O Conto A Aia

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE OVAR SUL

Escola EB Monsenhor Miguel Oliveira


ANO LETIVO 2022/2023
Professor: Catarina Fernandes

O CONTO “A AIA”

- AÇÃO
    *RESUMO
Um rei jovem e valente partira a batalhar por terras distantes, deixando só e triste a rainha
e um filho pequeno. Desafortunadamente, o rei perdeu a vida numa das batalhas e foi chorado
por sua esposa. Sendo herdeiro natural do trono, o seu filho bebé estava sujeito aos ataques
de inimigos dos quais se destacava o seu tio, irmão bastardo do rei morto que vivia num
castelo sobre os montes, com uma horda de rebeldes.
O pequeno príncipe era amamentado por uma aia, mãe de um bebé também pequeno.
Alimentava os dois com igual carinho, pois um era seu filho e outro viria a ser seu rei. A
escrava mostrava uma lealdade sem limites. 
Ora, como se esperava, o bastardo desceu da serra com a sua horda e começou uma
matança sem tréguas. A defesa estava fragilizada, pois a rainha não sabia como fomentá-la,
limitando-se a temer e a chorar a sua fraqueza de viúva sobre o berço de seu filho. Uma
noite, a aia pressentiu uma movimentação estranha, verificando a presença de homens
no palácio. Rapidamente se apercebeu do que iria passar-se e trocou, sem hesitar, as crianças
dos respetivos berços. Nesse instante, um homem enorme entrou na câmara, arrebatou do
berço de marfim o pequeno corpo que ali descansava e partiu furiosamente. A rainha, que,
entretanto, invadira a câmara, parecia louca ao verificar as roupas desmanchadas e o berço
vazio. A aia mostrou-lhe, então, o berço de verga e o jovem príncipe que ali dormia.    
Logo, o capitão dos guardas veio avisar que o bastardo havia sido vencido, mas
infelizmente o corpo do príncipe tinha também perecido. A rainha mostrou, então, o bebé e,
identificando a sua salvadora, abraçou-a e beijou-a, chamando-lhe irmã do seu coração. Todos
a aclamaram, exigindo que fosse recompensada. A rainha levou-a ao tesouro real, para que
pudesse escolher a joia que mais lhe agradasse. A ama, olhando o céu, onde decerto estava o
seu menino, pegou num punhal e cravou-o no seu coração, dizendo que agora que tinha
salvado o seu príncipe tinha de ir dar de mamar ao seu filho.
   * ESTRUTURA

Da conclusão, infere-se que se considerarmos a história da aia, estamos perante uma


narrativa fechada, pois apresenta um desenlace irreversível.
A articulação das sequências narrativas (momentos de avanço) faz-se por encadeamento.
Os momentos de pausa abrem e fecham a narrativa e interrompem, por vezes, a narração com
descrições (espaço, objetos, personagens).

   *SÍMBOLOS
Ao longo da ação há inúmeras referências ao ouro, material precioso e incorruptível,
símbolo de perfeição. Para além do seu valor material, simboliza a salvação, a elevação de uma
forma superior de vida, mais espiritual.
O príncipe, frágil e inocente, tem cabelos louros e dormia no seu berço com o seu guizo de
ouro fechado na mão.
Na câmara dos tesouros todos os objetos cintilavam e até o céu se tingia de ouro. E era no
céu, que se encontrava o escravo, salvo dos perigos e era junto dele que a aia desejou estar.
Por outro lado, a presença da escuridão, da noite ao longo da ação, acentua o caráter
trágico da mesma. Os cabelos negros do escravo, em contraste com os cabelos louros do
príncipe são referências à morte do primeiro versus a salvação do segundo.

- AS PERSONAGENS
Neste texto, ressalta uma ambivalência de temor que envolve as personagens nobres,
habitantes de um palácio.

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Ao longo do texto está presente o processo de caracterização direta, visto que   as
informações são nos dadas pelo narrador.  
No entanto, há também informações que são deduzidas a partir do comportamento das
personagens (caracterização indireta).
Deste quadro de personagens, destaca-se, obviamente, aquela que dá nome ao conto -
a Aia, personagem principal, tornando-se modelada, no fim do conto, porque adquire uma
densidade psicológica significativa. Mulher de uma dedicação desmesurada ao filho, ao príncipe
e aos reis prova, com o gesto da troca das crianças, uma grandeza de alma que não pode
ser compreendida por nenhum humano e que, por consequência, não   tem nenhuma  
recompensa ou pagamento material. A crença espiritual que alimenta o seu gesto demonstra
uma linearidade e uma simplicidade de   pensamento que coloca o dever acima de tudo: o dever
de escrava e o dever de mãe. O desejo da aia de provar que a cobiça e a ambição podem estar
arredadas de um coração leal, fez com que   ela escolhesse um punhal para pôr termo à sua vida.
Trata-se de   um objeto pequeno, certeiro que remete para o carácter   decidido da   personagem
e que era o maior tesouro que aquela mulher ambicionava, pois, esse objeto lhe abriria caminho
para o encontro com o seu filho, para cumprir o seu dever de mãe, dando-lhe de mamar.

