Revisao Basica Sobre Materiais e Equipamentos Eletricos

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REVISÃO BÁSICA SOBRE MATERIAIS E EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS

1. CONDUTORES

Podemos definir condutor de energia como o meio pelo qual se transporta energia
desde um determinado ponto, denominado fonte ou alimentação, até um terminal
consumidor ou carga.

Quanto ao tipo de material usado para construção dos condutores, temos dois
materiais utilizados. Um deles, o alumínio, possui maior utilização em condutores
elétricos para sistemas de potência. Já o cobre é o mais utilizado em instalações
prediais, comerciais e industriais. Cabos de alumínio, conforme NBR-5410, somente
podem ser utilizados para seções iguais ou superiores a 16 mm².

Em relação aos materiais utilizados para isolação dos cabos temos na baixa tensão
como principais o PVC (policloreto de vinila), o PE (polietileno termoplástico), o EPR
(borracha etileno propileno) e o XLPE (polietileno reticulado). Já na média tensão
encontramos cabos isolados em EPR e XLPE.

Os diferentes tipos e formas de fabricação de condutores elétricos variam de acordo


como cada um deles será utilizado. Cada tipo e forma é própria para um determinado
tipo de aplicação. Abaixo temos alguns conceitos importantes quando falamos sobre
formação de condutores.

 Fio Metálico – Produto maciço, de seção transversal invariável e comprimento


muito maior do que sua dimensão transversa (diâmetro).

Os principais tipos de fios são:

 Fio Nu – fio sem revestimento metálico, isolação ou cobertura.


 Fio Revestido – fio dotado de um revestimento metálico. Ex: fio de cobre
estanhado, fio cadmiado, fio de cobre prateado, fio de aço zincado, fio de aço
cobreado.
 Fio Isolado – fio com ou sem revestimento, dotado de isolação.
 Fio Coberto – fio com ou sem revestimento, dotado de cobertura.

Cabo elétrico – produto metálico composto de fios elétricos justapostos, que pode ou
não possuir isolação e/ou proteção mecânica.
Classes de Encordoamento – A NBR NM 280 (antiga NBR 6880) define para os cabos
de cobre as classes de encordoamento, numeradas em ordem crescente de
flexibilidade, sendo:

 Classe 1 – Condutor sólido.


 Classe 2 – Condutores encordoados, compactados ou não.
 Classes 4, 5 ou 6 – Condutores flexíveis (cordas ou cabos compostos por
cochas ou feixes).

Os principais tipos de fios e cabos condutores utilizados são:

a) Condutor Sólido – condutor de seção transversal maciça (fio sólido).

b) Condutor Rígido (Redondo Normal) – cabo constituído por fios sólidos dispostos
helicoidalmente em camadas ou coroas alternadas com passos distintos.

c) Condutor Flexível (Corda Composta) – cabos constituído por feixes (cochas) de fios
dispostos helicoidalmente em camadas ou coroas alternadas, com passos distintos.

d) Condutor Compactado – cabo encordoado, onde os espaços ou interstícios entre


os fios foram reduzidos por compressão mecânica.

Na figura 1 abaixo temos a ilustração destes diversos tipos de formação de


condutores elétricos.

Figura 1: exemplos de tipos de formação dos condutores elétricos

Fonte: catálogo de fios e cabos elétricos Condumax

O tipo de condutor fio sólido (a) está limitado à seção de 10mm², pois acima disto
apresenta pouca flexibilidade e grandes dificuldade de trabalhos de puxamento,
acomodação e ligação. O cabo rígido (b), é uma alternativa quando são necessárias
seções nominais maiores que 10mm², porém também possuem pouca flexibilidade e
grandes dificuldade de trabalhos de puxamento, acomodação e ligação. O cabo
redondo compacto (d) apresenta uma classe de encordoamento 2, melhorando em
flexibilidade e trabalhos de instalação. Já os cabos flexíveis (c) apresentam classes
de encordoamento 4, 5 e 6, sendo os mais fabricados de classe 4 e 5 (flexíveis),
normalmente usados em instalações fixas, e de classe 6 (extra flexíveis),
normalmente utilizados para equipamentos móveis, como uma máquina de solda por
exemplo. Estes cabos possuem grande flexibilidade e facilidades de trabalhos de
puxamento, acomodação e ligação. Por outro lado, evidentemente, possuem maior
custo de aquisição que deve ser composto com o custo de instalação, o que leva
normalmente em instalações industriais ao uso deste tipo de cabos flexíveis. Mesmo
em instalações prediais (cabos até 10mm²) os cabos flexíveis tem ocupado espaço,
principalmente em obras de médio e grande porte.

