Amazônia: Tópicos Atuais em Ambiente, Saúde e Educação
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AMAZÔNIa
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1ª EDIÇÃO
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2022 - GUARUJÁ - SP
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A489 Amazônia: tópicos atuais em ambiente, saúde e educação / Danielle Mariam Araujo Santos (Organizadora), Willian Carboni
Viana (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
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Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-221-2
DOI 10.37885/978-65-5360-221-2
1. Amazônia. I. Santos, Danielle Mariam Araujo (Organizadora). II. Viana, Willian Carboni (Organizador). III. Título.
2022
CDD 918.11
Índice para catálogo sistemático: I. Amazônia
Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
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Esta obra, apresenta produtos acadêmicos construídos a partir de pesquisas de
alunos, pesquisadores e professores, que buscam discutir a Amazônia, levando em
APRESENTAÇÃO
' 10.37885/221010659.......................................................................................................................................................................... 12
CAPÍTULO 02
DIÁLOGOS CONSTRUTIVOS: BIBLIOTECA DIGITAL DO POVO SATERÉ-MAWÉ: REVERBERANDO SABERES DA TRADIÇÃO
CULTURAL
Danielle Mariam Araújo dos Santos; Joelma Monteiro de Carvalho; Diana Ayla Silva da Costa
' 10.37885/220910340......................................................................................................................................................................... 24
CAPÍTULO 03
ESCOLA INDÍGENA E SUA DIMENSÃO NA PERSPECTIVA DO TURISMO ÉTNICO, AM-BRASIL
Zilmara Rocha da Silva; Joelma Monteiro de Carvalho; Danielle Marian Araújo dos Santos
' 10.37885/221010658.......................................................................................................................................................................... 36
CAPÍTULO 04
ESTUDO CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DA NEOPLASIA DE COLO UTERINO EM UM HOSPITAL PÚBLICO DO BAIXO
AMAZONAS
Flávia Karoline Souza da Silva; Geórgia Silvestri Traesel; Marcos Fraga Fortes
' 10.37885/220910253......................................................................................................................................................................... 52
CAPÍTULO 05
ESTUDOS CULTURAIS E MEDIAÇÕES NA COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA CONTEMPORÂNEA DA AMAZÔNIA
Maximiliano Martins Vicente; Kethleen Guerreiro Rebêlo
' 10.37885/220809884......................................................................................................................................................................... 71
CAPÍTULO 06
INTOXICAÇÃO EXÓGENA RELACIONADA A PRODUTOS AGROTÓXICOS NO ESTADO DO PARÁ
Letícia Cunha da Hungria; Adriely Coelho de Assunção; Yan Nunes Dias; Julliane Thais da Silva Silva; Priscila Pereira Sacramento;
' 10.37885/220909965........................................................................................................................................................................ 87
SUMÁRIO
CAPÍTULO 07
LEVANTAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE MANEJO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO BIOMA AMAZÔNIA
Josmar Almeida Flores; Cíntia Rosina Flores; Milyanne Mercado do Nascimento; Ana Christina Konrad; Odorico Konrad
CAPÍTULO 13
SAÚDE DA MULHER INDÍGENA NO BRASIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Amanda de Cassia Azevedo Silva; André Luis Cândido Silva
'10.37885/221010659
RESUMO
Este artigo apresenta uma análise sobre a importância do enfermeiro nas cidades amazô-
nicas enfatizando os problemas que este enfrenta a partir da realidade regional. O objetivo
do estudo foi discutir teoricamente qual a importância do enfermeiro no contexto amazônico,
e teve como metodologia um estudo teórico com base nas produções acadêmicas sobre o
tema, disponível em sites de pesquisa científica. Como principais resultados, se verificou
que o papel do enfermeiro é muito importante no cuidado de pacientes principalmente no
estado do Amazonas, onde há poucos profissionais de saúde, e ainda há conflitos na com-
preensão do papel do enfermeiro, quando não há médicos nas localidades, o que acaba por
causar uma pressão nesses profissionais. Conclui-se que os enfermeiros exercem um papel
importante principalmente na prevenção e no acompanhamento de tratamentos médicos nas
localidades de difícil acesso do estado.
REFERENCIAL TEÓRICO
O contexto pandêmico vivido pelo planeta nos últimos dois anos, trouxe à tona a impor-
tância dos profissionais de saúde e principalmente do enfermeiro, tanto nos hospitais quanto
no atendimento domiciliar. Este profissional juntamente com os outros profissionais das
equipes medicas, ganhou destaque pela luta contra o vírus e no cuidado com os pacientes.
Sobre o papel do enfermeiro, Oliveira (2021, p. 01) coloca que
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A força de trabalho de enfermagem é essencial na prestação de cuidados
integrados e centrados nas pessoas, exercendo papel fundamental na con-
secução das prioridades de saúde e no alcance das metas dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). A importância de sua atuação vem sendo
reconhecida e ainda mais decisiva frente aos desafios enfrentados mundial-
mente num cenário de emergência internacional.
Quando se trata das atividades realizadas pelo enfermeiro, há uma diversidade enor-
me, porém, dentre elas, a atuação na Atenção Básica é uma das mais importantes. Como
informa MENICUCCI TMG, (2014), o enfermeiro desenvolve diversas ações e atividades
que vão desde as assistenciais e preventivas, até as gerenciais, sendo ele um dos atores
principais desse cenário de saúde.
Já no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, o enfermeiro atua na saúde
preventiva, como informa o documento
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Nas Unidades Básicas de Saúdes (UBS), este profissional atua na educação, geren-
ciamento e ainda, assistência de diversos grupos de saúde, como por exemplo, a saúde da
criança, saúde mulher, hipertensos e diabéticos, entre outras.
Dentre essas, como informa o artigo 11, do Exercício Profissional da Enfermagem,
uma das atribuições do enfermeiro é educação em saúde, cabendo-lhe como integrante da
equipe de saúde a educação visando à melhoria de saúde da população (BRASIL, 1986).
Ainda em relação á promoção da educação em saúde, Candeias (1997, p. 210), afir-
ma que “Entende-se por educação em saúde quaisquer combinações de experiências de
aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde”
(CANDEIAS, 1997, p. 210), e nesta perspectiva, o enfermeiro auxilia através das visitas ás
famílias, no que concerne ás orientações necessárias a cada contexto especifico, e no caso
da Amazonia, este papel é ainda mais importante tendo em vista as dificuldades de acesso
a profissionais médicos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Esta disparidade é ainda mais evidente quando vemos os números de profissionais nas
grandes cidades e no interior. Esta desigualdade acaba por refletir na qualidade de vida das
populações, sobretudo os moradores de cidades e comunidades de difícil acesso.
No gráfico abaixo (Gráfico 1), é possível ver ainda estas diferenças por região brasilei-
ra, e fica evidente que as regiões Sul e Sudeste agregam o maior número de profissionais.
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Gráfico 1. Distribuição da enfermagem por regiões brasileiras.
Fonte: https://apsredes.org/fotografia-da-enfermagem-no-brasil/(2018).
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sempre surtiram o efeito necessário para a diminuição das desigualdades regionais. Neste
caso, o Norte e o Nordeste ainda são as regiões com menores números destes profissionais.
O que nos leva a considerar que as organizações de saúde no norte do país, inclusive
às geridas pelo poder público precisam construir pontes de diálogo para a retenção dos
profissionais de enfermagem, com o olhar não para o amanhã, sim, para o agora.
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A região amazônica é um desses lugares onde as áreas de difícil acesso cons-
tituem um desafio relevante para o desenvolvimento das políticas de saúde. A
questão do acesso não se limita a um problema local, mas refere-se também
a outras regiões do mundo, como em regiões de deserto, de montanhas e
florestas.
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Desafios e possibilidades do papel do enfermeiro no contexto da Amazonia
E neste sentido, são os conflitos que estes profissionais enfrentam no seu cotidiano que
precisam ser bem orientados para que os moradores de pequenas cidades e comunidades,
não exijam mais do que a atuação correta do enfermeiro.
Como possibilidades diante da falta de medicamentos e equipamentos, podemos citar o
conhecimento que muitos profissionais enfermeiros tem desenvolvido em relação á utilização
do conhecimento tradicional em relação ao uso de plantas medicinais que são de mais fácil
acesso. (CORDEIRO PM, et al., 2019).
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No caso da região, vemos ainda que é comum que exerçam cargos de gestão, pois
estes geralmente são fixos nos municípios, constituem família e são mais próximos dos
gestores municipais, o que abre um leque de responsabilidade em relação á funções mais
amplas na gestão da saúde nestas pequenas cidades.
Outra importante dimensão do trabalho do enfermeiro que vem ganhando espaço no
estado, e sobretudo no interior, é o trabalho educativo do enfermeiro. Sobre isso, o parecer
CNE/CES nº 1.133/2001 estabelece que
O fortalecimento das ações educativas, vem surtindo efeito nas cidades amazônicas,
pois os programas de atenção básica auxiliam na promoção da saúde e da mudança de vida
dos moradores, e o enfermeiro, nesta perspectiva, é uma das figuras centrais neste trabalho
amplo e permanente no estado do Amazonas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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pesquisa sobre os medicamentos naturais. As atividades de educação que este profissional
desenvolve, também é um importante fator de melhoria da qualidade de vida da população.
O papel do enfermeiro, diante disto, é cada vez mais importante nas cidades amazô-
nicas, diante da imensidão territorial da região e dos fatores de crescimento, sendo então,
o Amazonas, um campo ainda em crescimento e que carece da atuação do enfermeiro de
modo amplo e permanente.
REFERÊNCIAS
1. A CRÍTICA. Capital Manaus tem mais de 93% dos médicos do Amazonas. Publica-
do em 22/03/2018. Disponível em: https://www.acritica.com/channels/cotidiano/news/
capital-manaus-tem-mais-de-93-dos-medicos-do-amazonas-diz-pesquisa. Acesso em
25 dez 21.
6. ______. Decreto n.º 94.406, de 08 de junho de 1987. Regulamenta a Lei n.º 7.498/86,
que dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras providências. Brasília: 1987.
Disponível em . Planalto http://www.planalto.gov.br. Acesso em 25 dez 21.
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22
10. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos
nas organizações, 3a edição, Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
13. CORDEIRO PM, et al. Efeito da Justicia acuminatissima, Sara Tudo do Amazo-
nas na Injúria Renal Aguda Isquêmica: estudo experimental. Rev Esc Enferm USP.
2019;53:e03487. Acesso em 25 dez 21
16. OLIVEIRA Ana Paula Cavalcante de; SOUZA, Wagner Villas Boas de. O Estado da
Enfermagem no Brasil. https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3404 Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rlae/a/nwPZbvkYp6GNLsZhFK7mGwd/?lang=pt Acesso em 25
dez 21.
18. RODRIGUES, Fares F. A. (Org.). Amazonas 2000-2013. São Paulo: Editora Funda-
ção Perseu Abramo, 2016. (Estudos Estados Brasileiros). Disponível em: http://www.
sedecti.am.gov.br/. Acesso em 25 dez 21.
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02
Diálogos construtivos: biblioteca digital do
povo Sateré-Mawé: reverberando saberes
da tradição cultural
'10.37885/220910340
RESUMO
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REFERENCIAL TEÓRICO
Povos Tradicionais
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de métodos e técnicas científicas, este tipo de conhecimento, mesmo quando consolidado
como convicção, cultura e tradição, é ametódico e assistemático (CERVO & BERVIAN, 2007).
A plataforma ZOTERO
De acordo com o site do programa Zotero a proposta é ser uma ferramenta de código
aberto, ou seja, ele é gratuito para ser usado e livre para fazer alterações em seu código
para que ele faça o que você deseja.
Ele é baixado para o seu computador, e, após, o usuário vincula e edita os dados de
cada trabalho. Permitindo, compartilhar o link de permite visualizar toda a biblioteca criada e
organizada. Contudo, é interessante verificar se outros usuários podem alterar os atributos
adicionados aos trabalhos já inseridos na plataforma. Ou até mesmo apagá-los. É possível
no modo off-line abrir e ler e editar no programa. E, quando estiver conectado à internet,
atualizar todas as modificações.
METODOLOGIA
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na maioria das pesquisas, segundo Rampazzo (2002), neste tipo envolve levantamento
bibliográfico, entrevista com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema
pesquisado e análise de exemplos que “estimulem a compreensão”, assumindo, assim, a
forma de pesquisa bibliográfica ou estudo de caso.
Segundo Gil (2010, p. 1), a metodologia da pesquisa “é requerida quando não se dis-
põe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação
disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente re-
lacionada ao problema”. Para Severino (2016, p. 125) a pesquisa qualitativa é aquela que
“faz referência mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a especifi-
cidades metodológicas”.
A pesquisa teve como objetivo realizar o levantamento e o agrupamento de trabalhos
como teses, artigos, relatórios, periódicos, dentre outros publicados em anais, revistas científi-
cas, congressos e outros formatos nos sites scielo e google acadêmico sobre o conhecimento
e uso das tradições por populações tradicionais indígenas no Brasil, em exclusividade, os
Sateré-Mawé, e de organizar a documentação estudada de forma a torná-la acessível ao
público através da plataforma Zotero.
A pesquisa foi pensada a partir de uma necessidade sobre a dificuldade de encon-
trar organizado os trabalhos vinculados sobre os Sateré-Mawé. Como podemos observar,
há vários trabalhos publicados em outros estados e até em outro país. Mesmo sendo por
brasileiros, a divulgação sobre a comunidade Sateré-Mawé é extensa, mas não reflete a
importância do povo Sateré-Mawé.
A pesquisa foi realizada no período de maio de 2021 a abril de 2022 em Manaus no
Laboratório de Geografia (LABVIVO) e, no município de Iranduba, também no estado do
Amazonas, na aldeia Sahú-Apé, que tem como significado para a língua do tronco linguís-
tico Tupi, segundo Curt Nimuendaju (1948) Sateré-Mawé casco de tatu. A comunidade fica
localizada na estrada Manoel Urbano, Km 38.
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Figura 1. Localização da comunidade Sahu-Apé em relação a Manaus.
Foi necessário dividir em etapas a realização das ações para serem executadas. Pois,
apesar da facilidade em manusear e se familiarizar com a interface do ZOTERO, ainda se
encontra barreiras no programa, e há a possibilidade de outros usuários sentirem as mes-
mas ou outras dificuldades.
Logo, na primeira etapa, pesquisou-se sobre os tipos de programas que oferecem a
mesma ou parecida funcionalidade de biblioteca digital. A segunda etapa foi fazer down-
loads de vários tipos de resultados da pesquisa utilizando a palavra-chave. E, na terceira,
foi criada uma planilha para organizar as leituras realizadas.
Após essa etapa, foi concretizada uma prática de campo na comunidade Sahú-Apé,
e a realização da palestra com a organização de cadernos administrativos com as informa-
ções da própria comunidade. Ao longo dessas etapas foram feitas leituras no laboratório e
a apresentação parcial.
A participação na atividade na comunidade Sahu Apé, envolveu alunos do curso de
Geografia, e ainda, colaboradores e comunidade Sateré, sendo nesta atividade, apresenta-
dos dados sobre as produções acadêmicas da etnia.
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A bolsista apresentou a plataforma verbalmente, tendo em vista que na comunidade
não possui espaço para reunião, e devido à chuva, havia caído a cobertura da cozinha, tendo
sido necessário reunir embaixo das árvores.
A bolsista falou sobre como se escreve sobre a comunidade, e que esta precisa apren-
der a registrar sua história, tendo como ferramenta, as atas e livros de visita, sendo pos-
sível assim, ter uma história e dados sobre quem visita a comunidade, e quais atividades
foram realizadas.
As dificuldades em relação à fortes chuvas, e à infraestrutura na comunidade, impedi-
ram que fossem realizadas mais visitas de campo, porém, foi enviada à professora, a tabela
com as produções de artigos para que esta pudesse acompanhar a produção acadêmica
sobre a etnia, e quando houver possibilidade, acessar aos links disponíveis dos artigos, para
conhecer sobre o que se escreve sobre o povo sateré.
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Conhecer sobre sua etnia e sua história, é essencial no fortalecimento da cultura in-
dígena, e neste contexto, o projeto pode levar aos moradores, uma fonte de pesquisa, que
posteriormente quando forem resolvidas as questões de energia e internet, eles poderão
acessar e entender alguns processos de migração e formação de comunidades ao longo
da história (Carvalho, et.al, 2022).
No decorrer do projeto, foram feitas atividades no laboratório, com a formação de uma
biblioteca digital, que hoje está disponível em google drive, para acesso de alunos, profes-
sores, indígenas e comunidade em geral, como mostra a imagem 1.
Imagem 2. Biblioteca digital na Plataforma Zotero, com pesquisas sobre a produção acadêmica que trata do povo Sateré
Mawé.
O acesso à produtos digitais ainda é uma barreira para os indígenas, tendo em vista
que muitas comunidades não possuem internet e nem mesmo energia. Neste caso, para
que este produto não ficasse obsoleto aos moradores da comunidade Sahu Apé, durante a
visita, foi disponibilizado o link para que estes pudessem acessar a plataforma pelo celular.
Assim, as novas tecnologias têm sido suporte em todas as esferas educacionais, “ao
se falar em novas tecnologias, na atualidade, estamos nos referindo, principalmente, aos
processos e produtos relacionados com os conhecimentos provenientes da eletrônica, da
microeletrônica e das telecomunicações. Essas tecnologias caracterizam-se por serem evo-
lutivas, ou seja, estão em permanente transformação” (KENSKI, 2012, p. 25).
Os alunos que participaram da palestra e das oficinas, são também bolsistas de outros
projetos e ainda, alunos que realizam pesquisas sobre geotecnologias, e que foram convi-
dados a participar das duas oficinas e da atividade de campo.
Nas duas visitas em que estivemos na comunidade, foram realizadas oficinas com o
objetivo de mostrar aos indígenas, como registrar as atividades que realizam, através de
atas, livro caixa e livro de visitas. Os materiais foram como livro de atas, livros caixa, livros de
visita, papel ofício, canetas, lápis, réguas e outros, foram doados pelas professoras orienta-
doras, e os moradores foram orientados quanto ao preenchimento e guarda destes recursos.
A imagem 2 abaixo, mostra a primeira visita realizada na comunidade no mês de se-
tembro de 2021, onde foi apresentada a plataforma Zotero, e já realizada a primeira etapa
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da oficina de registros, com a participação da Tuxaua da comunidade, a indígena MIdiã, e
outros jovens que se responsabilizaram de fazer estes registros.
A comunidade possui uma Associação (Imagem 4), e estes registros são muito im-
portantes, também para a pessoa jurídica, que está implementada. A construção de uma
história dos eventos que acontecem na comunidade, é importante para que não aconteçam
erros nas pesquisas realizadas por pessoas do mundo acadêmico.
Na segunda visita, foi feita uma verificação de como a comunidade registrou os meses
anteriores, as atividades que realizaram, e percebeu-se que pouco foi feito,
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Imagem 5. Segunda visita na comunidade Sahu-Apé.
Foi explicado a eles, que nas pesquisas realizadas para a alimentação da plataforma
Zotero, ao ler os artigos, a aluna bolsista identificou que muitas das produções acadêmicas
tinham pouca ou quase nenhuma fala dos indígenas, e ainda, alguns eventos da comunidade
citados em produções diferentes, mostravam que havia contradições de datas e de locais
específicos, ou seja, a história dos Saterés, nem sempre é contada por eles mesmos, mui-
tas vezes é fruto da pesquisa superficial que não aborda de modo profundo e significativo a
história e a cultura da etnia, trazendo apenas o olhar do “homem branco”.
A construção desta biblioteca por meio da Plataforma Zotero possibilitará um acervo
documental de conhecimento não somente para os indígenas, mas para pesquisadores em
geral, principalmente os alunos da Universidade do Estado do Amazonas, o que já vem sendo
feito por alunos da Biologia, conforme relato destes, após o conhecimento da plataforma no
dia da apresentação parcial do projeto de extensão.
Para os indígenas, é uma fonte de pesquisa e compreensão de como os pesquisa-
dores entendem a dinâmica cultural e social do povo Sateré, e diante das incongruências,
poder escrever sua própria história. Além de retorno social dos estudos realizados junto
com os comunitários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O projeto de extensão realizado ao longo do período, trouxe uma gama de conheci-
mentos sobre a situação da comunidade, e ainda sobre a importância do registro da história
de um povo. Sendo assim, foi neste contexto, que a plataforma Zotero foi importante para
organizar e resguardar a produção acadêmica disponível em sites da internet, e assim, se
transformar em uma ferramenta que ultrapasse os muros das universidades, e chegue aos
protagonistas destes estudos.
REFERÊNCIAS
1. BARBOSA, E. B. Uma viagem pelo analfabetismo do Alto Solimões. Manaus: Edi-
ções Muiraquitã, 2008.
9. SANTOS, Danielle Mariam Araujo dos; CARVALHO, Joelma Monteiro de; TRICÁRICO,
Luciano Torres. Patrimônio imaterial e o turismo étnico em comunidade indígena, em
Iranduba, Amazonas. Turismo e Sociedade, Curitiba, v. 12, n. 3, p. 16-35, set-dez.
2019.
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Escola indígena e sua dimensão na
perspectiva do Turismo Étnico, Am-Brasil
'10.37885/221010658
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar como as atividades turísticas dialogam com a edu-
cação em uma escola indígena, região metropolitana de Manaus-Amazonas. Trata-se de
um estudo de abordagem qualitativa, de cunho bibliográfico com estratégias da netnografia
e etnográfica, em período da COVID-19, nos meses de março a dezembro de 2020. A in-
quietação nasceu em saber como os comunitários realizam as atividades educacionais
durante a pandemia e como a tradição cultural se faz presente nas atividades da escola e
nas ações aos turistas. Para realizar tal levantamento aplicamos questionário via Google
Meet, Whatsapp, Google Forms e registros de fotográficos. A pesquisa buscou identificar,
as ações educacionais e turísticas, e de que maneira são realizadas as suas práticas em
relação às questões à economia, ao ecológico e à cultura. Atualmente, as escolas da rede
pública de ensino realizam atividades mediadas por tecnologias ou por meio de estudos
dirigidos para aquelas comunidades sem acesso à internet. Os resultados apontam que o
setor do turismo e educação foram os mais atingidos. Além que, não há estudos sobre os
impactos da pandemia dentro de contextos educacionais indígenas. Trazemos como pro-
postas a inclusão, de construção coletiva, de um folder informativo para ser usado a partir
da crise da saúde no planeta e no Amazonas.
No leito do rio Amazonas existem comunidades indígenas que praticam atividades para
a geração de renda por meio de vendas produtos oriundos da floresta como: bijuterias de
sementes dos frutos amazônicos, remédios com ervas nativas e produção artísticas cultu-
rais, com apreciação de rituais indígenas, como o ritual da tucandeira (CARVALHO, 2019).
Todas essas atividades ocorrem constantemente, na comunidade Sahu-Apé.
A necessidade em conhecer a cultura de um povo, nos faz compreender e valorizar
os pontos turísticos de um lugar. Essa afirmação como podemos tratar os pontos turísticos,
pois trazem uma memória histórica expressa nas arquiteturas tradicionais da capital amazo-
nense. Em busca dessa perspectiva, nasce o interesse de se aproximar a valorização dos
povos indígenas, sendo estes tão ameaçados, por atos diretos como tomada da posse de
suas terras ou indiretos por figuras públicas do governo Federal. Consideramos que expe-
riência do turismo étnico em comunidades indígenas da região metropolitana é um meio de
fortalecer, tanto o desenvolvimento econômico do local quanto a educação, cultura, como
a valorização da tradição cultural indígena.
O turismo no estado do Amazonas no ano de 2020 foi afetado diretamente por conta
da pandemia do vírus SARS-CoV-2, em que até o atual momento o mundo traça uma bata-
lha para contê-lo, entretanto, não apenas um setor estratégico para economia amazonense
como o turístico. O sistema de educação foi um setor, duramente afetado ao ter suas escolas
fechadas sem previsões de quando seriam reabertas, deixando certa de 85.802 mil estu-
dantes da educação básica, sem acesso às aulas até o momento que foram implementadas
metodologias alternativas para esta situação, como pautou o jornal Todahora.com.
Com o programa Aula em Casa, desenvolvido pelo governo do Estado do Amazonas em
parceria com a emissora de televisão Amazonas Sat e Águas Claras, o ensino foi transmitida
para capital e 27 municípios beneficiando, apenas 43,5% dos estudantes do Estado, como
aponta o levantamento do site todahora.com. Outra estratégia foi a utilização de ferramentas
digitais, como Google Meet, YouTube, Whatsapp e Zoom no ensino remoto.
A educação indígena foi também, uma das mais afetadas, isso inclui o objeto de es-
tudo deste projeto, a comunidade Sahu-Apé, situada no município de Iranduba, no estado
do Amazonas. A comunidade que sua principal fonte de renda, o turismo étnico, viu-se
em poucos meses a reclusão imposta pela pandemia afetar a economia dos comunitários,
sendo por meio da perda da arrecadação e a falta de infraestrutura para o ensino remo-
to na comunidade.
Ao tratar de assuntos dinâmicos como escola, turismo e povos indígenas, surgiu o in-
teresse de desenvolver um projeto onde foi possível interligar os três temas em um projeto
intitulado “Escola Indígena e Sua Dimensão na Perspectiva do Turismo Étnico”. O projeto
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tem como objetivo analisar de maneira dialética como a educação indígena foi afetada por
conta da pandemia, atingindo as atividades da cultura Sateré-Mawé, nas vivências da escola
da comunidade Sahu-Apé.
Este estudo, nos permitiu compreender a formação da comunidade Sahu-Apé e a
implementação do turismo étnico, as ações realizadas na escola indígena, com interface
nas atividades turísticas, por meio de produtos da tradição cultural. Bem como descrever os
impactos, relacionando o referencial teórico com os discursos dos entrevistados, possibili-
tando a reflexão sobre a importância das políticas públicas voltadas para as comunidades
indígenas, no período pandêmico.
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a demarcação da comunidade no site da Fundação Nacional do Índio – (FUNAI). De acordo
com Santos (2010, p.106) “a trajetória histórica da comunidade nasceu em função de uma
doação de terra do município de Manacapuru para os comunitários, tendo por volta, atual-
mente, 26 anos de sua fundação”.
A organização político-administrativa da comunidade teve como fundadora a líder Baku.
Ela era a tuxaua e pajé da comunidade, conforme, Dos Santos; Carvalho e Tricárico (2019) se
tornou a primeira Tuxaua mulher, sendo um avanço nas relações políticas nesse segmento,
como relatado pelos autores, a comunidade detém um pajé, Sr. Sahu, e dois líderes, Ismael
e João, conhecidos nos clãs Sateré-Mawé como Família Silva Freitas.
A Comunidade Sahu-Apé faz um trabalho dos seus principais pilares centrado na
Educação e Turismo. A educação é um instrumento de resistência em preservar a existên-
cia da língua materna Sateré-Mawé. Essa preocupação foi frisada pela Baku em entrevista
para Santos (2010), sendo a própria professora da língua na escola indígena da comuni-
dade. A escola indígena é importante instrumento na visitação à comunidade, sendo nela
palco de apresentações das crianças por meio de canto ou exposição de suas atividades
(DOS SANTOS, 2020). O turismo é a principal fonte de renda dos comunitários, no auge do
segmento hoteleiro por parte do Hotel Selva Ariaú. Segundo as lideranças, “a comunidade
recebia muitos turistas, de todos os cantos do mundo”, porém, com o fim das atividades, as
visitações, se tornaram, principalmente por universitários, estudantes do ensino fundamental
e médio da capital e pesquisadores.
A educação dos povos indígenas no Brasil Colônia, por muitos anos ficou ao encar-
go da congregação Jesuíta, até o período denominado de pombalino, no qual Marquês
de Pombal tinha a tutela da então colônia. Neste período as políticas voltadas às escolas
indígenas e a educação oferecidas nestas estavam em “imposição do português, negação
da língua geral, no entanto, funcionaram práticas de resistências veladas”, acenou Souza
(2016, p.102). As escolas indígenas serão tratadas como ferramentas estatais para de-
senvolver um papel integralista dos povos remanescentes a partir da colonização até o
advento da República onde foi criado o Serviço de Proteção aos Indígenas (SPI), como
destacou Souza (2016).
