500 Uma Espiã para A Eternidade
500 Uma Espiã para A Eternidade
500 Uma Espiã para A Eternidade
Título original:
“Una Espia Para La Eternidad”
Tradução de Izabel Xrisô Baroni
Capa de Benicio
Colaboração de
Eduardo Pinheiro Neto
® 510809 – 510530
INTROITO
Mister Cavanagh, o chefe do Grupo de Ação da CIA,
deteve o carro na frente do chalé que era seu domicílio
particular já há algum tempo, localizado em bairro
exclusivamente residencial que não ficava muito longe de
Washington e nem tampouco de Langley, onde estava
instalada a Central da CIA que ele chefiava.
Naquela tarde estava sentindo-se cansado depois de um
dia decepcionante quando, nada tinha conseguido para
desvendar os vários mistérios da espionagem internacional,
dos casos que deviam ser resolvidos com alguma urgência.
Agora, só queria chegar em casa, escutar uma música suave,
preparar um aperitivo e depois algo apetitoso para o jantar.
Um plano perfeito que pelo menos, em nada podia ser
comparado com os que tinham que organizar diariamente
para depois distribui-los por seus agentes que se
encontravam em todas as partes do mundo, prestando
colaboração valiosa à CIA.
Instintivamente, olhou com desconfiança para o carro que
estava estacionado a quase quarenta metros do chalé, na
avenida solitária e silenciosa. Teve a impressão de ter visto
duas pessoas sentadas no banco dianteiro e franziu o cenho.
Porém, logo em seguida pensou que estava voltando para
casa depois de uma jornada de trabalho e que,
afortunadamente, ainda existiam muitas pessoas normais e
pacíficas vivendo no mundo, pessoas que nada tinham a ver
com a espionagem ou com os espiões.
Apertou o botão de controle remoto para abrir a garagem.
Entrou com o carro e apertou outro botão similar para arriar
a porta. Saiu do carro, fechou-o e depois entrou por uma
porta que ia dar diretamente no vestíbulo da casa.
Eram quase sete horas da tarde e o sol começava a
descambar no ocidente.
Até agora tudo ia muito bem. Até podia dizer que estava
prometendo uma noite perfeita.
Despia o casaco quando a campainha tilintou. Teve um
gesto de irritação, mas se aproximou da porta do vestíbulo e
olhou pelo olho mágico.
Viu dois jovens. Um homem e uma mulher. Seus rostos
estavam ligeiramente deformados pelo olho mágico, mas
depois de examiná-los por alguns segundos, concluiu que
não os conhecia. Naquela noite só desejava descansar porque
estava sentindo-se exausto e não tinha vontade de receber
ninguém. Imediatamente sentiu-se novamente desconfiado,
mas classificou sua maneira de pensar como incoerente e
pueril. Resolveu abrir.
Abriu a porta e ficou petrificado quando viu os rostos dos
jovens que estavam parados a sua frente. Parecia que o
coração queria arrebentar as paredes do tórax tal a força que
expulsava. Estava vendo dois rostos desconhecidos e ao
mesmo tempo, subitamente, tinha a impressão de estar vendo
um rosto muito conhecido e amado. Talvez fosse apenas uma
ilusão, um delírio provocado pelo excesso de trabalho que
vinha fazendo ultimamente, sem se importar com o peso dos
anos que carregava às costas.
Os dois jovens o fitavam com atenção, sorrindo
levemente. O sorriso de ambos quase provocava um infarto
em Mister Cavanagh. Eram idênticos entre si e novamente o
faziam lembrar-se de outro sorriso que conhecia já há anos, o
sorriso de uma pessoa que era muito querida por ele.
— Perdoe-me, o senhor é Mister Cavanagh? —
perguntou o jovem em inglês perfeito.
— Sim.
— Nós somos Héctor e Bridget Diosdado. Viemos da
Argentina especialmente para conversar com o senhor, isto
se nos puder ceder alguns minutos.
Mister Cavanagh estava lívido. Queria respirar e não
podia, queria falar, mas a voz desaparecera de sua garganta.
