Mielopatia Caes

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MIELOPATIA DEGENERATIVA EM CÃES: UM DESAFIO NA

MEDICINA VETERINÁRIA E NA REABILITAÇÃO ANIMAL

DEGENERATIVE MYELOPATHYIN DOGS: A CHALLENGE

IN VETERINARY AND ANIMAL REHABILITATION

Renata Ferreira de GUZZl', Maira Rezende FORMENTON^, K.atherine Palmina COLOMBA^,


Mônica VERAS"*, Jean Fernandes Guilherme JOAQUIM^ Denise Tabacchi FANTONP

'Médica Velerinària especializada emFisioterapiae Reabilitação Animal pelo Inslilulo Bioethicus.


^Mestranda VCIpela Faculdade de Medicina Velerinària e Zootecnia USP—SP, Coordenadora docurso de Pós - Graduação
em Fisioterapia e Reabilitação Animal noInstituto Bioethicus, proprietária do centiv dereabilitação animal Fisioanimal.
^ Médica Veterinária Autônoma Fisiatra Especializada em Terapias Manuaise Reabilitação Integrativa.
•' Médica VeterináriaFisiatra responsável pela Orthopets no Brasil.
^ProfessorDoutor Coordenador do cursode Pós-Graduaçõo emAcupuntura no Instituto Bioethicus.
®Professora Doutora doDepartamento Cirurgia - Faculdade Medicina Veterinária Zootecnia Universidade deSãoPaulo.
[email protected]', maira@fisioanimaLcom^

RESUMO

A mielopatia degenerativa (MD) é uma enfermidade neurológica e progressiva de aparição espontânea, que acomete
raças grandes e gigantes. É possível identificar, primeiramente, ataxia e paresia dos membros pélvicos, diminuição ou déficit
proprioceptivo, dismetria e nocicepção preservada. Normalmente, a resposta à terapia com corticosteroides é negativa e, atual
mente,não há tratamento farmacológico disponível. O exameneurológico e algunsexamescomplementares podemser utilizados
para tentar identificara MD, porém a confirmaçãoé realizadapor meio do exame histopatológico. sendo o diagnósticoin vivo
apenas presuntivo. O tratamentopara MDé paliativoe tem prognóstico desfavorável. Empiricamente, constata-se que o uso de
suplementaçào vitamínica, associadaa exercícios fisioterápicos, pode retardar sua evolução. Este estudobibliográficoconsiste
em uma revisão da fisiopatologia da doença e das opções de tratamento conservativo, além da importância da fisioterapia.

Palavras-cbave; Radiculomielopatia. Fisioterapia. Doença degenerativa.

ABSTRACT

Degenerative myelopathy (DM) is a progressive neurological disease that afTects large breed dogs. The disease has
initially clinicai signs like ataxia and paresis of the hind limbs, decreased or proprioceptive defichs, dysmetriaand preserved
nociception. The response to corticosteroid therapy is negative and there is no pharmacological treatment available. Neurolo
gical examination and some tests may be used to identify the MD, but confirmation can oniy be done with histopathological
examination and in vivo diagnosis is only presumable. The treatment for MD is palliative and aiso unfavorable prognosis. The
use of vitamins, associatedwith physical therapy can slow the progress of this disease. This bibliographical study consists a
review of the pathophysiology of the disease and the optionsof conservative treatmentand the importance of physicaltherapy.

Keywords: Radiculomyelopathy. Physical therapy. Degenerative disease.

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Renata Ferreira de GUZZI et al.

