Hipóteses Práticas

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

Direito Internacional Público 2022/2023

Hipóteses práticas - recolha

A
Suponha que...
ao longo dos anos 70, os Estados com tecnologia espacial, começaram progressivamente a utilizar peças dos
satélites abandonados na órbita geoestacionária, nas operações de reparação dos satélites activos.
O governo chinês veio, no entanto, a protestar com veemência contra essa prática, por forma a impedir o
acesso à tecnologia por si desenvolvida. A questão gerou um extenso debate, a vários níveis, incluindo a Assembleia
Geral e o Conselho de Segurança das Nações Unidas, do que resultaria uma convergência muito ampla favorecendo a
prática que vinha sido desenvolvida. Os estados, continuaram por isso a fazer uso dos satélites abandonados,
respeitando, todavia, a oposição chinesa, por forma a não criar atritos com esta potência.
Já durante os anos 90, a Ucrânia veio protestar também contra esta prática, opondo-se a que os seus satélites,
depois de desactivados, pudessem ser utilizados para qualquer finalidade (sem o seu acordo, o que sempre implicaria
uma compensação). Apesar de alguns estados insistirem haver um costume na matéria, a Ucrânia manteve a sua
posição, alegando nomeadamente que:
a) nunca havia aceitado tal prática como legítima;
b) trata-se, em todo o caso de mera tolerância da parte de alguns estados (sem que existisse convicção da sua
obrigatoriedade);
c) em qualquer caso, a oposição chinesa sempre teria impedido a formação de uma regra consuetudinária;
d) o decurso de tempo da prática nunca poderia ser considerado suficiente para a formação de um costume.
Qvid jvris?

A2
Suponha que
Na WHO/OMS (Org. Mundial de Saúde) é aprovada em 2015 uma resolução (185 votos favoráveis e 12
abstenções) reconhecendo que o uso pelas autoridades de saúde dos Estados de princípios farmacêuticos objecto de
patente em situações de surto epidémico grave obriga o Estado ao pagamento das royalties apenas na medida das
suas capacidades económicas devendo as O.I. contribuir sempre que existissem riscos de disseminação.
Em 2016 o Estado A, na sequência de longos anos de guerra civil e com uma economia depauperada, colocado
perante um surto galopante de uma estirpe virulenta de gripe, decide efectuar vacinações generalizadas de um
produto farmacêutico inovador.
O Estado B, em cujo território tem sede a farmacêutica que inventou e registou o produto, veio em apoio desta
exigindo o pagamento integral das doses ao preço estabelecido no mercado.
A OMS e o Estado A invocam a resolução do ano anterior, afirmando ter formado um costume.
B responde negando a existência de tal regra por se tratar de mera declaração de um O.I., por não terem
decorrido mais de 6 meses (o que impediria a formação de um costume) e ainda por se ter abstido, aquando da
vocação – o que era suficiente para demonstrar não haver, da sua parte, consentimento.
Qvid jvris?

A3
[1.º teste de avaliação – Turmas A+B+C – 2021.11.18]
Suponha que
Foi celebrada, sob a égide das Nações Unidas, uma convenção relativa à coordenação das operações policiais
na luta contra o tráfico de droga, que codificava e desenvolvia o direito internacional nessa matéria.
O texto da convenção consagrava uma regra nos termos da qual se reconhecia que todo o vaso militar teria
autoridade para inspeccionar no alto mar qualquer embarcação suspeita de transportar estupefacientes, conquanto
comunicasse o facto imediatamente às autoridades do Estado no qual a embarcação estivesse registada e transferisse
para estas autoridades a condução das buscas assim que estas, querendo, deslocassem ao local uma força militar
nacional.
Os Estados A e B opuseram-se à consagração dessa regra por considerarem que, embora essa conduta se
tivesse generalizado nos últimos anos, era inadequada, pois permitia abusos que podiam mesmo perturbar a
circulação marítima. Por essa razão A e B recusaram-se a assinar a convenção (e subsequente a vincularem-se à
mesma, através da ratificação) e, em declaração formal enviada ao Secretário-geral das NU, insistiram na oposição à
conduta em causa.
Dois anos mais tarde, a AG das NU aprovou por maioria (com dois votos contra, de A e B) uma resolução na
qual os Estados se congratulavam com o visível aumento da eficácia das operações de controlo do tráfico de
estupefacientes, que em boa parte se devia à melhoria da articulação das operações resultante da simplicidade da
regra supra-referida, relativa ao controlo das embarcações suspeitas.
1/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

Pouco tempo depois, a marinha de D abordou em alto mar duas embarcações com bandeira de B e C
respectivamente, por suspeitas de tráfico de estupefacientes. Ao informar as autoridades de B e C, estas opuseram-
se às buscas e ordenaram a sua imediata cessação.
Neste enquadramento responda às seguintes questões:
a. Poderia a Marinha de D prosseguir as buscas, face ao direito aplicável? Justifique. (8 valores)
b. Se C e D tivessem celebrado uma convenção de cooperação policial nos termos da qual se dispensava a
comunicação de quaisquer operações envolvendo cidadãos ou bens do outro Estado até que essa operação se
concluísse, este Estado (D) estaria desobrigado de efectuar a comunicação no caso sub judice, ou manter-se-ia
essa obrigação? Justifique. (4 valores)
c. Se o Estado E, cuja constituição consagrava um regime dualista puro, se houvesse vinculado à convenção
celebrada sob a égide das NU, repetindo o texto da mesma através de um acto legislativo, mas, entretanto, o
seu tribunal constitucional tivesse declarado tal acto nulo, estaria, ainda assim, obrigado a cumprir as regras da
convenção? Justifique (4 valores)
d. Caracterize e convenção em causa, tendo presentes as classificações das convenções estudadas. (4
valores)
A4
[1.º teste de avaliação – Turmas D+E – 2021.11.19]
Suponha que
Chocados com a destruição dos budas de Bamiyan pelos taliban, no Afeganistão, em 2001, a Assembleia Geral
das Nações Unidas adoptou, sem votação, uma resolução que, não apenas condenava veementemente a destruição
de património artístico, mas também impunha aos Estados a obrigação de tipificarem esse comportamento como
crime e consequentemente punirem os autores materiais ou morais de tais actos.
Neste enquadramento responda às seguintes questões:
a. Explique se, neste enquadramento de facto, a inacção subsequente de um Estado poderia configurar uma
violação do direito internacional. (8 valores)
b. Admita que o conteúdo da resolução formou um costume que conflituava pontualmente com a
CRP. Explique se esse conflito prejudicava a aplicação da regra consuetudinária na nossa ordem interna. (4 valores)
Suponha agora que a AGNU entendia desencadear um processo de codificação do costume em causa. No
articulado da convenção estabelecia-se expressamente que a vinculação decorria da ratificação. O Estado A assinou e
ratificou, mas não se considerava ainda vinculado já que o seu direito interno impunha como condição da vinculação
a existência de um parecer favorável do tribunal constitucional.
c. Face ao direito internacional aplicável, estará o Estado A vinculado? Justifique (4 valores)
d. Suponha ainda que a constituição de um dado Estado reconhece a vigência do costume, mas sujeita o
direito convencional a uma transformação, como requisito para a sua aplicabilidade. Classifique
fundamentadamente este mecanismo. (4 valores)
A5
[1.º teste de avaliação – Adiamento – 2021.12.03]
Suponha que
Numa determinada região montanhosa, existiam 4 Estados (A, B, C e D) sendo que deles, apenas um (A) tinha
acesso ao mar. O abastecimento de mercadorias de todos os Estados em causa fazia-se, desde há séculos, pelo porto
marítimo de A.
Em 2005 A e B assinaram uma convenção bilateral que codificava e desenvolvia o costume relativo ao
abastecimento de B através do porto e território de A (eliminando definitivamente qualquer discriminação aos
cidadãos e empresas de B). Nesse ano, todavia, mudou o governo de A e o novo executivo preferiu suspender o
processo, impedindo a ratificação da convenção. Não obstante, os termos convencionais foram sempre cumpridos
por A e B.
Em 2010 um outro governo de A introduziu pesadas taxas na utilização do seu porto marítimo por estrangeiros,
o que mereceu protesto da parte de B, C e D, os quais, invocando o costume, pretendiam continuar a abastecer-se
através do dito porto, sem os encargos impostos.
A respondeu aos protestos explicando que B, C e D deveriam, isso sim, agradecer a sua generosidade em
facilitar durante muitos anos o abastecimento sem exigir contrapartidas, mas que dessa liberalidade não decorrera
qualquer obrigação. E, por isso, no exercício dos seus poderes soberanos, era livre para impor, a partir dessa altura,
naturais contrapartidas.
Neste enquadramento, responda às seguintes questões:

2/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

a. Explique se, neste enquadramento de facto, A estava obrigado a manter o regime ou, pelo contrário,
podia introduzir as limitações anunciadas. Na sua resposta explique se o regime relativo a B era diferente, face à
convenção celebrada em 2005. (10 valores)
b. Classifique a referida convenção de 2005 indicando a relevância prática de cada uma das classificações
atribuídas. (5 valores)
c. Indique os possíveis termos de um artigo constitucional (de um Estado Z) que estabelecesse uma cláusula
de recepção plena relativamente ao costume e uma cláusula de recepção automática, relativamente aos princípios
gerais de direito. Justifique os termos propostos. (5 valores)