Os cabos possuem os seguintes componentes, não necessariamente todos eles


juntos, dependendo da sua aplicação:

 Condutor
 Isolação
 Blindagens de campo elétrico (do condutor e externa)
 Armação metálica
 Capa de proteção

Quanto ao material condutor, já falamos que os mais utilizados são alumínio e cobre.
O isolamento dos cabos atualmente é constituído de materiais sólidos extrudados.
Importante aqui ressaltar a diferença entre os termos isolamento e isolação para
cabos elétricos. Isolamento refere-se a uma característica quantitativa, por exemplo:
um cabo com isolamento para 1000V. Já isolação é uma característica qualitativa, do
material empregado para garantir o isolamento, por exemplo isolação em borracha de
etileno propileno (EPR). Os principais materiais utilizados para isolação sólidas são
divididos em dois grupos: termoplásticos e termofixos.

Os termoplásticos são fabricados a base de cloreto de polivinila (PVC) e polietileno


termoplástico (PE). A isolação termoplástica possui as seguintes propriedades
básicas:

 Baixa rigidez dielétrica;


 Baixa temperatura máxima admissível;
 Boa resistência à abrasão e a golpes;
 Resistência regular à agua e a umidade.

Já a isolação termofixa é fabricada a partir de dois materiais distintos, com


características específicas para cada um deles.

O polietileno reticulado (conhecido comumente como XLPE), apresenta as seguintes


propriedades principais:

 Rigidez dielétrica elevada;


 Temperatura máxima elevada;
 Excelente resistência à abrasão e golpes;
 Flexibilidade regular;
 Resistência regular à agua e a umidade.

A borracha etileno-propileno (conhecido comumente como EPR), apresenta as


seguintes propriedades principais:

 Rigidez dielétrica elevada;


 Temperatura máxima elevada;
 Excelente resistência à abrasão e golpes;
 Grande flexibilidade;
 Excelente resistência à agua e a umidade.

Em termos de aplicações práticas as isolações de PVC e PE são utilizadas para


condutores somente de baixa tensão. Já as isolações EPR e XLPE são utilizadas
tanto para condutores de baixa como de média tensão. Basicamente, a principal
diferença entre as isolações em EPR e XLPE está na sua capacidade de resistir à
umidade. O EPR leva uma grande vantagem, devido a degradação da rigidez
dielétrica ser maior no XLPE que no EPR. Isso faz com que os cabos em XLPE
precisem apresentar uma construção melhor protegida contra penetração de umidade
que os cabos isolados em EPR.

As blindagens utilizadas em condutores tem a finalidade de confinar o campo


eletrostático ou de escoar as correntes induzidas e de curto-circuito. Para os cabos de
média tensão temos a blindagem do condutor e também uma blindagem externa.

A blindagem do condutor tem a finalidade de manter a uniformidade das linhas de


campo elétrico radial e longitudinal entre o condutor e a isolação. Já a blindagem
externa (blindagem da isolação) também tem a função de manter a uniformidade das
força radiais e longitudinais do campo elétrico, porém entre a isolação e a capa de
proteção, evitando choques elétricos.

Para os cabos de potência de baixa tensão a blindagem é utilizada em cabos para


cargas que são alimentadas por fontes que geram interferências eletrostáticas
(conversores de frequência alimentando motores elétricos, por exemplo).

Os cabos podem receber uma proteção mecânica através de uma armação de fios de
aço galvanizado ou fios de cobre estanhado. Estes tipos de cabos são aplicáveis em
locais que necessitam uma proteção reforçada como em aplicações navais, por
exemplo.

A capa de proteção (ou cobertura) dos cabos é uma proteção externa, não metálica,
que tem a finalidade de proteger o material da isolação contra abrasão e poluição. A
figura 2 ilustra os componentes de um cabo de média tensão.

Figura 2: construção de um cabo de média tensão.

1- Condutor de cobre;
2- Blindagem do condutor – composto termofixo semicondutor;
3- Isolação – XLPE ou EPR;
4- Blindagem da isolação – composto termofixo semicondutor;
5- Blindagem metálica – fios de cobre nu (complementa a blindagem da
isolação) ;
6- Separador – fita higroscópica de poliéster para manter a formação da
blindagem metálica;
7- Cobertura ou capa de proteção – em PVC
Fonte: catálogo de cabos elétricos Induscabos

Os cabos de energia podem ser construídos de maneiras diversas, em função da sua


destinação.

