Liberdade Perdida (Série Alianà A de Sangue Livro 2)
Liberdade Perdida (Série Alianà A de Sangue Livro 2)
Liberdade Perdida (Série Alianà A de Sangue Livro 2)
Sinopse
Nota da autora
Bem-vindo ao futuro
A Aliança de Sangue
Prólogo
1. Capítulo um
2. Capítulo dois
3. Capítulo três
4. Capítulo quatro
5. Capítulo cinco
6. Capítulo seis
7. Capítulo sete
8. Capítulo oito
9. Capítulo nove
10. Capítulo dez
11. Capítulo onze
12. Capítulo doze
13. Capítulo treze
14. Capítulo catorze
15. Capítulo quinze
16. Capítulo dezesseis
17. Capítulo dezessete
18. Capítulo dezoito
19. Capítulo dezenove
20. Capítulo vinte
21. Capítulo vinte e um
22. Capítulo vinte e dois
23. Capítulo vinte e três
24. Capítulo vinte e quatro
25. Capítulo vinte e cinco
26. Capítulo vinte e seis
27. Capítulo vinte e sete
28. Capítulo vinte e oito
29. Capítulo vinte e nove
30. Capítulo trinta
31. Capítulo trinta e um
32. Capítulo trinta e dois
33. Capítulo trinta e três
Epílogo
Série Aliança de Sangue
Resistência Perdida
Agradecimentos
Sobre a autora
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Liberdade Perdida
Série Aliança de Sangue — Livro 02
Lexi C. Foss
Copyright de Royally Bitten © Lexi C. Foss, 2019.
Copyright da tradução © 2020 por Andreia Barboza — Bookmarks Serviços Editoriais.
Copidesque da tradução: Luizyana Poletto.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da
imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como
reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, localidades ou
organizações é inteiramente coincidência.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto para o uso
de pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou utilização deste livro, no todo
ou em parte, de qualquer forma, sem a permissão prévia por escrito do detentor dos direitos
autorais deste livro.
Design de capa: Julie Nicholls, Covers by Julie
Fotógrafo: CJC Photography
Modelo da foto: Garrett Riley
ISBN: 978-1-950694-50-1
Created with Vellum
SINOPSE
Rae
Dia de Sangue — o ponto culminante do meu treinamento. O dia em que eu
descobriria meu destino.
Não vou chorar. Não vou implorar. Vou ficar calma.
Emoção é para os fracos, coisa que não sou.
Meu nome é Rae e vou sobreviver a isso.
Mas nunca imaginei que ele chamaria meu nome...
Kylan
Alguém quer me enquadrar por insanidade imortal? Pode ir em frente.
Vou escolher uma lutadora como isca, uma consorte que tenha um lado
desafiador.
E quando o culpado tentar me pegar, serei eu quem o pegará.
Porque ninguém toca no que é meu, incluindo a ruiva enérgica ao meu lado.
Divirta-se,
Lexi
Houve um tempo em que a humanidade governava o mundo enquanto lycans
e vampiros viviam em segredo.
Por ano, doze mortais serão selecionados para competir pelo status imortal do
sangue, a critério da Aliança de Sangue. Desses doze, dois serão mordidos
para a imortalidade. Os outros vão morrer. Criar um lycan ou vampiro fora
desse processo é ilegal e passível de punição com a morte imediata.
Todas as outras leis ficam a critério dos grupos e da realeza, mas não devem
desafiar a Aliança de Sangue.
D IA DE S ANGUE .
Humanos alinhados como gado no matadouro, todos aguardando seu
destino, que estava nas mãos de uma rainha vampira a quem consideravam
uma deusa.
Alguns tentavam fugir, outros choravam e vários aceitavam o que viria
com humildade.
Suspirei. Esses mortais eram os sortudos — os primeiros cinco por cento
do vigésimo segundo ano. Todos os outros estavam a caminho das fazendas
de sangue ou eram mantidos para as caçadas da lua mensais.
Toda cerimônia era igual. Um jogo de poder destinado a manter os
cordeirinhos na linha. Como se precisassem disso.
Olhei para os registros eletrônicos no telefone, observando os atributos da
seleção de harém deste ano. Nada de extraordinário. É claro que os mortais
não poderiam florescer nessas condições.
— Está vendo alguém que te intrigue? — Robyn me perguntou, passando
os dedos bem cuidados no meu braço coberto pelo paletó do terno.
Olhei de lado para a loira bonita em seu vestidinho preto.
— Além de você, querida?
Seus lábios vermelhos se curvaram, e o interesse brilhou em seus olhos
azuis.
— Vamos escolher alguém juntos?
Ah, esse jogo. Jogamos tantas vezes. Agradável, sim. Sangrento também.
E entediante. Ainda assim, eu tinha uma reputação a defender nessa dança e
não podia me dar ao luxo de manchá-la. Não com os eventos recentes
obscurecendo o meu bom nome.
— Você tem algum em mente? — perguntei, fingindo estar intrigado.
— Há uma morena com garantia. Prospecto cento e oito.
Folheei as imagens de humanos nus na tela, procurando por sua escolha.
Uma mulher com cintura fina, sem curvas e olhos inexpressivos.
Definitivamente, o tipo de Robyn. Ela adorava torturar os arruinados.
— Vou considerá-la — murmurei, forçando um sorriso. — Alguém mais?
Ela deu de ombros.
— O duzentos e trinta e oito não é ruim, mas é um pouco esquelético.
Era de se esperar quando a sociedade forçava os mortais a viver com um
sustento mínimo. Uma olhada no perfil mostrou um garoto magrelo que não
captou minha imaginação.
— Você sempre teve um bom olho para a beleza — elogiei, sem
sinceridade.
— Sim — ela concordou, passando as unhas no meu bíceps. — Tenho
mesmo.
— Está flertando? — provoquei, conhecendo-a muito bem.
Ela apertou meu braço.
— Flertar implica necessidade. Nós dois sabemos que eu poderia ter você
de joelhos com um olhar, Kylan.
Eu me inclinei na sua direção, aproximando os lábios da sua orelha.
— A única que vai se ajoelhar é você, querida. — Mordi seu pescoço
com força suficiente para sangrar. Ela sabia que não deveria tentar me
dominar. — Não sou um dos seus brinquedos, Robyn.
Ela umedeceu os lábios e sua excitação fez com que os olhos
escurecessem para um tom de safira.
— Então, escolheremos um que se submeta a nós dois.
— Um acordo que eu aceito — murmurei, relaxando quando Lilith se
aproximou de seu trono. — É melhor você encontrar seu lugar, querida.
Parece que nossa rainha está pronta para brilhar. — Ou ela era uma deusa
agora? Humm. Assuntos políticos sempre me entediavam.
— Te vejo depois, meu bem. — Robyn me beijou na bochecha e se
levantou, me deixando em paz.
Outros membros da realeza olharam na minha direção, mas nenhum foi
corajoso o suficiente para se aproximar.
Sim, me considerem louco, incentivei, sem sorrir. Afinal, matei meu
harém por esporte, certo?
Isso foi o que todos pensaram. No entanto, a sociedade pretendia me
recompensar com mais humanos para o abate. Porque era assim que este
mundo funcionava.
Um saco. Chato, necessário e terrivelmente antiquado.
Cânticos soaram pelo ar, dando as boas-vindas a Lilith.
Pobres cordeirinhos.
Que o Dia — ou o banho — de Sangue comece.
O VESTIDO de seda branca grudava na minha pele úmida, apesar do ar frio.
Minhas pernas tremiam, os músculos estavam tensos e outra frase foi dita no
pódio diante de nós.
Willow ficou paralisada com o veredito — seu destino havia sido
decidido. O campo de reprodução.
Meu estômago vazio apertou, e minha boca ficou seca. Por favor, não me
mande para lá, deusa. Por favor.
Passei a vida me preparando para esse momento. Minhas notas nos testes
estavam entre as melhores da minha turma, assim como a de Willow.
Bom estoque, o magistrado murmurou.
E se ele dissesse o mesmo sobre mim?
Engoli em seco. Não entre em pânico. Eles sentirão o seu medo.
— Vá em frente — o magistrado insistiu, gesticulando para a área no
campo onde estavam reunidos aqueles destinados a procriar a futura raça
humana.
Willow conseguiu sair do palco, com o rosto pálido.
Eu nunca mais a veria.
Seus olhos brilhantes encontraram os meus, e ela piscou uma vez antes de
seguir o guarda da Vigília para a fila. Já tínhamos nos despedido no ônibus,
algumas horas antes, mas vê-la partir naquele momento tornou tudo mais
real.
Eu poderia ser enviada para as fazendas de sangue, colocada em uma
jaula para uma caçada da lua ou sentenciada a uma vida curta de servidão.
Quase fechei as mãos. Não havia opções. Nem para onde correr. Não
tinha onde me esconder. Eu tinha que enfrentar meu destino ou morrer.
Vários já haviam sido punidos por reações inadequadas. Os restos de
Colleen estavam espalhados na lateral do palco — a cabeça estava perto da
escada como um troféu mórbido para todos verem. Aja como ela e pague o
preço.
Apenas respire, disse a mim mesma. Tudo isso vai terminar em breve.
Ou começar.
— Prospecto setecentos e dois, classe cento e dezessete — o magistrado
chamou. Silas roçou os nós dos dedos nos meus, se despedindo de mim antes
de começar a caminhada para o seu destino.
Sou a próxima.
As palavras ecoaram na minha cabeça, obscurecendo minha visão. Era
isso. Meus momentos finais antes de tudo mudar. Nada mais de aulas. Nem
treinamento. Apenas minha futura posição na sociedade permanecia. Para
onde me mandariam?
— A Copa Imortal — o magistrado anunciou.
Entreabri os lábios.
Puta merda.
Silas conseguiu.
Ele entrou.
Passamos a maior parte da última década trabalhando para a conquista
desse objetivo, esperando que um de nós — Willow, Silas ou eu —
conseguisse.
Fiquei com os olhos vidrados. Deusa, isso significava que ele poderia
viver uma vida plena. Feliz. Imortal. Mas também, que eu não teria chance.
— Só restam duas vagas — o magistrado murmurou, parecendo se
divertir. Mas era claro que ele iria se divertir. Lycans e vampiros adoravam a
Copa Imortal. Cresci assistindo-a todos os anos, me preparando e desejando
uma chance.
A tensão se acumulava nas filas, todos sentindo as chances escapando de
nossas mãos. Apenas doze teriam a oportunidade de lutar pela imortalidade.
Minhas pontuações me qualificavam para estar entre eles, mas poderia dizer o
mesmo sobre Willow.
Eles vão me fazer reproduzir...
Pare. Você ainda não sabe.
— Prospecto setecentos e três, classe cento e dezessete. — A designação
familiar fez minha coluna se arrepiar. Era a minha vez de enfrentar o meu
destino. Todo o foco se voltou para mim quando comecei a caminhar com o
olhar baixo. Respingos de sangue coloriam a grama fresca, com os corpos
daqueles que haviam desobedecido caídos. Exceto pela cabeça de Colleen,
cujos olhos mortos me observavam enquanto eu subia as escadas.
Respire.
Inspirei lentamente, expirei e repeti enquanto os saltos altos ressoavam no
palco. O vestido de seda balançou contra as minhas pernas, a frente aberta
apenas para revelar que eu não usava nada por baixo — um requisito para
todos os graduados.
Me ajoelhei diante do magistrado, com a cabeça inclinada em reverência.
Ele me ignorou em favor do seu livro e passou o dedo no topo de uma página
com uma paciência que eu não sentia.
— Interessante. — Ele limpou a garganta, o veredicto pairando entre nós.
— O prospecto setecentos e três também está destinado à Copa Imortal.
Meu coração parou de bater.
O quê?
Ouvi direito? A Copa Imortal?
Estou sonhando?
— Isso deixa apenas uma posição disponível — o magistrado continuou,
e sua voz me atraiu de volta para o presente.
Não era sonho.
Era realidade.
Fiquei de pé, com os membros tensos pelo choque. Vou lutar pela
imortalidade. Com Silas.
Minhas pernas ganharam força a cada passo em direção à Vigília que me
esperava. Ele não se incomodou em manter uma postura intimidadora, só
andou ao meu lado com passos despreocupados. Ninguém fugiria dessa
oportunidade, mesmo sabendo que só dois sobreviveriam.
Silas ficou à margem, com as mãos soltas ao lado do corpo, mas senti sua
alegria ao me juntar a ele. Porque eu sentia o mesmo por ele. Dois de nós
chegaram ao topo.
Ah, mas Willow. Caramba. Isso ia deixa-la mais magoada do que ser
enviada para o campo de reprodução. Nossas pontuações nos testes foram as
mesmas, nossas aparências tinham uma classificação bem acima da média e
nosso físico era aceitável.
Algo na sua genética deveria ter predeterminado sua aptidão para a
procriação.
As juntas de Silas tocaram as minhas quando assumi a posição ao seu
lado. Não ousei olhá-lo, nem demonstrei reconhecimento ao carinho naquele
simples gesto. Mas eu o compreendi.
Estou muito feliz que você esteja aqui, ele estava dizendo. E também sinto
muito pela Willow.
Nós três éramos inseparáveis e conhecidos por nossos padrões
competitivos. Eu odiava Silas por sempre me superar. Meus lábios
ameaçaram se curvar com a lembrança de todos os momentos em que Willow
e eu planejamos formas de derrubá-lo. Então ele nos pegou no meio da sessão
e nossas vidas mudaram para sempre.
Senti outro toque de seus dedos perto dos meus — sua maneira sutil de
me dizer para me concentrar. Sempre me treinando, mesmo agora.
Engoli minhas emoções. O destino de Willow estava fora de nossas mãos.
Sempre me lembrarei de você, jurei. Sinto muito.
A palavra teceu uma teia que ficaria trancado para sempre em meu
coração, juntamente com as memórias de nossas vidas juntas.
Hoje, eu renasci.
Já não seria mais conhecida como o prospecto setecentos e três da classe
cento e dezessete.
Meu nome agora era Concorrente da Copa Imortal número onze, classe
cento e dezessete.
E se eu vencesse, seria conhecida como Rae — o nome que escolhi.
A eletricidade vibrava em meus braços, peito e membros. A verdadeira
competição começaria imediatamente após a cerimônia. Apenas dez
passariam para a próxima fase. Eu estaria entre eles.
O magistrado continuou sua chamada, atribuindo destinos.
— Harém real.
— Treinamento de Vigílias.
— Campo de procriação.
— Acasalar com Lycan.
— Setor de serviços de Lilith City.
— Harém do clã.
Cada designação me fazia sentir cada vez mais aliviada. As Vigílias
tinham sido a minha segunda escolha. Nenhum dos outros tinha apelo, mas
todos eram um destino melhor do que as fazendas de sangue ou a caçada na
lua.
Ser caçada por lycans durante a lua cheia... estremeci. Não, obrigada.
— Prospecto mil — o magistrado finalmente chamou, designando o
humano final a ser classificado. — Setor de serviços do Clã Clemente.
Meu estômago se apertou com o nome familiar. Clementes eram
reconhecidos como o clã lycan mais poderoso. O alfa deles estava prestes a
se aposentar, e seu filho — Edon — estava assumindo o controle. Quem
ganhasse a Copa Imortal deste ano, se juntaria ao clã ou às filas de vampiros
de Jace. A elegibilidade mudava todo ano, e nossa classe era a escolha deles.
A região de Jace era a minha preferência, não que eu fosse poder
escolher.
— Isso conclui o nosso Dia de Sangue anual — a deusa anunciou,
assumindo o palco. Ajoelhamos em respeito, com as cabeças inclinadas. —
Vigílias, por favor, escoltem suas respectivas equipes até as saídas. Os
prospectos do harém e os participantes da Copa Imortal permanecerão.
Está começando.
Esta era a parte que eles nunca explicavam — a seleção inicial. Enquanto
doze tinham a oportunidade de competir, apenas dez competidores
sobreviviam para assistir à primeira competição. Ninguém sabia como os
números eram reduzidos.
Estava prestes a descobrir.
— Levantem-se, meus filhos — a deusa murmurou. Sua voz era tão
bonita quanto parecia no filme. Esta era a minha primeira vez em sua
presença real. O vestido vermelho justo tinha um recorte no umbigo e os
longos cabelos loiros caiam até a cintura. Apesar das minhas pontuações mais
altas em apelo físico, meus cabelos ruivos e pele clara não se comparavam a
ela. Outra designação de seu status superior e do meu de humilde humana.
Isso vai mudar quando eu ganhar.
Fiquei com os outros, com os olhos baixos enquanto considerava meus
oponentes. Mais da metade deles eram desconhecidos de outras escolas. Mas
eu conhecia Silas, Clarence e Daniella. As fraquezas de Silas não eram as que
eu usaria. O mesmo não podia ser dito sobre meus outros ex-colegas de
classe.
O silêncio caiu sobre nós quando os últimos humanos saíram com seus
acompanhantes da Vigília.
Adeus, Willow, pensei, fechando os olhos. Seremos amigas para sempre.
Você nunca será esquecida.
O farfalhar de roupas fez minhas pálpebras se abrirem e meus membros
tensionarem.
Vampiros e lycans estavam nos rodeando — a realeza e os alfas da
matilha. Seus trajes elegantes ostentavam riqueza e status, e seu silêncio
pretendia nos intimidar. Anos de estudo me ajudaram a identificá-los pelos
emblemas. Cada um usava um símbolo de seu território ou clã, geralmente
em um anel, mas alguns em colares ou pulseira.
Jace.
Robyn.
Alfa do Clemente.
Hazel.
Alfa do Clã Stella.
Estabilizei minha pulsação, me concentrando na respiração. Eles só
queriam dar uma boa olhada nos humanos que tinham potencial para se
juntarem a eles. Mais nada.
Claude.
Kylan.
Alfa do Clã Ernest e sua companheira.
Naomi.
Eles continuaram andando com passos eram silenciosos sobre o cascalho.
Alguns estavam atrás de mim, alguns na frente, todos circulando e
admirando, mas sem tocar. Silas permaneceu absolutamente imóvel ao meu
lado. Me concentrei nele, no nosso futuro, no destino que desejávamos. Na
imortalidade.
— O que acham? — A deusa perguntou enquanto a multidão se
deslocava para permitir sua entrada. Ela parou a alguns metros de distância,
com os dedos delicados entrelaçados diante do corpo.
— Estes são os melhores? — um homem rude questionou e o rosnado em
sua voz indicou que era um lycan.
— Vamos lá, Walter. Você deve ver pelo menos algum potencial. — Ela
parecia esperançosa, mas um tom de repreensão ficou nítido em seu tom.
Uma combinação que garantia sua posição como chefe da hierarquia.
O Alfa do Clã Clemente, Walter, bufou em resposta.
— Vamos em frente, Lilith. Estou cansado deste jogo e é a minha última
rodada.
Minha respiração ficou presa na garganta com o uso do nome da deusa,
não com sua denominação formal. Um humano seria morto por tal insolência.
Ela puniria um lycan, ainda mais um alfa, pelo crime?
— Está com pressa para reivindicar seu harém? — ela brincou com a voz
cheia de humor. — Mas é claro que está. Vocês todos estão. Vigílias, por
favor, tragam os prospectos para se juntarem aos selecionados para a Copa
Imortal.
Comecei a franzir a testa, mas rapidamente parei o movimento. Emoção
era uma fraqueza que eu não podia demonstrar. Agora, não. Nunca.
Os lycans e vampiros se afastaram, permitindo que os humanos
designados para os haréns se juntassem a nós, formando um U.
— Excelente — a deusa murmurou. — Agora podemos começar o
verdadeiro processo de seleção. Todos vocês diante de nós são a nata da
colheita, recebendo as maiores pontuações de aptidão em todas as categorias
que valorizamos. É por isso que oferecemos a vocês o presente de
conviverem com nossos mais estimados.
Me forcei a engolir. Isso soa ameaçador...
— Os selecionados para os haréns participarão de um curso de
treinamento de dois meses para aprender a melhor forma de atender às nossas
necessidades físicas. Mas um grupo de escolhidos terá a oportunidade de só
estudar, subordinados a realeza ou alfa. Ou subordinados ao harém existente,
se essa for a preferência. — O sorriso na voz dela não correspondia à
implicação de suas palavras.
Ela estava sugerindo que a realeza e os alfas escolheriam candidatos para
servi-los — agora — sem nenhum treinamento? Recebemos instrução sexual
na escola, mas nada no nível que eles exigiriam.
Isso se aplica aos haréns, não a...
— Temos um histórico de seleção do melhor para nossa Copa Imortal,
algo que é um pouco decepcionante, uma vez que apenas dois de vocês
sobrevivem até o fim. Como é um desperdício de potencial, todos vocês
devem ser considerados durante esta rodada para ajudar a garantir que a
realeza e os alfas não percam a oportunidade desejada. Bem — ela bateu
palmas —, Vigílias? Por favor, ajudem os candidatos a se despirem.
Meu coração acelerou.
Era assim que eles diminuíam o número para dez? Não através de uma
batalha ou de um combate mortal, mas dando à realeza e aos alfas a opção de
adicionar um de nós a seus haréns?
Um Vigília passou diante de mim e arrancou o vestido dos meus ombros.
Não lutei com ele. Não gritei, nem apontei que eu o teria removido
sozinha se ele tivesse me dado um momento para processar. Em vez disso,
deixei o tecido cair e o chutei com o sapato de salto antes que ele tivesse a
chance de tocar minhas pernas.
Silas jogou sua roupa no chão ao lado da minha, seu corpo musculoso
deixando os outros envergonhados. Eu o vi nu em inúmeras ocasiões e fiz
parceria com ele em várias demonstrações na classe. Dizer que nos
conhecíamos bem seria eufemismo.
Ele permaneceu por perto e seu corpo me ofereceu um conforto que eu
não podia negar. Com nossos olhares ainda baixos, os vampiros e lycans se
aproximaram, se alinhando à nossa frente.
— Kylan, o espaço é seu — a deusa falou, dando prioridade para o nobre
mais antigo de todos. Seu nome provocou um calafrio na minha coluna. A
realeza era essencialmente composta por deuses que lideravam territórios
divididos e cada um deles era conhecido por alguma coisa.
Kylan era pela crueldade.
Ele avançou usando um terno todo preto com gravata combinando. Com
o olhar baixo, não conseguia ver seu rosto, mas conhecia bem suas feições:
cabelos e olhos escuros, maçãs do rosto pronunciadas e um queixo firme
coberto por barba por fazer. Lindo, como todos os vampiros eram, e com uma
natureza brutal.
— Humm, e só eu tenho permissão? — ele questionou, andando devagar,
fazendo suas escolhas.
— Matar seu harém não significa que você tem direito a mais da safra
deste ano —uma mulher respondeu com óbvio desdém. — Tente não fazer
mal a eles antes de provarmos.
— Sempre gostei da sua sinceridade, Naomi. — O tom dele continha um
toque de diversão que morreu enquanto ele continuava. — Mas como seu
ancião, recomendo que se lembre a quem está se dirigindo.
Até a realeza tinha uma hierarquia, e Kylan estava no topo. Um frio
congelou o ar, a implicação em sua advertência carregando o peso esperado.
Tente mexer comigo. Eu te desafio, ele parecia estar dizendo.
E pela reação, ninguém queria aceitar a oferta.
— Me desculpe — Naomi resmungou.
— Está desculpada — Kylan se aproximou do harém dos vampiros,
levantou a mão, e ela desapareceu do meu campo de visão. — Ela é bonita.
— A mulher gritou em resposta à sua ação. Kylan fez um muxoxo. — Bem,
isso com certeza não serve.
Ele repetiu a ação com vários outros, todos reagindo da mesma forma.
Kylan suspirou de forma dramática, abrindo caminho. Murmurou várias
palavras em um idioma antigo que fez alguns de seus irmãos rirem.
A palma da mão dele deslizou sobre uma mulher perto de mim, fazendo-a
recuar. Quase revirei os olhos. Se ela não aguentava o toque de um vampiro
da realeza, não tinha chance nesses jogos.
Quando Kylan finalmente me alcançou, forcei meus membros a
relaxarem e mantive a respiração calma. Vá em frente, vampiro. Não há nada
aqui para você ver.
Seu olhar pareceu queimar minha pele exposta, deixando focos de calor
em seu rastro. Lutei contra um calafrio quando meu corpo assumiu o controle
no lugar da minha cabeça.
Não o atraia, disse a mim mesma. Apenas finja indiferença.
Ele roçou no meu quadril com os nós dos dedos, quase como se tivesse
me ouvido e quisesse testar minha determinação. Não me mexi, nem reagi.
Foco.
Apenas inspire, depois expire.
Repita.
Kylan agarrou meu queixo e me forçou a olhar para cima. Os olhos
castanhos escuros capturaram os meus. Senti uma faísca atingir meu corpo e
quase me derrubar. Agarrei seu braço, precisando de algo estável para me
firmar. O contato visual com um vampiro era proibido, uma demonstração de
desobediência. No entanto, ele só me forçou a encontrar seu olhar e me
manteve ali, a poucos centímetros do seu rosto.
Ele inclinou a cabeça para o lado com a expressão curiosa.
Engoli em seco, incerta. Ele estava tentando me forçar a me comportar
mal? Para lhe dar um motivo para me punir?
Não. Eu não seria enganada com tanta facilidade.
Cravei as unhas em seu paletó, enrijeci o antebraço, pronta para reagir,
para empurrar, para fazer qualquer coisa.
Espere... estou tocando nele.
Ah, merda...
Travei a mão no lugar e me recusei a soltar, reagindo de forma totalmente
errada nessa situação. Abri a boca, prestes a pedir desculpas, quando seus
lábios cobriram os meus.
Fiquei imóvel, incapaz de processar o que estava acontecendo.
Ele está me beijando.
Por que ele está fazendo isso?
Sua língua deslizou para dentro da minha boca, me explorando.
Ah, não. Isso não era bom. Eu não podia permitir que Kylan se
interessasse, não com a imortalidade ao alcance das minhas mãos.
Você não pode me querer, pensei.
Mas como eu transmitiria isso?
Eu... eu...
Faça alguma coisa!
Tensionei o queixo, frustrada e sem saber como parar o que acontecia —
como fazê-lo parar. Ele apertou ainda meu queixo, de forma dolorosa e seu
grunhido vibrou em meu peito. Levei muito tempo para perceber o porquê,
para perceber o que eu tinha feito.
Sua língua estava presa entre os meus dentes.
Eu havia acabado de mordê-lo.
Acabei de morder um vampiro da realeza.
E não era qualquer vampiro, mas Kylan, o membro mais antigo de todos.
E LA ME MORDEU .
Pelo alarme que irradiava de seus olhos azul gelo, a reação a chocou
quase tanto quanto a mim. No entanto, suas unhas continuaram cravadas no
meu paletó.
Uma lutadora. Corajosa. Exatamente o que eu precisava.
Minha propensão a escolher do harém lycan — só para irritar os lobos —
desapareceu rapidamente.
Envolvi a palma da mão na parte de trás do pescoço da ruiva e apertei.
— Isso foi um erro, cordeirinho — sussurrei de forma sombria. Porque
agora eu a queria. Demais.
Seus lábios se entreabriram, mas nenhum som escapou. Nem mesmo um
pedido de desculpas.
Ah, eu ia gostar dessa.
Dei um passo para trás, puxando-a comigo.
— Se eu a matar antes que a seleção termine, posso selecionar uma
substituta? — perguntei a Lilith, sem interromper o contato visual da minha
conquista escolhida.
— Considerando sua exibição insolente, com certeza permitirei. — A
irritação no tom de Lilith quase fez meus lábios se curvarem. É claro que ela
desejaria punir a garota por sua reação. Isso apenas tornava a beleza de
cabelos ruivos ainda mais perfeita.