A6
[1.º teste de avaliação – Turmas diurnas – 2020.10.30]
Suponha que
Em 2009 é concluída no quadro da Organização das Nações Unidas uma convenção que estabelecia o
alargamento da zona económica exclusiva para 300 milhas marítimas.
Aquando da negociação, os Estados A e B manifestaram a sua total oposição ao alargamento, votando contra
e recusando posteriormente a sua vinculação.
Em 2014 o Estado X pretendendo evitar envolver-se numa disputa regional relativa aos direitos de pesca
impede o acesso de navios pesqueiros de A e D na faixa entre as 200 e as 300 milhas marítimas, invocando o costume
formado nessa matéria a partir da regra convencional.
Ambos os Estados protestam
a. Por entenderem haver uma confusão entre regras convencionais e consuetudinárias;
b. Por, em qualquer caso, não se considerem vinculados a qualquer regra consuetudinária eventualmente
formada, já que A sempre se opusera à mesma e D (que acedera à independência apenas em 2012) não havia dado o
seu consentimento.
Qvid jvris?
A7
[1.º teste de avaliação – Turma nocturna – 2020.10.30]
Suponha que
Em 2014 foi aprovada, por unanimidade e aclamação, na Assembleia do Conselho da Europa, uma Resolução
que solenemente declarava banida a pena de morte no continente.
Desde essa data nunca mais foi aplicada a dita sanção.
No corrente ano as autoridades da Polónia pretendem a aplicação da pena de morte (que continua prevista na
lei, por não ter ocorrido qualquer alteração formal) num caso de grande impacto público.
A defesa do cidadão em causa invocou a resolução de 2014 para evitar tal condenação, mas o governo polaco
– cujo partido de apoio prometeu no debate eleitoral de 2018, voltar a aplicar da pena de morte – impôs ao Ministério
Público que, nesse sentido, solicitasse essa aplicação, naquele caso.
Em duas sentenças anteriores (de 2015 e 2016) os tribunais polacos haviam considerado que a Resolução de
2015 formara costume, impedindo, por isso, a aplicação da pena de morte prevista na lei.
Qvid jvris?
A8
[Teste de avaliação contínua – 2020.11.18]
Suponha que 
Durante um período longo de tempo os Estados com capacidade de explorarem recursos mineiros nos leitos
marinhos assumiam a obrigação de retirar todos os meios utilizados nessas explorações quando terminava a
actividade de prospecção ou mineração. 
O governo soviético, cuja posição sempre foi a inversa, defendeu a legitimidade da mesma em diversas
ocasiões. A questão gerou um animado debate, a vários níveis, chegando à Assembleia Geral das Nações Unidas, onde
veio a ser aprovada por maioria esmagadora, uma resolução favorecendo a prática que vinha sido desenvolvida. Os
estados com capacidade de exploração dos fundos marinhos continuaram, por isso, nos anos subsequentes a obrigar-
se ao levantamento dos materiais utilizados na exploração.
Recentemente um novo Estado, resultante da desagregação da União Soviética iniciou a exploração de fundos
marinhos, não seguindo a prática internacional na matéria. Apesar de alguns estados insistirem haver um costume,
esse Estado manteve a sua posição, alegando nomeadamente que nunca havia aceitado tal prática como legítima, que
tal prática consistia numa liberalidade não vinculativa (sem que existisse convicção da sua obrigatoriedade) e recordou
a oposição soviética para negar a existência de um costume.
Qvid jvris? 
3/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

A9
[1.º teste de avaliação RI – 2019.10.25]
I
Suponha que
O petroleiro X, com bandeira do Estado A efectuou em 2017 uma lavagem dos tanques no mar alto que veio a
causar importantes danos ambientais no Estado B. A empresa proprietária (Y) abriu falência pouco depois, não
havendo por isso, meios para compensar os prejuízos sofridos em B. Este Estado conseguiu, todavia, que o tribunal
arbitral a quem coube apreciar tais prejuízos (e impor as correspondentes obrigações de indemnização) condenasse
subsidiariamente A relativamente aos danos não cobertos pelo seguro nem pelo património de Y.
A situação teve algum impacto mediático vindo a ser debatida na ONU. Alguns Estados – em especial aqueles
onde estavam sediadas as grandes empresas transportadoras – manifestaram alguma resistência inicial mas,
progressivamente, vieram a convergir o que permitiu que fosse aprovada sem votos contra uma resolução na AG
consagrando a obrigação dos Estados responderem subsidiariamente pelos danos ambientais causados por
petroleiros hasteando a sua bandeira.
Meses depois um petroleiro com bandeira de Z afundou-se causando graves danos ambientais em C.
Este Estado pretende chamar Z á responsabilidade (subsidiariamente) invocando a existência de um costume.
Z insiste que nenhuma responsabilidade lhe pode ser assacada por manifestamente não existir nem prática
geral nem convicção da obrigatoriedade.
Qvid jvris? (14 valores)
II
Refira-se sumariamente ao conceito de direito internacional. (6 valores)

A10
[1.º teste de avaliação TA – 2019.10.28]
I
Suponha que
O Estado A, aliado do Estado B (que sofreu uma invasão por forças do Estado C), assumiu a liderança e
coordenação da ajuda humanitária em parte do território deste (B) decidindo que, relativamente aos nacionais de C
as suas forças apenas garantiriam a estabilização sanitária e a devolução ao território de C, onde deveriam obter outra
ajuda de que necessitassem.
As ONG e algumas agências de OI a operar no terreno opuseram-se vigorosamente a essa decisão lembrando
a prática por si (ONG e agências) seguida em zonas de conflito latente, no sentido de o apoio às populações se fazer
independentemente do seu envolvimento e/ou da nacionalidade dos necessitados. Consideravam estas que essa
prática havia formado costume que obrigava as autoridades de A.
Face a este circunstancialismo, explique directa e fundamentadamente se, na sua opinião, existia um costume
que obrigava as autoridades de A. (14 valores)
II
Refira-se sumariamente à escola espanhola de direito internacional e explique a sua contribuição histórica na
matéria. (6 valores)

A11
[1.º teste de avaliação TB – 2019.10.25]
I
Suponha que
Numa dada região encravada o acesso ao mar era feito através de um rio e das vias que atravessavam o vale
onde este corria, em direcção a Sul.
Na zona do vale em questão eclodiu um conflito que se arrastou vários anos. Em consequência disso, o acesso
ao mar passou a fazer-se através de um outro rio e das vias terrestres adjacentes no sentido Norte, atravessando o
território dos Estados A e B. Esta solução apresentava algumas limitações importantes já que no Inverno as baixas
temperaturas chegavam a gelar parcialmente as águas e os nevões restringiam significativamente o trânsito pelas
outras vias.
Durante o período em que o conflito impediu o uso do acesso ao mar pelo sul o Estado A por diversas vezes
informou os Estados encravados de que o atravessamento do seu território voltaria a ser sujeito a todas as limitações
e exigências assim que fossem restabelecidas as condições de acesso pelo sul. B nunca se pronunciou.

4/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

Terminado o conflito A e B restabeleceram os controlos fronteiriços e proibiram o uso comercial das vias nos
dois meses de Inverno invocando os riscos na circulação e os custos acrescidos de patrulhamento e apoio gerados
nesse período.
Os Estados encravados protestaram invocando a formação de um costume, situação que nem A nem B
aceitavam.
Face a este circunstancialismo, explique directa e fundamentadamente se na sua opinião existia um costume
que obrigava as autoridades de A e B a autorizar o uso das vias em questão nos termos ocorridos durante o conflito.
(14 valores)
II
Explique sumariamente em que termos o voluntarismo afecta e questiona o direito internacional. (6 valores)

A12
[1.º teste de avaliação TC – 2019.10.30]
I
Suponha que
Ao longo dos anos, os Estados nos quais se situavam servidores de espaço digital (clouds) fizeram convergir as
respectivas práticas relativamente à disponibilização de informação a autoridades de investigação criminal –
nomeadamente impondo a obrigação de reportar sistematicamente os conteúdos armazenados passíveis de
configurarem pornografia infantil.
O Estados A e B (sendo que este último acedeu à independência nos últimos meses) – surgiram recentemente
nesse mercado, mas recusaram-se a disponibilizar essa informação, pretendendo com isso captar a clientela
particularmente interessada em garantir a privacidade dos dados. Os restantes Estados e algumas OI protestaram
invocando a existência de um costume na matéria. Lembraram, a propósito, que estudos de diversas OI bem como
publicações da Cruz Vermelha e da UNICEF se referiam explicitamente ao carácter vinculativo da prática de
disponibilização dos dados em questão. Esse carácter vinculativo havia sido também referido em algumas das mais
recentes decisões judiciais em matéria de pedofilia.
A e B desconsideraram, todavia, os documentos das OI e das ONG (entendendo serem os mesmos irrelevantes) e
afirmaram que não se podia retirar do reconhecimento em duas ou três decisões judiciais de tribunais de outro
Estados a existência de um costume.
Face a este circunstancialismo, explique directa e fundamentadamente se, na sua opinião, existia um costume que
obrigava as autoridades de A e B a disponibilizarem informação às autoridades de investigação criminal. (14 valores)
II
Explique em que medida um Estado pode invocar o carácter dualista da sua ordem jurídica para se recusar a cumprir
(ou aplicar) uma regra consuetudinária. (6 valores)