INTRODUÇÃO uma origem imunomediada, semelhante á esclerose


múltipla em humanos. Apartir dessas pesquisas, esta-
A mielopatia degenerativa (MD), ou radicuio- beleceram-se manejo e tratamento para a enfenmidade.
mielopatia degenerativa, é uma enfermidade neuro No entanto,por meio de novosestudos,atualmentees
lógica e progressiva, de aparição espontânea, que se sasteorias foram substituídas (PELLEGRINO, 2011).
manifesta, primariamente, como uma desordem nos O sequenciamento dos genomas humanos e
tratos longos da medula espinhal toracolombar (CO caninos e a aplicação de técnicas genômicas têm
AXES et al., 2007) e acomete, principalmente, cães revolucionado a medicinae permitidoanalisaro fun
de raçasgrandes e gigantes. Inicialmente, acreditava- cionamento do sistema nervoso, tanto em seu estado
-se que esse transtorno era específico da raça Pastor fisiológico quanto emdiferentes situações patológicas.
Alemão, sendo, por isso, denominada, por muito Em medicina veterinária, essas pesquisas têm pos
tempo, MD do Pastor Alemão. No entanto, tem sido sibilitado o esclarecimento da etiologia de algumas
diagnosticada em outras raças, como Pastor Belga, enfermidades (PELLEGRINO, 2011).
Husky Siberiano, Rotweiller, Collie, Boxer, entre Por meio dos estudos genéticos, foi possível
outras. (SALINAS; MARTÍNEZ, 1993; PELLE- verificar que todos os cães afetados com MD foram
GRINO, 2011). Não apresenta predisposição sexual diagnosticados como homozigotos A/A e que vários
e atinge mais comumente cães de 6 a 11 anos, mas deles eram adultos assintomáticos. Assim, supõe-se
já se encontram casos registrados em cães de 6 a 7 que a MD poderia ser uma enfermidade autossômi-
meses de idade. Os primeiros relatos referem-se a cães ca recessiva (PELLEGRINO, 2011). Atualmente,
de raças grandes na Europa e nos EUA, mas também a Universidade de Missouri, em Columbia, EUA,
há casos identificados em gatos, bovinos e eqüinos e disponibiliza um teste de DNA que identifica clara
nos seres humanos (SALINAS; MARTÍNEZ, 1993; mente os animais sadios (que têm dois pares de genes
SURANIT], et al 2011). normais), os portadores (com um gene normal e outro
Este trabalho tem o objetivo de revisar a fl- geneticamente modificado) e os que possuem maior
siopatologia da MD, discutir sua possível etiologia probabilidade de desenvolver a doença (com dois
e evidenciar algumas técnicas fisioterápicas, visto pares de genes modificados). O descobrimento dos
que é escassa a literatura sobre essa patologia e seu homozigotos recessivos permitirá a criação de estra
tratamento fisioterapêutico. tégias de longo prazo, como marcadores raciais em
cães, para evitar que gerações futuras encontrem-se