No Brasil, a educação indígena é um desafio para elaboração de um ensino diferen-
ciado. Nesta busca, muitos povos elaboraram materiais didáticos, especialmente cartilhas,
na língua de cada povo, desenvolvendo programas e métodos de ensino em alfabetização e
promoveu a construção de escolas em algumas áreas indígenas, acenou Souza (2016). A li-
gação com a religião cristã está no centro da cultura indígena e tem resquícios da língua e
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com a tradição ancestral, que podem ser observados até hoje, como o nome da escola da
comunidade que, segundo Santos (2010), significa “ Deus Quis”. Outro fato perceptivo é a
relação que a comunidade tem com cristianismo, é a realização eventos e pregações.
Nos limites em que a Comunidade Sahu-Apé está situada, existe a Escola Municipal
Tupana Yporó. Santos (2010), relata que, a escola atende aos estudantes comunitários do
ensino fundamental. Na grade dos componentes curriculares da escola existe a matéria
de língua Sateré-Mawé, nesse espaço as crianças aprendem artes e atividades artesanais
lúdicas vinculadas diretamente com a cultura indígena Sateré-Mawé, além de música em
sua língua materna, no espaço foi criado um grupo de música indígena, intitulado Sahu-Hin
(DOS SANTOS, 2020).
O ensino oferecido na comunidade é somado com ensino regular oferecido pelo muni-
cípio, na sede de Iranduba, é um fato reafirmado pelo Secretário de Educação do Município
na pesquisa no ano de 2021, de acordo com secretário, as escolas do município têm em
seu componente curricular a matéria de ensino da língua materna, sendo um fator de in-
clusão para os estudantes de etnia indígena dessa região. A Constituição Federal de 1988
proporcionou aos povos indígenas o direito à valorização e aceitação das diversidades
culturais, tendo em vista o papel da escola indígena (RODRIGUES; LOMBARDI, 2016, p.
36), destacam “o papel da escola como mediadora das apropriações e das objetivações
historicamente construídas pela humanidade é imprescindível, sobretudo considerando que
o conhecimento se torna cada vez mais elaborado”.
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Como abordado em tópicos anteriores, uma das preocupações em especiais da
Comunidade Sahu-Apé é pela existência e permanência de sua língua Sateré-Mawé, e essa
preservação ocorre principalmente em função da Escola Indígena na comunidade, onde é
ofertado tanto língua portuguesa, quanto Mawé, nas atividades turísticas é apresentado aos
visitantes os conhecimentos obtidos nas aulas e exposição de sua cultura aos turistas como
Santos (2010, p.96), pontua no parágrafo a seguir:
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função do grande fluxo de visitantes que costumavam frequentar a comunidade nos tempos
que os hotéis de selva na região. Com a queda desse segmento, automaticamente ocorre
desaceleração de visitações e consequentemente arrecadação na comunidade. O fluxo
reduzido cresceu em 2020, no período da pandemia, em decorrência da transmissibilidade
do vírus SARS-CoV-2, no final do ano de 2019, no Oriente, mais especificamente na China,
e em poucos meses, proliferando-se para todo o resto do planeta, tendo impactos na eco-
nomia mundial e em especial na Comunidade Sahu-Apé.
METODOLOGIA
A pesquisa trilhou pelo método científico dialético, de acordo com Sposito (1990, p.
20). Para o autor, o método dialético é aquele que procede pela refutação das opiniões do
senso comum, levando-os à contradição, para chegar então à verdade, fruto da razão. O ce-
nário pandêmico causado por um vírus respiratório o SARS-coV-2 fez com que medidas
fossem tomadas para que sua cadeia de propagação fosse quebrada, entre essas está o
distanciamento social e o sistema home office. Assim, foi por meio do uso dos equipamentos
de informática como computador, smartphone e rede de internet wi-fi e móvel foi possível
desenvolver a pesquisa e construir este artigo.
O distanciamento social impossibilitou as pesquisas de campo, sendo substituída pela
pesquisa participante, no qual é caracterizada pela relação pesquisador e objeto, e a diferença
entre empírico e científico. “Esta última tende a ser vista como uma atividade que privilegia
a manutenção do sistema vigente e a primeira como o próprio conhecimento derivado do
senso comum, que permitiu ao homem criar, trabalhar e interpretar” (GIL,2002, p. 56). Além
que, na pesquisa participante o componente político possibilita discutir o processo de inves-
tigação tendo por perspectiva a intervenção na realidade social (ROCHA, 2002).
Para o desenvolvimento desse estudo foi utilizado o método exploratório de natureza
qualitativa, do tipo bibliográfica e documental por vias digitais, que nos possibilitou navegar
e construir os constructos para este artigo. Para o levantamento dos dados usamos os re-
cursos digitais como aplicativos de comunicação: Google Meet, Whatsapp e Google Forms.
Por via das ferramentas Google Meet e Forms, respeitando as normas estabelecidas pelos
órgãos de Saúde, sem afetar os comunitários e os pesquisadores em função da pandemia.
Neste sentido, usamos estratégias netnográficas e etnográficas. Como recurso da coleta
dos dados aplicamos os instrumentos do formulário Google Forms, com doze perguntas
diagnósticas, as quais possibilitaram o desenvolvimento das reflexões pertinentes a proble-
mática ora apresentada.
Ao final construímos coletivamente, por meio de ferramenta digital Canva, a construção
de um folder informativo, contendo vocabulário, formas de saudações e a localização da
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comunidade, em língua Mawé e Portuguesa. Nesse folder informativo nomeado Guia CSA, foi
inserido um QR CODE gerado pela plataforma Google Earth, sobre acesso e local em estudo.
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DIFICULDADES DE ACESSO À INTERNET: UMA NOVA EXCLUSÃO SOCIAL
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DA TRADIÇÃO CULTURAL AOS IMPACTOS ESCOLAR
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artísticas e culturais. Segundo Kiã (2021) “houve procura por uma fonte de renda fixa, pro-
vocando à procura de novo emprego, em outros ambientes, para além da comunidade”.
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De acordo com Villanueva (2006), a simiótica utiliza signos por meio de imagens que
promovem múltiplos significados e desperta no turista a escolhe do destino, “as imagens
divulgadas através de folders e sites devem favorecer a imagem do destino perante sua de-
manda”. Neste viés, como resultado, foi elaborado com os comunitários a construção de um
folder informativo fixo intitulado Guia CSA, em que consta informações sobre a Comunidade
Sahu-Apé, endereço e informações, com vocabulário de palavras nativas, com a tradução
para o português como uma forma de aprendizagem do idioma indígena da comunidade
Sahu-Apé além de uma forma de interação partindo da perspectiva de conhecer e não se
apropriar deste idioma. O guia consta com recurso de QR CODE no qual o visitante poderá
visualizar um mapa no Google Earth, em que constará cada ponto da Comunidade. Assim,
a visitação facilitará o acesso dos turistas até o destino. É uma estratégia a ser usado na
pandemia, a fim de quebrar da cadeia de proliferação do SARS-coV-2.
Outra estratégia foi a capacitação dos docentes da escola indígena, com uso e habili-
dades das ferramentas digitais. Os moradores necessitam de inclusão digital, como instrução
em utilizar software, aplicativos e o uso da internet para disseminação de conhecimento por
meio do ensino remoto. Consideramos que essas estratégias devem contemplar conheci-
mentos tradicionais em língua Sateré-Mawé para uma integração entre os falantes. Todas
as formas de inclusão contribuirão com os comunitários. A seguir figura da capa do guia.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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49
REFERÊNCIA
1. BREVES, Valéria da Rocha. Identidade Sateré-Mawé no contexto urbano: língua,
sentido, e fronteiras da diferença. 2019. 177 f. Dissertação (Mestrado em Letras) -
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2019.
3. CARVALHO, Joelma Monteiro de. Ritual de passagem: das terras indígenas às áreas
urbanas dos Sateré-Mawé / Joelma Monteiro de Carvalho. – Manaus (AM): Editora
UEA, 2019.
6. FVS - (AM). Amazonas confirma 1º caso de Covid-19 e autoridades garantem que rede
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Amazonas. Disponível em: <http://www.fvs.am.gov.br/noticias_view/3740>. Acesso em
29 março de 2021.
7. GIL, Antônio Carlos, 1946- Como elaborar projetos de pesquisa/Antônio Carlos Gil. - 4.
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9. LIMA, Thales Rafael Correia de Melo et al. Prática segura de audiologistas durante
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e2369, 2020. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
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11. MENDONÇA, Heloísa. Auxílio emergencial de 2021 começa em 6 abril, com valores
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12. ROCHA, Eliza Emília Rezende Bernardo. A Pesquisa Participante e seus Desdo-
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Estudo clínico e epidemiológico da
neoplasia de colo uterino em um Hospital
Público do Baixo Amazonas
'10.37885/220910253
RESUMO
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qualidade dos serviços (RODRIGUES et al., 2016; BARBOSA et al., 2016; ANDRADE et al.,
2018). Com os resultados da citologia oncótica, condutas deverão ser preconizadas, como
na citologia normal e nas alterações benignas, que devem seguir a rotina de rastreamento
citológico anual. Nas alterações pré-malignas, recomenda-se a repetição da citologia em seis
meses, para alterações malignas, a colposcopia é imediatamente indicada, e ao encontrar
lesão, recomenda-se a biópsia (BRITO-SILVA et al., 2014).
Após a realização da biópsia e estadiamento, o tratamento do câncer cervical é baseado
tanto na lesão primária quanto nos possíveis locais de disseminação, tendo como modali-
dades terapêuticas primárias a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia ou a quimiorradio-
terapia (BEREK, 2014; FEBRASGO, 2017). A cirurgia isolada é limitada às pacientes com
câncer invasivo em estádios I e IIa, já radioterapia pode ser utilizada em todos os estádios
de doença, sendo geralmente acompanhada por quimioterapia radiossensibilizante (BEREK,
2014; FEBRASGO, 2017).
Diante do exposto acerca da importância epidemiológica da neoplasia de colo uterino,
sua repercussão na qualidade de vida e na morbimortalidade das pacientes e pelo estudo
ser desenvolvido no interior da Região Norte, local com maior incidência da patologia, a
realização desta pesquisa poderá elucidar as variáveis epidemiológicas, clínicas e cirúrgicas
intrínsecas da região. Além disso, os resultados do estudo poderão servir como avaliação da
eficiência dos programas de rastreamentos praticados e do próprio serviço de ginecologia
oncológica do Baixo Amazonas.
METODOLOGIA
O estudo teve abordagem quantitativa e com caráter descritivo, pois, segundo Minayo
(2007) e Lakatos e Marconi (1986), considera-se quantitativo quando é possível traduzir
informações em números para classificá-las e analisá-las, isso requer o uso de recursos e
de técnicas estatísticas, e os resultados podem ser replicados. Essa foi a abordagem utili-
zada, pois houve necessidade de se assegurar a objetividade e credibilidade dos achados,
havendo também preocupação com a quantificação para o desenvolvimento do estudo
(LEOPARDI, 2002).
Também se caracterizou como documental, pois foi realizada a partir do banco de
prontuários do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) sobre câncer de colo de útero,
e como descritiva, visto que foram descritas as características de determinada população
(GIL, 2008). Para Rouquayrol (1994), estudo transversal é um estudo epidemiológico no
qual fator e efeito são observados num mesmo momento histórico e é o mais empregado.
O estudo foi realizado no Hospital Regional do Baixo Amazonas do Pará Dr. Waldemar
Penna (HRBA), localizado na Av. Sérgio Henn, 1364 - Diamantino, Santarém - PA, CEP
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68020-070. As visitas ao HRBA ocorreram com uma frequência de duas vezes por semana
(de acordo com a disponibilidade dos funcionários que trabalham no setor de arquivamento
destes prontuários), pelo turno da manhã e/ou tarde, sendo que a cada visita foram inves-
tigados em torno de cinco prontuários.
A amostra foi composta por todos os prontuários dos pacientes que realizaram trata-
mento cirúrgico para o câncer de colo uterino no referido hospital no período de janeiro de
2016 a dezembro de 2019, totalizando aproximadamente 50 prontuários.
Os critérios de inclusão adotados foram: prontuários de pacientes com mais de 18
anos; informações/dados de pacientes com diagnóstico de neoplasia de colo uterino pelo
histopatológico; dados das pacientes tratadas apenas cirurgicamente no HRBA de 2016 a
2019. Os critérios de exclusão foram utilizados os seguintes critérios de exclusão: prontuários
ilegíveis; prontuários de pacientes operados em outro hospital.
A coleta de dados se deu após o aceite pelo Comitê de ética e com aprovação do
projeto na Plataforma Brasil sob CAAE 18372319.4.0000.5168, obteve-se a permissão para
ter acesso ao setor de arquivamentos dos prontuários com identificação para o profissional
responsável pela guarda destes documentos, os pesquisadores lhe explicaram de forma
detalhada os objetivos deste estudo, assim como sua metodologia e eventuais riscos de
sua participação. O profissional, tendo compreendido as informações que lhe foram repas-
sadas e tendo concordado em colaborar com esta investigação, recebeu o Termo de Fiel
depositário (TFD – Apêndice A) e o Termo de Compromisso de Utilização de Dados (TCUD)
(Apêndice B) afirmando o compromisso dos pesquisadores. Com os prontuários em mãos,
os pesquisadores se direcionaram para uma sala reservada (dentro do próprio estabeleci-
mento) e passaram a transferir informações, como idade, etnia e manifestações clínicas, para
uma ficha de coleta (Apêndice D). É interessante enfatizar que todos os dados de natureza
pessoal que possam levar à identificação das pacientes não foram coletados.
A pesquisa foi realizada respeitando os aspectos éticos dos participantes de acordo
com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e respeitando a individualidade
étnica, social e moral, não sendo divulgada toda e qualquer informação obtida. A pesquisa
tem grande relevância científica e respeitou as normas da ABNT. O trabalho foi enviado
para a análise da plataforma Brasil onde obteve aprovação para iniciar as pesquisas no
HRBA. Foi realizada a entrega de uma via do TCLE, contendo contatos e locais em que
os pesquisadores podem ser encontrados. Além do TCLE, houve aplicação do Termo de
Fiel Depositário (TFD – Apêndice B) ao funcionário responsável pela guarda e proteção
dos dados que pretendem ser consultados pelos pesquisadores, assim como do Termo de
Compromisso de Uso de Dados (TCUD – Apêndice A), por meio do qual os pesquisadores
assumiram o compromisso de manter conduta ética ao manusear e acessar os dados em
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questão, garantindo a confidencialidade sobre os dados coletados e a privacidade de seus
conteúdos, tal como preconizam as Resoluções 466/12 e 510/16 do CNS.
Após o período de coleta das informações, todos os dados investigados foram transfe-
ridos para o Software Excel®, para sua futura organização e tabulação. A partir desta etapa,
foram realizadas as análises estatísticas descritivas por meio deste programa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Os dados do presente estudo são similares aos do estudo de Soares et al. (2010), no
qual a faixa etária predominante foi de 45 a 55 anos.
Quanto ao levantamento das características individuais, o estudo identificou que a idade
do diagnóstico corroborou o que foi apresentado pelo Instituto Nacional do Câncer. O risco
de aparecimento de câncer invasor de colo do útero em mulheres de até 24 anos é muito
baixo e o rastreamento não é eficaz para detectá-lo. Por conseguinte, tratar estas lesões
antes dos 25 anos de idade provocaria um aumento importante de colposcopias e elevaria
o risco de morbidade obstétrica e neonatal associado à futura gestação, além disso, nesta
idade há grande probabilidade de a doença regredir. Ainda, mulheres na faixa etária entre
50 e 64 anos e com exame citopatológico normais apresentam redução de 84% do risco de
desenvolver um carcinoma invasor entre 65 e 83 anos (INCA; 2016).
Tabela 1. Características demográficas das pacientes com câncer do colo do útero submetidas a tratamento cirúrgico
em Santarém, 2016-2019.
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VARIÁVEL NÚMERO DE CASOS %
Procedência
Santarém 23 46
Outra cidade do Pará 25 50
Outro estado 2 4
Quanto à etnia das pesquisadas, metade se declara parda, 28% brancas e 20% negras,
conforme se observa na Figura 2, dados semelhantes aos achados por Thuler, Bergmann
e Casado (2012), em que 53,5% eram negras ou pardas.
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Figura 3. Estado civil dos indivíduos pesquisados.
Esses dados são similares à pesquisa de Thuler, Bergmann e Casado (2012), em que
70% das pacientes tinham baixa escolaridade (fundamental incompleto ou menos). O mesmo
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foi visto nos resultados da pesquisa feita por Soares et al. (2010), que apontaram que a
escolaridade de 45% das entrevistadas está na faixa do ensino fundamental incompleto,
o que corresponde a dois/três anos de estudo do ensino fundamental, sendo que apenas
uma (5%) era analfabeta, o que vem ao encontro das referências bibliográficas consultadas.
Observou-se também baixa escolaridade em amostra de pesquisa feita em Roraima,
na qual todas as pacientes indígenas eram analfabetas (FONSECA et al., 2010).
Infere-se que a incidência de câncer de colo uterino torna-se maior em mulheres de
baixa escolaridade e de baixo nível socioeconômico devido à falta de conhecimento e às
dificuldades no acesso aos serviços de saúde e aos programas de prevenção e tratamento
eficazes (ROSA et al., 2009).
Com relação à profissão das pacientes, a maioria se dedica às atividades do lar (34%),
22% são agricultoras, 10% atuam como empregada doméstica, 13 (26%) se dedicam a outras
atividades e em quatro prontuários não foi encontrado esse dado. Na pesquisa de Fonseca
et al. (2010), 21 pacientes (35%) relataram exercer atividades profissionais até o momento
do adoecimento. Destas, apenas 10 (47,6%) possuíam empregos formais. A atividade mais
comum foi o emprego doméstico (12; 57,1%), enquanto que em Santarém 10% afirmaram
exercer esta profissão.
Na capital da Etiópia, estudo demonstrou que a maioria das pacientes era casada (51%)
e analfabeta (52%). Assim, os aspectos socioeconômicos como nível de escolaridade e ocu-
pação estão implicados na tomada de decisão das mulheres pela dependência econômica
do cônjuge, e acabam mais expostas à infecção pelo HPV por apresentarem dificuldades
para compreender os fatores de vulnerabilidade ao câncer cervical. E, consequentemente,
realizam com menor periodicidade o exame preventivo e apresentam-se menos conscientes
quanto aos agravos decorrentes da doença, aumentando a chance de diagnóstico tardio
(TADESSE, 2015).
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Com relação à ocupação, Soares et al. (2010) observaram que, das mulheres en-
trevistadas, quatro (20%) atuavam como empregadas domésticas e quatro (20%) como
trabalhadoras de serviços gerais, o que pode explicar o baixo poder aquisitivo referido nas
entrevistas. Ainda, 17 (34%) afirmaram não desenvolver atividades profissionais fora de
casa, muitas vezes tendo um ambiente mais restrito de relações, o que pode se constituir
um empecilho na geração de estratégias para lidar com as dificuldades advindas do câncer
de colo de útero.
Em relação à procedência, 23 (46%) pacientes são procedentes de Santarém, 25 (50%)
de outros municípios do Pará e duas (4%) de outro estado da federação. Isso demonstra a
capacidade do HRBA de atender pacientes de todo o oeste do Pará. O HRBA é tido como
hospital de referência no Norte do Brasil quando o assunto é tratamento de câncer, sendo
34% 22% 10% 26% 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 do lar agricultora doméstica outras 30 capaz
de atender a uma população estimada em mais de 1,1 milhão de pessoas residentes em 20
municípios do oeste do Pará (HRBA, 2020).
Quando se analisaram os fatores de risco implicados no câncer de colo uterino, 15 (30%)
pacientes afirmaram serem etilistas, 14 (28%) tabagistas e 11 (22%) etilistas e tabagistas.
Em um estudo feito no Instituto Brasileiro de Controle do Câncer para avaliar os fatores
preditores de qualidade de vida de mulheres com neoplasia de colo uterino, 56,4% eram não
fumantes, 27,5%, ex-fumantes e 22,8%, etilistas (FERNANDES; KIMURA, 2010). Estudos
demonstram um risco relativo de 2,3 para o câncer cervical invasivo em fumantes e de 1,7
para ex-fumantes (ROSA et al., 2009).
Conforme informações do INCA, as bebidas alcoólicas não devem ser consumidas, pois
favorecem o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, sendo que essa recomendação
serve para todas as bebidas alcoólicas, pois o etanol tem o efeito cancerígeno sobre as cé-
lulas e, quando chega ao intestino, pode funcionar como solvente, facilitando a entrada de
outras substâncias carcinogênicas nas células. Além disso, o uso concomitante com tabaco
aumenta a probabilidade do surgimento de doenças desse grupo (INCA, 2019b).
Foram investigadas as comorbidades, e 17 (34%) mulheres referiram outras patolo-
gias, sendo que três (6%) pacientes tinham neoplasia de ovário, quatro (8%), câncer de
mama, seis (12%) eram diabéticas e 3, hipertensas, notando-se maior ocorrência do diabe-
tes dentre todas.
No trabalho realizado por Fernandes e Kimura (2010), presença de uma comorbidade
foi referida por 28,9%, enquanto que a maior parte (48,3%) não referiu nenhuma comorbi-
dade. A hipertensão arterial (43,6%) e o diabetes mellitus (21,3%) foram as doenças asso-
ciadas mais prevalentes.
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Um dado que chamou atenção foi de que seis mulheres (12%) nunca realizaram o
exame citopatológico.
Em Roraima, este índice foi maior, já que na amostra estudada 43 pacientes (71,6%)
relataram nunca terem realizado exames preventivos ginecológicos até o momento da sus-
peição clínica do câncer (FONSECA et al., 2010).
Esses achados permitem inferir que algumas mulheres do estudo não foram conscien-
tizadas da importância da realização do exame para a prevenção e detecção precoce do
câncer (HACKENHAAR, 2005).
Além disso, esses resultados apontam para a necessidade de se investigar outros mo-
tivos no contexto sociocultural destas mulheres que as levaram a apresentar baixa adesão a
31 um exame que se caracteriza pela facilidade de realização e acesso na rede de serviços
de saúde, bem como ser de baixo custo e indolor (INCA, 2005).
Fez-se também uma análise do tipo histológico da neoplasia. Este refere-se à carac-
terização da estrutura celular do tumor através de exame microscópico, cuja codificação
utiliza a Classificação Internacional de Doenças para Oncologia, sendo os tipos histológicos
agrupados em carcinomas, adenocarcinomas e outros (INCA, 2014).
O principal tipo histológico encontrado, segundo a classificação da OMS (Organização
Mundial da Saúde) é o carcinoma epidermoide (80%), seguido pelo adenocarcinoma (10%)
e por outras linhagens mais raras (tumores neuroendócrinos, linfomas, sarcomas e outros)
(PECORELLI, 2001), sendo que, para o adenocarcinoma, há incidência cada vez maior em
mulheres mais jovens, provavelmente pelo grande uso de contraceptivo hormonal (OLIVEIRA;
FERNANDES; GALVÃO, 2005).
Na presente pesquisa foram encontrados dados similares, com 70% das pacientes
tendo carcinoma epidermoide; 16%, adenocarcinoma e dois casos de leiomiossarcoma de
colo uterino. Dos carcinomas escamosos, 14 mulheres tiveram a forma invasiva; 13, o car-
cinoma moderadamente diferenciado e nove, in situ. Dos oito casos de adenocarcinoma,
seis foram invasivos dois, in situ e em quatro prontuários não foram encontrados dados a
respeito (Tabela 2).
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Tabela 2. Características clínicas das pacientes com câncer do colo de útero submetidas a tratamento cirúrgico em
Santarém de 2016 a 2019.
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atendidos entre 1995 a 2002, 45,5% das mulheres apresentavam o câncer do colo do útero
nos estádios III ou IV quando do diagnóstico (THULER; MENDONÇA, 2005).
Em estudo envolvendo 4.877 pacientes diagnosticados entre 1999 e 2004 em uma
instituição no Rio de Janeiro, observou-se que 28,0% dos casos de câncer invasor encon-
travam-se em estádio avançado (estádios III e IV) no momento do diagnóstico (CALAZAN;
LUIZ; FERREIRA, 2008).
Detectou-se um grande aumento no percentual de casos com estadiamento ignorado,
pois em 12 (24%) prontuários não foi possível encontrar essa informação. Sabe-se que o
preenchimento do estadiamento no prontuário médico do paciente com câncer é item obri-
gatório, tendo em vista que este dado é essencial na seleção e avaliação do tratamento a
ser realizado (INCA, 2010). Desta maneira, faz-se necessário conscientizar os médicos da
importância de registrar adequadamente essa informação.
Levando-se em consideração a manifestação clínica que motivou a busca pelo serviço
médico, 34 mulheres (68%) tiveram sangramento vaginal; 19 (38%) relataram dor pélvica;
quatro, dispaurenia; cinco, leucorreia abundante; 12 (24%), outras clínicas e duas não 33
referiram no prontuário, sendo que algumas pacientes apresentaram mais de uma queixa
no momento da consulta.
Com relação à sintomatologia, no trabalho de Rosa et al. (2009), 60% das pacientes
com carcinoma epidermoide invasor relataram sangramento vaginal, enquanto apenas 36%
das pacientes portadoras de adenocarcinoma invasivo apresentaram sangramento vaginal.
38% das portadoras de carcinoma epidermoide invasor e 18% das portadoras de adenocar-
cinoma invasivo referiram a dor pélvica (ROSA et al., 2009).
Todas as pacientes pesquisadas foram submetidas a cirurgia no HRBA, predominan-
do a histerectomia total ampliada em 40 (80%) mulheres, oito (16%) passaram apenas por
histerectomia total e cinco (10%), exenteração pélvica. Vale ressaltar que quatro pacientes
fizeram a exenteração pélvica e histerectomia total ampliada.
Segundo relato das mulheres com câncer de colo de útero pesquisadas no estudo rea-
lizado no Ambulatório de Ginecologia Oncológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Botucatu, interior de São Paulo, quanto ao tipo de tratamento a que foram sub-
metidas, teve predomínio o tratamento cirúrgico por histerectomia, com 32.3%, mas também
se evidenciou que a radioterapia e braquiterapia estiveram associadas a outros tipos de tra-
tamento, tais como quimioterapia, histerectomia e conização. Este último não foi mencionado
pelos médicos em suas descrições nos prontuários (CONDE; LEMOS; FERREIRA, 2018).
No HRBA, além da cirurgia, 17 (34%) fizeram radioterapia; três (6%), radioterapia e
quimioterapia com cisplatina; sete (14%), radioterapia e braquiterapia; uma (2%) fez radio-
terapia e quimioterapia associadas a braquiterapia; e uma (2%), somente quimioterapia.
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Estes dados diferem-se das informações contidas na pesquisa de Lima et al. (2011),
com relação ao tratamento, em 53% das pacientes foi utilizada a associação entre radiote-
rapia e braquiterapia seguidas por radioterapia exclusiva (19%); radioterapia, braquiterapia
e quimioterapia (11%); radioterapia e quimioterapia (7%); radioterapia e cirurgia (5%); ra-
dioterapia, braquiterapia, quimioterapia e cirurgia (2%).
Do total de mulheres diagnosticadas com neoplasia de colo de útero e que foram ope-
radas no HRBA, mais da metade, ou seja, 56% ficaram curadas. Apesar de ser a maioria,
esse dado reflete falhas na adesão ao exame preventivo, já que este câncer na fase inicial
apresenta cura em até 100% dos casos, todavia, no estádio invasor da doença a cura se
torna mais difícil, quando não impossível (KIERSZENBAUM, 2012).
Detectou-se recidiva de doença em 19 (38%) pacientes, sendo que 14 (28%) evoluíram
a óbito. Sabe-se que, em 2017, ocorreram 6.385 óbitos por esta neoplasia, representando
uma taxa bruta de mortalidade por este câncer de 6,17/100 mil mulheres(INCA, 2020).