A13
[1.º teste de avaliação TD – 2019.11.08]
I
Suponha que
Procurando dar os primeiros passos no sentido da integração económica na África Ocidental, foi aprovada sem
votos contra (com as abstenções de dois Estados - A e B) em 2016 uma resolução na Assembleia geral da OCEAO
(Organização da Cooperação Económica da África Ocidental) nos termos da qual todos os Estados dessa região deviam
garantir aos demais o tratamento comercial da nação mais favorecida. Desde então todos os Estados da África
Ocidental – com excepção do Estado Z – vêm seguindo os termos da referida resolução.
Em 2017 alguns Estados tentaram celebrar uma convenção tendo em vista o aprofundamento da integração
económica em termos da criação de uma união aduaneira. Nas negociações os Estados B e C subscreveram a proposta
inicial que referia a prática decorrente da resolução da OCEAO e lhe reconheciam carácter obrigatório, considerando
tratar-se do primeiro passo no sentido do aprofundamento pretendido.
O novo governo de B – que tomou posse em 2018 – optou, todavia, por não se vincular à convenção que criava a
união aduaneira. Pretende, aliás, reorientar a política comercial daquele Estado introduzindo medidas proteccionistas
e estabelecendo acordos incompatíveis com o regime decorrente da resolução da OCEAO.
Os demais Estados daquela OI protestaram lembrando tratar-se de um costume (aceite, aliás, por B aquando das
negociações da convenção relativa à criação da união aduaneira) ao que este Estado retorquiu que, não se tendo
vinculado à dita convenção, dela não se podiam retirar quaisquer efeitos jurídicos.

5/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

Face a este circunstancialismo, explique directa e fundamentadamente se, na sua opinião, existia um costume
que obrigava as autoridades de B a manterem o tratamento da nação mais favorecida relativamente aos Estados da
África Ocidental. (14 valores)
II
Distinga cláusulas de recepção de cláusulas de transformação (6 valores).

A14
[1.º teste de avaliação RI – 2018.11.02]
Suponha que
O rio X atravessa os Estados A, B, C e D dando acesso ao mar alto através de Z, sendo todos os Estados antigas
colónias de Y.
Desde a independência dos referidos Estados nos anos 60 que o tráfego de embarcações de e para os portos
de A, B, C e D se fez livremente, exigindo Z apenas a prévia comunicação dos navios que pretendessem cruzar o seu
território. Essa facilidade decorria, aliás, de uma publicação oficial da Marinha de Z que especificava os termos das
comunicações (antecedência e tipos de informação a fornecer).
Na sequência de alguns atritos diplomáticos entre C, D e Z no início de 2015 este Estado proíbe a passagem de
navios militares e exige maior antecedência da comunicação e informações mais detalhadas, passando a efectuar
verificações pontuais.
C e D protestam por considerarem que a posição de Z, além de inamistosa, violava o respectivo direito de
passagem garantido por um costume formado desde a independência dos referidos Estados.
Z contrapôs, insistindo que a sua tolerância em relação à passagem de navios nunca havia formado costume
exactamente por se tratar de mera tolerância. C e D insistiram no seu protesto considerando que a uniformidade da
prática dispensava qualquer outra exigência enquanto evidência da regra consuetudinária que garantia a livre
passagem das embarcações.
Face a este circunstancialismo, responda directa e fundamentadamente às seguintes questões:
a. Em sua opinião existia uma regra consuetudinária que garantia a livre passagem das embarcações (tal como
pretendiam C e D)? Justifique. (12 valores)
b. O facto de o regime constitucional de Z não reconhecer o costume enquanto fonte de direito aplicável na
respectiva ordem jurídica poderia ser relevante no conflito descrito? Justifique (8 valores)

A15
[1.º teste de avaliação – TA - 2018.11.09]
Suponha que
Na sequência de uma disputa com as autoridades de A, o governo do Estado B proibiu a passagem dos navios
de A no troço do rio Z que atravessa B e que constitui o único acesso de A ao mar alto.
A protestou, considerando aquela atitude provocatória e ilícita já que durante o período do domínio colonial
naquela região sempre havia sido admitida a passagem de quaisquer embarcações para acesso aos territórios a
montante de Z, prática essa que se mantinha até ao presente.
B respondeu alegando tratar-se de mera tolerância, ao que A replicou lembrando que, logo após a
independência, os Estados da região (incluindo A e B) haviam assinado uma convenção com vista à criação de uma
autoridade reguladora do tráfego internacional do rio Z (convenção que nunca tinha entrado em vigor, em razão de
diversos atritos políticos surgidos depois entre os Estados-membros), na qual se assumia a liberdade da navegação no
dito rio.
Face a este circunstancialismo, responda directa e fundamentadamente às seguintes questões:
a) Está B obrigado a deixar passar as embarcações de A? Justifique (12 valores)
b) Poderia uma convenção posterior alterar uma regra consuetudinária existente? Justifique (8 valores)

A16
[1.º teste de avaliação – TB- 2018.11.02]
Suponha que
Em 2014 foi adoptada por maioria (sem votos contra) na Assembleia-geral da Organização Mundial das
Telecomunicações (OMT) uma resolução nos termos da qual em situações de grave crise humanitária os Estados-
membros e a própria OMT, sendo caso disso, se obrigavam a disponibilizar os meios de comunicação que lhes fossem
solicitados para efeitos de socorro e apoio. A resolução assinalava ainda que os custos desse apoio deveriam ser
suportados pelos Estados que os fornecessem, embora, sempre que isso se justificasse, pudessem estes solicitar o
apoio financeiro de outros Estados-membros ou da OMT.
6/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

Ainda em 2014 face a graves inundações no Laos, a Tailândia, o Vietname e a OMT, prestaram o devido auxílio
nos termos da resolução. O mesmo sucedeu meses mais tarde face a um tremor de terra no Suriname que
imediatamente obteve apoio da Guiana, da Guiana Francesa e do Brasil.
No ano seguinte a situação repetiu-se aquando da deflagração de incêndios graves no Burundi, obtendo este
Estado apoio da RD do Congo, Uganda e Quénia. Os custos deste apoio seriam depois objecto de apoio por parte da
União Europeia e da União Africana.
No seguimento destas ocorrências ainda em 2015 a AG da OMT aprovou por unanimidade uma resolução nos
termos da qual o conjunto dos Estados-membros se congratulavam com as imediatas reacções em todas as situações
de crise.
Em 2016 ocorre nova situação de graves inundações na Arménia que logo apresentou um pedido de apoio, o
qual obteve resposta positiva da Turquia, e da Geórgia. O Azerbaijão recusou, todavia, esse apoio em razão de alguns
atritos políticos que se vinham arrastando com a Arménia em anos recentes.
Face a este circunstancialismo, responda directa e fundamentadamente às seguintes questões:
a) A recusa do Azerbaijão em prestar apoio constituía uma violação de uma obrigação internacional deste
Estado? (12 valores)
b) Na situação descrita ter-se-á formada um costume selvagem? Justifique (8 valores)

A17
[1.º teste de avaliação – TC– 2018.11.08]
Suponha que
O Estado A foi assolado por semanas de mau tempo que tornam muito difícil o acesso a uma zona separada
por uma cordilheira montanhosa. Exige, por isso que o Estado B facilite o acesso por mar (atravessando, para o efeito
o mar territorial). Perante a recusa de B, A invocou um costume formado por uma resolução aprovada pela
organização regional Z dez anos antes, a qual apelava a que em situações de crise os estados facilitassem o acesso às
áreas separadas por zonas montanhosas.
B respondeu negando a existência do costume (já que este se pretendia baseado apenas num acto de uma
organização internacional, com apenas uma década) e insistindo que, em qualquer caso, não se lhe aplicaria por nunca
o ter aceite (B havia acedido á independência cinco anos antes).
Face a este circunstancialismo, responda directa e fundamentadamente às seguintes questões:
a. Estava B obrigado a facilitar o acesso por mar às áreas separadas por zonas montanhosas? (12 valores)
b. Distinga codificação de desenvolvimento (8 valores)

A18
[teste1 TA 2017/2018]
Suponha que
Em 2010 é concluída no quadro das Nações Unidas uma convenção que estabelecia o alargamento do mar
territorial das 12 para as 15 milhas marítimas.
Aquando da negociação os Estados A e B manifestaram a sua total oposição ao alargamento, votando contra e
recusando posteriormente a sua vinculação.
Em 2014 o Estado X pretendendo evitar o envolvimento num conflito regional impede a passagem de navios
militares de A e D na faixa entre as 12 e as 15 milhas marítimas, invocando o costume formado nessa matéria a partir
da regra convencional.
Ambos os Estados protestam
a) Por entenderem haver uma confusão entre regras convencionais e consuetudinárias;
b) Por, em qualquer caso, não se considerem vinculados a qualquer regra consuetudinária eventualmente
formada já que A sempre se opusera à mesma e D (que acedera à independência em 2012) não havia dado o seu
consentimento.
Qvid jvris?
A19
[teste1 TB 2017/2018]
Suponha que
Em 2015 foi aprovada, por unanimidade e aclamação, na Assembleia do Conselho da Europa, uma resolução
que solenemente declarava banida a pena de morte no continente.
Desde essa data nunca mais foi aplicada a dita sanção.
No corrente ano as autoridades húngaras pretendem a aplicação da pena de morte (que continua prevista na
lei por não ter ocorrido qualquer alteração formal) num caso de grande impacto público.
7/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

