você experimenta esses estágios
sucessivos de perda até que você tenha partido.
EXERCÍCIO 35
I - ENREDO:
Estourou uma revolução num povoado da América Latina, onde
um hospital para crianças está sendo atacado. Um tiroteio po-
de ser ouvido. Um funcionário americano do Corpo da Paz deve
cruzar as linhas inimigas para conseguir suprimentos médicos
porque as vidas das crianças estão em perigo.
64
OBJETIVO: Salvar as crianças.
II - AÇÃO: Obter socorro.
III - ETAPAS:
Etapa 1. Escapar, cruzando a fronteira.
a. Passar pelo fogo inimigo.
b. Um pântano com cobras venenosas deve ser
atravessado.
c. Superar barreiras de arame farpado e a den-
sa vegetação rasteira.
Etapa 2: Abrigar-se numa cabana de taipa.
a. Ler a lista médica suja de lama.
b. Afastar o arame farpado de sua perna.
Etapa 3: Pedir socorro por sinais.
a. Agitar uma bandeira.
b. Ferir-se em fogo cruzado.
c. Lutar contra a morte.
O propósito desse exercício é mostrar a você como usar
sua habilidade e técnica para trabalhar em circunstâncias difí-
ceis e variáveis e seguir o enredo do começo ao fim antes de
começar a trabalhar no personagem.
• Cada ação deve ser representada verdadeiramente.
• Você deve deslocar-se através de circunstâncias variáveis.
o Tudo que você faz ou pensa deve ser justificado com clareza.
EMOÇÃO
65
soal você teve uma ação semelhante à qual correspondeu uma
reação emocional. Volte à ação e às circunstâncias específicas
em que esteve e lembre-se do que fez. Se você recordar o lu-
gar, os sentimentos voltarão.
Se o ator tem que rezar para Zeus e considera isso difícil,
pode dizer: "Alguma vez na vida, eu orei", voltando então à
sua própria vida em busca da ação "orar", que implica pedir
socorro. Se ele chegar a esta ação através da sua própria vida
e suas circunstâncias pessoais,' deve tirar dela somente o seu
lado realizável: "Pedir socorro". Uma vez que ele saiba o que
é realizável na ação de orar, deve voltar imediatamente para
as circunstâncias da peça e erguer as mãos para Zeus ou Buda.
Se o ator constrói os antecedentes da peça e justifica a ação
de estender as mãos, porque as crianças estão morrendo, não
têm água, suas línguas estão inchadas, haverá o suficiente para
dar a ele a ação de estender as mãos ou "orar".
O lado físico da ação "orar" é "estender as mãos". Usar
uma ação de seu passado é a única maneira em que ele pode
ser trazido para a peça. Permanecer com seu passado pessoal,
que o fez chorar ou que lhe causou tão grande emoção, é fal-
so, porque você não está naquelas circunstâncias agora. Você
está na peça e são as circunstâncias da peça que têm de ser rea-
lizadas verdadeiramente, tomando emprestado da ação que vo-
cê teve no passado apenas o que era físico, não a emoção.
66
CAPÍTULO SEIS
Justificação
Antes vem a ação, depois uma razão para executá-la: essa ra-
zão chama-se justificação. Encontrar razões para tudo o que
você faz no palco mantém suas ações verdadeiras. A justifica-
ção, a parte criativa de seu trabalho, é o que o alimenta no
teatro.
A justificação não está nas falas; está em você. O que vo-
cê escolhe como sua justificação deve estimulá-lo. Como re-
sultado desse estímulo você experimentará a ação e a emoção.
Se você escolher uma justificação e não sentir nada, terá que
selecionar alguma outra coisa que o desperte. Seu talento con-
siste em quão bem é capaz de optar por sua justificação. Na
sua escolha reside seu talento.
A justificação pode ser feita de muitas maneiras. Vamos
começar com a justificação imediata.
JUSTIFICAÇÃO IMEDIATA
67
EXEMPLO:
Por que você está abrindo a janela?
• Houve um estrondo lá fora.
• Para pegar ar fresco.
Por que você está fechando a janela?
• O abajur estava balançando.
• Para manter as moscas lá fora.
Por que você fechou a porta do camarim?
• Eu estava trocando de roupa.
• A dobradiça estava frouxa.
• Eu precisava da pedra que a estava mantendo aberta.
• Para surpreender as pessoas com meu novo traje.
• Para impedir que a música do ensaio entrasse.
No último exemplo, as cinco respostas servem como uma
justificação espontânea para a ação de fechar a porta. Mas vo-
cê não pode dizer: "Fechei a porta porque havia um ator no
hall que eu não queria ver". Este é um exemplo do que cha-
mamos ficção contribuindo com a justificação. Uma pessoa so-
bre a qual você não sabe nada foi trazida desnecessariamente
ao caso, e a justificação imediata saiu pela janela.
EXEMPLO:
Por que você está se vestindo?
• Estou me trocando para o segundo ato.
• Para ir à formatura.
o Para tomar parte na festa dos vizinhos.
68
Mas você não pode dizer: "Estou batendo na mesa por-
que estou com raiva." Isto é inventar alguma coisa dentro de
si; você não pode recorrer às emoções para a sua justificação.
Não introduza uma reação emocional extra porque você não
a tem. Antes, você deve partir para as circunstâncias imedia-
tas, para uma atividade que seja imediatamente realizável.
EXEMPLO:
Por que você está. abrindo a gaveta da cômoda?
• Para pegar um lápis.
• Para tirar minha chave.
• Para pegar selos de correio.
• Para verificar se o pegador da gaveta foi consertado.
Cada justificação deve ter uma lógica: Você abre uma ga-
veta para pegar lápis e papel de carta para escrever. A justifica-
ção deve continuar todo o tempo; é a fonte original que o des-
perta para a ação.
Você poderá visualizar isso se, fora do espaço de ensaio,
nós criarmos um jardim com árvores e um lago natural. Se lhe
forem dadas duas ou três coisas para fazer ao redor do jardim.
e do lago, você deve justificar cada ação. Praticando a justifi-
cação imediata, você deve lidar somente com as circunstân-
cias à sua frente.
Ação, Passar a tarde no jardim.
"Vou trepar numa árvore."
Essa afirmação, descrevendo uma ativídade sem um obje-
tivo interno, não é o bastante.
"Vou trepar numa árvore para colher uma maçã."
Agora nos foi dada a justificação. Os atores freqüentemente
são tentados aexpandir a razão ao dizer: "Vou trepar numa
árvore para colher umas maçãs que darei a meus amigos." Os
amigos foram trazidos desnecessariamente para a cena à qual
não pertencem. Você pode dizer: "Quero trepar na árvore pa-
ra colher uma bela maçã suculenta que seja boa para comer."
Agora a maçã começa a adquirir a vida da situação. Dizer que
você quer dar umas maçãs para seus amigos é simplesmente
um enredo falso. .
Tente algumas outras atividades nesse jardim com lago.
Por que você põe sua mão na água? Muito simplesmente para
salvar uma borboleta. Continue dentro das circunstâncias, e
você descobrirá o que mais pode fazer.
69
EXEMPLO:
Por que você limpou sua mão com um pano?
• Eu quero passar o bronzeador.
Por que você se dirigiu para a cadeira?
• Não porque você está cansado e quer sentar-se. Isto é men-
tira. Em vez disso, você se dirigiu até a cadeira para pegar
uma toalha.
Por que você está. estendendo sua mão direita?
• Não para pegar fósforos, dos quais você não precisa.
Ao invés disso, apanhe alguma coisa necessária quando se
está ao sol, como óculos escuros, por exemplo.
A finalidade é continuar com lógica dentro das circuns-
tâncias particulares de se passar a tarde no jardim.
EXERCÍCIO 36
70
JUSTIFICAÇÕES MAIS CRIATIVAS
EXEMPLO:
o Por que você está lendo o livro?
O livro explica a técnica de atuar.
• Por que você esta consertando a cadeira?
Ela é antiga e posso dá-la a um museu.
o Por que você está tirando um sapato?
Precisava estimular a circulação nos meus dedos.
EXEMPLO:
• Estou fechando a janela porque o vento estava derru-
bando os guardanapos da mesa.
• Estou fechando a porta para não ouvir o barulho dos
pratos.
• Estou abrindo a porta porque falta o número nela e os
convidados não saberão onde entrar.
Escolha justificações que o façam reagir imediatamente,
pois você deve realmente acreditar no que está dizendo. Atra-
vés da justificação você tem uma situação real no teatro por-
que está dando vida às falas. Essa contribuição chama-se "a ver-
dade teatral" do ator. Se você não usar a sua ímagínaçâo, não
terá criado nenhuma contribuição para a peça.
A justificação deve ter um nível:
LEVE: Ganhei na loteria.
MÉDIO: O frio não é excessivo. Estou alegre. Joguei fora
todo o medicamento. Todos estão saudáveis, in-
clusive o bebê.
CARREGADO: Ocorre quando você descreve uma cena de in-
verno na Bavária ou uma avalanche nos Alpes.·
71
Pode-se avivar o perigo dessas circunstâncias,
adicionando-lhes detalhes. Da avalanche pode-
se dizer:
• Alguém tem que aquecer os corpos com toa-
lhas e cobertores.
o Alguém tem que se livrar das árvores que-
bradas e limpar o caminho para fazer uma
trilha até o hospital.
A adição de detalhes estimulantes afeta as emoções do ator.
Os níveis acompanham as circunstâncias. A realização de ações,
sustentada pela justificação imediata, atenua a pressão exces-
siva do ator ao representar recorrendo a sentimentos indeter-
minados e inconstantes. As pessoas não atuam. Elas experimen-
tam alguma coisa. Experimentam um momento, e então o pró-
ximo e depois o outro. Se a justificação é o seu forte, não vá
além do que ela possa induzir.
Inverta a cena de modo que o palco seja um camarim de
teatro.
o Você se senta na beira do palco.
o Por que você se senta?
Um ater diz: "Sento-me porque quero ter uma perspecti-
va melhor do palco." Mas eu o aconselho a abandonar essa
falsa e acadêmica "perspectiva" e dizer, muito simplesmente:
"Estou sentando porque quero ver o palco." Quando você diz:
"Quero obter uma perspectiva melhor do palco", não usou
palavras que o estimulem. Evite palavras que não o excitam.