ETIOPATOGENIA em risco de desenvolver a enfermidade. Não obstante,
a alta freqüência de mutação em algumas raças, como
Aetiologiana MD ainda é desconhecida, porém a Boxer, sugere que o controle genético dessa mutação
suspeita-se de uma disftinção imunomediada que afeta poderia reduzir severamente a probabilidade da afec-
o sistema nervoso. Acredita-se que uma disfunção nos ção e o melhoramento racial (PELLEGRINO, 2011).
linfócitos T esteja relacionada com o problema, já que, A fisiopatogenia da MD e de todo o grupo de
na maioria dos animais afetados, essa disfunção estava enfermidades que compõem as enfermidades neuro-
presente (SALINAS; MARTÍNEZ, 1993; SURANITI, nais (EN) é desconhecida na maioria dos casos. As
et al., 2011). principais teorias são as de dano oxidativo, privação
A causa pode estar ligada a algum fator que de fatores tróficos, transtornos autoimunes e fatores
desencadeia a circulação de imunocomplexos, e estes, infecciosos (PELLEGRINO, 2011).
por sua vez, provocam danos às células endoteliais dos A MD se caracteriza pela desmieiinização pro
vasos sangüíneos do sistema nervoso central (SNC), gressiva das fibras dos fascículos medulares dorsais e
produzindo inflamação local, principalmente pela ati ventrais, que se expressammais comumentena região
vação do sistema complemento. A fíbrina depositada toracolombar da medula espinhal, causando lesão
nos espaços perivasculares degrada-se e estimula as do tipo neurônio motor superior (NMS). É comum
células intlamatórias a migrarem para o local da lesão, observar-se também incontinência fecal, urinária ou
com liberação de prostaglandinas e citocinas, ativando ambas, com a progressão da enfermidade (SALINAS;
enzimas teciduais e a formação de radicais livres, MARTÍNEZ, 1993; PELLEGRINO, 2011).
levando a um dano tecidual. (SURANITI et al. 2011).
A resposta imune celular nos pacientes com MD CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA DOENÇA
depende do estágio clínico e do grau de severidade da
doença. Alguns estudos têm demonstrado que certos Nos cães acometidos por MD, é possível iden
cães apresentam células específicas que reconhecem tificar, primeiramente, ataxia e paresia dos membros
como antígeno as proteínas básicas da mielina canina, pélvicos, diminuição ou ausência proprioceptiva
e que há imunoglobulinas unidas dentro das lesões consciente, hiperrreflexia e dismetria. Além disso, re
medulares nesses animais (SURANITI et al. 2011). flexos espinhais podem estar normais ou aumentados,
Vários trabalhos discutem uma relação entre como nos casos de lesão em NMS, que se caracteriza
essa patologia e a carência de vitamina E, sugerindo pela hiperrellexia dos reflexos espinhais e déficits