Mordisquei seu lábio inferior trêmulo e aumentei meu aperto em seu
pescoço enquanto a arrastava comigo de volta ao círculo da realeza. Nos
deram espaço, ninguém querendo arriscar receber respingos de sangue.
Coisa que eles esperavam que eu fizesse.
Pena que eu não lhes daria um show.
— Deveria te forçar a ficar de joelhos, te fazer me implorar por perdão —
grunhi. — Mas não tenho certeza se confio nessa sua boca.
— Walter, por favor — Lilith falou, fazendo sinal para o Alfa Clemente
tomar a vez. Iríamos alternar pela próxima hora, mais ou menos, pois todo
mundo selecionaria seu prêmio inicial. Em seguida, os candidatos à Copa
Imortal seriam reorganizados para cumprir os dez requisitos.
O que o cordeiro não sabia era que eu tinha acabado de salvar sua vida.
Porque se eu não a tivesse escolhido, um dos lycans teria. Ela era linda
demais para ser desperdiçada na Taça Imortal, com aqueles cabelos ruivos,
olhos azuis claros e pele macia. E as curvas perfeitas também eram de dar
água na boca.
Ela não desviou o olhar e o desafio estava escrito na expressão da sua
boca. Por que ameacei forçá-la a ficar de joelhos? Ou por que a tirei da
competição? Talvez as duas coisas.
Passei os lábios nos dela novamente e sorri quando ela apertou a
mandíbula.
— Ah, você tem um desejo de morte, minha jovem — murmurei. —
Posso decidir ficar com você só pelo prazer de te despedaçar. — As palavras
foram ditas mais para os que estavam ao nosso redor do que para ela.
Ela não respondeu, mas o fogo em seus olhos azuis me disse tudo o que
eu queria saber. Esta tinha espírito. Raridade nos dias de hoje. A maioria dos
humanos estava destruída quando os encontrava, com a mente fragilizada por
décadas de tratamento cruel ou recondicionamento. Mas ela possuía um fogo
com o qual eu queria brincar, não sufocar.
— Como devo chamá-la, cordeirinho? — perguntei contra seus lábios.
Ela semicerrou os olhos, me deliciando ainda mais. Estava contra mim,
usando só um par de saltos altos, com a vida em minhas mãos, e me encarou.
Um grito vindo do campo confirmou a escolha de Walter. Ignorei os
uivos de aprovação e foquei no meu prêmio. Como eu havia deixado passar o
perfil dela? Supus que devia ter olhado rápido demais.
— Jace — Lilith chamou, se referindo ao segundo mais antiga da realeza.
O nome azedou meu humor consideravelmente. Alguém estava puxando
o meu tapete, e eu suspeitava fortemente que o vampiro real despreocupado e
divertido fosse o culpado. A recente nomeação de Darius como soberano
apenas solidificou minha suspeita.
Um arrepio estremeceu a mulher em meus braços e o ar da meia-noite
gelou sua pele nua. Parecia que um pouco da sua bravata havia desaparecido
e os elementos a tocavam agora.
Eu a soltei para tirar o paletó. Os seres humanos eram muito frágeis e
suscetíveis a doenças. Não poderia permitir que ela enfraquecesse muito
rápido.
Ela ergueu as sobrancelhas quando coloquei o paletó feito à mão ao redor
de seus ombros.
— O quê? Surpresa por eu querer manter vivo o único membro do meu
harém? — perguntei baixinho. Puxei as lapelas do casaco sobre seus seios,
trazendo-a para mim. — Tenho planos para você, querida. Vai precisar da sua
força.
Ela engoliu em seco, seu olhar finalmente deixando o meu para observar
meus lábios antes de subir de novo.
Jace fez sua seleção enquanto eu observava minha nova escrava, e Lilith
chamou o próximo alfa. Sua escolha resultou em um grito estridente que não
perturbou nem um pouco meu cordeirinho. Ela continuou a me encarar com
firmeza pelas próximas rodadas, me surpreendendo pra caramba. Qualquer
outro humano teria desviado o olhar em deferência ou subserviência após
meros segundos. Mas ela, não.
— Me diga o seu nome — exigi, mas minhas palavras foram só para ela.
Outro grito soou quando um dos lycans se apresentou ao seu novo
brinquedo da maneira mais antiga. Eu poderia fazer o mesmo, inclinar essa
mulher no chão e transar com ela até que ela me respondesse, mas esse não
era o meu estilo.
— Seu nome — repeti, puxando o paletó. — Ou vou encontrar outra
maneira mais criativa de fazer você falar.
Os grunhidos que soaram à nossa esquerda pontuaram minha ameaça. Ela
engoliu em seco e seu olhar gelado derreteu um pouco com os primeiros
sinais de desconforto. O destino finalmente estava tornando sua presença
conhecida. Quase tive pena da mulher, mas não consegui. Os seres humanos
existiam para servir aos seus superiores, e ela me serviria conforme
necessário.
E ela iria gostar também.
Passei os dedos em seus cabelos para envolver seus fios grossos.
— Você está testando minha paciência, cordeirinho. Sugiro que se
esforce antes de ver os resultados da minha impaciência.
— Por quê? Assim você pode mudar meu nome antes de me matar?
Puta merda. A mulher exalava sexo em todos os sentidos. Em seu olhar,
seus lábios carnudos, naquelas deliciosas curvas escondidas embaixo do
paletó e no tom sensual da sua voz. Nem me importei que ela ainda tivesse
evitado minha pergunta. Só ouvi-la falar era o suficiente para acalmar a
tempestade mais turbulenta.
Segurei seu cabelo com mais firmeza e o puxei até que ela estremeceu.
— Continue agindo com atrevimento. — Era tanto uma ameaça quanto
um pedido, entrelaçados em duas palavras sussurradas.
Lute comigo.
Se submeta a mim.
Me dê tudo.
Deslizei a mão que estava nas lapelas do paletó para seu quadril nu. Ela
apoiou as mãos no meu abdômen quando a forcei a se aproximar. Rocei os
lábios em sua bochecha antes de me aproximar da sua orelha.
— Quero saber qual nome devo gemer mais tarde, quando estiver dentro
de você.
Seu arrepio não teve nada a ver com o frio e tudo a ver com a minha
promessa letal. E, no entanto, ela permaneceu tensa, como se estivesse pronta
para me bater.
Fascinante.
— Prospecto setecentos e três, classe cento e dezessete — ela respondeu.
— Divirta-se com isso.
Deixei uma risada escapar — alta e divertida — fazendo com que vários
outros olhassem em nossa direção. Eu os ignorei em favor da mulher
desafiadora diante de mim.
— Você é adorável.
Suas íris azuis congelaram enquanto ela permanecia em silêncio
novamente.
Meu pau já estava duro e latejava com a demonstração óbvia de
resistência. Esta não seria derrubada facilmente. Destemida, sem vergonha,
sem vontade de se deitar e aguentar. Não sabia que humanos como ela ainda
existiam.
— Vamos nos divertir muito juntos, cordeirinho — sussurrei, roçando os
lábios nos seus a cada palavra. — E você vai me dizer seu nome. — Porque
eu sabia que ela tinha um. Todos tinham, mas nossos registros não se
incomodavam em rastreá-los.
O desafio era nítido, o que me excitou.
Puta merda, senti falta disso. Uma mulher que realmente podia se
defender, que se recusava a se curvar diante de mim por causa do meu status.
Mesmo cercada por predadores, ela não vacilou. Porque preferia que eu a
matasse do que a levasse para casa, talvez? Humm, pensamento
decepcionante. Um que eu não agradeceria. Minha pergunta para Lilith sobre
a seleção de outra foi só para manter minha imagem. Não, esta mulher mal-
humorada, que eu pretendia manter, e suas tendências guerreiras poderiam
mantê-la viva neste jogo perigoso chamado vida.
A isca perfeita.
Eu a girei em meus braços, puxando-a de volta contra meu peito e a
prendi com meus antebraços.
— Assista. — Falei a palavra em seu ouvido. — Veja o que seu destino
pode se tornar. — Membros da realeza e alfas trocavam membros de harém o
tempo todo. Não que eu já tenha participado, mas ela não precisava saber
disso.
Os humanos restantes, ainda em processo de seleção se aproximaram. A
maioria dos meus irmãos já havia feito suas escolhas. Robyn tinha escolhido
o homem magricela em vez da morena. Ele se ajoelhou aos pés dela, que
passava os dedos pelo cabelo dele como se fosse um cachorro.
A escolha de Jace foi a linda morena que eu gostei. Ela não parecia tão
nervosa agora que ele a envolveu em seu paletó. Ele encontrou meu olhar
com uma sobrancelha arqueada, me desafiando a comentar sobre suas ações
semelhantes. Não aceitei o desafio e, em vez disso, segui o olhar da minha
escrava até o humano loiro entre os selecionados para a Copa Imortal.
Eu o reconheci pelos arquivos. Ele estava fora dos limites para esta
rodada, marcado como uma perspectiva que Jace e Walter haviam
concordado em tornar imortal. A maneira como ele mantinha os ombros
esticados, as pernas fortes abertas e a expressão entediada, me fez concordar
com a designação. Seis dos humanos eram favorecidos e deles, aquele, com
certeza era o que prometia mais.
Mas com o que meu cordeiro estava tão arrebatado?
Seu foco não vacilou, nem mesmo quando Naomi passou uma unha do
esterno dele até a virilha. Ela adorava transar com os recrutas. Se ela não
fosse uma vadia, eu poderia gostar dela.
Ou provavelmente, não.
Meu cordeiro ficou tenso quando Naomi pressionou os lábios no ouvido
do macho para sussurrar uma provocação. Seus lábios se curvaram em
resposta, me intrigando, mas não tanto quanto a respiração instável da minha
escrava. Ela não relaxou até Naomi passar para a próxima vítima.
— Ah, uma fraqueza — sussurrei em seu ouvido, baixo o suficiente para
que ninguém mais pudesse ouvir, exceto ela. Não que alguém estivesse
prestando atenção. Estavam muito ocupados entretendo seus novos
brinquedos ou salivando pelo restante da colheita.
Ela endureceu os ombros novamente, me fazendo sorrir contra seu
pescoço.
— Ah, sim, definitivamente uma fraqueza. — Mordi a pele macia que
cobria seu pulso estrondoso. — Se eu te matar, poderia pegá-lo. Sempre achei
que os homens são mais hábeis em certas atividades do que as mulheres. —
Passei o nariz ao longo de sua mandíbula. — O que acha, cordeirinho? Devo
me desfazer de você e solicitar a companhia dele? Ou talvez você tenha algo
que possa me atrair de outra maneira?
Uma ameaça cruel que a deixou tremendo contra mim. Eu quase odiava
fazer isso, mas não pude deixar passar a oportunidade de reafirmar meu
domínio. Meus irmãos a teriam matado no segundo em que os mordeu. Eu
não esperava gratidão ou que ela rastejasse, mas queria seu nome. Eu a
pressionaria até que ela me desse.
— Tique taque — provoquei, acariciando sua garganta. — Seu silêncio
está me entediando.
Ela segurou meu antebraço e o apertou enquanto seu corpo tremia. Foi a
segunda vez que ela me usou como suporte sem perceber. A primeira me
intrigou tanto que não fui capaz de me afastar. Então ela selou seu destino
com aquele beijo.
— Rae. — A palavra mal chegou aos meus ouvidos sobre os gemidos
animalescos vindos do lado de fora. Jenkins, o Alfa do Clã do Inverno, havia
dado sua nova escrava humana para o filho brincar e o jovem lycan não
perdeu tempo.
Minha fêmea tentou se virar, me surpreendendo. Apertei seus quadris e
permiti que ela se movesse, depois encontrei seu olhar furioso.
— Meu nome — disse lentamente. Sua voz era um ronronar gutural que
intrigou meus sentidos masculinos. — Meu nome é Rae.
— Rae — repeti, provando a única sílaba na língua. — Humm. — Gostei,
mas parecia muito fraco para ela. Muito rápido. Que tal... — Raelyn.
Ela balançou a cabeça.
— Não, é Rae.
— Gosto mais de Raelyn.
Ela semicerrou os olhos mais uma vez.
— Se ia mudar meu nome, pra que perguntar?
— Porque eu queria te ouvir falar.
— Como um cachorro.
— Exatamente.
Ela me encarou com tanta emoção que não consegui impedir que meus
lábios se curvassem. Gostei muito da voz dela, mas, humm, eu gostaria de
provocar esse seu olhar na cama.
— Seu segredo está seguro comigo, cordeirinho — prometi.
Ela franziu a testa.
— Que segredo?
Pressionei os lábios em seu ouvido, não querendo que ninguém ouvisse.
— Qualquer segredo que você compartilhe com esse humano. — Mordi
seu lóbulo, expirando devagar e passando os braços ao seu redor. — Mas seja
o que for, acabou. Porque você é minha agora, Raelyn.
M INHA LÍNGUA PARECIA ESTAR GROSSA , como se Kylan tivesse me mordido e
não o contrário. Seu corpo duro sustentou o meu, e seus lábios murmuravam
no meu ouvido palavras que eu não queria ouvir.
Porque você é minha agora, Raelyn.
Como meu destino se transformou nisso?
Em um minuto, eu estava destinada à Copa Imortal. Agora, um membro
da realeza me possuía. Tudo porque eu não consegui controlar meu corpo.
Depois que Kylan sugeriu para a deusa que poderia me matar, parei de tentar.
Por que o que aquilo importava? Se ele fosse me matar no fim das contas, eu
poderia cair com a dignidade intacta.
Só que ele ameaçou o Silas. A minha fraqueza. A única coisa que Kylan
poderia usar para me atingir e me forçar a me comportar. Porque eu não
poderia deixar que meu comportamento matasse meu amigo. Principalmente
depois de tudo que passamos juntos. Ele merecia uma chance. Eu faria
qualquer coisa para ver isso. Incluindo me comportar bem com o membro da
realeza a quem prefiro matar a transar.
Kylan tinha estragado tudo.
Não, isso não era verdade. Eu estraguei tudo quando o mordi. Quando
reagi.
Ele deu um beijo no meu pescoço.
— Alguém já te mordeu, Raelyn?
Cerrei os dentes com o uso desse nome ridículo.
— Isso importa? — respondi, evitando a pergunta. — Você vai me
morder de qualquer maneira. — E usar meu corpo para seu prazer.
De todos os membros da realeza, eu tinha que ser escolhida pelo que
gostava de violência. O recente massacre do seu harém havia sido um assunto
muito discutido entre meus professores vampiros. Ninguém se importava de
verdade com as vidas perdidas, apenas com o sangue desperdiçado e a
possibilidade de que Kylan estivesse ficando louco.
E agora, ele era meu dono.
Seus incisivos deslizaram sobre meu pulso em sinal de aviso.
— Quando eu fizer uma pergunta, espero uma resposta. Você já foi
mordida?
Cravei as unhas em seu abdômen reto.
Por Silas, lembrei a mim mesma. Faça isso para salvá-lo. Então, quando
ele estiver a caminho do próximo estágio, você pode recuar.
Porque, de jeito nenhum, eu me deitaria por vontade própria com esse
vampiro da realeza. Lindo ou não, prefiro morrer. E eu morreria lutando.
— Não — me forcei a dizer. — Nunca.
Ele sorriu contra o meu pescoço.
— Humm, outro ponto a seu favor. — Ele beijou minha garganta, depois
a mandíbula e voltou seus olhos escuros para os meus. — Continue me
intrigando, Raelyn, e posso deixar você viver. — Ele colocou meu cabelo
atrás da orelha antes de apertar minha nuca. — Como foram suas pontuações
nos estudos sexuais?
Ele estava perguntando por que isso é tudo que importa para um homem
de sua posição. No entanto, me senti compelida a corrigi-lo nessa questão.
— Me classifiquei como uma das primeiras da turma em todas as
disciplinas.
— Imagino que eles te qualificariam para a Copa Imortal — ele
murmurou. — Mas quero detalhes de sua pontuação em artes sexuais. Em
que atos você se destaca e quais técnicas exigem mais... — ele baixou o olhar
para o paletó que cobria meus seios — treinamento?
— Kylan? — a Deusa o chamou, fazendo com que ele mudasse o foco
para onde ela estava. — Você decidiu? Os outros terminaram.
— Humm. — Ele olhou para mim e seu olhar cruel era impossível de ser
decifrado. — Me responda, Raelyn. — O que ainda ficou por dizer.
Engoli em seco. São só resultados de testes como de qualquer outro
curso.
— Sou classificada como excelente em atividades orais e minha
tolerância à dor está bem acima da média. A única área em que recebi uma
pontuação negativa foi em jogo submisso, mas ainda assim, fiquei acima da
média em comparação com a minha classe. — E a única razão pela qual
recebi essa pontuação negativa foi porque tive dificuldade em desistir do
controle quando Silas liderou nossos exercícios conjuntos. Parecia errado me
submeter a ele, independentemente do quanto ele fosse talentoso na arte das
preliminares.
Os lábios de Kylan se curvaram.
— Obrigado, Raelyn. — Ele me girou em seus braços, colocando minhas
costas em seu peito novamente e a mão na minha garganta enquanto o outro
braço envolvia a parte inferior do meu abdômen.
O olhar azul de Silas brilhou quando se encontrou com o meu, o medo
irradiando de suas profundezas.
Ficarei bem, tentei dizer a ele. Não demonstre que você se importa.
O silêncio se estendeu, e Kylan manteve o aperto em mim.
Não vou chorar.
Não vou implorar.
Ficarei calma.
Pontos negros brilhavam diante dos meus olhos, mas não antes de eu
sentir a dor nas feições de Silas.
Deusa, eu esperava que Kylan não o escolhesse. Mas eu sabia que ele o
faria. Tudo isso era um jogo cruel para me forçar a falar, para dar um
exemplo do meu comportamento.
Tudo havia dado errado. Terrivelmente errado.
Me desculpe, Silas. Sinto muito mesmo.
O polegar de Kylan roçou meu pulso enfraquecido e seu toque pareceu
uma marca contra a minha pele.
— Parece que o jogo da respiração pode ser algo a se explorar mais tarde
— sussurrou contra o meu ouvido. Ele diminuiu o aperto apenas o suficiente
para permitir que o ar voltasse para os meus pulmões. Inspirei com avidez,
sentindo meus olhos embaçarem com a humilhação da reação necessária do
meu corpo.
Uma fraqueza.
Eu o odiava naquele momento mais do que qualquer outro.
Ele estava me sacaneando.
Fingindo me matar, só para demonstrar o quanto seria fácil, e fez Silas
assistir.
— Acho que vou gostar de acabar com esta, Lilith — Kylan falou com
um sorriso na voz. — Obrigado por me conceder a oportunidade de ficar com
ela.
— Se você tem certeza — ela respondeu. — Parece mais trabalho do que
vale.
— Ah, vou gostar do entretenimento. — Ele acariciou a base do meu
pescoço, mantendo a palma da mão contra a minha garganta. Conseguia
respirar, mas não era muito, e o braço ao redor do meu estômago não estava
ajudando.
— Bem, então isso conclui nosso processo de seleção. Agora há apenas a
questão da noite, as filas restantes dos participantes da Copa Imortal.
Contei os membros restantes e encontrei apenas seis. Todos os outros
foram selecionados. Dois estavam no chão, com o peito imóvel e as partes
inferiores... desviei o olhar, incapaz de processar o que havia acontecido com
eles. Um dos corpos era de Daniella.
Poderia ter sido eu...
O aperto de Kylan afrouxou um pouco mais, e seus lábios roçaram em
minha têmpora como se sentisse a direção dos meus pensamentos.
Mas, não. Isso era impossível. Se ele pudesse ler mentes, eu seria uma
mulher morta, porque ele veria todas as formas com as quais eu adoraria
matá-lo. Vampiros não podiam morrer — ou é o que diziam —, mas eu
adoraria encontrar uma maneira de derrubá-lo. Fazê-lo me implorar para
respirar.
— Jace, Walter, por favor. — A Deusa fez um gesto como se dissesse:
resolvam.
Jace entregou seu novo membro do harém ao vampiro que estava ao seu
lado — um homem de cabelos escuros que não reconheci como parte da
realeza. Ao lado dele, havia uma mulher de cabelos e olhos também escuros,
usando um vestido formal feito de tecido transparente. Ela olhava para o
chão.
Uma humana. Mas não da seleção. Eu já havia notado a ela e seu senhor,
que agora estava olhando diretamente para mim com impressionantes olhos
verdes. Baixei o olhar com um estremecimento.
Perdi completamente a cabeça hoje?
Não, só a minha vida.
— Ela é uma virgem de sangue — Kylan comentou baixinho contra o
meu ouvido. — E se comprometeu recentemente com Darius, o novo
soberano de Jace.
Pisquei. Ele acabou de me explicar algo?
E o que era uma virgem de sangue?
Olhei para a mulher de novo. Linda, bem-cuidada e sem sinal de medo.
Ela parecia entediada, assim como seu mestre, que havia se concentrado nos
eventos que se desenrolavam diante de nós. Jace selecionou dois humanos,
mantendo as palmas das mãos nos ombros deles. Walter estava com um, e
parecia estar lutando para encontrar o segundo.
Silas não se mexeu, manteve a postura confiante enquanto seu olhar
permanecia em outro ponto. Boa sorte, eu queria dizer a ele. Não que você
precise.
A palma da mão de Kylan deslizou até o meu queixo, forçando minha
cabeça para trás em um ângulo que me permitiu encontrar seu olhar.
— O que eu disse sobre essa história ter acabado, Raelyn? — ele
perguntou baixinho enquanto suas pupilas queimavam ao luar.
Meu pescoço doía pela posição desconfortável, além de quase ter sido
estrangulada. Tentei responder, mas não consegui, já que a garganta estava
fechada. Meus olhos se encheram de lágrimas, me fazendo odiá-lo ainda
mais. Nunca chorei. Nunca implorei. Nunca reclamei. No entanto, não estava
nem há uma hora em sua presença e queria chorar.
Quero te matar, disse a ele com os olhos, já que minha voz se recusou.
Ele sorriu antes de me soltar, apoiando as mãos nos meus quadris para me
manter contra si. Sua ereção pressionou minhas costas, confirmando que o
ódio entre nós não era recíproco.
Transar com ele seria o meu pior pesadelo se tornando realidade. Porque
enquanto minha mente o desprezava, meu corpo reagia de forma favorável.
Sua força e poder serviam como um afrodisíaco e seu rosto parecia ter
sido criado pelos céus. Um homem lindo envolto em músculo e experiência
— não pude negar o apelo físico. E pelo que entendi, a mordida de um
vampiro possuía um êxtase diferente de tudo que um humano poderia dar a
outro.
Ele tiraria de mim o que quisesse e um lado doente meu apreciaria
enquanto todo o resto teria ódio dele.
Seus lábios acariciaram meu pescoço novamente e senti a respiração
quente contra a minha pele.
— Vou te destruir, cordeirinho — ele sussurrou de forma sombria. —
Você nunca mais irá pensar nele quando terminarmos.
Senti um calafrio na coluna. Porque ele tinha razão. Depois que ele
despedaçasse a minha alma, não teria mais motivos para pensar em ninguém,
muito menos em Silas.
Baixei o olhar e um sentimento de derrota se instalou dentro de mim.
Eu conhecia muitos que desejavam esse destino — viver uma vida de
luxo com a realeza ou os alfas. Mas ao ver o campo ao meu redor, os corpos
inertes, sentindo o macho excitado atrás de mim ameaçando meu destino,
percebi que tudo era só glamour. Um falso senso de esperança incutido em
nós desde o nascimento para nos manter na linha. E para quê? Por uma
pequena chance de imortalidade?
Valeria a pena?
Silas diria que sim. Eu esperava.
— Esses são os prospectos que vocês desejam adicionar? — a Deusa
perguntou, com a voz surpresa.
— Eles não sobreviverão, nem servem para os lycans. Envie-os para a
chance. — Walter parecia enojado ao empurrar os humanos que escolheu
para a seleção da Copa Imortal.
Eu teria sobrevivido, pensei com um grunhido mental. Os dois que ele
escolheu já eram mansos e já estavam destruídos. Pelo menos, os
selecionados por Jace tinham mérito, mesmo que não tivessem chance contra
Silas ou mesmo contra mim.
Mas não estou mais competindo.
Ter o destino que desejei por tanto tempo arrancado das minhas mãos
depois de apenas alguns minutos experimentando a glória que poderia vir, era
realmente um ato cruel. No entanto, muito apropriado.
Vampiros e lycans adoravam brincar com a comida e seus escravos.
Isso não era diferente.
Kylan me envolveu em seus braços novamente, e havia em seu toque uma
pontada de conforto que rejeitei imediatamente. Ele não era melhor que o
resto deles. Na verdade, era pior.
Palavras soaram no ar, a deusa elogiou os escolhidos para a Copa Imortal,
falou algo sobre treinamento de harém e depois liberou a todos. Mas tudo
isso ficou turvo em minha mente. Não me importava mais. Não havia sentido.
Silas encontrou meu olhar e no seu havia uma mistura de emoção e
tristeza que partiu meu coração.
Mate todos eles, tentei transmitir a ele. Fique firme, meu amigo.
Ele me deu um aceno sutil antes de se virar para desaparecer, e Kylan
suspirou.
— Se você não pode ignorar um simples comando meu, como vou treiná-
la para servir?
Mordi a língua. Não reaja ainda. Aguarde até Silas estar seguro.
— Me siga, escrava — ele exigiu e me soltou.
Meus pés ameaçaram fazer o oposto — ficar de pé e encará-lo em
desafio. Mas minha mente me levou a obedecer.
Ele nos conduziu através da realeza e todos lhe deram um amplo espaço,
o desconforto com a sua presença era evidente. Os rumores afirmavam que
ele estava ficando louco, um ancião que estava perdendo a cabeça para a
imortalidade.
Considerei isso enquanto caminhávamos. Seu controle sobre mim e nossa
situação sugeria que seu estado mental era saudável e claro, forte até. Ele
poderia estar brincando comigo, especialmente porque sugeriu me matar há
pouco tempo.
Isso importa?, pensei. Ele vai te destruir, lembra?
Um arrepio percorreu minha coluna com o pensamento. Ele poderia dizer
muitas coisas com essa afirmação.
Kylan me levou a um pequeno carro preto com duas portas. Ouvi um bipe
quando ele apertou um botão e a porta se levantou.
— Entre, cordeirinho.
Vários humanos estavam perto de carros, à espera e os outros membros
da realeza e alfas caminhavam lentamente na nossa direção. Parecia que
Kylan havia liderado o grupo.
Ele arqueou uma sobrancelha com a minha hesitação.
— Me desobedecendo de novo?
Sempre, quase respondi. Em vez disso, me acomodei no assento e olhei
para frente. Sua risada foi interrompida pelo fechamento da porta, mas ele
ainda sorria ao se sentar no banco do motorista ao meu lado.
— Cinto de segurança — ele falou, se inclinando sobre mim para pegar o
item em questão. — Segurança em primeiro lugar.
Sozinha em um carro com um vampiro sádico. Sim. Muito seguro.
— Silêncio — ele falou, afivelando o seu cinto também. — Está me
entediando de novo, Raelyn.
— Prefere que eu cante e dance? — perguntei enquanto Jace passava pelo
nosso carro com o braço ao redor da mulher que Kylan chamou de virgem de
sangue. Darius seguia atrás deles com o novo membro do harém ao seu lado.
— Você não tem soberanos — falei, me lembrando dos meus estudos sobre o
território dele. — Sempre achei isso estranho.
Ele ligou o motor e o som gutural era poderoso como seu mestre.
— Soberanos são lacaios de confiança — Kylan respondeu, saindo do
lugar. — E eu não confio em ninguém.