O percentual de mortalidade encontrado neste trabalho foi pior que o da pesquisa de
Lima et al. (2011), na qual foi encontrada taxa de mortalidade em torno de 4,83%.
Comparando com a década de 30, houve um declínio no número de mortes por essa
neoplasia, relacionado principalmente, mas não exclusivamente, à realização do exame
preventivo de citologia oncótica, o exame de Papanicolau. No entanto, nos países em de-
senvolvimento, o câncer de colo uterino continua sendo uma das principais causas de morte
em mulheres (DIZ; MEDEIROS, 2009).
CONCLUSÕES
A neoplasia de colo uterino é um problema de saúde pública por sua alta taxa de
mortalidade e grande probabilidade de cura quando diagnosticada precocemente, sendo
passível de ser prevenida pela educação e informação da população.
Foram avaliados 50 casos de pacientes com diagnóstico de câncer do colo do útero
submetidas a tratamento cirúrgico no período de 2016 a 2019. Apresentaram maior predo-
mínio na faixa etária de 46 a 60 anos, com predomínio de mulheres de cor parda (50%),
com ensino fundamental incompleto (54%) e casadas (42%).
O estadiamento I e II foram os mais frequentes, com 58% dos casos, com 20% dos
casos de doença in situ e a maioria com tipo histológico classificado como carcinoma (70%).
Ao final do tratamento, 56% encontravam-se sem evidência de doença ou em remissão
completa, contudo, 28% foram a óbito.
Após realização desta pesquisa, com os levantamentos clínicos e epidemiológicos,
observou-se que o câncer de colo de útero ainda representa um problema de saúde pública,
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pois, apesar de ser uma patologia totalmente evitável e mesmo com todo o avanço, muitas
mulheres ainda não são totalmente orientadas sobre o problema.
Portanto, evidencia-se a necessidade do comprometimento do Estado e dos profis-
sionais da saúde com a continuidade da assistência à população nos diversos níveis de
atendimento, priorizando as ações preventivas e as ações assistenciais, nos diversos pontos
de atenção à saúde.
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Estudos culturais e mediações na
comunicação alternativa contemporânea
da Amazônia
'10.37885/220809884
RESUMO
O presente artigo realiza estudo exploratório, por meio de análises de conteúdos jornalísti-
cos veiculados em mídia alternativa contemporânea da Amazônia, tendo como base duas
matérias veiculadas no Portal Sátira, meio de comunicação online da cidade de Parintins/
AM. Para fundamentar nossa análise fizemos articulações com os Estudos Culturais da
New Left Inglesa e os estudos das Mediações (MARTÍN-BARBERO, 1997). A metodologia
utilizada se inspirou na análise do conteúdo proposta por Laurence Bardin. Os resultados
obtidos evidenciam que o Portal Sátira se encaixa no jornalismo alternativo por apresentar
conteúdos e personagens nem sempre ouvidos pela grande mídia e que se identificam com
as práticas populares.
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A comunicação alternativa torna-se então nosso ponto de partida no presente estudo.
Para contribuir de forma significativa, na tentativa de reafirmar que tal perspectiva possui
parâmetros de produção que promove reflexões, expõe diversos pontos de vistas sociais
e políticos, e principalmente, que serve como ponte para que debates sejam ampliados,
realizamos articulações com os Estudos Culturais da New Left Inglesa e com os Estudos
das Mediações para desenvolver pesquisa exploratória, por meio de análises de conteúdos
jornalísticos veiculados em mídia alternativa contemporânea na Amazônia.
Tomamos como referência, então, os preceitos dos Estudos Culturais e dos Estudos
das Mediações para analisar reportagens do Portal Sátira, veículo de comunicação alternativa
da cidade de Parintins/AM, que surgiu em 2016, fruto do trabalho de conclusão de curso de
um ex aluno do curso de jornalismo, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), cam-
pus Parintins. A referida mídia começou como um blog pessoal e tempos depois o criador,
Gabriel Ferreira, decidiu transformá-lo em um portal de notícias. O portal contém espaço
web multimidiático no âmbito do jornalismo digital e independente, que explora temáticas
da região amazônica de forma compromissada.
Utilizamos a metodologia da análise de conteúdo (BARDIN, 2009) e com base nas
características do Jornalismo Alternativo buscamos responder à questão: qual a concepção
de jornalismo defendida pelo Portal Sátira no que tange às características e especificidades
da prática jornalística?
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Estudiosos contemporâneos da comunicação alternativa afirmam que tal perspectiva
pode ser definida de acordo com sua ideologia, já que esta, por consequências de suas
origens históricas, está alinhada a ideários de esquerda. Por este motivo, Dênis de Moraes
(2009) diz que a comunicação alternativa é “manifestação contra hegemônica, numa direção
anticapitalista e antineoliberal”. Já Gomes (2014) entende que os novos veículos da mídia
alternativa produzem “discursos e imaginários outros, às margens e quase sempre também
contrariamente aos poderosos interesses políticos e ideológicos da indústria cultural” (p.11).
No entanto, definir alternativo somente pelo viés ideológico pode ser enganador, princi-
palmente quando buscamos o histórico político do Brasil em que, no período de 2011-2016
os presidentes do país faziam parte do Partido dos Trabalhadores, partido esse alinhado à
esquerda (SILVA et al, 2013). Vale lembrar que, nessa época houveram incentivos a sites
e blogs para que fizessem contraponto a imprensa e ao poder vigente, o que coincide com
o papel da mídia alternativa.
Um ponto importante a se tocar na referida discussão relaciona-se as novas narra-
tivas comunicacionais postas em rede. As redes sociais da internet estão tomando conta
de espaços significativos na disseminação de informações. Como consequência, vivemos
atualmente uma onda de Fake News, em que o indivíduo visa curtidas, compartilhamentos e
principalmente o lucro (JORGE FILHO, 2018). Reiteramos o papel do jornalismo alternativo,
por ser um viés que, historicamente, não tem como objetivo principal a obtenção de lucro,
característica marcante dessa perspectiva comunicacional.
Portanto, a comunicação alternativa é também definida como uma narrativa jornalística
que propõe diferentes definições do que pode ou não ser considerado notícia, trazendo outros
enquadramentos, se diferenciando na escolha das fontes e permitindo que o receptor tenha
várias possibilidades de interpretações. A história das comunicações e das artes mostra
que sempre houve certas distribuições do sensível (RANCIÈRE, 2009), permitindo o que se
diga ou de que maneira seja dito, o que se configura como alternativas de entendimentos
e interpretações.
ARTICULAÇÕES
• ESTUDOS CULTURAIS
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Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS). As relações entre a cultura contempo-
rânea e a sociedade, isto é, suas formas culturais, instituições e práticas culturais, assim
como suas relações com a sociedade e as mudanças sociais, compunham o eixo principal
de observação do CCCS (ESCOSTEGUY, 2001)
Dentre os inúmeros pesquisadores que colaboraram com o referido campo de estu-
dos destaca-se Raymond Williams (1958) que além de ter participação significativa foi com
suas obras que passamos a ver discussões mais densas acerca da Cultura. Em The Long
Revolution (1961) o autor apresenta dois conceitos do termo, com duas ênfases diferentes,
desde a mais primitiva e idealista à uma deliberadamente antropológica, em que enfatiza o
aspecto de Cultura que se refere às práticas sociais. E nessa contextualização de conceitos
e ênfases que a teoria da cultura acabou sendo definida como “o estudo das relações entre
elementos em um modo de vida global (...), perpassada por todas as práticas sociais que
constitui a soma do inter-relacionamento das mesmas” (HALL, 2003, p.136).
Thompson (1963) resiste ao entendimento de cultura enquanto uma forma de vida glo-
bal, defendida por Williams. Este, por sua vez, sustenta que a cultura pode ser entendida en-
quanto um enfrentamento entre modos de vida diferentes. Já Hoggart (1957) apresenta pes-
quisa qualitativa defendendo um olhar de que na cultura popular não há apenas submissão,
mas também resistência. O autor exibe a vida cultural da classe trabalhadora, mostrando em
um tom nostálgico, a relação da cultura orgânica da referida classe (ESCOSTEGUY, 2001).
Nos propomos, apoiados em Stuart Hall (2003), desenvolver investigação de práticas
de resistências sociais/culturais/comunicacionais, olhando os objetos da comunicação como
Cultura. Assim o fizemos, devido ao pensamento de Hall também alinhar-se as convicções
democráticas e em observações da cena cultural contemporânea, sempre relacionando
cultura com estruturas sociais de poder.
Os estudos culturais nos auxiliaram a ver a comunicação como cultura, nesse caso,
cultura no jornalismo alternativo, manifestada nos elementos que expressam a forma de ser
de determinado povo (SIQUEIRA E SIQUEIRA, 2007), bem como o consumo dessa dinâmica
comunicacional. Vivian Vigar (2013) diz que “esse novo padrão de consumo se difere da
cultura de massa que é, essencialmente, homogênea, fruto da produção em escala indus-
trial, elaborada por poucos e consumida por muitos” (p. 8). Os estudos culturais, portanto,
constituem, de acordo com Williams (2011), o ramo da sociologia geral em que a sociologia
cultural preocupa-se com os processos sociais de toda a produção cultural, inclusive aquelas
formas de produção que podem ser designadas como ideologias.
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• ESTUDOS DAS MEDIAÇÕES
o eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações, isto é, para
as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as
diferentes temporalidades e para a pluralidade de matrizes culturais (MAR-
TÍN-BARBERO, 1997, p.55).
Com base no que fora exposto, pensamos que inserir os estudos das mediações
no trabalho nos fornece possibilidade de ampliar as análises e não centralizar a pesquisa
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unicamente nos meios, o que nos permite considerar a comunicação a partir da cultura po-
pular e alternativa. O ato de mediar significa estabelecer algum tipo de relação entre duas
partes, onde as mediações servem de ponte estratégica para que trocas de sentidos sejam
produzidas. Dentro dos aspectos de tais mediações podemos citar os Estruturais (clas-
se social, experiências, conhecimentos, etc.); Institucionais (trabalho, igreja, escola, etc.);
Conjunturais (como o indivíduo enxerga a vida, bagagem sócio cognitiva, etc.) e Tecnológicos
(cinema, televisão, etc.). Portanto, todas as mensagens fornecidas pelos meios não estão
ligadas unicamente com a lógica produtiva, mas também com os desejos do público receptor
e, todas as interpretações feitas pelo receptor são filtradas por suas mediações culturais
(MARTÍN-BARBERO, 1997).
PERCURSO METODOLÓGICO
A metodologia escolhida se inspira no modelo elaborado por Laurence Bardin que pro-
põe algumas fases bem diferenciadas e que passamos a explicitar. Na primeira, chamada
de Pré-análise, desenvolvemos a sistematização das ideias iniciais proposta pelo referen-
cial teórico escolhido para que fosse possível realizar estabelecimento de indicadores das
informações coletadas. É nesta fase que realizamos a leitura geral do material analisado e
o organizamos para atingir a sistematização, o que nos conduziu as sucessivas operações.
Esta primeira fase compreende a (1) Leitura Flutuante, onde temos o primeiro contato com
os documentos coletados, conhecemos o texto e demais informações que fizeram parte
da análise. Na (2) Escolha dos Documentos, definimos nosso corpus para posteriormente
realizarmos a (3) Formulação das hipóteses e objetivos e então (4) elaboramos nossos
indicadores, momento em que interpretamos os dados coletados. Ressaltamos que para
escolhermos os dados que foram analisados, obedecemos às orientações das regras de:
exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência (BARDIN, 2009).
A segunda etapa de análise é a Exploração do Material, que consiste na construção
das operações de codificação, em que recortamos os textos em unidades de registros, de-
finimos as regras de contagem e classificamos e agregamos as informações em categorias
temáticas. Foi nessa fase que o texto de todo o material coletado foi recortado em unidades
de registro para então realizarmos a categorização. Tais categorias foram agrupadas inicial-
mente por temas, que geraram categorias intermediárias e que, por conseguinte, também
resultaram em categorias finais. Para isso, usamos o processo indutivo ou inferencial, em
que procuramos compreender o sentido de fala postos no conteúdo analisado, o que nos
levou a buscar significação da mensagem primeira.
O Tratamento dos Resultados é a terceira fase do método. Nela realizamos a inferência
e interpretação de todo o conteúdo contido no material coletado. As categorias existentes
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em cada apreciação nos possibilitaram realizar análise comparativa ressaltando os aspec-
tos semelhantes e os que foram entendidos como diferentes. De forma objetiva, podemos
dizer que para utilizar o método escolhido seguimos as seguintes fases: a) leitura geral do
material; b) codificação para formulação de categorias de análise; c) recorte do material;
d) estabelecimento de categorias temáticas; e) agrupamento das unidades de registro em
categorias comuns; f) agrupamento progressivo das categorias (iniciais – intermediárias –
finais); g) inferência e interpretação, respaldados no referencial teórico escolhido.
Com base nas publicações do portal, feitas no primeiro semestre de 2018, especifi-
camente no período de janeiro à junho, notamos que apenas três reportagens foram pro-
pagadas. A primeira, intitulada “Futebol parintinense, do auge a queda”, foi publicada dia
15/02/2018; posteriormente, dia 05/05/2018, publicou-se “O nirvana dos venezuelanos: a
casa de acolhida Santa Catarina” e por fim, “Umbanda: a essência por trás do estereótipo”,
publicada dia 15/05/2018. Diante das opções de reportagens disponíveis que tínhamos,
optamos desenvolver análises na primeira e na última não só pela temática abordada, mas
também para observar e apontar as diferenças de como deu-se a produção de tais conteúdos
no início e no final do período em que optamos pelo recorte. Para a análise, organizamos as
reportagens de acordo com as seguintes categorias: interesse (local, nacional, internacional);
seção temática e vozes dos atores sociais exibidas nos conteúdos.
A primeira reportagem analisada tem o esporte como tema, mais precisamente o local,
o futebol parintinense, portanto um tema de interesse local. A partir dos fundamentos dos
estudos culturais e das mediações, identificamos por meio da história de vida e experiências
culturais vividas pelos atores sociais envolvidos na narrativa - desde o principal fornecedor
das informações, o senhor Nilo Gama, ex jogador aposentado, ao veterano jornalista de
esporte, Flavio Luiz, bem como o próprio jornalista responsável pela reportagem analisada,
José Brilhante – que o futebol parintinense vive um período de declínio, como o próprio título
da reportagem menciona. Os personagens que vivenciaram os tempos áureos desse esporte
lamentam a atual situação e culpam a tecnologia e a globalização, o alcoolismo (mostrado
na reportagem como um problema causado pelos próprios “incentivadores” do esporte, uma
vez que escolhiam bebidas alcóolicas para pagar ou presentear os jogadores), e por fim,
também direcionam essa culpa ao Festival Folclórico de Parintins, justificando que a festa
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popular atrai maior entusiasmo do povo em participar da brincadeira dos bois e por receber
incentivos e verbas que o esporte não dispõe.
A reportagem fora escrita em alguns trechos com um tom humorístico, mas que vistos
de maneira mais detalhada expressam componentes importantes de uma prática de cultura
popular com o exercício de ações não contidas nas regras do esporte. Ainda fica evidente
que esse esporte perdeu para outro evento mais industrializado e comercializado como é o
Festival Folclórico de Parintins. O jornalista faz questão de contar a história apresentando
gírias e utilizando termos regionais para enriquecer a narração desta, o que nos remete no-
vamente a Martín-Barbero (1997) quando ele diz que é preciso (re)conhecer as mediações
histórico-culturais dessas possibilidades midiáticas e re-situá-las dentro do lugar estratégico
em que o campo da comunicação passou a exercer na formatação de novos modelos da
sociedade. Destacamos também que, no texto, o futebol é apresentado como uma mani-
festação não alienante, de conotação popular, narrado pelas vozes dos atores sociais que
vivenciaram aquele período.
Entendendo a comunicação como cultura (HALL, 2003), a reportagem em questão
nos possibilitou ver a referida prática como resistência social/cultural, pois vimos que as
inter-relações desses padrões foram vividas em um dado período, que contribuiu para que
suas estruturas de experiências fossem criadas. Fica claro, por meio das falas dos persona-
gens, perceber que as experiências vividas por aquelas pessoas proporcionaram bagagem
social/cultural. Por este motivo, lutam para que ainda possam ter espaços tanto na prática
de esporte e lazer, quanto nos espaços comunicacionais.
A narrativa foi escrita de forma acessível para mostrar desde o auge até à queda do
futebol parintinense. O tom humorístico é utilizado e aparece principalmente quando são
narradas as “histórias engraçadas” das partidas de futebol, como por exemplo no trecho em
que estas são relatadas:
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que, com o crescimento urbano da cidade, espaços que antes eram utilizados para a prática
da modalidade de forma gratuita e acessível foram retirados.
“A garotada se divertia tranquilo jogando bola. Hoje em dia pra você conseguir
um espaço no campo, na areia e no sintético, tudo é pago. E assim acabam
restringindo o futebol de Parintins”, explica.
Para além da escolha em relatar um fato lamentável de forma leve, acredita-se que
fora seguida tal estrutura de produção para que os receptores das mensagens pudessem
melhor compreendê-la e assim dispor de mecanismos para ter diversas possibilidades de
interpretações. Reiteramos novamente o papel da comunicação alternativa, por dar vez e
voz as minorias, mas também fazer contraponto ao sistema vigente, fato este que podemos
observar quando na reportagem analisada são mencionadas duras críticas a prefeitura da
cidade, por ficar anos sem direcionar investimentos ao esporte local e também quando são
relatados os métodos de negociações dos presidentes dos times, em que uma pequena
classe da elite parintinense, composta por médicos, empresários e demais poderosos que
faziam parte da Associação da Liga Esportiva Parintinense de Futebol (Alepin) decidiam,
por interesses particulares, o resultado das votações de propostas.
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Partimos do pressuposto de que tudo que envolve hábitos e aptidões humanas, desde a
produção de livros, o desenvolvimento de tecnologias, as relações sociais, até a fabricação de
mesas e automóveis, são produções culturais (SIQUEIRA e SIQUEIRA, 2007). Percebemos,
portanto, a importância da veiculação desses conteúdos nas mídias e entendemos cultura
nos estudos culturais alternativos de acordo com o seguinte conceito:
Destacamos no texto o cuidado e respeito com que a temática fora abordada. Nesse
sentido podemos afirmar que o interesse da matéria, embora seja local, poderia servir para
outras regiões do país. Percebemos que a jornalista desenvolveu pesquisas prévias e apre-
sentou entrevistas com atores sociais. Destacamos novamente a importância que essas
vozes sejam ouvidas, que ocupem seus locais de fala para que elas mesmas representem
esse segmento pouco ouvido. Na reportagem em questão, notamos isso por meio das falas
da mãe-de-santo, Bena de Oxóssi.
Durante as sessões, que são os cultos na umbanda, a mãe-de-santo coor-
dena as cantigas de acordo com os espíritos que são incorporados, além
da participação dos filhos-de-santo que também fazem esse processo de
transe mediúnico. “Nesse momento, não é possível saber quais espíritos
serão incorporados. Cada médium possui um orixá e guias que os auxiliam,
e dependendo do momento, qualquer um deles pode ser incorporado”, relata
Mãe Bena.
Na Umbanda há um conjunto de instrumentos que formam a música do terrei-
ro que são utilizados durante as sessões, são chamados de Engoma. Tradicio-
nalmente a base de toda engoma são os atabaques (tambores), considerados
sagrados que são cruzados pelas entidades, possuindo nomes de acordo com
seus tamanhos sendo eles: Rum, o maior Rumpi, o médio e Lê, o pequeno.
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O espaço que a Umbanda e outros assuntos pouco vistos na grande mídia ganham da
imprensa alternativa faz com que tais conteúdos sejam disseminados para que mais pessoas
tomem conhecimentos e quebrem estereótipos impostos historicamente, que acabaram
sendo enraizados. Por este motivo, reafirmamos o papel da comunicação alternativa na
contemporaneidade, pois esta serve de ponte estratégica para que debates críticos sejam
ampliados. Os noticiários sobre a região amazônica, por exemplo, na maioria das vezes, são
veiculados de forma exótica, sedutora. E é aí que o jornalismo alternativo então entra em
cena, com a possibilidade de levar conhecimentos acerca de diversidade cultural/religiosa
e outros inúmeros assuntos referentes, relevantes e próprios da Amazônia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da realização das análises, verificou-se que o Portal Sátira difunde mais infor-
mações de interesse local do que nacional e internacional, valorizando assim os fatos da
cidade, mantendo o público informado de assuntos que estão mais próximos a eles, dando
voz a setores nem sempre presentes na grande mídia. As temáticas difundidas nas duas
reportagens nos permitiram perceber que a comunicação alternativa contemporânea na
Amazônia sobrevive e mantém vivas as suas características históricas, trazendo em seus
conteúdos informações em profundidade, o que permite ao receptor ter inúmeras possibili-
dades de interpretações.
Com a análise, vimos a importância de dar espaço aos atores sociais - como o ex jo-
gador de futebol, Nilo Gama, e a mãe-de-santo, Bena de Oxóssi - para que suas histórias
sejam narradas a partir de suas experiências culturais vividas, fato este que contribui para
que tais mensagens sejam compreendidas e interpretadas pelos receptores de forma ampla.
Para sustentar a referida afirmação, trouxemos aqui o que o estudo barberiano propõe, em
que os conteúdos culturais veiculados são responsáveis, somados as vivências culturais,
pelos repertórios que cada indivíduo possui de narrar e interpretar a realidade.
Martín-Barbero estabelece, por meio do modelo comunicacional que propôs, um proces-
so de interação onde há um espaço de natureza representativa ou simbólica entre o emissor
e o receptor. Este é preenchido pela mensagem que pode ser configurada com múltiplas
variáveis. A partir dessa dinâmica, o autor explica como a mensagem será absorvida:
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Nesse caso, percebemos a importância de ver essas histórias narradas a partir das
experiências de indivíduos que vivem diariamente tal realidade. Novamente contextualizamos
com o processo comunicacional da teoria das Mediações Culturais, uma vez que, os efeitos
causados por esta, diferente dos estudos tradicionais, está na propagação e produção de
elementos culturais que são condicionados pelas tecnologias de comunicação e trabalham
em harmonia com a sensibilidade e os meios de interpretação do indivíduo, que dotado de
sentido, passa a interpretar a mensagem a partir de sua bagagem sociocultural. Por isso:
REFERÊNCIAS
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2. CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas híbridas. 4. ed. São Paulo: Edusp, 2003.
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06
Intoxicação exógena relacionada a produtos
agrotóxicos no estado do Pará
'10.37885/220909965
RESUMO
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O perfil epidemiológico, a nível nacional, dos indivíduos mais fortemente afetados pela
exposição aos agrotóxicos comumente sugere os agricultores e trabalhadores de indústrias
fabricantes de agrotóxicos como os mais susceptíveis, considerando que ambos estão en-
volvidos diariamente com a manipulação e aplicação desses produtos (SOUZA et al., 2020).
Além disso, os agravos à saúde são frequentemente associados ao uso indisciplinado de
equipamentos de proteção individual (EPI’s) no momento da aplicação do produto e o ar-
mazenamento e descarte inadequado das embalagens (SILVA et al., 2005; FARIA; FASSA;
FACCHINI, 2007).
Contudo, admite-se que toda a população pode estar sujeita a exposição e/ou intoxica-
ção por agrotóxicos já que a contaminação pode ocorrer pela ingestão de água e alimentos
(INCA, 2019), se o uso de agrotóxicos estiver associado a modelos de agricultura que fazem
uso amplo e indiscriminado, o que fortalece a situação de insegurança para a saúde humana
(ALENCAR et al., 2013). De acordo com a análise de amostras coletadas em todos os esta-
dos brasileiros, exceto o Paraná, realizada em 2017 pelo Programa de Análise de Resíduos
de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
23 % de 14 alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros estava contaminado por
agrotóxicos, isto é, foram consideradas insatisfatórias em relação à conformidade com o
Limite Máximo de Resíduos (LMR) (ANVISA, 2019).
O Ministério da Saúde em 2010, por meio da Portaria de nº 2.472, tornou obrigatório
o registro de casos suspeitos de intoxicação exógena por agrotóxicos à lista de notificação
compulsória em sistemas de base nacional. Dentre os bancos de dados disponíveis, o
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), alimentado por profissionais do
Sistema de Vigilância Epidemiológica, permite o acesso às informações de casos em que
o indivíduo foi exposto a substâncias químicas e que apresentou sinais compatíveis com
intoxicação (BRASIL, 2016).
O registro dessas notificações consiste em item estratégico no processo de redução da
morbimortalidade do indivíduo exposto, servindo como fonte de informações básicas para
o monitoramento e a elaboração de ações para controle das ocorrências (TEIXEIRA et al.,
2014; SOUZA & ALMEIDA, 2019). Em uma revisão sistemática realizada em bases científicas
internacionais e nacionais, considerando o período de 2011 a 2017, Lopes & Albuquerque
(2018) registraram a inclusão de mais de 116 estudos sobre o impacto negativo da exposição
de agrotóxicos na saúde humana e/ou ambiental, e quase totalidade correspondeu a estudos
de revisão bibliográfica e poucos se referiram a estudos experimentais. Se neste mesmo
período, fossem investigados estudos dessa natureza para o estado do Pará, o resultado
seria zero. Portanto, o objetivo do estudo foi investigar e avaliar o perfil epidemiológico das
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ocorrências de intoxicação exógena por agrotóxicos, de 2011 a 2020, no Estado do Pará,
norte do Brasil.
MÉTODOS
Localidade do estudo
O Pará, situado na região norte do país, possui população estimada em 8,7 milhões de
habitantes aproximadamente, distribuídos em 144 municípios (IBGE, 2021). Cerca de 40 %
da economia do estado provém da atividade agropecuária (ADEPARÁ, 2017), sendo o Pará,
em 2014, considerado a décima quarta unidade federativa brasileira com maior volume de
comercialização de agrotóxicos e afins, com taxa de incidência de notificação de intoxica-
ções por agrotóxicos de 1,73 casos por 100 mil habitantes, no mesmo ano (BRASIL, 2018a).
Variáveis analisadas
A partir da base foram selecionados cinco tipos de agrotóxicos: de (1) uso agrícola, (2)
uso doméstico, (3) de saúde pública, (4) produto veterinário e (5) raticida.
Em função dos agentes, foram consideradas sete variáveis da ficha de investigação:
(a) o município em que houve a notificação; (b) o gênero (masculino ou feminino); (c) a faixa
etária (< 1 ano, 1-4, 5-9, 10-14, 15-19, 20-39, 40-59, 60-64, 65-69, 70-79 ou > de 80 anos)
do indivíduo intoxicado; (d) a zona de residência do intoxicado (branco/não identificado;
zona urbana, zona rural e zona periurbana); (e) tipo de exposição (branco/não identificado,
sim ou não); (f) a circunstância (branco/não identificado, uso habitual, acidental, ambiental,
uso terapêutico, prescrição médica, erro de administração, automedicação, abuso, ingestão
de alimento, tentativa de suicídio, tentativa de aborto, violência/homicídio ou outra); (g) a
classificação final (branco/não identificado, intoxicação confirmada, só exposição, reação
adversa, outro diagnóstico ou síndrome de abstinência); (h) e a evolução dos casos (branco/
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não identificado, cura sem sequela, cura com sequela, óbito por intoxicação exógena, óbito
por outra causa ou perda de seguimento).
Ressalta-se que os dados podem sofrer alterações, mesmo de anos anteriores a esta
pesquisa, à medida que o sistema é alimentado e atualizado pelas secretarias municipais.
Análise estatística
RESULTADOS
No Estado do Pará, entre 2011 e 2020, foram notificados 1.655 casos de intoxicação
exógena, considerando as cinco categorias de agrotóxicos: agrícola, doméstico, de uso na
saúde pública, produto veterinário e raticida. O maior número de notificações da série foi
registrado em 2018, com 258 ocorrências, um salto de 3,1 vezes a mais que o total de notifica-
ções registradas em 2012 (93 ocorrências), ano de menor número de ocorrências (Figura 1).