Quando você vê alguma coisa, deve-me fazer vê-la também.
Não poderei vê-la se sua escolha de palavras for fria e remota.
Quando pedi cinco razões para alguém poder se queixar
de sair pela manhã, um ato r respondeu:
"O elevador leva quinze minutos para descer do sétimo
andar. É por esse motivo que eu odeio tomá-lo."
Nessa justificação, que é forte e correta, há também um
perigo. No momento em que você usa a primeira pessoa do
singular ou palavras como amo e odeio, que têm alto conteú-
do emocional, as exigências de justificação são mais fortes. Você
tem que ter experimentado a justificação quando usa o "eu".
72
A JUSTIFICAÇÃO NAS CIRCUNSTÂNCIAS
73
EXERCÍCIO 37
JUSTIFICAÇÃO INTERNA·
74
Ela é tradicional e influenciada por um outro período.
EXEMPLO:
• CIRCUNsTÂNCIAS: No tribunal
ELE: "Você concordou com o veredicto?"
ELA: "Não."
JUSTIFICAÇÃO INTERNA: "Ele foi além da obrigação do
cargo."
• CIRCUNSTÂNCIAS: Restaurante
ELE: "Gostaria de outro drinque?"
ELA: "Não."
JUSTIFICAÇÃO INTERNA: Ele sempre força a moça a beber
mais e mais.
RESPONDENDO CONCRETAMENTE
EXERCÍCIO 38
75
CAPÍTULO SETE
Trabalhando no Palco
ADEREÇOS
76
podia ficar de pé numa escada de mão. O atar não tinha vara,
nem linha, nem anzol, mas, quando levantou seu braço, podia-
se ver a vara e o puxão da linha como se o peixe tivesse fisga-
do o anzol. Ele estava pescando. Chegara perto do gênio. Esta
é uma perfeita ilustração do princípio de se usar um adereço
imaginário e criar as circunstâncias.
Como atares, vocês devem estar familiarizados com ade-
reços. No uso de acessórios, tente ser específico e claro. Se o
adereço for um jornal, justifique-o procurando por alguma se-
ção específica que queira ler. Você não deve tomar muito tempo
fazendo isso. Em vez disso, atribua antecipadamente uma me-
ta a si mesmo.
Passe os olhos pelo jornal procurando uma seção especí-
fica, virando as páginas paJ;a frente e para trás até achá-la. Vo-
cê sabe de antemão onde e quando vai encontrá-la.
Você não deve usar um adereço a menos que lhe dê valor
e que tenha simpatia por ele. Deve trabalhar com o adereço
até saber que pode usá-lo.
ACELERANDO A AÇÃO
EXEMPLO:
Se eu preciso fumar um cigarro,
• O maço já deve estar aberto.
• Um ou dois cigarros devem estar postos para fora.
Não posso ser pego em cena procurando desajeitadamen-
te por um cigarro.
77
EXEMPLO:
Se preciso me maquilar,
• Ponho batom.
• Coloco uma sombra.
A ação é verdadeira, mas tem o elemento da verdade do
palco. Ela é "acelerada".
EXEMPLO:
Se escrevo uma carta,
• Coloco uma data na carta.
• Assino-a.
EXERCícIO 39
PERSONALIZAÇÃO
EXEMPLO:
• Personalize a rosa que você está disposta a prender com alfi-
78
nete no seu vestido, aspergindo-lhe gotas d'água e tirando um
espinho do talo.
• Quando você guardar o suéter na gaveta, personalize-o no-
tando uma linha solta e arrumando-a.
o Quando for apanhar o copo para beber água, perceba o ba-
tom na beira e remova-o, esfregando um pano.
EXEMPLO: .
Aqui estão cinco atares e sua ação será: tomar uma bebída.
ATOR 1. Toma scotch com gelo.
ATOR 2. Toma gim e água tónica.
ATOR 3. Toma scotch puro.
ATRIZ 4. Toma um copo de vinho branco.
ATRIZ 5. Toma scotch com água.
79
EXERCÍCIO 40
EXERCÍCIO 41
Faça o seguinte:
1. Quando for pentear seus cabelos, não passe simples-
mente o pente, mas faça tranças ou coloque grampos.
2. Quando for vestir um suéter, desembaraçe a manga.
3. Quando for pintar a cadeira, limpe o assento com um
pano.
80
ESQUERDA: Sarah
Adler , como Katu sh a
Maslo va, em
Ressurreição, de Leon
Tolstoi , no Teatro
Grand Strcc t, cm
1903 .
81
Tudo deve ser dominado; um sotaque ou regionalismo,
um defeito na fala ou um andar específico, todos precisam de
prática. Assim, cada adereço terá sua natureza e cultura pró-
prias. Não traga a si mesmo e a sua cultura para o palco ao usar
os adereços. Continue trabalhando neles.
EXEMPLO:
O ato r que veste uma cartola vem de uma classe específi-
ca, ele tem:
• O discurso controlado
o O andar controlado
o A mente controlada
Na sociedade daquele chapéu, o ser humano e as roupas
estavam sob controle. É a partir dos adereços, do traje e da
fala que seu personagem começa a se desenvolver. Obedeça
aos adereços e às circunstâncias.
ACIDENTES PLANEJADOS
82
VESTUÁRIO
o que você veste, assim como o que você faz, indica a que
período e a que classe social pertence. O vestuário ajuda-o a
encaixar-se na sua classe. Existe, por exemplo, uma diferença
de classe entre um xale e um regalo, o xale identificando a mu-
lher operária que não se preocupa consigo mesma e com sua
aparência, o regalo significando a elegância de uma dama da
classe alta.
Em épocas passadas, o vestuário era de máxima importân-
cia, visto que distanciava uma classe da outra. Dava-lhe uma
noção de quem você era.
A ação e o vestuário seguem juntos. Para que os atores en-
tendam isso, eu os fiz ir para o chão e desencavar batatas -
para que se deitassem na terra, se arranhassem, abrissem as per-
nas, rolassem sem vergonha alguma. A classe operária é uma
classe tocante, física, próxima da terra e sem romantismo. Fiz
com que os atores praticassem uma dança camponesa, chocan-
do-se uns com os outros, e cantassem. Então perguntei-lhes
se agora se sentiam mais próximos às suas roupas e eles disse-
ram que sim.
Você encontrará a classe operária nos trabalhos de Char-
les Dickens e dos dramaturgos irlandeses. Essa classe também
aparecerá em peças escritas depois dos anos 30. O vestuário
revela imediatamente a classe e dá ao ator uma inspiração ime-
diata e uma relação inconsciente com o personagem.
Para ilustrar a classe aristocrática, pedi aos atores que pés-
quisassem livros de pinturas de aristocratas dos séculos XV e
XVI. Quadros com a indumentária de aristocratas são de ex-
tremo valor para o ator . .
Pode-se também obter idéias sobre maquilagem - a rou-
pa do rosto - a partir dessas pinturas.
Cada ator que traz seus hábitos corporais pessoais para o
palco, deve evitá-los sem dúvida porque o personagem não ca-
rece deles. O vestuário é de fato o único meio que pode aju-
dar o ator a criar uma individualidade do personagem.
83
CAPÍTULO OITO
Personagem
84
As circunstâncias que o autor lhe dá farão você ciente de
elementos importantes, tais como:
• Situação social
• Classe
Classe operária
Classe alta
Classe média
Aristocracia
o Profissão do personagem
o Passado do personagem
• Elementos do personagem
• Atitude do personagem em relação ao seu parceiro
Eles permitem que você amplie as dimensões do perso-
nagem - você não pode representar Hamlet sem entender o
que é ser um príncipe - e reaja às circunstâncias que o
envolvem,
SITUAÇÃO SOCIAL
• Religião • Moral
• Educação o Dinheiro
• Vida familiar • Sexo
• Ética • Situação política
Cada dramaturgo - Eugene O'Neill, Arthur Miller, William
Inge, Anton Tchekhov - escreve em seu próprio tempo. Se um
dramaturgo dos anos 70 quer escrever sobre os anos 50 ou 40
terá que pesquisar o período. O ator tem o mesmo problema.
Em seu próprio tempo, você deverá saber certas coisas so-
bre o passado se pretende voltar na história. Quando você tra-
balha num papel, é importante cogitar como um personagem
vive em sua situação social. Não se deve tentar atuar numa pe-
ça como WaitingJor Lefty, sem fazer um estudo profundo dos
anos 30. Um ator deveria ler a literatura da época para tornar-
se informado sobre a posição do operariado e dos sindicatos.
Da mesma forma teríamos que estudar os anos 60 e 70 para
entender a mudança da condição social dos negros na socie-
dade americana. Ao ensaiar qualquer peça de Shaw, não se po-
85
de deixar de perceber o forte interesse que todos os seus per-
sonagens têm em quem conduz o governo, quem controla a
igreja, onde se situa o poder.
Não se pode representar Um Bonde Chamado Desejo, ou
The House ofConnolly, uma peça de Paul Green, de 1931, sobre
a decadência da aristocracia sulista, sem conhecer a posição cul-
tural e social do Sul na História americana; sem saber, por exem-
plo, que na vida familiar sulista existe o medo da miscigenação.
CLASSE
A Aristocracia
86
mento dos valores de arquitetura, literatura, filosofia, história,
música e arte. Quando você vê um homem da classe média
alta, percebe que ele tem um certo estilo. Esse estilo lhe per-
mite falar-a um rei ou rainha, embora ele não tenha herdado
essa tendência. Ê um homem com distinção, elegância e gran-
deza. Já salvou a América ao emprestar uma centena de milhões
de dólares aos bancos. Como um protótipo; a classe média al-
ta é astuta, _inteligente e poderosa. Dinheiro e poder seguem
juntos; diriheiro,poder e intelecto às vezes seguem juntos. O
artista e a rica classe média entenderam que podiam perdurar
na história ao criar símbolos de si mesmos. Símbolos perma-
nentes, como J. P. Morgan quando criou o Museu Frick, e Gug-
genheim, o Museu Guggenheim,e Rockefeller, o Instituto Roc-
kefeller. O homem cria o símbolo ao criar a cultura do país.
Esta classe poderia ser chamada de aristocracia intelectual.