Sua única reação, foi afastar-se da porta para permitir que os
jovens entrassem.
Eram pouco mais de oito horas da manhã e Brigitte
estava tomando uma ducha quando o telefone começou a
chamar no quarto de banho. Normalmente ela nem teria se
preocupado com as chamadas insistentes porque Peggy
poderia atendê-lo na cozinha. Certamente era onde ela
estava, a fim de preparar o desjejum para ambas.
Porém àquela manhã tudo estava diferente. Ela estava
esperando um telefonema de Número Um quando então
combinariam o local e o horário do encontro.
Fechou a torneira, enrolou-se na toalha e atendeu
rapidamente:
— Sim?
— Brigitte, sou eu — soou a voz de Mister Cavanagh. —
Preciso vê-la hoje de manhã.
— Não posso. Estou esperando um telefonema de Um e
não gostaria que quando ele chamasse, não me encontrasse
em casa. Talvez eu vá depois do almoço. Concorda?
— Não. É urgente. Peça para Pitzer providenciar um
helicóptero para trazê-la e um carro que a apanhe quando
este pousar. Eu a estou esperando em minha casa.
— Quer dizer que não preciso ir à Central?
— Não. Deve vir diretamente a minha casa e quanto mais
cedo melhor.
— Está bem. Chegarei aí dentro de duas horas.
— Obrigado e até lá.
Cavanagh desligou e Brigitte também. Depois se enxugou
lentamente, vestiu um roupão e foi para o quarto. Abriu o
armário e escolheu um vestido branco para usar àquela
manhã e em seguida, apanhou sua indefectível maletinha
vermelha estampada de florezinhas azuis que colocou em
cima da cama. Muitos a julgariam uma bolsa normal, mas
era nesta que a espiã mais famosa do mundo carregava todos
os apetrechos que vinha usando há anos, como as lentes de
contato que mudavam a expressão de seus olhos em questão
de segundos, as perucas que quase trocavam seu aspecto
totalmente, os recheios de plástico que lhe deformavam as
feições. Fora a pistolinha nacarada de madrepérola, o rádio
que, sem dúvida alguma era seu mais eficaz auxiliar, além
dos gases letais, narcóticos e a coleção de passaportes falsos
que sempre facilitavam o serviço que devia realizar.
Não sabia o que era , mas algo importante devia estar
acontecendo. Já era amiga de Cavanagh há muitos, muitos
anos, desde quando ainda era uma espiã inexperiente, no
verdor dos anos e pôde salvar sua vida quando ambos
trabalhavam no cumprimento daquela missão simples na
aparência. O serviço estava sendo realizado em Buenos
Aires...
Levou alguns segundos perdida em pensamentos
distantes, mas reagiu e comentou à meia voz:
— Se Cavanagh me quer, irei preparada para enfrentar
qualquer contingência. Algo muito sério deve estar
ocorrendo...
❖❖❖
Parou o carro na frente do chalé e olhou a sua volta. Tudo
parecia normal. O chalé fora construído em uma avenida
residencial que só tinha casas de luxo e como sempre,
naquela manhã continuava com seu aspecto normal: nenhum
movimento e silêncio quase absoluto. Um pouco atrás, tinha
visto um carro de consertos da telefônica parado na esquina e
agora, um pouco mais à frente, quase a cinquenta metros do
chalé estava um automóvel moderno estacionado. Observou-
o com mais atenção e' confirmou que estava vazio.
Olhou o relógio de pulso, já eram quase dez e meia de
uma manhã magnífica.
Desligou o motor. Apanhou a maleta vermelha. Fechou o
carro e saiu. Antes que pudesse apertar a campainha, a porta
foi aberta e o chofer em pessoa ficou parado no umbral da
mesma.
Avaliou-o com um olhar e concluiu que o caso não era
tão perigoso como havia temido, mas nem por isso menos
sério porque seu velho amigo estava muito tenso e
angustiado.