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Figura 1. Evolução do número de notificações de intoxicação exógenas provocadas por cinco agentes tóxicos, de 2011 a
2020, no Estado do Pará, norte do Brasil.
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exposta à contaminação não só pelo contato direto em ambientes de trabalho, mas também
pelo contato indireto relacionado à ingestão de água e alimentos contaminados (LOPES &
ALBUQUERQUE, 2018).
As ocorrências foram registradas em 99 municípios, do total de 144 do estado, com
concentração de 59,21 % (ou 980 notificações) dos casos em dez municípios paraenses
(Tabela 1). Dentre esses municípios, a maior parcela de notificações foi observada em
Marabá (15% ou 225 casos), seguido da capital Belém (12,8 % ou 192 casos), Santarém
(8,8 % ou 132 casos) e Tucuruí (7,7 % ou 116 casos). Segundo Ferreira & Figueiredo (2013),
quando políticas de saneamento básico são ineficientes para atender a alta demanda po-
pulacional, há tendência do fomento de condições de desenvolvimento e estabelecimento
de animais sinantrópicos, como os ratos que possuem altas taxas reprodutivas e de adap-
tação em ambientes diversos. Isto estimula a população a utilizar os raticidas na tentativa
de controlar essas pragas, e como resultado tem-se o uso indiscriminado e sem o uso de
ações integradas voltadas para os elementos socioambientais geradores de riscos. Neste
estudo, entre os dez principais municípios oito estão entre os vinte municípios paraenses
mais populosos (IBGE, 2021), e no caso da capital do estado do Pará, a cidade de Belém,
em 2020 foi considerada, em estudo do Instituto Trata Brasil, uma das 100 cidades mais
populosas do Brasil com um dos piores índices de atendimento total de esgoto (13,56 %)
(OLIVEIRA; SCAZUFCA; MARGULIES, 2020).
Quando se trata dos agentes tóxicos notificados com maiores frequências nesses dez
municípios, observa-se destaque dos raticidas (45,4 %) e os agrotóxicos agrícolas (31,5 %),
enquanto apenas 15,9 %; 5,6 % e 1,5 % das intoxicações foram induzidas por agrotóxicos
de uso doméstico, produto veterinário e saúde pública, nesta ordem.
É importante ressaltar que, quando admitida a relação da quantidade de notificações
com o tamanho populacional do município, é possível encontrar a incidência de intoxicações,
isto é, o número de casos relacionado proporcionalmente com a quantidade de habitantes,
por município, estimada pelo IBGE. Neste caso, dentre os dez municípios destacados, Santa
Luzia do Pará possui a maior taxa de incidência de pessoas intoxicadas no estado, com taxa
de 2,6 notificações/mil hab., seguido de Conceição do Araguaia (1,1 notificações/mil hab.)
e Tucuruí (1,09 notificações/mil hab) (Tabela 1).
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Tabela 1. Quantidades e incidências de notificações de intoxicações exógenas provocados por cinco categorias de
agrotóxicos, de 2011 a 2020, nos dez municípios paraenses, norte do Brasil, com maiores frequências de registros.
Agente tóxico
Município
Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total no hab.* incidência
Marabá 44 56 4 4 117 225 258.605 0,87
Belém 26 6 2 5 153 192 1.445.520 0,13
Santarém 26 27 3 15 61 132 300.530 0,44
Tucuruví 71 14 1 3 27 116 106.136 1,09
Tailândia 19 16 1 8 17 61 94.133 0,65
Redenção 20 2 0 5 31 58 80.559 0,72
Conceição do Araguaia 16 19 4 7 6 52 46.774 1,11
Santa Lucia do Pará 51 0 0 0 0 51 19.633 2,60
Paragominas 18 8 0 5 18 49 106.161 0,46
Castanhal 18 8 0 3 15 44 188.200 0,23
Total 309 156 15 55 445 980 - -
*Média entre o número de habitantes registrado pelo Censo do IBGE 2010 e 2020.
Fonte: SINAN (2011-2020).
Figura 2. Distribuição do número de notificações de intoxicação exógenas por agrotóxicos, de acordo com o gênero, em
função de cinco agentes tóxicos, de 2011 a 2020, no estado do Pará, norte do Brasil.
231 20
110
138 35
421
240
50 49
360
F M F M
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A nível nacional identifica-se uma forte tendência de intoxicações em homens, em
função da maior atuação do gênero masculino em atividades rurais que envolvem o ma-
nuseio de agrotóxicos agrícolas, por exemplo (SOUZA; COSTA; RAMOS, 2016; BRASIL,
2018). As mulheres são por muitas vezes excluídas dessas atividades, sendo consideradas,
juntos com os idosos e crianças, o grupo de maior vulnerabilidade imunológica. No estado
do Pará, no entanto, 70,9 % das notificações, nos últimos dez anos, revelam que as pes-
soas intoxicadas residem na zona urbana, com a maior parcela das intoxicações originadas
por raticidas, enquanto 26,8 % residem em zona rural e são acometidas principalmente por
agrotóxicos agrícolas.
É válido salientar que uma parcela significativa das vítimas, neste estudo, foram mu-
lheres (49,1 %) e isto significa que as mesmas são atingidas pela atuação indireta nessas
atividades, como a lavagem de equipamentos e roupas utilizadas na pulverização por traba-
lhadores rurais (SOUZA & ALMEIDA, 2019). Além disso, quando avaliadas de forma isolada
as intoxicações provocadas por fontes como os agrotóxicos domésticos, agrotóxicos de saúde
pública e os raticidas, as mulheres são mais frequentemente afetadas (Figura 2). Em estudo
epidemiológico de intoxicação exógena realizado no estado do Maranhão (BATISTA et al.,
2017), os produtos de uso domiciliar e raticidas também foram identificados como agentes
causadores de intoxicação em mulheres. Isto pode estar relacionado com o desconheci-
mento desse grupo em relação ao potencial de contaminação desses produtos que entram
em contato diariamente em suas residências.
Em relação à idade dos indivíduos intoxicados, destacam-se as faixas etárias de 20
a 39 anos (41,6 %) e 40 a 59 anos (17,2 %), isto é, a fase jovem-adulto ativa na atividade
econômica, agrupando 58,8 % dos casos notificados (Tabela 2).
Tabela 2. Distribuição do número de notificações de intoxicações exógenas por agrotóxicos, considerando a faixa etária
em função de cinco categorias de agentes tóxicos, de 2011 a 2020, no estado do Pará, Brasil.
Agente tóxico
Faixa etária
Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
<1 ano 8 8 1 7 15 39 2,4
1a4 63 61 1 27 55 207 12,5
5a9 18 23 0 1 14 56 3,4
10 a 14 28 16 0 2 23 69 4,2
15 a 19 62 26 2 9 123 222 13,4
20 a 39 275 65 28 40 280 688 41,6
40 a 59 152 34 21 8 70 285 17,2
60 a 64 24 4 2 3 9 42 2,5
65 a 69 10 6 0 0 1 17 1,0
70 a 79 5 3 0 2 9 19 1,1
>80 7 2 2 0 2 11 0,7
Total 652 248 55 99 601 1655 -
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Na primeira faixa de idade, os raticidas (280 casos) e os agrotóxicos agrícolas (275
casos) foram os agentes tóxicos mais sinalizados, enquanto em indivíduos entre 40 e 59
anos, os agrotóxicos agrícolas (152 casos) foram líderes isolados como fonte de intoxicação,
correspondendo a 53,3 % das notificações (Tabela 2). A fase adulta, entre a faixa de 20 a
49 anos, é comumente citada em estudos da mesma natureza (FREITAS & GARIBOTTI,
2020), como a mais afetada pela exposição. Souza & Almeida (2019), associam este fato
a falta de experiência e a imprudência em indivíduos de idades próximas a estas que, por
muitas vezes, se expõem a riscos desnecessários. Os mesmos autores sugerem ainda que
menores expressões de casos em idades mais avançada (acima de 60 anos) estão relacio-
nados à perda da habilidade motora e sensorial para exercer atividades que exijam agilidade.
Nota-se que no estado do Pará, 71,5 % dos casos investigados não estão relacionados
com a exposição em ambiente de trabalho, e quando há essa relação (15,8 %) os agrotóxi-
cos agrícolas são os principais agentes tóxicos (208 casos), sugerindo que os riscos estão
ultrapassando o ambiental laboral e atingindo as residências (Tabela 3).
Tabela 3. Condição da exposição e circunstância de intoxicações exógenas por agrotóxicos em função de cinco categorias
de agentes tóxicos, de 2011 a 2020, no estado do Pará, norte do Brasil.
Agente tóxico
Faixa etária
Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
Branco 56 29 2 10 113 210 12,7
Sim 208 21 17 6 9 261 15,8
Não 388 198 36 83 479 1.184 71,5
Circunstância Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
Branco 33 17 3 5 42 100 6,0
Uso habitual 121 24 8 5 4 162 9,8
Acidental 182 110 6 37 95 430 26,0
Ambiente 114 10 16 0 1 141 8,5
Uso terapêutico 1 1 0 0 0 2 0,1
Erro de administração 9 9 15 1 2 36 2,2
automedicação 1 2 0 0 3 6 0,4
Abuso 1 0 0 0 0 1 0,1
Ingestão de alimento 8 2 0 0 2 12 0,7
Tentativa de suicídio 157 70 5 44 440 716 43,3
Tentativa de aborto 2 1 0 0 1 4 0,2
Violência-homicidio 6 0 0 3 9 18 1,1
Outra 17 2 2 4 2 27 1,6
Total 652 248 55 99 601 1655 -
Fonte: SINAN (2011-2020).
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e níveis de exposição: 1) trabalhadores em contato direto e por maior tempo com os produtos
em ambientes que correspondem ao trabalho; 2) moradores que residem em comunidades
adjacentes a empreendimento agrícolas ou industriais consideradas “zonas de sacrifício”;
e 3) consumidores de forma geral que adquirem e ingerem alimentos contaminados. Isto é,
os agrotóxicos atingem a saúde coletiva e todos estão expostos, no entanto em condições
de maiores ou menores riscos.
Entre as circunstâncias das intoxicações, a exposição com intenção suicida (43,3 %)
costuma ser a maior causa e a forma de exposição acidental (26 %) a segunda, marcadas
pelo uso de agrotóxicos agrícolas e raticidas, respectivamente (Tabela 3). A alta prevalência
das tentativas de suicídios ou lesões autoprovocadas pela exposição a agrotóxicos fazem
parte de evidências científicas que associam distúrbios sobre o sistema nervoso, como
sintomas de ansiedade e depressão à exposição de inseticidas do tipo organofosforados
(REHNER et al., 2000; STALLONES & BESELER, 2002; ROSA et al., 2011; SOUZA &
ALMEIDA, 2019). A pesquisa de Araújo et al. (2007) aborda a relação direta existente entre
os anos de exposição ao agrotóxico com o desenvolvimento de distúrbios psiquiátricos,
sugerindo atenção especial do modelo e rede de atendimento psicossocial aos vitimados
submetidos a esta condição.
A exposição acidental, segunda maior circunstância neste estudo, pode ocorrer de di-
versas formas que vão desde a reutilização de frascos de produtos com composição tóxica
em ambientes domésticos ou rurais, que acometem especialmente crianças e idosos, até a
deriva de partículas de agrotóxicos para áreas fora do interesse ou residências adjacentes,
no momento da aplicação do produto em campo (NEVES et al., 2020).
De todas as notificações, 58,7 % (971 casos) das investigações confirmaram a intoxi-
cação, em 22,7 % (376 casos) concluíram que somente houve exposição sem alterações
clínicas no indivíduo e menos de 7 % (103 casos) está relacionado à outra causa ou possui
outro diagnóstico, havendo uma subnotificação de 12,4 % (205 casos) dos casos (Tabela
4). Quando confirmada, a notificação apontava principalmente os raticidas (423 casos) e os
agrotóxicos agrícolas (315 casos) como fontes da intoxicação exógena.
No que diz respeito ao acompanhamento realizado sobre a evolução dos casos notifi-
cados mostra-se que 75,4 % das pessoas vitimadas alcançaram cura sem sinais de sequela
e 1,8 % cura com sinais de sequela, enquanto apenas 2,7 % evoluíram para óbito, com a
intoxicação exógena como causa da morte, e todos foram induzidos, em sua maioria, por
agrotóxicos agrícolas, seguido dos raticidas (Tabela 4). No entanto, deve-se chamar aten-
ção para os casos sem diagnóstico conclusivo que prejudicaram a análise dos resultados,
fosse pela ausência de seguimento da investigação (0,2 %) ou desfecho ignorado (incom-
pletude) nas fichas (19,7 %), e que constituía uma parcela considerável das notificações,
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corroborando com informações a nível mundial e nacional, em que há um número altíssimo
de casos suspeitos sem o devido diagnóstico (BRASIL, 2018b).
Tabela 4. Classificação final e evolução das notificações de intoxicações exógenas por agrotóxicos em função de cinco
categorias de agentes tóxicos, de 2011 a 2020, no estado do Pará, norte do Brasil.
Agente tóxico
Faixa etária
Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
Branco 101 31 2 16 55 205 12,4
Intoxicação confirmada 315 143 42 48 423 971 58,7
Só exposição 187 57 7 29 96 376 22,7
Reação Adversa 43 16 4 6 22 91 5,5
Outro Diagnóstico 5 1 0 0 3 9 0,5
Síndrome de abstinência 1 0 0 0 2 3 0,2
Total 652 248 55 99 601 1655 -
Circunstância Agrícola Doméstico Saúde Pública Produto Veterinário Raticida Total %
Branco 127 43 7 24 125 326 19,7
Cura sem sequela 482 200 43 74 449 1248 75,4
Cura com sequela 18 3 4 0 4 29 1,8
Óbito por intoxicação exógena 13 2 1 1 18 45 2,7
Óbito por outra causa 2 0 0 0 1 3 0,2
Perda de seguimento 1 0 0 0 4 4 0,2
Total 252 248 55 99 601 1655 -
Fonte: SINAN (2011-2020).
A taxa de letalidade média por intoxicação proveniente dos cinco tipos de agentes tó-
xicos no Estado do Pará, no período avaliado, foi de 4,6 %. A investigação deste indicador
expressa à gravidade da intoxicação, sugerindo se há alto ou baixo risco de óbito quando
detectada em um indivíduo. O resultado pode ainda indicar a capacidade operacional e
a qualidade do serviço de saúde prestado ao paciente (BRASIL, 2018a). Sendo assim, a
gravidade e a dificuldade de tratamento quando identificadas as intoxicações refletem em
maior letalidade e isto se intensifica quando se trata de agentes extremamente tóxicos
(EDDLESTON, 2002; OKUYAMA; GALVÃO; SILVA, 2020).
No Pará, o maior número de casos que evoluíram para óbito, se avaliado cada tipo de
agente tóxico de forma isolada, foi induzido pela exposição de agrotóxicos agrícolas, com
taxa de letalidade de 7,3 %, seguido dos agentes tóxicos raticidas, agrotóxicos de saúde
pública, produtos veterinários e agrotóxicos domésticos, com taxas de 4,2 %; 2,4 %; 2,1 %
e 1,4 %, nesta ordem.
A dificuldade de acesso, principalmente de trabalhadores rurais, a centros de atendimen-
to médico-hospitalar é um dos principais motivos de caso de pessoas que foram vítimas de
acidentes graves pelo uso inadequado de agrotóxicos evoluírem para óbito, sem ter passado
por qualquer assistência médica e por conta dissohá ausência de registros de mortes dessa
natureza (KIRCHNER et al., 2013). Os tratamentos alternativos, sem acompanhamento do
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profissional da saúde, como a utilização de plantas medicinais também são citados como
indutores de agravos decorrentes das intoxicações por agrotóxicos (MENEGAT & FONTANA,
2010; SILVA; SILVA; GARCIA, 2018).
Estudos como este trazem uma reflexão produtiva no campo das ciências sobre a re-
lação entre o modelo de desenvolvimento, agrotóxicos e as implicações no setor da saúde,
incluindo na discussão a qualidade de vida da população e a sustentabilidade deste modelo
(JOBIM et al., 2010), mas também sobre a disciplina dos usuários na manipulação desses
produtos. As autoridades responsáveis pela elaboração e desenvolvimento das políticas
públicas, com destaque as políticas de saúde, necessitam enfatizar os perigos da exposi-
ção a esses tóxicos, bem como compreender e superar os desafios frente à confirmação de
agravos da saúde por agrotóxicos (ROSA et al., 2011). Assim como as políticas públicas do
setor agropecuário devem adotar o incentivo da utilização de modelos de produção agrícola
com redução do uso de agrotóxicos, como o uso de defensivos biológicos ou modelo de
agricultura orgânica.
CONCLUSÃO
Os produtos com características tóxicas têm uso crescente ao longo dos anos, desde
o uso no campo da agropecuária, combate a vetores chegando até as finalidades domésti-
cas. O número de notificações de vítimas diretas e indiretas de intoxicações exógenas por
essas substâncias acompanha esse crescimento e as pesquisas epidemiológicas, incluin-
do esta, sobre essas ocorrências no Brasil reforçam que ainda há várias lacunas a serem
preenchidas para atingir efetiva vigilância sobre as intoxicações, considerando inúmeros
fatores que vão desde a dimensão da população exposta aos pesticidas à dificuldade de
acessibilidade dos serviços de saúde. Além disso, existem evidências de inúmeros casos
de subnotificações ou diagnósticos equivocados, para o período de 2011 a 2020.
No estado do Pará, os casos investigados estão concentrados principalmente em
regiões metropolitanas do estado, fortalecendo a carência de subsídios substanciais, resul-
tantes do monitoramento adequado deste tipo de risco químico, para execução de ações
de proteção às populações expostas aos agrotóxicos.
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07
Levantamento da implantação do Plano de
Manejo nas Unidades de Conservação do
Bioma Amazônia
'10.37885/220709495
RESUMO
O Brasil possui sua biodiversidade dividida em seis biomas: Bioma Amazônia; Bioma
Caatinga; Bioma Cerrado; Bioma Mata Atlântica; Bioma Pampa; Bioma Pantanal, apresenta-
dos na tabela 1. Tais biomas podem ser definidos como um “[...] conjunto de vida constituído
pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com
condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma
diversidade biológica própria.” (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
– IBGE, 2014, p. 1). Para Coutinho (2006, p.18):
[...] considera-se que um bioma é uma área do espaço geográfico, com di-
mensões de até mais de um milhão de quilômetros quadrados, que tem por
características a uniformidade de um macroclima definido, de uma determi-
nada fitofisionomia ou formação vegetal, de uma fauna e outros organismos
vivos associados, e de outras condições ambientais, como a altitude, o solo,
alagamentos, o fogo, a salinidade, entre outros. Estas características todas lhe
conferem uma estrutura e uma funcionalidade peculiares, uma ecologia própria.
Com o escopo de proteger tal diversidade biológica integrante dos biomas brasileiros
a Constituição Federal (1988) determinou a criação de espaços territoriais especialmente
protegidos em todo território nacional, como forma de assegurar o direito de todos ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Nesse contexto, foi editada em 18 de julho do ano
de 2000 a Lei nº 9.985 que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza – SNUC estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e gestão das
unidades de conservação.
Até a promulgação da Lei do SNUC não existia, no ordenamento jurídico, nenhum pre-
ceito que estabelecesse, com precisão, o conceito de Unidade de Conservação, e esta falta
prejudicava a tutela que tais áreas reclamavam. (MILARÉ, 2013, p. 1206). Assim, encontra-se
definindo no artigo 2º, inciso I da Lei nº 9.985/00 o conceito de Unidades de Conservação:
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Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - unidade de
conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo
as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legal-
mente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação
e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção; (BRASIL, 2000).
Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...] XVII - plano de
manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos
gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e
as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos natu-
rais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da
unidade; (BRASIL, 2000).
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Assim, o Plano de Manejo consiste em verdadeiro regulamento destinado a disciplinar
as atividades a serem incentivadas, controladas, limitadas e proibidas em cada uma das
áreas delimitadas pelo zoneamento. (MILARÉ, 2013, p. 1234), sendo que sua obrigatoriedade
em tempo razoável decorre de sua importância fundamental para a tutela do bem ambiental
que a unidade de conservação objetiva proteger (BRASIL, 2009).
Ponderando a complexidade da implantação do Plano de Manejo e considerando as
questões que envolvem a sua elaboração, o Poder Executivo editou o Decreto nº 4.340/02,
que regulamenta a Lei nº 9.985/00, onde o Plano de Manejo encontra disposição em capí-
tulo próprio. Tal Decreto prevê em seu artigo 16 que “O Plano de Manejo aprovado deve
estar disponível para consulta do público na sede da unidade de conservação e no centro
de documentação do órgão executor.”.
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi analisar os registros referentes a implan-
tação do Plano de Manejo nas Unidades de Conservações integrantes do Bioma Amazônia,
nas três esferas administrativas, quais sejam, federal, estadual e municipal, incluindo os dois
grupos classificatórios das Unidades de Conservação, Proteção Integral e Uso Sustentável.
MATERIAL E MÉTODOS
Fonte: Adaptado de: Programa de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite – PMDBBS, 2014.
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O estudo em questão utilizou para a sua consecução a pesquisa qualitativa e quantitati-
va, sendo que o levantamento das informações foi realizado através da coleta dos dados nos
através da coleta dos dados nos relatórios das Unidades de Conservação do Ministério do
Meio Ambiente, especificamente no Cadastro Nacional de Unidades de Conservações. Os da-
dos foram analisados quanto a identificação das Unidades de Conservação que tiveram
implantado o Plano de Manejo e quais já ultrapassaram o prazo de implantação, avaliando
quais as esferas administrativa possuem maior eficácia na gestão de tais unidades.
A pesquisa de cunho documental também será adotada para a compreensão das
principais leis e declarações que regem a criação, implantação e gestão das Unidades de
Conservação, bem como a elaboração do Plano de Manejo, a saber: a Lei nº 9.985/00 e
do Decreto nº 4.340/02. Os documentos descritos serão analisados à luz das implicações
quando da ausência da implantação do Plano de Manejo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios: [...]
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, ar-
tístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos; [...]
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; (BRASIL, 1988).
Art. 6o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atri-
buições: [...] III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em
caráter supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de imple-
mentar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades
de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de
atuação (BRASIL, 2000).
A não existência do Plano de Manejo possui implicações previstas nas normas regula-
mentadoras das Unidades de Conservação, assim há um real prejuízo tanto a própria unidade
como em maior grau para as populações residentes na respectiva unidade, considerando
que é o documento técnico mediante o qual se estabelece as normas que devem regula-
mentar o uso da área e o manejo dos recursos naturais, incluindo a exploração comercial
de produtos e sub-produtos. Para Machado (205, p. 796) “O plano de manejo, na prática,
será a lei interna das unidades de conservação.”.
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Quadro 1. Implicações da ausência do Plano de Manejo.
CONCLUSÕES
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ou seja, apenas 24,5% cumprem o disposto na Lei nº 9.985/00 quanto a implantação do
Plano de Manejo no prazo máximo de cinco anos após a criação da respectiva unidade.
O estudo concluiu que os conteúdos dos dispositivos legais analisados revelam que
tanto os objetivos quanto as diretrizes das unidades de conservação giram em torno de
duas ações primordiais: a preservação do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos
naturais, sendo que estas devem ser obrigatoriamente disciplinadas pelo plano de manejo,
portanto, a ausência do plano de manejo impede o alcance dos objetivos das unidades de
conservação e a obediência à suas diretrizes.
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08
Mulheres rurais: o protagonismo feminino
nas feiras livres de Santa Maria RS
'10.37885/221110815
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo verificar a produção de conhecimentos nas áreas hu-
manas e sociais sobre as questões de gênero no contexto rural, a partir de uma percepção
crítica. Tendo em vista que a preocupação teórica com o gênero como uma categoria analítica
só emergiu no fim do século XX e estava ausente nas principais abordagens da teoria social
formuladas até o século XVIII e o começo do século XX, como destacam os estudos feitos
por Scott (1995). Cabe destacar que muitas vezes as mulheres são estereotipadas. Nesse
cenário, o Estado tem uma relação ambivalente com as mulheres, considerando aspectos
fragmentados da vida e da sociedade, em alguns casos são pobres e vulneráveis, em outros
são apenas mães responsáveis pela sobrevivência das crianças ou ainda somente cidadãs
com alguns direitos, mas raramente de modo amplo e com todas essas variáveis. Assim foram
realizadas sete (7) entrevistas com mulheres que trabalham em uma feira livre na cidade
de Santa Maria-RS. Ao analisarmos a temática de gênero no contexto rural, busca-se um
posicionamento não só ético ou político, busca-se compreender o que está faltando, que é
uma forma de conceber a “realidade social” em termos de gênero, levando em consideração
a heterogeneidade e a diversidade, bem como a singularidades presentes nos contextos
rurais. Assim, o presente estudo pretende-se aprofundar os conhecimentos dos contextos
rurais em suas especialidades, de modo compreender as condições e os estilos de vida das
mulheres no contexto rural. Em síntese, o estudo foi realizado a partir de um levantamento
de campo com mulheres que vivem no contexto rural e que possuem atividades comerciais,
nesse caso que trabalham em conjunto com seus familiares em feiras livres, visando analisar
suas condições de trabalho e seu estilo de vida.
Vivenciamos uma sociedade com grupos divididos por questões políticas, religiosas
e morais e ao mesmo tempo que luta por reconhecimento e desenvolve mecanismos de
cooperação social e desenvolvimento de políticas públicas baseadas em equidade (RAWLS,
2003). Nesse movimento histórico, coexistem e sobrevivem a busca e o entendimento de
sociedade estável de bem viver, as representações sociais e uma memória coletiva que
atravessa a história da nossa sociedade marcada pela violência.
Nesse cenário de violência, no âmbito do contexto rural, ao pensar o ser mulher no
campo busca-se na categoria de gênero referência para compreender a constituição da
mulher no contexto rural a partir das seguintes perguntas: como é produzida essa violência?
Como vem sendo mantida ao longo da história? Como é possível reverter esse cenário de
violência? Esses questionamentos são um convite para mobilizar saberes, produzir sentido
e buscar alternativas para qualificar a vida das mulheres campesinas.
Tendo em vista que a preocupação teórica com o gênero como uma categoria analítica
que só emergiu no fim do século XX e estava ausente nas principais abordagens da teoria
social formuladas até o século XVIII e o começo do século XX como destacam os estudos
feitos por Scott (1995), pode-se considerar que as questões de gênero oportunizam “[...] um
meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre várias
formas de interação humana.” (SCOTT, 1995, p. 88). A intenção é demarcar o lugar de onde
se está falando, dada a vasta produção teórica referente a essa temática.
“Entende-se que gênero é uma construção social que, no senso comum, confunde-se
com sexo biológico e com uma representação binária entre homem-mulher, feminino-mascu-
lino, feminismo-machismo, azul-rosa, sexo frágil-sexo forte e afins. Diante desse cenário, é
imperativo, então, contrapor-se a esse tipo de argumentação pauta em dicotomias. É neces-
sário demonstrar que não são propriamente as características sexuais que definem gênero,
mas a forma como essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz
ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em
uma dada sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o lugar e
as relações de homens e mulheres numa sociedade, importa observar não exatamente seus
sexos, mas sim tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos (LOURO, 2009, p. 21).”
Ao considerar “[...] que as palavras têm história, ou melhor, que elas fazem história, o
conceito de gênero […] está ligado diretamente à história do movimento feminista contem-
porâneo” (LOURO, 2009, p. 14). As questões de gênero se apresentam hoje com diversas
vertentes, indo do materialismo-histórico às tecnologias de gênero, passando por uma ética
do cuidado. Tais questões nos fazem pensar se lutamos por um mundo onde todos tenham
os mesmos direitos ou o direito de ser diferente, especialmente o de viver plenamente com
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a sua singularidade. Para refletir a questão de gênero, recorre-se às indagações feitas por
Louro (2009): se as diferentes instituições e práticas sociais são constituídas pelos gêne-
ros (e também os constituem), isso significa que essas instituições e práticas não somente
“fabricam” os sujeitos como também são, elas próprias, produzidas (ou engendradas) por
representações de gênero, bem como por representações étnicas, sexuais, de classe, etc.