 Cabos isolados: são construídos por um único condutor (1) e dotados apenas
da isolação (2), conforme figura 3.

Figura 3: exemplo de cabo isolado

Fonte: catálogo de cabos Nexans

 Cabos unipolares: são cabos isolados e dotados de uma capa de proteção


(cobertura), conforme figura 4. O termo cabo singelo se aplica a cabos isolados
e cabos unipolares.

Figura 4: cabo tipo unipolar

Fonte: manual Prysmian de instalações elétricas

 Cabos multipolares: são aqueles constituídos por vários cabos (1), com
isolação (2) e dotados de capa de proteção (3). Os cabos multipolares de
potência são construídos nas formas bipolares, tripolares e tetrapolares. A
figura 5 ilustra um cabo multipolar.

Figura 5: cabo tipo multipolar

Fonte: catálogo de cabos Eurocabos

A utilização de cabos isolados, sem capa de cobertura, é indicada para locais de


instalações fixas internas onde não fica sujeito a intempéries, como em edificações
residenciais e comerciais. Já os cabos unipolares e multipolares são os cabos mais
utilizados em instalações elétricas industriais. Com relação à escolha de cabos
unipolares ou cabos multipolares na indústria, temos algumas diferenças entre eles
que podem auxiliar nesta decisão:

 Os cabos unipolares, quando agrupados por exemplo para formar um circuito


trifásico, possuem uma capacidade de condução de corrente maior que um
cabo tripolar de mesma seção nominal;
 Quando as seções são muito pequenas (abaixo de 10mm² por exemplo) os
cabos multipolares normalmente são utilizados pela facilidade de instalação;
 Quando existe a possibilidade de se confundir condutores de vários circuitos,
também se recomenda a utilização de cabos multicondutores e desta forma,
cada cabo terá todos os condutores de um único circuito;
  A maneabilidade do cabo é um fator crítico para decidir. Os cabos multipolares
necessitam de bobinas mais volumosas, mais pesadas e a passagem destes
exigem raios de curvatura superiores aos cabos unipolares, dado que estes
são em função do diâmetro exterior do cabo.

Quanto a identificação dos condutores isolados, a NBR 6251 faz menção de que eles
devem ser identificados convenientemente. Qualquer sistema de cores, palavras ou
sistema à base de números é permitida. No caso de identificação por cores, estas
ficam a critério do fabricante, respeitadas as seguintes condições:

 As cores verde/amarelo e verde devem ser usadas exclusivamente para


identificação do condutor de proteção (terra);
 A cor azul-clara deve ser usada para identificar o condutor neutro; caso não
haja o condutor neutro poderá identificar qualquer condutor que não exerça a
função exclusiva de proteção;
 A cor amarela não pode ser usada separadamente.

A norma brasileira NBR 6251 identifica as tensões de isolamento através de dois


valores (V0 / V1). O primeiro valor identifica a tensão eficaz entre o condutor e a terra
ou blindagem (V0), já o segundo valor determina a tensão eficaz de isolamento entre
fases de dois condutores (V1). Exemplificando: um cabo com tensão de isolamento
3,6/6,0 kV possui um isolamento de 3,6 kV entre fase e terra e 6,0 kV entre fases
(tensão de linha). É importante lembrar que em sistemas elétricos a indicação da
tensão nominal sempre é entre fases. Por exemplo, motor elétrico de média tensão de
4,16 kV deve ser alimentado por uma fonte de 4,16 KV com cabos de classe de
isolamento 3,6/6,0 kV.

O cabos de potência para baixa tensão possuem duas classes de isolamento:


 450/750 V
 0,6/1,0 kV

Para a classe 450/750 V a isolação é normalmente em PVC e para a classe 06/1,0 kV


a isolação pode ser em PVC, EPR ou XLPE.

Para os cabos de média tensão temos as seguintes classes de isolamento:


 3,6/6,0 kV
 6/10 kV
 8,7/15 kV
 12/20 kV
 15/25 kV
 20/35 kV

Para as classes acima de média tensão a isolação pode ser em EPR ou XLPE.