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Mielopatia degenerativa em cães

proprioceptivos, assim como aumento do tônus mus DIAGNÓSTICO PRESUNTIVO


cular. O reflexo extensor cruzado normalmente está
presente e, durante a evolução dessa enfermidade, Segundo Coates etal. (2007), para a realização
o reflexo patelar pode estar diminuído; em alguns do diagnóstico da doença, podem ser utilizados o
estágios, apresentam-se normais ou aumentados uni exameneurológico e algunsexamescomplementares,
ou bilateraimente, porém os demaisreflexos espinhais como testes sangüíneos, análise do fluido cerebroes-
permanecem aumentados. Esses animais em geral pinhal (LCR), testes eletrodiagnósticos, imagens ra-
apresentam nocicepção preservada, e ossinais clínicos diográficas etc... Osachados laboratoriais, noentanto,
não sãoresponsivos à corticoterapia. O quadroclínico podem estar inalterados (FOSSUM, 2005). Ofato dea
pode ascender paraosmembros torácicos e desencade análise do LCR apresentar-se normal - ou com prote
ar sinais de neurônio motor inferior (NMI), tais como ínas discretamente aumentadas —pode ser sugestivo
flacidez, tetraplegia e atrofia muscular generalizada de MD. Kamishina et al. (2008) verificaram que a
(COATES et al., 2007; SALINAS; MARTÍNEZ. presença de bandas oligloconal e proteínas no LCR,
1993; SURANITI et al. 2011). por meio da focalização isoelétrica e imunofixação,
Os sinais clínicos podem se manifestar bila pode serrelevante nodiagnóstico decães com suspeita
teraimente, mas não necessariamente de maneira de MD, mas não é confirmativa da enfermidade.
simétrica. Cães afetados podem não ser capazes de Nas radiografias simples e nas imagens mie-
urinar em locais adequados devido à grave paraparesia lográfícas, é possível observar áreas de possível
ou incapacidade de se manter na postura de micção paquimeningites. Pelo uso da mielografia em uma
e de defecação, mas a nocicepção e a continência tomografia computadorizada, Jones et al. (2005)
fecal e a urinária podem não ser perdidas, mesmo em verificaram anormalidades morfológicas na região
estágios mais avançados da doença (FOSSUM, 2005; toracolombar, porém esses achados não foram ob
LECOUTER; CHILD, 2005). servados nas imagens de mielograflas realizadas de
Conforme ocorra a progressão da doença, o forma tradicional.
animal começa a apresentar paraparesia e paraplegia, A confirmação do diagnóstico para MD é
ataxia, atrofia muscular dos membros pélvicos e, realizada por meio do exame histopatológico e ana-
na região pélvica. Essa atrofia acontece por desuso. tomopatológico. Histologicamente, caracteriza-sepor
Quando o processo degenerativo neurológico envolve desmielinização e degeneração axonal generalizada,
o plexo lombossacro, observa-se com freqüência hi- mais proeminentena regiãodorsolateralda substância
porreflexia (LECOUTER e CHILD, 2005; SURANITI branca (em especial na região toracolombar da me
et al. 2011). dula), e astrocitose da substância branca da medula
De acordo com Lecouter e Child (2005), o tônus espinhal, sendo mais graves nos segmentos torácicos.
do esfíncter anal e o reflexo anal mantêm-se normais. principalmente nos funículos lateral e ventromedial.
O tônus muscular da cauda permanece inalterado e, de Essas alterações podem estar relacionadas com a
modo geral, o reflexo cutâneo do tronco permanece origem dos danos e com uma posterior degeneração
bilateraimente normal. A alteração proprioceptiva Walleriana. Além disso, praticamente todos os funícu
é maior do que o grau de alteração motora. Além los estarão vacuolizados e lesões semelhantes poderão
disso, os reflexos fiexores podem ficar inalterados e, ser encontradas ao longo de toda a substância branca
em casos mais avançados, podem estar aumentados. cerebral (COATES et al., 2007; JONES et al., 2005).
Lecouter e Child (2005) relatam que as al O diagnóstico é baseado em anamnese, qua
terações do reflexo patelar ocorrem devido a um dro clínico neurológico, resposta negativa à terapia
processo degenerativo dos gânglios das raízes dorsais com corticosteroides e diminuição nos valores dos
na substância cinzenta dorsal da medula espinhal na linfócitos periféricos (SURANITI, et al. 2011). É
região lombar. O envolvimento das raízes dorsais do indispensável a realização de diagnóstico diferencial
nervo femoral pode inibir os impulsos sensoriais dos para outras afecções espinhais como tromboembolis-
receptores de extensão do músculo quadríceps. mo fibrocartilaginoso, neoplasias, fraturas vertebrais,
O exame neurológico sugere, na maioria das ve abscessos epidurais, luxações, entre outros, por meio
zes, que a lesão está localizada nos segmentos T3-L3 de radiografias simples, mielografia e ressonância
da medula espinhal; de fato, um estudo de Kathmann magnética (SURANITI et al. 2011) (Figura 1). Já o
et al. (2006) descreve que, em 56% dos cães, essa lesão exame de eletroneuromiografia (EMG) não revela
ocorreu em T3-L3 e, em 44%, em L3-S3. Já Fossum disfunção em nervos periféricos, visto que a MD
(2005) relata que os pacientes atendidos com suposta afeta somente a substância branca, indicando que a
mielopatia degenerativa demonstraram sinais clínicos condução nervosa permanece normal (SURANITI
relacionados com alterações de neurônio motor infe et al. 2011).
rior (como diminuição do reflexo patelar) e/ou sinais
associados a distúrbios de neurônio motor superior.

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Renata Ferreira de GUZZl et al.

compreende analgesia, controle de escaras, e manejo


básico das funções geniturinárias.