Uma mulher apareceu na frente do carro com as mãos nos quadris,
fazendo com que Kylan parasse abruptamente antes de sair da vaga.
A fêmea da realeza inclinou a cabeça para o lado, fazendo-o suspirar.
— Certo. — Ele parou, mas não desligou o motor. — Não toque em nada
ou serei forçado a te punir. — Ele me lançou um olhar que dizia que estava
falando sério. — Agora fique aqui como uma boa escrava.
M INHAS MÃOS doíam com a força com que enterrei as unhas na pele.
Vampiros e lycans haviam falado comigo a vida toda, mas nunca com tanta
condescendência.
Kylan saiu do carro sem olhar para trás antes de encontrar a mulher —
Robyn — à minha frente. Ele passou a mão ao redor do pescoço dela e a
puxou para um beijo que me deixou enjoada.
Vampiros eram sempre afetuosos. Esses dois não eram diferentes, mas a
maneira como ele lidava com ela denotava uma história sobre a qual eu não
queria saber nada.
Robyn passou as mãos nas laterais do corpo dele até os ombros, como se
o possuísse. Ele sorriu contra a boca da vampira antes de segurar os pulsos
dela com a mão livre. O que quer que ele tenha dito em tom de reprimenda,
provocou nela um sorriso total satisfação.
Revirei os olhos e observei a aquisição recente dela. Estava ajoelhado no
chão — ainda nu — e com a cabeça baixa. Ela havia colocado uma coleira de
metal ao redor do pescoço dele e a conectou a uma guia que havia deixado
cair para tocar em Kylan.
Então ele disse algo que fez com que os lábios da vampira se curvassem
em uma carranca. Depois ela olhou diretamente para mim no banco do
carona. A barbárie se escondia em seus olhos, me fazendo reconsiderar a
reputação de Kylan como cruel. Aquele olhar não deixava nada para a
imaginação sobre o que ela queria fazer comigo.
Kylan queria me destruir.
Essa mulher queria me retalhar.
Eu deveria desviar o olhar, mas com qual propósito? Meu destino já
estava selado nas mãos de um monstro.
Robyn caminhou em direção ao carro, mas Kylan a segurou pelo cotovelo
e a puxou de volta para si, o que fez com que sua expressão elegante se
transformasse na do poderoso predador escondido sob as roupas
extravagantes.
Não pude ouvi-los, mas a conversa claramente não estava a favor dela,
que fez uma careta para ele, mas baixou o olhar em submissão. Ele deu um
beijo no topo de sua cabeça, como se elogiasse um animal de estimação.
Quaisquer que fossem as banalidades que ele havia sussurrado, pareciam tê-la
acalmado um pouco, mas suas mãos permaneceram fechadas quando ele se
afastou.
— Te vejo em breve, Robyn — ele falou ao abrir a porta.
— Sim — a mulher respondeu enquanto pegava a guia de volta. Ela
puxou o humano em sua direção com tanta força que ele escorregou pelo
cascalho.
Estremeci com a exibição e entreabri os lábios quando ela forçou o
macho a rastejar atrás dela à medida que se afastava.
Kylan nos levou para longe da cena, e eu fiquei bastante aliviada, apesar
de não conhecer nosso destino. Ele me deu seu paletó e me tratou com certa
humanidade em comparação aos demais. Meu pescoço ainda doía por causa
de suas atenções, mas eu preferia isso a uma coleira e guia.
E as proezas sexuais no campo... tremi. Kylan poderia ter feito muito
pior. Então por que não o fez?
O silêncio se estabeleceu entre nós, reconfortante e ameaçador enquanto
ele pegava uma estrada vazia com a luz da lua iluminando nosso caminho.
Não existia nada aqui além de terras agrícolas. Sem construções ou outras
estruturas, sem sinais da cidade, só as estrelas em um céu escuro. Na verdade,
era até pacífico, diferente dos arredores da minha antiga universidade.
Atiradores de elite, guardas, muros de cimento com arame farpado e
claraboia eram o cenário principal.
Humm, desejei que houvesse árvores aqui. Nunca vi uma, mas a
paisagem coberta de grama, mesmo à noite, era linda.
— A Robyn gosta de quebrar seus brinquedos — Kylan falou baixo.
Desviei o olhar da serenidade ao nosso redor para olhar o diabo ao meu
lado.
— E você? — perguntei, incapaz de me impedir. — Do que gosta? —
Vou te destruir, suas palavras sussurradas mais cedo voltaram aos meus
pensamentos, me provocando.
— Adoro submissão — ele murmurou, curvando os lábios. — Mas amo
uma lutadora.
A paisagem passou depressa por nós quando ele acelerou, e meu
estômago revirou com o momento estranho e sua resposta. Ele queria que eu
me opusesse a ele, que eu dissesse que não. Foi por isso que ele me escolheu
— porque sabia que eu não me submeteria facilmente.
Ele quer me forçar a aceitá-lo fisicamente. Me machucar da maneira
mais severa, tomando meu corpo, quer eu goste ou não.
Um tremor que não conseguia esconder me abalou profundamente. Já
havia visto isso acontecer inúmeras vezes, ouvi os gritos e até testemunhei
esse tipo de coisa hoje à noite no campo. Mas saber que ele ansiava por isso,
que estava me levando para casa com toda a intenção de me machucar, fez
com que a bile subisse na minha garganta.
Ele vai me matar, mas só depois de transar comigo.
E não há nada que eu possa fazer para detê-lo.
— Ah, aí está, o medo que não apareceu a noite toda — ele ponderou. —
Você foi uma das poucas que não o exibiu durante a seleção. Foi o que me
atraiu para você.
Ele fez uma curva sem diminuir a velocidade, e meu estômago revirou
violentamente. Pressionei as costas da mão nos lábios, me recusando a
vomitar. Aqui não. Ainda não. Não tão fácil assim.
Luzes apareciam à distância, brilhantes e brancas, com alguns pontos
vermelhos espaçados entre elas. Aumentou quando nos aproximamos,
destacando uma estrada mais larga do outro lado de uma cerca. Mais adiante,
havia um item que só vi nos livros.
Um avião.
Abri os lábios em reverência. Era muito maior do que eu esperava. Havia
várias pessoas ao redor, todos vestidos de preto, alguns guardando o portão
para qual Kylan nos levou em um ritmo muito mais constante.
— Sua Alteza — um humano cumprimentou e me observou usando o
paletó de Kylan. — Está tudo pronto.
— Obrigado, Jackson — Kylan respondeu, me surpreendendo.
Ele sabia o nome do humano?
A maioria dos vampiros não reconhecia os mortais, nem os Vigílias.
Kylan dirigiu até a parte de trás da aeronave, onde havia uma rampa, e
manobrou nela com a mínima orientação dos humanos que estavam de
guarda. Depois de entrar na aeronave completamente, desligou o motor e
esperou a rampa subir atrás de nós, nos fechando na barriga do avião.
Ele me olhou e me observou sem dizer nada. Não ousei desviar o olhar,
precisando saber o que ele planejava. Então desafivelou o cinto de segurança
e se inclinou lentamente em minha direção.
Senti as mãos umedecerem. É isso. Ele vai me machucar agora e espera
que eu lute contra ele.
Posso?
Eu o faria?
Pode ser menos doloroso se...
O clique do meu cinto me assustou, me tirando dos meus pensamentos.
Ele sorriu e saiu do carro, depois deu a volta para abrir a porta, estendendo a
mão para me ajudar a sair.
Fiz uma careta para ele e fiquei de pé sozinha.
— É considerado rude ignorar o gesto formal de um superior. — Ele
fechou a porta com uma firmeza que me fez estremecer. — Estou começando
a questionar sua educação e como você sobreviveu por tanto tempo.
Eu também. Porque nunca agi assim na escola. Embora tenha tido
pensamentos rebeldes com frequência, nunca me deixei levar. Sabia que não
deveria. Mas com Kylan? Eu não queria nada além do que dar um soco na
sua cara.
E agora que Silas estava seguro, eu poderia.
Kylan pegou meu pulso antes de eu o levantar e me girou em seus braços,
colando minhas costas em seu peito. Em seguida, murmurou contra o meu
ouvido.
— Quero um desafio no quarto, não na garagem, querida.
— Bem, isso parece divertido — uma voz masculina anunciou atrás de
nós.
— Você não tem ideia — Kylan respondeu enquanto sua virilha espessa
pressionava minhas costas. — Raelyn, este é o Mikael, meu virgem de
sangue. Mikael, conheça meu novo brinquedo, Raelyn. — Ele me empurrou
para a frente, me fazendo tropeçar enquanto tentava recuperar o equilíbrio
nos saltos altos. Me virei para encarar os dois.
Mikael desceu uma escada para ficar ao lado de Kylan. Ele tinha os
cabelos loiros compridos, que batiam nos ombros largos. Usava um terno
preto que combinava com o do seu mestre, mas sem a gravata, deixando a
gola aberta no pescoço.
— Ela é bonita — ele murmurou, me avaliando enquanto seu olhar corria
sobre mim. — Gostei do toque adicional de vesti-la com suas roupas, Alteza.
Kylan sorriu.
— Sim, ela fica muito bem no meu paletó, não é?
— Humm.
— Devo pedir a ela para tirá-lo para você?
Mikael coçou a barba por fazer, com o olhar aquecido.
— Gostaria de ver o pacote completo, sim.
— Raelyn? — Kylan falou, arqueando uma sobrancelha.
Ele queria que eu tirasse a roupa para o seu humano de estimação?
— Não. — Se quisesse que eu tirasse o paletó, ele poderia fazer isso
sozinho.
As sobrancelhas loiras de Mikael se ergueram quando Kylan riu.
— Ela não é fantástica?
— Ela acabou de se recusar a te obedecer?
— Sim. — Kylan inclinou a cabeça para o lado e um sorriso brincou em
seus lábios. — Vamos tentar seduzi-la para ela se despir para nós?
— Poderíamos — Mikael respondeu, parecendo perplexo. — Mas nunca
tivemos que fazer isso no passado.
Kylan deu de ombros.
— Talvez eu deva explicar como as coisas vão funcionar.
— Podemos fazer isso lá em cima? Os pilotos estão esperando para
decolar e não o farão enquanto estivermos no trem de pouso. — O humano
falou com Kylan de forma tão casual, como se fossem amigos. Aquilo me
chocou e me manteve em silêncio.
— Claro. — Kylan estendeu a mão. — Venha, Raelyn.
E meu choque derreteu e se transformou em irritação.
— Au! Au! Au!
Kylan riu de novo.
— Precisa de uma coleira, querida? Como a que Robyn deu ao seu novo
escravo? Acho que eu ia gostar de te ver rastejar.
A imagem daquela nobre com aquele pobre homem ainda estava fresca e
brilhava com precisão na minha cabeça. Estremeci com a lembrança.
— Acho que não — Kylan murmurou e balançou dois dedos com
impaciência. — Venha aqui, Raelyn, ou vou te arrastar pelos cabelos.
— Eu o ouviria — Mikael acrescentou, se virando para as escadas. — O
homem não blefa.
Cerrei os dentes e caminhei para frente, ignorando a mão de Kylan. Ele
me agarrou pelo cotovelo e me puxou para trás com tanta força que perdi o
equilíbrio e caí contra ele.
— É a segunda vez que você ignora um gesto educado de minha parte.
Prefere que eu seja mais duro com você? — ele perguntou, segurando meus
braços dolorosamente enquanto me mantinha em pé. — Porque eu posso ser,
Raelyn.
Estremeci com seu aperto, mas me recusei a dar a ele a satisfação de um
pedido de desculpas.
— O Silas não está mais aqui para você usá-lo contra mim. Eu não tenho
mais nada.
Os lábios dele se contraíram.
— Silas. Um nome intrigante para um prospecto. — Ele me puxou para
mais perto e sua alegria desapareceu sob a sombra da escuridão. — Só
porque o Silas não está aqui, não significa que não posso machucá-lo. Ele
está no torneio agora. Basta uma mensagem para os organizadores e seu ex-
amante sofrerá um acidente do qual nunca irá se recuperar.
Meu coração apertou.
— Você o machucaria para me domar?
— Eu faria muito mais do que machucá-lo, querida. — A promessa em
suas palavras atingiu meu peito, despertando a náusea que senti no carro
novamente.
Meu estômago revirou e minha garganta se apertou. Não vomite. Não
faça isso. Engoli em seco, mas o ácido trouxe lágrimas aos meus olhos. Ou
talvez tenha sido causado pelo peso que tomava conta de mim.
A vida de Silas está em minhas mãos.
Um movimento errado, e Kylan cumpriria sua ameaça. Como poderia
resistir a ele, conhecendo as implicações?
Meus ombros caíram. Não havia escolha.
— Farei o que você quiser.
Kylan ergueu as sobrancelhas.
— Por um homem que você nunca mais verá?
Não me incomodei em responder. Minha lealdade a Silas não era da sua
conta.
— Ainda deseja que eu tire o paletó? — Porque eu tiraria. E rastejaria, se
ele assim o desejasse.
Ele afrouxou o aperto e semicerrou os olhos.
— Ele é um humano que você nunca mais verá, Raelyn. E se vencer, irá
se esquecer de tudo a seu respeito. Por que desistir do seu fogo por ele?
Encontrei seu olhar com um suspiro, sentindo meu corpo mais exausto do
que há muito tempo.
— Porque, pelo menos, ele tem uma chance de futuro. Eu não colocaria
isso em risco por nada no mundo, nem pela minha própria dignidade. — Me
afastei das suas mãos e deixei o paletó cair dos meus ombros. — Farei o que
você quiser, Alteza — repeti com mais formalidade.
Derrotada, me virei para as escadas, pronta para enfrentar o meu destino.
Kylan queria uma lutadora no quarto.
Bem, ele havia acabado de apagar minhas chamas.
Esperava que ele se contentasse com uma submissa.
V I R AELYN SUBIR AS ESCADAS , em direção de onde Mikael estava esperando,
na plataforma superior. Ele levantou uma sobrancelha em de um jeito
questionador, e eu assenti, sabendo o que ele pretendia fazer.
A garota precisava de um banho, roupas e comida. Mikael, sendo
humano, seria capaz de lidar com tudo isso melhor do que eu. Ele sempre
cuidou do meu harém e, em troca, a maioria delas gostava dele.
Estabelecemos o relacionamento depois que o comprei em um leilão, há uma
década. Às vezes, compartilhamos as mulheres, mas somente quando elas
preferem.
Raelyn assumiu muitas coisas que eu deveria ter esclarecido no carro,
mas optei por não o fazer. Às vezes, as ações falavam mais alto que as
palavras. E, com o tempo, ela perceberia que eu não tinha intenção de forçá-
la a fazer nada comigo. Preferia que minhas parceiras desejassem, e quando
mencionei amar uma mulher com coragem, quis dizer uma mulher que
poderia me desafiar no quarto, não se deitar e aceitar.
Estupro era para os fracos.
Coisa que eu não era.
Se Raelyn preferisse se isolar, eu permitiria. Seu relacionamento com o
humano — Silas — era mais profundo do que eu havia notado. Quando o
usei contra ela, era apenas uma ferramenta para mantê-la na linha para que os
outros não a matassem. E minhas palavras agora eram só para provocá-la,
mas tiveram o efeito completamente errado.
Matar o espírito dela nunca foi minha intenção. Eu precisava dela forte
para enfrentar as provações que viriam. Porque alguém estava puxando meu
tapete e me pintando como um imortal enlouquecido com a idade. Destruíram
meu harém, me deixando com a opção de me responsabilizar pelo massacre
ou admitir que alguém havia violado meu território. Nenhum dos dois era
aceitável — os dois sugeriam uma fraqueza. Mas prefiro ser conhecido como
imortal louco a incompetente.
Com um suspiro, peguei o paletó e segui os dois.
Mikael era um dos poucos que sabia a verdade. Ele estava comigo por
tempo suficiente para saber que eu nunca machucaria meu harém, nem
mesmo por tédio. E lamentamos a perda juntos.
Escolhi Raelyn por sua resistência, sabendo que precisaria de uma
substituta que pudesse se defender. Mas agora eu não tinha tanta certeza da
minha escolha. Ela amava outro homem, algo que eu poderia tolerar, mesmo
que isso me fizesse considerar formas de destruí-lo, e ela estava disposta a se
sacrificar por ele.
Mikael me encontrou no corredor perto do único quarto do jato, com uma
taça de champanhe com sangue na mão. Troquei o paletó pela flûte.
— Você sempre me traz os melhores presentes.
Ele sorriu quando pendurou o paletó no armário ao nosso lado.
— Você parecia precisar depois da exibição no andar de baixo.
Bufei e tomei um gole do líquido borbulhante.
— Sim, acho que estraguei tudo.
— Só um pouco — ele concordou e sorriu, mostrando as covinhas. —
Mas vamos consertar. Ela está deitada e se recusando a tomar banho ou
comer. Para usar suas palavras, ela só quer acabar logo com isso.
Meus lábios tremeram.
— A pobrezinha espera um desempenho rápido.
— Parece que sim.
— Vou provar que ela está errada, mas não hoje. — Ela não estava nem
perto de estar pronta para mim. Preferia que ela me implorasse para transar
com ela do que tomá-la contra sua vontade. — Pode informar aos pilotos que
estamos prontos para a decolagem? Estou mais do que pronto para ir para
casa.
— Só se você for falar com ela nesse meio tempo. — Ele apontou para a
porta. — Pelo menos, explique as regras.
Deixei a taça de lado.
— Você é sempre um estraga prazer.
— E você é um idiota — ele respondeu, sem medo de expressar sua
opinião. — Vá mostrar a ela quem você realmente é, para que ela pare de
fazer beicinho. É inadequado.
— Inadequado — repeti, balançando a cabeça. — Só você usaria esse
termo.
— Pare de protelar ou vou reter sangue.
Arqueei uma sobrancelha.
— Agora você está tentando assumir o comando? O que é que está
acontecendo com o mundo hoje?
Ele riu e tentou passar por mim, mas segurei seu quadril, puxando-o para
mim. Passei os lábios sobre seu pulso, sentindo sua essência despertar meus
instintos. Virgens de sangue eram raros, deliciosos e viciantes, mas eu
sempre me satisfazia com Mikael. Escolhi um homem porque, embora não
tivesse problemas em beber dele, não era a minha preferência sexual. O que
significava que nunca perdi o controle, mesmo quando ele me incentivava a
fazê-lo.
— Você não pode me negar nada — sussurrei enquanto minha língua
provocava sua veia.
Ele estremeceu contra mim, apoiando as mãos na lateral do meu corpo.
— Jamais faria isso.
Perfurei seu pescoço, apenas o suficiente para provar e provocá-lo com
minhas endorfinas. Seu pênis endureceu contra o meu, seu corpo sempre
receptivo ao que eu queria lhe dar e muito mais. Compartilhar mulheres com
ele era fácil. Nós dois gostávamos disso, e um do outro, mas nunca nos
envolvemos em atos só entre nós dois. Não era a minha preferência, nem a
dele.
Ele gemeu quando me afastei e sorri.
— O que foi isso de retenção de sangue?
— Vá se foder — ele grunhiu, com os olhos claros brilhando. — Vá falar
com ela.
Dei de ombros.
— Só porque eu quero.
— Aposto que sim. — Ele passou os dedos pelos cabelos longos e
caminhou pelo corredor em direção à área de estar principal. — Vou pegar a
Zelda emprestada. Não venha nos procurar.
Eu sorri.
— É por isso que você trouxe minha chef favorita para a viagem?
— Não, eu sabia que a garota precisaria de comida, mas agora vou usar
Zelda para alimentar outra coisa. — Ele olhou por cima do ombro com uma
chama ardente. — Então espero que você não esteja com fome, porque
ficaremos ocupados por um tempo.
Eu ri.
— Podemos nos cuidar. — Presumi que ele ou Zelda já haviam deixado
comida no quarto. Eu não tinha comido muito com as festividades desta
noite, e eles sabiam disso.
— Você sempre cuida — Mikael respondeu com outro flash daquelas
covinhas e desapareceu em direção à frente do jato.
Balançando a cabeça, bati na porta do quarto. Raelyn não respondeu.
Tomei seu silêncio como permissão para entrar e a encontrei encolhida na
beira da cama, olhando para a parede. Seus saltos altos estavam no chão,
apoiados contra a parede, deixando-a completamente nua.
Afrouxei a gravata e tirei as abotoaduras para enrolar as mangas até os
cotovelos. Raelyn moveu as pernas tonificadas, mas permaneceu
irritantemente silenciosa. Minhas provocações sobre o garoto claramente a
pressionaram demais. Que pena. Eu esperava que fosse preciso muito mais
isso para subjugar o espírito corajoso dentro dela.
Os humanos eram seres frágeis, a maioria era derrubada com um simples
olhar. Mas esta era promissora. Eu só teria que convencer seu lado desafiador
a voltar a jogar.
Coloquei meus sapatos ao lado dos seus e fiquei a sua frente, com a mão
no cinto.
— Vamos testar suas habilidades orais primeiro? — Só a ideia me deixou
excitado, mas eu não tinha intenção de seguir adiante. Eu queria uma reação.
Seus lábios fechados foram tudo o que ela me deu.
Suspirei e fui para o lado oposto da cama para me deitar ao seu lado.
— Você está me entediando de novo, Raelyn.
Nada. Nem mesmo um vacilo.
— Preciso trazer Silas para fazer você cooperar? — perguntei, curioso. —
É assim que eu provoco a reação que desejo?
— O que você quer de mim? — ela exigiu, se virando para me encarar.
— Você quer que eu chupe seu pau? Quer provar minhas notas altas? — Ela
tocou meu cinto. — Porque eu posso fazer isso, se é o que você quer. Só me
fale para que eu possa acabar logo com isso.
Deixei que ela chegasse ao ponto de abrir a fivela antes de agarrar seu
pulso e parar seus movimentos.
— Suas habilidades em preliminares e conversas com certeza exigem
desenvolvimento.
Pressionei sua mão conta o travesseiro ao lado da sua cabeça e a cutuquei
para se virar enquanto deslizava a perna estre as suas, me acomodando sobre
ela.
Ela agarrou meu ombro com a mão livre, me empurrando. Fiz um
muxoxo e capturei os dois pulsos em uma das minhas mãos e os coloquei
sobre sua cabeça enquanto a outra mão foi para a sua garganta. A contusão
que surgia em sua pele confirmou que eu tinha sido muito bruto com ela
antes. Fiz como uma demonstração para meus irmãos, para mostrar que a
tinha bem sob controle, mas ver a marca agora me deixou desconfortável.
— Você está dolorida?
— Por que você se importa? — ela grunhiu, me fazendo sorrir.
— Você não sabe nada sobre mim, cordeirinho — sussurrei. — Só o que
a sociedade te mostrou.
— Acho que as últimas horas, ou o seja lá o tempo que tenha se passado
na sua presença me mostraram o que preciso saber.
— É mesmo? — Inclinei a cabeça, capturando seu olhar. — E o que você
sabe, Raelyn?
Aqueles lindos olhos azuis bebês semicerraram, me animando. Aí está
você, querida. Venha brincar comigo. Me intrigue.
— Ofereci meu paletó quando você estava com frio — murmurei,
recontando a noite. — Não transei com você como muitos outros fizeram
com seus novos brinquedos e não deixei Robyn te punir depois que você a
encarou com atrevimento no carro. Também permiti que você vivesse quando
poucas pessoas tolerariam sua desobediência. Então, me diga, querida, o que
tudo isso diz sobre mim?
A cama retumbou embaixo de nós quando o jato ganhou velocidade,
fazendo com que seu olhar se desviasse para a janela próxima. Concedi
aquele momento a ela e soltei suas mãos, esperando que ela quisesse segurar
a cabeceira ou o colchão. Em vez disso, ela agarrou meus ombros com a
expressão repleta de admiração e preocupação quando decolamos.
A maioria dos humanos nunca havia voado, pelo menos, não
conscientemente. Era muito mais fácil drogá-los e guardá-los em um enorme
avião de carga, como se fossem gado. Seus lábios se entreabriam e seus olhos
se arregalaram.
— Gostaria de olhar pela janela? — perguntei, divertido.
Ela me olhou assustada.
— Eu, não, eu... — Ela engoliu em seco, com a testa franzida. — Eu
nunca, quero dizer...
— Eu sei. — Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto
equilibrava os cotovelos em ambos os lados da sua cabeça. — Se quiser olhar
pela janela, pode, mas tenha cuidado. — Comecei a me afastar, mas ela me
segurou com mais força, demonstrando medo.
Voar a assustava, mas meus lábios perto do seu pescoço, não.
Quase ri. A sociedade a havia amortecido diante da ameaça óbvia que era
estar por cima dela. Não era à toa que a maioria dos humanos vinha até a
mim destruída.
Ela começou a relaxar quando o avião estabilizou, desfazendo a careta
com um suspiro. Só quando encontrou meu olhar novamente é que ela
percebeu que tinha praticamente se agarrado a mim o tempo todo, mas, em
vez de se soltar, ela ficou paralisada.
— Me diga novamente, o que você sabe sobre mim? — provoquei,
incapaz de me impedir. Pressionei os lábios em seu pescoço – com gentileza
– e acariciei sua mandíbula. — Mikael quer que eu te fale as regras. Às vezes,
ele se imagina no comando, mas não está.
Levou um ano para liberar a personalidade que ele mantinha escondida
sob o treinamento doutrinador do Coventus. Ele mal se parecia com o homem
que comprei naquele terrível leilão. Mikael estava muito mais forte agora e
não tinha medo de me chamar a atenção. Isso fazia dele um bom amigo e um
parceiro ainda melhor.
— Essa é a minha primeira regra — continuei. — Este é o meu território,
Raelyn. Agora você é minha e fará o que eu disser, o que inclui permitir que
Mikael cuide de você. — Eu considerava essa a segunda regra. — Então, se
ele disser para você tomar banho e vestir roupas, você toma banho e veste as
roupas.
Ela semicerrou o olhar.
— Foi você quem me mandou tirar o paletó.
Meus lábios tremeram.
— Não, perguntei se você queria tirá-lo. Foi você que escolheu tirar.
— Não foi, não.
Pressionei minha boca na sua, silenciando a discussão.
Ela entendeu meu comentário como uma exigência, o que posso ter feito
de propósito, mas o fato é que eu nunca havia realmente ordenado que ela
tirasse o paletó. Seus lábios permaneceram fechados sob os meus. Não cedeu
nem foi receptiva, o que nos levou à minha próxima regra.
Forçar uma mulher no quarto tinha pouco apelo.
No entanto, eu gostava muito de seduzir uma mulher relutante.
Especialmente alguém que não queria se sentir atraída por mim.
Essa era minha regra tácita, que Mikael entendia e que eu nunca diria em
voz alta. Qual seria a graça de deixar Raelyn à vontade? Eu preferia muito
mais que ela me desafiasse e me odiasse. Sua submissão teria um gosto muito
mais doce dessa forma.
Nos virei e me deitei embaixo dela, posicionando suas pernas sobre meus
quadris e enfiei as mãos debaixo da minha cabeça. Ela se sentou, com as
palmas das mãos no meu abdômen em busca de equilíbrio e o peito arfando
pelo choque do nosso rápido movimento.
— Você tem seios lindos — elogiei, admirando os mamilos rosados e a
firmeza dos seios. A curva sutil da cintura levava ao ápice depilado entre suas
coxas. Quem a forçou a remover aqueles lindos cachos vermelhos precisava
de uma surra, porque aposto que ela era linda quando devidamente preparada.
Voltei o olhar para ela e vi suas bochechas coradas em um delicioso tom
de rosa. Humm, sim, eu gostava disso quase tanto quanto da raiva.
— Eu não... o que você quer de mim, Kylan?