Dentre os vários parâmetros elétricos de condutores o conhecimento da impedância


de um condutor de energia é de fundamental importância para o cálculo de curto-
circuito no sistema elétrico e para calcularmos as quedas de tensões ao longo da
instalação. A impedância de um condutor usada para o cálculo de queda de tensão é
formada pela sua resistência elétrica e pela sua reatância indutiva. Para cabos
isolados em BT a reatância capacitiva pode ser desconsiderada no dimensionamento
de circuitos. Já para os cabos de média tensão a reatância capacitiva é usada para
calcular as perdas por efeito capacitivo nos cabos (interferindo no valor do fator de
agrupamento).

A resistência elétrica de um condutor depende do seu comprimento, da sua seção


nominal, do material utilizado e do tipo de tensão (contínua ou alternada).

Já a reatância indutiva de cabos depende da frequência da rede e da indutância dos


cabos. A indutância dos cabos depende da interação eletromagnética entre
condutores e entre o material onde estes condutores estão instalados. Desta forma
condutores instalados ao ar livre, por exemplo, possuem uma indutância diferente de
cabos instalados em condutos fechados.

Podemos utilizar equações para calcular a resistência elétrica e a reatância dos


condutores de energia, porém como estes valores são diretamente relacionados com
a forma construtiva dos cabos, os fornecedores de condutores nos informam estes
valores normalmente em Ω/Km (ohms / quilômetro) ou mΩ/Km (miliOhms / metro).
Para conhecermos os valores em Ohms para cada circuito que faremos o
dimensionamento, basta multiplicar o valor fornecido pelo comprimento do nosso
circuito. A figura 6 abaixo ilustra parâmetros de cabos elétricos instalados em
condutos fechados.

Figura 6: resistências e reatâncias indutivas para cabos de baixa tensão


Fonte: catálogo de dimensionamento de cabos da Prysmian

A figura 7 ilustra parâmetros elétricos de cabos de média tensão. Observe que a


forma com que os cabos são instalados interfere nos seus parâmetros elétricos

Figura 7: exemplo de parâmetros elétricos de cabos de média tensão

Fonte: catálogo de dimensionamento de cabos da Prysmian

Os circuitos elétricos, dentro de instalações elétricas, funcionam como uma ponte de


ligação entre a fonte e a carga. Quando tratamos de proteção destes circuitos,
devemos também abranger a proteção da carga ligada a este circuito? Um motor
elétrico é projetado para fornecer determinada potência dentro de um limite de
temperatura. Acima do seu limite de temperatura a sua isolação passa a sofrer
degradação, causando redução na vida útil do motor e no limite, o rompimento do
isolamento (“queima” do motor).

A grandeza elétrica que causa elevação de temperatura nos enrolamentos dos


motores é a corrente elétrica, pelo efeito Joule. Mas esta elevação de corrente, ou
seja, uma sobrecorrente, deve ser avaliada em conjunto com seu tempo de duração.
Por exemplo, uma corrente de partida em um motor elétrico, é uma sobrecarga que
vai elevar a temperatura nos enrolamentos acima da temperatura nominal do motor,
mas deve durar um tempo menor que o tempo limite que o motor suporta esta
corrente (que é o tempo de rotor bloqueado).

Desta forma as proteções de circuitos alimentadores de motores devem ao mesmo


tempo garantir a proteção dos condutores e também do motor. As sobrecorrentes são
tecnicamente divididas em duas categorias básicas: sobrecargas, consideradas como
sobrecorrentes acima da corrente nominal até 10 vezes o valor da corrente nominal. E
curto-circuito, consideradas como sobrecorrentes acima de 10 vezes a corrente
nominal.

Para proteção de sobrecarga podemos utilizar relés térmicos, fusíveis de sobrecarga


ou disjuntores com função de sobrecarga (térmicos). Para proteção de curto-circuito
podemos utilizar fusíveis ou disjuntores. Veremos no decorrer desta aula as situações
e combinações mais apropriadas para o uso destes três componentes básicos de
proteção: relés térmicos, fusíveis e disjuntores. Além disto também falaremos sobre
as proteções específicas de sobretemperatura em um motor elétrico.

2. RELÉS DE SOBRECARGA TÉRMICOS

Relés de sobrecarga são dispositivos baseados no princípio de dilatação de partes


termoelétricas (bimetálicos) causada pela passagem de uma corrente elétrica. A
operação de um relé está baseada nas diferentes dilatações que os metais
apresentam, quando submetidos a uma variação de temperatura. Relés de
sobrecarga são usados para proteger equipamentos elétricos, como motores e
transformadores, de um possível superaquecimento. O superaquecimento de um
motor pode, por exemplo, ser causado por:
 sobrecarga mecânica na ponta do eixo;
 tempo de partida muito alto;
 rotor bloqueado;
 falta de uma fase;
 desvios excessivos de tensão e frequência da rede.