Diante desse contexto, o presente ensaio tem como problemática de estudo responder
ao seguinte questionamento: quais são as condições e os estilos de vida das mulheres no
contexto rural? Tal problema nos remete aos objetivos do estudo, que versam: (1) analisar
as condições e os estilos de vida das mulheres no contexto rural, com base nas percepções
das feirantes entrevistadas; (2) identificar as condições de trabalho e valorização; e (3) des-
crever a importância da mulher no contexto rural.
O ser humano é um ser cultural que se dá na relação com outros seres e atribui sig-
nificados à sua atuação no mundo. Neste sentido, o ser humano é um ser que se produz
e é produzido na cultura. Tendo isto em mente, os estudos de gênero não procuram negar
os fatores biológicos, mas afirmar que a biologia não pode servir como fator que define o
destino social de todas as pessoas em uma determinada sociedade.
Nas seções que se resenham a seguir, falamos sobre o lugar, o espaço no qual obser-
varemos o gênero se constituindo e sendo constituído por terceiros, o mercado de trabalho;
assim, avançamos para os Estudos Culturais, na forma de um dispositivo de compreensão
da produção de gênero a partir dos movimentos de comportamento e aculturação. Ao passo
que estabelecemos o lugar e a cultura das quais intentamos à observação do gênero femi-
nino em atividade, passamos a definir gênero, cuja composição epistemológica baseia-se
nos elementos norteadores das seções: lugar e cultura.
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Segundo explica Nascimento (2011), depois da Revolução Industrial, os efeitos do
capitalismo e das condições sociais foram sentidos com mais intensidade, trazendo o em-
pobrecimento dos trabalhadores, com famílias atingidas pela mobilização da mão de obra
da mulher nas fábricas. Com isso, as diferenças entre as classes sociais foram observadas
“de tal modo que o pensamento humano não relutou em afirmar a existência de uma séria
perturbação ou problema social” (NASCIMENTO, 2011, p. 34).
Durante o processo de industrialização, o trabalho feminino se tornou preferência pelos
empresários, pelo baixo custo da sua mão de obra. Isso mostra que, embora a mulher estives-
se contribuindo de forma positiva no mercado de trabalho, ainda assim ela era desvalorizada
tanto na sociedade quanto nas relações de trabalho, acentuando as desigualdades de gênero.
Sobre essas desigualdades, Araújo e Mourão (2012) destacam que a discriminação
da mulher no mercado de trabalho ocorre de várias maneiras, dentre estas: a desigualdade
no acesso ao emprego; desigualdade quanto às oportunidades de trabalho, na formação
profissional e em relação ao assédio moral sofrido nos ambientes de trabalho, onde as
mulheres são com frequência as principais vítimas. As autoras também indagam que esses
preconceitos ocorrem quando as mulheres se inserem em atividades e profissões que são
consideradas tipicamente masculinas.
Considerando que historicamente a sociedade tenha se caracterizado como predomi-
nantemente machista, ganhar destaque profissional sempre foi muito difícil para as mulhe-
res, pois além de todos os preconceitos quanto a sua capacidade no trabalho, ainda tinham
que lidar com as comparações com o gênero masculino. A reivindicação das mulheres por
oportunidades iguais no mercado de trabalho, por melhores salários e, acima de tudo, por
respeito, é antiga, mas ainda não totalmente alcançada devido à herança de um sistema
patriarcal, no qual a mulher é naturalmente caracterizada por enfrentar dificuldades para
trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro.
No entanto, novos tempos chegaram e as lutas por direitos iniciados no século passa-
do pelas mulheres que acreditavam em seus potenciais começam aos poucos a consentir
que as mulheres hoje conquistem seu lugar no mundo do trabalho. Mesmo com a falta de
incentivos, o público feminino é cada vez mais crescente no mercado de trabalho e vem
se tornando mais competitivo. Além de as mulheres se mostrarem mais empenhadas, se
destacando no que fazem, elas também possuem como característica natural, uma maior
sensibilidade e comprometimento, maior empatia e vontade de ajudar, características que
se tornam um diferencial para o sucesso (FERNANDES; CAMPOS; SILVA,2013).
A primeira lei de proteção à mulher no mercado de trabalho teve seu início a partir do
Decreto n. 21.417-A, de 1932. Com o passar dos anos, foram surgindo leis no Brasil com o
objetivo de proteger a mulher trabalhadora, para que esta mulher tivesse mais segurança
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no seu trabalho e tendo consciência de que seus direitos seriam devidamente garantidos.
Segundo Nascimento (2011), antigamente as mulheres eram obrigadas a se submeter aos
homens, e não existia uma lei exclusivamente para elas - como qualquer cidadão, elas podiam
trabalhar como empregadas a partir dos 14 anos. Aos 18 anos a mulher adquiria capacidade
plena e não precisava mais de autorização de um responsável para trabalhar. O art. 446
da CLT concedia ao responsável entre 18 e 21 anos a rescisão do seu contrato de traba-
lho quando lhe acarretasse prejuízos de ordem física e moral, como também precisava da
autorização do marido a mulher casada. Mas tal dispositivo foi anulado pela lei 7.855 de
1989, ao revogar parte da CLT sobre o trabalho da mulher, afastou a proibição legal da sua
atividade em ambiente insalubre, com periculosidade, a jornada noturna, o trabalho na cons-
trução civil e em minas e subsolo, com o que a política tutelar foi substituída pela isonomia
de tratamento legal com o homem.
Atualmente, pela nossa Constituição Federal em seu art. 5°, inciso I, homens e mulhe-
res são iguais em seus direitos e deveres. A Lei do Trabalho, em seu capitulo III, estabelece
normas específicas para a proteção à mulher, do art. 372 ao art. 400, tais como: nos anúncios
de emprego, é proibido fazer referência à sexo, cor, idade ou situação familiar, exceto quando
for imprescindível para a natureza da atividade; são proibidas revistas íntimas, exames ou
solicitação de atestados com o intuito de comprovar gravidez ou esterilidade, tanto na ad-
missão como para a permanência no emprego; com relação ao conforto e higienização nos
locais de trabalho, os mesmos devem dispor de bancos, vestuários e armários individuais.
Nos locais em que trabalham até 30 mulheres, é obrigatório ter um local apropriado onde
seja permitido amamentar o filho até os 06 meses de idade, e a mulher terá direito a dois
descansos de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho.
Quanto aos locais de trabalho, o art. 390, CLT (1943) traz a seguinte informação: “Ao
empregador é vedado empregar a mulher em serviço que demande o emprego da força
muscular superior a 20 (vinte) quilos, para o trabalho contínuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos
para trabalho ocasional”. Já a Constituição de 1988 em seu art. 5°, dispõe do seguinte: é livre
o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer. Neste sentido, entende-se que toda a mulher desde que respeitado o
exposto na constituição federal, pode atuar em qualquer área de trabalho.
Com relação à proteção à maternidade, é garantida a licença de 120 dias, também
sendo facultado à gestante o rompimento do contrato de trabalho se for prejudicial a sua
gestação. Esse afastamento dará início a licença à maternidade, tendo direito ao salário pago
pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) (COLOCAR REF da CLT). Em caso
de aborto espontâneo, comprovado por atestado médico, a mulher terá direito ao descanso
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remunerado de 2 semanas. Martinez (2017) argumenta que a licença maternidade é regida
por regras trabalhistas e o salário maternidade por regras previdenciárias.
Segundo Barros (2010), a discriminação não ocorre somente devido à maternidade. Ela
é decorrente também de um preconceito de origem cultural, em que ainda a mulher é vista
como alguém frágil e inferior ao homem. A autora afirma também que, na medida em que
se diminua o preconceito cultural, também ele diminuirá nas relações de trabalho. A legisla-
ção brasileira, em relação à proteção ao trabalho feminino, tem como foco maior proteger a
maternidade, como se o legislador presumisse que a maternidade é algo previsível e indis-
pensável na vida da mulher. Além disso, pode-se interpretar que não é só o Estado e sim a
sociedade que ainda enxerga a criação dos filhos unicamente responsabilidade da mulher.
Stuart Hall, um dos autores que analisam os estudos culturais, afirma que a importância
de tais estudos está relacionada com a crítica à cultura tradicional, elitista e segregacionista,
que emerge desse campo de análise. Segundo Costa, Silveira e Sommer (2003), para os
estudos culturais: as sociedades capitalistas são lugares da desigualdade no que se refere a
etnia, gênero, gerações e classes, sendo a cultura o locus central em que são estabelecidas
e contestadas tais distinções. É na esfera cultural que se dá a luta pela significação, na qual
os grupos subordinados procuram fazer frente à imposição de significados que sustentam
os interesses dos grupos mais poderosos.
A partir dessa visão, os autores alertam que “[...] a cultura não pode mais ser conce-
bida como acumulação de saberes ou processo estético, intelectual ou espiritual” (COSTA;
SILVEIRA; SOMMER, 2003, documento on-line), concepção de cultura vigente do século
XVIII até o século XX. A partir do século XXI, houve uma expansão de tudo o que estava
associado à cultura, que passou, então, a ser compreendida como um vasto campo, que
afeta e é constituído por todos aspectos da vida social, conforme apontam Costa, Silveira
e Sommer (2003).
É nesse emaranhado cultural que devem ser colocadas as discussões sobre as desi-
gualdades, baseadas em diferenças de classe social, raça, gênero e orientação sexual, que
estão cada vez mais presentes nos debates atuais. Enfatizando essa ideia, Silva (1999, p.
14) argumenta que “[...] as relações de gênero moldam os sujeitos sociais que compõem
o cenário da diversidade sexual e são categorias de análise que devem ser levados aos
diversos espaços públicos a fim de fomentar discussões e debates a respeito dos mesmos”.
Corroborando a ideia de que as relações de gênero delineiam os sujeitos sociais, Silva
(1999, p. 133) situa a produção de gênero na esfera cultural como:
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[...] um campo de produção de significados no qual os diferentes grupos so-
ciais, situados em posições diferenciais de poder, lutam pela imposição de
seus significados à sociedade mais ampla. [...] A cultura é um campo onde se
define não apenas a forma que o mundo deve ter, mas também a forma como
as pessoas e os grupos devem ser.
As diferenças que a cultura confere em relação ao gênero são abordadas por Silva
(2013), que aponta que, desde o nascimento, meninos e meninas são direcionados(as)
para uma determinada posição, com respectivas funções. Ou seja, a produção do gênero
acontece mediante práticas sociais, que, por sua vez, recebem um significado. Tais práticas
obedecem a um padrão de comportamento que os gêneros devem seguir de acordo com a
sua cultura. Os papéis sociais de meninos e meninas começam em casa, mas seguem na
escola, onde ambos convivem, mas possuem diferentes espaços territoriais. Por exemplo,
os espaços lúdicos cobrem a função de determinar quais atividades pertencem ao menino
e quais pertencem à menina.
A autora oferece duas respostas plausíveis para essa questão. Na primeira, afirma
que o gênero da escola é feminino “[...] porque é, primordialmente, um lugar de atuação de
mulheres - elas organizam e ocupam o espaço, elas são as professoras; a atividade escolar
é marcada pelo cuidado, pela vigilância e pela educação, tarefas tradicionalmente femininas”
(LOURO, 2009, p. 88). Na segunda resposta, defende que “[...] a escola é masculina, pois ali
se lida, fundamentalmente, com o conhecimento - e esse conhecimento foi historicamente
produzido pelos homens” (LOURO, 2009, p. 89).
Nas várias formas de interação humana, cabe destacar que muitas vezes, as mulheres
são estereotipadas. Nesse cenário o Estado tem uma relação ambivalente com as mulheres,
considerando aspectos fragmentados da vida e da sociedade, em alguns casos são pobres
e vulneráveis, em outros são apenas mães responsáveis pela sobrevivência das crianças
ou ainda somente cidadãs com alguns direitos, mas raramente de modo amplo e com todas
essas variáveis. As atividades relacionadas ao trabalho não são desconectadas das tarefas
domésticas e da esfera reprodutiva e de maternidade (ANZORENA, 2017).
O relatório “O Progresso das Mulheres no Mundo 2019-2020: Famílias em um mundo
em mudança”, organizado pela ONU Mulheres, nos diz que aproximadamente a cada cinco
mulheres, uma sofreu alguma violência física ou sexual de seus companheiros nos últimos
12 meses. (ONU, 2020). O relatório destaca sobre o Brasil a relevância do trabalho da mulher
na agricultura, sendo que muitas vezes seu trabalho passa despercebido. Nesse sentido,
o documento descreve a utilização de diário de bordo, utilizado pelas mulheres do campo
para descrever seu trabalho, essa atividade tem refletido no reconhecimento do trabalho,
elas puderam usar os diários de bordo para obter o DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf).
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Carvalho (2019), destaca que: “A violência contra a mulher é um fenômeno social com-
plexo, persistente, atravessado por múltiplas dimensões, sejam elas sociais, culturais, simbó-
licas, psicológicas, entre outras” (CARVALHO, 2019, p.166). Sobre as mulheres no contexto
rural a autora nos diz que: “O movimento de reconhecer as mulheres como trabalhadoras
rurais é bem recente e ainda é muito marcado por tensões que fazem emergir as vulnerabi-
lidades as quais elas se encontram submetidas no meio rural.” (CARVALHO, 2019, p.167).
A violência contra mulheres no contexto rural é atravessada por esferas entrelaçadas
e complexas. Uma dessas esferas é a questão econômica, sobre essa questão pode-se
pensar que: “[...] a pobreza econômica não pode ser automaticamente ligada à produção
da violência” (BUENO; LOPES, 2018. p. 03).
Entende-se que somente a redistribuição de renda não garante o reconhecimento do
outro, do entendimento da dignidade da pessoa humana independente de gênero. Nesse
sentido: “A luta contra a pobreza material de uma parte da população deve sempre acompa-
nhar a luta contra a pobreza espiritual e moral de outras partes dela” (PINZANI, 2012, p. 98).
Cynthia Sarti argumenta que reduzimos a categoria pobreza de modo polarizado quan-
do realizamos uma distinção entre “nos” e “eles”, entre a classe média e os pobres. Para a
autora, a pobreza representa “[...} uma categoria relativa. Qualquer tentativa de confiná-la
a um único eixo de classificação, ou a um único registro, reduz seu significado social e sim-
bólico” (SARTI, 2007, p. 42). Nesse sentido:
Metodologia
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que o pesquisador interfira neles, ou seja, deve ser estudado e não manipulado pelo investi-
gador. O autor afirma também que uma característica da pesquisa descritiva é a técnica pa-
dronizada da coleta de dados, realizada por meio de entrevistas questionários e observação.
Em relação à abordagem do problema, a pesquisa de natureza qualitativa é a mais
indicada, pois é possível fazer análises mais profundas quanto ao fenômeno estudado, tes-
tandocaracterísticas não observadas por meio de um estudo quantitativo (RAUPP, BEUREN,
2003). De acordo com Michel (2015), na pesquisa qualitativa, a finalidade não é mostrar
opiniões ou pessoas, o objetivo é explorar o espectro de opiniões e as diferentes represen-
tações sobre o assunto em estudo.
A pesquisa foi realizada na cidade de Santa Maria- RS, onde foram entrevistadas 7
(sete) mulheres que estão inseridas no contexto rural e que exercem atividades econômicas
em conjunto com seus afazeres domésticos. Assim, para este estudo foi utilizada a amostra-
gem não-probabilística por conveniência, em que a seleção dos sujeitos da população de-
corre do julgamento do entrevistador ou do pesquisador (MATTAR, 2005). Segundo Vergara
(2005), esse procedimento é utilizado para estudos onde seus resultados não permitem uma
generalização estatística para a população, não definida em sua totalidade nesta pesquisa
em função da dificuldade do acesso.
Dessa forma, foram selecionadas sete mulheres de forma aleatórias as quais concorda-
ram a participar da entrevista. Para resguardar suas identidades, as mulheres tiveram seus
nomes substituídos por uma sequência alfanumérica conforme descrito nos resultados. Para
a coleta de dados foi utilizado um roteiro semiestruturado de entrevistas, elaborado em duas
partes: Parte I, contendo 07 questões de perfil das entrevistadas, como idade, escolaridade,
estado civil, entre outras; e Parte II, contendo 4 questões abertas que abordam os fatores
sobre relacionados a condições de trabalho e o estilo de vida.
As entrevistas foram gravadas e transcritas com a permissão das entrevistadas, para
posteriormente catalogar e selecionar as falas conforme o necessário. Após estes procedi-
mentos, foi realizado o tratamento e interpretação dos dados, por meio da análise de conteúdo
como estratégia de análise de dados. Segundo Bardin (2011, p.47), a análise de conteúdo
é um “conjunto de técnicas de análise das comunicações, que procura obter procedimentos
sistemáticos e objetivos para a descrição do conteúdo das mensagens”.
Bardin (2011) indica que a utilização da análise de conteúdo tem três fases funda-
mentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados – a inferência e a
interpretação. A primeira fase, a pré-análise, pode ser identificada como a fase de organi-
zação, um esquema de trabalho que deve ser preciso, com procedimentos bem definidos,
porém, flexíveis. A segunda parte, a fase de exploração do material, consiste numa etapa
que vai possibilitar ou não a riqueza das interpretações, e nela são escolhidas as unidades
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de codificação, classificação, categorização. A terceira fase do processo está destinada ao
tratamento dos resultados, onde o pesquisador procura resultados significativos e válidos,
devendo ir além do conteúdo dos documentos (BARDIN, 2011).
A primeira etapa da análise dos dados compreende a descrição e análise do perfil das
07 mulheres feirantes. A média geral de idade encontrada entre as entrevistadas foi de 38
anos, sendo a mínima de 26 anos e a máxima de 53 anos.
As demais variáveis (Escolaridade, Estado Civil, Tempo que Trabalha nas Feiras, Carga
Horária e Número de Filhos) podem ser visualizadas na Tabela 1.
Tempo que traba- Dias da Semana que
Entrev Idade Escolaridade Estado Civil Religião Filhos
lha em feiras trabalha em feiras
Ensino Méd.
F1 36 União estável 5 anos 4 dias Católica 1 filho
Incompleto
Ensino Méd.
F2 31 Casada 3 anos 5 dias Católica 2 filhos
Completo
Ensino Sup.
F3 26 União estável 2 nos 2 dias Católica Nenhum
Incompleto
Ensino Méd.
F4 34 União estável 5 anos 4 dias Católica 2 filhos
Completo
Ensino Fund.
F5 53 Casada 11 anos 6 dias Católica 4 filhos
Completo
Ensino Méd.
F6 46 Casada 9 anos 4 dias Espirita 4 filhos
Completo
Ensino Méd.
F7 44 Casada 4 anos 5 dias Católica 2 filhos
Completo
Média 38.57 - - 5,57 4,28 1,17
A primeira parte da entrevista foi referente aos dados de perfil das entrevistadas (Tabela
1). A Parte II do roteiro de entrevistas teve como objetivo elencar os fatores sobre as con-
dições de trabalho e a valorização de seu trabalho. Na primeira questão, as entrevistadas
foram questionadas sobre suas condições de trabalho e suas rotinas. Os resultados podem
ser analisados em suas falas:
“trabalhar com o que a gente foi acostumada a ver nossos pais fazendo é
muito gratificante, mesmo que o trabalho seja puxado na propriedade é muito
gratificante ver que nossos produtos são elogiados pelos compradores. A vida
rural é muito diferente da cidade, mas gosto muito, não me vejo trabalhando
em outro local, já trabalho na feira há mais de cinco anos (Feirante 1)”.
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de um olhar mais atendo das políticas públicas, a falta de uma infraestrutura adequada é
fortemente levantada em suas falas.
“não é fácil ser feirante, ficamos expostos na rua, no calor ou no frio e muitos
clientes não valorizam o esforço do produtor rural, só querem preço baixo e
não sabem como é difícil a vida rural. Aprendi com meu marido que me trouxe
para trabalhar com ele nas feiras aqui em Santa Maria (Feirante 2)”.
“nossas condições de trabalho nas feiras não são favoráveis, existem locais que
não possuem infraestrutura adequada, aqui mesmo na praça dos bombeiros,
quando precisamos ir ao banheiro temos que pedir em bares ou no quartel
para usarmos. Nossos governantes precisam ver com outros olhos o nosso
papel na sociedade, pois sem o trabalho do produtor rural não há alimentos.
Apesar de todos esses fatores gosto muito do que faço (Feirante 3)”.
“fácil não é nossas condições de trabalho, mas é preciso, muitos não sabem
de todos as dificuldades que passamos para estar aqui as 7h da manha com
tudo organizado, e nem sempre conseguir vender tudo que se produz, sendo
necessário tentar ficar mais tempo para vender o máximo que dá (Feirante 4)”.
“eu adoro esse movimento todo, participo de duas feiras, fico terça e sexta
aqui (bombeiros) e segunda e quinta em outras feiras, sempre organizo minhas
coisas para facilitar meu tempo aqui na feira, converso com um com outro e
assim vou vendendo meus produtos, tem gente que não gosta de ficar em
baixo das barracas, eu já adoro, fiz muita amizade com meus clientes e eles
me motivam a vir sempre (Feirante 6)”.
“eu acompanho meu filho mais velho, pois o trabalho é pesado para uma
pessoa só, assim ajudo ele, as condições dos locais não são muito boas não,
tem dias que precisamos limpar a praça antes de montar as coisas, muita
sujeira (Feirante 7)”.
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De acordo com Aguiar e Carvalho (2017) os trabalhadores feirantes desenvolvem suas
atividades em condições de trabalho que os tornam vulneráveis a impactos sociais, econô-
micos, psicológicos e físicos inerentes à atividade informal que desempenham. A atividade
de feirante teve origem no século IX na Europa, nos mercados locais organizados com a
finalidade de suprir a população com produtos de primeira necessidade (PIRENNE, 1936).
Em sua gênese, a busca pela atividade de feirante consistia em legado familiar, que,
no século XXI, passou a acontecer como alternativa ao desemprego, e como forma de com-
plementação da renda familiar. Em que pese sua importância socioeconômica e cultural,
as feiras livres, em geral, apresentam problemas relativos a saneamento deficiente, falta
de estrutura física adequada, no que se refere à dimensão espacial e equipamentos de
uso coletivo, comercialização de produtos não permitidos, falta de segurança, entre outros
(COUTINHO,2006).
A inserção da mulher em um espaço que, por muito tempo foi considerado masculi-
no, fez com que a mulher assumisse dois papeis, trabalhando fora de casa e cuidando da
casa, sendo sobrecarregada com dupla jornada de trabalho. A profissionalização feminina e
masculina não ocorre da mesma forma, pois o homem procura o trabalho com sua principal
atividade, enquanto a mulher determina sua carreira tentando encaixar a vida familiar, seus
sonhos e objetivos. (SOUZA; CORVINO; LOPES, 2012).
É possível perceber que boa parte das entrevistadas sente sua rotina cansativa e
algumas delas ainda possuíam filhos menor de idade ou familiares que necessitam de seu
apoio, exercendo dupla jornada de trabalho. Silva (2013) diz que as mulheres sofrem dia-
riamente com uma rotina estressante lidando com o trabalho empresarial e o cuidado com
a casa, pois se dedicam ao trabalho e quando chegam em casa elas ainda tem que lidar
com as tarefas domésticas.
Ainda, algumas entrevistadas relataram que seus empregos eram fonte de conflitos
(F1) ou que não se sentiam devidamente remuneradas pelas suas atribuições (F2 e F3).
“Minha rotina é tensa, cuido da casa, dos filhos e ajudo no cultivo em nossa
propriedade, não sobra muito tempo para outras atividades, estou sempre
envolvida com alguma coisa, mas tem que ser assim, senão não conseguimos
oferecer algo melhor pros nossos filhos (F2)”.
Além dos dias de feira, as tarefas da casa são bem puxadas, acordo bem cedo senão
não dou conta de tudo não. Minha filha de dezesseis anos também ajuda na lida da casa e
os mais velhos ajudam o pai (F6)”.
Segundo o estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) (NAÇÕES UNIDAS
BRASIL, 2018), as mulheres são mais propensas a estarem desempegadas do que os ho-
mens, e na maior parte dos países elas possuem menos chance de estarem participando
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do mercado de trabalho. De acordo com o relatório “Perspectivas sociais e de emprego no
mundo: tendências para mulheres 2018”, a taxa global de participação das mulheres no
trabalho em 2018ficou em 48,5%, 26,5 pontos abaixo da taxa dos homens. Além disso, a
taxa de desemprego global das mulheres em 2018 ficou em 6%, aproximadamente 0,8 ponto
percentual maior do que a taxa dos homens (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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entre 17 e 70 anos de idade passou de 56,1% em 1992 para 61,6% em 2015, com uma
projeção de elevação dessa taxa em 2030 para 64,3%, sendo que esta representa 2,7
p.p. superior à de 2015 e 8,2 p.p. à de 1992. (IPEA, 2019, p. 10). Com essa tendência de
crescimento pode-se dizer que a mulher tende a romper cada vez mais os paradigmas dos
estereótipos de gênero e visa imprimir marcas expressivas na sua identidade ingressando
no mundo dos negócios.
Ainda que a mulher enfrente diversos tipos de ameaças pelo fato de “ser mulher”, ela
tem ocupado espaços e se destacado em seu ambiente de trabalho. Nas feiras livres e de
mercado, elas encontraram uma forma de fazer negócio e enfrentar limites conquistando o
respeito das pessoas.
Encontramos largamente em nossa literatura, discussões sobre a invisibilidade dada
às competências femininas e o processo de transformação dessas em ideologias das fra-
gilidades e da sujeição culturalmente imposta. Não obstante, a ideia de vulnerabilidade
estimulada pelo patriarcalismo social, para além das agruras cotidiana enfrentadas pelas
mulheres, em algumas situações, fora metamorfoseado como esteio ao abrigo germinan-
te dos vários modos de resistência que no ser feminino eclodiram como energias para a
construção das identidades e territorialidades, dentre as quais encontramos aqui nas feiras
livres de Santa Maria – RS.
REFERÊNCIAS
1. AGUIAR, C.; CARVALHO, A. M. Agricultura como utilizadora de diversidade genética:
cultivares, variedades, raças e recursos silvestres. Cultivar, p. 21-26, 2017.
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129
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09
O aluno com altas habilidades/superdotação
em escola ribeirinha na Amazônia
'10.37885/220809840
RESUMO
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descobertas feitas a partir da investigação da prática pedagógica do professor e da estrutura
física e pedagógica da escola para atender os alunos com AH/S. No tocante às contribuições
práticas, essas descobertas poderão subsidiar mudança na prática docente, bem como,
sugerir melhorias na estrutura física e no projeto político pedagógico da escola e também
contribuir, de maneira científica, com o meio acadêmico.
Nas Conclusões buscamos relacionar alguns pontos levantados durante toda a investi-
gação partindo do problema de pesquisa, as hipóteses e os objetivos buscando desenvolver
algumas considerações e encaminhamentos para questão da inclusão do aluno com AH/S
na escola pesquisada mediante as análises e discussões dos resultados da pesquisa.
DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO
A concepção de uma escola acolhedora para todos fundamenta-se, entre outros marcos,
na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (ONU, 2015) especificamente no
seu artigo 26º incisos I e II, que dispõe que todo ser humano tem direito à instrução, que a
instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e
do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. Nesse
período amplia-se o crescimento de movimentos sociais que lutam por uma sociedade mais
democrática, entre outros, fortalecendo as críticas ao modelo homogeneizador escolar e as
práticas de segregação e categorização de estudantes vigente até então.