O rei, a rainha, o tio, o príncipe e o escravo são personagens  secundárias e planas.


Não são identificadas por um nome próprio uma vez que remetem para a intemporalidade da
história. As crianças estão, no conto, marcadas pela sua posição social: uma dorme em berço
de ouro entre brocados, a outra, num berço pobre e de verga. À hora da morte é por essa
marca que o inimigo vai identificar o futuro rei. O príncipe não intervém diretamente na ação, mas
é o   centro das atenções de todas as personagens. A personagem escravo existe para salvar
a vida do príncipe.

- O ESPAÇO

  A ação é localizada num reino grande e rico, e decorre num palácio, erguido num reino
próspero «abundante em cidades e searas». Toda   ação  decorre nesse  espaço, sendo que
alguns recantos do palácio são sobrevalorizados por oposição a  outros,  por  exemplo, a  câmara
onde o príncipe e o filho da escrava dormiam e  a câmara dos tesouros.
No entanto, alguns espaços  exteriores adquirem alguma importância: o primeiro é o  espaço
onde se efetiva  a  derrota do rei e consequente morte que vai deixar a rainha viúva,  o filho  órfão
e o povo sem rei; o segundo acaba por ser um elemento caracterizador do   vilão  do  conto:
«vivia  num castelo, à maneira de um lobo, que entre a  sua  alcateia, espera a presa». Através  
desta apresentação, o leitor fica na expectativa do que irá acontecer, visto que ela é indicadora
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de confrontação e de tragédia. É também determinante no clima que se vive no palácio, que
denota temor e insegurança.
O espaço é descrito do geral para o particular, do exterior para   o interior.
Primeiramente, é nos apresentado «um reino abundante em cidades e searas», onde se situa
um palácio, habitado por um príncipe frágil que é protegido no seu berço pela sua   ama. À
medida que se desenrolam os   acontecimentos, o espaço vai-se concentrando cada vez mais,
acabando a Aia por se suicidar na câmara dos tesouros.
No exterior, no alto, encontramos um «castelo sobre os montes», «o cimo das serras»,
povoado pelo tio bastardo e a   sua horda, que vigiam a presa – o príncipe que vivia no palácio.
Cá em baixo, «na planície, às portas da cidade» existe um palácio, onde a população   e o  
príncipe estão desprotegidos e são presa fácil. No interior da «casa real» há uma câmara com um
berço, um pátio, a galeria de mármore, a câmara dos tesouros, onde estão a rainha, a aia, o
príncipe e o escravo. 
Quanto ao espaço  social, é descrito o ambiente da corte – palácio, rei, rainha, aias,
guardas.

- O TEMPO

Não há referências a datas ou locais que permitam localizar a ação no tempo. Há apenas
algumas expressões referentes ao tempo: «lua cheia», «começava a minguar», «noite de Verão»,
«noite de silêncio», «luz da madrugada». É à noite que acontecem os principais acontecimentos
desta história – a morte do rei, o nascimento do príncipe e do escravo, o ataque ao palácio, a
troca das crianças, As mortes do escravo, do tio e da sua horda. No entanto, a ação culmina com
a morte da aia, de madrugada.
O   núcleo central da ação centra-se numa noite. A Condensação de um tempo da história
tão longo, numa narrativa   curta (conto) implica a utilização sistemática de sumários ou
resumos (processo pelo qual o tempo do discurso é menor do que o tempo da história).
É possível também identificar no   texto um outro processo de redução do tempo da história, que
é a   elipse (eliminação, do discurso, de períodos mais ou menos longos da história).
Na parte inicial da ação, «a   lua cheia que   o vira (o rei) marchar» começava a minguar,
quando um dos seus cavaleiros aparece trazendo a notícia da sua morte. 
Quanto à ordenação dos acontecimentos, predomina o respeito pela sequência cronológica.

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