Em todos estes casos citados acima, o incremento de corrente (sobrecorrente) no


motor é monitorado em todas as fases pelo relé de sobrecarga.

Importante lembrar que um relé térmico não interrompe a corrente da carga, ou seja,
não é ele que faz o seccionamento do circuito quando o valor da corrente sobrecarga
atinge o tempo limite da curva de atuação do relé. Os seus contatos principais são
fixos e ele possui apenas contatos auxiliares móveis que devem ser conectados no
comando de acionamento do contator ou disjuntor (principalmente no caso da média
tensão) de partida do motor. A figura 08 ilustra o esquema de contatos de um relé
térmico.

Figura 8 – contatos de um relé térmico

Fonte: catálogo de relés térmicos da WEG

A relação tempo x corrente de desarme de relés de sobrecarga é conhecida como


curva característica. A figura 9 ilustra a curva característica de um relé térmico.
Figura 9 – curva característica de um relé térmico

Fonte: catálogo de relés térmicos da Siemens

No eixo horizontal (abscissas) encontram-se os valores múltiplos da corrente de


regulagem (x Ir) e no eixo vertical (ordenadas), o tempo de desarme (t).

Um relé de sobrecarga deve proteger o motor e o circuito alimentador para


sobrecorrentes de até 10 vezes o valor da corrente nominal. Por outro lado, devem
dar condições de partida ao motor, isto é, não devem atuar enquanto o motor executa
a sua curva de partida. Como os motores possuem diferentes tempos de partida, em
função das diferentes cargas que podem ser conectadas nos seus eixos, os relés
também possuem curvas diferentes de “corrente x tempo”, que são classificadas
como classes 10A, 10, 20 e 30. A figura 10 ilustra o comportamento destas curvas.
Figura 10 – Curvas características de relés térmicos

Fonte – Catálogo de relés térmicos Siemens

Os relés de sobrecarga são fabricados em faixas de corrente, onde a corrente


nominal do motor deve ficar dentro desta faixa de corrente. Por exemplo um relé
térmico de faixa de corrente de 6 A a 10 A, pode atender motores que possuam
corrente nominal entre estes dois valores de corrente. A corrente de regulagem do
relé (Ir) deve ser feita no valor da corrente nominal do motor.

Os relés de sobrecorrente podem ser do tipo térmico (bimetálicos) ou do tipo


eletrônico. Os relés de sobrecarga eletrônicos possuem valores de ajuste de corrente
de regulagem mais precisos, bem como curvas mais precisas de desarme, além de
possibilidade opcionais (comunicação em rede, várias curvas de disparo no mesmo
relé, etc). Por outro lado, evidentemente, possuem um maior custo em relação aos
térmicos convencionais.

3. PROTEÇÃO POR DETECÇÃO TÉRMICA NOS ENROLAMENTOS DE UM


MOTOR
Em um motor elétrico uma sobretemperatura nos seus enrolamentos pode ser
causada por uma origem não elétrica. Por exemplo, um motor que possui deficiência
de ventilação devido a uma temperatura no seu entorno elevada, não permitindo que
o ventilador do motor resfrie adequadamente o motor. Neste caso o motor pode estar
trabalhando na sua corrente nominal, mas seus enrolamentos podem atingir uma
temperatura acima da temperatura para a qual foram projetados. Nestes casos os
relés térmicos não farão a proteção adequada do motor, uma vez que a corrente não
é a causadora do sobreaquecimento.

Para estes casos, principalmente em motores de grande porte, a proteção térmica por
detecção é efetuada geralmente por meio de termoresistências, termistores ou
termostatos, que são instalados no interior dos enrolamentos do motor (normalmente
um ou dois elementos por fase). Os tipos de detectores a serem utilizados são
determinados em função da classe de temperatura do isolamento empregado, de
cada tipo de máquina e da exigência do cliente.

As termoresistências (PT-100) operam baseadas na característica de variação da


resistência com a temperatura intrínseca a alguns materiais (geralmente platina,
níquel ou cobre). Possuem resistência calibrada, que varia linearmente com a
temperatura. Devem ser interligadas a um controlador (tipo relé digital) que fará o
acompanhamento contínuo do processo de aquecimento do motor. São utilizadas
normalmente em instalações de grande responsabilidade como, por exemplo, em
regime intermitente muito irregular. Um mesmo detector pode servir para alarme e
para desligamento. Possuem como um alto custo com relação aos outros tipos de
detectores.