— Me chamou e eu já estou aqui — disse Brigitte,
beijando-o nas faces. — O que aconteceu?
— Venha comigo — sussurrou o velho espião.
Ela entrou na casa e ele fechou a porta. Levou-a para uma
das salas que estavam à esquerda do vestíbulo. Brigitte foi a
primeira a entrar.
Frente à porta estavam dois jovens, de pé, olhando
fixamente para ela com olhar bastante ansioso. Brigitte assim
que os viu teve a impressão que c coração ia estourar dentro
do peito e que as pernas não tinham mais forças para mantê-
la na posição vertical. Sentiu como se fosse desmaiar. Levou
a mão direita ao peito, tentando acalmar-se, seus lábios
tremiam e ela não encontrava forças para falar. Depois de
algum tempo conseguiu apenas murmurar:
— Meu Deus...
Cavanagh aproximou-se dela e retirou a maleta que ainda
continuava segurando com a mão esquerda. Pôs a mão em
seu braço com a intenção de levá-la até uma poltrona, mas a
espiã continuou parada no mesmo lugar, como se estivesse
cravada no chão. Apenas seus olhos continuavam móveis e
passavam de um rosto para o outro, incessantemente. Ambos
eram lindos... lindos!
O rapaz devia ter mais de um metro e oitenta e corpo de
atleta. Tinha um rosto belíssimo, de linhas duras e másculas,
cabelos negros e ondulados e seus olhos eram azuis, tão
azuis como o azul-anil do céu. A jovem também era alta,
com mais de um metro e setenta e cinco, dona de um corpo
esbelto e muito harmonioso. Também tinha olhos azuis, mas
seu olhar era mais malicioso e suas pupilas brilhavam como
se tivessem uma miríade de estrelas. Os cabelos também
eram negros e ondulados, mas seu maior encanto se centrava
na covinha que tinha bem no meio do queixo.
A espiã olhava para a jovem e parecia estar vendo a
adolescente Brigitte Montfort contemplando-se no espelho.
A garota era uma cópia da imagem que antigamente ela
própria via refletida no cristal. E essa mesma impressão se
repetia quando olhava para o rapaz de feições enérgicas. Este
tinha os pômulos salientes como a maioria dos eslavos...
iguaizinhos aos da espiã mais perigosa do mundo.
— Talvez nós devêssemos ter-lhe telefonado antes —
falou Héctor com um timbre de voz muito agradável.
A moça deu alguns passos à frente e segurou sua mão.
— Não seria muito apropriado a agente Baby perder os
sentidos, mamãe. Procure ficar calma.
De um momento para o outro, tal como sempre acontecia
quando se encontrava diante de uma situação difícil ou
perigosa, ela se acalmou e conseguiu dominar-se
completamente, embora o rosto continuasse pálido como o
de um cadáver.
Tudo aconteceu de repente. Desviou o olhar para
Cavanagh que, também estava pálido, angustiado.
— Você me mentiu! — exclamou com voz trêmula. —
Não entendo por que, mas VOCÊ ME MENTIU! Mentiu no
primeiro dia e manteve a mentira por todos os anos que
passou convivendo comigo e eu pensando que fosse meu
amigo! Você não passa de um grande... velhaco!
Cavanagh não respondeu. Já trabalhava há muitos anos
com Baby e jamais tinha sabido que era algum dia, a garota
mais mimada da CIA tivesse insultado um colega.
Reconhecia que merecia aquele tratamento, mas tivera
motivos para agir daquela forma...
— Naquele dia só pensei em seu bem e... no bem de
todos — murmurou.
— Falou que meus filhos tinham morrido e agora me diz
que fez tudo por MEU BEM!
— E pelo bem de todos — insistiu Cavanagh.
A espiã mais famosa do mundo o fitou com fúria e de
novo olhou para os jovens.
— Só posso presumir que seu pai também não morreu —
murmurou.
— Naquele acidente, não — respondeu o rapaz. — Papai
faleceu exatamente há uma semana na nossa fazenda, no
Pampa.
— Nada sei sobre essa fazenda.