Por volta da década de 1970, uma proposta educacional denominada “Integração”, pro-
tagonizou um movimento de integração social dos indivíduos que apresentavam deficiência,
até então alijados do sistema de ensino, cujo objetivo era inseri-los em ambientes escola-
res. A partir de então, o conceito de normalização estende-se por toda a Europa e América do
Norte. É no Canadá que se pública, em 1972, o primeiro livro acerca deste princípio, sendo
seu autor Wolfensberger, que define este princípio como o uso dos meios normalizantes
do ponto de vista cultural, para estabelecer e/ou manter comportamentos e características
pessoais o mais normalizante possível, e o mais próximo daqueles oferecidos à pessoa
sem deficiência. Porém, com uma concepção de normalidade que deveria ser buscada para
que os alunos pudessem, aos poucos, participar do convívio social. “Tal proposta focava no
sujeito com deficiência à necessidade de mudança e não se preocupava de forma efetiva
com a mudança do ambiente para lidar com as diferenças” (SASSAKI, 1997).
A inclusão, em educação, traz consigo um objetivo, que é aceitar a diferença na escola
e possibilitar a todos os estudantes o acesso ao conhecimento. A escola inclusiva parte de
princípios distintos da proposta da integração, que foi caracterizada no final do século XX,
para estimular a aceitação da sociedade, posta em prática nas escolas regulares que somente
recebia o aluno, sem a preocupação em realizar modificações na estrutura do sistema como
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um todo. Dessa forma, cresce o interesse por uma escola inclusiva, que atenda a todos de
maneira equânime.
Esse princípio foi documentado pela primeira vez em 1979 no México, porém,
o movimento pela inclusão que representou um grande avanço na Educa-
ção Especial, iniciou-se nos Estados Unidos em 1981 na Assembleia Geral
das Nações Unidas, que culminou com a criação de setores específicos para
cuidar dessas questões nos ministérios públicos de vários países, no qual
foi estabelecido o ano internacional das pessoas portadoras de deficiências
(CHICON, 1999. s/p).
A partir deste marco, a inclusão escolar deve buscar verdadeiramente uma educação
de qualidade para todos e tem como objetivo. Reconhecer, acolher e respeitar as diferen-
ças no ambiente escolar e possibilitar o acesso, a permanência e a aprendizagem de todos
os alunos na escola, sendo necessário o rompimento com o pressuposto da integração,
que preconizava o direito da pessoa com deficiência ao espaço comum da vida em socie-
dade, mas este não previa a mudança no ambiente escolar efetivamente para o trabalho
com as diferenças.
Contrapondo-se ao paradigma da integração, a inclusão escolar manifesta-se em
uma estrutura que deve considerar os pressupostos do que é a valorização, participação e
aceitação de pessoas que possuem necessidades específicas, considerando-as em suas
diferenças, suas características individuais e os seus reais interesses, reconhecendo-os
como parte do grupo, respeitando suas diferenças e colaborando de maneira positiva para
a superação de seus desafios. Ao contrário da integração, a inclusão escolar tem em vista
a participação de todos os alunos numa estrutura que considera as características, os inte-
resses e os direitos de cada um.
A Constituição Federal de 1988, (BRASIL, 1988), por meio do artigo 205, garante o
direito à educação a todos os indivíduos. Quando a constituição se refere ao termo “todos
os indivíduos”, subtende-se que não há distinção. No artigo 206 é ressaltada a igualdade
de condições para acesso e permanência na escola. Observa-se então que, a Constituição
garante a todos o direito objetivo de educação sem distinção de raça, sexo, cor, origem
ou deficiência.
Reforçando a ideia de inclusão em uma educação escolar para todos, podemos citar
a importância da Declaração Mundial de Educação para Todos, elaborada em Jomtien,
(BRASIL, 1990) na Tailândia, a qual evidencia promover as transformações do sistema
educacional, com intuito de assegurar o acesso e permanência de todos na escola, para que
se possam sanar os altos índices de crianças, adolescentes e jovens sem escolarização.
De acordo com Werneck (2000) o conceito de educação inclusiva surge em 1994 na
Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, resultando
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na Declaração de Salamanca, (UNESCO, 1994, p. 10) “com o objetivo de fornecer diretrizes
básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o
movimento de inclusão social”. Esta declaração é considerada um dos principais documentos
que visam à inclusão social.
No entanto, para que tal processo se efetive é preciso que sejam identificadas as de-
mandas que o aluno apresenta em sua interação no ambiente escolar, e proporcionar-lhe
as condições necessárias para sua aprendizagem. A Declaração de Salamanca (UNESCO,
1994, p. 10) deixa claro esse aspecto quando afirma que “todas as crianças [...] têm direito
fundamental à educação e que a elas deve ser dada a oportunidade de obter e manter um
nível aceitável de conhecimentos”. Na Declaração de Salamanca ficou estabelecido que:
Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportu-
nidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem e toda criança
possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendiza-
gens que são únicas. Qualquer pessoa portadora de deficiência tem o direito
de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes
possam ser realizados. Pais possuem o direito inerente de serem consultados
sobre a forma de educação mais apropriada às necessidades, circunstâncias
e aspirações de suas crianças (BRASIL, 2006. p. 33).
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“[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado,
seus interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37).
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008) conceitua a Educação Especial como modalidade transversal aos níveis,
etapas e outras modalidades de ensino, além de estabelecer como público alvo da Educação
Especial (PAEE) alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação. Tal política disponibiliza o atendimento educacional especializado
- AEE e os recursos próprios desse atendimento, orientando os alunos e professores quanto
à utilização dos mesmos nas turmas comuns do ensino regular.
A Resolução CNE/CEB, nº 4 (BRASIL, 2009), no seu artigo 4º, considera pú-
blico-alvo do AEE:
I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, intelectual, mental ou sensorial.
II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um
quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas re-
lações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição
alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno de-
sintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação.
III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um poten-
cial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas
ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade.
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de contas compartilhadas, e reafirma que a educação é um bem público, um direito humano
fundamental e a base que garante a efetivação de outros direitos.
A Declaração de Incheon (2015) coloca o que é essencial para a paz, a tolerância,
a realização humana e o desenvolvimento sustentável. Reconhece a educação como ele-
mento-chave para se atingir o pleno emprego e a erradicação da pobreza e, reafirma a
necessidade de concentrar nossos esforços no acesso, na equidade e na inclusão, bem
como na qualidade e nos resultados da aprendizagem e no contexto de uma abordagem de
educação ao longo da vida.
Partindo desta breve reflexão e da seguinte afirmação de Carmo (2000, p.18) “a inclusão
é um assunto que deve ser refletido e investigado com muita precisão, já que a sociedade
pode estar criando uma nova modalidade: a de excluídos dentro da inclusão” é preciso que
reorganize a escola para que haja o processo de ensino-aprendizagem no que tange à in-
clusão escolar dos alunos da Educação Especial de forma realmente efetiva.
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Cotidiano na educação ribeirinha tem várias peculiaridades como o transporte dos
alunos pelo rio no casco que é a canoa que chamam de casco, pois, é feito de madeira, não
é qualquer madeira que dá para fazer o casco, tem que ser uma resistente à água e que
não seja muito pesada. Conforme a foto 1 de acordo com Almeida (2010) o casco é como a
bicicleta do ribeirinho no rio, lago ou igarapé; ele o utiliza para pescar, passear, caçar, para
o lazer, visitar parentes, amigos, levar o filho para escola (como mostra a foto) e para fazer
outras atividades cotidianas.
Para entender a vida de um povo ribeirinho, primeiro é preciso saber que o Rio tem
papel vital na organização social, cultural, religiosa e econômica dos mesmos. Os rios são as
ruas, estradas, rodovias por onde se navega para ir à escola, à cidade e a outros lugares; do
rio se retira o peixe, o camarão, a lagosta, a água para beber, fazer comida, higiene pessoal
e da casa (ALMEIDA, 2016). Neste estudo, fizemos uma abordagem histórica referente à
constituição da população que vive às margens dos rios na Amazônia para, posteriormente,
situar a população amazônica.
O povo brasileiro, de acordo com Ribeiro (2006), é resultado do encontro do coloni-
zador com os índios e negros africanos, que deram origem a um povo mestiço, com traços
culturais distintos de suas matrizes formadoras.
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árabe e japonesa, bem como os vieses ecológico e econômico contribuiu significativamen-
te. O ecológico gerou paisagens humanas distintas nas quais as condições ambientais
obrigaram a adaptações como é o caso do sertão nordestino e da Amazônia, por exemplo.
Dentre as diversas identidades da Amazônia podemos focar neste estudo a vida ca-
bocla, considerada típica da Amazônia. Destacamos algumas imagens do modo de vida
cabocla e das características da realidade do ribeirinho da Amazônia nas fotos 2 e 5, que
retratam seu cotidiano e sua atividade econômica.
A partir do contexto das imagens anteriores, pode-se entender um pouco do seu modo
de vida, onde a origem da população ribeirinha está atrelada ao processo de povoamento
da Amazônia. Segundo Bezerra Neto (2013), a apropriação pelos portugueses desta região
envolveu as diversas etnias indígenas, por meio de variadas estratégias de dominação,
assim como os colonizadores europeus e os escravos oriundos da África. Para o autor, “a
mestiçagem envolvia diversos segmentos sociais e étnicos da Colônia. A constituição de
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mocambos formados por índios, africanos, colonos brancos e mestiços de todos os tons
constituiu-se exemplo desta realidade” (p. 34).
Sobre este assunto afirma Rodrigues (2004, p. 23): “O biótipo característico do ribei-
rinho amazônida e seu modo de vida [...] são frutos da mescla de indivíduos de etnias e
culturas diferentes, que conformaram o processo histórico de formação territorial e popula-
cional”. Já Ribeiro (2006), ao abordar o processo de ocupação e constituição das populações
da Amazônia, conclui que a formação cultural deste povo está fundada nas mesmas matrizes
básicas citadas anteriormente pela migração oriunda do Nordeste ao final do século XIX e
no período de 1943 a 1945, motivada pela batalha da borracha.
O termo altas habilidades/superdotação faz referência a uma pessoa que possui habi-
lidade significativamente acima da média. Segundo estimativa da Organização Mundial de
Saúde (OMS/2014) existem de 3,5 a 5% de pessoas com AH/S no conjunto da população
universal. Definem-se altas habilidades/superdotação pela seguinte argumentação: [...], os
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termos “pessoas com altas habilidades” e “superdotação” são mais apropriados para designar
aquela criança ou adolescente que demonstra sinais ou indicações de habilidade superior em
alguma área do conhecimento, quando comparada aos seus pares (BRASIL, 2007, p. 27).
É importante descrever sobre a conceituação adotada para essa pesquisa, preconizada
nos dispositivos legais que utilizam terminologias que variam, tais como: altas habilidades
ou superdotação por estar em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional Nº 9394 (BRASIL, 1996), que foi alterada pela Lei Nº 12.796, em 4 de abril de 2013
(BRASIL, 2013a).
Anteriormente a essa mudança, a nomenclatura utilizada na legislação, e que ainda
aparece em muitas publicações é altas habilidades/superdotação, que será adotada frequen-
temente nesse estudo, por estar de acordo com a Política Nacional da Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008).
MÉTODO
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A pesquisa qualitativa na abordagem do estudo de caso necessitou do contato direto
por um período de tempo considerável para que se pudesse ter a vivência com o ambiente
investigado. Nesse período o investigador aplicou técnicas necessárias para a produção
de dados, considerando que Bogdan e Biklen (1994, p.48) nos afirmam que investigadores
qualitativos “frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto. Entendem
que as ações podem ser observadas no seu ambiente natural de ocorrência”.
PROCEDIMENTOS ÉTICOS
A pesquisa foi submetida à avaliação pelo Comitê de Ética da UNESP via Plataforma
Brasil com o Título: INCLUSÃO ESCOLAR? O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES/
SUPERDOTAÇÃO EM ESCOLA RIBEIRINHA NA AMAZÔNIA da Instituição Proponente:
Faculdade de Ciências e Letras - UNESP - Campus Araraquara. Através da CAAE:
56083816.8.0000.5400 com a Situação do Parecer: Aprovado. Todos os participantes assi-
naram o termo de consentimento livre esclarecido (APÊNDICE 1º, 2º, 3º, 4º e 5º) em que cons-
tam todas as informações relacionadas à pesquisa e firmam o compromisso ético do estudo.
PARTICIPANTES
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INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
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APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A segunda categoria final, descrita como categoria não apriorística, “O Acesso à escola,
estrutura física, administrativa e pedagógica” e de que forma se mostram como implicadores
no processo de inclusão escolar dos alunos com AH/S em escolas ribeirinhas da Amazônia.
Cabe aqui retratar algumas informações contidas no roteiro de observação da es-
trutura física da escola investigada, para dialogar com as falas dos sujeitos da pesquisa e
reiterar as dificuldades encontradas no contexto da pesquisa. Como forma de conhecer a
instituição observou-se o espaço físico da escola e do seu entorno. Esta parte refere-se à
estrutura e organização física da instituição. Observação da parte externa do prédio, sua
fachada e adjacências.
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A estrutura do prédio é muito antiga em sua maior parte de madeira a escola
é limpa e arejada, mas é visível a precariedade da estrutura física que está
gasta pelo tempo, tem adaptações, necessitando urgentemente de uma refor-
ma no prédio que não tem climatização e sua instalação elétrica e hidráulica é
improvisada”. A fachada é antiga, tem uma rampa que desce para o rio, onde
os barcos ancoram. A escola localiza-se em área ribeirinha um pouco longe
do centro comercial de Mazagão. Descrevendo a parte interna, as portas e
janelas são bem antigas, com venezianas, seu terreno é pequeno não possui
quadra poliesportiva. (Roteiro de observação da estrutura física)
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PRÁTICA PEDAGÓGICA EM CLASSES MULTISSERIADAS E INTERAÇÃO SOCIAL
Demanda das atividades de ensino: Claro que devemos trabalhar o conhecimento que o
aluno tem, no caso do PEDRO utilizamos as fichas de atividades e o trabalho com o professor
da sala de aula regular onde trabalhamos com o enriquecimento curricular. (Professor AEE)
De acordo com as respostas do Professor AEE nas interrogações sobre Avaliação,
ambiente AEE e sala comum e as demandas de ensino no caso do aluno PEDRO, perce-
be-se a importante participação do Centro de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação
no diagnóstico e o apoio aos profissionais da escola pesquisada, já que esses professores
não dispõem dos recursos e dos materiais para o referido atendimento ao aluno com AH/S
e, a precariedade da realidade da classe multisseriada da escola do campo é impeditivo
para que se realize um trabalho pedagógico de qualidade com essas crianças da Educação
Especial, principalmente na prática com o aluno Pedro.
CONCLUSÕES
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questionamentos quanto ao fato da escola pesquisada estar contribuindo efetivamente para
o pleno desenvolvimento do aluno com AH/S e atuando como suporte ao ensino inclusivo.
Os resultados referentes à análise da realidade investigada mostram que essas dis-
crepâncias são impeditivas para que a escola em questão cumpra formalmente os requisi-
tos legais estabelecidos para a construção de uma educação inclusiva, então elencamos
alguns elementos tais como a inexistência do papel/função da sala de AEE ou de recursos
multifuncionais, não ocorrendo verdadeiramente o trabalho de Atendimento Educacional
Especializado que não é desenvolvido em virtude de diversos fatores como falta de estrutura
física, administrativa, recursos humanos e pedagógicos que a Secretaria de Educação não
viabiliza para a escola em questão.
Cabe mencionar também o fato de não existir o professor especializado, que tenha a
formação apropriada para realização do atendimento educacional especializado, sendo que
a referida escola apresenta apenas um (01) aluno com AH/S. Os dados mostram que a sala
improvisada do AEE na referida escola campo da pesquisa apresenta-se fora de condições
e dos padrões para realização do trabalho pedagógico com alunos com AH/S.
O aluno Pedro com AH/S foco da pesquisa está matriculado regularmente no 3ºano
do ensino fundamental I, frequentando a sala de aula multisseriada, mas não ocorrem ver-
dadeiramente implementações e ações educacionais inclusivas, nem qualquer trabalho
que o reconheça em suas reais potencialidades por falta de capacitação dos profissionais
da escola que não têm a devida formação para o trabalho com AH/S, impossibilitando as
práticas inclusivas e dificultando o trabalho pedagógico que não possibilita as ferramentas
de adaptações curriculares individuais para o AEE, fazendo com que essas dificuldades
provoquem a falta de acompanhamento pedagógico especifico para o aluno com AH/S.
Dessa forma, a partir dos resultados obtidos na entrevista e das observações da pes-
quisa, pode-se dizer que existe a necessidade urgente de refletir sobre os fundamentos
teóricos e práticos adotados em sala de aula multisseriadas da escola campo de pesquisa
sobre o enfoque de alunos com AH/S. Valendo dizer que a escola investigada e os profis-
sionais não estão em consonância com os processos de ensino e de aprendizagem para o
aluno que apresenta características de AH/S.
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10
O cará roxo (Dioscorea trifida) em uma
abordagem CTSA para o ensino de Ciências
'10.37885/221010700
RESUMO
Objetivo: Apresentar o uso do tubérculo Amazônico cará roxo em uma abordagem Ciência-
Tecnologia-Sociedade e Ambiente (CTSA) para o ensino de Ciências. Métodos: Foi elabora-
do uma sequência didática utilizando o cará roxo nas quatro vertentes. 1) A composição do
cará roxo e a aplicação no ensino de Ciências como indicador ácido/base; 2) As tecnologias
envolvidas no processo de obtenção e beneficiamento; 3) A aplicação e a importância so-
cial desse turbérculo e 4) O meio ambiente e a sustentabilidade que envolvem o cará roxo.
Resultados: O uso do cará roxo e as atividades propostas envolvem experimento, refle-
xão cultural, social e econômica com o tema, utilizando a contextualização e a valorização
dos conhecimentos regionais dos alunos. Conclusão: O uso sustentável de uma matéria
prima amazônica poderá contribuir de forma significativa para o aprendizado e a formação
crítica dos alunos.
O nome popular remete a sua intensa coloração roxa ocasionado pela composição
química rica em antocianinas, pigmentos responsáveis pela coloração de diversas raízes,
folhas e frutos de variam de vermelho intenso até o roxo. Devido as suas características
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químicas e biológicas, o cará tem sido amplamente analisado quanto ao seu uso como
corante natural e testado para atividades biológicas, como antioxidante, anti-inflamatória
(COSTA et al. 2019; MOLLICA et al., 2013; PANIAGUA-ZAMBRANA, 2020).
A Amazônia é um celeiro de matérias primas que podem oportunizar a aplicação
e contextualização no ensino, tornando os conteúdos estudados em sala de aula mais
significativo para os alunos. Nesse sentido, diversos autores vêm trazendo a abordagem
Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente (CTSA) como uma estratégia para contemplar a
relação do ensino com a vivência e formação cidadã dos alunos, tendo como foco o desen-
volvimento das inter-relações entre esses elementos (MAESTRELLI, LORENZETTI, 2021;
BOUZON et al., 2018).
O uso da abordagem CTSA nas aulas de ciências pode contribuir com o desenvolvi-
mento do pensamento crítico dos alunos, despertando o interesse pela pesquisa científica e
pelo avanço tecnológico e social que norteia a humanidade, a sociedade e o meio ambiente
(BAZZO et al., 2018).
Verifica-se que o ensino de Ciências deve oportunizar a discussão, problematização e
desenvolvimento do aluno para o conhecimento das questões socioambientais relacionadas
ao contexto sociocultural em que ele está inserido (SILVA; ANDRADE, 2020). Nesse senti-
do, o objetivo deste capítulo é apresentar o uso do tubérculo Amazônico cará roxo em uma
abordagem Ciência-Tecnologia-Sociedade e Ambiente (CTSA) para o ensino de Ciências.
APRESENTAÇÃO
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A presente atividade pode se configurar como uma boa ferramenta para abordagem
dos conteúdos citados e
A) Sociedade
Questão Objetivo
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A partir das questões citadas, o professor abrirá espaço para que os alunos possam
expor seus conhecimentos básicos, popular e as hipóteses. Após, pode-se ter uma explana-
ção sobre a importância do uso de tubérculos para a região Amazônica e para a população.
B) Ciências
Materiais
– 3g de Cará-roxo;
– 30 mL de Álcool 70%;
– 30 mL de água destilada
– Almofariz e pistilo;
– Faca de cozinha;
– Filtro de papel;
– Funil;
– Frasco de vidro âmbar;
– Proveta;
– Materiais para ser testado, como por exemplo, água sanitária, sabão, detergente,
pasta de dente, vinagre, soda caústica diluída, suco de limão, entre outros.
Procedimento
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Logo em seguida, utiliza-se o almofariz e pistilo para iniciar a maceração. Obs.: caso
não haja almofariz e pistilo, o cará roxo deve ficar imerso na solução de álcool e água por
cerca de 30 minutos para extração dos pigmentos.
Após alguns minutos com o produto macerado, deve-se acrescentar os solventes,
água destilada e álcool 70%.
Em seguida, a mistura deve ser agitada e inicia-se o processo de filtração, utilizando
um funil e filtro de papel.
O conteúdo filtrado deve ser armazenado em um frasco de vidro âmbar.
Para a realização do teste do indicador de pH, utiliza-se as substâncias que se deseja
avaliar. Adiciona-se 3 ml de cada substância em um frasco.
Em seguida, com um conta gotas, adiciona-se 0,5 mL (cerca de 10 gotas) do indicador
cará roxo em cada amostra que será analisada.
Após serem agitados, será foi possível observar os resultados. Na figura 2 pode-se
visualizar as colorações correspondentes a um exemplo de substância ácida, básica e neutra.
Figura 2. Uso de cará roxo como indicador ácido e base. A) indicador com solução de ácida (vinagre). B) Indicador com
solução neutra (água). C) Indicador com solução básica (água sanitária).
A B C
C) Tecnologia
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Em acréscimo, o professor pode disponibilizar trabalhos previamente encontrados
sobre o tema para facilitar o trabalho dos discentes.
D) Ambiente
A conservação do cará roxo faz-se necessário tendo em vista que os dados sobre esse
tubérculo podem ser importantes no plano da evolução vegetal, conservação ambiental e
sustentabilidade por ser um produto alimentício que o cultivo que não agride a natureza, além
de ser uma hortaliça pode contribuir com a renda de indivíduos pertencentes a agricultura
familiar (RAMOS et al., 2014).
Para Azevedo (1997), o cultivo do ocorre com relativa facilidade, sem a necessidade
de produtos tóxicos para a manutenção e poucos ou nenhuma suscetibilidade a pragas e
doenças. Assim, o cultivo ocorre com fácil manejo e considerável rendimento agrícola.
Dessa forma, o professor poderá utilizar a relação do tema com a sustentabilidade,
bioma, alimentação e preservação do meio ambiente. Como ferramenta, poderá ser dispo-
nibilizado vídeos e uso de TICs.
Apesar das grandes possibilidades de uso e o fácil acesso ao cará roxo, essa legu-
minosa é pouco explorada na área de ensino e as pesquisas científicas e uso industrial
ainda estão em amadurecimento. Na elaboração da sequência didática proposta busca-se
estabelecer relações entre a valorização dos conhecimentos dos alunos sobre a matéria
prima selecionada e trazer a contextualização como forma de valorizar os dados obtidos e
significar o conhecimento escolar nos aspectos pedagógicos.
As quatro etapas categorizadas conforme a abordagem CTSA reúnem a possibilidade
de formação dos alunos de forma ampla, desenvolvendo os aspectos intelectuais e sociais.
Segundo a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) (BRASIL, 2018), faz-se necessário
que o indivíduo possa ser ativo no processo de construção do seu conhecimento.
Ainda, espera-se que os alunos possam ser capazes de serem os agentes transfor-
madores da sociedade que estão inserido, tanto no aspecto econômico, social, tecnológico,
quanto ambiental. Nessa perspectiva, os elementos pedagógicos propostos corroboram com
os objetivos propostos nas legislações de ensino.
As relações da abordagem CTSA utilizando o cará roxo apresentam um caráter inter-
disciplinar, podendo ser trabalhado em parceria e comunhão com outras disciplinas, como
matemática, português, geografia, história entre outras.
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A prática experimental, além da abordagem prática científica, apresenta-se como estra-
tégia para despertar o interesse para o desenvolvimento de jovens cientistas, relacionando o
conhecimento científico materiais do cotidiano e de fácil acesso. Além disso, a descrição do
tubérculo, os aspectos nutricionais e biológicos que podem ser apresentados relacionado ao
ensino de substância ácidas e básicas fortalecem o conhecimento científico e são importantes
para o estabelecimento das relações entre os aspectos sociais, tecnológicos e ambientais.
Finalmente, como a contextualização, na perspectiva construtiva da compreensão da
realidade social em que essa temática ode ser aplicada, procura-se valorizar não somente
os conteúdos escolares, mas oportunizar a reflexão sobre a sociedade, suas interligações
com a tecnologia e o meio ambiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta didática do uso do cará roxo em uma abordagem CTSA contempla a nature-
za interdisciplinar do conhecimento científico, social, tecnológico e ambiental, contribuindo de
forma considerável para a aprendizagem e formação de cidadãos críticos e reflexivos. A im-
plementação dessa proposta pelos professores do ensino básico apresenta a vantagem de
utilizar um produto natural, comum, de fácil acesso e com materiais alternativos em uma
sequência didática que poderá contribuir com o desenvolvimento social e intelectual dos
alunos de forma ampla.
Assim, a abordagem CTSA é importante para que sejam criados ambientes e momen-
tos que possam ser ricos em aprendizagem e que valorizem a pesquisa e aproximem as
inovações didáticas, tecnológicas e sociais, sendo uma proposta educativas que contribui
para o despertar, a motivação, o interesse e o cuidado com a sustentabilidade na Amazônia,
pautando-se no juízo crítico e sentido de responsabilidade.
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O consumo de energia elétrica em uma
abordagem CTSA na Matemática
'10.37885/221010558
RESUMO
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fizessem comentários e críticas e buscassem construir seu próprio conhecimento de forma
autônoma, de modo a adquirir uma ação social responsável.
O projeto de ensino de matemática através da leitura e interpretação da conta de energia
elétrica foi feito com alunos do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Álvaro Adolfo da
Silveira tem por objetivo a reflexão sobre o consumo consciente da energia elétrica e sua
relação com o meio ambiente, ao mesmo tempo, promover aos alunos uma compreensão
ambiental no movimento CTSA.
Campo de ação
METODOLOGIA DA AÇÃO
A atividade foi desenvolvida junto a uma turma de primeira série do ensino médio. Essa
turma contém 27 alunos, sendo dois deficientes auditivos, e dois deficientes intelectuais, na
faixa etária de 15 a 19 anos. E para desenvolvimento das atividades foram usadas 05 aulas
de 45 minutos cada.
Durante o 2º bimestre esses alunos realizaram atividades com exercícios e resolu-
ções de problema e que as mesmas abordavam situações problemas contextualizadas
ao seu cotidiano.
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Daí, em todas as atividades houve o envolvimento no estudo introdutório das funções,
onde o aluno deveria escrever passo a passo a resolução de cada questão proposta. Dessa
forma, o aluno construía reflexões sobre o problema e o professor orientava quanto ao ra-
ciocínio e o uso de estratégias para uso consciente de energia elétrica.
Para a realização da atividade, foi feita uma palestra sobre o consumo de energia
elétrica e as fontes de energia sob o enfoque do movimento CTSA (Ciência Tecnologia
Sociedade e Ambiente), após a palestra a turma foi dividida em 05 grupos, sendo 3 grupos
com 5 integrantes e 2 grupos com 6 integrantes. Em cada grupo, propomos que eles indi-
cassem três pessoas que gerenciaram o grupo, são eles: um presidente, um secretário e
um apresentador em que cada um exercerá uma função no seu grupo.
O presidente foi o responsável por incentivar os demais membros a participarem da
atividade e fazendo discussões caso seja necessária, o secretário irá realizar as devidas
anotações caso ocorra no grupo para posterior ler aos demais membros. Já o apresentador
deverá divulgar os resultados à turma feitos, bem como a conscientização ambiental acerca
do tema proposto.