Os termistores são detectores térmicos compostos de sensores semicondutores que


variam bruscamente sua resistência ao atingirem determinada temperatura. Podem
ser do tipo NTC (coeficiente de temperatura negativo) e PTC (coeficiente de
temperatura positivo). O tipo “PTC” é um termistor cuja resistência aumenta
bruscamente para um valor bem definido de temperatura, especificado para cada tipo.
Essa variação brusca na resistência interrompe a corrente no PTC, acionando um relé
de saída, o qual desliga o circuito principal. Também pode ser utilizado para sistemas
de alarme ou alarme e desligamento (2 por fase). Para o termistor “NTC” acontece o
contrário do PTC, porém, sua aplicação não é normal em motores elétricos, pois os
circuitos eletrônicos de controle disponíveis, geralmente são para o PTC.
Já os termostatos são detectores térmicos do tipo bimetálico com contatos de prata
normalmente fechados, que se abrem quando ocorre determinada elevação de
temperatura. Quando a temperatura de atuação do bimetálico diminuir, este volta a
sua forma original instantaneamente permitindo o fechamento dos contatos
novamente. Os termostatos podem ser destinados para sistemas de alarme,
desligamento ou ambos (alarme e desligamento) de motores elétricos trifásicos. São
ligados em série com a bobina do contator. Dependendo do grau de segurança,
podem ser utilizados três termostatos (um por fase) ou seis termostatos (grupo de
dois por fase). Para operar em alarme e desligamento (dois termostatos por fase), os
termostatos de alarme devem ser apropriados para atuação na elevação de
temperatura prevista do motor, enquanto que os termostatos de desligamento
deverão atuar na temperatura máxima do material isolante.

É importante destacar que estes detectores fazem a proteção exclusiva do motor,


sendo que o circuito que alimenta este motor deve possuir obrigatoriamente proteções
de sobrecarga e curto-circuito.

4. FUSÍVEIS

Os fusíveis são os elementos mais tradicionais para proteção contra curto-circuito de


sistemas elétricos, mas vem perdendo espaço para os disjuntores, principalmente
disjuntores motores em instalações industriais.

Fusível é um dispositivo dotado de um elemento metálico, com seção reduzida na sua


parte média, normalmente colocado no interior de um corpo de porcelana
hermeticamente fechado contendo areia de quartzo de granulometria adequada.

Dentre as várias formas de classificação de fusíveis de força de baixa tensão, temos


duas principais:
 Quanto à construção física: os dois modelos mais utilizados em instalações
elétricas são os do tipo “D” (diametral) e “NH” (faca). Os fusíveis tipo D são
limitados até geralmente até 100 A e são indicados para locais acessíveis a
pessoas não qualificadas em segurança com eletricidade. Já os tipos NH
podem chegar até 1000 A ou mais dependendo do fabricante, sendo indicados
para locais com de acesso de pessoas qualificadas (instalações industriais). A
figura 11 ilustra os fusíveis tipo NH (lado esquerdo) e tipo D (lado direito).
Figura 11 – fusíveis do tipo NH e D

Fonte – catálogo de fusíveis da WEG

 Quanto ao tipo de ação: basicamente são divididos em ultrarrápidos ou de


tempo com retardo (popularmente chamados de retardados). Os fusíveis
ultrarrápidos são utilizados para proteção de semicondutores (por exemplo
tiristores). Por esta razão são utilizados na proteção de equipamentos
eletrônicos de acionamento de motores (soft-starter e conversor de
frequência). Já os fusíveis de tempo longo são utilizados em acionamentos
convencionais de motores (partida direta, estrela-triângulo, etc.).
Os fusíveis usados na proteção de circuitos de motores são da classe
funcional (gL), indicando que são fusíveis com função de “proteção geral”. A
característica de interrupção destes fusíveis é de efeito retardado (gG),
apropriados para proteção de motores, pois estes no instante de partida
solicitam uma corrente diversas vezes superior à nominal e que dever ser
“tolerada”. Caso fossem utilizados fusíveis com características de interrupção
“ultrarrápida” estes fundiriam (queimariam), em função da corrente de partida
do motor, o que não estaria de acordo
com a função do fusível, pois a corrente de partida não representa nenhuma
condição anormal. Os fusíveis gL/gG são de uso geral pois propiciam proteção
de sobrecarga e curto-circuito. Temos ainda, dentro da classe dos fusíveis de
tempo longo, os do tipo aM que são exclusivos para proteção de curto-circuito.
A figura 12 ilustra as curvas de atuação de fusíveis em função da sua corrente
nominal.