1) O objetivo da realização de exercícios é


maximizar o tônus muscular e garantir uma melhora
circulatória mediante atividades de intensidade, que
devem ser realizadas em dias alternados, durante 30
minutos. O paciente deve repousar nos dias sem ati
vidade física para garantir que musculatura e tendões
descansem doesforço físico e,assim, haja umaumento
do ganho e da força muscular; nãosignifica dizerque
nos dias sem exercícios o animal deva ficar confinado.
Figura I: Animais com miciopatia desencrativa podemnãoapresentar Osexercícios, porsi só,ajudarão a diminuir o avanço
indíciosde lesõesem RAI.que deve ser feita pura diagnóstico da MD e elestambém podem ser associados à terapia
direrencial. (Fonte: arquivo pessoai autores). física e à eletroestimulação muscular (SURANITI et
al. 2011).
A eletroforese bidimensional das proteínas Kathmann et al. (2006) sugerem que deve ser
do LCR demonstra níveis elevados de Interleucina estimado um protocolo adequado de fisioterapia que
6 {IL6) da molécula de adesão intercelular (ICAM) inclua exercícios de marcha, massagem, mobiliza
e do fator de necrose tecidual (TNF), dados que ção articular e hidroterapia. Como exercícios ativos,
confirmariam a hipótese da etiologia imunológica da devem ser realizadas caminhadas curtas de cinco a
MD. Ressalta-se a importância da solicitação dc um vinte minutos (de acordo com o quadro neurológico
perfil tireoidiano (T4 livre e TSH) para diagnóstico do paciente), cincovezespor dia. Cabedestacarque é
diferencial da polineuropatia hipotireoidea (SURA- precisoque se esteja sempre atento ao posicionamento
NITI et al.201l). correto do membro do animal. Recomendam-se mas
O diagnóstico definitivo só pode ser obtido sagens diárias nos membros pélvicos e na musculatura
a partir da análise anatomohistopatoiógica medular paravertebral, movimentação articular passiva e suave
durante a necropsia. Macroscopicamente, observa- em cada articulação do membro pélvico, com dez re
-se um processo degenerativo da substância branca, petições paracadaumadelasseparadamente (quadril,
em especial nos funículos dorsais e ventrais da joelho, articulação tíbio-társica e dígitos), três vezes
medula. Microscopicamente, verificam-se lesões por dia, e hidroterapia (natação ou hidroesteira), no
de desmieünização da medula, de modo particular mínimo uma vez por semana, de cinco a vinte minutos,
na região toracolombar com formação de vacúolos respeitando-se sempre a condição do animal (Figura
nos feixes espinhais da região torácica. Também é 2). Quando necessário, devem-se proteger as patas
possível constatar lesões similares dispersas pela com ligaduras ou meias. Os autores sugerem uso de
substância branca cerebral de alguns cães (SURA- bandagens funcionais para auxiliar o posicionamento
NITI et al. 2011). dos membros e a deambulaçao do animal (Figura 3).
Em áreas mais severamente afetadas, observa-
-se diminuição quantitativa dos axônios, aumento do
número de astrócitos e da densidade das estruturas
vasculares (SURANITI et al. 2011). Muitos pacien
tes mostram evidências de infiltrados plasmocitários
renais e gastrointestinais, outro dado que sustenta a
origem autoimune (SURANITI et al. 2011).
Pelo exame histopatológico da medula espinhal,
verifica-se que as lesões mais severas estão localizadas
no segmento torácico e caracterizam-se por degenera-
ção da substância branca, especialmente nos fascículos
dorsais e ventrais (SALINAS; MARTÍNEZ, 1993).

TRATAMENTO
Figura 2: Uso hidroesteira para fortalecimento e estímulo da
O tratamento da MD é conservativo e tem por deambulação ( Fonte: arquivo pessoal autores).
finalidade manter a qualidade de vida do paciente. Ele
é composto de quatro aspectos básicos: 1) exercícios;
2) tratamento suporte; 3) tratamento medicamento
so; e 4) minimização do estresse (SURANITI et al.
2011); os autores incluem 5) qualidade de vida, o que

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Mielopatia deg^nefativa em cães

alguns animais, o carro ortopédico pode minimizar


situações de estresse (SURANITl et al. 2011).
As possibilidades de êxito do tratamento
aumentam quanto mais precoce seu início e, se asso
ciadas a sessões de acupuntura, a resposta terapêutica
deve ser evidente nos primeiros 7 a 10 dias de trata
mento (SURANITl et al. 2011).