— Papai comprou-a em nome de outra pessoa e agora
nosso advogado está tratando do caso para passá-la para
nosso nome. Para meu nome e o de minha irmã. Nada
oferecemos a você porque desde que o pai nos pôs a par de
nossa história, soubemos que você é uma mulher rica e
famosa. Até poucos meses atrás, pensávamos que nossa mãe
tinha morrido quando ainda éramos bebês.
— E eu pensando que meus filhos tinham falecido
naquele desastre horrível. Nunca poderia imaginar que tinha
dois filhos que já têm vinte anos... Passei todos este tempo
sem saber de vocês. Vivi sendo enganada por aqueles que
diziam me amar... Tenho dois filhos lindos e nem como eles
se chamam!
— Eu me chamo Bridget — disse a moça, abraçando-a
com carinho. — E ele é Héctor. Q-janto a você, não
precisamos saber mais nada porque desde que soubemos
quem era nossa mãe vasculhamos toda sua vida e ficamos
sabendo de tudo que se relaciona com você.
— E agora somos seus admiradores mais entusiastas —
sorriu Héctor.
Não cansava de contemplar os filhos que tinham
retornado de forma tão inesperada. Os dois eram lindos,
tinham olhos azuis e sorrisos encantadores. Eram tão
maravilhosos que mais pareciam fruto de um sonho do que
duas pessoas da vida real.
E subitamente, Brigitte Montfort começou a soluçar.
❖❖❖
O pranto da senhorita Montfort desorientou ainda mais os
três sujeitos que estavam na escuta, usando aparelhagem das
mais modernas que fora instalada no interior de uma
camioneta modelo grande. O veículo tinha janelas amplas
nas partes laterais, mas os vidros colocados tanto nestas,
como no para-brisa eram feitos de um material especial que
impedia que alguém de fora pudesse ver o interior do carro,
mas não prejudicava a visão que eles tinham do exterior.
Estavam estacionados a menos de duzentos metros da
casa de Cavanagh em uma rua transversal, diante de uma
casa desocupada e esta impedia que continuassem vendo o
que acontecia no chalé, mas de certo modo também os
protegia porque os agentes da C/A não tinham condição de
ver aquele carro estranho parado horas a fio em um bairro
estritamente residencial.
De qualquer modo, a vantagem sempre seria deles porque
se de um momento para o outro, resolvessem ver o que
estava acontecendo no chalé, só precisavam pôr o carro em
marcha, aproximá-lo da esquina e olhar através dos vidros
especiais.
Tudo estava sob controle.
Os três homens se entreolharam e um comentou em voz
baixa:
— A coisa está ficando mais interessante do que se podia
esperar. Ontem à noite soubemos que a famosíssima e
“solteiríssima” Brigitte Montfort é mãe de dois filhos
gêmeos e se não entendemos mal, ela também é a agente
mais famosa do mundo. Nada mais, nada menos do que a
agente Baby.
— Creio que não deveríamos estar tão surpresos. Tudo se
encaixa perfeitamente e não nos esqueçamos que estamos
controlando a casa do chefe do Grupo de Ação da CIA.
— Acho melhor eu ir avisar Ottobermayer. Vou trazê-lo
comigo. É bom que fique na escuta conosco e tome as
decisões que julgar conveniente. Continuem escutando e
gravando.
❖❖❖
— Está se sentindo melhor? — perguntou Bridget com
um sorriso magnífico, olhando para a mãe que estava sentada
entre eles no sofá.
— Estou muito bem. Sempre soube controlar minhas
emoções... Não costumo chorar como uma tola. °
— Chorar não é dos tolos, mamãe — protestou Bridget.
— Ê uma reação normal das pessoas que têm sentimentos.
— Concordo — respondeu, olhando para Cavanagh. —
Eu jamais o perdoarei!
— Nós também ficamos enfurecidos contra papai quando
ele nos confessou que você estava viva e que nós dois não
éramos órfãos conforme supúnhamos — sorriu Bridget. —
Mas não tivemos outro remédio senão perdoá-lo.