A figura 12 - curvas de atuação de fusíveis tipo NH ação gL/gG

Fonte – catálogo de fusíveis WEG

No dimensionamento de fusíveis retardados para proteção de circuitos e motores,


recomenda-se que sejam observados, no mínimo, os seguintes pontos:
a) devem suportar, sem fundir, o pico de corrente (Ip), dos motores durante o tempo
de partida (TP). Com Ip e TP entra-se nas curvas características, devendo este ponto
Ip x TP ficar abaixo da curva do fusível;
b) devem proteger a corrente de rotor bloqueado (Irb) dos motores. Com os valores
de Irb e do tempo de rotor bloqueado (Trb) entra-se nas curvas características e este
ponto de Irb x Trb deve ficar acima da curva do fusível.
c) devem ser dimensionados para uma corrente (IF), no mínimo 20% superior à
nominal (In) do motor que irá proteger. Este critério permite preservar o fusível do
“envelhecimento” prematuro, fazendo com que sua vida útil, em condições normais,
seja mantida:
 IF ≥1,2 × I n motor
d) não devem ser maiores que 300% a corrente nominal dos motores, a fim de
garantir a atuação em caso de curto-circuito nos terminais do motor e também evitar
uma faixa de descoordenação elétrica entre a corrente máxima de proteção do relé
térmico e a corrente de proteção do fusível.
 IF ≤ 3,0 x In motor
e) os fusíveis de um circuito de alimentação de motores devem também proteger os
contatores e relés de sobrecarga. Para este dimensionamento os fabricantes de
contatores e relés de sobrecarga indicam em seus catálogos qual é o fusível máximo
que protege os contatores e relés de sobrecarga.

No dimensionamento de fusíveis ultrarrápidos para proteção de soft-starter ou


conversor de frequência, devemos conhecer a máxima energia que os equipamentos
suportam (I x t^2) em As², de forma que a energia que o fusível deixa “passar” seja
menor que a energia máxima que o equipamento suporta. Estes cálculos
normalmente são feitos pelos fabricantes dos equipamentos eletrônicos, que indicam
para cada tipo de equipamento qual é o fusível ultrarrápido recomendado para sua
proteção.

5. DISJUNTORES

Os disjuntores de baixa tensão são equipamentos de comando e de proteção de


circuitos e cargas, cuja finalidade é conduzir continuamente a corrente da carga sob
conduções nominais e interromper correntes anormais de sobrecarga e curto-circuito
ou somente de curto-circuito.

Quanto ao tipo de construção os disjuntores de baixa tensão são classificados em


 disjuntores abertos: seus mecanismo são montados em uma estrutura aberta,
normalmente são disjuntores de elevada corrente nominal (acima de 800 A);
 disjuntores em caixa moldada: toda a sua estrutura é montada em um
invólucro fechado. São construídos normalmente até 1000 A.

Quanto ao tipo de operação os disjuntores de baixa tensão são classificados em:


 disjuntores termomagnéticos: são aqueles dotados de disparadores térmicos
de sobrecarga e eletromagnéticos de curto-circuito. São os mais utilizados
atualmente para proteção de motores por ocuparem menor espaço e
dispensar o uso de relés térmicos;
 disjuntores magnéticos: são aqueles dotados apenas de disparadores
eletromagnéticos de curto-circuito. Neste caso deve ser combinado com o
disjuntor, para proteção de motores, um relé de sobrecarga térmico.
 disjuntores limitadores de corrente: são um tipo especial de disjuntor
(termomagnéticos ou magnéticos) que limitam o valor da corrente e do tempo
de curto-circuito, proporcionando uma redução significativa nos efeitos
térmicos e dinâmicos dos curtos-circuitos.

Para proteção de circuitos e cargas motoras foram desenvolvidos disjuntores que


possuem curvas de atuação (térmica e magnética) que combinam as funções de um
relé térmico (faixa de corrente nominal ajustável) e de um fusível de ação com retardo
(curva de atuação que permite a partida de motores). Estes disjuntores levam o nome
de disjuntor motor.