A defesa do cidadão em causa invocou a resolução de 2015 para evitar tal condenação, mas o governo húngaro
- cujo partido de apoio prometeu no debate eleitoral de 2016, voltar a aplicar da pena de morte – impôs ao Ministério
Público que, nesse sentido, solicitasse essa aplicação, naquele caso.
Em duas sentenças anteriores (de 2015 e 2016) os tribunais húngaros haviam considerado que a Resolução de
2015 formara costume impedindo, por isso, a aplicação da pena de morte prevista na lei.
Qvid jvris?
A20
[teste1 TC 2017/2018]
Suponha que
A linha que estabelece a fronteira entre os Estados A, B e C é atravessada
em diversos pontos por um desfiladeiro que historicamente era utilizado
pelas populações locais como via de atravessamento do maciço
montanhoso.
Em anos mais recentes, depois de A, B e C terem acedido à
independência, surgiram diversos conflitos fronteiriços durante os quais o
atravessamento do desfiladeiro ficou reduzido a pessoas e comércio
(sendo, portanto, vedado o uso para veículos ou forças militares).
A dada altura B pretende reforçar definitivamente as suas fronteiras
limitando o uso do desfiladeiro à circulação sujeita ao controlo fronteiriço
que funcionava irregularmente, era muito demorado e impunha o
pagamento de taxas de acesso.
A e C protestam, lembrando a prática histórica e insistindo mesmo no
reconhecimento também histórico da sua obrigatoriedade – o qual era
patente em diversa documentação e diferentes actos das autoridades
coloniais que exerceram o poder naquele território.
B responde entender não haver qualquer prática consistente (face
nomeadamente às alterações ocorridas nos conflitos recentes) nem lhe ser
oponível a eventual convicção da obrigatoriedade da potência colonial. Acrescentava ainda que em qualquer caso, o
costume nunca lhe seria aplicável já que a sua ordem constitucional soberana não reconhece tal fonte de direito.
Qvid jvris?
A21
Suponha que
O Estado A, cujo território é atravessado pelo rio X impediu o acesso de um vaso militar ao território de B, situado
a montante do mesmo curso fluvial. Este protesta, recordando que nos últimos dez anos (período no qual ambos
tinham acedido à independência) os navios de B sempre tinham utilizado aquela via de acesso sem qualquer
impedimento ou limitação.
A responde alegando que apenas tinha tolerado esse atravessamento por questões de boa vizinhança, o que não
lhe impunha qualquer obrigação.
B contrapôs o facto de A ter entretanto celebrado com C e D (cujos territórios se situam nas margens de X, a
montante de B) uma convenção da amizade na qual se reconhecia o carácter internacional de X. Lembrava ainda um
parecer do Ministério Público de A pedido a propósito da negociação do tratado de amizade no qual se recomendava
o reconhecimento do mesmo carácter internacional do rio X nos troços que ligam C e D ao mar, por se tratar do único
acesso destes Estados, o que sempre obrigaria a liberalizar a navegação nos mesmos.
O primeiro-ministro de A desmereceu publicamente das alegações de B aconselhando este Estado a não invocar
em sua defesa as relações entre A e outros Estados, que lhe não diziam respeito.
Qvid jvris?
B
O Estado C, dispondo de importantes recursos minerais inexplorados, estabeleceu com o Estado D e as
empresas X e Y, um acordo nos termos do qual estas realizariam os avultados investimentos necessários à exploração
dos referidos recursos e assegurariam ainda a sua colocação no mercado internacional. Em contrapartida, C
expressava a garantia formal de que os bens das empresas em causa não seriam objecto de nacionalização e era ainda
garantida toda a liberdade no eventual repatriamento dos lucros.
Entretanto, ocorre um golpe de estado em C e o novo governo decreta a nacionalização de todos os bens das
indústrias extractivas, incluindo, portanto, os das empresas X e Y. Estas protestaram invocando o acordo estabelecido,
mas C contra-argumentou lembrando que, tratando-se de um mero contrato, nada impedia este estado soberano de
alterar livremente as regras aplicáveis. Recordava ainda que tendo ambas as empresas sido adquiridas por uma
8/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

multinacional americana, haviam perdido a nacionalidade de D, não se lhes aplicando por isso, de qualquer modo, o
acordo estabelecido.
Qvid ivris?
B.2
Os Estados A, B, C e D reuniram-se numa conferência intergovernamental a convite do primeiro, na sua capital,
tendo em vista a celebração um acordo relativo à navegação no estreito de Nahgul. O Estado anfitrião apresentou a
seguinte proposta:
Art. 1.º
Os Estados partes da presente convenção reconhecem reciprocamente a liberdade de navegação no estreito
de Nahgul.
Art. 2.º
A designação dos níveis de segurança dos fluxos de navios no estreito far-se-á por acordo a estabelecer entre
representantes das partes no período de 6 meses.
Art. 3.º
O controlo e manutenção dos níveis de segurança dos fluxos serão efectuados em cada ano por uma das Partes,
sucedendo segundo a ordem alfabética da sua designação.

1. Está completo o texto convencional?


2. Se D entendesse apresentar uma proposta diferente como se procederia na negociação? Far-se-ia sobre
ambas ou escolher-se-ia uma delas? Nesta última hipótese, qual?
3. Se os Estados pretendessem circunscrever uma área geográfica específica dentro da qual se aplicava o
acordo, como poderiam integrar nos termos do acordo essa referência?
4. Supondo que os representantes de B e C não apresentaram plenos poderes, pergunta-se:
a. A intervenção destes na negociação e na adopção do texto era admissível?
b. Podia algum dos demais Estados participantes na negociação opor-se à sua participação?
c. Não havendo acordo entre os demais Estados sobre a participação destes, como deveria resolver-
se o diferendo?
5. A oposição de C aos termos finais do acordo impediria a sua adopção?
6. Como seria designada a convenção (não havendo deliberação das partes sobre o assunto)?
7. Caso o acordo se designasse como memorando de entendimento, isso afectaria o seu valor jurídico
vinculativo?
8. Assinado o acordo (entre os quatro Estados), C notifica os demais Estados a fim de prosseguirem a negociação
sobre os termos do mesmo, alegando serem manifestas as divergências quanto ao seu conteúdo, o qual se
revelava, em qualquer caso, incompleto. Qvid jvris?
9. O Estado E, contíguo ao estreito, envia a A o instrumento de ratificação da convenção. Como deve reagir A
na qualidade de depositário?
10. Se a convenção não dispõe sobre os termos da vinculação e as ordens jurídicas dos diferentes Estados
estabelecem exigências distintas para o efeito, qual será a regra a aplicar in casu?
11. Será lícito ao Estado B – cuja vinculação decorria da ratificação e antes de adoptar este acto – acordar com o
Estado Z um regime diverso e incompatível com o negociado?
12. Poderá o novo governo do Estado A recusar-se a ratificar a convenção?
13. Suponha que a ordem constitucional de D se assumisse dualista, mas este Estado se propusesse a adoptar
uma lei que repetisse os termos da convenção. Esta solução poderia apresentar algum risco à vigência da
mesma?
14. Se esse risco [a existir] se consubstanciasse, de que meios dispunham os demais Estados para reagir contra
os danos dele resultantes?
15. C ratificava – e depositava o respectivo instrumento junto de A – mas vinha a alegar posteriormente que
segundo a sua ordem constitucional, a ratificação era um acto insuficiente para vincular, carecendo de uma
autorização parlamentar. Estaria C vinculado [tal como assumiam os demais Estados] ou não [como
pretendia]?

C
O Estado Z, recentemente chegado à independência e não dispondo dos meios necessários para a exploração dos
seus importantes recursos marinhos, estabeleceu com o Estado U um memorando de entendimento nos termos do

9/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

qual o Ministério das Pescas deste estado, organizaria e acompanharia um processo de criação de empresas mistas
que deveriam desenvolver o sector.
Algum tempo depois, o governo de Z entende ser desadequado o apoio prestado por U e comunica a este a sua
intenção de reorganizar o sector directamente, pelo que dispensava o seu apoio.
O governo de U opôs-se à decisão, por considerar que não poderia Z unilateralmente terminar com o acordo, no
que iria, entre outros, prejudicar os interesses dos investidores de U que haviam criado as empresas mistas, não
permitindo a este Estado ver recuperados os importantes financiamentos por si assegurados no processo.
Z insistiria na legitimidade da sua posição decorrente do facto de o memorando de entendimento acordado, não
poder enquanto tal, ser considerado como uma convenção vinculativa, pelo que mantinha plena liberdade de
desvinculação a todo o tempo.
Qvid jvris?

