Revista Atos de Pesquisa em Educação / Blumenau, v.16, E8665, 2021 Doi
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RESUMO: Este artigo tem por objetivo discutir a pesquisa relacional e apontar
algumas metodologias que podem ser utilizadas nesse tipo de investigação. Num
primeiro momento, discorremos sobre as influências do discurso construcionista social
na pesquisa relacional e as principais características desse tipo de pesquisa.
Discutimos, também, as implicações para o pesquisador e para a investigação, ao
optar pelo estudo do tipo relacional, e apresentamos a investigação apreciativa, o
grupo focal e a roda de conversa como instrumentos metodológicos possíveis à
pesquisa relacional, evidenciando suas potencialidades colaborativas e dialógicas.
Por último, discorremos sobre uma maneira possível de fazer a análise dos textos
obtidos por meio das metodologias anteriormente apresentadas.
Palavras-chave: Construcionismo Social. Grupo Focal. Investigação Apreciativa.
Pesquisa Relacional. Roda de Conversa.
ABSTRACT: This article aims to discuss relational research and to point out some
possible methodologies for this type of research. Firstly, we discuss the influences of
social construccionism movement in relational research and the main characteristics
of this type of research. We also discuss the implications for the researcher and for
research when choosing the relational type study. We present the appreciative inquiry,
the focus group and the conversation circles as possible methodological tools for
relational research, evidencing their collaborative and dialogical potentialities. Finally,
we discuss a possible way of analyzing the texts obtained through the methodologies
previously presented.
Keywords: Appreciative Inquiry. Conversation Circles. Focus Group. Relational
Research. Social Construcionism.
RESUMEN: Este artículo tiene por objetivo discutir la investigación relacional y
apuntar algunas metodologías que pueden ser utilizadas en este tipo de investigación.
1 INTRODUÇÃO
O pesquisador que pretende iniciar uma pesquisa sabe que, em primeiro lugar,
é necessário definir algumas questões importantes, como a delimitação do objeto de
estudo, a escolha do referencial teórico, a definição dos instrumentos de coleta de
dados, etc. Algumas obras, como a de Antônio Carlos Gil (2002) e Antônio Paulo de
Castilho e Derna Pascuma (2005), são verdadeiros manuais de elaboração de
projetos de pesquisa, que visam orientar os pesquisadores no processo investigativo.
A depender dos objetivos traçados para a investigação, o pesquisador,
certamente, conduz sua pesquisa para uma abordagem específica: a qualitativa, a
quantitativa ou ambas. Se seu intuito é comprovar a ocorrência de determinado
fenômeno através de relações de causa e consequência entre variáveis, medindo-as,
mensurando-as, testando teorias, então a pesquisa é de cunho quantitativo. Se, pelo
contrário, o objetivo da investigação é interpretar um determinado fenômeno, por meio
de indução, de descrições densas e complexas, a abordagem da investigação é
qualitativa. Se a pesquisa contempla essas duas dimensões, ela é definida como
qualitativo-quantitativa, também conhecida como quali-quanti.
A figura 1, elaborada por Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2005), Godoi
(2005) e Lima (2005), a seguir, nos ajuda a compreender melhor as diferenças entre
esses dois tipos de abordagem supracitados:
Fonte: elaboração de Ana Cláudia Fernandes e Edmuno Filho, que se inspiraram nos textos de Alves-
Mazzotti e Gewandsznajder, 2005; Godoy, 1995; Lima, 2005
2 A PESQUISA RELACIONAL
1 “The dominant research tradition has emerged within a modernist worldview. Modernism assumes
that, with the proper tools and techniques, we will be able to discover reality. Of course, part and parcel
of this assumption is the belief that there is a reality to be discovered. [...] Postmodernism, in the other
hand, challenges the notion that there is one reality to be discovered. Instead, postmodern theorists
proposes that our ways of talking and relating to each other and the world should be the focus of the
study and therefore, the idea of multiple truths, multiple realities, and multiple methods for exploration
such realities is paramount” (MCNAMEE, 2014, p. 74).
[...] é uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera
criticidade (Jaspers). Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé,
da confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E quando os dois pólos do
diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se
fazem críticos na busca de algo. Instala-se, então, uma relação de empatia
entre ambos. Só aí há comunicação (FREIRE, 1967, p. 107).
2“os participantes da pesquisa geralmente não estão familiarizados com as metodologias usadas para
obter e 'gerenciar' suas contribuições” (Tradução nossa).
3Este quadro é uma tradução adaptada do quadro apresentado por McNamee (2014, p. 77) no artigo
Research as a relational practice (Table 1: Understanding Consistency and Inconsistency across
Research Words).
4O Google é uma ferramenta virtual de busca e de pesquisa que pode ser acessado através do seguinte
site: www.google.com.
5 Os socioconstrucionistas não têm a intenção de prescrever, ditar normas, regras, padrões, modos de
ser e fazer, pois tudo isso vai de encontro ao que o próprio discurso construcionista defende. Por isso,
não existe uma metodologia construcionista.
6 “a indagação colaborativa é motivada por perguntas que importam e que fazem diferença para os
Fonte: elaboração das autoras Cristiane Arnemann, Denise Gastaldo e Maria Henriqueta
Kruse, 2018
Dessa forma, num grupo focal “há interesse não somente no que as pessoas
pensam e expressam, mas também em como elas pensam e porque pensam o que
pensam” (GATTI, 2005, p. 9). O que importa, então, são os significados produzidos
coletivamente, mas vale ressaltar que isso não quer dizer uma busca pelo consenso,
pois as conversas, os diálogos são abertos à multiplicidade de opiniões e
pensamentos.
Quem trabalha com grupo focal tem de estar atento a algumas questões
importantes inerentes a essa metodologia. O local de realização do grupo, por
exemplo, é algo que pode interferir muito na qualidade das informações produzidas.
O pesquisador deve procurar um local confortável para os participantes e silencioso,
de modo a possibilitar a gravação. A composição do grupo também é importante. Flick
(2009) distingue dois tipos de grupos: os grupos reais e os grupos artificiais. Nos
grupos reais, os sujeitos que participarão da pesquisa já preexistem naturalmente,
enquanto os grupos artificiais são definidos durante a investigação.
Um grupo focal, geralmente, é composto por um mediador, que será
responsável pela condução das discussões, e pelos sujeitos que compõem o grupo.
Mas é possível que o pesquisador conte com auxiliares responsáveis por uma
avaliação externa da condução do grupo. Definida a composição da equipe de
pesquisa, é necessário estruturar o grupo focal, estabelecendo o número de
encontros, a regularidade desses encontros, bem como sua duração. Finalmente, o
pesquisador precisará de um planejamento, que é o roteiro do debate. Nele, é preciso
indicar os tópicos que serão discutidos nos grupos, de acordo com os objetivos da
pesquisa.
Aparentemente, os grupos focais necessitam de um direcionamento maior, de
um controle marcante de um mediador que define como é que a conversa vai fluir e
para qual(is) caminho(s) ela deve seguir. Porém, numa investigação do tipo relacional,
o pesquisador deve evitar que a conversa seja totalmente dirigida e estruturada,
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7 “Em vez de escutar com o propósito de analisar ou interpretar o que foi dito pelos outros, Anderson
(2007, p.6) descreve um estilo responsivo e espontâneo de escutar: ‘É uma atividade participativa que
requer responder para tentar compreender - ser genuinamente curioso, fazer perguntas para aprender
mais do que se disse e não o que pensa que se deve dizer’” (Tradução nossa).
REFERÊNCIAS
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.