A Classe Média
87
no fim estará, por necessidade, mais hábil que a raça aristocrá-
tica. A astúcia, num grau muito maior, é a condição vital de
sua sobrevivência. Esta classe específica tinha que ser um su-
cesso. Tinha que haver alguma forma de valorização do sucesso
nela. Esse objetivo reduziu tudo. O interesse no crescimento
individual e os valores herdados de arte decaíram. A era do
industrialismo e do capitalismo arrebatou as mentes, corações
e almas das pessoas, mas para alcançá-la, eles renunciaram ao
outro lado de si mesmos. O clima do país inteiro foi afetado
pelo ponto de vista capitalista. O capitalismo foi uma grande
força e ajudou vagarosamente a reduzir o respeito das pessoas
por si mesmas, pela educação, pela arte e pela língua, e seu
respeito umas pelas outras. Agora estamos sem qualquer tradi-
ção. De tudo isso advém a qualidade em ruínas do homem.
A Classe Trabalhadora
88
mesmo, um sentido de força. Ele se respeitava e dizia: "Vou tra-
balhar até morrer!" Era um homem, nada subjugado, nada cur-
vado, nada arruinado. Movia-se muito livremente, muito deci-
didamente. Não era um palerma ou um vadio. Vivia na sua ter-
ra, em sua casa de madeira com uma cerca em volta. Vivia do
modo que um homem podia viver, da melhor forma em suas
circunstâncias. Se possuísse maquinaria pesada ou um arado de
madeira para se aperfeiçoar, poderia lidar com ele. Faria seu ofí-
cio. Um trabalho de homem honesto. Não se pode chamar o
operário na América de hoje de homem da classe operária. Era
uma tradição que passava de pai para filho. Agora é diferente.
Distinções de classe eram absolutamente descornpromis-
sadas em outros períodos. Em nosso próprio tempo não há as-
pirações sociais. Nós democratizamos todas as classes.
EXERCÍCIO 42
89
1. Quais são as ações que ele executa?
2. Qual o seu vestuário?
é
ANTECEDENTES DO PERSONAGEM
90
• Nascidos numa sementeira na Holanda, foram transplanta-
dos para crescer em solo especial.
• Foram enviados para o mercado de flores em Arnsterdam.
• Foram comprados no leilão de flores.
• Partiram num avião como carga aérea.
• Do Aeroporto Kennedy, foram enviados para o florista do
bairro.
Nós agora sabemos o antecedente dos narcisos.
Você deve saber detalhadamente o antecedente do per-
sonagem que representa. O antecedente deve conduzi-lo para
seu personagem. Antes que você possa viver convincentemente
o presente no palco, deve-ter um passado completamente com-
preendido. Você deve imaginar com detalhes a vida anterior,
história familiar, educação, experiência profissional e relações
pessoais do personagem que estárepresentando. A primeira
coisa que um ator deve fazer quando prepara um personagem
é dar-lhe essa espécie de antecedente ou história.
EXEMPLO: O passado do personagem que é um gerente
de loja.
A ação de um ator era gerenciar uma loja. O personagem
era de classe média, Vestia-se formalmente porque a loja tinha
alicerces na tradição do Velho Mundo.
• Ele era muito eficiente, pois fora educado na Europa.
• Conhecia o valor de cada artigo.
• Era um homem sério, o que significa, em termos teatrais,
que ele podia dissertar sobre as antigüidades da sua loja. Pa-
ra que não se confunda "sério" com "sisudo", o ator deve
encontrar uma ação que apresente seu personagem como
muito sério. "
• Ele ia para a casa e discutia vários pormenores com seu pai,
que também era um comerciante de antigüidades.
Isto lhe dá algumas das circunstâncias que irão ajudá-lo
a criar a profissão de gerente de loja. A partir disso, você pode
escrever páginas sobre o passado desse personagem.
91
va-se por antigüidades, compreendeu que deveria instruí-lo em
línguas.
Ao chegar em casa, vindo da escola, sempre aguardava an-
siosamente jogar com seu pai com as novas palavras que apren-
dera. Seu pai queria que ele formasse sentenças com todas aque-
las palavras.
Era muito malicioso. Gostava de provocar seu pai, dizendo-
lhe que queria ser um vaqueiro quando crescesse.
Todo dia, queria ler em voz alta com seu pai antes do jan-
tar. O jantar era sempre muito formal. Tinha que trocar de rou-
pa para sentar-se à mesa. Ele e sua mãe conversavam durante
o jantar. Sua mãe era muito interessada em tudo o que ele rea-
lizava, de modo que lhe contavam, na hora do jantar, o que
ele havia aprendido naquele dia. Ela ficava tão orgulhosa dele
que lhe dava presentes - chocolate extra ou uma nova cole-
ção de lápis. Ficava deleitada, quando ele, já crescido, explicava-
lhe os diferentes estilos de cristal e ensinava-lhe a diferença entre
os tipos de prata. Ela começou a se tornar uma pessoa versada
no assunto. Tanto o rapaz quanto o pai divertiam-se vendo isto
lhe acontecer. Ele tinha orgulho de sua mãe. Ela falava a um
comprador sobre o valor do cristal, e quando fazia uma gran-
de venda - porque o cristal era muito antigo e muito especial
- eles iam a um simpático restaurante para jantar.
Quando ele tinha dezoito anos, provou vinho pela primeira
vez. Decidiram então que em casa deveria haver vinho à mesa
quando jantavam.
Tornou-se meticuloso sobre o que conhecia. Lia e geral-
mente fazia pesquisa - tanto na escola como em casa. Com-
preendeu que seria de fato capaz de trabalhar melhor se fosse
tomado por gerente de vendas europeu.
Suas roupas eram em estilo inglês. Ele se preocupava em
como suas camisas eram passadas e seus sapatos polidos.
Era cordial e de boa índole. Quando os fregueses não ti-
nham idéia do que desejavam comprar, ele os ajudava a tomar
suas decisões.
Nós o encontramos aos 21 anos, quando outros gerentes
de loja podem pedir-lhe auxílio pelo vasto conhecimento que
possui sobre cristal e prata.
92
EXERCÍCIO 43
ELEMENTOS DO PERSONAGEM
• Despreocupado o Ambicioso
• Expansivo • Empreendedor
• Responsável • Conscencioso
• Aventureiro • Erudito
'. Fidedigno • Prático
.. Introspectivo
Você encontra o elemento do personagem no mundo. Você
o observa e então pode tomar esse elemento e colocá-lo nas
circunstâncias que lhe foram verdadeiras, Portanto, você pode
recorrerao mundo em busca do conhecimento profundo dos
elementos do personagem.
Ao tirar da realidade os elementos do personagem, você
poderá desenvolver qualidades em sua atuação das quais ordi-
nariamente não necessitava.
Maneiras de encontrar elementos do personagem:
1. Dirija-se ao mundo e observe:
93
a. Animais
b. Objetos
c. Pessoas
2. Apele para sua imaginação.
3. Como você fisicalizaria os elementos do personagem que
observou?
EXEMPLO: Despreocupado
Vamos começar como se o personagem fosse um pássaro.
• Ele pousa em qualquer lugar
1. Ramo de uma árvore alta
2. Chaminé
3. Poste de iluminação
4. Arbusto
5. Rocha
O pássaro está vivendo em suas circunstâncias.
O elemento do personagem é despreocupado.
O elemento do personagem pode agora ser usado pelo ator
como vemos a seguir.
EXEMPLO: Um garoto despreocupado
o Ele salta numa bicicleta.
o Escorrega pelo corrimão.
o Pendura-se num poste de luz.
o Pula sobre o hidrante.
94
Se você é escalado para um papel no qualjidedignidade
é a principal característica:
• Observe fidedignidade na vida.
• Imagine uma situação onde as circunstâncias exijam sua fi-
dedigriidade.
• Pergunte-se em que situação você seria absolutamente fide-
digno.
Tendo encontrado esse elemento do personagem, o que
você faz nas circunstâncias em que o encontrou a fim de não
ser abstrato? Qual atividade física você realiza para mostrar fi-
dedignidade?
EXEMPLO: Meticuloso
• O médico, num exame, foi meticuloso.
• Quando lavou as mãos, foi meticuloso.
o Quando escreveu a receita, foi meticuloso.
95
ATITUDE EM RELAÇÃO AO SEU PARCEIRO
Em cena, você deve sempre ter uma razão para falar. A razão
deve vir:
• Das circunstâncias
• Do seu parceiro
• Do texto da peça
Tudo vem das circunstâncias justificadas.
Cada ator, como na vida, cria uma atitude em relação às
pessoas ou coisas que o cercam.
Em relação a:
• Sorvete
• A Bíblia
• Latas de lixo
• Deus
• O gerente de seu banco
• Sua mãe
• O ato de fumar cigarros
o Comida picante
96
a sua ação, e você terá que conhecer a atitude dele com respeito
a tudo. O diálogo não deve acontecer automaticamente, mas
quando você compreenda e reaja à atuação de seu parceiro. Vo-
cê deve conhecer o papel do seu parceiro tão bem quanto o seu.
Sua ação e a ação do seu companheiro devem ser suficien-
temente vivas para que você se possa soltar. O parceiro não pre-
cisa ser sempre um outro ator, pode ser um objeto ou um lugar.
O próprio lugar pode estimular a ação.
Pode-se ter uma atitude com respeito a:
• Uma sala
a. Na sala onde você escreve uma carta.
b. Olha pela janela.
c. Lê uma revista.
• Uma floresta
a. Numa floresta você recolhe um galho.
b. Arma sua espingarda.
c. Usa sua câmera.
EXERCÍCIO 44
97
DIÁLOGO
Aqui está sua primeira peça com diálogo. No texto o atar deve
indicar, como abaixo, suas ações / clima / atívidades / etapas
na página oposta à do diálogo.
O SENTIDO GERAL DESTA PEÇA: As leis da humanidade e
da vida familiar estão mudando no mundo atual.
Diagrama
médico
(clima geral
de um dia-a-
dia do
Visitar a
hospital)
Arthur olha
.
Conversar
paciente. para a pran- sobre a mu-
cheta, toma lher.
o pulso dela.
John pega o
jornal.
John pega a re-
vista médica.
Discutir vida Arthur fo- Discutir vida
familiar. lheia o livro familiar.
de bebê.