— Por quê?
— Mamãe, que pergunta! — riu a jovem. — Nós
perdoamos papai porque gostávamos dele, porque nós o
amávamos! E também, quando nos explicou porque tinham
aquela mentira e quais os resultados — observou ela, —
acabou convencendo-nos porque vime; que realmente suas
intenções eram nobres e generosas. Sei que tanto ele como
Mister Cavanagh estavam certos, embora nos sacrificando.
— Verdade? — perguntou Brigitte, olhando com menos
hostilidade para o chefe. — Quais eram suas intenções e por
que forjaram a mentira?
— Papai e Mister Cavanagh eram bem jovens naquela
época, mas depois que conheceram melhor a moça que a
CIA tinha enviado para colaborar no caso de Buenos Aires,
concluíram que seu destino poderia ser um caminho muito
mais amplo do que dar de mamar e mudar fraldas em dois
bebês, dia e noite. Pensaram que a jovem poderia ajudar
muita gente no futuro. Papai também falou que naquele
tempo era um sujeito pobre e achou que não tinha o direito
de forçá-la a uma vida de intelectual pobretão. Que se por
acaso tivesse chegado aos Estados Unidos como marido ou
companheiro sul-americano de uma mulher com seu futuro,
isso não seria bom para nenhum dos dois, embora fosse mais
prejudicial a você. Disse-nos. que foi difícil tomar uma
decisão definitiva, mas que Mister Cavanagh ajudou-o
muito, muito mesmo quando disse que você tinha um destino
fulgurante para ser palmilhado e que anulá-lo, seria como
prejudicar a humanidade inteira.
— E eu estava certo ao fazer tal afirmação — disse
Cavanagh —, ou você vai negar que conseguiu solucionar e
contornar problemas e conflitos tremendos que poderiam ter
causado a morte de milhares de pessoas ou até mesmo
desencadeado a terceira guerra mundial? Se você tivesse
dedicado sua vida às crianças, jamais teria feito todo o bem
que fez. Se Baby não tivesse arriscado a vida pelo bem-estar
da humanidade, talvez nem mesmo a própria humanidade
existisse agora!
— Pare de falar tantas barbaridades! —- disse Brigitte.
— Talvez eu esteja exagerando um pouco, mas não são
barbaridades — retrucou Cavanagh com firmeza. — Você
melhor do que ninguém sabe o que teria acontecido no
mundo se a agente Baby não tivesse intervido.
— Bem, eu podia ter sido a mãe para meus filhos e
também a agente Baby que sou. Ninguém precisava...
— Pare de falar disparates, Brigitte. Em primeiro lugar,
uma mulher com dois filhos se dedica mais a estes do que a
humanidade em geral. Em segundo lugar, você teria agido de
forma diferente. Não teria feito tudo que fez, temendo que
algum inimigo pudesse descobrir que tinha dois filhos e
vingar-se nas crianças. Também a agente Baby se tivesse
dois filhos esperando-a em casa, jamais teria se exposto a
perigos como você fez todos estes anos. Não por falta de
coragem, mas porque primeiramente, sempre ia pensar nas
crianças que a esperavam... Suas decisões, intervenções
teriam sido diferentes. E não me venha dizer que não, porque
você nunca foi um robô. É uma pessoa normal como todas as
outras!
— Mister Cavanagh tem toda razão — riu Bridget. —
Mamãe, você tem que nos contar muitas coisas! Papai
sempre se comunicava com Mister Cavanagh para pedir-lhe
notícias suas. Somente por isso quando nos disse que nossa
mãe estava viva, pôde nos explicar quem você era: uma
jornalista famosa do “Morning News” e uma espiã tão
famosa como a jornalista... Mas agora quero saber tudo!
— Quanto tempo faz que souberam de tudo?
— Pouco mais de dois anos — disse Héctor.
— Pouco mais de dois anos! — quase gritou a divina. —
Há dois anos sabem que estou viva e nunca me procuraram!