D
Os Estados F, G, H e J, sentindo-se ameaçados por constantes manobras militares de um poderoso país vizinho,
K, concluíram uma convenção nos termos da qual era criada uma estrutura militar comum de defesa.
A vontade em tornar imediatamente operacional a nova estrutura, fez com que se tivesse sido estipulado no
texto que a vinculação decorreria da assinatura e a entrada em vigor seria imediata - permitindo assim a preparação
de qualquer intervenção intimidatória (ou de outra natureza) que se mostrasse necessária.
A nova organização internacional teria um impacto importante no equilíbrio geoestratégico da região,
enfraquecendo consideravelmente a influência de K, até então dominante.
Nestas circunstâncias, dois outros estados da região – L e M - solicitam a adesão à convenção.
O Estado K, receando a sua progressiva perda de influência veio a tornar pública a sua oposição à dita adesão
alegando que esta sempre seria nula, por não estar prevista na convenção. Acrescentou que a própria convenção
padecia de vícios insupríveis já que a vinculação às convenções em matéria militar não pode decorrer da mera
assinatura, por ter entrado em vigor ainda antes da publicação e por não ter sido enviada ao Secretário-geral da ONU
para registo e publicação.
M receando a derrapagem da situação apõe uma reserva, dispondo-se a abandonar a organização se a
convenção ou a adesão viessem a ser consideradas como contendo violações do Direito Internacional.
F,G,H e J ignoraram a ameaças de K e os receios de M e aceitaram a adesão dos novos Estados.
Qvid jvris?

D.2
Os Estados A, B, C e D, membros da Organização internacional X, negociaram e assinaram sob a égide desta,
uma convenção internacional em matéria de apoio ao desenvolvimento.
Meses depois, ainda decorria o processo interno de ratificação, o Estado E solicita ao Estado A, para enquanto
depositário, admitir a sua assinatura diferida, o que mereceu uma recusa.
Face a essa recusa E solicitou imediatamente a adesão, o que não mereceu qualquer reacção por parte dos
Estados.
A entrada em vigor da convenção acabaria por ser perturbada pelo decurso de períodos eleitorais em C e D,
pelo que o depósito do último instrumento de ratificação – condição fixada para a entrada em vigor – apenas ocorreu
mais de um ano depois.
Não tendo sido notificado da entrada em vigor por A na qualidade de depositário, E enviou um protesto a esta
Estado, recordando que, tendo solicitado a adesão há mais de um ano e não tendo havido qualquer reacção, esse
silêncio equivalia a uma aceitação, pelo que devia ser tido como parte da convenção e nessa medida ser notificado
por A de ocorrências tais como a entrada em vigor.
A, em resposta, informou que não podia concordar com a posição de E e que pelo contrário, não considerava
a adesão deste efectivada.
a) Em seu entender, a resposta de A ao pedido de E no sentido de admitir a assinatura diferida, foi a correcta?
Justifique.
b) A adesão de E efectivou-se?
c) (Assumindo a efectivação da adesão) A devia ter notificado E da entrada em vigor? Justifique.

D.3
Os Estados F e G celebraram em Julho de 2001 uma convenção nos termos da qual estabeleciam uma aliança em
matéria militar.

10/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

Aquando da assinatura, o representante de G entregou uma declaração nos termos da qual aquele Estado admitia
fazer depender qualquer intervenção militar fora do seu território de um parecer a emitir pelo seu tribunal
constitucional que afiançasse não existir nessa intervenção qualquer violação do direito interno ou internacional. F
não reagiu, sendo que a convenção, nos termos nela estipulados, entrou em vigor no início de 2003.
Em Fevereiro de 2004, dois estados vizinhos, H e I solicitaram a adesão à convenção. F imediatamente declarou a
sua aceitação, a qual foi, todavia, recusada por G. Em resposta F recordou a G que a sua vinculação ainda se não havia
produzido uma vez que não tinha havido aceitação da reserva formulada.
H declararia imediatamente não considerar também G como parte da convenção, uma vez que este estado havia
condicionado a sua vinculação à aceitação de uma reserva, situação incompatível com o facto de se tratar, na altura,
de uma convenção bilateral.
I viria a emitir uma posição diversa, considerando que a reserva de G havia sido aceite, uma vez que havia decorrido
mais de um ano desde a sua formulação sem que F se houvesse pronunciado.
G viria, todavia, a esclarecer que a declaração entregue com a assinatura consistia numa mera declaração
interpretativa pelo que não afectara a sua vinculação. Adiantava ainda que se a mesma devesse ser considerada uma
reserva, o facto de não ter sido confirmada aquando da notificação de ratificação tornava a mesma inexistente, não
havendo, portanto, afectação da sua vinculação.
a) Em seu entender como deve ser classificada a declaração de G?
b) (Assumindo tratar-se de uma reserva) a mesma tinha de ter sido confirmada?
c) (Assumindo tratar-se de uma reserva), houve ou não aceitação da mesma?
d) Não havendo aceitação da reserva, a adesão podia ocorrer?
e) Tendo ocorrido a aceitação da reserva, a adesão efectivou-se?
f) Tratando-se de uma declaração interpretativa, G é parte?

D.4
Os Estados A, B, C, D e E celebraram na capital deste último, uma convenção em matéria política, sendo que nela
se estipulava que a vinculação dependia da ratificação.
Nos meses seguintes seguiram-se, todavia, algumas modificações no panorama político da região, as quais
tornaram a matéria do acordo algo controversa.
Nestas circunstâncias responda às seguintes questões:
a) Estando referido na convenção que E seria depositário da mesma, poderia este Estado recusar-se a receber
um instrumento de ratificação de A, alegando que enquanto a sua vinculação (de E) não se produzisse, também a
qualidade de depositário não podia ser assumida?
b) Se um Estado F solicitasse a adesão e B se opusesse, poderia essa adesão consumar-se se todos os restantes
a aceitassem?
c) Suponha que C formulava uma reserva, com a ratificação e D se opunha a ela por considerar inadmissível que
depois de negociado e assinado o texto sem que tivessem sido levantados quaisquer obstáculos, não era decente
vir a reduzir substancialmente naquela altura o seu grau de envolvimento.
d) A quem caberia o envio do texto da convenção para registo, classificação e publicação internacional e para
quem deveria tal envio se efectuado?

D.5
Os Estados A, B, C e D, celebraram em 2001, uma convenção que criava um mercado comum, que deveria
entrar em vigor no início de 2003. O texto da convenção proibia quaisquer reservas.
Aquando do depósito do instrumento de ratificação de C, em 2002, este Estado juntou um documento nos
termos da qual, adiantava que era seu entendimento estar excluído do mercado comum todo o material bélico e bem
assim, quaisquer mercadorias com aplicação militar. B veio a informar ser também esse o seu entendimento, mas D
respondeu, considerando ser a pretensão de C inadmissível, por se tratar de uma reserva, proibida pelo texto da
convenção. A, por sua vez, solicitou aos Estados que esclarecessem em que termos a questão levantada afectava a
entrada em vigor da convenção.
Qvid jvris?
E
Durante as negociações de uma convenção internacional sobre transferências de tecnologia, o plenipotenciário
do Estado A foi ameaçado pelo seu homólogo do Estado B, de que a não assinatura do mesmo conduziria à ruptura
de todos os contratos celebrados com as empresas do seu estado (A).
A convenção viria a ser assinada pelos representantes de A, B e Portugal.

11/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

No momento da aprovação da dita convenção, o Presidente da República decidiu formular uma reserva relativa
à exclusão da aplicação a Portugal de certas disposições da convenção. Esta reserva foi prontamente aceite pelo
Estado B e de imediato recusada pelo Estado A.
Dois meses depois da entrada em vigor da convenção, o Estado português e o Estado A decidiram pôr-lhe
termo, com base nos seguintes argumentos:
- vício do consentimento de A
- incompetência do Presidente da República
- alteração fundamental das circunstâncias
Qvid jvris?

E.2
Sob ameaça do Estado B de ruptura de todos os contratos celebrados com as empresas do Estado A, o MNE deste
estado aceitou concluir negociações com Portugal e o referido Estado B, relativas a uma convenção internacional
sobre transferências de tecnologia. No momento da aprovação do acordo o Presidente da República decidiu formular
uma reserva relativa à exclusão da aplicação a Portugal de certas disposições da convenção. Esta reserva foi
prontamente aceite pelo Estado B e de imediato recusada pelo Estado A.
Dois meses depois da entrada em vigor da convenção, o Estado português e o Estado A decidiram pôr-lhe termo,
alegando incompetência do Presidente da República.
Qvid jvris?

E.3
O governo moçambicano negociou com o embaixador português acreditado no Maputo uma convenção em
matéria de cooperação turística.
Os governos angolano, cabo-verdiano e sul-africano, ao tomarem conhecimento da dita convenção, solicitaram a
adesão à mesma.
O governo moçambicano imediatamente declarou o seu acordo com as adesões, mas o governo português
receando que o alargamento do quadro tornasse difícil o controlo do acordo, declarou apenas admitir a adesão de
Angola e Cabo Verde, opondo-se à adesão sul-africana.
Neste enquadramento, responda individualmente às seguintes questões:
1. O governo português pode discriminar a adesão da África do Sul? Justifique?
2. Suponha que em resposta à oposição do governo português, o governo angolano referia que a convenção
celebrada não era válida, dado o embaixador português não ter poderes para a concluir.
3. Qual deveria ter sido a intervenção do Presidente da República português no processo de vinculação à
convenção?
Qvid jvris?