5) Em relação à qualidade de vida. Salinas e


Martínez (1993) relatam que não existe tratamento
satisfatório para MD e que há indicação de eutanásia.
Fossum (2005), porém, afirma que o tratamento deve
I \ ser clínico e paliativo, com o uso de anti-inflamatórios
Figura3: Usodc bandagcns funcionais pode ajudara posicionar us membros não esteroidais, suplementação dietética por meio de
no início dos sintomas (Fonte: arquivo pessoal autores). vitaminas e fisioterapia, uma vez que não há tratamen
to cirúrgico para essa patologia. Observa, também,
2) Com a finalidade de reduzir a evolução da que, apesar de todas essas opções, o prognóstico
doença, é possível utilizar, como tratamento suporte, é desfavorável, pois não é possível interromper o
a vitamina E, reduzindo, assim, os danos teciduais avanço da desmielinização e muitos animais acabam
provenientes dos radicais livres. A administração destinados à eutanásia.
de 52 Ul/dia de vitamina E pode reduzir ou eliminar Levine et al. (2008) afirmam que a fisioterapia
câimbras musculares. Altas doses devem ser evitadas é considerada de grande relevância na manutenção e
para não provocar inibição da coagulação (NISHIO- na recuperação das funções nos pacientes com disfun-
KA;ARIAS, 2005). ções neurológicas e efeitos secundários debilitantes
A vitamina C ou ácido ascórbico estimula a e graves.
atividade fagocítica, a produção e a função das células Como a MD é considerada uma lesão crônica da
T. Nos casos de MD, altas doses dessa vitamina são medula espinhal e, nesses casos, a recidiva dos sinais
capazes de reduzir a progressão da doença e diminuir neurológicos é relativamente comum e a cura rara, a
o avanço dos sinais clínicos, mas também podem fisioterapia tem-se mostrado de suma importância para
provocar diarréia. Recomenda-se iniciar o tratamento esses pacientes. É preferível iniciar o tratamento en
com doses mais baixas, chegando a 250-500 mg VO a quanto o animal ainda caminha (LEVINE et al, 2008).
cada 8-24 horas (CHRISMAN et al. 2005; NISHIO- Kathmann et al. (2006) verificaram, em seu
KA; ARlAS, 2005). trabalho, que os animais que realizaram tratamento
fisioterápico intensivo, ou seja, exercícios de três a
3) Como tratamento medicamentoso, o ácido cinco vezes por dia, massagem e mobilização articular
aminocaproico é utilizado para prevenir o avanço da três vezes por dia e hidroterapia diariamente, tiveram
enfermidade. Pode ocasionalmente acarretar irritação uma sobrevida de 255 dias em relação aos pacientes
gastrointestinal, especialmente nos pacientes com que receberam tratamento fisioterápico moderado,
problemas gastrointestinais preexistentes. Embora com exercícios no máximo três vezes por dia, hidro
sem evidências científicas, o uso empírico do ácido terapia ou massagem uma vez por semana (sobrevida
aminocaproico é defendido pelo Dr. Roger Clemmons de 130 dias). Já o grupo que não recebeu tratamento
da Florida University. Outra possível medicação a ser fisioterápico teve como resultado 55 dias de sobrevida.
incluída no tratamento é a N-Acetilcisteína, na dose Esses dados confrontam os obtidos por Suraniti et al.
de 70 mg/kg, em 3 doses diárias, durante 2 semanas, (2011), que recomendam o tratamento fisioterápico
e, depois, em dias alternados, mantendo-se as 3 doses de 30 minutos e em dias alternados.
diárias. A N-Acetilcisteína é administrada em uma O tratamento fisioterápico visa á redução da
concentração de 5% em caldo de galinha ou em outro dor muscular, melhora da amplitude de movimento
produto que garanta a palatabilidade e diminua as articular, reversão da atrofia muscular e reestabeleci-
possibilidades de problemas gástricos. Essa droga tem mento da função neuromuscular; pode ser realizado
se mostrado efetiva em alguns casos em que apenas o por meio de exercícios passivos e estímulo de refle
ácido aminocaproico não induz resposta satisfatória. xos, da amplitude passiva articular, alongamentos e
Nessas doses recomendadas, não foram verificados estimulação dos reflexos flexor e extensor (patelar)
efeitos colaterais; porém doses mais altas podem (LEVINE et al. 2008).
provocar vômitos e aumentar o tempo de coagulação Exercícios ativos para o ganho de massa mus
(SURANITl etal,20n). cular, recuperação do equilíbrio neuromuscular e da
coordenação motora também podem ser realizados.
4) O estresse e a progressão da MD desempe Por exemplo, movimentos de sentar e levantar para
nham um papel importante no avanço da doença. Em fortalecimento da musculatura extensora do joelho e

