Alegações Finais

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XX VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE CAMPOS-RJ

Processo nº xxxxxxxxxxxx

Lauro (sobrenome), qualificado no processo em epígrafe, da Ação Penal movida


pelo Ministério Público, por intermédio de seus defensores constituídos, com
fundamento no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

de acordo com os fatos e fundamentos a seguir delineados:

I. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Alega o Parquet que o réu resolveu sair de casa portando uma arma, no dia 3 de
outubro de 2016, quando foi abordado por uma viatura da polícia militar na cidade
de Campos - RJ. Tal interpelação somente ocorreu em razão de José ter
comunicado a Polícia Militar que o réu pretendia cometer o crime de estupro contra
Maria, estagiária de uma outra empresa situada nas proximidades do local de
trabalho do acusado.

O Ministério Público ofereceu denúncia pelo crime previsto no art. 213, § 1,


cumulado com art. 14 e art. 61, inciso II, alínea f do Código Penal. Em sede de
instrução criminal, José afirmou que o réu comentou com ele que possuía a
intenção de ter conjunção carnal com Maria, independente da sua vontade, mas
sem a intenção de machucá-la. No depoimento de Maria, ela disse que sempre
desconfiou do comportamento do réu e que queria ver o mesmo responsabilizado,
afirma ainda que possui 17 (dezessete) anos.

1
Houve duas audiências de instrução criminal, porém na primeira o réu não
compareceu por não ter sido intimado. Sendo ouvido apenas na segunda audiência,
onde foi juntada a folha de antecedentes, sem nenhuma anotação. Devido às
discordâncias dos depoimentos, o magistrado abriu prazo para o Ministério Público
e o advogado apresentarem alegações finais por memoriais.

II. PRELIMINAR

2.1 Ausência de intimação para audiência - nulidade processual

De início, observa-se que o réu não foi intimado para a audiência de instrução e
julgamento, o que implica em transgressão ao artigo 370 do Código de Processo
Penal, que prevê necessariamente a intimação das partes para todos os atos
processuais.

Consigne-se que tal ausência de intimação do réu caracteriza omissão de


formalidade que constitui elemento essencial do ato, conforme preleciona o artigo
564, inciso IV do Código Penal, ensejando nulidade processual.

Por não ter participado da audiência, é certo que o direito do réu a ampla defesa
restou prejudicado, de modo que houve violação ao preceito fundamental previsto
no art. 5º, inciso LV do Constituição Federal, nestas palavras: “aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Assim, a audiência de instrução e julgamento está eivada de vício e deve ser


reconhecida sua nulidade.

III. MÉRITO

3.1 Atipicidade da conduta

No caso em tela, não houve consumação do crime que o Parquet imputa ao


réu, já que a mera compra de uma arma e uma reserva do quarto não configura o
início da execução, mas apenas atos preparatórios, supondo que essa era a
verdadeira intenção do réu.

Em consonância ao princípio da lesividade, os atos preparatórios não são


puníveis conforme a doutrina e a jurisprudência brasileira, salvo se devidamente
expressos em lei, pois o bem tutelado não foi violado, in verbis:

2
[…] Em regra, os atos preparatórios não são puníveis,
salvo quando configurarem, por si mesmos, infração
penal. […] (TJ-MG - Primeira Câmara Criminal, Re. Em
Sentido Estrito 1.0512.14.002077-1/001, Rel. Alberto
Deodato Neto, julgado em 16/06/2015). (Grifo não original).

Diante do exposto, não há que se falar em crime, mesmo tentado, uma vez que
não houve atos executórios. O agente deve ser absolvido, nos termos do artigo
386, inciso III, do Código de Processo Penal, porque sua conduta não configura
crime e o porte da arma não constitui infração penal já que o réu possuía a arma de
forma regular.

3.2 Afastamento da qualificadora do art. 213, §1º do Código Penal

Na remota hipótese de condenação pelo delito de estupro, deve ser afastada a


qualificadora prevista no art. 213, § 1º do Código Penal, a qual determina a pena de
reclusão de 8 (oito) a 12 (doze) anos se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior
de 14 (catorze) anos. Porquanto, a idade de Maria não foi comprovada
documentalmente nos autos, fazendo incidir tão somente o elencado no art. 213,
caput do Código Penal.

Nesse sentido, sabe-se que o art. 155, parágrafo único do Código de Processo
Penal dispõe que “somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as
restrições estabelecidas na lei civil”. Assim, considerando a ausência de elementos
probatórios que possam comprovar a idade da vítima, não há que se falar na
qualificadora do crime de estupro, devendo incidir a pena mínima de 6 (seis)
anos do art. 213, caput do Código Penal.