Os disjuntores motores, devido a sua característica de serem compactos e suportar


elevadas correntes momentâneas (correntes de partida de motores), normalmente
são fabricados até a corrente nominal de 100 A. A figura 13 ilustra um exemplo de
curva de atuação de um disjuntor motor termomagnético.

Figura 13 – exemplo de curva de atuação de um disjuntor motor termomagnético


Fonte – catálogo de disjuntor motor da ABB

A utilização de disjuntores para a proteção de motores em substituição à tradicional


solução fusíveis/relé térmico, traz uma série de vantagens, das quais se destacam:
 O disjuntor funciona como chave geral;
 Desligamento simultâneo de todas as fases, evitando funcionamento bifásico;
 Casamento perfeito entre as curvas de proteção térmica e magnética com
possibilidade de regulagem desta última também.
 Oferece proteção para qualquer valor de corrente, principalmente nas faixas de
pequenos motores;
 Em caso de abertura por curto-circuito, basta rearmá-lo, não necessitando sua
substituição.
A especificação de um disjuntor motor é feita pela corrente nominal do motor. Por
exemplo, um motor de corrente nominal de 35 A em 220V deve possuir um disjuntor
motor de proteção cuja faixa de regulagem da sua proteção de sobrecarga atenda
esta corrente nominal (como é feito em um relé térmico). Tomando como exemplo um
catálogo de fabricante de figura 14, escolheríamos o modelo de corrente nominal 40 A
(regulagem térmica de 28 A a 40 A). A corrente de regulagem do disjuntor motor seria
de 35 A (corrente nominal do motor).

Figura 14 – exemplo de catálogo de disjuntor motor

Fonte – catálogo de disjuntor motor da Siemens

Importante observar que este disjuntor de 40 A do catálogo possui um disparo para


curto-circuito em 520 A (13 vezes a sua corrente nominal, ou seja, a corrente de
partida do motor não atingirá este valor). Outro dado importante é a corrente máxima
de curto-circuito que o disjuntor suporta (neste caso 50 kA em 400V). Como no
exemplo o motor possui tensão nominal 220V então deve ser verificado se o nível de
curto-circuito do painel que alimenta este motor é menor que 50 kA, caso contrário
este modelo de disjuntor não pode ser utilizado.

6. RELÉS MICROPROCESSADOS

As recentes técnicas digitais de proteção dos relés microprocessados podem


contribuir para o aumento dos níveis de produtividade dos processos industriais,
evitando paradas não programadas de motores e contribuindo para a redução dos
tempos de perda de produção. Com relés microprocessados, são possibilitadas as
implementações de funções de proteção e controle complementares, que objetivam
principalmente a operação ininterrupta e a maximização da utilização de carga dos
motores.

Os relés microprocessados além de oferecer uma proteção muito ampliada para


motores, além das tradicionais proteções térmicas e de curto-circuito, possibilitam
realizar a gestão de operação dos motores, através de sistemas de proteção,
diagnóstico e controle. Esta gestão permite evitar o desgaste prematuro do motor e
consequentemente a necessidade de troca do mesmo.

Atualmente os relés eletrônicos de proteção são conhecidos como relés inteligentes,


ou dispositivos eletrônicos inteligentes - IED (Intelligent Electronic Device). Uma das
grandes vantagens dos IED’s é possibilitar a automação de funcionamento dos
motores (partida e parada) para atender as necessidades do processo de uma planta.
Esta possibilidade é adquirida pelo fato de que os relés inteligentes podem ser
conectados em rede e em comunicação com o sistema supervisório da planta. A
figura 8 ilustra um modelo de um relé IED.

Figura 15 – ilustração de um IED

Fonte – catálogo de relés IED da SEL


Outra grande vantagem que o relé inteligente pode oferecer é o gerenciamento de
energia da planta industrial, com base nas informações mensuradas através de
módulos opcionais, com isso será possível obter um mapeamento energético
completo dos motores instalados no processo industrial.

Pelas suas características de operação e recursos oferecidos, a solução de proteção


de motores através de relés inteligentes é aplicável ás situações onde a necessidade
operacional requer este investimento, por exemplo em plantas com alto grau de
automação. Como a quantidade de recursos (opcionais) destes relés é bem extensa,
mesmo em processos que não possuem um sistema supervisório de automação,
normalmente também se utiliza relés microprocessados para proteção de motores de
média tensão (potência elevada) e também de baixa tensão que são considerados
críticos dentro de um processo industrial.

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