Meu nome pronunciado por sua voz rouca provocou minha virilha. Os
humanos raramente se dirigiam aos seres superiores por seus nomes próprios
e a maneira como a sua mão cobria a boca agora dizia que ela havia acabado
de perceber seu erro. Os olhos azuis se arregalaram.
— Eu... eu... eu não...
— Pode me chamar de Kylan quando estivermos sozinhos. Na verdade,
eu prefiro. — Mikael sempre usava meu título formal de Sua Alteza. Podia
ser excêntrico, mas ficava cansativo quando todos se referiram a mim como
tal.
Seus ombros relaxaram, e ela voltou a apoiar a palma da mão no meu
abdômen. Ela não parecia nem um pouco perturbada por sua nudez — um
condicionamento que meus irmãos haviam enraizado nela. Eu deveria me
sentir mal com isso, mas realmente não consegui.
— O que você quer de mim? — ela perguntou novamente. Sua voz era
quase um sussurro.
— O que não quero de você, querida? — Eu a alcancei, envolvi a palma
da mão em sua nuca e a puxei para mim, colocando sua boca a poucos
centímetros da minha. — O que você acha que quero de você?
— Q-que eu o desafie.
Mordi seu lábio inferior.
— Boa garota. — Eu a beijei novamente – porque eu podia e queria – e
sorri quando ela grunhiu.
— Não sou um cachorro.
— Com certeza, não — murmurei, lambendo sua boca. — Abra-a para
mim, princesa.
— Eu não...
Minha língua a interrompeu e meu desejo de beijá-la de verdade assumiu.
A exploração no campo havia sido apenas o começo. Eu ansiava por mais,
precisava prová-la adequadamente, conhecê-la.
Ela segurou meu bíceps, tensionando os músculos com a força. Segurei
sua nuca com mais firmeza e agarrei seu quadril para nos girar novamente,
colocando-a de costas no colchão e me acomodando entre suas pernas
abertas. Ela cravou as unhas na minha camisa, me fazendo sorrir.
— É isso, Raelyn — sussurrei. — Continue protestando. Nós dois
sabemos que você não está falando sério.
— Eu te odeio — ela ofegou, e seus quadris arquearam na direção dos
meus em um contraste direto a suas palavras.
— Eu sei. — Eu também me odiaria. Este mundo. Essa vida. A forma que
a sociedade atual a havia humilhado. Não havia nada que eu pudesse fazer
para impedir, mas não significava que eu aceitava. Mikael era a prova disso.
Meu tratamento com ela, mesmo agora, também era uma prova das minhas
crenças fundamentais. Reconheci minha posição de poder sobre ela – um
direito que minha espécie conquistou por ser superior. Mas tinha o direito de
fazer isso? Era uma questão que eu ponderava com frequência.
Ela gemeu na minha boca, a palma da mão deslizou pelo meu braço até o
pescoço e seus dedos se entrelaçaram no meu cabelo quando a língua
finalmente respondeu à minha.
Por que ela queria isso? Ou por que ela queria me convencer a parar?
A garota inteligente sabia que eu queria um desafio e ceder era o oposto
desse pedido. Embora a excitação que umedecia minhas calças sugerisse que
poderia ser uma mistura de desafio e luxúria. Um convite inebriante que
aceitei aprofundando nosso beijo, assumindo o comando das nossas bocas e
ensinando a ela o que eu preferia. Ela retribuiu de forma dócil e seus mamilos
endureceram em pequenos pontos atraentes contra o meu peito.
Ah, ela aprovou, embora eu soubesse que não queria.
Pressionei minha ereção contra seu calor acolhedor, revestindo minha
calça com a evidência da sua apreciação. Rocei os lábios na sua bochecha, e
depois os levei à sua orelha.
— Você está gostando muito para alguém que supostamente me odeia. —
Ela ofegou com as minhas palavras, me fazendo sorrir. — Deveria te fazer
lamber minhas calças em punição pela mentira, querida. Te ensinar uma lição
de humildade e sinceridade.
— Meu corpo pode aprovar — ela falou, respirando fundo. — Mas a
minha cabeça nunca irá.
Sim, ali estava o desafio que eu cobiçava. Acariciei seu pescoço,
desfrutando de seu pulso acelerado.
— Me dê tempo, cordeirinho. Conquistarei sua cabeça com tanta
facilidade quanto o seu corpo.
— Nunca.
— Talvez eu conquiste o seu coração também — sussurrei de um jeito
sombrio. — Talvez roube-o de Silas. — Só dizer o nome do humano esfriou
meu ardor. Ter uma escrava que gostava de outro certamente não era atraente.
Em absoluto. — Como vocês dois conseguiram esconder o relacionamento?
— Era ilegal para os seres humanos se envolverem. A ligação poderia levar à
revolta, e Lilith certamente não queria que nada impactasse seu reinado.
Raelyn parou debaixo de mim, quase parando de respirar.
Eu me afastei para encontrar seu olhar.
— Preocupada que eu conte a alguém? Que arruíne suas chances de
imortalidade? Porque isso aconteceria. — Uma palavra sussurrada sobre a
conexão proibida o mataria. Um ser humano com alguma fraqueza não era
digno da imortalidade pela maioria dos padrões.
Seu lábio inferior tremia quando as lágrimas marcavam seu lindo olhar.
— O que você precisa que eu faça? — ela perguntou com a voz
embargada. — Eu não... por favor, não...
Ah, ali estava aquele sacrifício novamente, sua disposição de fazer o que
eu quisesse só para proteger um garoto mortal que ela nunca mais veria. Uma
reação tão humana. Impraticável e contrária à mentalidade de um guerreiro.
Silas realmente significava muito para ela, mas por experiência, eu sabia que
o homem não retribuiria sua lealdade. Os sobreviventes faziam o que
precisavam para permanecerem vivos, algo que ela faria bem em se lembrar.
Eu me afastei dela antes de fazer algo verdadeiramente catastrófico.
Como fazer uma ligação enquanto ela ouvia e pedir que o homem fosse
estrangulado e morto em vídeo ao vivo. Eu tinha motivos mais do que
suficientes para condená-lo, com status de Copa Imortal ou não.
— Kylan — ela implorou com a voz embargada.
Definitivamente, não era o tipo de pedido que eu preferia no quarto.
Eu daria a ela esse momento, esta noite, para superar. O Dia de Sangue
era intimidador e emocional, e tê-la recrutada para minha cama
provavelmente não estava no topo da sua lista de seleção.
Mas ela precisava perceber que havia muitos destinos piores que esse.
Minha reputação empalidecia em comparação a algumas outras, fato que
ela logo descobriria. Especialmente se Robyn mantivesse seu pedido de
visita.
— Durma um pouco, Raelyn. Vai precisar de suas forças se pretende
permanecer viva neste mundo. — Eu a coagi com minhas palavras, sabendo
que ela me ignoraria de outra maneira. Tínhamos um longo voo pela frente.
Ela também poderia aproveitar para descansar.
Parei na porta, com a mão na maçaneta.
Puta merda.
Não pude deixar de olhar por cima do ombro. Raelyn sucumbiu ao sono
como desejei, mas não antes de permitir que as lágrimas caíssem. Elas
marcaram suas feições delicadas, destruindo sua máscara de guerreira.
— Que promessa desperdiçada — falei, suspirando.
Quase a deixei, mas não consegui. Se ela dormisse nessa posição, seu
pescoço ficaria pior pela manhã, e eu já tinha causado danos suficientes.
Ela parecia frágil nos meus braços quando eu a movi na cama, deslizando
as pernas e o tronco por baixo das cobertas. Os cabelos ruivos caíam sobre os
travesseiros, me lembrando de sangue fresco. Passei o polegar por seu pulso
firme enquanto me perguntava se as cores combinariam.
— Vamos tentar novamente amanhã, Raelyn. — Ela não podia me ouvir,
mas as palavras eram mais para mim do que para ela.
Normalmente, eu a entregaria a Mikael e deixaria que ele a preparasse.
Mas como meu único membro do harém, me senti obrigado a mantê-la
segura. Havia um alvo em suas costas, não por causa de qualquer coisa que
ela tivesse feito, mas porque alguém queria me retratar como insano. Até eu
resolver esse problema, a vida dela, literalmente, descansava aos meus pés.
Sempre protegi ferozmente meu território, e com Raelyn não seria
diferente. Isso significava que passaríamos mais tempo juntos do que eu
costumava fazer com meus humanos. Teríamos que tornar esse tempo
divertido, o que seria difícil se ela vivesse apenas para proteger o outro.
Tinha que haver mais em sua existência do que um rapaz. Eu só tinha que
descobrir o que a fazia vibrar. Ainda bem que eu gostava de desafios.
Coloquei os cobertores em volta dos seus ombros e dei um beijo em sua
têmpora.
— Bons sonhos, cordeirinho.
A LUZ ME CERCOU . Entorpecente, branca e estranha.
Pisquei, olhando para as janelas que iam do chão ao teto e a claridade
além dela.
Montanhas, minha mente registrou. Montanhas de verdade.
— Não acredito, puta merda — murmurei, rolando para fora dos
cobertores e indo em direção às portas fechadas de uma varanda. Ao abri-la,
senti uma explosão de ar frio no quarto, mas não me importei.
Havia. Montanhas. Do lado de fora.
E árvores.
Árvores. De verdade.
Atravessei a porta e estremeci quando meus pés descalços tocaram a
textura fria abaixo.
Neve.
Minha boca se abriu quando fiquei de joelhos, enfiando as mãos na
brancura fofa e saindo congeladas.
— Ah! — Era muito gelado, mas lindo demais. Repeti a ação,
emocionada com o fenômeno sobre o qual só li nos livros.
A lua vibrante exibia o terreno, iluminando todos os detalhes prateados.
Essa era a causa do brilho estranho — o céu noturno claro e a lua quase cheia
refletindo na paisagem invernal.
Entreabri os lábios em reverência, mesmo quando meus membros
começaram a tremer.
— É tão bonito — murmurei, maravilhada e chocada.
— Sim — uma voz masculina profunda respondeu.
Pulei para trás e esbarrei em algo — alguém — duro. Braços quentes me
envolveram, dissipando imediatamente a friagem do lado de fora. Só então
percebi que alguém tinha me vestido com calça de pijama e camisa.
Kylan.
— Bem-vinda à minha casa, Raelyn.
Pisquei. Este era o seu lar. O seu quarto. Porque ele era o meu dono.
Porque fui selecionada para o seu harém, para transar com ele da maneira que
quisesse, até a minha morte.
Essa era minha vida agora.
Minha emoção morreu quando inspirei. Não haveria como explorar ou
apreciar a paisagem. Só me submeter ao membro da realeza atrás de mim.
— Você precisa comer — ele murmurou com os lábios no meu pescoço.
Meu estômago roncou em concordância, me lembrando de que fazia
horas, talvez até dias, desde a última vez que comi. Mikael havia tentado me
fazer comer no avião, gesticulando para um prato de comida que estava na
mesa de cabeceira. Não me incomodei, pois não queria vomitar quando
Kylan me tocasse depois.
Mas agora, eu não tinha escolha. Não comer só me enfraqueceria, e eu
não podia permitir isso na presença de Kylan. Ter dormido tanto já
demonstrava meu estado debilitado.
— Mais silêncio — ele falou com um suspiro. — Que repetitivo. — Ele
me virou, fazendo meus pés deslizarem sobre o chão frio. Emoldurou meu
rosto e seus olhos flamejaram. — Você vai comer.
— Eu não disse que não comeria — respondi, irritada por ele já estar me
tratando de forma rude. — E se você tivesse me dado mais dois segundos
para me ambientar, eu teria respondido.
Ele ergueu as sobrancelhas como se estivesse impressionado.
— Muito melhor.
Quase revirei os olhos. Quase.
— Você deve levar uma existência muito chata se acha isso divertido. —
Eu não podia acreditar que estava dizendo essas palavras em voz alta. Talvez
o lugar dominasse meus sentidos, porque eu sabia que não devia falar com
um vampiro, muito menos com alguém da realeza, dessa maneira. Mas,
caramba, o homem era irritante.
Sua boca se curvou em um sorriso feroz.
— Você não tem ideia, querida.
E eu não tinha vontade de saber.
— Achei que você queria que eu comesse.
— Quero.
— Então por que está me segurando assim?
— Porque eu quero. — Ele me segurou com mais firmeza. — E posso.
— Ótimo — retruquei.
— Ótimo — ele grunhiu de volta.
Nos encaramos. Seus olhos escuros focaram nos meus claros enquanto
meus pés congelavam na neve. Eu queria desesperadamente voltar a olhar
para as montanhas mais uma vez, mas seus polegares seguraram meu queixo
no lugar. O frio se espalhou dos meus pés aos membros, provocando um
arrepio na minha coluna. Ainda que a neve fosse muito bonita, também era
extremamente fria. Comecei a bater os dentes e apertei a mandíbula em
protesto.
Kylan colocou as mãos nos meus quadris e me levantou antes de
empurrar a porta com a bota. Ele usava jeans e um suéter preto de gola alta
que, com relutância, tive que admitir que ficava bem nele.
Ele me colocou dentro de um closet cheio de roupas.
— Vamos te vestir de forma adequada e te levarei para fora depois que
você comer.
— Para uma caminhada? — perguntei, com uma pontada de sarcasmo na
minha voz.
Seu sorriso era feroz.
— Sim, escravinha. Para uma longa caminhada. Deseja que eu pegue
coleira e guia também?
Fiz a minha melhor reverência para ele.
— Se é isso o que você quer, Alteza.
Ele riu alto e balançou a cabeça.
— Se dormir faz com que você fique mal-humorada, vou forçá-la a
dormir com mais frequência.
— Me forçar... — Apertei a mandíbula quando a compreensão do motivo
pelo qual dormi tanto se tornou claro. — Você me obrigou a dormir.
Ele me deu um olhar irônico.
— Fiz muito mais que isso. — Ele segurou meus ombros e me girou em
direção a uma prateleira de roupas femininas. — Escolha algo.
— Por quê? Você parece me vestir muito bem.
— Então você vai ficar nua.
Dei de ombros, sem me importar.
— A escolha é sua.
— Vai congelar lá fora.
Dei de ombros novamente.
— Isso vai ser pior para você do que para mim.
— É? — Ele passou os braços ao redor da minha cintura e apoiou o
queixo no meu ombro. — Explique a sua lógica.
— Um brinquedo congelado é um brinquedo morto. — O que havia de
errado comigo? Eu estava basicamente provocando um monstro com a ideia
de me fazer congelar até a morte ao ar livre.
Sua risada vibrou nas minhas costas.
— Ah, Raelyn, você realmente é um deleite.
Com um revirar de olhos, falei:
— Rae. — Me virei em seus braços e semicerrei os olhos. — Raelyn é
um nome ridículo.
— O mesmo pode ser dito sobre Rae.
— Bem, é a esse nome que respondo. Lide com isso ou espere que eu o
ignore.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— De onde veio esse ataque de confiança, meu cordeirinho querido?
— Não sei. Talvez eu tenha percebido que não tenho nada a perder e,
antes que você diga, não. Você não vai mais usar o Silas para me provocar.
— As palavras saíram da minha boca enquanto minha cabeça juntava uma
peça crucial do nosso quebra-cabeça. Apenas apareceu, como sempre
acontecia, e não pude evitar o sorriso que se seguiu. — Você não pode.
Kylan parecia se divertir muito.
— Ah, não posso? E por que não?
— Porque não pode — repeti, me sentindo exultante pela minha
descoberta.
Ele passou a mão ao redor do meu pescoço para me encostar na parede ao
lado das roupas.
— Essa não é uma explicação satisfatória, Raelyn. Tente novamente.
Me recusei a deixá-lo me intimidar.
— Se você se livrar do Silas, não terá mais influência sobre mim, Kylan.
Eu serei uma concha, um brinquedo quebrado, e depois o que aconteceria? —
Ele não teria mais interesse em mim, e a maneira como ele me olhou provou
isso.
Uma sombra de respeito surgiu em seu olhar astuto.
— Como você sobreviveu por tanto tempo neste mundo?
— Por ser a melhor da minha classe. — E entender meus oponentes
melhor do que eles mesmos.
— Porque você desejou a imortalidade.
— Ou me tornar Vigília.
Ele inclinou a cabeça para o lado e sua expressão era quase maligna.
— No entanto, você acabou no meu covil.
Tentei não deixar que esse último ponto doesse, mas foi o que aconteceu.
— Só porque você me escolheu.
— Se eu não tivesse te escolhido, outro teria.
— Você não sabe disso.
— Ah, eu sei, sim. Você foi marcada como um jogo justo. Um dos lycans
teria te selecionado em um piscar de olhos, e esse seu espírito valente seria
sufocado e morto naquele campo para que todos testemunhassem. — Ele me
soltou tão de repente que quase caí. — É algo cruel, Raelyn, mas você não foi
criada para lutar pela imortalidade. A cerimônia foi criada só para te fazer
acreditar por um segundo, para te dar esse falso senso de esperança e destruí-
la para nosso prazer. É assim que nossa sociedade funciona.
Ele se virou e começou a mexer no cabideiro enquanto eu o olhava
boquiaberta.
Para te dar esse falso senso de esperança e destruí-la para nosso prazer.
Ele estava sugerindo que tudo havia sido encenado? Que nunca fui
selecionada para competir? Que eu era só uma espécie de animal de
estimação humano para ser tomada e torturada mentalmente para o
entretenimento cruel de outras pessoas?
Combinava com o que eu sabia sobre vampiros e lycans. E Kylan me
dizer isso só aumentou o tormento.
— Aqui. — Ele estendeu uma blusa vermelha com decote em V e uma
calça jeans. — Estas devem caber.
Não as aceitei.
— Não fui feita para a Copa Imortal.
Seu olhar pecaminoso encontrou o meu.
— Não, você estava destinada à minha cama, que é exatamente onde vou
te colocar se você não começar a trocar de roupa.
— E o Silas?
Suas pupilas queimaram.
— O maldito humano de novo. Quantas vezes já te falei para esquecê-lo?
Três ou quatro, talvez?
— Me diga o que vai acontecer com ele — exigi, ignorando o
aborrecimento no tom de Kylan. — É só um jogo mental para ele também?
Kylan largou as roupas e me empurrou contra a parede novamente, com
as mãos aos lados da minha cabeça.
— Você está testando a minha paciência. Devo adverti-la que ela foi
estendida apenas para seu benefício. Não me pressione.
— Então me diga o que vai acontecer com ele. — Agarrei sua cintura,
sentindo o suéter de seda macio contra as palmas das minhas mãos. —
Preciso saber que ele tem uma chance.
— Nenhum de vocês tem chance.
— Não. — Balancei a cabeça, me recusando a acreditar nisso. — Ele tem.
Me diga que ele tem.
Seus olhos castanhos ferviam com violência. Ele manteve o predador
velado, mas agora me olhava com uma fúria não contida. Eu teria dado um
passo para trás se não estivesse contra a parede.
Este é o verdadeiro Kylan.
O membro da realeza mais antigo que existe.
E eu o enfureci.
Engoli em seco, minha boca tentando pedir desculpas enquanto meu
coração se recusava. Eu tinha o direito de saber, não tinha? Se tudo isso era
apenas um ardil destinado a atormentar meu amigo mais antigo, então eu
queria que ele admitisse. Precisava que ele me dissesse.
As maçãs do seu rosto ficaram tensas em linhas brutais quando ele
grunhiu.
— Não sou seu amigo, nem alguém a quem você tem o direito de
questionar ou dar ordens, Raelyn.
Ele nunca me diria. Porque ele me via como uma escrava. Uma humana
sem direitos.
Nenhum de nós era digno.
Abaixei a cabeça em deferência.
Por um longo momento, me esqueci de quem estava diante de mim. Não
era um homem, nem uma pessoa, mas um vampiro real com um longo
histórico de massacrar aqueles que estavam abaixo dele.
E agora, parecia que ele queria me matar.
Eu realmente me perdi. Resistindo a um superior... quem eu sou? Eu
estava lutando verbalmente com ele como faria com Silas ou Willow. Sabia
que isso era errado. Este não era um ser humano, mas um ser sobrenatural
que poderia me matar com um movimento do pulso e ninguém se importaria.
Porque não tenho ninguém.
Sem amigos.
Sem aliados.
Sem escolhas.
Kylan me possuía, e eu ousei enfrentá-lo. Não, exigi algo dele, recusei o
conforto das roupas, rejeitei todas as suas cortesias. Por quê? Porque o culpei
por roubar minhas chances de imortalidade.
Nunca tive chance.
Como me chamaram? Jogo Justo? Tudo tinha sido um dispositivo mental
destinado a entreter. Veja a mortal que pensa que é digna. Ela não é
adorável?
Todos as aulas, as pontuações, nada disso importava. Apenas me
prepararam para ser sua escrava glorificada pelo tempo que ele quisesse
brincar comigo.
— Ele é um dos candidatos preferidos — Kylan disse com a voz cheia de
aborrecimento. — Se o seu ex-amante vencer, ele se tornará um imortal e se
esquecerá de você, Raelyn. Mas parece que você vai morrer se lembrando
dele.
Ele se afastou com passos silenciosos.
— Ele não é meu amante — sussurrei, sem saber por que me preocupei
em esclarecer. — Apenas o meu melhor amigo, como a Willow.
Fechei os olhos, suprimindo as lágrimas que ameaçavam cair. Sempre
soubemos que nossos destinos se dividiriam, que em nosso vigésimo segundo
ano, nunca mais nos veríamos. Mas a realidade disso doeu.
Meus joelhos tremiam, e meu corpo estava exausto novamente. Eu
realmente precisava de comida. Mas o que isso importava? Achei que queria
ser forte antes de Kylan, mas eu já tinha provado que isso era impossível.
Algumas discussões não eram nada comparadas à sua força bruta e poder.
Passaria meus dias restantes servindo a ele e morreria quando ele se
cansasse de mim, ou seria relegada a um membro da sua equipe para que ele
pudesse ter amantes mais jovens.
Uma diversão passageira.
Que legado.
A palma da sua mão embalou meu rosto e o polegar enxugou uma
lágrima que eu não tinha percebido que tinha caído. Nem o ouvi se aproximar
de mim.
— É uma época selvagem — ele sussurrou com os lábios contra a minha
testa. — Reserve um momento para você, Raelyn. Tome um banho, se vista e
me encontre no corredor. Vamos comer e vou dar uma volta com você pela
propriedade.
A PENAS MEU MELHOR AMIGO .
Suas palavras apagaram minha ira em um instante, me deixando perplexo.
Por que eu tinha ficado tão furioso? Por ela ter um amante humano? Quem é
que se importava? Sim, ela me pertencia agora, mas por que eu deveria me
incomodar com seus sentimentos passados ou atuais?
Passei a mão pelo rosto.
— Você precisa fazer a barba — Mikael falou, a título de cumprimento,
encarando minha barba de três dias. — Ou vou mesmo reter o meu sangue.
— Por que todos os humanos nessa casa pensam que estão no comando?
— Primeiro Raelyn, agora meu virgem de sangue. — Estou começando a
pensar que preciso fazer vocês voltarem a si.
O olhar de Mikael se iluminou.
— Por favor, faça isso.
Eu bufei. Ele aceitaria imediatamente a oferta. O homem preferia
mulheres, mas não me recusaria se eu quisesse uma mudança. Infelizmente
para ele, isso raramente me atraía. No entanto, gostava bastante de sua boca.
Mas agora, eu estava desejando algo um pouco mais feminino e corajoso.
Segurar a cabeça de Raelyn enquanto empurrava meu pau em sua
garganta... humm, sim, isso parecia divino.
Mikael se encostou na parede ao meu lado e seus olhos verde azulados se
iluminaram pela curiosidade. Ele havia prendido o cabelo em um rabo de
cavalo baixo, deixando o pescoço exposto, do jeito que eu gostava.
— Você a deixou dormir no seu quarto.
— Sim.
— Isso é novo.
— Sim — repeti. O harém tinha sua própria ala. Era lá que eu transava
com elas, nunca em meus aposentos. — As circunstâncias atuais justificaram
a mudança.
— Você está preocupado que alguém a machuque.
— Pode me culpar? — Olhei para ele de lado. — Sabe que ela é um alvo.
Ele assentiu.
— Matá-la prejudicaria ainda mais sua imagem.
— Eles não vão só matá-la, Mikael. Vão fazer uma cena. — Depois do
desafio dela durante o Dia de Sangue, ninguém me culparia por executar uma
sentença de morte. Para sugerir insanidade, o assassinato teria que ser
espetacular e público.
— Você chegou mais perto de identificar o culpado?
Balancei a cabeça.
— Não, mas tenho uma lista de suspeitos que pretendo convidar para uma
visita, agora que adquiri uma nova consorte para expor como isca.
Jace estava no topo da lista.
Sua recente nomeação de um novo soberano proporcionou a oportunidade
perfeita. Eu já conhecia Darius, mas organizar uma apresentação formal ao
novo líder regional da realeza estava perfeitamente alinhado com a política
dos vampiros.
E, como a região de Jace fazia fronteira com a minha, parecia óbvio que
ele ou um de seus subordinados pudesse ser o culpado pela morte do meu
harém. Porque, se eu fosse incapaz de liderar, Darius — como herdeiro de
um antigo membro da realeza — poderia herdar todo o meu território.
Isso colocava Jace no topo da minha lista de suspeitos. O nobre
conspiratório estava tramando algo. Eu sentia isso toda vez que o via.
— Parece drenante — Mikael disse, e seus lábios se curvaram com o
trocadilho.
Me inclinei para ele, levando a mão ao seu quadril.
— Você é meu para ser compartilhado ou não.
O anseio aprofundou suas íris para um tom mais turquesa. Um homem
muito bonito, com aquelas maçãs do rosto pronunciadas e a mandíbula
delicada. Como se eu fosse deixar alguém tocá-lo sem minha permissão.
— Eu sei — ele murmurou, levando a mão até a minha bochecha. —
Você sempre cuida de mim.
— E isso nunca vai mudar — jurei baixinho quando a porta se abriu.
Em vez de reconhecer Raelyn, puxei Mikael para mais perto para roçar
meus lábios nos seus. Ele retribuiu o beijo. Seu corpo se moldou ao meu de
uma maneira familiar que me fez sentir como um rei. Deslizei a língua em
sua boca e apreciei o gemido que ele deu.
Dominar um homem — especialmente alguém tão forte quanto Mikael —
era algo inigualável. Adorava a sensação de estabelecer meu domínio,
carimbar minha reivindicação e dobrá-lo à minha vontade.
Era isso que eu queria de Raelyn: a fé completa que Mikael depositava
aos meus pés enquanto eu o devorava. Seus dedos deslizaram nos meus
cabelos, me segurando enquanto eu aumentava o aperto contra seu quadril em
aviso. Ele adorava ultrapassar meus limites, tentando pegar o que não lhe
pertencia e me desafiar de todas as maneiras.
Eu o empurrei contra a parede,. Meus lábios deixaram os seus em favor
do seu pescoço e perfurei sua veia sem aviso prévio. Raelyn tinha me deixado
de mal humor com toda a conversa dela sobre aquele humano. Felizmente,
Mikael conseguia lidar com as consequências por ela. Ele amava minha
marca de dor, mesmo quando eu o pressionava demais.
— Mais — ele gemeu, e seu corpo estremeceu com o prazer que liberei
com a minha mordida.
Fazê-lo gozar seria cruel, especialmente na frente de Raelyn. Seria tão
fácil — bastava aumentar as endorfinas e enviá-las diretamente para sua
virilha. O xingamento que deixou seus lábios disse que estava dando certo,
que eu o estava levando a um ponto sem retorno, sem ao menos acariciá-lo.
Ah, ele detestaria isso — se eu o forçasse a explodir sem oferecer a gentileza
do meu toque.