98
Dr. John Hilton, 27 anos, assistente.
Enredo: Uma mulher está pretendendo ter um bebê. Ela já tem
dois filhos.
Os médicos estão discutindo a situação.
Circunstâncias: Hospital de Nova York, Cidade de Nova York,
Nova York, 1987.
A cena começa numa sala de hospital.
O DR. JOHN HILTON está na sala do hospital folheando um
livro de bebê. O DR. ARTHUR ARMSTRONG entra na sala.
ATITUDE
99
médico mais jovem. Sente que a liberdade e a desonestidade
depravaram o sexo e a vida doméstica.
Do Dr. Hilton para com o Dr. Armstrong: John Hilton respei-
ta Arthur Armstrong, mas está perturbado pelo pensamento des-
se médico mais velho. Quer fazer com que ele mude suas idéias
antiquadas.
Cada médico quer esclarecer quais são os modelos de pen-
samento do outro.
CONSTRUINDO UM ENREDO
ANTECEDENTES
100
É um médico especialista e está na direção médica do hos-
pital. Escreveu livros, faz conferências com freqüênciae está
bem financeiramente.
Arthur Armstrong não é a favor do aborto. Considera ter
filhos um privilégio da mulher.
DR. JOHN HILTON
John Hilton amava a ciência desde criança. Quando a fa-
mília percebeu seu interesse, começou a levá-lo a zoológicos
e museus. Apoiavam-no muito e ele decidiu estudar coisas que
o estimulavam. Era-lhe concedida liberdade. Não teve que vi-
ver sujeito a "faça como eu faço" ou "faça como eu digo".
Foi para a Escola Médica de Harvard onde estudou medicina
para que pudesse fazer pesquisa.
A família do Dr. Hilton era liberal e protestante, mas não
muito religiosa. Ele considera que a vida familiar está se tor-
nando violenta e mudando muito nas atuaís circunstâncias. Não
acredita que você deva casar-se baseado apenas na atração se-
xual. Acredita que você deve viver uma vida livre e ser capaz
de criar uma família se puder sustentá-la.
Vê os princípios políticos como depravados e acha que
o governo está interferindo em demasia no meio de vida dos
médicos hoj e em dia. .
Está interessado no crescimento de sua profissão e é neu-
tro quanto a dinheiro.
John Hilton é a favor do aborto.
*
Conheça a ação de seu parceiro a fim de poder assumir
o comando se tiver que representar esse papel. Um atar deve
ser capaz de representar o papel ao lado. Ele deve fazer o mes-
mo trabalho que faz quando prepara seu próprio papel.
NÍVEIS
101
o ator pode ser atraído para um único desses níveis.
• Se a peça está num nível leve, é uma comédia.
• Se a peça está num nível carregado, é um drama.
Tome as peças:
_. Hamlet
• Macbeth
• Solness, o Construtor
• A Profissão da Sra. Warren
Todas essas estão num nível carregado. Muitas das peças
que terminam tragicamente estão num nível carregado.
As peças de:
• Noel Coward
• Neil Simon
• Oscar Wilde
estão todas num nível leve.
EXEMPLO DE UM ENREDO:
Na sala-de-estar, um marido deixa claro que está partin-
do. Antes de ir, veste-o casaco, tira a aliança e deixa-a na mesa.
Sai e fecha a porta atrás de si. Agora você sabe que ele partiu
para sempre.
A esposa pega a aliança, apaga as luzes, puxa as persianas
e sai no escuro.
Nos agora sabemos o enredo. Ele é carregado, a atmosfera
é pesada. O enredo diz que o casamento pode ser desfeito nes-
se período da vida por um homem abandonando sua mulher.
Nós agora sabemos que o tema geral é: o casamento
não é mais uma instituição sólida.
Para compreender a ação dessa história, você deve reali-
zar certas coisas. Tudo que é feito, seja em que nível for, tem
que servir ao enredo da peça. É necessário saber como traba-
lhar fisicamente, com três ou quatro coisas numa sala, de for-
maa motivá-lo a responder à situação exigida pelo enredo ima-
ginativo da peça.
Ela:
1. Vai até a caminha da criança dar uma última olhada no filho.
2. Vai até a mesa.
3. Assina e fecha a carta que escrevera explicando sua si-
tuação.
102
4. Vai pegar seu casaco e o chapéu.
5. Parte.
Todo enredo tem uma ação. A ação é deixar a casa. Não
há etapas na ação.
EXERCÍCIO 45
EXERCícIO 46
103
ro e o interesse de Maria. A expansão da história através da cria-
ção dos antecedentes imaginários o faz sentir em maior grau.
Quando você constrói um antecedente, deve escolher coi-
sas que o aferem, o provoquem.
Estudar o antecedente o ajudará a guardar-se contra o er-
ro comum na atuação americana de trazer a si mesmo para a
cena sem mudança alguma - por isso você deve:
• Mudar seu cabelo.
• Maquiar seu rosto.
• Trocar de roupa.
• Mudar o comportamento.
Faça essas coisas de acordo com o personagem.
Você deve saber a diferença entre a peça que está repre-
sentando e sua vida particular - entre a pessoa que está retra-
tando e você mesmo. Hamlet, como dissemos, não é uma pes-
soa como você; ele possui a Dinamarca. Você não pode apre-
sentar Hamlet sem trabalhar nas diferenças de classe. A ação
abrangente que motiva Hamlet - buscar sua verdade em seu
tempo - requer muitos antecedentes.
O Ator deve depender dos conhecimentos armazenados
que o Homem tem dentro de si para ajudá-lo a se relacionar
com a experiência do personagem que representa. Trabalhan-
do por meio dos antecedentes, expressando em ações, não em
palavras, ele pode começar a trazer a vida de personagens es-
tranhos e muitas vezes herméticos como Hamlet ou Lear para
dentro de si mesmo.
EXERCÍCIO 47
104
CAPÍTULO NOVE
o Vocabulário da Ação
Recordar
105
é um recurso que os autores freqüentemente usam para trazer
a poesia para a prosa de seus textos. Um refúgio na reminis-
cência de um passado mais favorável é por si só um meio de
escape poético das realidades do presente, algumas vezes in-
suportáveis.
A ação "recordar" é monologar, relembrar o passado e
trazê-lo de volta. É diferente de lembrar, que está automatica-
mente associado com a vida diária. Você se lembra do núme-
ro do seu telefone e de sua lista de compras. Você se lembra
de responder a uma carta. Na reminiscência, o personagem traz
de volta o que ama. Você pode dizer: "Um dia eu estava cami-
nhando à beira de um rio. Ele fluía tranqüilamente. Sentei-me
na sombra. Podia contemplar as montanhas."
A natureza da ação "recordar" é que o personagem revi-
ve a experiência - vê novamente o que já viu e lembra-se apai-
xonadamente.
Quando você começa a recordar, perde o mundo presente.
EXEMPLO:
Esta mesa, à qual estou sentado, não existe mais para mim,
somente o rio ao longo do qual caminhei naquele dia de pri-
mavera sob um céu límpido, quando podia contemplar as mon-
tanhas.
Quando o personagem traz de volta uma parte de sua vi-
da passada através da reminiscência, suas palavras tomam uma
qualidade poética. "Recordar" é trazer de volta um mundo per-
dido. Tudo se torna importante e significante porque já desa-
pareceu.
Se você deixou o mundo, partindo para as memórias, vo-
cê deve:
• Abandonar o presente.
• Trazer uma qualidade poética para a cena.
• Dar vida ao que morreu mas ainda vive em você.
• Visualizar cada imagem.
• Usar muito pouco movimento físico.
• Usar poucos gestos.
• Entrar e sair da reminiscência quando tem um parceiro.
Esta é a maneira de o autor criar poesia durante a prosa.
106
A ação deve ser elevada a um nível sublime.
Blanche DuBois, em Um Bonde Chamado Desejo, de Ten-
nessee Williams, recorda:
Era um menino, apenas um menino, quando eu ainda
era apenas uma garotinha.
Aos dezesseis anos, fiz uma grande descoberta - o amor.
Subitamente e tão, tão completa. Foi assim como se alguém
acendesse uma luz intensa num lugar que sempre estivesse
mais ou menos no escuro, foi assim que se revelou esse mun-
do para mim.
107
EXERCÍCIO 48
EXERCÍCIO 49
Falar
108
Nessa forma de comunicação não há deixas. A arte de fa-
lar é que ninguém está, de fato, ouvindo atentamente. Falar
é interromper o tempo todo. Na vida diária, nós falamos so-
bre coisas sérias que não significam nada para nós - a econo-
mia nacional e a política internacional. Passamos nossa vida
inteira falando sobre esses assuntos sem vivenciá-los.
Bater Papo
Conversar
109
é real e natural. É, talvez, a ação mais importante na dramatur-
gia moderna porque a platéia entende ambos os lados da dis-
cussão e torna-se o terceiro parceiro na peça. Os membros da
platéia devem deixar o teatro e decidir que lado do debate es-
tá de acordo com suas opiniões.
Argumentar
Atacar
Cuidar de
110
Esse exemplo o faz entender como cuidar de um animal.
Não há histórias menores; só o ator as faz pequenas. Descobre-
se que o pássaro tem uma vida própria na ação "cuidar de".
No quadro geral desta seqüêncía o tema seria que o ho-
mem é prestativo a animais e pessoas quando há dificuldade.
EXERCÍCIO 50
Explicar
111
EXEMPLO:
• Explique como usar o ar-condicionado da sua casa
Conheça suas circunstâncias. .
• Explique por que a situação social é difícil no mundo mo-
derno.
• O problema do aborto.
• A educação inferior nas escolas públicas.
Ensinar
EXERCÍCIO 51
EXERCÍCIO 52
112
3. Como dirigir uma carruagem.
Todos sabem alguma coisa e o que você sabe, pode
ensinar:
4. Equitação
5. Confecção de colchas
6. Tênis
Você pode também, por intermédio de sua imaginação:
7. Ser um lenhador.
8. Produzir penicilina.
Revelar
EXEMPLO:
• Alguém revela sua doença para um médico.
• Alguém revela seus pecados em confissão.