Nessa proposta metodológica ressaltamos a manipulação desses procedimentos para
construir um resultado crítico e social do uso das fontes de energia. Assim, podem ser as-
sociados estudos envolvendo as relações CTSA, apropriando-se desses referenciais no
ensino de ciências implica o delineamento de uma concepção de educação científica que
extrapole a abordagem restrita à explicitação de modelos teóricos, isenta de análise de as-
pectos de construção e de utilização de conhecimentos científicos. Demanda a superação
de perspectiva da prática científica isenta de implicações sociais, ambientais e subjetivas.
Aponta para a inserção dos sujeitos em processos dialógicos de questionamento, crítica, e
de proposições de alternativas, criatividade, em situações controversas envolvendo Relações
CTSA. Agrega o envolvimento argumentativo desses indivíduos. Para que se procedam
situações analíticos e propositivos nessas situações e extrapolam domínios disciplinares
e posições individualistas; demandam estratégias complexas de ponderação de riscos e
benefícios, em âmbitos local e global (BORTOLETTO e CARVALHO, 2009; ZEIDLER e
KEEFER, 2003; ZOLLER, 1992).
Ao lançarmos a proposta do tema energia elétrica, verificamos através de breves
conversas, que houve um envolvimento dos alunos com o tema e a partir daí trouxemos
para uma análise curricular. Nessas conversas, houve a identificação de preocupações,
mas, também, passividade e distanciamento, sobre produção de energia elétrica. Santos e
Mortimer (2000) afirmam que no contexto brasileiro, no âmbito educacional, pode-se utilizar
como tema as fontes energéticas em todos os seus aspectos. Nestes termos, foi sugerido
essa temática, sob a perspectiva CTSA, pela busca da compreensão de que a ciência não
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está indiferente à nenhuma realidade e que traz sentido a esta pesquisa. É compreensível
que ao reduzir o consumo de energia elétrica como, ao desligar os aparelhos elétricos da
tomada, entre outros, só teríamos muito mais a ganhar quanto consumidor e, ganharíamos
duplamente pois, com essa atitude com certeza estaríamos preservando as fontes ener-
géticas de uma dificuldade, o que inibiria alguns dos acréscimos como as “tais bandeiras
tarifárias” que por sua vez aumentam os valores nas contas de energia, além de termos a
clareza sobre o consumo consciente.
O presente projeto se deu em três dias, num total de cinco aulas de 45 minutos, con-
forme discriminamos abaixo.
No primeiro dia foram usadas duas aulas de 45 minutos com uma palestra sobre as
fontes de energia bem como o uso consciente de energia elétrica e após a turma foi dividida
em cinco grupos com 05 ou 06 alunos e posteriormente aplicado teste sobre o tema envolvido.
No segundo dia foram usadas duas aulas de 45 minutos onde os grupos já formados
na aula anterior foram submetidos a avaliar quatro contas de energia elétrica de uma deter-
minada pessoa. Durante a atividade os alunos registraram em folhas próprias as dificuldades
com o manuseio das contas, porém com uma breve intervenção pedagógica ele começaram
a fazer a leitura correta e os registros de consumo mensal foram registrados através de
gráficos de linhas.
No terceiro dia foi utilizada somente uma aula. Cada grupo socializou (Figura 3) com
os colegas suas conclusões, mediante a apresentação dos gráficos estatísticos elaborados
a partir da análise da conta de energia elétrica e, posteriormente surgiram soluções para
um consumo consciente de energia em suas residências.
A abordagem CTSA pressupõe considerar o entendimento de questões ambientais,
qualidade de vida, economia e aspectos industriais da tecnologia em relação à falibilidade
e natureza da Ciência, assim como discussões sobre opiniões e valores, implicando uma
ação democrática. Zeidler e Keefer (2003) consideram que a incorporação do conceito de
ambiente tende a tornar mais explícitas as conexões existentes entre as dimensões da
Ciência e um amplo espectro social e cultural. De acordo com Carvalho (2005),
A conta de energia é um item presente nas residências de todas as famílias e por mui-
tadas vezes o aluno não consegue enxergar o quão importante a matemática é sobre esta
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conta tão rotineira. A matemática é parte fundamental deste faturamento e trazer conteúdos
para serem trabalhados em sala de aula e aplicados a este tipo de situação- problema torna a
aula mais prazerosa e estimulante. Skovsmose (1994) defende que a Matemática é utilizada
para formatar a realidade, segundo ele, parte da realidade social é expressa por intermédio
de modelos matemáticos, usando moldes matemáticos que são constituídos ou construídos
sem intenções predeterminadas, portanto, não podem ser considerados neutros, já que são
produtos de algum tipo de interesse, alicerçando decisões e promovendo interferências no
contexto social.
Nessa perspectiva o enfoque CTS segundo Pinheiro (2005, p.29) é entendido como:
A Matemática como sendo uma ciência torna-se tão importante quanto a tecnologia
pois, é percebido que ciência e tecnologia se complementam uma à outra e, que ambas
andam de mãos dadas, é o que nos mostra o movimento CTSA que tem como uma das
suas finalidades expandir a compreensão, foi a partir de análises à uma conta rotineira de
energia elétrica que ocorreu a promoção da aprendizagem sob o enfoque tecnologia, ciência
e meio ambiente. Visto que ao integrar o aluno neste ambiente investigativo, envolvendo-o
em atividades acerca destas reflexões críticas desperta os seus conhecimentos científicos
e se desenvolve estudos em prol do progresso da humanidade de maneira consciente e
participativa, na qual somos convidados a ter atitudes consideradas positivas.
Segundo a BNCC do Ensino Médio p. 102, enfatiza que o aluno deve articular conheci-
mentos matemáticos ao propor e/ou participar de ações para investigar desafios do mundo
contemporâneo e tomar decisões éticas e socialmente responsáveis, com base na análise
de problemas de urgência social, como os voltados a situações de saúde, sustentabilidade,
das implicações da tecnologia no mundo do trabalho, entre outros, recorrendo a conceitos,
procedimentos e linguagens próprios da Matemática.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com essas atividades ocorreram situações envolvendo situações reais com o objetivo de
propor um aprendizado sobre os conceitos de função afim através da modelagem matemática.
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Diante disso pode se destacar alguns pontos da avaliação docente; sobre os pontos
positivos destaca-se que muitos deles reconheceram na atividade prática como sendo uma
das atividades para analisar nas contas de energia conceitos como relação de dependência
que há entre o consumo de kwh e o valor a pagar mais tributos, impostos e tarifas, através
das observações dos gráficos contidos nas contas de energia.
Daí, verificamos que tal atividade realizadas pelos discente foi de forma prática e envol-
veu todos os alunos na reorganização dos conhecimentos a partir das atividades propostas
objetivando uma consciência ambiental e sustentável com a energia, proporcionando assim
uma melhor qualidade de vida.
A atividade proporcionou ainda reflexão e mudança de atitude, acrescentando-lhes
alguns aspectos formativos como saber se informar; ser capaz de se comunicar, de argu-
mentar, de compreender, de agir e de elaborar críticas ou propostas; de defrontar-se com
problemas, compreendê-los e enfrentá-los; participar socialmente, de forma prática e solidá-
ria; fazer escolhas e proposições; participar de um convívio social que lhes dê oportunidade
de se realizarem como cidadãos; tomar gosto pelo conhecimento, aprender a aprender e
especialmente adquirir uma atitude de permanente aprendizado (BRASIL, 1999).
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REFERÊNCIAS
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Editora Contexto: São Paulo, 2002. Disponível em: www.celpa.com.br/2via, acesso
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de ciências. Texto apresentado no XIV ENDIPE , Porto Alegre, abril (2008) 12 págs.
13. MOURA, Gabriela Tavares de; SÁ, Roberto Araújo; RABELO, Josinês Barbosa. O
Ensino de CTSA numa Perspectiva de Educação Crítica. II CONEDU - Congresso
Nacional de Educação - Campina grande, PB, 2015.
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14. PEÇA, Célia Maria Karpinski. Análise e Interpretação de Tabelas e Gráficos Estatís-
ticos Utilizando Dados Interdisciplinares. Professora de Matemática da Rede Pública
Estadual de Ensino do Paraná, graduada em Ciências e Matemática, especialização
em Metodologia do Ensino Fundamental e Médio. Concluinte do PDE - PROGRAMA
DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - 2008. Orientação: Profª. MSc. Simone
Crocetti – UTFPR.
16. SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Uma análise dos pressupostos teóricos da abor-
dagem C-T-S (Ciência-Tecnologia-Sociedade) no contexto da educação Brasileira. En-
saio Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 2, n. 2, p. 1-23, dez. 2002.
18. STOCCO, Katia Cristina Smole; DINIZ, Maria Ignez de Souza Vieira. Matemática:
Ensino Médio, volume 2, 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
19. ZEIDLER, Dana; KEEFER, Matthew. In: ZEIDLER, Dana (Org.). The Role of Moral
Reasoning on SocioScientific Issues and Discourse in Science Education. Dordrecht:
Kluwer Academic Publishers, 2003. cap. 1, p. 7-38.
20. ZOLLER, U. The Technology/Education Interface: STES Education for All. Canadian
Journal of Education, v. 1, n. 1, p. 86-91, 1992.
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Rede organizacional solidária para
coletores de Castanha-da-Amazônia
Mariluce Paes-de-Souza
PPGA/UNIR
'10.37885/220809826
RESUMO
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REFERENCIAL TEÓRICO
O autor salienta que pesquisas em vários campos acadêmicos mostraram que as redes
sociais operam em muitos níveis, os quais podem incluir desde as famílias até o nível das
nações. Essas redes desempenham um papel determinante na forma com a qual os proble-
mas são resolvidos, as organizações funcionam e o nível em que os indivíduos envolvidos
sucedem em conseguir seus objetivos (WASSERMAN e FAUST, 1994).
Diversos autores concordam que ainda não há um consenso no que diz respeito à
conceituação do termo redes. O amplo escopo conceitual do termo rede proporcionou seu
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interesse por crescente número de pesquisadores na área de ciências sociais (BALESTRIN
e VARGAS, 2004).
Nesse sentido, Olave e Neto (2001) ressaltam que:
Fleury (2002) explica que o termo rede tem sido utilizado entre diversas disciplinas,
dentre as quais a psicologia social, que elenca características estruturais relacionadas ao
tamanho, densidade, composição, dispersão, homogeneidade e funcionamento. Coadunando
com o autor, Neto e Truzzi (2004, p. 2) afirmam que: “atualmente, o conceito de redes é
utilizado por vários campos de estudos como a antropologia, a Ciência Política, a Sociologia
e os Estudos Organizacionais”. Para os autores, não há como negar a abrangência e a
subjetividade do termo redes. De acordo com Balestrin (2010, p.3) “o mundo ainda não vive
o apogeu da sociedade em rede, descrita por Castells (1999); mas alguns fatos recentes
demonstram sua ascensão”. Em nenhum outro momento a cooperação e as redes receberam
tanto interesse quanto atualmente (BALESTRIN, 2010).
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nas redes existe enorme heterogeneidade entre atores, recursos e instituições, mas Fleury
(2002) argumenta que essa diversidade se conecta pela existência de elementos comuns,
gerando flexibilização, integração e interdependência.
Schnorr (2004) ressalta que o maior desafio ainda é obter uma compreensão da com-
plexidade que o significado do termo rede abrange, considerando que novos atores entrantes
encontram formas inovadoras de organização (FLEURY, 2002), as quais evoluem consoante
seus ambientes (OLIVEIRA, 2009). Ou seja, a rede requer então compatibilidade entre os
componentes dentro de um ambiente de mobilização contínua de recursos devido ao entorno
social e político (FLEURY, 2002).
Gray e Wood (1991) definem colaboração como um processo, através do qual, diferen-
tes partes, vendo diferentes aspectos de um problema podem, construtivamente, explorar
suas diferenças e, procurar limitadas visões. Para os autores, a colaboração ocorre quando
um grupo de stakeholders, com domínio de um problema, se interage, usando divisão de
papéis, normas e estruturas, com o intuito de agir ou decidir questões relacionadas ao pro-
blema (GRAY e WOOD, 1991).
Lechat (2002) exclama que solidariedade advém de “uma deformação da palavra latina
solidum que, entre os jurisconsultos romanos, servia para designar a obrigação que pesava
sobre os devedores quando cada um era responsável pelo todo, in solidum”.
Tem se observado que o desdobramento de empreendimentos solidários está ocorrendo
de maneira tão extensa que a rede a qual interliga os diversos vértices dessa malha estão
concedendo à economia solidária uma perspectiva de produção tida como não capitalista
(GAIGER, 2006), afastando o conceito de valor como relevância determinada por um único
ser e o ampliando para uma significação oriunda da comunidade.
Para Mance (2001), as redes solidárias não são utopias. Ele afirma que essa realidade
já está presente em inúmeros lugares, nas práticas mais diversas centradas na solidarie-
dade, que visam promover as liberdades responsáveis e enfrentam as diversas formas de
opressão, exclusão e injustiças. Prossegue:
Segundo o autor, a maioria das organizações que trabalha nesse campo necessita
encadear as conexões necessárias para que a sinergia gerada por essa integração seja
potencializada. Continua afirmando que: “O avanço coletivo dessa consciência [...] capaz
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de fazer emergir essa nova consistência é, todavia, parte integrante do próprio processo em
curso da revolução das redes” (MANCE, 2001, p. 14).
Para Gaiger (2006) o fenômeno da economia solidária guarda semelhanças com a eco-
nomia camponesa. Neste sentido, Lechat (2002) acredita que esse conceito estava imerso
no significado de economia informal ou popular. Não obstante, resta nítido que o surgimento
de uma rede solidária é um processo natural (REIS, 2014), o que não quer dizer que seja
uma rede com interconexões mundiais em que a economia dita as regras.
Busca-se, então, interligar empreendimento solidário em uma dinâmica de retroalimen-
tação, crescimento síncrono, autossustentável e oposta ao capitalismo, construindo uma nova
formação social e diminuindo a necessidade de transações comerciais com organizações
capitalistas tradicionais (MANCE, 2005; SCHNORR, 2004; AMORIM ET AL, 2013).
Reorganizar socialmente as ações de produção, comércio, consumo, finanças, servi-
ços e desenvolvimento tecnológico é o objetivo principal da economia solidária (MANCE,
2005). Por isso o autor afirma que as práticas que envolvem economia solidária enfatizam
a participação coletiva, a cooperação, a autogestão, a democracia, a autossustentação, a
promoção de desenvolvimento humano e da equidade de gênero.
Com esse entendimento Gaiger (2006) ressalta que o espírito solidário se distingue
da racionalidade capitalista - que não é solidária e inclusiva - e da solidariedade popular
comunista - desprovida dos instrumentos adequados a um desempenho socioeconômico
que não seja circunscrito e marginal.
Percebe-se uma unidade entre o uso e a posse dos meios de produção. O labor consor-
ciado beneficia o próprio trabalhador, possibilitando um entendimento mais amplo do sistema
produtivo, em que o valor agregado pelo operário se transforma em qualidade de vida para
o próprio produtor. Esse horizonte permite uma economia voluntária - não dependente - aos
beneficiários das redes solidárias (LECHAT, 2002).
Neste contexto Schnorr (2004) explica que toda atividade de organização, produção e
consumo, por exemplo, contribui para qualificar a rede como um todo, melhorando a capa-
cidade de mobilização. Mesmo assim, o vínculo solidário indubitavelmente sofre variação,
podendo alcançar desde exclusivamente os indivíduos até a socialização dos meios de
produção de uma cooperativa pautada na autogestão (GAIGER, 2006).
Mance (2005) também relata que o objetivo de redes de economia solidária busca
integralizar empreendimento solidário de comércio, produção, serviços e consumo, além
de integrar as mais diversas organizações sociais, reinvestindo coletivamente para que se
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possa fortalecer as existentes e criar organizações, remodelando solidariamente tanto as
cadeias produtivas quanto toda a cadeia de valor.
Logo, a economia solidária pode ser então ação com capacidade o suficiente para fazer
emergir novas oportunidades de inserção social, responsabilidade, ajuda mútua, fortalecimen-
to do desenvolvimento local de forma autossustentável, e claro, equidade e fortalecimento
(SILVA ET AL, 2013).
Desse ponto de vista, pauta-se a economia solidária na existência de atores desiguais
economicamente (LECHAT, 2002), haja vista a imprescindibilidade do meio onde a cadeia-
-rede é caracterizada pelo entrelaçamento de atores distintos, mas envolvidos uns com os
outros e pelos laços de solidariedade de todo o sistema.
Devido a essa necessidade de ajuda mútua existente numa rede, a qual pode ser
elencada com um de seus aspectos mais importantes, a cooperação torna-se vital para a
consecução de suas atividades. Balestrin e Vargas (2004) citam as principais características
de uma rede de cooperação: (1) são integradas por firmas situadas geograficamente próxi-
mas; (2) os atores integrantes operam em segmento específico de mercado; (3) as relações
entre as firmas são horizontais e cooperativas, prevalecendo mútua confiança; (4) a rede
é formada por indeterminado período de tempo; e (5) a coordenação da rede é exercida a
partir de mínimos instrumentos contratuais que garantam regras básicas de governança.
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Em conformidade Gaiger (2006), enfatiza dizendo que as novas experiências populares
de autogestão e cooperação econômica representariam a emergência de um novo modo
de organização do trabalho e das atividades econômicas em geral, se não fossem pessoas
que buscam a maximização de rendimentos e redução de gastos através de ações cole-
tivas porque entendem que a colaboração pode catalisar o viés econômico em benefício
estritamente individual.
Há, contudo seres que detêm comportamentos sociais e não esperam retribuição
(FERNANDES, 2014). Assim, acredita-se na probabilidade de ascensão e desenvolvimento
de redes organizacionais solidárias, alicerçando-se no pensamento compartilhado de que a
cooperação e a solidariedade ainda são valores de alguns seres humanos.
Infere-se que o viés solidário, e não competitivo, de redes faz com que a ação coletiva
engrandeça a ação do indivíduo de maneira recíproca (SCHNORR, 2004), amadurecendo
relações horizontais que favorecem o diálogo até mesmo com o Estado e seus atores polí-
ticos tidos como representantes da coletividade (FLEURY, 2002).
Nesse contexto, Schnorr (2004) elenca a autopoiese, a intensividade, a extensividade,
a diversidade, a integralidade, o fluxo de valor, o fluxo de informação, o fluxo de matérias, a
agregação e a realimentação como propriedades básicas de redes de colaboração solidá-
ria, representando, em suma, um constructo social em que o amadurecimento das relações
coletivas faz surgir tais características de modo natural.
Além disso, as redes de cooperação solidárias tendem a representar uma nova pers-
pectiva de luta nos movimentos sociais para a transformação da coletividade através da
geração de novos eixos de produção e consumo, promovendo o crescimento orgânico da
economia solidária (MANCE, 2005; SCHNORR, 2004).
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indivíduo (GAIGER, 2006), fazendo com que a compreensão de conceitos sustentáveis seja
materializada em ações comunitárias.
O que se apresenta, então, é a capacidade que o solidarismo detém para converter
a essência elementar de uma nova racionalidade econômica, na qual os rendimentos ex-
trapolam o viés econômico (GAIGER, 2006) e consequentemente abarcam espaços am-
bientais e sociais.
Nesse contexto, a perspectiva estrutural considera o posicionamento do ator dentro da
rede, além da capacidade de influenciar e ser influenciado, além de focar na densidade, na
centralidade e na conectividade (FERNANDES, 2014). De outro modo, a força do elo estabe-
lecido e a sua intensidade diz respeito à perspectiva relacional de análise de redes, eviden-
ciando a confiança entre os agentes, no sentido coletivo (FERNANDES, 2014; REIS, 2014).
Isto remete a discussão de laços de confiança e redes organizacionais solidárias,
considerando que um conjunto de empreendimentos aglomerados socialmente indiscuti-
velmente possui ligações - diretas ou indiretas - entre alguns membros da rede, sendo que
a quantidade de conexões de um determinado ator especifica o nível de centralidade que
este possui perante a rede (REIS, 2014). Depreende-se que a escala de centralidade que
um indivíduo ou organização possui, revela uma posição estratégica para esse ator perante
o seu ambiente (ERPEN, 2013; REIS, 2014).
Souza Filho et al (2014) entendem que os empreendimentos comunitários estarão
rodeados por stakeholders, stakewatchers e stakekeepers, o que indica relações de tro-
cas e formação de laços. Esses laços representam uma série de interesses egocêntricos
orientados de modo holístico para o coletivo, então, um nível mínimo de entrelaçamento,
alicerçado em relações de confiança, torna-se imprescindível para o funcionamento efetivo
da rede (TAUILE, 2002).
Diante disso, realizar um bom diagnóstico do ambiente em que a rede está inserida
é imprescindível para que a rede interconecte os vértices com as arestas adequadas a
sua dimensão estrutural a fim de que se tenha maior conectividade e intensidade entre os
atores e recursos. Além disso, Tauile (2002) clarifica que a identificação de um mínimo de
interesses comuns por parte dos agentes que compõem a rede solidária pode alavancar
seu esforço coletivo.
As relações de confiança, a similaridade de comportamentos e a submissão dos atores
às mesmas normas evidenciam a densidade das redes e o nível de consenso no sistema
social (FERNANDES, 2014; REIS, 2014), ratificando a importância de um elo confiável entre
agentes inter-relacionados. Erpen (2013) afirma assim que a confiança entre os agentes
econômicos dentro dos clusters deve ser enfatizada pela sua relevância em uma rede.
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Seguindo esse pensamento, Fernandes (2014) afirma que a confiança induz à coo-
peração, e a cooperação gera confiança. A ligação ocasionada por algum ator entre redes
distintas apresenta o nível de intermediação, o qual geralmente está atribuído ao agente, e
raramente de um cluster componente da rede (REIS, 2014). Ou seja, por mais comunitária
que seja a rede, o indivíduo ganha força ao representar a coletividade na qual ele faz parte.
Até mesmo os espaços econômicos das fatias de mercado referente às organizações
solidárias são fortalecidos pelo estabelecimento de laços de confiança e pela prática de tro-
cas entre as empresas e seus clientes (GAIGER, 2006). Nesse ambiente multi-relacional, a
rede organizacional solidária se configura por expressar um conjunto de empreendimentos
econômicos solidários (PAES-DE-SOUZA ET AL, 2013).
Além disso, a globalização em sua essência exige laços sociais fortes e dinâmicos, o
que torna possível verificar que a formação de cadeias produtivas em rede impacta a capa-
cidade de competição e possibilidade de inserir-se em mercados nacionais e de exportação
(AMORIM ET AL, 2013; SILVA ET AL, 2013), uma vez que a crescente diferenciação do tecido
social cria novos processos de coordenação organizacional específicos (FLEURY, 2002).
Neto (1999) entende que as tradicionais relações conflituosas, cederam espaço para
as relações baseadas na confiança, a qual é de fundamental importância no mundo dos
negócios, pois todas as transações econômicas envolvem risco, tanto no sentido de fraudes,
quanto em relação aos imprevistos dos acontecimentos futuros. Riscos estes que, se não
controlados, podem atrapalhar a concretização de negócios que poderiam trazer benefícios
a todas as partes envolvidas.
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em cada vértice da cadeia produtiva, amplia-se, segundo Amorim et al (2013), para uma
cadeia de valor com princípios alicerçados no reconhecimento, conhecimento e colabora-
ção (FLEURY, 2002).
Empreendimento solidário com base na associação de trabalhadores e com um mo-
delo de gestão cooperativo destacam a alternativa encontrada para alguns grupos sociais
de baixa renda, fortemente atingidos pelo quadro de desocupação estrutural e pelo empo-
brecimento (GAIGER, 2006).
Nos empreendimentos solidários os proletários empregam o capital, enquanto no sis-
tema capitalista o capital emprega os trabalhadores (GAIGER, 2006). O reconhecimento
representado pela aceitação de estar em rede, o conhecimento do ator o qual se está em
constante relacionamento e a colaboração mútua não representam o capitalismo, mas sim
o solidarismo cooperativo.
Compreende-se, então a imprescindibilidade, não de dois, mas de somente um caminho
tanto para a ida quanto para o retorno de conceitos e práticas, de inputs e outputs relaciona-
dos - construindo essa malha de tecidos sociais chamada de redes solidárias, possibilitando
ao campo organizacional estruturado responder às incertezas do entorno (AMORIM, 2013).
Apesar de todo esse contexto isonômico de maturidade social e solidarismo, Gaiger
(2006) salienta que o pensamento cooperativo ainda não está distribuído em toda a rede
organizacional, declarando o caráter incompleto da emancipação do trabalho solidário.
Entretanto, percebe-se o amadurecimento e o compartilhamento dos conceitos relacionados
à solidariedade perante os membros de todos os agrupamentos, sejam em países orientais
ou em comunidades coletoras de castanha.
METODOLOGIA
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quais contenham em seu título uma das três palavras-base do tema deste trabalho - Redes
Organizacionais Solidárias - seja no plural ou singular.
Cabe ressaltar que a delimitação das dissertações do PPGA se orienta ainda por Kuhn
(2006) ao destacar a importância de conhecer as crenças e os paradigmas que são com-
partilhados por uma determinada comunidade científica, o que tende a direcionar o discurso
dessa comunidade, sem, todavia, uniformizá-lo.
Percebeu-se que alguns autores ganhavam evidência entre os trabalhos, os quais
foram buscados e analisados para compor este artigo almejando entender pensamentos
originários a respeito da temática Redes Organizacionais e Solidárias.
Para coleta de dados fez-se pesquisa de campo sendo realizada entrevista semies-
truturada almejando delimitar o cenário das respostas para contribuir diretamente com a
consecução dos objetivos da pesquisa, como também possibilitar aos entrevistados o es-
tabelecimento de interligações entre assuntos e contextos a fim de não atrofiar o horizonte
dos respondentes.
Cabe evidenciar que foram entrevistados o representante de uma entidade governamen-
tal local responsável por planejar, coordenar e executar programas de assistência técnica e
extensão rural, a líder dos coletores de castanha da Amazônia no distrito em questão e um
coletor de castanha que possui outras atividades extrativistas, atribuindo-lhes as letras A, B
e C, respectivamente.
Os respondentes e os pesquisadores estavam organizados em um formato de mesa
redonda onde os entrevistados foram informados de que as indagações realizadas e expostas
para manifestação visavam aos objetivos específicos de descrever a rede organizacional
solidária existente entre os coletores de castanha da Amazônia de um distrito de Porto
Velho/RO e propor alternativas para fortalecer os vínculos e elos da rede. A entrevista foi
gravada e transcrita para melhor interpretação por parte dos pesquisadores, salientando a
aquiescência dos respondentes em participar da entrevista e a permissão para gravação.
Entretanto, percebeu-se que o anonimato ofereceria um ambiente mais livre para manifes-
tação dos entrevistados, preservando a identificação a fim de colher dados os mais reais e
sinceros possíveis sobre a realidade estudada.
Trata-se, portanto, de uma pesquisa básica no que diz respeito à natureza por não se
pretender como finalidade um resultado concretamente aplicado, e sim contribuir através da
produção de conhecimento para os demais estudos. Orientando-se ainda por Siena (2007),
pode-se considerar como uma pesquisa essencialmente bibliográfica com características de
um estudo de caso no que tange aos procedimentos, de abordagem qualitativa e em relação
aos objetivos infere-se aspectos estritos de pesquisa exploratória por buscar aprofundar
informações relativas ao tema.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
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de que os coletores que procuram os compradores - fenômeno que explicita o manuseio dos
atravessadores para com a produção dos castanheiros.
O entrevistado A destacou que as relações são prejudiciais para os coletores de cas-
tanha, os quais saem em desvantagem, mas não se manifestou grandes apontamentos.
Percebeu-se que a entidade governamental não atua diretamente na negociação ou regu-
lação de tais transações, contudo, este ponto não foi relatado pelos coletores de castanha,
que demonstravam, na verdade, grande empatia com o agente estatal.
Depreendeu-se de pronto, que existe uma rede interorganizacional, necessária para a
efetivação das transações comerciais, mas que não estão baseadas em relação que ambos
saem ganhando e muito menos pautadas na confiança mútua, não estando em consonância
com o referencial teórico e conceitual de que uma rede organizacional solidária evidencia
a justiça e a solidariedade como valores basilares. Lembra-se o que Jacobi (2000) enfatiza
sobre os multifacetados atores sociais sobre a mobilização em torno das questões do dia
a dia, pode contribuir para desenvolver a colaboração e desenvolver o espírito solidário.