Mas a pior tortura de todas seria deixá-lo ansiando e sem gozar, o que o
faria procurar uma das empregadas ou Zelda mais uma vez.
Sua doce essência queimou na minha garganta, me lembrando do porquê
paguei tanto por ele. Virgens de sangue eram criados pelo sangue raro, daí
seu custo significativo. A maioria era comida uma vez e descartada, mas
escolhi manter o meu por companhia e, francamente, porque gostava dele.
— Você está me matando — ele sussurrou, não se referindo ao fato de
estar bebendo de seu sangue, mas devido ao êxtase que inundava suas veias.
Eu ri, mas continuei a engolir quando ele esfregou seu pau duro contra o
meu quadril.
— Puta merda, Kylan — ele grunhiu.
O uso do meu nome me disse o quanto ele estava envolvido em minha
mordida, me fazendo sorrir contra seu pescoço.
— E você queria reter seu sangue. — Lambi a ferida para fechá-la e
encontrei seu olhar ardente. — Você não duraria um dia.
— Idiota — ele falou com a voz baixa, irritada e cheia de excitação.
Apalpei sua ereção.
— Estou tentando te salvar do constrangimento na frente da Raelyn.
— Ainda é um idiota.
Sorri, acariciando-o da maneira que eu sabia que ele preferia — da
maneira que eu também gostava.
— Devo terminar ou você prefere a Zelda?
Ele agarrou meu pulso. Seu orgasmo estava próximo.
— Odeio quando você faz isso.
— Eu sei.
— Mas você faz mesmo assim.
— Sim. — Mordi seu lábio inferior com força suficiente para sangrar e
lambi a ferida, causando espasmos mais uma vez.
— Kylan — ele grunhiu.
— Me diga que você quer mais.
— Você sabe que sim.
Olhei para Raelyn, que estava muito corada, e seus lábios se separaram
enquanto ela lutava para firmar a respiração.
— Gostaria de vê-lo gozar? É realmente glorioso. — Coloquei mais
pressão em minha carícia, fazendo com que ele gemesse mais alto e agarrasse
meus braços em busca de apoio. — E aí, Raelyn? Devo deixá-lo gozar? Para
você?
Ela arregalou os olhos e seu rosto corou ainda mais.
— Não tenho certeza de que ela está pronta, Mikael — murmurei, ainda
olhando para ela enquanto eu o massageava de maneira tortuosa através da
calça jeans.
Ele apoiou a cabeça no meu ombro e deixou um xingamento escapar de
seus lábios.
— Foda-se...
— Também não tenho certeza de que ela esteja pronta para isso. —
Inclinei a cabeça para o lado. — Raelyn?
Ela umedeceu os lábios, olhando de mim para Mikael. Ela deve ter visto a
agonia na expressão ou na postura dele porque, lentamente, assentiu.
— Diga — incentivei.
— Sim — ela sussurrou.
Mikael estremeceu contra mim, seu alívio era palpável. Ele sabia que se
ela tivesse recusado, eu também o faria.
Desabotoei seu jeans e puxei o zíper para soltar o pau ereto. Ele empurrou
quando pousou na palma da minha mão e sua respiração estava ofegante
enquanto eu o acariciava da base à ponta com movimentos bruscos e rápidos.
Ele preferia que eu o acariciasse com intensidade, e seu desejo de ser
dominado ficava evidente em momentos como este.
Em vez de forçá-lo a esperar — como eu normalmente preferia — dei o
que ele desejava e perfurei seu pescoço mais uma vez.
Ele gozou com um grito gutural, e seu corpo explodiu com a minha
mordida e meu toque. Passei o braço ao seu redor, segurando-o enquanto
tinha espasmos violentos. As sensações lhe proporcionariam dor e prazer, e a
força do seu orgasmo era potencializada por minhas presas em seu pescoço.
Ele sussurrou meu nome como uma maldição e um apelo, seus músculos
contraídos e trêmulos.
Tanta força para um humano.
Tanta beleza.
Bebi de seu sangue, satisfazendo minha sede e, gentilmente, fechei as
marcas em seu pescoço. Raelyn ficou de lado, respirando ofegante e seu
interesse sexual mais que evidente. A mulher arrasada havia desaparecido e
em seu lugar havia uma mulher que percebia o potencial da sua situação.
Porque poderia ser ela em meus braços, e eu deixei isso bem claro com
meu olhar.
Mikael descansou a cabeça no meu ombro enquanto lutava para recuperar
o controle, ofegando pelo esforço inebriante e intoxicante.
Eu a encarei, deixando-a sentir a paixão do momento. Pelo jeito que ela
apertou as coxas, soube que havia gostado do show e talvez até quisesse se
juntar a nós.
Mas não estava pronta para nada disso.
Encostei os lábios na têmpora de Mikael quando o afastei, seu pau ainda
duro na minha mão. Nossos suéteres estavam uma bagunça, mas sua
expressão satisfeita demonstrava que não tinha arrependimentos.
— Obrigado — ele sussurrou.
— Acho que você precisava disso. — Especialmente considerando que
ele passou a noite anterior com Zelda.
— Sabe que sim — ele respondeu, com os olhos nublados. — Eu
retribuiria o favor, mas não é isso que você realmente quer.
Às vezes, ele parecia me conhecia bem demais. Em vez de concordar,
tirei o suéter e o entreguei a ele.
— Limpe isso.
Ele o passou na virilha, usando-o para se limpar.
— Certo.
A crescente excitação de Raelyn preencheu o ar, fazendo com que meus
olhos encontrassem os seus. Eles estavam firmemente afixados no meu
abdômen nu.
— Acho que ela aprova, Mikael.
— Ela teria que ser cega para não aprovar — ele respondeu e olhou por
cima do ombro com um sorriso. — Seja uma boa escrava e talvez ele te deixe
tocá-lo.
Eu permitiria que ela fizesse muito mais que isso.
— Não vá a lugar nenhum, Raelyn. Preciso de outro suéter.
Ela assentiu em silêncio, seu foco caindo na minha virilha. Naquele
momento, seu silêncio não me incomodou tanto quanto antes. Ela umedeceu
os lábios, fazendo meu pau pulsar por trás do zíper.
Definitivamente, iriamos testar essas habilidades orais — em breve.
Passei os dedos pelos cabelos e entrei na suíte. Havia vários suéteres
pretos nas prateleiras, facilitando minha escolha. Coloquei outro de gola alta
e peguei um cachecol para Raelyn usar quando nos aventurássemos lá fora.
— É uma linhagem única — Mikael estava explicando. — Virgens de
sangue não frequentam universidades como você. Somos criados no
Coventus e leiloados durante o nosso vigésimo segundo ano.
— Leiloados? — ela repetiu, parecendo intrigada. — Semelhante a um
dia de sangue?
— Na verdade, não. No Dia de Sangue, o magistrado lê o seu destino.
Vampiros ricos nos compram e, felizmente, Kylan me achou digno o
suficiente para dar o lance mais alto.
Felizmente, pensei, quase revirando os olhos. Ele não estava errado, mas
também não estava certo.
— Então ele comprou você.
— Sim.
— E há quanto tempo você mora com ele?
— Há mais de uma década.
Escolhi esse momento para me juntar a eles, principalmente porque
queria ver sua expressão, e ela não me decepcionou. Seu queixo estava no
chão.
— E não pareça surpresa, querida — brinquei, fechando a porta. —
Mikael é um exemplo do que acontece quando eu gosto de um humano. Eu o
deixei viver. Isso é extravagante?
Mikael semicerrou os olhos.
— Pare de ser idiota.
— Como você apontou várias vezes hoje à noite, essa é a minha
especialidade.
Ele apenas balançou a cabeça.
— Desisto de tentar ajudá-lo.
— Pode-se pensar que você me deve.
— Paguei minha dívida em sangue — ele respondeu, se virando com um
olhar aguçado. — Tenham um bom passeio. Vou tirar uma soneca.
Sorri ao olhar para seu traseiro.
— Algo te exauriu, Mikael?
Ele levantou um dedo em resposta, me fazendo rir. Céus, ele estava muito
mais engraçado agora do que quando nos conhecemos. Todos aqueles filmes
antigos e programas de televisão o haviam ensinado a ser um ser humano
adequado, equipado com um vocabulário sacana e tudo mais.
Raelyn olhou para ele com uma expressão perplexa.
— Não entendo o que isso significa.
Claro que ela não entenderia. A maioria da minha espécie desprezava o
comportamento e a linguagem grosseiros.
— Ele está mandando eu me foder.
Ela arregalou os olhos.
— E você permite?
— Você xingou na minha presença mais cedo sem nenhuma reprimenda.
Por que com ele seria diferente? — O que inspirou uma boa pergunta. —
Quem te ensinou essa linguagem?
Ela fez uma careta.
— Que linguagem?
— “Puta merda”.
— Você está de brincadeira? Os lycans usam essa palavra o tempo todo.
Ah, sim, eles usam.
— Faz sentido.
— Você prefere que eu não a use?
— Pelo contrário, espero que sim. — Me aproximei, prendendo-a contra
a parede. — O “me fode” é uma das minhas expressões favoritas.
Especialmente no quarto. Sinta-se à vontade para usá-las a qualquer
momento. — Enrolei o cachecol em seu pescoço avermelhado e, lentamente,
coloquei a ponta entre os seios. — Humm, essa cor fica linda em você.
Ela engoliu em seco, suas íris azuis ficaram mais calorosas.
— O-obrigada.
Quase a beijei novamente, mas seu estômago roncou alto o suficiente
para me lembrar das suas necessidades mortais.
Comida.
Sim.
Depois, uma caminhada com minha escrava. Meus lábios se curvaram
com a lembrança da sua reação mais cedo. Embora eu não tenha gostado dos
seus comentários sobre Silas, gostei das brincadeiras.
Passei os dedos em sua bochecha, na base do seu pescoço e sobre seu
peito, depois entrelacei os dedos aos dela. Levei seu pulso aos meus lábios.
— Hora de te alimentar.
T ESTEMUNHEI vampiros tomarem humanos várias vezes ao longo dos anos,
mas nada comparado a Kylan e Mikael. Normalmente, os gritos eram de dor,
não de prazer. Mas Mikael certamente havia apreciado as atenções de Kylan.
Minhas pernas ficaram bambas só de pensar nisso.
— Você está bem, querida? — Kylan perguntou com um brilho malicioso
no olhar. Provavelmente, ele podia sentir o cheiro da minha excitação.
— Estou. — Me forcei a dar outra garfada na comida que ele me deu.
Algum tipo de macarrão cremoso com muito sabor. Quando pedi proteína e
verduras, ele riu e me entregou isso, chamando de prazer. Tudo o que senti
foi que ficaria muito enjoada depois.
Comi metade e afastei a tigela. Kylan sorriu e arrancou o talher da minha
mão para dar sua própria garfada.
— Gostoso, não é? — ele perguntou depois de engolir. — As
universidades, como você as chama, fornecem apenas nutrição básica. Mas
não se preocupe, treinarei seu paladar com o tempo, e você me agradecerá
mais tarde.
— Por quê? — perguntei. — A comida só serve para dar energia. Nada
mais.
— Ah, querida. — Ele me deu uma olhada. — A comida oferece prazer.
Confie em mim.
— Como?
— Me lembre de te apresentar ao chocolate mais tarde. — Ele terminou
minha tigela e a colocou na pia. — Vamos comer mais depois da nossa
caminhada.
Toquei o estômago e balancei a cabeça.
— Não acho que posso aguentar mais nada.
— Acredite em mim. Você consegue. — Ele segurou minha mão e me
puxou da banqueta em que eu estava sentada junto ao balcão. — Venha,
cordeirinho. Hora de sair e brincar.
— Você realmente quer que eu te dê um soco — murmurei.
— Eu adoraria que você tentasse. — Ele voltou a atenção para meus pés e
franziu a testa. — Você precisa de sapatos.
Não sabia o que ele queria que eu usasse com as calças, então não escolhi
nenhum calçado. A maioria do meu guarda-roupa na escola era composta por
salto alto e vestidos — o guarda-roupa adequado das mulheres. Só consegui
me desviar da norma durante o treinamento físico, onde normalmente não se
usava nada.
— Certo — ele murmurou, soltou a minha mão e desapareceu em um
piscar de olhos.
Literalmente um piscar de olhos.
Como se ele desaparecesse diante dos meus olhos.
Já vi vampiros fazendo isso na universidade, mas não foi tão
impressionante.
Ele é realmente antigo. Mais de cinco mil anos, se os livros didáticos
estiverem corretos. Mas não agia da maneira que eu esperava. Ele era quase...
brincalhão.
— Aqui — Kylan falou, aparecendo diante de mim novamente, com
botas e meias na mão. — Coloque isso. Agora.
As palavras foram ditas como se esperasse que eu fosse discutir. Eu os
aceitei com um sorriso doce e os calcei sem dizer nada, só para provar que ele
estava errado.
Me levantei e o encarei.
— Estou pronta para brincar lá fora, Alteza.
A diversão iluminou seus olhos quase negros, transformando-os em um
tom marrom delicioso.
— Então você pode ser boazinha. Vou me lembrar disso mais tarde.
Ele enfiou um gorro de tricô na minha cabeça e orelhas antes que eu
pudesse murmurar uma resposta e me levou em direção a um conjunto de
portas de vidro.
Toda a minha irritação desapareceu quando olhei a paisagem
deslumbrante à nossa frente.
Montanhas. Neve. Árvores.
Meu coração acelerou, e eu entreabri os lábios em reverência. Nem
mesmo a rajada de ar fresco conseguiu dissipar meu fascínio. Atravessei a
porta aberta, com a atenção nas montanhas ao longe.
Lindas.
Queria me aproximar e explorar. Comecei a correr, ansiosa para...
De repente, tropecei, caindo em um banco de neve. Ergui um pouco o
corpo, confusa e me virei de lado com um “humph” antes de me deitar de
costas para olhar as estrelas.
Ou talvez fossem apenas as luzes piscando em meus olhos.
Ai.
— Isso foi gracioso. — Kylan apareceu com a expressão divertida ao
estender a mão. — Que tal tentarmos de novo, mas em vez de correr neve,
aprender a andar por ela?
Pisquei e meus dentes começaram a bater por causa do frio que escoava
pelas minhas roupas e atingia minha pele nua por baixo. Ele balançou os
dedos, e eu os segurei, sem saber como me mover. Com um puxão, ele me
levantou e suas mãos limparam a neve branca e macia dos meus braços.
— Dê um passo — ele insistiu.
Fiz o que ele pediu e quase caí de novo. Seu braço ao redor da minha
cintura era a única coisa que me mantinha na posição vertical. Segurei em seu
suéter, puxando-o para mais perto para me equilibrar.
Não foi tão divertido quanto eu esperava.
Ele riu e apoiou as mãos nos meus quadris.
— Fiquei com vontade de te levar para esquiar, só para ver como você
lidaria com isso.
Franzi a testa.
— O quê?
— É um esporte. Um dos meus favoritos. Vou te mostrar um dia.
Um esporte?
— Como um jogo?
Ele balançou a cabeça, com a expressão triste.
— Ainda que eu entenda a mudança de equilíbrio e poder, nunca vou
concordar com a destruição da sua cultura.
Olhei para ele.
— O que você quer dizer?
— Você acredita que o mundo sempre foi liderado dessa maneira, mas é
mentira, cordeirinho. Os humanos já governaram enquanto o resto de nós se
escondia. — Ele apertou minha bochecha. — Tudo mudou depois que um
lycan pegou a mulher errada. Sua espécie tentou nos atacar e nós retaliamos.
Minha respiração acelerou. Os seres humanos já governaram nosso
mundo? O quê? Como isso era possível?
— Vocês nos superavam em número — ele acrescentou enquanto passou
o braço em volta da minha cintura e me deu uma cutucada. Dei um passo, só
porque ele me forçou, e mais outro, depois que ele me cutucou novamente.
— Aí vai — ele elogiou, caminhando ao meu lado. — Aqui tem cerca de
quinze centímetros de profundidade. Se você mantiver um ritmo constante,
ficará bem.
De alguma forma, eu duvidava disso. Enquanto a neve cedia a cada um
dos meus movimentos, também ameaçava prender meus membros, agarrando
minhas botas.
— Enfim, voltando ao que eu estava dizendo. Vocês nos superavam em
um número bastante significativo, mas um rebanho de ovelhas empalidece
em comparação a um lobo irritado. E exterminar cerca de noventa por cento
da sua raça fez com que controlá-los ficasse mais fácil.
Minhas pernas se moveram — devagar — com as dele enquanto minha
cabeça lutava para processar suas palavras. Os seres humanos eram frágeis e
tinham vida útil reduzida. Como poderíamos ter liderado esses seres
superiores? Por que eles se incomodariam em se esconder?
Kylan encontrou nosso ritmo e seu braço se manteve firme nas minhas
costas.
— É o centésimo décimo sétimo ano deste novo mundo, Raelyn. — Seu
suspiro se misturou com o ar noturno, mostrando o clima mais frio. Fiquei
maravilhada com isso e com suas palavras. Todos os meus anos foram
envoltos em noites úmidas ou em ocasionais noites frias, nunca esse ar fresco
e cheio de prazer invernal.
Esta é a minha nova vida.
Não era perfeita, longe disso.
Mas poderia ser pior.
— Sinto falta do mundo antigo — ele continuou, com a voz suave. —
Com mais frequência do que deveria.
Olhei para ele, curiosa.
— Do que você sente falta?
Seus olhos estavam nas estrelas enquanto caminhávamos, e sua expressão
era distante.
— Sempre preferi paz e sossego, mas podia contar com humanos para
fornecer algum tipo de entretenimento. Isso evoluiu ao longo dos séculos,
mudando de geração em geração, sempre com uma mudança na evolução
cultural. Até que destruímos aqueles mais determinados e mantivemos apenas
os mansos para serem treinados e criados para nossa diversão pessoal.
Um arrepio percorreu minha coluna com a dura declaração.
— Não há mais caçada — ele murmurou. — Nada de emoção. Uma hora
de carro para Kylan City vai me colocar no centro de uma metrópole, onde
posso ter o que quiser, quando quiser, sem sequer pestanejar. Como isso é
pode ser bom? — Ele finalmente desviou o olhar do céu e voltou ao meu. —
Os humanos não discutem, nem lutam mais. Vocês só se inclinam e aceitam.
Sinto falta do desafio, Raelyn.
Paramos de andar. A linha das árvores da floresta estava diante de nós e a
propriedade às nossas costas. Suas pupilas estavam dilatadas, o predador
dentro dele estava à espreita. Eu deveria me submeter, olhar para baixo, para
qualquer lugar que não fosse diretamente para ele, mas me vi hipnotizada por
sua beleza.
Vê-lo em sua verdadeira forma com Mikael havia despertado algo dentro
de mim, algo faminto. O que, é claro, tinha sido o ponto. Eu era inteligente o
suficiente para perceber isso. Mas não podia negar seu apelo enigmático.
— Como você sobreviveu? — Ele se admirou, repetindo sua pergunta de
antes. — Você deveria ser uma mulher vazia como uma concha, assim como
as outras, mas não há um pingo de medo em você. Como seus professores
não perceberam seu potencial?
— Quer que eu tenha medo de você? — Porque uma parte lógica de mim,
temia. No entanto, algo nele me inspirava a me rebelar em vez de me render.
Ele passou a palma da mão na parte de trás do meu pescoço, debaixo dos
meus cabelos, e me puxou contra si.
— Quero saber por que você não sente como todo mundo, como
conseguiu passar despercebida em uma sociedade em que até o menor indício
de rebeldia o leva às fazendas de sangue.
Tremi com a menção das infames fazendas para onde os humanos eram
enviados para sangrar até a morte. Muitos dos meus colegas de classe foram
enviados para lá ao longo dos anos, e vários outros só nesta semana, em vez
de comparecer às cerimônias do Dia de Sangue.
Somente mil eram escolhidos em todo o mundo.
De quantos, eu não sabia.
— Mesmo agora, você não pula para responder como deveria — ele
sussurrou. — Eu poderia matá-la sem piscar, Raelyn, mas você confia em
mim para não fazê-lo.
— Talvez eu não tenha medo de morrer — sussurrei de volta para ele.
Seu aperto aumentou.
— Não minta para mim. Você quer viver. Por que mais desejaria a
imortalidade?
Ele me pegou.
— Eu deveria ter medo de você.
— Deveria — ele concordou.
— Mas não tenho.
— Eu sei. Agora me diga o porquê.
— Não posso. — Porque não sei o motivo.
Ele levantou uma sobrancelha.
— Talvez eu precise inspirar uma resposta melhor.
— Aquele...
Seus lábios silenciaram os meus quando ele me inclinou para trás. Algo
duro atingiu minhas costas — uma árvore, talvez? — fazendo o ar sair dos
meus pulmões. Me agarrei ao seu suéter, precisando da sua força para me
firmar. Sua mão se moveu para o meu pescoço, me segurando onde ele me
queria enquanto a língua deslizava na minha boca, me provocando a reagir.
Mas não consegui.
Não depois do que vi.
Não depois de como meu corpo respondeu ao dele.
Eu praticamente me derreti em seus braços, minha decisão manchada e
destruída em menos de vinte e quatro horas em sua presença. Não queria me
sentir atraída por ele, nem desejá-lo ou precisar dele. No entanto, sentia tudo
isso, mais do que senti com qualquer pessoa. Era a sua idade? Sua
experiência? O fato de ele ser o chefe de uma linhagem?
O calor acariciou minhas veias, apesar do ambiente gelado, e sua língua
liberou endorfinas que eu nunca soube que existiam.
Deusa, nunca senti nada assim. Era como se ele tivesse deixado minha
alma em chamas. Por que ele? Por que agora? Por que aqui?
Não poderia durar. Não iria. Eu morreria em um piscar de olhos,
desapareceria e seria esquecida.
Mas, pelo menos, a minha vida teria propósito e realização.
Teria mesmo?
Seus quadris encontraram os meus, dissipando meus pensamentos. Tão
exigente, tão grande. Estremeci contra ele, sentindo medo e, ao mesmo
tempo, animada com seu potencial. A mão que segurava meu pescoço
deslizou até chegar ao meu peito. Um choque me atingiu no local do contato.
Ah, eu gosto disso...
Silas havia me tocado ali antes, mas apenas na sala de aula. Fui a matéria
dele para um exame. Ele estava sendo medido pela rapidez com que poderia
me levar ao orgasmo, e eu o ajudei, fingindo. Ele retribuiu o favor uma hora
depois para o meu próprio teste.
Mas o toque de Kylan era diferente, mais rude, mais real e intenso. Ele
acariciou meu mamilo através do tecido, me fazendo gemer.
Eu não conseguia mais me lembrar do objetivo dessa demonstração ou
porque ele começou, mas não queria que terminasse.
Ele me levantou, fazendo minhas pernas envolverem sua cintura enquanto
me equilibrava contra a superfície dura atrás de mim. Em seguida, começou a
me beijar de verdade. Antes tinha sido só uma amostra do que ele podia
fazer, uma introdução, um teste. E eu devo ter passado, porque ele
desencadeou tudo agora, me dominando de todas as formas.
Minha cabeça girou.
Este era o predador.
O animal.
O homem que queria me devorar.
E tudo que pude fazer foi aceitá-lo.
Meus braços envolveram seu pescoço. Minha boca se abriu ainda mais
com seu ataque sensual e minha língua não ousou desafiar a sua. Ele me
queria, então me teria.
Obedeça ou morra.
Ele estava certo.
Eu não queria morrer
Mas também não me importava de viver... para isso.
— Puta merda — ele sussurrou. — Não me lembro da última vez que
quis alguém assim.
Suas palavras me assustaram quase tanto quanto suas presas afundando
no meu lábio inferior. Gritei e, logo em seguida, gemi.
— Ah... — Gostei demais daquilo – e sua língua tocou a ferida aberta.
Tremi violentamente, o prazer dominando todos os meus sentidos. — O
que...? — Não consegui terminar, mas senti minhas pernas apertarem ao seu
redor. — Kylan — murmurei, sem saber o que estava acontecendo.
Ele se mexeu entre minhas coxas, aumentando a sensação. Gemi
baixinho, apoiando a cabeça em seu ombro.
O que você está fazendo comigo?
Um nó se formou dentro de mim e disparou eletricidade para todos os
nervos.
— Desista — ele sussurrou, sua dureza acariciando meu clitóris através
do jeans.
Como?
Por quê?
Já fui tocada ali antes, mas nunca assim. Geralmente, eu me contorcia,
mas ele provocou uma demanda por mais.
— Agora, Raelyn. — Ele capturou meu queixo, puxando minha boca de
volta para a sua e me mordeu novamente. Eu mal podia sentir a pontada de
dor através da euforia que se seguiu.
E então estremeci.
Profundamente.
A escuridão consumiu minha visão, seguida por luzes brilhantes.
Um grito que mal reconheci como meu, saiu dos meus lábios.
Assim como uma risada satisfeita de Kylan.
A explosão continuou, e meus membros tremeram de forma incontrolável
enquanto o prazer me dominava.
Um orgasmo. De verdade.
Pensei que já havia experimentado isso antes, mas não. Nada comparado
a isso, a Kylan, à maneira como ele me possuía tão bem.
Não era de se admirar que Mikael estivesse tão exausto. Eu mal podia
continuar beijando Kylan, muito menos me afastar. Se os braços dele não
estivessem me segurando, eu teria caído.
— Preciso me corrigir — ele murmurou contra os meus lábios. — Isso foi
glorioso. — Ele capturou minha boca novamente, dessa vez com mais força
enquanto empurrava seu corpo duro contra o meu.
Levei um momento para seguir sua referência, para me lembrar de suas
palavras quando Mikael gozou mais cedo.
Gostaria de vê-lo gozar? É realmente glorioso.
Eu me perguntava como a relação deles funcionava. Claramente, era de
natureza sexual, mas Kylan não teve nenhum prazer. Ele esperava que eu
retribuísse? Uma imagem dele na minha boca surgiu na minha cabeça. Eu
conhecia a mecânica, poderia executar os movimentos muito bem. Deveria
oferecer agora? Me ajoelhar na neve? Abrir sua calça e chupar seu pau?
— Ainda sem medo — ele falou, sorrindo contra a minha boca. — É
incrível.
Suas pupilas dilataram, uma visão surpreendente durante a noite,
especialmente comigo sendo o foco de sua luxúria revelada.
— Por que eu teria medo de você depois disso? — perguntei.
Ele riu de um jeito sombrio e passou o nariz pela minha bochecha.
— Por que, de fato — as palavras eram baixas, sedutoras e
assustadoramente controladas —, eu poderia te destruir, Raelyn.
— Você já disse que o faria.
— Sim — ele sussurrou e deslizou os lábios para o meu pescoço. —
Disse. E, no entanto, você se apega a mim como se eu fosse sua fonte de
vida.
— Porque você é — respondi, arqueando em sua direção. — Você me
possui.
Ele parou e sua boca pairou sobre o meu pulso.
— Eu?
— Sim. — Me sentia exausta, apesar de não ter feito quase nada hoje.
Meu corpo estava saciado da maneira mais estranha.
— E você não tem medo de mim. — Não era uma pergunta, mas uma
declaração.
— Eu deveria, mas não, não tenho. — Na verdade, não. Não da maneira
que eu deveria. — Se vou morrer, será com a minha dignidade intacta. — Ele
apenas descarrilou essa decisão por um segundo com suas ameaças contra
Silas, mas agora isso não se aplicava.
Eu morreria quando Kylan achasse que chegou a hora.
Não imploraria por um destino diferente, nem me deitaria e aceitaria.
Mas temer o inevitável não parecia mais racional. O que tinha que
acontecer, aconteceria, com ou sem a minha complacência.