Revelar é uma ação vasta e épica. Não é necessário um par-
ceiro. Você pode expressar-se enquanto outras pessoas estão
no palco fazendo outras coisas - fumando, bebendo calma-
mente - sem ouvi-lo. Essa auto-revelação íntima em público
é uma ação teatral muito importante em As Três Irmãs, de
Tchekhov. Nessa peça, uma das numerosas ações é revelar os
fracassos dos personagens na vida.
Denunciar
113
• para derruba! seu parceiro.
• para destruí-lo.
Ê uma ação representada por alguém com poder: do rei
para seus inimigos, ou do líder da greve para os patrões, co-
mo em Waitingfor Lefty, A denúncia vai de um arquétipo pa-
ra outro. O ataque não é individual, mas à instituição que o
indivíduo representa.
Denunciar é a ação de Coriolano em seu discurso:
Vil matilha de cães! Cujo mau hálito odeio
Como o pântano empestado, e cuja simpa-
tia estimo tanto
Quanto o cadáver insepuito e podre
Que deixa o ar corrompido e irrespirável:
Sou eu que vos desterro, e aqui vos deixo com
vossa inconsistência!
Que ao mais fraco rumor o coração vos dei-
xe inquieto!
E que só com moverem seus penacbos,
Vos insuflem terror os inimigos!
Ou de Dr. Stockman em Um Inimigo do Povo, de Ibsen:
114
Você precisa estabelecer um Senso de poder para denun-
ciar, que deve vir de dentro de você. A ação deve estar em
você antes de dar início. Comece por denunciar:
• Banqueiros
• Proprietários de companhias de petróleo
• Pessoas que iniciam as guerras
Você deve encontrar o poder e a grandeza necessários. Um
senso de ser alguém, de onipresença. Você deve expressar a
ação. Deve julgar quanta energia ou esforço necessita se for
usar algum gesto.
Desafiar
Sonhar
115
ROBERT
. Eu começava a sonhar. Sabia que o mar es-
tavado outro lado daquelas colinas. (...) To-
do o mistério do mundo para mim estava en-
tão naquele - mar distante - e ainda es-
tá! Ele então me chamava ·exatamente como
me cbarna agora. (...) E eu prometia a mini
mesmo que) quando crescesse e ficasse f01'-
te) seguiria por esta estrada e) ela e eu jun-
tos) encontraríamos o mar.
Filosofar
116
ninguém. Você pode filosofar sobre a morte, como neste tre-
cho de As Troianas, de Eurípides:
A Morte, tenho certeza, é como nunca ter nascido; mas
a morte é sem dúvida muito melhor que viver uma vida de
dor, uma vez que os mortos, sem a percepção do mal, não
sentem pesar algum.
E na fala do Reverendo Anthony Anderson, em O Discí-
pulo do Diabo, de Bernard Shaw: .
O piorpecado com respeito aos nossos seme-
lhantes não é odiá-los, mas ser-lhes indife-
rentes/ essa é a essência da desumanidade.
Depois de tudo, meu querido, se você olhar
cuidadosamente as pessoas, ficará surpre-
so ao descobrir como odiar e amar são se-
melhantes. (...) Pense em como alguns de nos-
sos amigos casados, que se preocupam um
com o outro, não conseguem deixar de se ver
por um dia sequer, se acusam um ao outro,
têm ciúmes um do outro, são muito mais car-
cereiros e proprietários de escravos que
amantes. Pense nessas mesmas pessoas com
seus inimigos, escrupulosas, orgulhosas,
cheias de amor-próprio, determinadas a não
depender umas das outras, cuidadosas ao
falar umas com as outras - ora!Já pensou
que, se elas soubessem disso, seriam melho-
res amigos de seus inimigos que de seus pró-
prios maridos e esposas?
. Orar
EXERCÍCIO 53
Ore a:
1. Zeus
2. Deus
117
3. Jesus
4. Buda
Fique atento para orar de formas diferentes a imagens dis-
tintas.
Ore para:
1. Obter ajuda.
2. Agradecer.
3. Pedir consolo.
Sempre crie as circunstâncias de onde você está enquan-
to ora.
Aconselhar
118
o autor está escrevendo sobre os problemas de classe, nes-
te caso os de uma mulher operária.
Para aconselhar, você deve:
1. Conhecer bastante a pessoa a quem está aconselhando.
2. Trabalhar no texto e penetrar fundo no enredo.
3. Saber imediatamente sobre que classes o dramaturgo está
falando.
4. Saber por que a peça é importante.
EXERCÍCIO 54
119
CAPÍTULO DEZ
PARAFRA8EANDü
120
Mas deixem, haver espaços em sua
união,
E deixem os ventos dos céus dançarem
entre vocês...
Doem seus corações, mas não os deixem
aos cuidados um do outro.
Pois somente a mão da Vida pode con-
ter seus corações.
E fiquem juntos ainda que não muito
próximos,
Pois os pilares. do templo estão
separados,
E o carvalho e O cipreste não crescem um
na sombra do outro.
. EXERCÍCIO 55
121
EXERCÍCIO 56
EXERCÍCIO 57
122
erguem o ator à grandeza. Não rebaixe o texto a um nível
cotidiano.
SEQÜÊNCIAS
o PROBLEMA DA GRANDIOSIDADE
123
CAPÍTULO ONZE
Trabalhando no Texto
124
e ética que foram parte de uma definida sociedade de classes.
A classe apenas "pegou" valores. Esta falta de convicção sig-
nifica que para cada questão que surge, existem dois lados. No
teatro moderno não há verdade única.
Num debate, deve-se reconhecer a diferença entre ques-
tões de peso e importância variados, e julgar entre as questões
menores e maiores.
Pode-se tomar a questão menor - a de Nova York ser su-
perpovoada - e trazê-la para uma outra questão maior.
• Superpovoamento é a natureza da vida na cidade. Cada ci-
dade no mundo é propensa a ter um aumento progressivo
da população.
Pode-se aceitar isto como incontestável ou afirmar:
• Que isso pode levar ao esgotamento familiar, à falta de mo-
ral, à doença e ao desastre da superpopulação.
No teatro, o interesse surge quando há uma opinião. Quan-
do você inicia uma discussão sobre um tópico como a super-
população das cidades, deve aferrar-se ao tópico e não desviar-
se para outras idéias épicas. Você não tem o direito de perder-
. se em divagações ou ser vago. Na discussão, a mente de cada
parceiro deve estar alerta. Você deve moderar a emoção.
Deve haver crescimento em sua discussão. A menos que
avance passo a passo, você corre o risco de se tornar repetíti-'
vo e maçante. Você não deve começar com uma declaração
tal como: "Eu acredito ... " Em vez disso, você deve partir da-
quilo que seu parceiro diz ou do que você acredita que seu
parceiro pensa. Continue o assunto que já está na mente de
seu parceiro; não comece um novo.
EXEMPLO: Aborto
O avanço por estapas dá crescimento e interesse. ao seu"
argumento. Se você está debatendo aborto e falando contra
ele, pode começar por dizer que:
o O feto é o começo da vida.
• O aborto é errado porque significa o assassinato de uma vi-
da humana.
• A solução não é o aborto, mas a criação de melhores lares
de adoção e o progresso de métodos adotivos.
Os exercícios de debate são destinados a ajudar o ator a
125
compreender os temas dos dramaturgos modernos, e a apre-
ciar a oposição de idéias. O escritor é bem articulado porque
expressa no palco pontos de vista contrários.
O debate não é um monólogo. Você deve manter-se no
nível que a discussão requer e não estar num tom menor que
seu parceiro. Na vida moderna há, por exemplo, os seguintes
temas para discussão:
A Favor ou Contra:
• O papel da mulher
• Aborto
• Pena de morte
• A instituição do casamento
• Se casamento é bom para atares
EXERCícIO 58
126
debater; nós só discutimos. Somos como motoristas de táxi.
Nosso temperamento nacional não tolera ouvir. Se o debate
entra no campo da discussão e se você deseja brigar, você não
escutará nada e a discussão estará terminada. Você também não
deve levar muito tempo com o que diz. Vencer um debate não
é o objetívo, mas aprender. Dê absoluta atenção ao que seu
parceiro diz.
Em grande parte porque enfocam um debate, as peças mo-
dernas são escritas em prosa. São escritas do modo que fala-
mos e também num campo que não é muito verbal, Ao dizer
as falas de uma peça moderna, não tome emprestado de uma
outra cultura. Não acrescente nada que seja teatral ou que pa-
reça afetado. Isto torna a peça menos convincente e até mes-
mo falsa.
As idéias são o que nos atrai para o teatro contemporâ-
neo. O que faz você aprender e crescer é o elemento díalétí-
coo Desde 1875, Ibsen contribuiu com idéias díaléticas - co-
mo por exemplo o papel da mulher na sociedade - para o tea-
tro moderno. Suas idéias ainda estão sendo discutidas. Nós ain-
da falamos sobre o complexo de Édipo, que foi pela primeira
vez explorado no antigo teatro grego. As idéias que vêm do
palco nos absorvem e são duradouras.
EXERCÍCIO 59
DEBATE
Ache uma grande idéia nestas peças de Shaw; descreva em três
quartos de página o que ele está dizendo:
1. Major Barbara
2. Pigmaleão
3. Cândida
o MONÓLOGO
127
çando ao mundo. Como uma forte ação poética, o monólogo
contém o âmago da idéia que um autor pretende transmitir à
sua platéia. O tema de Ricardo 11, de Shakespeare, diz que paí-
ses ascendem e caem, e as civilizações, como o próprio Ho-
mem, morrem. Nas palavras de Ricardo, tudo conduz à morte.
No seguinte solilóquio do Ato III de Ricardo II, Ricardo
está lamentando o retorno vitorioso de seu rival, o banido
Bolingbroke.
128
A tristeza vem com.a percepção de que a vida não é eter-
na - quando você descobre que as coisas não continuam in-
definidamente e quando você perde o desejo de fazê-las pros-
seguir. Mas um autor pode também ser obscuro. Não tente sem-
pre extrair sentido de um monólogo, como no solilóquio fi-
nal de Tom, em À Margem da Vida:
129
No monólogo acima, a ação é contar uma história. Como
ator, você deve nos levar a ver a arena e sentir a tensão dos
cavalos movendo-se com vigor antes de partir. A história de-
ve ser tomada de seqüência para seqüência, não de período
para período.