Esta postura pode reforçar o engajamento dos atores a partir do entendimento de questões
concretas, imediatas, ou que afetam elevados valores éticos.
A ausência de uma rede solidária foi corroborada pelo relato do respondente B de que
um vizinho possuía uma propriedade com inúmeras castanheiras, mas que não permitia
coletor algum entrar para colher as castanhas, e nem mesmo realizava a coleta dos ouriços.
Ainda ressaltou, que em seu ponto de vista, isso era falta de perspectiva, e que grande parte
dos coletores de castanha, bem como outros extrativistas, detinham um determinado grau
de miopia no que se refere ao aproveitamento das oportunidades.
Neste sentido descrever uma rede organizacional solidária deve ser de maneira simples
pois a rede interorganizacional existente está pautada em uma relação comercial entre os
coletores de Castanha-da-Amazônia e os atravessadores, não contendo interferência da
entidade estatal, muito menos união dos coletores para barganha de melhores preços nas
latas da castanha. O que corresponde ao que preconiza Wasserman e Faust (1994) quando
diz que uma estrutura social composta por indivíduos ou organizações estão vinculados por
um ou mais tipos específicos de interdependência, como amizade, parentesco, interesse
comum, troca financeira, antipatia, relações sexuais ou relações de crenças, conhecimentos
ou prestígio. Portanto, analisar a rede social considera as relações sociais em termos de
teoria da rede, consistindo de nós e laços, onde os nós são os atores individuais dentro das
redes, e os laços são os relacionamentos entre os atores.
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Proposta para fortalecer os vínculos cooperativos entre os Coletores
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beneficiará tanto os coletores de castanha, quanto os atravessadores e, consequentemente,
auxiliará o Estado, uma vez que a interação entre os indivíduos cria oportunidades para
distribuição de conhecimentos e troca de informações, segundo Reis (2014).
Percebe-se, então, que a entidade governamental deve ser o meio pelo qual os coletores
e os atravessadores trocarão informações entre si, e que estas representam as necessidades
e anseios de cada um, para que assim a rede organizacional solidária seja criada e mantida,
beneficiando todos os atores que por ela serão abarcados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o objetivo geral de analisar a rede organizacional solidária dos coletores de cas-
tanha da Amazônia em um distrito do município de Porto Velho/RO foi possível observar
que não existe uma rede pautada no solidarismo, mas sim um entrelaçamento oriundo das
transações comerciais existentes, não havendo preocupação dos demais indivíduos e com
os impactos advindos dessas relações.
No que se refere ao objetivo específico de descrever a rede existente, realizou-se a
pormenorização da rede interorganizacional presente na realidade estudada, a qual apa-
rentemente se apresenta sem conceder a importância necessária a valores como ética,
transparência e equidade.
Em contraponto, depreende-se que redes organizacionais solidárias são interconexões
entre os mais variados atores, sejam eles indivíduos ou organizações, que buscam conceder
poder à solidariedade e ao voluntarismo para que sejam criados caminhos mais isonômicos
em direção à ascensão econômica e social, nos quais a desigualdade se torna ferramenta
para o crescimento, e não empecilho.
Referente ao segundo objetivo específico, depreende-se que em um primeiro momento
deve ser criada uma rede organizacional solidária para que os próprios relacionamentos
sejam fortalecidos através da confiança e do amadurecimento do entendimento de que o
constructo social se faz mais importante para que os indivíduos alcancem seus próprios an-
seios. Além disso, políticas governamentais devem regular o comércio e demais transações
visando manter um equilíbrio entre os coletores e atravessadores.
Por derradeiro, uma rede organizacional solidária possibilitaria aos coletores de casta-
nha da Amazônia um empoderamento coletivo, o que ocasionaria maior barganha durante a
negociação com os atravessadores, e consequentemente, estenderia essa rede para toda a
cadeia de valor da castanha, em que o cooperativismo proporcionaria a alavancagem social
dos menos favorecidos e a conscientização de todos os envolvidos nesse processo extrati-
vista, tanto para a conservação das relações econômicas, como também para as relações
sociais, e em favor principalmente do meio-ambiente.
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REFERÊNCIAS
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eficácia operacional. São Paulo: Atlas, 2005.
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ory. Applied Behavioral Science, vol. 27, number 1 and 2, March/June, 1991.
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2006.
20. NETO, M. S.; TRUZZI, Oswaldo Mário Serra. Configurações estruturais e relacionais
da rede de fornecedores: uma resenha compreensiva. Revista de administração, v.
39, n. 3, p. 255-263, 2004.
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Uma estratégia de Competitividade e Sobrevivência para Pequenas e Médias
Empresas. Revista Gestão e Produção v.8, n.3, 2001. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/gp/v8n3/v8n3a06.pdf> Acesso em: 30/03/2017 15:55:00.
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30. WASSERMAN, Stanley; FAUST, Katherine. Social network analysis: Methods and
applications. Cambridge university press, 1994.
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13
Saúde da mulher indígena no Brasil: uma
revisão integrativa
'10.37885/220809804
RESUMO
O Brasil possui mais de 305 povos indígenas, com uma população de 896.917 pessoas,
o que equivale a 0,47% da população brasileira (IBGE, 2010). Quanto a composição por
gênero, há um equilíbrio entre homens e mulheres.
A ampla visão de saúde, que teve como marco referencial o preâmbulo da Constituição
da Organização Mundial de Saúde (OMS,1946) anuncia o conceito de saúde como “o comple-
to bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou outros agravos”.
A Constituição Federal, introduz o direito à saúde entre os direitos fundamentais sociais
no art. 6°, e no art. 196 assegura ser “garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).
A concepção indígena de saúde-doença, constata uma noção que se alicerça em fe-
nômenos e relações diferentes dos princípios biomédicos ocidentais, exigindo uma grande
sensibilidade dos profissionais de saúde, dirigida para uma atuação capacitada em gerir
essas complexas diferenças (SARTORI, LEIVAS, 2017). O processo saúde-doença pode
ser concebido como “resultado do tipo de relação individual e coletiva que se estabelece
com as demais pessoas e com a natureza” (LUCIANO, 2006, p.173).
Circunstâncias culturais, históricas e socioeconômicas, promovem a violação ao direito
à saúde, derivando em diversas desigualdades entre as minorias. As mulheres abarcam
esse grupo, e encaram dificuldades quanto à garantia direitos, em especial no que se refere
à saúde sexual e reprodutiva (ORTIZ, 2019).
Ser mulher indígena é ser duplamente minoria, por gênero e etnia. Essa constatação
impacta na qualidade de vida, nas taxas de morbidade e mortalidade, e no acesso aos ser-
viços de saúde (ABRITTA, 2021). Tais fatos resgatam um contexto social, cultural e histórico
concernentes por lutas de poder (ORTIZ, 2019), demonstrado no Brasil pelo patriarcado,
com uma formação social onde homens mantêm poder, e as mulheres sequer dispõem de
liberdade sobre seus próprios corpos ou sua saúde, mas as aproximam da exclusão políti-
ca, social e econômica favorecendo um lugar permanente de discriminação estrutural, com
vulnerabilidade a variados atos de violência (ABRITTA, 2021).
A carência de efetivas políticas públicas agrava as iniquidades sociais e sanitárias
neste grupo populacional. Uma deficitária informação, aliada a estilos de vida hespéricos
anexados às populações indígenas, acarretam o desenvolvimento de variadas morbidades,
particularmente as infecções sexualmente transmissíveis (IST). Um exemplo é a prevalência,
1,82%, de sífilis entre as mulheres indígenas no Brasil (ORTIZ, 2019; ABRITTA et al, 2021;
ROMERO et al, 2019).
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A partir do cenário caracterizado por variados fatores que implicam na vulnerabilida-
de social em ser mulher e indígena, questiona-se: Quais são as evidências disponíveis na
literatura científica em relação a saúde da mulher indígena no Brasil? Dessa forma, obje-
tivou-se delinear o estado da arte referente ao conhecimento científico sobre o processo
saúde-doença das mulheres indígenas no Brasil, a fim de estruturar a publicação pertinente
a essa temática no país.
O tema possui relevância no contexto atual devido aos desafios enfrentados pelos povos
indígenas brasileiros, sobretudo pelas mulheres. Além de viverem séculos na invisibilidade,
esses povos, foram dizimados por doenças introduzidas pelos invasores colonizadores,
dentre elas: gripe, varíola, sarampo, e agora, a Covid-19. Faltam aos povos indígenas siste-
mas de saneamento básico nas aldeias, oferta de água potável em quantidade e qualidade,
e a garantia da produção de alimentos saudáveis nas aldeias (PANKARARU et al, 2019).
Concatenado a isso, as mulheres indígenas defrontam-se com inúmeros e incansáveis tipos
de discriminação histórica, produzindo flagrante exposição a violações de direitos huma-
nos. São diversas as barreiras que as mulheres indígenas enfrentam, como as escassas
oportunidades ao mercado de trabalho, dificuldades geográficas e econômicas no alcance
a serviços de saúde e educação, acesso restrito a programas e serviços sociais, altas taxas
de analfabetismo, baixa participação no processo político e marginação social (CIDH, 2017).
O estudo pretende contribuir com a temática de saúde das mulheres indígenas asso-
ciada a questões de educação em saúde, e identificação por meio dos estudos já existentes,
de potencialidades e desafios encontrados na literatura atual.
METODOLOGIA
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A busca dos artigos foi feita entre fevereiro e maio de 2022, utilizando três descritores
em ciências da saúde (DeCS) nas bases de dados BVS, SciELO e PubMed nos idiomas
português, espanhol e inglês. As bases de dados escolhidas possuem grande relevância na
área da saúde por hospedarem evidências expressivas para melhoria da prática em saúde.
Foram usadas as seguintes combinações nas três bases de dados: “saúde indígena AND
mulheres AND Brasil”, “Salud de Poblaciones Indígenas AND mujeres AND Brasil”, “Health
of Indigenous Peoples AND women AND Brazil”. A análise dos dados seguiu critérios de
inclusão baseados no tema proposto pela presente pesquisa: (1) artigos com texto completo
disponível; (2) realizados no Brasil; (3) publicados nos idiomas inglês, português e espanhol
e (4) que abordassem a saúde da mulher indígena. Foi estabelecido um limite temporal de
5 anos, de 2017 a 2022, possibilitando maior delineamento do estudo. Foram excluídos
os estudos repetidos, artigos que não estavam publicados na íntegra, teses, dissertações,
monografias e artigos com fuga da abordagem temática.
Para demonstração da coleta e seleção dos artigos foi utilizado o fluxograma baseado
na recomendação PRISMA, conforme sugerido pelo Preferred Reporting Items for Systematic
Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (MOHER et al, 2014) de acordo com o esquema
mostrado na Figura 1.
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RESULTADO
A aplicação dos descritores resultou na localização de 129 artigos nas três bases de
dados online: 10 na base SciELO, 111 na PubMed, e 8 na base BVS. Após aplicação dos
critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos, foram selecionados um total de
16 artigos na amostra final (Quadro 1). Após a leitura final, esses artigos foram categoriza-
dos em três eixos temáticos, com base no tema predominante em cada estudo: 1) Agravos
à saúde e morbidades; 2) Violência; e 3) Tradição e Aspectos culturais.
Quadro 01. Relação dos artigos selecionados para revisão nas bases de dados SciELO, PubMed e BVS, publicados entre
2017 e 2022 no Brasil.
PERIÓDICO E BASE QUALIS
AUTORIA METODOLOGIA/OBJETIVO EIXO TEMÁTICO
DE DADOS CAPES
Psicol. Conoc. Estudo de prevalência, quantitativo.
GRUBER et al, Soc., Montevideo Agravos à saúde e
2021 B4
Determinar a prevalência de IST na população indígena do Alto Rio morbidades
Scielo
Solimões.
Public Health
Estudo descritivo, quantitativo
COIMBRA et al, Nutr. England Agravos à saúde e
A1
2021 Avaliar o estado nutricional das mulheres indígenas de 14 a 49 anos morbidades
PUBMED
no Brasil.
Ethn Health.
Estudo descritivo, qualitativo.
BORGES et al, England Agravos à saúde e
A1
2021 Estimar a incidência de câncer de base populacional entre popula- morbidades
PUBMED
ções indígenas do Estado do Acre, Amazônia Ocidental brasileira.
Int J Environ Res
Public Health. Ba- Estudo quantitativo, transversal.
BASTA et al, sel, Switzerland Agravos à saúde e
A2
2021 Apresentar os principais resultados de uma análise integrada e mul- morbidades
PUBMED tidisciplinar dos parâmetros de saúde e avaliar os níveis de exposição
ao mercúrio (HG) em populações indígenas na Amazônia brasileira.
Revista De Enfer-
Estudo descritivo, de natureza qualitativa.
magem Da UFSM
NÓBREGA et al, Agravos à saúde e
B1 Analisar o modo como a prevenção da infecção pelo vírus da imu-
2020 morbidades
BVS nodeficiência humana (HIV) se configura sob o olhar de mulheres da
etnia potiguara.
Rev. bras. promoç.
saúde (Impr.) Qualitativo, relato de experiência.
SOUZA et al, Fortaleza Tradição e Aspectos
B2
2020 culturais
Descrever a vivência prática de uma ação de educação em saúde com
BVS
mulheres indígenas sobre os cânceres de mama e cervical.
Revista Brasileira
de Epidemiologia Estudo qualitativo, transversal.
[online]
PEREIRA et al,
B2 Caracterizar o perfil das violências, das vítimas e dos prováveis Violência
2020
autores das violências perpetradas contra adolescentes, bem como
Scielo
descrever o percentual de municípios notificantes por unidade da
Federação.
PLoS One, São
BARBOSA et al, Estudo quantitativo, transversal.
Francisco/EUA Agravos à saúde e
2020 A2
Determinar a prevalência e fatores associados à infecção por Tricho- morbidades
PUBMED
monas vaginalis (TV) em mulheres indígenas brasileiras.
Cadernos de
DIAS-SCO- Estudo etnográfico qualitativo.
Saúde Pública Tradição e Aspectos
PEL; SCOPEL, A3
Analisar as práticas relativas à menstruação entre os Munduruku do culturais
2019 Scielo
Amazonas.
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200
PERIÓDICO E BASE QUALIS
AUTORIA METODOLOGIA/OBJETIVO EIXO TEMÁTICO
DE DADOS CAPES
OLIVEIRA et al, Sex., Salud Soc. Estudo qualitativo.
Tradição e Aspectos
2019 A1 Discutir o papel das parteiras nesse contexto, as práticas e as técnicas
Scielo culturais
tradicionais em uma região do Amazonas.
Saúde debate, Rio Qualitativo, revisão de literatura.
de Janeiro
Reunir subsídios para: capacitar os profissionais de saúde da atenção
básica e as parteiras que assistem mulheres e crianças menores de
SILVA et al], cinco anos para exercerem a vigilância alimentar e nutricional nos Agravos à saúde e
2019 B2 serviços de saúde; monitorar e avaliar a intervenção em telessaúde morbidades
Scielo no que diz respeito à adequação nutricional da população assistida
e ao aprimoramento de práticas assistenciais e contribuir para ela-
boração de cardápios baseados em práticas alimentares saudáveis,
respeitando a diversidade cultural, e que sejam ambiental, cultural,
econômica e socialmente sustentáveis.
Epidemiol. Serv.
Estudo quantitativo, descritivo.
Saúde, Brasília
ESTIMA et al, Agravos à saúde e
B2 Descrever as mortes de mulheres em idade reprodutiva e materna
2019 morbidades
Scielo entre indígenas do estado de Pernambuco, Brasil, no período de 2006
a 2012.
Cadernos de
BORGES et al, Saúde Pública
Estudo quantitativo, observacional descritivo.
2019 [online]. Rio de Agravos à saúde e
Janeiro A3
Scielo morbidades
Estimar a mortalidade por câncer em povos indígenas no Estado do
Scielo
Acre, Brasil.
Cadernos de Saú-
GARNELO et al, de Pública [online] Estudo quantitativo, transversal.
Rio de Janeiro Agravos à saúde e
2019 A3
morbidades
Avaliar a atenção pré-natal de mulheres indígenas com idades entre
Scielo
14-49 anos, com filhos menores de 60 meses no Brasil.
Rev. Saúde Pública
Mato Grosso do Revisão integrativa.
Sul (Online) Não
LIMA et al, 2018
possui Compreender as crenças, tradições e práticas acerca da saúde repro-
qualis dutiva, em especial, sobre a iniciação sexual, gravidez, parto e puer-
BVS
pério nas comunidades indígenas do Brasil, de acordo com pesquisas
publicadas entre os anos de 1989 e 2016.
Revista Brasileira
PÍCOLI et al, de Saúde Materno Estudo epidemiológico quantitativo.
Infantil Agravos à saúde e
2017 B2
morbidades
Analisar o perfil epidemiológico dos óbitos maternos segundo raça/
Scielo
cor em Mato Grosso do Sul.
Fonte: Autoria Própria (2022).
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Os periódicos selecionados abarcam as seguintes revistas científicas: Psicol. Conoc.
Soc. (Montevidel); Public Health Nutr. (England), Ethn Health (England), Int J Environ Res
Public Health (Basel, Switzerland); Revista De Enfermagem Da UFSM (Rio Grande do Sul);
Rev. bras. promoç. saúde (Impr.) (Fortaleza); Revista Brasileira de Epidemiologia [online]
(Brasília); Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil (Recife); Rev. Saúde Pública Mato
Grosso do Sul; PLoS One (São Francisco/EUA); Epidemiol. Serv. Saúde, (Brasília); Sex.,
Salud Soc (Rio de Janeiro). Destaca-se Cadernos de Saúde Pública [online] (Rio de Janeiro),
com 3 publicações.
Os resultados obtidos foram esmiuçados a partir da classificação em três eixos, depen-
dendo do conteúdo abordado em cada artigo: 1) Agravos à saúde e morbidades, ao expor
enfermidades e situações de dano à salubridade; 2) Violência, ao debater diferentes abusos
à mulher indígena; e 3) Tradição e aspectos culturais, ao denotar situações estruturadas na
ancestralidade, cultura, crenças e rituais indígenas.
A alta a prevalência de IST entre a população indígena do Alto Rio Solimões e sua
significativa subnotificação, apontam para negligência relacionada ao estudo e ao cuidado
desses povos. A maior prevalência de IST em mulheres indígenas se deu expressivamente
do município de Nova Itália e da etnia Tikuna (GRUBER et al, 2021).
No caso de Trichomonas vaginalis (TV), existe alta prevalência encontrada na popula-
ção indígena, que se compara a populações altamente vulneráveis (presos, profissionais do
sexo e mulheres em regiões com baixos níveis socioeconômicos), além de parecer existir
um subdiagnóstico dessa infecção (BARBOSA et al, 2020).
O HIV é outra doença infecto contagiosa encontrada nos estudos, e também uma
IST. As mulheres potiguaras, embora reconheçam os meios de prevenção da doença, têm
dificuldade para praticar sexo protegidas. Isso, por conta de desigualdades social e de gê-
nero, que afetam as mulheres como um todo (NÓBREGA et al, 2020).
Dessa forma, se reconhece uma incontestável vulnerabilidade dessas mulheres às
IST. Em consequência, é prudente progredir na realização de políticas voltadas para edu-
cação sexual e ações preventivas, e o desenvolvimento de pesquisas que destaquem os
contextos sociais e culturais, assim como o empoderamento dessas mulheres a atitudes
adequadas de cuidado e proteção. Outra ação imprescindível é a capacitação dos profis-
sionais de saúde, que inclua conhecimentos mais intensos sobre as especificidades dessas
mulheres (GRUBER et al, 2021; NÓBREGA et al, 2020; BARBOSA et al, 2020).
Mais uma alta prevalência, é para o excesso de peso e para a obesidade nas mu-
lheres indígenas de 14 a 49 anos. Essa morbidade relaciona-se a determinantes sociais,
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como os indicadores socioeconômicos, condições de vida integradas ao mercado e menor
dependência da produção local de alimentos, assim como aumento da idade e paridade
(COIMBRA et al, 2021). Neste sentido, é preciso ter em conta os resultados de políticas
públicas já implementadas, objetivando melhorar a segurança alimentar e nutricional, além
da realização de estudos que monitorem mudanças na situação nutricional da população
indígena, a fim de gerar estatísticas confiáveis, representativas e constantes, acerca das
condições de saúde das minorias étnicas (COIMBRA et al, 2021).
Os cânceres de colo uterino foram altamente incidentes entre a população indígena
brasileira da Amazônia Ocidental em comparação às mulheres não indígenas. E mesmo
com uma baixa frequência do câncer de mama, apenas o fato de estar presente entre as
mulheres indígenas indica um cenário de transição epidemiológica complexo nesses povos
(BORGES et al, 2019).
Neoplasias passíveis de prevenção, como câncer cervical, e relacionadas ao subde-
senvolvimento, como estômago e fígado, corresponderam a cerca de 49,4% dos óbitos entre
indígenas (BORGES et al, 2019). A mortalidade por câncer cervical, estômago, fígado e
leucemias esteve acima de 30% entre as mulheres indígenas (BORGES et al, 2019).
Deve existir atenção à necessidade de estruturação dos programas de controle do
câncer cervical, além do diagnóstico e tratamento adequado para as neoplasias obser-
vadas em mulheres indígenas adultas e idosas, pois os cânceres de mama e do colo do
útero têm arrebatado muitas vidas, mesmo que se tratem de doenças preveníveis e com
exames preventivos ofertados na Atenção Primária à Saúde (SOUZA et al, 2020). Ressalta-
se a importância da adequação dos serviços às necessidades das populações indígenas,
abrangendo programas de educação em saúde tangentes ao rastreamento, diagnóstico e
tratamento oncológico, “culturalmente sensíveis e em trabalho de parceria com as comuni-
dades” (BORGES et al, 2019, p. 10).
Tão preocupante quanto as já citadas enfermidades, a exposição crônica ao mercúrio
tem causado efeitos nocivos às comunidades indígenas, significativamente em grupos vul-
neráveis da população, como mulheres em idade fértil. É relevante atentar para as propostas
de “interrupção da mineração ilegal nessas áreas e desenvolver um plano de gestão de
riscos que vise garantir a saúde, os meios de subsistência e os direitos humanos dos povos
indígenas da Bacia Amazônica” (BASTA et al, 2021, p.7).
Existe ainda, resultados bastante desfavoráveis para mortalidade materna, de mulheres
em idade reprodutiva (ESTIMA et al, 2019) e indicadores para o pré-natal (GARNELO et al,
2018). Foram identificadas:
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Iniquidades sociais e sanitárias, inclusive quando as mulheres indígenas são
comparadas com segmentos da população brasileira com alta vulnerabilidade
social e deficiência de cobertura de atenção à saúde. Os baixos percentuais
de assistência à saúde apontados para as mulheres da Região Norte como
um todo, incidem também nas minorias étnicas, contribuindo para as grandes
lacunas encontradas na oferta de ações do pré-natal às mulheres indígenas
(GARNELO et al, 2018, p.10).
Violência
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Apesar de apenas um artigo (PEREIRA et al, 2020) sobre violência ter sido selecio-
nado para esta revisão integrativa, cabe ressaltar a extrema importância em desvelar seus
dados ao “caracterizar o perfil das violências, das vítimas das violências perpetradas contra
adolescentes, bem como descrever o percentual de municípios notificantes por unidade da
Federação” (PEREIRA et al, 2020, p. 21). Os autores asseveram que a violência sexual
ocorreu preponderantemente no sexo feminino, sendo prevalente entre 10 e 14 anos, nas
raças/cores indígena, negra e amarela, quando perpetrada de forma repetitiva, no domicílio.
Vivemos contemporaneamente a um cenário de intensificação de violências contra os
povos indígenas e especificamente contra as mulheres. Apenas em agosto de 2021 foram
assassinadas uma adolescente do povo Kaingang, do Rio Grande do Sul, e uma criança
de 11 anos do povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul. Para além da falta de dados
específicos da violência contra as mulheres indígenas, seja a étnica ou de gênero, as mu-
lheres são as mais impactadas pelas invasões de suas terras (HAJE, 2022).
Dada a sórdida natureza desses agravos, essas violências criam notáveis danos à
saúde mental, física, sexual e reprodutiva. Trata-se de um problema difícil e multifatorial e
exige intervenções de toda sociedade civil, e intersetorialidade estatal.
Salienta-se a escassez de estudos sobre essa temática, já que se constitui de assunto
concreto e constante na sociedade atual, o que ressoa com maior ruído em minorias em
direitos e étnicas. Faz-se necessário maior sensibilidade e um olhar diligente à essa barbárie
de raiz histórica, cultural e patriarcal.
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Os Munduruku da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, Amazonas, valorizam os laços so-
ciais e a participação no universo de relações cosmológicas, semelhante a outros povos
indígenas. Isso difere da noção biomédica de corpo excessivamente reducionista e mate-
rialista, que surge como obstáculo à promoção da atenção diferenciada. Os saberes e prá-
ticas emergem por meio de experiências coletivas repassadas entre gerações de mulheres
(DIAS-SCOPEL et al, 2019).
Nota-se que a cultura é indissociável da saúde para as indígenas, e desse modo,
verifica-se que a culturalidade pode se apresentar como um obstáculo para a saúde das
mulheres indígenas quando profissionais dessa área não utilizam uma abordagem alicerçada
no diálogo e no encontro das duas formas de saber (ABRITTA et al, 2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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indígena, em suas diversas vertentes, além do processo saúde-doença, para o empodera-
mento e concessão de seu espaço de vivência, fala e práticas, com pleno respeito aos seus
direitos humanos e culturais.
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SOBRE OS ORGANIZADORES
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ÍNDICE REMISSIVO
A D
Altas Habilidades/Superdotação: 133, 134, 148 Desigualdades: 67, 116
Amazonas: 13, 14, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, Dioscorea Trifida: 154, 155, 163, 164
27, 29, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 49, 50, 51, 52, 53,
55, 68, 74, 109, 154, 158, 163, 164, 198, 199, 204, E
205, 207
Educação: 23, 37, 40, 41, 44, 45, 51, 101, 130,
Amazônia: 23, 51, 71, 72, 74, 83, 87, 105, 106, 131, 133, 134, 136, 137, 138, 139, 142, 143, 144,
107, 109, 110, 111, 112, 132, 133, 134, 140, 141, 146, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 163, 167, 172,
142, 143, 144, 146, 147, 150, 152, 155, 157, 162, 173, 205, 207
174, 175, 176, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 192,
198, 201, 205 Educação Ribeirinha: 133, 139, 150, 153
Enfermagem: 13, 15, 16, 22, 23, 68, 69, 102, 198,
Amazônia Amapaense: 133, 134, 143 200, 206, 207
C Mídia Alternativa: 72
Câncer: 53, 54, 57, 58, 62, 68, 69, 70, 102 Mulheres: 69, 115, 116, 122, 128, 129, 130, 194,
196, 205, 206
Castanha da Amazônia: 175, 191
P
Cirurgia: 53
Pesquisa Acadêmica: 13
Colo: 53, 70
Plano de Manejo: 105, 106, 108, 109, 110, 111,
Comunidade Indígena: 37 112, 113
Contextualização: 155 R
Covid-19: 37, 50, 51, 196 Redes Organizacionais Solidárias: 175, 177,
180, 181, 182, 184, 186
CTSA: 155, 157, 158, 161, 162, 163, 165, 166, 167,
168, 169, 170, 172 S
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ÍNDICE REMISSIVO
Sateré-Mawé: 24, 25, 26, 27, 29, 39, 40, 41, 42, 44,
46, 47, 48, 49, 50
T
Taxa de Letalidade: 92
U
Unidades de Conservação: 105, 106, 107, 108,
109, 110, 111, 112, 113
Útero: 53, 70
Z
Zotero: 25, 28, 29, 32, 34, 35
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