— Pra que obedecer quando o resultado final nunca muda? — perguntei,
recuando para encará-lo. Nenhum sinal de emoção residia em sua expressão.
Sem raiva. Sem curiosidade. Apenas Kylan me observando de forma
inescrutável.
— O resultado final será?
— Minha morte.
— Entendo. — Ele inclinou a cabeça e desceu as mãos para os meus
quadris. — Você assume muito rápido que a morte é tudo o que planejei para
você.
— E não é? Não é esse o seu método? Transar com o harém e depois
matá-lo?
Me arrependi das palavras assim que as disse. Eram abrasivas,
desafiadoras e ferviam em seu olhar quando ele olhou para mim. Atingi um
ponto crítico que nos envolveu em um silêncio ameaçador por muito tempo.
Ele estava revivendo os momentos na sua cabeça? Apreciando o que
havia feito? Prevendo como acabaria me matando? Porque sua expressão
sombria sugeria que ele queria fazer isso agora, assim como o aperto quase
doloroso.
— Você deve ter cuidado, Raelyn — ele falou com a voz baixa. — Até
certo ponto, eu entendo. Mas falar de ações que você não conhece é passível
de uma punição que você não irá apreciar.
Ele me tirou de cima dele, me forçando a ficar de pé. Depois me soltou
tão repentinamente que quase caí.
A perda do calor do seu corpo, juntamente com o gelo que revestia suas
feições, me provocou um arrepio na coluna.
— Isso foi esclarecedor... — Ele se virou com um grunhido quando uma
mulher de pele escura atravessou o terreno a uma velocidade incrível.
Um vampiro.
Não, não qualquer vampiro.
Angelica.
A humana que ganhou a Copa Imortal quando eu tinha quinze anos. Ela
foi uma inspiração para mim, uma prova de que as mulheres poderiam ganhar
a imortalidade tanto quanto os homens.
Fiquei boquiaberta quando ela ficou de joelhos na neve, aos pés de Kylan,
com os cabelos castanhos espalhados ao seu redor.
— S-sua Alteza. Vim o mais rápido que pude.
— O que é isso? — Kylan se ajoelhou ao lado dela, a mão indo para o
suéter.
Sangue, percebi. Ela estava coberta de sangue.
— O que aconteceu? — ele exigiu saber quando ela não respondeu de
imediato.
— T-Tremayne — ela sussurrou com os ombros tremendo.
— O que tem o Tremayne? — ele perguntou, reconhecendo o nome. Eu
não sabia de quem se tratava. Meus estudos se concentravam na realeza, não
em seus constituintes. — O que ele fez?
Angelica tremeu. Seu medo era palpável quando ele a forçou a levantar a
cabeça e encontrar seu olhar.
Ela estava aterrorizada — não com a situação, mas com ele, percebi.
Kylan acariciou sua bochecha, suavizando a voz.
— Não vou disciplinar você pelas ações dele, Angelica. Agora me diga o
que ele fez.
Ela engoliu em seco, a dúvida irradiando da sua expressão. Kylan era
conhecido por seus castigos perversos, seu reinado não era gentil. No entanto,
ele foi gentil comigo, mesmo quando eu o levei ao limite.
Qual versão de Kylan era a verdadeira?
— Ele matou a todos, Alteza — Angelica sussurrou.
— Todos — ele repetiu. — De quem você está falando?
— Todos os seres humanos a serviço dele na Torre Tremayne. — Ela
arregalou os olhos. — Foi um banho de sangue. Vim aqui para te dizer, para
avisá-lo, que ele está em Kylan City agora e acho que fará o mesmo no K
Hotel. Ele está dizendo... — Ela estremeceu, sua expressão se desfazendo. —
Ele está dizendo a todos que você deu a ordem.
K YLAN FICOU ASSUSTADORAMENTE IMÓVEL .
Angelica soluçou e olhou novamente para o chão enquanto eu estava
congelada atrás deles.
Ele está dizendo a todos que você deu a ordem.
Para matar humanos como ele havia feito em seu harém?
Levando em conta sua reputação, parecia algo que ele faria, mas a rigidez
em sua coluna sugeria o contrário.
Ele se levantou devagar, com as mãos fechadas ao lado do corpo. Quando
ele se virou para mim, vi o nobre da realeza em plena exibição —
sobrancelha suntuosa, mandíbula tensionada e os olhos frios.
Sua expressão exigia submissão.
Tentei me curvar, ceder ao seu domínio, mas meus joelhos se recusaram a
dobrar. Até meu pescoço protestou contra a ideia.
Você não tem medo de mim. Suas palavras de antes provocaram minha
cabeça, tentando e falhando em inspirar a razão.
Eu deveria. Sei que deveria. Mas você tem razão. Não temo e não faço
ideia do porquê.
Ele pegou minha desobediência com um olhar antes de focar na outra
mulher.
— Levante-se, Angelica — ele exigiu. — Temos trabalho a fazer. — Ele
olhou para mim novamente. — Preciso de você lá em cima, na minha suíte.
Agora.
Não discuti, não com a raiva mal contida fervendo em seus olhos escuros.
Ele parecia pronto para matar, e eu não queria ser o alvo dessa raiva.
Puxei a jaqueta e corri para dentro da casa, subi as escadas e fui
diretamente para o quarto.
E agora? Eu me perguntei, mordendo o lábio. Ele me queria nua de novo?
Estava planejando se juntar a mim? Fui dispensada pelo resto da noite?
Tirei as botas, colocando-as no tapete dentro do armário. Em seguida,
tirei a jaqueta e a pendurei em um gancho para secar. O que vem agora? As
roupas?
A porta se abriu antes que eu tivesse a chance de me despir. A presença
repentina de Kylan atrás de mim era sinistra. Me virei lentamente,
aterrorizada com o que encontraria em sua expressão, mas precisando saber,
tudo ao mesmo tempo.
Ele só me olhou, e seus olhos escuros esconderam todos os detalhes.
Ele não se importava?
Só estava entediado?
Mas enquanto eu o estudava, um vislumbre de algo brilhou nas
profundezas de seu olhar. Estava lá e desapareceu tão rapidamente que quase
não percebi, poderia facilmente ter sido inventado. Mas, não. Definitivamente
estava lá.
Devastação.
— Precisamos fazer uma viagem a Kylan City — ele falou, de forma
categórica, se aproximando. Apertou meu queixo entre o polegar e o
indicador, e seu olhar se intensificou. — Preciso que você se comporte,
Raelyn, o que significa se curvar e se envolver em todas as formalidades. —
Seu peito encontrou o meu quando ele me apoiou na parede. — Se você me
desobedecer, serei forçado a puni-la em público, e você não vai querer que eu
faça isso.
A promessa em suas palavras provocou arrepios em minha coluna. Não,
eu definitivamente não queria isso.
— Entendo — sussurrei, engolindo em seco.
— Não era assim que eu queria passar nossa primeira semana juntos, mas
Tremayne não me deixou escolha. Se eu pudesse te deixar aqui, eu deixaria.
— Ele quase parecia se desculpar, o que não fazia sentido. Os membros da
realeza levavam seus membros favoritos do harém a todos os lugares. Ser sua
única consorte no momento o deixou com pouca escolha. — Estou falando
sério, Raelyn. Preciso que você se comporte.
— Eu disse que entendi — respondi, depois acrescentei rapidamente —
Vossa Alteza — para abrandar o tom das minhas palavras.
Ele balançou a cabeça em desaprovação.
— Não foi um bom começo, Raelyn.
— Ainda não estamos na cidade — murmurei.
Ele ergueu as duas sobrancelhas, claramente sem paciência.
— Eu amo sua coragem, mas agora não é hora, a menos que você queira
que eu bata na sua bunda e depois transe com você na frente de uma sala
cheia dos meus constituintes. E se você for realmente desobediente, serei
forçado a permitir que eles encostem em você também. É isso que quer?
Entreabri os lábios, chocada com sua descrição impetuosa e a maneira
furiosa com que disse essas palavras, como se até a noção disso tudo o
enfurecesse. Limpei a garganta, procurando coragem para responder.
— Eu... não. Claro que não quero isso. — Quem iria querer?
Seu aperto no meu queixo ficou mais forte, e ele semicerrou os olhos.
— Minha reputação é o que mantém esse território vivo. Você pode não
ter medo de mim, mas os outros têm, e preciso que continue assim.
Entendeu?
Pisquei.
Ele estava simplesmente... confiando em mim? Estava explicando por que
ele precisava que eu me comportasse? Essencialmente admitiu que a máscara
que usava era apenas para o público? Porque isso se encaixava no que vi até
agora — porque o Kylan dos meus livros didáticos não correspondia ao
Kylan diante de mim.
O membro da realeza sobre o qual eu li não teria nenhum problema em
transar comigo em público — inclusive durante o Dia de Sangue — e faria
isso mais uma vez sem se importar com o relato que Angelica havia acabado
de lhe dar.
Mas ele se importava.
O suficiente para necessitar de uma viagem à Kylan City.
O que significava que ele nunca havia ordenado essas mortes de
humanos.
Eu o observei. Seu olhar estava sombrio, a linha firme dos lábios, a
tensão nas maçãs do rosto e sua postura cansada enquanto ele continuava
segurando meu queixo com firmeza entre o polegar e o indicador.
Ele queria que eu entendesse não só seu pedido, mas também a
importância por trás dele. Ele precisava que eu o obedecesse.
— Você não quer me punir. — As palavras não eram as que ele esperava
que eu dissesse, mas foram as primeiras que minha boca me permitiu
expressar.
— Não. Da maneira que nossa sociedade exige, não — ele concordou. —
Mas farei, se seu comportamento exigir isso.
— Como discutir com você em público. — Algo que nunca pensei em
considerar em voz alta, muito menos fazer, mas minhas reações a Kylan não
eram sensatas desde o momento em que ele ficou na minha frente naquele
campo.
— Sim, ou com qualquer outra pessoa — ele respondeu. — Preciso do
seu temor, Raelyn.
— E se eu não puder te dar isso?
— Então serei forçado a fazer com que você tenha medo.
Só as palavras me fizeram tremer.
— Não quero isso.
— Eu também não.
— Por que manter uma imagem de crueldade quando você não gosta? —
perguntei, curiosa de verdade.
— Porque mantém a paz. Alguém tem que ser o cara mau, Raelyn. É um
fardo que carrego há séculos, e meu povo prospera por causa disso — ou eles
têm que prosperar, de qualquer maneira — até recentemente.
— Até recentemente? — repeti.
Ele balançou a cabeça.
— Eu já disse mais do que pretendia. — Ele deu um passo para trás,
soltando a minha mandíbula para esfregar a sua e me permitindo um breve
vislumbre do homem exausto por trás da farsa. O homem que liderava sob
uma nuvem de brutalidade porque acreditava ser o melhor método de
governar. Talvez estivesse certo. Essa sociedade prosperava com a violência,
e ele era o rei notório — o mais velho de todos, exceto da própria deusa.
— Me diga que vai se comportar, Raelyn.
Já estou me comportando, queria dizer, mas ele precisava ouvir as
palavras para acreditar nelas. Então fiz a única coisa que pude para acalmá-lo.
Me ajoelhei e inclinei a cabeça até o chão, me colocando na mais alta posição
de respeito que um humano poderia dar a um superior, me deixando exposta
e completamente à sua mercê.
— Sim, meu príncipe — falei, me recusando a me mover ou olhar para
cima até que ele permitisse.
Ele não disse nada durante tanto tempo que pensei que estivesse me
testando, mas então ele se agachou diante de mim e usou o dedo para levantar
meu queixo.
— Gosto de você nesta posição, Raelyn — ele murmurou. — Só poderia
ficar melhor se você estivesse nua.
Boa sorte com isso, eu queria dizer. Mas sussurrei:
— Como quiser, Alteza.
Os lábios dele se curvaram.
— Quase acredito na sua submissão, Raelyn. Mas seus olhos sugerem o
contrário. — Ele passou o polegar sobre a minha boca e se levantou
novamente. — Você vai precisar de uma roupa nova. Vou pedir a Mikael
para arrumar. — Ele olhou para mim. — Eu mentiria se pedisse desculpas,
então não vou fazer isso, porque definitivamente vou aproveitar cada minuto.
Franzi a testa.
Que tipo de roupa vou ter que usar?
R ENDA .
Foi isso que Kylan quis dizer quando mencionou minha necessidade de
roupas novas. O vestido transparente vermelho-escuro — se é que poderia ser
chamado assim — deixava tudo exposto por baixo e terminava na parte
superior das minhas coxas. Kylan colocou o paletó ao redor dos meus ombros
para a viagem, mas eu sabia que desapareceria assim que chegássemos.
Ele se sentou ao meu lado na parte de trás da limusine, com a palma da
mão na minha coxa enquanto olhava pela janela as luzes da cidade que
cresciam. Mikael estava à nossa frente, usando camisa preta e calça e
bebendo uma taça de vinho tinto com o rosto escondido de forma ameaçadora
nas sombras.
A lua iluminava a paisagem de neve, que terminava em um duro bloqueio
coberto por holofotes. Um calafrio percorreu minha coluna com as estruturas
familiares que pontilhavam os perímetros — torres de vigilância. Vigílias
cuidavam daquelas barracas, todas servindo ao único propósito de manter os
humanos na linha. Eu queria me juntar a eles porque recebiam certos
privilégios que outros não tinham. Tais como quartos decentes e comida.
A maioria diria que terminar em um harém real ou harém de clã era um
destino ainda melhor por causa dos luxos oferecidos àqueles que serviam
sexualmente a seus senhores. Depois de ouvir a maneira como alguns dos
companheiros mortais foram tratados no Dia de Sangue, eu discordava
totalmente.
Mas Kylan tinha sido bom para mim. Até demais.
A palma da sua mão apertou minha coxa quando a limusine diminuiu a
velocidade, se aproximando dos portões principais da cidade.
— Tire o paletó e monte em mim, Raelyn. — Não era um pedido, mas
uma ordem.
Argumentar não era uma opção, não com o perímetro de homens e
mulheres com roupas de militares à espera de um motivo para ferir um
escravo desafiador. Eles foram treinados para capturar, não para matar, por
um motivo.
Vampiros e lycans adoravam punir humanos rebeldes.
Eu não tinha vontade de entrar na lista de insubordinados.
A lã escorregou dos meus ombros quando me acomodei no colo de
Kylan, e o vestido muito curto ficou preso nos meus quadris. Mikael soltou
um ruído de apreciação para minha bunda claramente em exibição.
— Ela é linda, não é? — Kylan murmurou enquanto envolvia a palma da
mão na parte de trás do meu pescoço.
— Muito — Mikael concordou.
— Ela tem um gosto incrível também. — Kylan falou contra a minha
boca. — Abra, Raelyn.
Abri os lábios e estremeci quando sua língua entrou para marcar seu
território da maneira mais sensual possível.
Merda, não queria gostar dele, mas o homem sabia como beijar. Ele não
foi o meu primeiro, mas certamente foi o melhor. Tanta paixão, experiência e
calor envolviam uma técnica que fazia meu corpo se arrepiar.
Ele me puxou para mais perto, encaixando o comprimento rígido da sua
ereção em minha pele sensível. Um movimento para cima me deixou úmida e
pronta, apesar da calça entre nós. Quase odiei sua capacidade de convencer
meu corpo a levá-lo, mesmo quando minha cabeça resistia, mas não consegui
acumular raiva suficiente para me importar quando ele pressionou contra
mim novamente.
Ser desejada por um homem tão poderoso, ser tratada com tanta
confiança, era uma sensação viciante.
Eu não deveria amar isso.
Não deveria gostar.
Mas de jeito nenhum podia me impedir de gemer em aprovação.
Seus incisivos perfuraram meu lábio inferior de forma brusca, se em
repreensão ou excitação, eu não sabia. Doeu, e lágrimas se formaram em
meus olhos quando ele se afastou para examinar o ferimento.
A janela zumbiu ao nosso lado, mas seu foco não se desviou da minha
boca.
— Sim? — ele perguntou, seu tom de voz era tão duro que desejei nunca
ouvi-lo se dirigir a mim dessa forma.
— Perdoe-me, Alteza. Não estávamos esperando sua chegada e...
— Preciso de um convite para vir a minha própria cidade? — ele
questionou.
— N-não, meu...
A janela se fechou antes que o humano pudesse terminar. Kylan lambeu o
sangue escorrendo pelo meu queixo e o seguiu até a minha boca. Seu
murmúrio de aprovação foi direto para o meu coração, fazendo com que ele
batesse em um ritmo caótico em minha caixa torácica. Ele havia me mordido
de leve antes, mas isso era diferente, mais íntimo, mais premeditado.
Uma marca.
Ele me beijou com um propósito. Seus lábios dominaram os meus e não
deixaram espaço para perguntas ou argumentos. Eu pertencia a ele. Para que
ele me beijasse, transasse comigo e fazer o que quisesse. E ele queria que
todos, inclusive eu, soubessem.
Minha cabeça girou com as sensações e emoções que me atacaram de
uma só vez. Não entendi o que ele havia acabado de fazer, ou como havia
feito, mas me forçou a me curvar à sua vontade.
Seu olhar brilhou quando ele soltou minha boca e suas pupilas estavam
dilatadas com uma fome desenfreada.
— Você pode sobreviver a isso, cordeirinho.
E U ODIAVA A CIDADE , especialmente à meia-noite. Os vampiros estavam
espalhados pelas calçadas e estradas, cumprindo alguma incumbência ou
pegando algo para comer nos intervalos de trabalho. Vários usavam roupas
gerenciais que designavam seus papéis na supervisão dos funcionários
humanos da cidade. Ninguém queria fazer o trabalho duro necessário para
manter nossa sociedade viva, daí o propósito mortal.
Um mundo cruel, mas prático.
O dinheiro fluía como sempre, apenas em diferentes moedas agora e para
comprar itens mais úteis — como sangue.
E eu estava no topo da cadeia alimentar neste território, o que exigia
certos protocolos. Como manter a presença de Mikael em segredo.
Mantive Raelyn no meu colo, caso fôssemos parados novamente e
também porque gostava de tê-la ali. Ela se segurou nos meus ombros e seus
cabelos ruivos caíram ao nosso redor quando a beijei de novo, desta vez com
mais suavidade.
Tendo percebido ou não, ela já estava aprendendo meus gostos e
preferências. Seus lábios se abriram para a minha língua, aceitando o que eu
desejava e me concedendo acesso sem obstáculos.
Prendi os fios sedosos com os dedos, segurando-a onde eu a queria
enquanto meu motorista dava uma indicação da nossa chegada, trancando o
carro. Raelyn não percebeu, perdida demais em nosso abraço enquanto sua
doce excitação envolvia meu pau e me implorava para fazer mais do que
apenas beijá-la.
Com o tempo, eu faria.
Mas não agora.
Eu a afastei com um puxão suave em seus cabelos. Ela piscou para mim
como se estivesse perdida e fez um biquinho.
— Mal me alimentei de você e já está bêbada de paixão.
Aquela pequena mordida das minhas presas em seu lábio inferior tinha
sido o suficiente para marcá-la como minha posse, mas não o suficiente para
uma prova adequada. No entanto, ela havia gostado da introdução.
Bati os dedos na janela, indicando que era seguro me perturbar agora.
Judith não perdeu tempo, me cumprimentando com uma reverência
formal antes de terminar de abrir a porta.
— Meu príncipe.
Gavin e Karl se juntaram a ela de joelhos, esperando que eu permitisse
que se levantassem.
Os três eram os mais confiáveis da minha equipe de segurança, sendo
Judith a superior.
Levantei Raelyn do meu colo para colocá-la no assento ao meu lado
enquanto saía do carro.
— Venha, cordeirinho. — Estendi a mão para ela se juntar a mim e
encostei os lábios em sua têmpora enquanto ela obedecia sem discutir.
Ela estremeceu. A garagem aquecida ao nosso redor fazia pouco para
proteger sua pele exposta dos elementos invernais do lado de fora. Arrumei
seu vestido, puxando-o para baixo e suspirei ao ver os três membros da
segurança ainda ajoelhados.
— De pé — retruquei. — Status, Judith?
Minha tenente favorita endireitou as costas, encontrando meu olhar.
— Estamos seguros aqui, Alteza. Já coloquei o sistema de segurança em
circuito até a suíte.
Eu sorri.
— Excelente. Mikael, gostaria de se juntar a nós?
— Claro, Alteza — ele murmurou, saindo do banco de trás com um
sorriso para a equipe de segurança.
— Judith.
Um leve rubor tingiu suas bochechas quando ela respondeu:
— Mikael.
Meu virgem de sangue encantava todo mundo que o encontrava,
provando que ele valia mais do que meu tempo e investimento. Daí o motivo
para escondê-lo. O alvo em suas costas era quase tão grande quanto nas
minhas, já que todos sabiam o que ele significava para mim. Nunca anunciei
seu paradeiro. Esta viagem não era diferente.
Peguei o paletó na limusine e o envolvi nos ombros trêmulos de Raelyn.
— Vá na frente, Judith.
Ela inclinou a cabeça loira e se virou com Mikael ao seu lado. Eu segui,
com a palma da mão apoiada nas costas de Raelyn para mantê-la comigo
enquanto Gavin e Karl seguiam atrás de nós. A subida de elevador passou
num piscar de olhos e nos levou a uma de minhas casas favoritas — uma
cobertura luxuosa com sete quartos, banheiros privativos, duas cozinhas,
várias salas de estar e janelas do chão ao teto com vista para a cidade.
Perfeição, opulência, lar.
Zelda apareceu no corredor. Seus olhos azuis estavam abatidos e havia
um sorriso suave nos lábios. Alguns dos meus funcionários humanos
chegaram antes de nós para preparar o espaço. Parecia um desperdício
empregar equipes diferentes em cada uma das minhas casas, então exigia que
viajassem comigo.
— O almoço da meia-noite está pronto — ela anunciou enquanto fazia
uma reverência.
Mikael não perdeu tempo em seguir a chef loira. Raelyn permaneceu ao
meu lado de forma obediente. Ela poderia ficar aqui sem medo de punição,
mas evitei dizer isso a ela. Esta era a nossa rodada de treinos. Se ela passasse,
eu a levaria comigo para visitar Tremayne. Se ela falhasse, eu a manteria aqui
com Mikael sob a proteção de Judith.
Havia poucas pessoas em quem eu confiava as minhas posses valiosas, e
Judith estava entre elas.
Tirei o paletó dos ombros de Raelyn e entreguei a Gavin.
— Está com fome, cordeirinho? — perguntei. Ela não comia nada desde
o macarrão em casa, e isso foi há horas.
— Sim, alteza — respondeu com a voz baixa e abafada.
Por enquanto, tudo bem.
— Então vamos seguir o Mikael, sim? — Cutuquei suas costas com a
palma da mão, direcionando-a para o lugar de onde Zelda tinha vindo.
Os passos de Raelyn eram firmes, mas seu coração disparou em meus
ouvidos. Parecia ter passado muito mais que vinte e quatro horas desde que a
selecionei para o meu harém, o que era estranho. A expectativa de vida em
geral passava rapidamente, não devagar, mas eu parecia estar saboreando
meu tempo com ela como se fizesse um ano a cada minuto.
Mikael olhou para cima quando entrei, sua expressão não demonstrava
arrependimento por ter sido pego em pé entre as pernas de Zelda. Ela estava
sobre o balcão, com as bochechas vermelhas e os lábios entreabertos.
— Vejo que você tinha outra refeição em mente — murmurei. Raelyn
congelou ao meu lado.
Meu virgem de sangue deu de ombros.
— Você pode me culpar depois daquele show na limusine?
Arqueei uma sobrancelha.
— Está sugerindo que não cuidei de você antes?
Suas covinhas apareceram para mim.
— Isso foi antes da minha soneca.
— Insaciável — falei, retribuindo o sorriso antes de focar na mulher tensa
ao meu lado. — Raelyn, coma alguma coisa e vista o que Mikael lhe der.
Partimos em uma hora. — Me virei e depois olhei de volta para meu virgem
de sangue com um olhar aguçado. — Mikael, não faça bagunça na minha
cozinha.
Ele bufou em resposta e o som soou atrás de mim quando fui direto ao
meu escritório para fazer as ligações necessárias.
A essa altura, minha presença na cidade seria conhecida, pois a notícia se
espalhava rapidamente. Ninguém gostava das minhas visitas surpresa e era
exatamente por isso que as escolhia.
Judith se juntou a mim, com o telefone na mão.
— Para onde você está indo, Alteza?
Sorri para a minha tenente, sempre preparada. Ela ajudaria a desmontar o
sistema de segurança.
— Pode se sentar, Judith. Tenho uma lista de arranjos para esta visita. —
Ficaríamos por algumas semanas para limpar essa bagunça e enquanto eu
estiver aqui, posso convidar alguns membros da realeza.
Que melhor maneira de restringir a lista de suspeitos do que dar uma
festa? O álcool afrouxava as línguas e proporcionava um terreno fértil para
comportamentos suspeitos. Também me daria a oportunidade de reafirmar
meu lugar como o ser vivo mais antigo das linhagens reais.
Sim, a política dos vampiros era uma dança desonesta que eu dominava
através dos tempos.
Raelyn seria minha isca.
E o culpado tentaria morder.
Bem-vindo à Kylan City. Eu te desafio a vir brincar.
N ÃO SENTI NADA .
Não senti o chão debaixo das botas.
Não senti o ar que balançava meus cabelos vermelhos.
Nem a neve na minha mão enluvada.
E eu odiava isso.
Olhei para Kylan, que só usava jeans e suéter, e vi seus cabelos escuros
lindos serem balançados pelo vento.
— Isso é ridículo — murmurei por trás do lenço que ele enrolou no meu
rosto.
Seus olhos escuros brilhavam de alegria quando ele me olhou.
— Acho que você está adorável.
Bati na jaqueta fofa com minhas luvas grandes e bufei. Ou tentei.
Mal podia ser ouvida sobre a espessa camada de lã que envolvia minha
cabeça.
Ele pegou minha mão e me puxou para frente com uma risada.
— Era isso ou você poderia congelar.
— Vou derreter até a morte — resmunguei. Pelo menos, minhas pernas
estavam se movendo com o jeans e as botas.
— Vou te despir antes que isso aconteça — ele prometeu e uma nota
sombria sublinhou suas palavras. — Venha, cordeirinho. Hora de explorar.
— Sim, mestre — eu brinquei, fazendo-o rir. Aprendi essa piadinha com
Mikael depois de assistir a um filme com uma mulher sarcástica. Ela era meu
tipo de humano.
— Caramba, eu te adoro. — Ele me puxou para si e beijou meu nariz
coberto com o cachecol. — Agora tente seguir adiante.
Ele nos levou a um caminho para uma floresta próxima, repleta de
árvores e com a neve mais espalhada e superficial. Segui, e minha jaqueta
agarrou os galhos à medida que avançávamos. Nosso caminho escurecia a
cada passo.
A distância entre nós aumentou à medida que nos movíamos, seus longos
passos muito mais eficientes do que os meus, curtos e cuidadosos. Outra
árvore prendeu no meu braço, me puxando de volta. Me remexi, tentando me
soltar, mas só piorei a situação.
— Coloque uma roupa quente — resmunguei, repetindo as palavras de
Kylan para mim. — Vai te proteger. — Parecia que a natureza discordava.
Afastei o braço dos galhos com tanta força que meus pés deslizaram, me
fazendo cair no chão da floresta.
— Protege mesmo — resmunguei ao sentir dor nas costas e na cabeça
devido à colisão.
Kylan apareceu acima de mim. Seu rosto parecia sombrio.
— Não está sendo muito graciosa, Raelyn.
Apenas olhei para ele, incapaz de responder. Por que o que eu poderia
dizer? Ele estava certo. A árvore definitivamente venceu.