O monólogo descreve nada menos que a morte do Prín-
cipe do Mundo. Como ator, você tem que sentir a importân-
cia desse acontecimento dentro de si e transmiti-lo para a
platéia.
Esses dois monólogos. estão entre os mais interessantes e
difíceis na literatura dramática. Você pode começar a lidar com
o monólogo num nível muito mais simples, como Tchekhov
faz no último ato de O jardim das Cerejeiras, um monólogo
sobre uma estante.
130
sucessão quase ilimitada de personagens de uma variedade sem
fim, cada um captado num momento de crise moral ou pessoal.
Algumas idéias sobre como fazer um monólogo: , .
• Evite gestos, que freqüentemente vêm da dificuldade' com
a linguagem.,
• Não use a qualidade rotineira de linguagem se ela é essen-
cialmente poética.
• Evite usar adereços.
• Escolha uma área que seja verdadeira para as circunstâncias.
• Não é bom mover-se muito num monólogo; portanto, use
um espaço limitado. ' . '.
• Encontre o ritmo do monólogo, visto que o dramaturgo sem-
pre cria um ritmo. .
• O vestuário pode contribuir para a eficácia de uni monólo-
go, mas também pode depreciá-lo.
Em cada monólogo deve-se procurar um significado mais
vasto do que os fatos da situação sugerem.' Os fatos mantêm
o monólogo no chão. A tentação de dar ênfase às palavras sem-
pre é grande, sendo esse um mau hábito.
Se o ator é motivado a recorrer às palavras em primeiro
lugar, pode perder o assunto, colocando-o num nível comum
em vez de num.nível mais alto, que é necessário.
EXERCÍCIO 60
A TÉCNICA DEEN8AIü
Stanislavski dizia que você pode ensaiar uma peça por seis ho-
ras ou seis meses.. Um ensaio é'muito diferente, em seu resul-
tado, de outro, mas ambos podem ser igualmente válidos. Ce-
do, em-seutreínamentô, você precisa entender o processo de
ensaio: Se você está fazendo um simples exercício de sala-de-
aula ou ensaiando uma peça inteira, os princípios de ensaio são
os mesmos. Não se espera uma entrega completa do ator toda
'vez que ele se prepara para trabalhar. Certa vez ofereceram um
131
papel a John Barrymore numa peça muito importante. Pedi-
ram que lesse seu papel, e ele leu tão hesitantemente como um
estudante no primeiro ano de seu curso de teatro:
"Eu...amo...você. Eu...não posso...viver... sem você." Ele não
se sentia nem um pouco obrigado a fazer uma leitura perfeita.
Um ator ensaiando uma peça é como um pianista aque-
cendo-se ao fazer escalas. Uma sonata de Beethoven não pode
ser tocada impecavelmente da primeira vez.
132
Etapa 2: Compreenderido o Assunto
133
CAPÍTULO DOZE
A Contribuição do Atar
134
lecido pelo diretor. o atar não pode desempenhar suafunção
por completo, sem aceitar a responsabilidade de um envolvi-
mento pessoal com o autor. Juntos, atar e diretor, tornam-se
conscientes do estilo da peça.
Para ser "interdependente" do diretor e de outros mem-
bros do elenco ao aproximar-se da peça, o atar deve trazer seu
talento para a interpretação do papel. .
Trabalhando às avessas, a partir do texto, o ator então per-
gunta: quando e onde a ação ocorre? O tempo presente da pe-
ça leva ao passado, como as palavras no papel levam ao sub-
texto, aos pensamentos não-expressos dos personagens.
O atar, através do profundo entendimento das circuns-
tâncias, cria para si a necessidade indispensável de usar sua ima-
ginação. A natureza de sua imaginação é tentar visualizar, tão
completamente quanto possível, os personagens e as circuns-
tâncias da situação.
Circunstâncias mais amplas da peça envolvem o atar quan-
do as explora ainda mais longe. Existe o cenário histórico da
peça, que deve incluir a época, o país, a cidade e a situação
social; .tudo isso revelando a dimensão épica da mesma.
No teatro moderno, o foco está nos personagens e na si-
tuação humana em que se encontram. O autor freqüentemen-
te lida com a divisão entre dois instintos básicos do homem.
1. Sua destrutividade ao lidar unicamente com os desejos com
os quais nasceu.
2. Sua luta insatisfeita para atingir alguma coisa na vida que
supere seus instintos.
Esse conflito é muito épico e o atar deve estar preparado
para lidar com semelhantes temas.
Um dos aspectos vitais do trabalho do atar é encontrar
a universalidade e dimensão épica das idéias do dramaturgo.
O empenho da peça é sempre com respeito a algum tema maior
e o perigo em que podemos cair é torná-lo pequeno. A peça
moderna questiona a vida, o que fazer sobre ela, como deve-
mos viver. Desse modo, o atar deve se acostumar a aprender
e lidar com problemas críticos que afetam a todos ......:- questões
de amor, lealdade e amizade, de família e filhos.
O objetivo deste livro é dar ao atar uma técnica e colocá-
10 em cantata com um ofício que considero ser uma totalida-
de de coração, mente e espírito - uma arte que libera idéias, e,
135
agindo dessa forma, transforma o ator num instrumento de pro-
pósito artístico. Um bom ator deve lutar por essas metas.
Ser claro quanto às idéias do autor e eficiente ao comuni-
cá-las éa responsabilidade do ator, Ele não deve tratar- as idéias
casualmente. Precisa desenvolvê-las de modo que sejam uni-
versais. As idéias contêm as verdades pelas quais as pessoas têm
que viver. Essas verdades são transmitidas pelo ator. Dessa for-
ma, ele se torna um membro importante da sociedade que con-
tribui para a civilização futura. .
136
o teatro era no East Side, num prédio de apartamentos
com pequenos degraus por onde se subia. Para a esquerda es-
tava uma sala - apenas uma sala - onde a produção de The
Sea Woman's Cloak estava se realizando. Era uma sala peque-
na, muito mal iluminada, com aproximadamente quinze cadeí- .
ras ao redor. No canto estava uma mulher toda encolhida, de
roupas escuras, olhando através do que pareciam ser uns bi-
nóculos de teatro.
Era deveras interessante. Não havia mais ninguém lá. Mais
algumas pessoas chegaram pouco antes do início da peça. Quan-
do a cortina subiu, um milagre aconteceu.
Era uma produção brilhante; brilhante, estimulante, atraen-
te, esteticamente um deleite - era um poema! O que me sur-
preendia era ver os ateres americanos atuando com graça, um
conhecimento, um estilo e uma segurança que eu ainda não
havia assistido. Logo descobri que esta peça era dirigida por
Richard Boleslavski, um diretor russo de fama, do Teatro de
Arte de Moscou, e que, durante anos, estivera sob a supervi-
são de Konstantin Stanislavski. Soube disso; compreendi isso;
soube quase imediatamente que era exatamente por isso que
eu estava procurando. Descobri que Boleslavski e a dama en-
colhida, Madame Maria Ouspenskaya, tinham vindo para a Amé-
rica e iniciado um teatro ou um laboratório. Chamava-se o Tea-
tro Laboratório, e destinava-se a alunos interessados no estilo
russo de atuação.
Dentro de um ou dois dias havia-me unido ao Teatro La-
boratório. Embora estivesse atuando em outros teatros todo
o tempo, permaneci no Teatro Laboratório por dois anos, on-
de assistia às preleções de Boleslavski, aulas de ritmo com Mord-
kin e aulas de voz e algumas de técnica com Madame Ouspens-
kaya. Era um pequeno conservatório e Boíeslavski realizava en-
saios e produções. Assisti a seus ensaios e tomei parte em al-
gumas das peças.
Minha vida prosseguia. Eu atuava auxiliada enormemente
por suas idéias sobre teatro, atuação, o ator no teatro e a im- .
portâncía do ator. Tudo isso vinha com grande honestidade,
e me via profundamente influenciada pelo que Boleslavski da-
va ao seu público. .
O tempo passava e eu continuava atuando no teatro. Ti-
nha o hábito de ir para a Europa quando havia tempo, Iíber-
137
dade e dinheiro. Certa ocasião, quando me encontrava em Pa-
ris, Harold Clurman lá estava também. .
. Harold havia iniciado o Group Theatre, do qual eu fazia
parte. Para mim, era um salvador; havia feito um teatro ao qual
eu queria pertencer. Ele me havia visto atuar e convidara-me
para participar, o que eu fiz: Harold era o homem que havia
feito o máximo para revelar meu talento e abrir minha mente,
quem havia ajudado a educar-me sobre peças. Ele tinha impor-
tância em minha vida., em minha vida teatral.
Em Paris, Harold disse-me: "Sabe, Stella, Stanislavski está
aqui." Nesse tempo, eu tinha ouvido bastante sobre ele. Ha-
via conhecido pessoas que estavam partilhando de sua técni-
ca. Eu mesma integrava o Group Theatre, onde a técnica esta-
va supostamente sendo utilizada. Porém, como uma atriz que
tinha grande experiência em outros lugares, recusava-me a atuar
com. alguns princípios empregados no Group Theatre. Por cau-
sa disso, tornei-me uma estranha. Afastara-me da maneira que
ensaiavam e do modo pelo qual as peças eram dirigidas. Tudo
isso era do conhecimento de todos. Sabiam que eu era contra
o que estava acontecendo no Group Theatre.
Harold também conhecia meus sentimentos sobre o Group
Theatre. Achava uma boa idéia eu me encontrar com o Sr. Sta-
nislavski.
Mas eu estava hesitante. A idéia me apavorava, porque,
conforme eu disse a Harold: "Se eu fosse encontrá-lo, teria a
.consciência de que ele era representado no Group Theatre de
um modo que eu não queria". .
Por fím fui com Harold até a casa do Sr. Stanislavski. Era
umapartamento pequeno com um elevador também peque-
no. Quando Harold abriu a porta, havia umas poucas pessoas
na sala. Era um aposento minúsculo, e no canto, mais afasta-
do, estava Stanislavski. O momento desse encontro foi de ta-
manho choque para mim que estanquei e não consegui me mo-
ver. Harold atravessou a sala e cumprimentou-o. Com Stanís-
lavski estavam seu médico, um amigo e Madamé Tchekhova.