— Papai nos fez prometer que somente iríamos procurá-
la depois de sua morte.
— E se ele ainda vivesse mais cem anos?
— Não, mamãe — disse Bridget docemente.
— Papai quando conversou conosco já estava muito
doente. Sabia que não tinha muito tempo de vida e não
queria que você o visse enfermo. Foi por isso que quando
veio vê-la pela última vez...
— O quê? Ele me veio ver! — exclamou Brigitte.
— Não veio uma, mas esteve várias vezes em Nova
Iorque só para vê-la de longe — explicou Héctor. — E na
última vez, nós o acompanhamos. Passamos dois dias
seguindo você. Eu ao volante do carro e Bridget cuidando de
papai no banco de trás. Nós a seguimos por toda Nova
Iorque e quando ele decidiu que precisávamos voltar para a
Argentina, disse-nos: Filhes, sei que nunca mais a verei, mas
isso não importa porque ela sempre esteve em minha vida
desde c dia em que nos conhecemos.
Brigitte novamente pensou que fosse desmaiar e fechou
os olhos, enquanto as lágrimas deslizavam por suas faces.
Enquanto isso acontecia no seu corpo físico, a parte
espiritual ia sendo arrastada para onde estavam parte das
melhores recordações de sua vida...
❖❖❖
— Suponho que seja a agente ianque que é capaz de
resolver todos os casos que surjam a sua frente — falou,
sorrindo.
— O senhor quem é?
— Sou Héctor Diosdado. Nem perca seu tempo
procurando localizar-me em seu arquivo mental, pois tenho
certeza que jamais ouviu alguém falar de mim. Sou apenas
um patriota argentino que atualmente considera a
intervenção da CIA válida, a fim de evitar-se danos maiores.
Porém vou dizer-lhe uma coisa,-mocinha: Sou um homem
que nunca gostou da CIA.
— Nem eu gosto — respondeu a jovem senhorita
Montfort, sorrindo.
— E quer que eu acredite?
— O senhor é um grosseiro.
Héctor Diosdado segurou seu rosto com ambas as mãos e
beijou Brigitte Montfort nos lábios. Ela não se moveu, não
reagiu, não resistiu e nem correspondeu. Deixou-o fazer, mas
estremeceu quando a carícia se tornou mais profunda e
íntima. De repente, Héctor deixou de beijá-la, fitou-a nos
olhos, enquanto recitava suavemente:
Nesses olhes azuis como o céu vejo vida e alegria
Queira Deus que muito cedo, algum dia, possam ser meu
consolo e companhia
NUNCA É FINAL
A espiã voltou novamente ao chalé de Mister Cavanagh
que agora já fora posto em uma maca para ser transportado à
clínica da CIA.
— Jamais voltarei a esta casa, mas farei o que sempre
desejei: viver num pequeno chalé à beira-mar — disse o
espião veterano.
— Formidável a gente fazer o que sempre desejou —
sorriu Brigitte. — Rapazes, já podem levá-lo a nossa clínica.
— E vocês o que vão fazer? — exclamou Cavanagh.
— Vamos para meu apartamento. Vamos celebrar o
encontro com um brinde de champanha.
— Todos vão estar reunidos, menos eu.
— Vai ver estava precisando receber um castigo — sorriu
Brigitte —, mas não fique tristonho porque vamos tomar
muito champanha juntos, meu amigo.
— Nunca mais com a agente Baby, mas com a senhorita
Montfort — explicou Héctor Diosdado.
— É verdade, Brigitte? — perguntou Minello.
— Acho que sim, Frankie — respondeu, abraçando
Número Um. — Hoje temos muitas coisas para celebrar.
A última coisa que viu e sentiu naquela noite foram os
beijos e as carícias do homem que amava e, naquele
momento ela teve certeza de que efetivamente tinha sabido
construir uma vida que realmente fora colocada ao serviço
de seus semelhantes.
Talvez por isso, a vida agora estava lhe dando tantos
prêmios.
Prêmios estes que a acompanhariam por toda A
Eternidade.
❖FIM?❖