Ele estendeu a mão. Levei um momento para me concentrar o suficiente
para segurá-la, minha cabeça protestando contra a queda forte. Finalmente
consegui aceitar sua ajuda e segurei seu bíceps com a mão enluvada para me
equilibrar.
— Posso tirá-las, por favor? — perguntei, irritada pela minha falta de
jeito.
Ele balançou o topo do zíper com um sorriso.
— Não está acostumada a usar tantas roupas, hum?
— Estou ficando presa nos galhos.
— Essa é a sua desculpa? — Ele puxou o fecho de metal devagar,
expondo o suéter que eu usava por baixo. — Porque eu acho que você só
quer que eu te dispa. — Ele alcançou a parte inferior do meu abdômen, e
abriu o casaco. — Acho que você prefere ficar nua na minha presença.
Senti um calafrio na coluna, não pelo tempo, mas por suas palavras.
— É só a jaqueta — sussurrei.
— Aham. — Ele empurrou o tecido fofo dos meus ombros, fazendo com
que caísse no chão atrás de mim. O ar frio passou pelo suéter de lã,
provocando a pele aquecida por baixo.
Suspirei aliviada e apoiei a testa em seu ombro.
— Muito melhor. — Eu me sentia sufocada com aquilo. A parte superior
do meu corpo protestava contra o peso e as camadas adicionais. Meus braços
estavam mais livres, mais leves agora. — Estou pronta.
— Ah, eu sei, mas ainda não. — Ele puxou meu cachecol e se afastou,
seu aperto na lã em volta do meu pescoço me forçando a segui-lo. — Chega
de desculpas, cordeirinho. Ele deu outra puxada no tecido, me fazendo revirar
os olhos.
Ele estava usando meu cachecol como uma guia.
A porcaria de uma guia.
Como um cachorro.
E ele estava nos guiando pela floresta como se eu fosse um animal de
estimação.
Tentei me soltar, mas outro puxão me levou a avançar.
— Kylan — grunhi.
—Sim, animal de estimação?
— Isso não é engraçado.
— Pelo contrário, estou me divertindo muito. — Outro puxão. — Pegue o
ritmo, querido cordeiro. — Ele saltou sobre um tronco em que quase tropecei,
mas por algum milagre, eu consegui imitar sua ação.
Ele se moveu um pouco mais lentamente, suas longas pernas muito mais
acostumadas a essa atividade que as minhas. Tentei inutilmente afrouxar o
item sufocante do pescoço, mas à medida que eu o seguia, o nó parecia ficar
mais apertado.
Por que o deixei me vestir?
Ignorei o cenário — não que eu pudesse vê-lo no escuro de qualquer
maneira — e me concentrei em não cair enquanto tentava acompanhá-lo.
O brilho de uma luz chamou minha atenção há alguns metros à nossa
frente, a brancura temporária me cegando e me fazendo tropeçar. Ele riu.
— Ansiosa, hein?
— Para te matar? — perguntei. — Sim. — Não que eu pudesse.
— Ah, amor, esse seria realmente um jogo divertido. Talvez possamos
tentar algum dia. Suas notas em esporte foram bastante altas. — Ele começou
a se mover novamente, me deixando apenas duas opções: seguir ou me
estrangular.
Maldito vampiro.
Ele podia ver no escuro, permitindo que ele se movesse livremente
enquanto eu tinha que observar cada passo, o que era extremamente difícil
estando presa. Não que ele parecesse se importar.
Joguei uma das luvas nele, porque não tinha mais nada para jogar. Ele riu,
ganhando uma segunda luva na cabeça.
— Vai se arrepender mais tarde, cordeirinho.
Sim, sim. Eu tinha bolsos. Eu ficaria bem
A luz aumentou diante de nós, substituindo parte da minha fúria por
curiosidade. Parecia mais brilhante que o pátio em sua casa, como se a lua
estivesse refletindo uma fonte mais forte.
Kylan passou pelas últimas árvores e se virou, bloqueando minha visão
do que havia além dele. Achei que pretendia me provocar quando pressionou
um dedo nos meus lábios, mas seu corpo tensionou com a advertência.
O quê?, pensei. O que é isso?
Fique bem quieta, ele respondeu na minha cabeça, quase me fazendo cair
para trás.
Ele apoiou a mão no meu quadril, me segurando na posição vertical
enquanto eu arqueava as sobrancelhas. Como você está na minha cabeça?
Vampiros não eram telepatas. A menos que meus livros e professores não
tivessem mencionado essa parte.
É temporário, ele disse. Apenas não se mexa.
Por quê?
Shh. Ele me soltou lentamente e se virou. Seus ombros largos escondiam
a cena além dele.
— Você me conhece — ele falou, sua voz estava baixa e rouca.
Franzi a sobrancelha. Ele esperava que eu respondesse a isso?
— Venha — acrescentou, estendendo o braço. — Você sabe quem eu
sou.
Fiz uma careta, perplexa. O que...
Shh.
Quase grunhi para ele, mas congelei quando algo rosnou.
— Ah, é assim que vai ser hoje? — Ele provocou. — Fico fora por
algumas semanas e você se esquece do seu alfa.
A criatura respondeu com um rosnado, provocando arrepios no meu
braço. Segurei a blusa de Kylan. Ele não segurava mais meu cachecol, estava
me dando liberdade, mas descobri que queria me apegar a ele ainda mais
agora.
— Ela é minha e é inofensiva — ele retrucou. — Pare de rosnar.
Um resmungo foi a resposta.
O silêncio caiu sobre a floresta, o som da água correndo esmagando meus
ouvidos. O que estava acontecendo? Um lycan desonesto havia chegado às
terras de Kylan? Essa era a ameaça? O monstro à espreita?
Algo empurrou Kylan, e sua perna esbarrou na minha. Olhei para baixo e
vi uma cauda branca envolvendo sua coxa. Apertei seu suéter de lã com força
e meu coração batia loucamente.
O lobo resmungou novamente, fazendo Kylan rir.
— Sim, o medo dela é intoxicante. Concordo. — Ele se agachou, me
deixando pendurada em seu suéter de qualquer jeito, quase caindo sobre ele.
Os olhos amarelos brilhantes encontraram os meus, me fazendo correr para
trás de uma árvore. O lobo esfregou seu focinho branco gigante no rosto de
Kylan e lambeu sua bochecha.
— Um lycan — sussurrei.
Kylan bufou.
— Não, este é um lobo de verdade. O alfa do seu bando. — Ele apontou
com o queixo para a cena além – um lago congelado se espalhando ao longe e
emoldurado por montanhas. Na beira da água, havia vários lobos, todos em
pé, alertas, nos olhando.
— N-nós devemos ir.
— Bobagem. — Ele se levantou, dando um tapinha na cabeça do alfa. —
Eles são velhos amigos. Só se irritou por eu ter desaparecido por algumas
semanas. — Ele coçou a orelha do lobo, o que resultou em uma lambida em
sua mão antes que o animal voltasse para o bando, que relaxou. Seus lábios
se curvaram ao me encontrar colada à árvore atrás de mim. — Demonstrar
medo faz com que você tenha cheiro de jantar para mim e para eles. Sugiro
que você se acalme um pouco.
— São lobos.
— Sim.
— Lobos de verdade.
— Sim. — Ele inclinou a cabeça para o lado. — Você teme a eles e não a
mim? Porque eu lhe asseguro, sou o maior predador aqui. — Ele se moveu
para frente, passando a mão em volta do meu cachecol novamente. — E eu
tenho toda a intenção de te comer, cordeirinho.
— Você tem lobos de estimação — sussurrei, engolindo em seco.
— Eu não os chamaria de animais de estimação — ele respondeu,
passando os dedos pela minha bochecha. — Esse termo implica um certo
nível de obediência e submissão que lhes falta. Considero-os amigos
selvagens que entendem meu lado animalesco.
Ele se aproximou, e seus quadris prenderam os meus.
— Este é um dos meus lugares favoritos, Raelyn — ele murmurou com a
boca a poucos centímetros da minha. — Venho aqui quando preciso ficar
sozinho e pensar.
Minha testa franziu. Por que ele me trouxe aqui se queria ficar sozinho?
— Mas você não está sozinho.
— Verdade, não estou. — Ele me beijou suavemente e segurou o
cachecol com mais firmeza. — Queria compartilhar isso com você como
agradecimento por ter sido sincera comigo mais cedo e apontar a natureza
óbvia da minha acusação.
Me surpreendi.
— Você está me agradecendo?
Os lábios dele se curvaram.
— Estou compartilhando um lugar especial com você. É mágico. Deixe-
me te mostrar.
— Eu... — as palavras falharam. Ele estava me recompensando por
apontar o óbvio? Não, por ser corajosa o suficiente para apontar uma falha
em sua avaliação. Por ser desafiadora. Por ter cérebro e usá-lo. Por ser eu.
Pisquei.
Ele gosta de mim.
Gosto, ele sussurrou de volta para mim, e seus olhos escuros brilharam.
Venha brincar comigo, cordeirinho. Vou fazer valer a pena.
— Como você está fazendo isso?
Sua expressão ficou divertida.
— Não foi intencional, juro, e vou consertar, mas vamos aproveitar o
momento enquanto durar. Por favor?
Certo, agora vi de tudo.
— Você está implorando.
— Prefiro o termo insistir. E, além disso, é muito mais agradável do que
te forçar.
— Você me possui.
— Sim — ele concordou.
— Então você não precisa da minha permissão para fazer nada comigo.
Ele inclinou a cabeça.
— É verdade, mas talvez eu deseje.
— Por quê?
— Porque tê-la à minha mercê de bom grado é muito mais sexy do que
exigir sua obediência. — Ele mordeu meu lábio inferior. — Você já está
aqui. Me deixe mostrar a beleza do lugar, e talvez os lobos deixem você
voltar.
Olhei em volta para o bando de pelos brancos na costa, todos vagando
sem se importar com o mundo. Muito melhor do que o rosnado de antes.
Kylan me beijou novamente, sua língua capturou a minha de forma muito
breve.
— Me deixe te recompensar, Raelyn — ele murmurou. — Prometo que
você vai gostar.
Meu sangue aqueceu com a perspectiva em suas palavras. Ele pretendia
fazer mais do que caminhar e passear.
Tenho toda a intenção de comer você, cordeirinho, ele disse.
Ah...
— Sim — ele murmurou, ainda ouvindo meus pensamentos. — Vou te
devorar até que você implore para eu parar. — E continuarei mesmo assim,
ele acrescentou. Suas palavras pareciam carícias em meus pensamentos.
Tremi, apertando as coxas.
Tê-lo dentro de mim, sussurrando para mim, aumentou a intimidade e as
sensações.
Ele desejou minha mente.
Ele ganhou.
Esperei que a tristeza me atingisse, que me levasse à sombra da
depressão, mas a curiosidade me consumiu. Se Kylan havia entrado em meus
pensamentos, talvez eu também tivesse a capacidade de alcançá-lo. Eu
poderia mudar o jogo e vencê-lo em seu próprio território.
— Tudo bem — falei, querendo explorar mais isso. Estar dentro do
raciocínio de Kylan, conhecer suas verdadeiras reflexões e objetivos? Essa
era uma oportunidade inestimável.
Eu podia entendê-lo — o homem por trás da máscara da realeza, além do
gosto por jogos.
Eu finalmente conheceria o verdadeiro Kylan.
— B EM - VINDA à minha versão do paraíso. — Kylan me levou por um
caminho até a beira do lago cintilante cercado por árvores cobertas de neve e
montanhas ao longe.
Minha respiração ficou presa. Aquele era o país das maravilhas do
inverno, algo que nunca pensei em experimentar.
— É lindo — sussurrei, girando para absorver tudo.
Os raios do luar emprestavam um brilho hipnótico ao ar enquanto as
estrelas pintavam um céu pitoresco. Nunca vi nada assim, nem mesmo nos
livros.
Algo cutucou minha coxa, me fazendo congelar no meio do caminho.
Olhei para baixo e encontrei olhos amarelos olhando para mim.
— Kylan — murmurei. Kylan!
Sua risada se infiltrou nos meus pensamentos.
— Bem, sugiro não correr ou você vai excitar o predador que há nele. —
Kylan relaxou em um tronco perto da beira da água e seus olhos escuros
brilharam na noite.
Outra cutucada.
O que ele quer?
— Dê sua mão — ele respondeu. — Ele vai sentir minha essência em
você e irá recuar.
Engoli em seco. Minha mão. Certo. Estendi a mão lentamente em direção
ao focinho cheio de dentes muito afiados e esperei. O lobo cheirou e se
aninhou com força até que minha palma pousou em sua cabeça.
Kylan riu.
— Bem, agora ele quer que você o acaricie.
— E-ele quer que eu faça carinho nele? — Acariciei o pelo devagar,
surpresa com a textura macia. Era... agradável. — Ah. — Passei as unhas
sobre sua cabeça, desci até a nuca e voltei, repetindo a ação várias vezes,
impressionada. — Ele é lindo.
— Sim, só não deixe a companheira dele ouvir você falar assim. — Kylan
apontou para um lobo magro me olhando com olhos afiados. — Ela é
possessiva.
O lobo ao meu lado estava sentado, encostado nas minhas pernas e quase
me derrubando na neve. Tentei me equilibrar enquanto o apoiava e mantive a
mão em sua cabeça.
— Ah, ele gosta de você — Kylan murmurou, e pude ouvir a aprovação
em sua voz. — Ele está validando você para os outros e mostrando confiança.
— Ele mal me conhece.
— Os lobos, como a maioria dos predadores, confiam em seus instintos.
— Seu olhar se intensificou. — E às vezes, você simplesmente sabe.
— É assim que você julga a maioria das pessoas? Pela sua impressão
inicial?
— Sempre, mas também avalio constantemente. — Ele me olhou
devagar, suas íris se aprofundando em uma sombra derretida ao longo do
caminho.
Estremeci, me sentindo nua, apesar da minha abundância de roupas.
— E o que você vê quando me avalia? — perguntei, baixando a voz para
um sussurro rouco enquanto meus dedos se curvavam no pelo do lobo.
— Humm. — Kylan relaxou, apoiou as mãos no tronco embaixo dele, e
esticou e cruzou as pernas. — Um espírito guerreiro que desejo domesticar,
um corpo que desejo na minha cama mais do que provavelmente deveria, e
uma mente cheia de uma inteligência que eu temia ter sido perdida pela raça
humana há séculos.
— Você vê tudo isso? — questionei, sentindo a garganta subitamente
apertada.
— Vejo. — Ele se inclinou para frente. — E mesmo que você afirme que
não tem medo de mim, no fundo, sei que teme o que posso fazer com você.
Ainda mais, você está com medo de gostar. — Os olhos dele se fecharam e
seguraram os meus. — Garanto que não vai gostar, Raelyn, você vai adorar.
Engoli em seco e parei a mão no lobo.
— Você foi feita para minha marca de propriedade, cordeirinho. — As
palavras sombrias deslizaram sobre meus sentidos, aquecendo meu sangue.
— Vou te possuir, mente, corpo e alma. — Sua promessa letal atingiu meu
ser, me marcando como sua mesmo enquanto eu protestava.
Eu também vou te possuir. O pensamento surgiu espontaneamente, vindo
de um lugar secreto dentro de mim. Se ele me fizesse dele, ele também seria
meu.
Ele sorriu. Você pode tentar, princesa.
Segui sua provocação até a fonte, penetrando em sua psique — uma
reação natural, uma defesa por ser provocada. E encontrei a verdade
escondida por trás do nevoeiro, a constatação de que ele nunca havia iniciado
um vínculo dessa natureza com ninguém antes de mim.
Minha, o predador diante de mim sussurrou. Acabe com isso.
O que acontecerá então?
Dei um passo em sua direção, desejando mais.
A conexão.
A ligação.
A visão adequada da sua mente.
Ele não era bom para mim, me destruiria, mas parecia que eu poderia
fazer o mesmo com ele. Senti uma nota de pânico dentro dele, um
desconforto que sua expressão e palavras não demonstravam. Ele não queria
me deixar entrar, me mostrar mais, mas uma parte sua exigia.
Eu o montei sobre o tronco. Meu corpo se movia como se fosse
controlado pela energia que não pude conter.
Mais.
Ele inclinou a cabeça. Seus olhos escuros irradiavam uma mistura
intoxicante de necessidade e confiança. Mas senti a preocupação repousando
dentro dele, a preocupação de que pudéssemos nos conectar por completo,
me fornecendo a visão mais profunda da sua alma.
E em troca, ele teria a minha.
Uma ligação mútua.
Uma promessa.
Meus lábios roçaram os seus. Senti o desejo de saber mais anular toda
lógica e pensamento. Queria estar dentro dele, conhecê-lo no nível mais
básico. Esse era o caminho para esse objetivo.
Coloquei os braços ao redor do seu pescoço, segurando-o enquanto eu o
beijava. Minha língua entreabriu seus lábios para explorar o interior da sua
boca. Ele sempre liderou, sempre ditou o nosso ritmo, mas me permitiu fazer
isso, me permitiu ter um momento para descobrir o que eu tanto ansiava.
Ele permaneceu completamente imóvel, com os músculos tensionados.
Meus segundos foram contados antes que ele assumisse o controle. Me
recusei a desperdiçá-los pensando e passei a senti-lo, memorizando todos os
detalhes, revelando sua masculinidade e poder, sentindo o sabor da sua língua
na minha.
Kylan, murmurei em sua mente. Me dê mais.
Eu não queria jogar. Eu o queria. Ele por inteiro.
Ele soltou um grunhido baixo e profundo, e seus dedos entrelaçaram nos
meus cabelos enquanto a outra mão pegava a ponta do meu cachecol e dava
um puxão forte. Apertei seu bíceps com as unhas, reagindo ao aperto
repentino em volta do meu pescoço.
— Cuidado, cordeirinho. — O tecido se apertou ainda mais, restringindo
minhas vias aéreas. Ele passou a língua pelo meu lábio inferior, e seus olhos
escuros encararam os meus. — Eu dou os comandos aqui, não o contrário.
— Sim, meu príncipe — murmurei, incapaz de respirar.
Suas pupilas flamejaram.
— Humm, gosto disso, Raelyn. Você está à minha mercê e ainda está
obedecendo. — Ele me beijou suavemente. — É excitante. — Outro beijo. —
Viciante. — Mais duro desta vez. — Revigorante. — O cachecol afrouxou,
mas seu aperto no meu cabelo se fortaleceu, me forçando a ficar colada ao
seu corpo enquanto ele devorava minha boca. Derreti sobre ele. Meu corpo
era seu para ser tomado.
Quero você, sussurrei.
Eu sei. O pano ao redor do meu pescoço se apertou novamente, cortando
minha capacidade de inalar.
— Você está molhada para mim, Raelyn?
Um gemido ficou preso na minha garganta, incapaz de passar. Assenti,
minhas coxas apertando as dele.
— Mesmo na floresta, cercada por lobos — ele sussurrou contra os meus
lábios. — Puta merda, você é perfeita. — Ele soltou meu cachecol e baixou a
mão para o meu quadril. — E completamente minha.
Kylan tomou posse da minha boca, roubando meu fôlego e me forçando a
sobreviver só com ele. Apertei seus braços, me segurando enquanto ele me
devorava. Me limitando. Me possuindo. Me adorando.
Ele desenrolou a lã do meu pescoço e a outra mão deslizou pelo meu
abdômen, por baixo do suéter, para acariciar meu seio nu. Arqueei em sua
direção, gemendo contra sua língua.
Mais, implorei.
Ele mexeu no meu mamilo duro, seu toque rude e característico, e
exatamente o que eu precisava.
Tão exigente hoje à noite. Sua voz acariciou mentalmente meus
pensamentos, provocando um tremor profundo dentro de mim. Adorei tê-lo lá
dentro. Era algo a considerar mais tarde. Agora eu só podia me importar com
sua mão, sua boca, sua excitação dura pressionando o ápice entre minhas
coxas.
— Kylan. — Puxei o suéter por cima da cabeça, me sentindo sem
vergonha, viva e muito quente, apesar do ar frio.
— Puta merda, Raelyn — ele sussurrou. Sua boca foi para o meu pescoço
e mais para baixo. Ele apertou minha bunda e me forçou a ficar de joelhos
para lhe proporcionar um acesso mais fácil aos meus seios.
Adorava ter sua boca em mim, sua língua acariciando minha pele e sua
respiração aquecendo meu ser. Cada carinho era uma marca, cada arranhão
de seus dentes, um lembrete de sua posse, seu direito, sua reivindicação.
Sua mão foi para a frente do meu jeans. Seus dedos rápidos abriram a
calça com muita habilidade. Enfiei os dedos em seus cabelos, segurando,
exigindo mais, desejando sua mordida.
Ele roçou os incisivos no mamilo, provocando, brincando, arrepiando
meu corpo todo antes de se afastar.
— Levante-se.
Engoli em seco, tremendo enquanto obedecia.
Ele tirou minhas botas.
Minha calça.
Me deixou nua na neve e não senti frio. Eu só queimava mais por ele e
seu olhar fazia meu corpo inteiro arder. Ele tirou o suéter, colocando-o no
chão perto do meu e se levantou.
— Tire a minha calça.
Umedeci os lábios. Meus dedos tremiam enquanto eu abria o botão e o
zíper. Ele agarrou meus pulsos e levou minhas mãos aos quadris.
— Ajoelhe-se, Raelyn. — O comando provocou um estremecimento na
minha coluna que irradiou entre minhas pernas.
— Sim, meu príncipe. — Me abaixei sobre seu suéter, que protegia
minhas canelas e joelhos nus da neve.
Ele me soltou.
— Termine o trabalho.
Puxei o jeans e libertei o pênis excitado, revelando suas coxas fortes. Seu
olhar brilhava, a excitação escorria da cabeça grossa, seduzindo meus
instintos. Me inclinei, sentindo o desejo alimentar meus movimentos e o levei
à minha boca, sugando o líquido pré-ejaculatório da ponta.
Ele passou os dedos pelos meus cabelos, me segurando com firmeza. Seu
grunhido ecoou ao nosso redor. Puxei a calça até os tornozelos, e ele a tirou
junto com os sapatos.
— Olhe para mim — ele exigiu com a voz baixa e ameaçadora.
Encontrei seu olhar quando ele me forçou a tomar mais de si. A cabeça
batia no fundo da minha garganta.
— Pedi para você chupar meu pau?
Tentei balançar a cabeça, mas não consegui. Não.
Isso é trapaça, Raelyn. Use sua voz.
— Não — murmurei, seu eixo me impedindo de ser coerente.
— Tente novamente.
Tentei, mas saiu igualmente incompreensível.
Ele estremeceu.
— Agora tenho que disciplinar você.
Semicerrei os olhos e engoli mais dele em resposta. Não pode me punir
por fazer algo que está gostando, Kylan.
Os lábios dele se contraíram.
— Desafiadora, mesmo de joelhos.
Chupei com força e enfiei as unhas em suas coxas.
— Puta merda — ele murmurou, puxando mais os meus cabelos.
Repeti a ação.
Ele sibilou e me afastou, me empurrando em direção à cama improvisada
com roupas de neve.
Abri as pernas quando ele se acomodou entre elas, pairando a boca sobre
o meu clitóris.
— Você precisa de um lembrete de quem está no comando aqui, querida.
— Sua língua provocou minha intimidade já dolorida, fazendo meus quadris
se inclinarem contra ele. — Humm, vou gostar muito disso.
— Ky... — me interrompi com um grito, sua mordida me chocando.
Não consegui me mexer. Não conseguia pensar. Só podia sentir e
aguentar.
E, ah, minha deusa, era algo para se suportar.
Uma sensação diferente de tudo que já senti abalou meu coração,
cortando meu ser em dois, fragmentando minha capacidade de respirar. Doeu
tanto. Minha visão escureceu, embranqueceu, as estrelas no céu giraram em
uma nuvem de êxtase que eu podia sentir na língua. Ele deixou minhas veias
em chamas, meu sangue correndo para encontrar sua boca enquanto ele
substituía minha essência por pura euforia.
Minha garganta doía de tanto gemer — gritar — seu nome.
O tempo congelou.
Descongelou.
Congelou de novo.
Minha. Sua voz ecoou na minha mente, abalando minha alma.
Sua, concordei, incapaz de processar, de me lembrar do porque não
queria concordar. Mas qualquer coisa para acabar com essa agonia doce e
feliz que destruía meu corpo. É demais.
Você vai aceitar, Raelyn. Seu grunhido vibrou no meu corpo inteiro e seu
domínio tomou conta de mim em todos os sentidos. Não podia lutar com ele,
nem queria.
Sim, eu sussurrei. Qualquer coisa.
Tudo, ele respondeu, sua mente sombria florescendo na minha. Tantos
segredos envolvidos em teias complicadas de raciocínio estabelecidas ao
longo de milhares de anos.
Antigo, poderoso, sofisticado.
Abri caminho, mas fui parada por um muro.
— Kylan — sussurrei, implorei, desejei. Eu me contorci embaixo dele,
meu orgasmo parecendo não ter fim. Então me rendi. — Por favor.
Seus dedos estavam lá. Sua garganta ainda engolia, meu corpo à deriva
em um estado estranho e mais frio.
Ele estava me drenando?
Me anestesiando?
A neve começou a cair ao nosso redor ou eram estrelas? Não consegui
distinguir.
Outra onda de prazer me atingiu, estremecendo meus membros e fazendo
minhas costas se curvarem. A palma da mão de Kylan na minha barriga me
segurou, seu toque literalmente me aterrou quando minha alma ameaçou
voar.
Não aguento mais...
Você pode, ele respondeu. Você vai.
Um soluço me escapou, carente e devastado em partes iguais. Você está
me destruindo.
Estou te possuindo, ele esclareceu.
Também quero te possuir. E eu possuía. Em todos os sentidos. Ele não
poderia tirar tudo isso de mim sem dar um pouco de si em troca. Por favor,
Kylan. Estou te implorando.
Ele grunhiu, me libertando da sua mordida.
— Esse vínculo vai me matar.
Vínculo?
— Sim. — Ele lambeu meu clitóris mais uma vez, enviando uma onda de
prazer por meu corpo. Ele estava me curando? Ah, merda, não me importava.
Eu só o queria. Conhecê-lo como ele me conheceu. Estar com ele.
— Preciso de você — sussurrei. Minhas veias esfriando sem sua mordida,
ou talvez, com sua mordida.
— Eu sei — ele sussurrou, rastejando sobre mim. — Estou aqui, Raelyn.
Sua boca capturou a minha, a excitação estava tingida com seu sangue,
provocando meus sentidos. Tremi embaixo dele, oprimida, exausta e excitada
de novo.
Kylan ameaçou me destruir.
Entendi o que ele quis dizer.
Porque eu estava completamente enfeitiçada, pronta para fazer o que ele
desejasse, só para ter mais uma prova.
Seu pau se encaixou no meu calor úmido. Sim... não que ele precisasse do
meu consentimento. Já havia sido dado, adquirido, possuído.
— Diga que você é minha. — Seus lábios sussurraram sobre os meus. —
Diga que você quer isso.
— Eu te quero — respondi, envolvendo as pernas ao redor da sua cintura.
Elas tremiam de frio, mas não me importei. — Eu sou sua, Kylan. — E você
é meu.
Ele suspirou. Sua língua estava dentro da minha boca, me fornecendo
mais da sua essência. Cada gota queimava em mim da maneira mais deliciosa
possível.
Ele agarrou meus quadris, me segurando.
— Você está tão molhada. — Ele parecia quase perturbado. Sua voz
falhou no final. — Puta merda, Raelyn. Não posso. Não devo, mas não
consigo parar.
— O que...
Uma dor inesperada cortou minhas palavras, me silenciando. Agarrei seus
braços e senti meu corpo congelar debaixo do seu.