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Renata Ferr.

da articulação coxofemoral; caminhadas assistidas JONES, J.C.; INZANA, K. D.; ROSSMEÍSL, J. H.;
e de resistência; natação (que promove a redução BERGMAN, R. L.; WELLS, T.; BUTLER, K. C. T.
das forças do peso); exercícios de equilíbrio e de Myelography of the thoraco-lumbar spine in 8 dogs
coordenação com pranchas, bola, trilho de cavaletes with degenerative myelophaty. Journal ofVeterinary
{LEVINE et al, 2008). Science. v.6, p.34I-348, 2005.
Além disso, há outras opções de modalidades KAMISHINA, H.; OJl, T.; CHEESEMAN, J. A.;
terapêuticas como ultrassom terapêutico para aliviar CLEMMOSNS, R.M. Veterirtary ClinicaiPathologic.
a dor enquanto ativa o fluxo sangüíneo e o processo v.37,p.217-20,2008.
cicatricial, além de reduzir os espasmos musculares; KATHMANN, 1.; CIZINAUSKAS, S.; DOHERR,
a eletroestimulação neuromuscular (NMES) para M.G.; STEFEEN, F.; JAGGY, A. Daily controlled
melhorar a perftisão tecidual, reduzir a dor, manter physiotherapy increases survival time in dogs with
a massa muscular e reverter a atrofia muscular por suspected degenerative myelopathy. Journal Veteri-
desuso prolongado (LEVINE et al. 2008). nary Intern Medicine, v.4, p.927-32, Jul-Aug/2006.
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esse tipo de patologia, o uso de terapia celular tem se medulla espinhal. In: . Tratado de Medicina
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na experiência dos autores. p. 919-922.
Na experiência dos autores com a associação de LEVINE, D.; MILLIS D. L.; MARCELLIN-LITTLE,
suplementação alimentar com exercícios e tratamen D. J.; TAYLOR. R. Reabilitação e fisioterapia na
tos, como terapia celular, tem se mostrado de grande prática de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2008,
valia em avaliação empírica de pacientes submetidos a p.168-171.
esse protocolo. Com o avanço no número de médicos NISHIOKA, C. M.; ARIAS, M. V B. Uso de vitami
veterinários especializados em reabilitação a manuten nas no tratamento de doenças neurológicas de cães
ção da qualidade de vida associada aos animais com e gatos. Clínica Veterinária, São Paulo, v.lO, n.55,
diagnóstico presumível de MD, poderá ser mantida p.62-72, 2005.
com maior sucesso embora o prognóstico continue PELLEGRINO, F. Acerca de Ia mielopatía degenera
a ser desfavorável para esse tipo de enfermidade tiva. REDVET - Revista Electrônica de Veterinaría,
neurodegenerativa. v.12, n.l 1, p. 1-4,2011, Espafla.
Disponível em: http://www.redalyc.org/
CONCLUSÃO pdf/636/63622049009.pdf
SALINAS, E. M; MARTINEZ, N.L. Descripción de
A MD canina é uma enfermidade de incidência un caso compatible con mielopatía degenerativa en
desconhecida e difícil de ser diagnosticada in vivo. un perro Mastín Inglês - Relato de caso. Revista: vet.
Não existe atualmente um único tratamento realmente Méx, 24.ed., v.2, p.159-162, 1993.
efetivo para essa enfermidade; porém, o uso combi Disponível em: http://www.medigraphic.com/pdfs/
nado da administração de suplementos alimentares. vetmex/vm-1993/vm932n.pdf
vitamínicos, associados a sessões de fisioterapia e SURANITI, A. P. et al. Mielopatía Degenerativa
acupuntura, bem como terapia celular com células canina: signos clínicos, diagnóstico y terapêutica.
tronco, além do uso do carro ortopédico, pode prolon REDVET - Revista Electrônica de Veterinaria, v. 12,
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