Madame Tchekhova parou perto da porta onde eu estava e
disse-me: "Você deve ir até lá e apertar a mão do Sr.Stanis-
lavski." Olhei para ela e disse: "Não." Ela falou: "Você deve."
Eu disse: "Não, não devo." E não fui. Permaneci de pé, com-
138
pletamente incapaz de me mexer, para frente ou para trás. Fi-
quei paralisada durante todo o tempo.
Logo depois o Sr. Stanislavski e os outros sugeriram que
fôssemos todos para os Campos Elísios. Ao chegarmos lá, o
Sr. Stanislavski sentou-se num banco encostado a uma árvore,
e sentamo-nos em torno dele. Havia muitos risos e alegria -
a intimidade e espirituosidade comum aos atores. Lembro-me
claramente de Stanislavski censurando Madame Tchekhova e
chamando-a de canastrona, e, é claro, de ela ter rido. Ele fin-
gia provocá-la, e ela fingia ser mais forte do que ele. Havia hu-
mor; um momento perfeito de grupo, e alegria de estar lá.
O Sr. Stanislavski falava com todos e percebia que eu es-
tava reticente. Naturalmente ele notava isto, porque possuía
o "olho" e nada lhe escapava. Finalmente virou-se para mim
e disse: "Jovem senhora, todos falaram comigo menos você."
Esse foi o momento em que eu olhei para ele, olho com olho,
e estivemos juntos. Ouvi-me dizendo: "Sr. Stanislavski, eu ama-
va o teatro até o senhor ter sucesso; e agora eu o odeio!" Ele
olhou para mim durante um pouco mais de tempo, e então
disse-me: "Bem, então você deverá ver-me amanhã."
Este é provavelmente o momento de que eu me lembro
melhor. Dissemos adeus e eu fui vê-lo no dia seguinte.
Achei que era importante levar alguém para o caso de não
entendê-lo. O amigo que levei foi de grande ajuda. Reunindo-
me com o Sr. Stanislavski, descobri que podíamos falar bem
facilmente em francês. Ele me fez várias perguntas. Contei-lhe
que estava muito infeliz por causa de uma peça na qual atuara
há pouco tempo, chamada The Gentle Woman, de Don Po-
well. Contei-lhe que fracassara em certos momentos da peça
quando não podia nem continuar o personagem nem com-
preender como continuá-lo. Ele fícou terrivelmente intrigado,
e trabalhamos com o conceito e personagem. Dentro de um
ou dois minutos percebi que ele estava deveras interessado em
mim como atriz. Ele queria que eu resolvesse meu problema.
E aqui estava o único homem no mundo que me podia ser útil!
Desse modo, abri meu coração para ele.
Contei-lhe que era uma atriz experiente. Ele conhecia mi-
nha família porque meu pai, Jacob P. Adler, havia produzido
The Living Corpse, de Leo Tolstoi, antes que ele, Stanislavski,
a tivesse representado. Adler foi o primeiro no mundo a re-
139
presentá-la, e isto era do conhecimento de todos. Stanislavski
compreendeu que eu era a filha de Jacob P. Adler e Sara Adler,
uma família de atores.
Stanislavski e eu estabelecemos a maior intimidade de di-
retor e atriz e, muito em breve, éramos simplesmente ator e atriz!
Trabalhamos juntos todos os dias durante muitas semanas. Nes-
se período, houve certas coisas que ele pediu que eu fizesse.
Deixou muito claro para mim que um ator deve ter uma enor-
me imaginação, livre e não inibida pela autoconsciência. Com-
preendi que ele era um ator inflamado pela imaginação e por
isso ensinou-me como era importante usá-la no palco. Então
explicou-me em detalhes como era importante usar as circuns-
tâncias. Disse que onde você está é o que você é, o como você
está, e o que você pode ser. Você está num lugar que o sustenta-
rá, que lhe dará força e habilidade de fazer o que quiser.
Pediu-me que usasse as circunstâncias. Disse: "Faça ape-
nas umas poucas coisas e coloque um enredo em torno delas."
Eu era espontânea (talvez espontânea demais!). Eu disse: "Sim."
Fui até a janela e fiquei arrasada, porque tinha na imaginação
alguma coisa com a qual estava emocional e imediatamente en-
volvida. Então andei novamente até a carteira e escrevi meu
nome no final de uma carta. Mais uma vez, estava dramática
e profundamente envolvida com o enredo, e sabia que havia
somente uma coisa mais a fazer: pegar meu chapéu e o casaco
e partir.
Esses exercícios podem ser feitos em qualquer nível. Adotei
o nível dramático. Era o mais próximo de mim, pois eu era uma
atríz dramática.
O Sr. Stanislavski também contou-me - muito mais co-
mo um ator para uma atriz - que havia sofrido quando repre-
sentara Um Inimigo do Povo. Contou que fora um completo
desastre. Ele não conhecia o papel; não sabia onde tocá-lo. Disse
que tinha dificuldades; que Ibsen era difícil para ele. Contou-
me que levou dez anos para encontrar o papel. Quando esta-
va reunindo os elementos para uma técnica que tornada a atua-
ção mais fácil, descobriu a resposta para o problema que tinha
essencialmente experimentado como ator através de sua vida,
em especial quando trabalhou em Um Inimigo do Povo. Nes-
sa peça específica, Stanislavski contou-me que havia falado com
o povo e pedido que ele fizesse alguma coisa. Isto estava er-
140
rado. Ele disse: "Eu tinha que falar para a alma do povo. Se
pudesse alcançar suas almas, poderia ser bem-sucedido. "Dez
anos depois de Stanislavski ter originalmente representado o
papel, a peça foi remontada; o papel foi seu novamente e só
então foi capaz de representá-lo.
Trabalhávamos intensamente com cenas e improvisações,
e eu fui capaz de ficar completamente à vontade, como se es-
tivesse em casa. Sentia-me como se tivesse trabalhado com ele
por toda a vida. Ele era gentil e "completamente teatro"; na-
da além de teatro lhe despertava a atenção. Generosidade e in-
teresse - um mestre com uma aluna:
Ele não me podia ver pelas manhãs, porque, conforme me
contou, tinha dificuldade na fala - era inclinado a ciciar. As-
sim, devia praticar todas as manhãs por duas horas. Eu ri dele,
e ele também riu de si mesmo.
Após muitas semanas, contou-me que tinha vindo a Paris
para ver sua família, mas que eu não havia permitido que ele
assim o fizesse; será que eu lhe daria algum tempo para estar
com ela? Obviamente respondi que sim, agradeci-lhe, disse
adeus e parti.
Mas na manhã seguinte telefonei para ele e disse: "Sr. Sta-
níslavskí, nós não abrangemos um elemento da técnica", ex-
plicando que havia algo que ele não havia deixado claro. Ele
disse: "Venha agora!" (A essa altura, minhas anotações eram
volumosas!)
Quando me afastei do apartamento de Stanislavski, per-
corri as ruas de Paris. Conhecia Paris; conhecia-a como qual-
quer atríz ardente conheceria, que olha para os telhados, para
cada maçaneta de porta, para cada lojinha. Estava enfeitiçada
por Paris. Havia trabalhado com o maior professor do mun-
do, o homem cujas palavras iam inundar o teatro com a ver-
dade. Esse sentido ele tinha, de como era preciso ser verda-
deiro; esta era sua herança, isto é o que ele passou adiante. Eu
nunca poderia agradecer-lhe o bastante. Lembro-me que en-
quanto descia a rua, ia dizendo: "Sr. Stanislavski, não posso
agradecer-lhe pessoalmente, mas, durante toda a minha vida,
dedícar-me-eí às outras p'essoas, para dar-lhes o que o Senhor
me deu."
141
SUGESTÃO DE CENAS E PERSONAGENS PARA
ESTUDAR E TRABALHAR
CHILDREN'S HOUR
de Lillian Hellman
Karen e Martha, Ato III, Cena 1
142
CRUCIBLE (AS FEITICEIRAS DE SALÉM)
de Arthur Miller
Abigail e Proctor, cena da floresta
GOLDEN BOY
de Clifford Odets
Lorna e joe, Ato II, Cena 2
A HATFUL OF RAIN
de Michael Gazzo
Palo e johnny, Ato II
Pai e Johnny, Ato II, Cena 2
LOOK BACK lN ANGER
de John Osborne
Duas Mulheres
ORPHEUS DESCENDING
de Tennessee Williams
VaI e Carol, Ato I
Lady e Val, Ato II
PICNIC
de William Inge
Madge e Hal, final do Ato II
Rosemary e Howard
RAINMAKER
de N. Richard Nash
Lizzie e File, Ato II
Lizzie e Starbuck, fim do Ato II
144
TIME OF YOUR LIFE
de William. Saroyan
joe e Mary, Ato II
145
BIOGRAFIA DE STELLA ADLER
146
seus pais, nos Estados Unidos e no exterior, numa variedade
de papéis em peças de Ibsen, Tolstoi, Hauptmann, Shakespeare
e outros clássicos.
No inverno de 1919, Stela fez sua estréia, em Londres, no
Pavilion, como Naorní, em Elisa Ben Avia. No seu retorno a
Nova York, aceitou papéis de destaque em várias produções
comerciais. Atuando como Lola AdIer, fez a primeira aparição
na Broadway como a Borboleta (Apatura Clythia) em O Mun-
do em que Vivemos ("A Comédia dos Insetos"), o ruidoso su-
cesso de Karel Capek na temporada teatral de 1922-23.
Stella Adler cursou a Universidade de Nova York e mais
tarde estudou no Teatro Laboratório Americano. Lá, entrou
em cantata com a nova abordagem de Stanislavski para atua-
ção através do ensino de dois de seus mais importantes discí-
pulos, Maria Ouspenskaya e Richard Boleslavski. Era conside-
rada de longe a mais segura técnica criativa para atares, e Stel-
la colocava essa técnica em bom uso num número de produ-
ções importantes do Laboratório. Ela apareceu pela primeira
vez como Baronesa Creme de la Creme em Straw Hat, agora
já conhecida como Stella Adler, e desde então passou a usar
seu nome real. Seus outros dois papéis mais notáveis com o
Laboratório foram como Elly em The Big Lake e como Bea-
trice em Muito Barulho por Nada.
