Artigo FUNDAMENTOS HISTORICOS DO GRAU DE COMPANHEIRO MACOM
Artigo FUNDAMENTOS HISTORICOS DO GRAU DE COMPANHEIRO MACOM
Artigo FUNDAMENTOS HISTORICOS DO GRAU DE COMPANHEIRO MACOM
Irmão Theobaldo Varoli Filho
Ainda, a meta do Obreiro deve ser a realização de um mundo melhor. Numa palavra,
o objetivo do maçom é a Eubiose, isto é, a vida melhor possível e mais elevada para
toda a humanidade.
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O conceito maçônico de “Eubiose” é muito mais elevado do que aquele que
corresponde à “Eubiótica”, ou Arte de Bem Viver, dos antigos gregos. Os maçons
não se apegam ao estritamente individual, nem ao conformismo, nem ao teórico,
desanimado ou cômodo “desprendimento”, ou “desligamento subjetivo”, tão
decantado pelos antigos estoicos. Na Maçonaria a Eubiose tem o seu mais amplo
significado e objetivos de aproveitamento da Ciência e do Progresso conjugados
com a força do Espírito, para realização do Bem Geral.
Por outro lado, não há estranhar que grande parte dos símbolos maçônicos do grau
de Companheiro sejam semelhantes a tantos outros da velha magia, da alquimia
mística, da cabala hebraica, da cabala cristã ou mista, do ocultismo e de outras
correntes do pensamento mágico. A Maçonaria conservou tais símbolos, mas não
lhes adotou os mesmos significados, respeitando-lhes, entretanto, o caráter
histórico e a influência que exercem na evolução do pensamento.
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A verdade é que as fantasiosas concepções de hermetistas, mágicos e “alquimistas
místicos” já estavam de todo arrasadas. Descartes já lhes havia dado o golpe mortal.
Tentava-se, pois, uma conciliação. Daí os velhos símbolos passaram a ser
interpretados de maneira diferente e, em alguns casos, de modo contrário ao da já
arcaica doutrina original. Essa foi uma das primordiais preocupações dos
Rosacruzes, principais e preponderantes fundadores da Maçonaria Especulativa, ou
não operativa. Nada de admirar, por conseguinte, que os rituais espalhados depois
da fundação da Grande Loja Inglesa (24 de junho de 1717), primeiro na Inglaterra,
depois na França, e depois nos demais países europeus, ficassem impregnados de
símbolos dos alquimistas, cabalistas, mágicos e teosofistas.
Sabe-se que Newton foi um dos amigos de Desaguliers, o parceiro de Anderson nos
trabalhos de fundação da Grande Loja Inglesa. A influência das descobertas de
Newton repercutiu de tal maneira nas lojas a ponto de, mais tarde, a letra “G” do
pentagrama ganhar mais outro significado – o de Gravidade ou Gravitação.
Conserva-se, porém, a originalidade da doutrina pitagórica do pentáculo ou
pentagrama. Essa doutrina, de acordo com o testemunho de escritores gregos, tinha
relações com os mistérios órficos, dos quais a escola itálica derivou parcialmente.
Desse modo, o polígono estelar de cinco pontas representava a criatura humana, de
cabeça e quatro membros, dotada do “pneuma” ou sopro divino encarnado no corpo
(“soma”) ou tumba (“sema”). A ação e manifestação do Uno (três, triângulo), unidade
suprema indivisível e hermafrodita, somando-se ao corpo material (dois, ou divisão
em dois sexos opostos), constituía o pentáculo ou Estrela Hominal, obra máxima da
Sabedoria Divina e do Conhecimento Perfeito ou GNOSE. Em suma, o significado
principal do pentáculo era SABEDORIA.
Por sua vez a Geometria, de origem egípcia, não devia ser esquecida. Base da arte
de construir, da medida das terras férteis às margens do Nilo, das relações
triangulares e do círculo, da Astronomia, serviu de fundamento filosófico para os
gregos, despertando os conceitos de ORDEM, EQUILÍBRIO E HARMONIA DO
UNIVERSO. Quando Euclides (306-283 a.C.), sob o reinado de Ptolomeu I, em
Alexandria, publicara os seus “Elementos”, a Geometria já era uma velha
preocupação dos sábios gregos e uma verdadeira moda entre os filósofos e pessoas
esclarecidas. Sabe-se mais, que Euclides apenas compilou o que já era conhecido e
o que já tinha sido ensinado pelo geômetra Hipócrates de Quios (não o célebre
médico, seu homônimo).
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A magia – (à qual Pitágoras também se dedicava), - e a alquimia mística fantasiaram
diversos significados para o pentagrama. Para os mágicos, este símbolo ficava num
altar e dentro de um triângulo em cujos vértices estavam a lamparina, o turíbulo ou
incensório, e o globo. Para os alquimistas místicos o significado podia ser esse
mesmo ou, preferivelmente, outro que passaremos a explicar.
O anseio de vida longa era um sonho milenar que os hindus e chineses também
alimentavam. Era a verdadeira OBRA DA VIDA (da qual falam os rituais de
Companheiro Maçom, mas com as diferenças já explicadas).
Por aí se pode inferir que a Estrela Flamígera não é símbolo genuinamente maçônico.
Os Pedreiros-Livres a ignoravam e, posteriormente o Rito de Iorque (1815) viria a
preferir a “Blazing Star”, estrela de seis pontas, signo de Salomão ou dois triângulos
equiláteros entrelaçados e opostos.
Além de ser o mais histórico, o mais científico e o mais realista dos graus maçônicos,
o ciclo do Companheiro Maçom é verdadeiramente o único de mais antiga tradição.
O grau de Mestre surgiu na Maçonaria Especulativa em 1723 e veio a implantar-se
em 1738. Na maçonaria operativa medieval só havia realmente companheiros, eis
que os mestres, escolhidos entre os obreiros mais experimentados, exerciam apenas
as funções de direção dos trabalhos.
A Maçonaria tem coisas muito melhores para contar. Sempre houve maçons
esclarecidos. Muitos deles foram verdadeiros mestres de doutrinas e gênios
criadores do pensamento. Para não falar dos maçons que se ligaram aos
enciclopedistas, aos iluministas que surgiram depois de Newton, aos filósofos que,
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pela força de suas ideias, produziram a Revolução Francesa, citaríamos, por
exemplo, Lessing e Fichte, que chegaram, cada qual a seu modo, a doutrinar
princípios hauridos do grau de Companheiro Maçom. De Fichte, Vigilante de uma loja
alemã dirigida por Fessler, temos, por exemplo, a doutrina do binário EU e NÃO EU,
lados de um triângulo.
Por outro lado, é espantoso verificar que, em muitos casos, a doutrina maçônica
antecedeu a conceitos filosóficos contemporâneos. Assim ocorreu com a filosofia da
Ação e da Vida, divulgada neste século nos meios profanos. Essa filosofia começou
com Carlos Pierce, passou a ser desenvolvida por William James, autor de “O
Pragmatismo” (nome que se deu à doutrina de ação), e chegou às culminâncias com
Bergson e Blondel, pensadores que ainda podem ser considerados atuais. Pois,
muito antes dessa filosofia profana, os rituais de Companheiro Maçom, já ensinavam
a doutrina da Ação e da Vida, a prevalência da Intuição, ao mesmo tempo em que
enalteciam a Juventude e a Renovação Social.