E.4
Suponha que, cumprindo uma determinação recebida do MNE, o embaixador de Portugal em Angola negoceia
com as autoridades deste Estado uma convenção nos termos da qual o governo português se compromete a fornecer
assistência aos aviões militares angolanos, através das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico e bem assim, garantir
a formação do pessoal técnico aeronáutico.
Face à pressão do governo angolano, interessado em garantir a operacionalidade imediata dos seus aviões, por
acordo das partes, a convenção entrou em vigor com a assinatura, não aguardando sequer pela publicação, uma vez
que os destinatários da mesma, dela tiveram imediato conhecimento.
Ao tomar conhecimento da situação a UNITA, pretendendo evitar a utilização dos aviões contra as suas bases,
questionou publicamente a validade da convenção e ameaçou recorrer ao Tribunal Internacional de Justiça caso a
mesma fosse cumprida.
Qvid jvris?

E.5
Em viagem pela Guiné-Bissau em 1995, o Presidente da República celebrou com as autoridades deste Estado, uma
convenção de cooperação cultural e científica. O embaixador português que o acompanhava chamou-lhe a atenção
para o facto de que, em sua opinião, o presidente não dispunha dos necessários poderes para a prática dos actos, ao
que este, através dos seus assessores, lhe recordou o disposto no artº 7º nº 2 al. a) da CV69 e, bem assim, o disposto
no artº 134º b) da CRP.

12/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

A convenção foi cumprida até que o novo governo saído das eleições após a guerra civil, discordando do teor da
convenção, resolve denunciá-la, justificando-se com a incompetência do Presidente da República portuguesa.
Qvid jvris?

E.6
Suponha que o Estado português, representado pelo Ministro do Ambiente celebrou com diversos outros Estados
uma convenção em matéria de sustentabilidade energética.
Face a estas circunstâncias, responda fundamentadamente às seguintes questões:
1. Para participar na negociação em causa o Ministro do Ambiente tinha de apresentar carta de plenos poderes?
2. Tinha o Ministro do Ambiente competência para negociar a referida convenção?
3. Tinha o Ministro do Ambiente competência para assinar a referida convenção?
4. Poderia Portugal vincular-se à convenção pela assinatura?
5. A convenção em causa tinha de ser um tratado solene ou podia ser um acordo em forma simplificada?
6. Quem tinha poderes para aprovar a convenção?
7. Seria diferente a sua resposta às questões anteriores (d e e) se por força da convenção se criasse uma
organização internacional de acompanhamento e promoção da sustentabilidade energética?
8. Qual o acto através do qual seria aprovada a convenção?
9. Qual a intervenção do Presidente da República no processo de vinculação da convenção em análise?
10. Poderia o Presidente da República, caso discordasse politicamente do conteúdo da mesma, recusar-se a
adoptar o acto necessário ao prosseguimento do processo?
11. Que consequências teria o facto de não ter sido efectuada a referenda ministerial dos actos do Presidente da
República?

E.7
O Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros negociou e aprovou uma convenção nos termos da qual se
regulava o programa de assistência técnica às Forças Armadas de Angola.
A UNITA considerou que a convenção em causa era inválida pelo que recorreu ao Tribunal Internacional de
Justiça no sentido de obter a declaração de nulidade da mesma.
Qvid jvris?

E.8
O Ministro da Agricultura português celebrou com os representantes acreditados de 40 países um tratado
institutivo de uma organização internacional com objectivos predominantemente económicos.
Tendo dúvidas acerca da constitucionalidade de algumas disposições do tratado, o governo português decidiu
submetê-lo à apreciação preventiva da constitucionalidade, antes de proceder à sua aprovação em Conselho de
Ministros. O acordo entrou em vigor passados dois anos, logo que ficaram depositados os instrumentos de ratificação
necessários.
Dez anos depois o Estado X, porque entendia partilhar dos objectivos da organização internacional criada pelo
referido acordo, decidiu pedir a adesão, o que foi de imediato recusado pelos Estados B e C em virtude de conflitos
políticos antigos.
Pela mesma altura o Estado Y decidiu declarar unilateralmente a nulidade do acordo em relação ao Estado
português, em virtude de não terem sido respeitadas normas de direito português de importância fundamental.
Qvid jvris?

E.9
Suponha que o Ministro dos Estrangeiros português, em visita oficial à Costa do Marfim, negoceia e assina uma
convenção nos termos da qual, Portugal se compromete a prestar ajuda militar àquele país africano, em troca de
facilidades no acesso às zonas de pesca deste país.
A convenção entra em vigor em 1995 e é pontualmente cumprida até que o novo governo da Costa do Marfim,
toma conhecimento, por notícias na imprensa, de que a assinatura daquela, havia sido obtida graças à ameaça
efectuada sobre a família do Ministro português, o qual aliás, não tinha competência para assinar, já que nos termos
da sua ordem constitucional, tal poder estava acometido ao Primeiro-ministro.
Perante tais factos, o governo da Costa do Marfim considera inaceitável tal situação, pelo que declara
publicamente que considera a convenção sem efeito, deixando de a cumprir imediatamente.
O governo de português em reunião de urgência conclui que, não obstante o sucedido seja lamentável e
mereça uma a intervenção dos tribunais com vista ao apuramento das responsabilidades criminais, a convenção, tal
13/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

como vem sendo cumprida é vantajosa, na medida em que parte do importante sector pesqueiro depende das
facilidades concedidas, o que justifica plenamente a ajuda militar que vem sendo dada àquele Estado. Pretende por
isso, manter o acordo em vigor, comunicando-o às autoridades da Costa do Marfim, cujo governo considera, todavia,
a questão como sendo relativa à sua de dignidade nacional, pelo que insusceptível de outra posição que não seja a de
declarar a nulidade da convenção.
Qvid jvris?

E.10
O Presidente da República português concluiu uma convenção com os Estados A (Estado neutralizado) e B,
sobre cooperação, no domínio da defesa. O governo posteriormente submeteu esta convenção à apreciação da
Assembleia da República que a aprovou através de deliberação solene.
Três anos mais tarde, o Estado A conclui com o Estado C (Estado exíguo), um acordo no mesmo domínio, sendo
que algumas disposições deste acordo conflituavam com o anterior. Entretanto, o Estado A comunicou às autoridades
portuguesas que se considerava desvinculado da primeira convenção, visto o anterior governo ter sido substituído
após a realização de eleições gerais.
Qvid jvris?

E.11
Os MNE de A, B, C e Portugal acordaram em 2005 na criação de um mecanismo de apoio mútuo em situações
de catástrofe natural, fixando que as contribuições de cada Estado para o funcionamento do sistema seriam idênticas.
O acordo entrou em vigor ainda nesse ano, mas no início de 2010, as partes tomaram conhecimento de que os
representantes de A e B haviam sido subornados por D a fim de garantir o critério de financiamento equitativo.
B e C declararam imediatamente que nessas circunstâncias consideravam a convenção irremediavelmente
nula, declarando-se consequentemente desvinculados e solicitando ainda a devolução dos montantes entregues para
o financiamento do mecanismo.
Qvid jvris?

E.12
Os Estados E, F, G e Portugal acordaram em 2005 na criação de uma brigada comum de protecção civil e num
fundo de assistência a vítimas de catástrofes.
Durante a negociação o representante de E avisou o representante de F que a candidatura do seu filho a uma
prestigiada universidade de E só teria sucesso se F votasse favoravelmente a proposta de E relativa aos termos da
constituição do fundo de assistência.
Revelado este episódio na imprensa dois anos após a entrada em vigor da convenção, o novo governo de E
declarou a situação intolerável, considerando que a convenção padecia de vícios insupríveis.
F reagiu suavizando o incidente ao declarar-se disposto a ignorar o lamentável episódio ou, em alternativa, a
manter em vigor a parte relativa à brigada comum já que sobre esse assunto não tinham ocorrido quaisquer vícios.
Qvid jvris?

E.13
Em 1615 os reinos de H, I e J estabeleceram um tratado de cooperação militar e económica que se manteve
em vigor até à actualidade.
Em 2015, aquando das comemorações do 3.º centenário do tratado alguns historiadores questionaram a
relevância do mesmo recordando que entre outras passagens menos dignas de orgulho havia um capítulo que
regulava o comércio de escravos e o uso de trabalho forçado.
Face a tais revelações H torna público que se considera desvinculado da convenção, mas tanto I como J insistem
em que se mantenha a vigência do tratado já que os capítulos referidos haviam deixado de se aplicar há mais de um
século, importando apenas manter e desenvolver os laços mútuos.
Qvid jvris?

F
Os Estados A, B e C concluíram uma convenção no âmbito da ajuda humanitária em caso de catástrofe. Dois
anos mais tarde, o Estado A comunica verbalmente aos outros Estados a denúncia com efeitos imediatos da dita
convenção em virtude de esta incluir uma cláusula nos termos da qual se permitia a execução sumária dos elementos
das equipas humanitárias que aproveitando-se da sua situação, praticassem crimes de furto e abuso de menores.

14/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

O Estado B opôs-se imediatamente, alegando que essas cláusulas tinham um intuito meramente dissuasor,
pelo que sempre poderiam ser excluídas, mantendo-se a convenção no restante.
Qvid jvris?