De 1927 a 1931 Stella AdIer estrelou em mais de cem pe-
ças. Passou duas temporadas no teatro Irving Place comJacob
Ben Amí, um renornado atar iídíche. Viajou também para a
América Latina, Europa Ocidental e de um extremo ao outro
dos Estados Unidos com uma companhia de repertório. De vol-
ta a Nova York, em 1930, Stella retornou à companhia de seu
pai para uma série de papéis principais em: The God of Ven-
geance, The Lower Deptbs, Liliom, The Witch of Castille e feto
Süss.
A primavera de 1931 marca a época em que Stella AdIer
uniu-se ao batalhador Group Theatre, fundado por um .rp.em-
bro do antigo Theatre Guild, Harold Clurman (mais tarde ma-
rido de Stella). John Gassner escreveu em Theatre of Our Ti-
mes que considerava o Group "uma lembrança do melhor con-
junto de atares que a Broadway já conheceu".
Os membros do Group Tbeatre eram socialmente utopís-
tas conscientes que procuravam proporcionar uma alternati-
147
va para o teatro comercial da época da Depressão. "Após ana-
lisar, dissecar e reformar o teatro," Stella lembra, "duas idéias
surgiram... a primeira convidava o ator a se tornar consciente
de si mesmo (supunha-se que a personalidade total do ator in-
dividuai devia ser levada em conta)... e a segunda falava do ator
em relação ao seu ofício... Quandos essas duas idéias se uni-
ram, o ator percebeu que esse teatro exigia a compreensão bá-
sica de um princípio artístico complexo: que todas as pessoas
ligadas a esse teatro, o ator, o desenhista, o autor, o diretor
etc., tinham por necessidade que chegar a um único ponto de
vista que o tema da peça também expressasse."
Esta crença, que inspirou o fecundo coletivo, revelou-se
de modo bem claro na primeira produção do Group, The House
of Connelly, de Paul Green, na qual Stella representava Geral-
dine Connelly. Brooks Atkinson, do New York Times, refletiu
os sentimentos de quase todos os críticos: "O desempenho do
grupo é imaginado belamente e harmonioso demais para eu
me concentrar em destaques pessoais. Não há nenhum feito
exagerado, frágil ou superficial em sua atuação. (..:) Não é exa-
gerado esperar que algo superior e verdadeiro se tenha inicia-
do no Teatro Americano.
Atkinson revelou-se profético: "O Group Theatre nunca
saiu do modelo que no incício estabeleceu para si, chegando
mesmo a produzir um dos dramaturgos pioneiros da América,
Clifford Odets."
Para a continuação do Group, e de acordo com sua políti-
ca de não-estrelato, Stella aceitou um papel pequeno em 1931,
relato de Paul e Claire Sifton sobre o desemprego na época da
Depressão. O término da primeira temporada de Nova York
foi com Nigbt Ouer Taos, de Maxwell Anderson, com Stella
como Dona Josepha.
Success Story abriu a segunda temporada do Group, e o
desempenho de Stella como Sarah Glassman, uma secretária
que rompia o seu noivado, atraiu a atenção da comunidade tea-
tral. Companheiro do Group, Robert Lewis, recorda em seu
Slíngs andArrows que muitos atares renomados (Noel Coward.
e Ruth Chatterton, entre outros) iam bater lá cada noite, para
estudar SteI1a na cena final da peça.
Stella continuou interpretando papéis principais em The
Big Nigbt como Myra, em Hílda Cassídy como Hilda e em Gen-
tlewoman como Gwyn Ballantine.
148
Após Gentlewoman, insatisfeita com seu desempenho e
perturbada pelo uso excessivo de exercícios de "memória afe-
tiva" do diretor Lee Strasberg, Stella tirou uma licença do Group
e foi para a Europa. Lá foi .apresentada por Olga Knipper (es-
trela do Teatro de Arte de Moscou e viúva de Anton Tchek-
hov) a Konstantin Stanislavski em pessoa. Em resposta à quei-
xa de Stella de que certos aspectos do sistema de Stanislavski
a frustravam, ele sugeriu que talvez ela não os usasse correta-
mente, e se ofereceu para instruí-la em pessoa.
Nas cinco semanas seguintes, Stela e Staníslavskí trabalha-
ram diariamente numa cena em que ela sentira dificuldade, em
Gentlewoman. Como resultado disso, ela foi, na sua volta, ca-
paz de corrigir a interpretação que o Group Tbeatre fazia de
Stanislavski, com um relato formal para seus companheiros ato-
res, completo com quadros resumindo o sistema e a repreen-
são indelícada de que a ênfase indevida na "memória afetiva"
deformava o ator.
Naquele mesmo verão Stella começou a dar aulas. Entre
seus primeiros alunos estava Margaret Baker, que precisava ser
treinada para a produção de The Case of Clyde Griffitbs pelo
Group . Foster Hirsch mais tarde citou o louvor da Srta. Baker
a essa experiência: "Em meia hora trabalhando com Stella Adler
naquela peça fiquei sabendo mais sobre o texto do que duran-
te todos os ensaios."
Stella voltou a atuar em produções do Group, em 1934,
quando retratou a resplandescente atríz Adah Menken em Gol-
den Eagle Guy. Sua interpretação como Bessie Berger emAwa-
ke and Síng (1935), de Odets, novamente animou os críticos..
Robert Lewis recorda que Stella "estabelecia um-modelo para
papéis de mãe judia que não tem sido igualado desde então;
omitindo a comum autopiedade (S-fermentando a natureza do-
minadora da mulher com uma graça sublime."
Após a sua última aparição no palco com o Group, como
Clara, em Paradise Lost (1935), Stella rumou para Hollywood.
Estreou em Lave on Toast como Stella "Ardler" - "os pro-
dutores decidiram que um nome não-judeu talvez surtisse efeito
na marquise", observou ela. Ainda retornou ao Group Tbea-
tre principalmente para dirigir. Foi Stella quem encenou a acla-
mada turnê de Golden Boy, em 1938. .
Stella sentiu fortemente sua vocação para ensinar por volta
149
de 1940. Desenvolveu então a Oficina Dramática na Nova Es-
cola para Pesquisa Social, onde ensinou por dois anos.
Em 1941, o ano da dissolução do Group Theatre, a Sra.
Adler apareceu em seu segundo filme, Shadow of tbe Tbin Man
(voltaria a aparecer num terceiro, My Girl Tisa, em 1948). Mais
tarde passou algum tempo por trás da cena, como produtora
associada a Arthur Freed da MGM, nos filmes DuBarry Was
a Lady, Madame Curíe, e também For Me and My Gal, entre
outros de]udy Garland. Stella insistiu para que o estúdio orien-
tasse a educação de ]udy Garland e não desperdiçasse seu ta-
lento em papéis desinteressantes. .
Entretanto, a Broadway chamou Stella de volta ao palco em
maio de 1943, quando interpretou Catherine Canrick na formi-
dável produção de Sons and Soldiers, de Max Reinhardt. Mais
tarde naquele mesmo ano, ela encenou Manhattan Nocturne.
Continuou a dirigir representações bem-sucedidas de Po-
lonaíse, uma peça fantasiosa montada sobre a música de Cho-
pin em 1945, Sunday Breakfast em 1952 e o musical antiguerra
johnny johnson em 1956. A Broadway foi privada da produ-
ção de Alice ín Wonderland, que seria algo sensacional, quan-
do os possíveis produtores exigiram que Stella desse o papel
protagonista a uma estrela de cartaz. A integridade de Stella
Adler excluiu esta opção e ela recusou a proposta. Todavia,
a sessão correu com grande sucesso fora da Broadway por mui-
to tempo.
Stella Adler sempre foi uma intérpete vívida e intensa, e
a platéia era recompensada quando a grande dama do teatro
americano tinha desempenhos extraordinários como Clothíl-
de Hilyard, em Pretty Little Parlor, de Claiborn Foster, em
1944, e como Zinadia, a domadora de leão, numa remontagem
do Tbeatre Guíld de He %0 Gets Slapped, de Leonid Andre-
yev. A última aparição de Stella Adler no palco foi em Londres,
em 1961, como Madame Rosepetal em Oh Dad, Poor Dad, Ma-
ma 's Hung You in the Closet and I'm Feelin' So Sad, de Ar-
thur Kopit. Em sua carreira de atriz, apareceu em mais de 200
produções.
Além de suas apresentações, o maior presente de Stella
Adler para a história teatral americana é sem dúvida os milha-
res de atores instruídos desde o tempo em "que as portas de
seu Estúdio de Atuação Stella Adler se abriram em 1949.
150
"Em nosso tempo, não há modelos para o ator. Todas as re-
gras formais para O ator mudaram: seu comportamento, seu
vestuário, seu discurso, etc. O professor sabe que cada ator
é diferente, e um talento pode estar latente. O ator de nosso
tempo tem que ser ajudado", disse Stella Adler.
Ela criou um programa básico de dois anos, dando aten-
ção especial à análise da peça e à caracterização. Por volta de
1960, O estúdio de StellaAdler, agora sob o novo nome de Con-
servatório de Atuação Stella Adler, havia crescido para rece-
ber mais de uma dúzia de membros no corpo docente. Ela con-
tinuou pessoalmente a dar aulas superiores de atuação e ínter-
pretaçãode texto. Serviu também como professora adjunta da
atuação na Escola de Teatro da Universidade Yale em 1966-67,
e tem prestado colaboração à Universidade de Nova York por
muitos anos. O Conservatório de Atuação Stella Adler abriu
em Los Angeles em 1986. Pela sua experiência e contribuição
à comunidade artística, foi honrada pela Nova Escola de Pes-
quisa Social com o título de Doutora das Letras Humanas, e
com um título de Doutora em Belas-Artes, do Colégio Smith.
Hoje, Stella Adler continua orientando a formação de ato-
res. Quem quer que tenha observado as aulas de Stella em No-
va York e Los Angeles sabe que ela mantém sempre presente
o que Konstantin Stanislavski lhe ensinou: "A fonte da atuação
é a imaginação e a chave para seus problemas é a verdade das
circunstâncias da peça." Ela estimula seus alunos a tornar com-
preensíveis as idéias do dramaturgo. Convida-os - como faz
consigo mesma - a igualar a atuação à própria vida: "Criar
e interpretar significam total envolvimento, a totalidade de co-
ração, mente e espírito."
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