Ele está dentro de mim, percebi. E, caramba, doeu.
— Não me lembro da última vez que quis alguém assim — ele sussurrou
enquanto sua boca roçava na minha. — Isso tem que parar.
Franzi a testa, sem compreender o sentido das suas palavras.
— Eu não...
— Shh... — Ele me beijou novamente. Sua língua era macia e persuasiva,
e seu corpo ainda estava sobre o meu. — Se concentre nas sensações, Raelyn.
Se concentre em mim. No meu pau que está profundamente dentro de você,
te esticando, te enchendo, te possuindo.
Suas palavras me aqueceram de maneira estranha, acendendo uma chama
na minha barriga. Ele se mexeu, me fazendo estremecer e antecipando a dor.
Mas nada se seguiu, apenas um pequeno tremor nas minhas pernas. Ele
repetiu a ação, desta vez com mais força, e meu corpo sacudiu em resposta.
Gemi, sentindo o fogo aumentar, me aquecendo por dentro e por fora.
Um impulso — mais forte e mais profundo — me fez arranhar suas costas
e minha mandíbula ameaçou apertar sua língua.
— Humm, é isso — ele elogiou. — Espere por mim, princesa. Aproveite,
sinta, grite. Quero que todo mundo te ouça, que saiba quem está transando
com você, que saiba a quem você pertence.
Abri a boca para protestar, para exigir o mesmo, mas minhas palavras
foram interrompidas quando respirei fundo no momento em que ele começou
a se mover. Ele tinha sido gentil, suavizando os movimentos.
Agora o predador saiu para reivindicar seu prêmio. Para me dominar.
Para me destruir para todos os outros homens.
— Kylan — gemi, um fogo intenso me atingindo e me consumindo da
cabeça aos pés. Ele já havia me levado a níveis indescritíveis de felicidade.
Não poderia haver mais. Eu não sobreviveria a outra dose, muito menos a
algo tão intenso.
Mas, puta merda, ele não parava.
Seu pau me atingiu profundamente, pressionando uma parte eufórica de
mim que paralisou meu ser.
Eu era escrava de suas caricias, perdida para sua vontade.
— Tão gostoso — ele grunhiu, com a boca contra o meu pescoço. —
Você está abraçando meu pau, me possuindo com sua pequena boceta. — Ele
deslizou os dentes na minha pele, forçando o arrebatamento na minha
corrente sanguínea e me levando em uma espiral à beira do clímax.
De novo.
Sem nenhum aviso.
Sem preparação.
Apenas me destruindo.
E meu corpo sucumbiu a ele sem preâmbulos.
Quase doeu.
— Puta merda, Raelyn. — O xingamento gutural contra a minha garganta
parecia quase dolorido.
A energia vibrava entre nós e seus ombros e braços estavam tensos. Ele
murmurou meu nome mais uma vez, seu tom parecia tão bonito agonizante
tão agonizante que levou lágrimas aos meus olhos.
Seu orgasmo se derramou dentro de mim, me levando para as estrelas
com ele. Minha mente deixou meu corpo e embelezou os céus. Nunca senti
nada assim, como essa eletricidade que existia entre nós, nos conectando, me
forçando a um plano de existência que eu nunca soube que era possível, com
Kylan ao meu lado.
Tanta beleza.
Tanta intensidade.
Tanto tormento.
... não assim...
... acabe com isso...
Não posso estar ligado a ela!
Assim não.
Demais.
Preciso terminar.
Só há uma maneira...
Uma visão de Kylan me entregando para outro, atingiu meu coração. Para
que outro transasse comigo. Se alimentasse de mim. Me usasse.
Sem escolha, sua voz flutuou através dos meus pensamentos.
Me agarrei, tentando entender. Mais palavras, cânticos cerimoniais,
Erosita, a ligação entre um humano virgem e um vampiro, a conexão de
nossas mentes, corpos e almas.
Kylan tinha me ligado a ele em uma cerimônia antiga destinada a
companheiros.
E ele queria quebrá-la.
Mais visões, seus planos, suas obrigações, tudo atingindo meu peito,
atacando meu coração e alma.
Um erro. Aquelas duas palavras queimavam. Não queria fazer isso.
Mais pensamentos — os pensamentos dele — encheram minha cabeça.
Alguns antigos. Alguns novos. Tudo embrulhado na mesma verdade.
Tenho que acabar com essa obsessão.
Quando eu o fizer, tudo ficará bem.
De volta ao normal.
Bem.
Sim.
Só tenho que compartilhar...
Afastei minha boca da sua. Não estava nem mesmo ciente de que
estávamos nos beijando. Meus olhos ardiam em lágrimas.
— Você vai me dar para outro membro da realeza? — questionei com a
voz rouca por causa de todos os gritos de dor, prazer e arrebatamento que
acabamos de compartilhar e que não significavam nada para ele além de um
meio para um fim.
Ele me olhou com uma mistura de agonia e consternação.
— Raelyn...
— Isso foi tudo... tudo... — Eu não conseguia pensar na palavra certa,
sentindo meu coração partido.
Eu não deveria me apaixonar por ele.
Nem deveria gostar dele.
Minha mente. Meu coração. Minha alma.
Quando ele conseguiu entrar? Como?
Fechei as mãos, enfiando as unhas nas palmas.
Puta merda, como eu podia ser tão ridícula? Como podia ter deixado a
esperança me possuir? Por um momento, pensei que poderia haver algo
especial entre nós. Um vínculo único. Um relacionamento. Uma conexão.
Alguma coisa.
Ele chamou isso de erro.
Uma obsessão que tinha que superar.
Meu coração.
Era isso o que ele ia destruir.
Ah, como eu estava errada. Não era o meu corpo que ele desejava
destruir, mas a parte fundamental de mim. Meu espírito.
Criou um vínculo de uma maneira tão apaixonada, me deu uma visão da
sua mente, assumiu o controle total da minha, tudo para acabar com isso com
apenas uma ordem. Transar com outro.
S EM PALAVRAS .
Raelyn me deixou paralisado, imóvel e incapaz de compreender como um
momento tão bonito poderia ser tão catastrófico.
Não esperava que ela entrasse na minha mente com tanta facilidade para
ver a verdade da minha intenção. Mas a minha frustração com a nossa
situação era o que não saía dos meus pensamentos.
Eu tinha que compartilhá-la para quebrar o vínculo.
Mas não queria.
Eu possuía um respeito recém-descoberto por Darius e sua tolerância com
Jace, porque até a noção de deixar alguém tocar Raelyn me fazia querer
cometer assassinato. Era uma fraqueza que eu não podia ter, algo que eu
sabia que seria removido se deixasse outro transar com ela.
Um grunhido ficou preso na minha garganta, e a agonia do plano me
queimou por dentro.
Não posso deixar isso me consumir.
Eu era mais forte que isso.
Raelyn estava completamente imóvel. Seus olhos ficaram sem vida, o que
quase acabou com a minha determinação. Ela ficaria bem. Tinha que ficar.
Minha lutadora voltaria. Ela só precisava de espaço para ver que essa era a
melhor solução. Suas emoções estavam tão atadas quanto as minhas, o
vínculo de culpa. Superaríamos isso.
Me afastei dela, notando a falta de cor em seus membros. Sexo na neve
não era a melhor ideia para um mortal, mas agora que minha imortalidade
corria fresca em suas veias, ela se curaria rapidamente.
Imortalidade que pretendo tirar dela.
Porque é a única solução.
Passei os dedos pelos cabelos, irritado com a minha própria incerteza.
Tomar decisões era fácil. Eu fazia isso diariamente, de forma rápida e
eficiente. Essa mulher — Raelyn — mudou tudo.
Não, o vínculo tinha mudado.
Merda de cerimônia.
Por que não percebi que isso estava acontecendo? Nunca dei meu a
sangue a qualquer consorte. Só para Mikael e apenas porque ele exigia uma
cura substancial.
Esfreguei a mandíbula enquanto Raelyn estava imóvel no chão, e uma
lágrima marcou sua bochecha.
Suspirei, odiando tê-la magoado.
— Esta não era minha intenção. Simplesmente aconteceu. —
Provavelmente a desculpa mais lamentável da história. E por que eu estava
me explicando para ela? Não éramos iguais. Ela era só uma humana – uma
consorte com quem eu me envolvi demais.
Alguns dias separados resolveriam isso.
Eu a deixaria se curar e depois encontraria um candidato adequado —
minha mandíbula cerrou — para quebrar esse vínculo. Não havia outra
escolha.
— Precisamos entrar — disse a ela, observando o horizonte. Ficamos
aqui por muito mais tempo do que eu previ.
Essa mulher era tóxica para minha rotina e bom senso.
— Raelyn.
Sem resposta. Nem mesmo um vacilo.
Então era assim que as coisas seriam.
Apertei a parte de trás do meu pescoço.
— Quer que eu te obrigue a me seguir para dentro?
Faça o que quiser, ela respondeu, sua voz mental solene. Sou sua.
As duas palavras formigaram no meu coração. Gostei de ouvi-las mais
cedo, mas agora pareciam estúpidas e submissas, como se ela estivesse
aceitando o inevitável, sem se comprometer comigo por toda a eternidade.
Ela parecia em pedaços e machucada, deitada ali com as pernas abertas,
nua sobre o cobertor feito de roupas, os olhos sem foco e sem enxergar nada.
Odiava vê-la assim, odiava ter feito com que ela ficasse assim.
— É o vínculo — falei baixinho. — Quando estiver quebrado, você
entenderá. — Estaríamos livres dessa teia complicada, capazes de nos
sentirmos normais novamente.
Ela não disse nada. Sua expressão continuava vazia de emoção, exceto
aquela única lágrima congelada em sua bochecha. Como uma boneca
macabra distorcida. Danificada para sempre.
Não. Ela voltaria a ser como antes. Tinha que voltar.
Eu a vesti e a peguei no colo. O mínimo que eu podia fazer era levá-la de
volta para casa. Deixei nossos sapatos — eu os pegaria mais tarde — e passei
pela floresta até a porta dos fundos. Era muito mais rápido que andar. Se isso
incomodou Raelyn, ela não demonstrou, seus olhos estavam fechados como
se estivesse dormindo.
Ela permaneceu no mesmo estado quando entrei no nosso quarto. Sua
respiração estava lenta quando a deitei na cama.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei baixinho. — Água? Comida?
Raelyn se enrolou em uma bola. Sem resposta.
O tratamento de silêncio quase me fez entrar em sua mente, mas me
contive. Ela merecia paz depois do inferno ao qual a apresentei
acidentalmente.
Argh, mas não podia deixá-la assim.
Como isso se tornou tão complicado? Ela era uma diversão, um
entretenimento passageiro em minha longa existência. No entanto, passou a
significar muito mais.
Tirei uma mecha de cabelo úmida do seu rosto e seu olhar vazio estava
focado nas janelas de vidro.
Ficaríamos aqui por mais alguns dias e iriamos relaxar antes de eu
resolver a tarefa de encontrar alguém para consertar nosso problema. Não
poderia ser Mikael. Não confiava em mim mesmo para não matá-lo no
processo. Não, precisava de um vampiro mais forte, alguém que pudesse se
defender.
Minha mão se fechou. Ou eu poderia ficar com ela.
Não.
Essa não era uma opção. Ela era um risco — uma fraqueza — que eu não
podia pagar. E muitos a usariam contra mim. A sociedade classificava a
cerimônia como tabu, mas era realmente um produto da inveja. Erositas eram
raras e nenhum dos membros da realeza tinha uma. Bem, exceto Cam, mas
ele matou a dele antes que a deusa o levasse sob custódia.
Girei o pescoço, sentindo a exaustão me atingir com força no estômago.
Isso não deveria ser tão difícil.
Raelyn piscou, seus olhos sem alma continuavam sem foco. Ela precisava
descansar. Poderíamos discutir mais à noite. Removi as roupas espalhadas
que usei para embrulhá-la e a guiei para debaixo das cobertas. Ela não lutou
comigo, mas também não ajudou. Seus membros estavam pesados.
— Raelyn — sussurrei em agonia. — Sinto muito. — Eu não sabia
exatamente pelo que estava pedindo desculpas. Pelo vínculo inesperado e
acidental, por deixá-la entrar na minha mente, por tirar sua virgindade de
forma tão grosseira e no chão, todas as opções.
Balancei a cabeça.
— Durma um pouco — eu disse, não que ela parecesse estar ouvindo.
Deslizei para os lençóis ao seu lado, desejando abraçá-la, mas sabendo
que ela precisava de espaço.
Talvez ela voltasse a ser como antes.
K YLAN FEZ uma surpresa para mim, algo que ele manteve escondido em sua
mente, atrás de uma parede cuidadosamente erguida. Ele se recusou a me dar
outros detalhes além de dizer que tudo seria revelado no evento desta noite.
Um mês de treinamento, e eu ainda não estava preparada para isso.
Eu sempre queria baixar o olhar.
Me esconder.
Ficar em um canto.
Ficar invisível.
Mas ao lado de Kylan, nenhuma dessas ações era uma opção. Ele me
apresentou a todos como Rae, sua nova progênie e amante, e todos me
cumprimentaram com uma curiosidade irrestrita.
Kylan se recusou a adquirir um harém este ano, afirmando que não
precisava de novos membros. Isso só aumentou o interesse de todos.
Um membro da realeza sem harém, apenas uma companheira vampira.
Poucos em sua posição viviam tal existência, sendo o alfa do clã Majestic
um deles. Conheci Luka e sua companheira, Mira, hoje à noite. Estávamos
em algum tipo de cerimônia de união lycan. O alfa do Clã Clemente, Walter,
estava oficialmente saindo e entregando as rédeas a seu filho, Edon.
— Gostaria de apresentar minha progênie, Rae — Kylan falou, me
apresentando a mais um alfa. Niko, do Clã Ernest. Duas mulheres o
ladeavam, uma que reconheci como sua companheira e a outra mulher com
olhos e cabelos escuros que combinavam com os dele.
— Prazer em conhecê-la, Rae — Niko murmurou, segurando a minha
mão e beijando-a de forma um pouco sugestiva.
Essa não é a companheira dele?, perguntei.
Cora, sim. Ele não é conhecido por ser fiel.
É óbvio. Forcei um sorriso enquanto afastava minha mão da dele e
entrelaçava o braço de Kylan.
— Prazer em conhecê-lo também.
— Minha companheira, Cora, e nossa filha, Luna — ele falou,
gesticulando para a mulher atrás dele.
Luna foi prometida a Edon, Kylan murmurou.
Ela não parece muito animada com isso.
Uma fêmea alfa prometida a um macho alfa? Não. É uma combinação
feita no inferno, mas ela não tem escolha.
— Presumo que você esteja ansioso pelas festividades desta noite —
Kylan falou em voz alta.
— Sim, muito. Os Clementes concordaram em levar Luna esta noite para
ajudá-la com os costumes.
Luna se encolheu com as palavras casuais do pai, e seus lábios se
contorceram ainda mais.
Mas ela é lycan. Ela não tem certos direitos?
Ah, querida, há muito sobre esse mundo que você ainda não sabe.
— Quando é a cerimônia de acasalamento? — ele perguntou, fingindo
interesse.
— Na próxima lua cheia. — Niko parecia orgulhoso. A filha parecia
pronta para vomitar. Cora agarrou a mão de Luna e a apertou, fosse em
repreensão ou apoio, eu não sabia. A fêmea acasalada tinha uma expressão
ilegível.
— Talvez possamos assistir — Kylan murmurou. — Estou apresentando
Rae a todos os aspectos da nossa sociedade. Ela pode achar esse ritual em
particular fascinante.
Os lábios de Niko se curvaram e seus olhos castanhos escurecendo com
luxúria.
— Sim, pode ser bastante excitante.
Parece uma coisa que prefiro pular, observei de forma seca.
Você pode mudar de ideia em cerca de cinco minutos.
— Por falar em excitar, preciso de uma bebida adequada. Walter
mencionou uma sala de alimentação?
— Sim, nos salões principais, acredito. — Niko gesticulou para o
alojamento enorme ao nosso lado, aquele onde a maioria dos convidados
estava hospedada.
A propriedade do Clã Clemente era muito diferente da nossa casa. Era
cercada por árvores, mas muito mais quente, e todas as casas eram de
madeira, em vez da arquitetura limpa e nítida de Kylan City.
— Ah, sim, obrigado. — Kylan apertou a mão de Niko. — Tenho certeza
de que nos veremos em breve.
Espero que não, pensei enquanto dizia:
— Prazer em conhecer todos vocês.
Luna me deu um olhar cínico enquanto a mãe apenas assentiu uma vez,
ainda sem expressão. Niko, no entanto, parecia muito satisfeito por me
conhecer. Um pouco satisfeito demais.
Desta vez, ele manteve as mãos para si, principalmente porque Kylan me
afastou do seu alcance e nos despedimos.
Sim, não gosto dele.
Imagino que não, respondeu Kylan. Acredito que ele teria escolhido você
para seu harém se tivesse a chance.
Ofeguei, fazendo Kylan rir. Me lembro de uma vez que você se sentiu
assim por mim.
Não, sempre te achei atraente, mesmo quando eu te odiava.
Ele beijou minha têmpora quando abriu a porta, me escoltando para
dentro.
— Você me odeia agora, Raelyn?
— Só as vezes.
Ele riu e me levou por outra entrada.
— Bem, talvez isso incentive você a gostar mais de mim.
Olhei em volta, sem ver nada.
— O que é?
— Você vai ver. — Ele me soltou e deu um passo para trás. — Volto já.
Não vá a lugar algum.
Fiz uma careta quando ele desapareceu e a porta se fechou suavemente
atrás dele. O que você está fazendo?
É uma surpresa. Aproveite.
Outro olhar ao redor da salinha não revelou nada. Kylan?
Sem resposta.
As cortinas no canto farfalharam quando alguém abriu as portas de vidro
do lado de fora. Isso não poderia ser parte do plano de Kylan. Comecei a ir
em direção à porta, com a mão na maçaneta para sair quando uma voz
familiar murmurou meu nome.
Eu me virei, encontrando um par de olhos azuis escuros que eu não
esperava ver novamente.
— Silas.
Ele sorriu e correu na minha direção de braços abertos. Pulei nele,
abraçando-o com ferocidade, e seus ombros largos aceitaram minha força de
vampira.
— Você está vivo — sussurrei. O que eu já sabia. Kylan me disse que
Silas venceu a Copa, mas vê-lo aqui, tornou tudo muito mais real.
Ele enterrou o rosto no meu cabelo e inspirou.
— Deus, você tem cheiro de vampiro — ele riu. — E de Kylan.
Eu ri.
— Hum, sim, ele meio que...
— Você se transformou em um — ele terminou para mim. — Sim, eu
soube... todos souberam – também te vi lá fora com ele, mas não consegui me
aproximar.
Me afastei para estudar seu rosto.
— O quê? Por quê?
— Ah, Rae, você realmente não sabe? — Ele riu, me soltando para passar
a mão nos cabelos loiros. — Hierarquia, docinho. Você é a companheira de
um membro da realeza, enquanto eu sou apenas um lycan novato. Eles me
consideram um bebê. Conversar com um alfa, sem falar na realeza, sim,
tenho sorte de ter conseguido um emprego nessa festa. O Clã Clemente me
encarregou do serviço de segurança.
— Você não tem permissão para falar comigo? — perguntei, pasma.
— Não é costume — Kylan falou ao entrar na sala.
Silas deu um passo para trás e baixou os olhos.
— Sua Alteza.
— Silas — Kylan murmurou, e apoiou a palma da mão na base da minha
coluna.
— Peço desculpas pela invasão. A culpa foi toda minha. A Rae não fez
nada de errado.
Kylan permaneceu em silêncio por um momento enquanto eu olhava
entre eles, chocada com a submissão e as palavras de Silas.
Quando os mortais recebiam a imortalidade, eles adquiriam direitos.
Mas Silas parecia nada mais que um humano neste momento, não um
lycan novinho em folha.
E eu sabia que Silas não era submisso, podia ver isso na maneira como
suas mãos se curvavam agora mesmo em deferência a outro homem.
— Você é um bom amigo para ela — Kylan disse finalmente. — Foi
assim que eu soube que você a sentiria quando eu a deixasse sozinha.
Meu presente, percebi.
Sim, foi sua resposta.
— Não me importo que vocês dois mantenham contato. Apenas sejam
discretos.
Silas ergueu o olhar com cautela e franziu a testa.
— Está nos dando permissão para socializar?
— Você é amigo da Raelyn. Eu aceito isso. — Ele roçou os lábios na
minha têmpora. — Mas não significa que Walter ou Edon o farão. Só que
nunca gostei muito das regras. Basta perguntar a minha consorte. — Ele
piscou para mim e se virou para sair. — Mais cinco minutos, amor. Então
precisamos voltar lá para fora.
Ele fechou a porta, nos dando privacidade mais uma vez.
Silas olhou boquiaberto para Kylan, me fazendo rir.
— Você parece chocado — provoquei.
— Esse é o Kylan? — ele perguntou, gesticulando. — O formidável e
sádico membro da realeza sobre o qual lemos na universidade?
— Ele tem reputação, sim, mas não é de todo ruim. Às vezes, eu gosto
dele. — Eu sabia que ele podia me ouvir e sentia seu humor em minha mente.
— Mas chega de falar de mim, e você? Um lycan, hein?
Silas fez uma careta.
— Sim, Walter teve prioridade, já que estava se aposentando. Na verdade,
foi o filho dele que me transformou, para grande desgosto de Edon.
— Ele não queria te transformar?
Ele bufou.
— Não. Sou o primeiro, e provavelmente o último que passará por essa
experiência. Tudo faz parte dos testes alfa. Sua ascensão terminará na
próxima lua cheia.
— Achei que esta noite era a ascensão.
— Ah, não, esta noite é apenas a cerimônia inicial. — Ele apertou a parte
de trás do pescoço, suspirando. — Vai ser um mês daqueles.
— Como assim?
Ele apenas balançou a cabeça.
— Muito disso é ritual de clã, secreto e tudo mais.
— Mas você ficará bem, certo? — eu o pressionei.
— Pfft, há quanto tempo você me conhece, Rae? — Ele cutucou meu
ombro. — Sou um sobrevivente, assim como você.
Sorri, me sentindo um pouco mais tranquila.
— Sim, nós somos.
— E a Willow também, em algum lugar — ele disse baixinho.
Meu coração se partiu um pouco.
— Sim, ela também está sobrevivendo. — Espero.
— Bem, é melhor eu voltar antes que alguém perceba que estou sumido.
Mas estou feliz que você esteja bem, Rae.
— Você também, Silas. — Eu o abracei novamente – com força – e vi
quando ele desapareceu pelas portas deslizantes com um aceno.
Kylan se juntou a mim novamente. Seus braços me envolveram por trás.
— Quer vê-lo novamente no mês que vem?
— Na cerimônia da lua cheia? — imaginei.
Ele assentiu com a cabeça no meu ombro.
— Sim.
— Foi o que pensei. — Ele beijou meu pescoço. — Devemos voltar à
festa ou sair cedo?
Me virei para encará-lo, sentindo meu sangue esquentar quando o vi
parecendo pecaminoso de smoking.
— Sou a favor de uma saída antecipada.
— Uma mulher que pode ganhar meu coração — ele murmurou, me
beijando suavemente.
— Não, já sou a dona dele — eu o lembrei. — É o seu pau que eu quero.
— Raelyn — ele grunhiu. — O que eu vou fazer com essa sua boca?
Dei a ele o meu melhor olhar inocente.
— Me punir?
— Farei mais do que isso. — Ele me deu outro beijo, mais intenso dessa
vez. — Sempre tão desafiadora.
— Você ama isso.
— Não, eu te amo — ele sussurrou.
Eu sorri.
— Também te amo.
SÉRIE ALIANÇA DE SANGUE
O QUE VEM POR AÍ
Caro leitor,
Obrigada por ler Liberdade Perdida! Espero que tenham gostado de
Kylan e Rae tanto quanto gostei de escrevê-los. Você verá mais deles ao
longo da série. Confie em mim.
Resistência Perdida é o próximo. Estou realmente ansiosa para brincar
com os lycans e aprender mais sobre Silas. Sim, ele é o herói. E Luna será
sua heroína. Mas e o Edon? Decisões, decisões... Talvez eu o inclua também.
;)
Mais uma vez, obrigada pela leitura!
Com carinho,
Lexi
Houve um tempo em que a humanidade governava o mundo enquanto lycans
e vampiros viviam em segredo.
Esse tempo já passou.
Luna
Casamento arranjado? De jeito nenhum.
Sou uma fêmea alfa. Eu escolho o meu futuro. Não a sociedade. Nem meu
pai. E, com certeza, ele não.
Silas
Não sobrevivi para ser deixado de lado como um lycan de baixo nível. Sou
mais poderoso do que eles imaginam. Mais determinado. Mais inteligente. E
muito mais digno dela do que qualquer outra pessoa.
Edon
Dever. Uma palavra que eu detesto.
Sou o futuro alfa do Clã Clemente. Existem regras. Existem
responsabilidades. Não pode haver amor. Nem vontade própria.
Mas o coração tem vontade própria, e agora, eu quero os dois.
Resistência Perdida
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, obrigada, Julie Nicholls, por criar uma arte de capa tão
inspiradora. Sem seus projetos, a série Aliança de Sangue continuaria sendo
uma história curta, mas você só precisou criar aqueles lindos lobos brancos e
inspirar o lado lycan da minha história. Agora tenho esse mundo gigante para
escrever e é tudo culpa sua. Obrigada! <3
Segundo, ao meu marido por seu apoio, amor e sabedoria sem fim. Ah, e
por entender/aceitar que você não pode ler esta série. Nunca.
Allison: obrigada por todas as conversas noturnas, por ler todas as minhas
palavras (até as ruins) e por sempre me manter focada no caminho certo. Eu
te agradeço muito, muito!
Bethany: você mencionou o quanto é incrível manter todos esses mundos
na minha cabeça. Bem, acho incrível como você mantém todas as regras da
gramática na sua, porque nem em um milhão de anos eu poderia dominar a
arte da pontuação. Caso em questão, este parágrafo. Eu estaria perdida sem
você.
Delphine e Pam: o olhar de vocês aos detalhes ajudam a aumentar minha
confiança em minhas palavras/livros, e sou muito grata pelas habilidades de
revisão que vocês têm. Obrigada!
Louise e Melissa: vocês duas fazem meu mundo girar. Mais tarde,
enviarei fotos em agradecimento/pagamento por todos os seus serviços. ;-)
Amo vocês!
Amy, Joy, Louise, Katie, Melissa e Tracey: obrigada a todos pela leitura
beta de Liberdade Perdida e por me ajudarem a finalizar os planos do
Regally Bitten. Vou precisar de todas vocês para me ajudarem com esse trio.
Tenho a sensação de que Silas e Edon serão complicados. Ou, bem, os dois,
na verdade.
Famous Owls: obrigada por serem uma parte tão importante da minha
equipe e por sempre me fazerem sorrir. Vocês são demais!
Nada disso seria possível sem minha equipe do ARC e as Foss’s night
owls. Obrigada, obrigada, obrigada!
E para os leitores: obrigada por lerem a história de Kylan e Rae. Vocês os
verão de novo, provavelmente em Regally Bitten. ;)
SOBRE A AUTORA
Lexi C. Foss é uma escritora perdida no mundo do TI. Ela mora em Atlanta, na Geórgia,
com o marido e seus filhos de pelos. Quando não está escrevendo, está ocupada riscando
itens da sua lista de viagem. Muitos dos lugares que visitou podem ser vistos em seus
textos, incluindo o mundo mítico de Hydria, que é baseado em Hydra nas ilhas gregas. Ela
é peculiar, consome café demais e adora nadar.
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