G
Em 1990, os Estados A, B e C concluíram uma convenção, nos termos da qual, se colocavam em comum os
recursos das respectivas Zonas Económicas Exclusivas, permitindo-se assim o livre acesso das embarcações de todos
os estados participantes.
Em 1995 B, C, D e E concluíram uma outra convenção em matéria científica que visava acompanhar a evolução
dos recursos naturais, impondo a protecção de determinadas espécies (animais e vegetais) durante determinados
períodos. Logo no primeiro ano, foi proibida a captura de carapau e sardinha, a caça às perdizes e javalis e o abate de
castanheiros e carvalhos.
Os pescadores de B e C protestaram contra a proibição de forma veemente e o governo de B, tentando pôr
termo à situação, invocou o erro na celebração da segunda convenção, já que o plenipotenciário que realizara a
negociação, não tinha conhecimento da primeira.
C apoiou-se também no facto de existir uma convenção anterior parcialmente incompatível, para nunca chegar
a cumprir a segunda.
No entanto A considerou inaceitável o comportamento de B e C, por terem celebrado com terceiros uma
convenção incompatível sem lhe darem conhecimento e decidiu denunciar o acordo.
Face à denúncia de A, D e E, exigiram o cumprimento da convenção por B e C.
Qvid jvris?

H
Face ao progressivo agravamento das contas exteriores em consequência do aumento do preço do petróleo, o
governo português decidiu investir na diversificação das fontes energéticas e nesse sentido, negociou com a Argélia
um acordo de fornecimento de gás natural, no qual a evolução dos preços seria controlada, estabelecendo-se para o
efeito, ritmos máximos de variação.
O acordo que entrou em vigor pouco tempo depois, teve um acolhimento muito favorável na opinião pública
portuguesa (até porque o preço das ramas de petróleo continuou a subir) o que assustou a oposição, que procurou
de imediato atacar o governo, alegando a sua incompetência para a celebração do dito acordo, exigindo que o mesmo
fosse apreciado pela Assembleia da República e pelo Presidente da República.
O governo negar-se-ia a satisfazer tais exigências, mas o governo argelino, suspeitando da possibilidade de
obter uma renegociação favorável, denunciou o acordo com base em erro, já que não antevira a contínua subida dos
preços.
Qvid jvris?

I
Os representantes dos Estados A, B e C, em guerra há mais de três anos, negociaram um tratado nos termos
do qual foi obtida uma cessação parcial das hostilidades, a abertura de um corredor de assistência humanitária,
acordada a troca imediata de todos os prisioneiros e dispensada para o futuro qualquer troca, admitindo-se a sua
eliminação sistemática.
Realizada a troca dos prisioneiros e iniciada a assistência às vítimas da guerra por organizações internacionais,
seria questionada na imprensa internacional a validade do acordo face à autorização mútua da eliminação dos
prisioneiros.
C cujo exército é acusado de ter iniciado a prática de tais actos, declara que ponderada a situação, entende
considerar nulo o acordo, tendo por justificadas eventuais práticas porque cometidas de boa fé (já que na presunção
da validade do mesmo), exigindo a devolução dos prisioneiros, confiscando o material das organizações humanitárias
e expulsando os seus membros.
B declara que, a ser considerada a nulidade da cláusula relativa à eliminação dos prisioneiros, dever-se-á ter a
mesma por não escrita, mantendo-se o acordo em vigor no restante.
Qvid jvris?

J
Os Estados A, B, C e D negociaram uma convenção que estabelecia obrigações conjuntas em matéria de
protecção civil (nas quais avultava a disponibilização dos meios aéreos de combate incêndios. A, B e C vincularam-se

15/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

com a assinatura, em Janeiro de 2016, mas D informou que a sua vinculação apenas decorreria da aprovação
subsequente.
Em Março de 2016 E solicita a adesão para o que obteve o imediato assentimento de A, B e C. O PM de D, numa
entrevista televisiva, declarou publicamente a sua oposição.
Em Abril de 2016 D enviou ao depositário o instrumento relativo à sua vinculação.
Em Agosto do mesmo ano ocorre um incêndio em B, o qual solicita a disponibilização dos meios aos demais
Estados.
A informa que não poderá disponibilizar quaisquer meios pois quase todos haviam ficado destruídos num
incêndio ocorrido na base aérea em que se encontravam, sobrando apenas dois meios necessários para ocorrências
urgentes. C receando que o surto de incêndios pudesse chegar ao seu território não enviou quaisquer meios. D
constatou que, face àquela situação, considerava que a convenção não respondia a qualquer necessidade pelo que
declarou unilateralmente a sua desvinculação.

K
[2.º teste TA – 2017.12.15]
Suponha que
Os Estados A, B, C e D negociaram e assinaram em Janeiro de 2005 uma convenção de cooperação económica
que criava uma Zona de Comércio Livre.
Em Julho de 2005 E solicitou a adesão indicando, todavia que, no seu entender, a convenção não impunha
qualquer obrigação em matéria fiscal, condicionando a sua vinculação à aceitação dessa interpretação pelos demais
Estados.
A, B e C imediatamente aceitaram esse entendimento, mas D opôs-se.
E, reagindo à oposição de D revelou ter conhecimento que um protocolo da convenção admitia violações de
direitos fundamentais o que tornava a convenção inválida ipso iure. Face a tais revelações os Estados A, B, C e D
emitiram uma declaração conjunta recordando que a convenção apenas a estes dizia respeito e que, a haver qualquer
irregularidade nos seus termos, ela seria prontamente corrigida, se necessário através da expurgação do protocolo
em causa.
1. Analise a situação descrita (10 valores).
2. Explique qual seria a intervenção do governo português se o nosso país se tivesse vinculado à
mesma (6 valores).
3. Verificando-se algum vício, isso autorizaria um Estado membro a exigir a devolução das
contribuições por si efectuadas no quadro convencional? (4 valores)

L
[2.º teste TB – 2017.12.12]
Suponha que
Em 2015, seis Estados (A a F) concluem uma convenção em matéria militar que prevê a sua entrada em vigor
com o depósito do instrumento de vinculação do quinto Estado. Ainda em 2015 A, B, C e D efectuam esse depósito.
Em Janeiro de 2016 E deposita o mesmo instrumento formulando uma reserva. A, B e C aceitam-na imediatamente.
D não se pronuncia. Em Setembro de 2016 F vincula-se. Em Fevereiro de 2017 G solicita a adesão. Todos os Estado a
aceitam, com excepção de E, que se opõe.
1. Confira a situação da convenção em Março de 2017, face a todas as ocorrências (7 valores).
2. Explique qual seria a intervenção do PR no processo de vinculação de Portugal a essa convenção (6
valores).
3. Se, em Abril de 2017 se verificasse que o representante de B havia sido subornado por um funcionário
de G, poderia C considerar a convenção inválida e retirar-se dela imediatamente? (7 valores)

M
[2.º teste TC – 2017.11.24]
Suponha que
Os MNE de Portugal e dos Estados A, B e C concluíram em 2009 uma convenção que criava uma organização
internacional de apoio humanitário a refugiados. Logo após a entrada em vigor da convenção a imprensa noticiou que
os representantes de Portugal, A e B haviam sido convidados por C durante as negociações e pressionados a aceitar
um nível de financiamento reduzido deste Estado, recebendo ofertas manifestamente excessivas.
Face a este enquadramento responda às seguintes questões:
Qual seria a intervenção do PR português no processo de vinculação? (8 valores)
16/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

Poderia o novo governo de C após lamentar publicamente o sucedido exigir o fim da convenção dadas as
ocorrências referidas? (6 valores)
Se os Estados A e B preferissem manter em vigor a convenção poderiam impor essa solução a C e a Portugal?
(6 valores)

N.1
[2.º teste TD – 2019.12.06]
Em Janeiro de 2015 os Estados A, B, C e D celebraram entre si uma convenção que criava um imposto comum
cujas receitas seriam orientadas para o financiamento de projectos ambientais.
No texto da convenção estipulava-se que a mesma entrava em vigor com o depósito do terceiro documento
de ratificação.
C efectuou esse depósito em Março de 2015, A e B um mês depois. Mas este último juntou uma declaração,
nos termos da qual estabelecia um limite máximo às suas contribuições financeiras. A e D aceitaram imediatamente,
mas C não se pronunciou.
Em Abril de 2015 E solicita a adesão que foi mediatamente aceite por A e B.
Face a estas circunstâncias. explique:
1. Quem são as partes na convenção, em Maio de 2016 (assumindo que nada mais se passou,
entretanto)? (10 valores)
2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção, qual seria a intervenção do PR? (10 valores)

N.2
[2.º teste TA – 2019.12.09]
Por iniciativa da Assembleia Geral das Nações Unidas foi convocada uma conferência intergovernamental que
concluiu em 15 de Janeiro de 2015 uma convenção em matéria de protecção de espécies florestais ameaçadas. A
convenção ficou aberta para assinatura durante 90 dias. Em 1 de Março do mesmo ano o Estado A assinou, mas
informou, desde logo, que excluía do elenco das espécies protegidas um tipo arbóreo (X), muito abundante no seu
território e cuja madeira era objecto de exportação em massa, gerando receitas muito significativas.
Dois Estados vizinhos que haviam negociado a convenção declararam imediatamente que aceitavam essa
limitação sendo que alguns outros se opuseram e a maioria não se pronunciou.
Em 30 de Junho A depositou o instrumento de ratificação da convenção, a qual entrou em vigor em 15 de
Agosto.
Em 1 de Setembro B – parte na convenção – protestou pelo facto de A ignorar a protecção da espécie X em
violação da convenção. A lembrou a B ter formulado uma reserva que excluía tal obrigação.
Face a estas circunstâncias, explique:
1. Estaria A obrigado, na data em questão, a proteger a espécie X? (8 valores)
2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção:
a. Como de deveria resolver uma inconstitucionalidade pontual na mesma convenção detectada pelo
Tribunal Constitucional em sede de fiscalização preventiva? (4 valores)
b. Qual seria a intervenção do PR? (8 valores)