3.3 Afastamento da agravante do art. 61, inciso II, alínea f, do Código Penal

A relação do réu e Maria era meramente profissional, eles não possuíam relação
amorosa ou familiar anterior ou de coabitação, como descrito na denúncia.
Assim, apesar do fato de a vítima ser mulher, o suposto ocorrido não foi no
âmbito da violência doméstica contra a mulher, como prevê o artigo 5º, da Lei nº
11.340/06.

Logo, requer que seja afastada o reconhecimento da agravante do art. 61,


inciso II, alínea f do Código Penal.

3.4 Atenuante da confissão espontânea

3
Instrui o artigo 65, inciso III, alínea d do Código Penal que a confissão espontânea
da autoria do crime, perante autoridade, constitui circunstância que sempre atenua a
pena. No caso em tela, nota-se que o acusado confirmou integralmente em juízo os
fatos relatados na denúncia, o que importa na atenuação da pena no caso de
condenação.

Dessa forma, requer a incidência da atenuante prevista no art. 65, inciso III,
alínea d do Código Penal.

3.5 Redução da pena em razão da tentativa

Ainda assim, se esse juízo considerar que houve crime, deve se entender que o
mesmo ficou longe de ser consumado, o que é de entendimento do direito que
haja redução máxima no quantum da pena, em razão do iter criminis, caminho
do crime, não ter sido totalmente percorrido.

Assim, requer a redução no percentual máximo de 2/3 em razão da tentativa,


nos termos do artigo 14, parágrafo único do Código Penal.

3.6 Aplicação do regime aberto

Com fulcro no art. 33, § 2º, alínea c do Código Penal, impõe-se o cumprimento da
pena no regime aberto desde o início, haja vista que o acusado não se caracteriza
como reincidente e a pena prevista ao crime de estupro simples, reconhecida as
hipóteses de redução e atenuante, encontra-se entre o intervalo de 4 (quatro) a 8
(oito) anos.

Outrossim, o Supremo Tribunal Federal já reconheceu a inconstitucionalidade do


art. 2º, § 1º da Lei nº 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondo), que determina
obrigatoriamente o regime fechado para os condenados pela prática de crime
hediondo. Segundo a suprema corte, tal disposição viola o princípio de
individualização da pena.

Portanto, requer a aplicação da pena no regime aberto desde o início, nos


termos do art. 33, § 2º, alínea c do Código Penal.

3.7 Suspensão condicional da pena

4
Por fim, assiste ao acusado o direito de suspensão condicional da pena por 2 (dois)
a 4 (quatro) anos, nos termos do art. 77 do Código Penal, em razão da pena
privativa de liberdade cominada não exceder o limite legal para concessão do
benefício e estarem presentes os seguintes requisitos: i) o condenado não seja
reincidente em crime doloso; ii) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a
concessão do benefício; e iii) não seja indicada ou cabível a substituição prevista no
art. 44 deste Código.

Destarte, requer a suspensão condicional da pena, nos termos do art. 77 do


Código Penal.

IV. PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

1. Nulidade dos atos de instrução por cerceamento de defesa, uma vez que o
réu não foi intimado para audiência de instrução e julgamento, nos termos do
art. 564, inciso IV do Código de Processo Penal;
2. Absolvição sumária do acusado pelo crime de estupro previsto no art. 213
do Código Penal, com fundamento no art. 386 do Código de Processo Penal,
tendo em vista que o fato não constitui crime;
3. Afastamento da qualificadora prevista no art. 213, § 1º do Código Penal,
pois não há prova da idade da vítima nos autos, devendo incidir a pena
mínima de 6 (seis) anos do art. 213, caput do Código Penal;
4. Afastamento da agravante do art. 61, inciso II, alínea f do Código Penal,
haja vista que a infração penal não foi cometida no âmbito de violência
doméstica;
5. Incidência da atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea d do Código
Penal, uma vez que o réu confessou espontaneamente o crime em juízo;
6. Redução do percentual máximo de 2/3 em razão da tentativa, nos termos
do artigo 14, parágrafo único do Código Penal;
7. Aplicação da pena no regime inicial aberto, nos termos do art. 33, § 2º,
alínea c do Código Penal.
8. Suspensão condicional da pena, nos termos do art. 77 do Código Penal.

Pede deferimento.

10 de setembro de 2018, Campos-RJ.

5
João Eduardo Pinto Pires
OAB XXX.XXX

Ellen Thais Oliveira Santos


OAB XXX.XXX

Você também pode gostar