N.3
[2.º teste TB – 2019.12.09]
Os Estados A, B, C e D concluíram uma convenção que regulava o uso, nos respectivos territórios, de moedas
digitais.
Aquando do depósito do instrumento de vinculação, em Janeiro de 2016, o Estado B juntou uma declaração
nos termos da qual considerava que a referida convenção não de aplicava a eventuais unidades de conta
eventualmente usadas pela administração tributária para efeitos orçamentais (sendo que essa situação ocorria em A
e B). B informava ainda os demais Estados que considerava a questão tão relevante que condicionava a sua vinculação
ao reconhecimento desse âmbito de aplicação.
A e C declararam imediatamente ser esse o seu entendimento dos termos convencionais, mas D, envolvido em
complexos processos eleitorais não se pronunciou.
Face a estas circunstâncias, explique:
1. Estaria B obrigado pela convenção em Março de 2016? (10 valores)
2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção, qual seria a intervenção do Governo no processo? (10 valores)

N.4
17/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

[2.º teste TC – 2019.12.11]


Os Estados A, B, C, D e E assinaram uma convenção em Abril de 2014, tendo em vista estabelecer diversos
mecanismos de cooperação académica. Na convenção estabelecia-se que a vinculação à mesma decorria da
assinatura.
Em Maio de 2014, F solicitou ao depositário que fosse admitida a sua assinatura diferida.
No mesmo mês, B formulou uma reserva no sentido de fixar limites às suas contribuições em alguns dos
programas criados na convenção.
Neste enquadramento responda às seguintes questões:
1. Como deve reagir o depositário ao pedido de F? (4 valores)
2. A reserva de B afectou a sua vinculação? Justifique (8 valores)
3. Qual seria a intervenção do governo se Portugal se vinculasse a esta convenção? (8 valores

Z.1
[Frequência/Exame – 2018.01.22]
I
Suponha que
Os Estados A, B, C, D e E assinaram em 31 de Janeiro de 2012 uma convenção que codificava e completava o
regime consuetudinário relativo ao rio X que atravessava o território de todos eles.
A convenção determinava a sua entrava em vigor com o depósito do instrumento de ratificação do quarto
Estado, mas previa a aplicação imediata das partes III e IV (relativas ao controlo do cumprimento e à resolução de
conflitos).
Em Março de 2012 B deposita o seu instrumento de ratificação e imediatamente solicita que sejam controladas
as descargas de poluentes efectuadas por D.
D recusa que esse controlo seja efectuado alegando que ainda não estava vinculado à convenção. Acrescenta
que, por outro lado, a sua ordem jurídica assumidamente dualista não reconhecia a vigência do direito internacional.
A protesta contra a posição de D recordando a expressa previsão da aplicação imediata das regras
convencionais relativas ao controlo do cumprimento e chamando ainda à atenção para o facto de o regime relativo às
descargas poluentes ser mera codificação do costume existente na matéria.
Qvid jvris? [10 valores]
II
Os Estados F, G e H celebraram uma convenção que criava uma força comum de patrulhamento das fronteiras
terrestres e marítimas.
Já depois da entrada em vigor da convenção, F e G tomam conhecimento de que a fórmula de cálculo aplicável
à repartição das despesas – e que tinha sido apresentada por H – assentava em pressupostos incorrectos e prejudicava
substancialmente ambos os Estados.
Face a este circunstancialismo, responda directa mas fundamentadamente a cada uma das seguintes questões:
a) Pronuncie-se quanto à validade da convenção; [3 valores]
b) Explique se G ao tomar conhecimento da situação poderia considerar-se imediatamente desvinculado e
exigir a devolução das contribuições por si efectuadas; [3 valores]
c) Indique qual seria a intervenção do Presidente da República no processo de vinculação se o Estado
português se vinculasse a esta convenção. [4 valores]

Z.2
[Frequência 2020.01.28]
Suponha que os Estados A, B, C, D e E celebraram entre si uma convenção de codificação das regras de costume
local relativas ao acesso e utilização das águas de um lago que banhavam o território de todos eles, nela fixando a
aplicação imediata.
Ainda antes de a convenção entrar em vigor E recusou o acesso de embarcações dos demais Estados às águas
contíguas ao seu território, contrariando o disposto na convenção que garantia o livre acesso. Perante o protesto dos
demais Estados, E reagiu lembrando que (a) quaisquer regras consuetudinárias existentes lhe não seriam aplicáveis
dado que não participara na sua criação (E acedera recentemente à independência) e a (b) sua constituição não
reconhecia o costume. Lembrou ainda que (c) não estando a convenção em vigor, dela não resultava qualquer
obrigação.
1. Aprecie a posição de E. (8 valores)
Suponha também que, aquando do depósito do instrumento de vinculação, o Estado D apresentou uma
declaração nos termos da qual se reservava ao direito de impor quaisquer limitações necessárias à preservação do
18/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

ambiente. A e B aceitaram, E não se pronunciou e C opôs-se, por considerar que isso daria origem a uma limitação ao
livre acesso e utilização das águas, garantido consuetudinariamente, pelo que não podia surgir por via convencional.
2. Aprecie a posição de C e explique que consequências teria a mesma para a convenção. (4 valores)
3. Explique qual seria a intervenção do Presidente da República num eventual processo de vinculação de
Portugal a esta convenção. (4 valores)
Suponha finalmente que o Governo de A toma conhecimento de que tinha sido garantido ao representante de
E que, caso este assinasse a convenção, as autoridades de B arquivariam uma investigação criminal contra um filho
seu e asseguravam o acesso de outro filho a uma prestigiada universidade. Considera, por isso, nula a convenção, e
pretende a imediata devolução de todas as contribuições efectuadas por si.
4. Aprecie a posição de A. (4 valores)
Z.3
[Frequência RI 2020.01.28]
Suponha que os Estados A, B, C, D e E celebraram entre si uma convenção que actualizava e desenvolvia as
regras de costume local relativas ao acesso e utilização das águas de um rio que atravessava o território de todos eles.
Ainda antes de a convenção entrar em vigor E recusou o direito de peca a embarcações dos demais Estados
nas águas do rio que atravessavam o seu território, contrariando o disposto na no costume e na convenção. Perante
o protesto dos demais Estados, E reagiu lembrando que as regras consuetudinárias haviam sido substituídas pelas
convencionais e que a estas ainda não estava obrigado. Recordava ainda que a sua constituição assumira uma postura
dualista pelo que apenas se obrigava por actos internos.
1. Aprecie a posição de E. (8 valores)
Suponha também que, aquando do depósito do instrumento de vinculação, o Estado D apresentou uma
declaração nos termos declarava entender que os termos convencionais apenas alargavam os direitos reconhecidos
pelas regras consuetudinárias. E fazia depender a sua vinculação à aceitação pelos demais Estados desse
entendimento. A e B aceitaram, E não se pronunciou e C opôs-se.
2. Explique que consequências que a oposição de C teria a mesma para a convenção. (4 valores)
3. Explique qual seria a intervenção do Presidente da República num eventual processo de vinculação de
Portugal a esta convenção. (4 valores)
Suponha finalmente que o Governo de A toma conhecimento de que o representante de E havia formada a sua
posição enganado por um relatório elaborado pelas autoridades de F. Considera, por isso, nula a convenção, e
pretende a imediata devolução de todas as contribuições efectuadas por si.
4. Aprecie a posição de A. (4 valores)

Z.4
[Exame de recurso 2020.07.09]
Suponha que em Março do corrente ano a AG das Nações Unidas tinha aprovado (com dois votos contra – da
China e dos EUA – e 12 abstenções) uma declaração solene que impunha o acesso universal a qualquer vacina contra
vírus pandémicos (nomeadamente o COVID-19) que viesse a ser descoberta e comercializada.
Na sequência dessa declaração foi, entretanto, celebrada uma convenção que estabelecia um regime geral de
acesso a vacinas em caso de pandemia.
O texto da convenção – que referia expressamente que esta codificava o costume formado a partir da
Declaração da AGNU – foi assinado por 128 Estados e estabelecia que a vinculação decorria da ratificação e que a
entrada em vigor da mesma ocorreria no primeiro do segundo mês subsequente ao depósito do 35.º instrumento de
vinculação.
Entretanto é descoberta nos EUA uma vacina contra o COVID-19. A China imediatamente solicita a
disponibilização da mesma, invocando o costume ao qual os EUA estariam obrigados por terem negociado e assinado
a convenção. A administração americana informa estar a ponderar em que termos permitirá o acesso da China à
vacina, insistindo, no entanto, não estar vinculada a qualquer costume (recordando que tinha votado contra a
declaração que deu origem à suposta regra consuetudinária e insistindo que não se havia vinculado à convenção, pelo
que nenhuma obrigação dali decorria).
Neste enquadramento explique:
1. Estarão os EUA obrigados a disponibilizar a vacina à China? (8 valores)
Suponha ainda que, em 8 de Julho de 2020, estando 34 Estados vinculados à convenção, o Estado A deposita
junto do secretário geral das NU o instrumento de ratificação o qual inclui uma declaração no sentido de fazer
depender a obrigação de disponibilização de qualquer vacina de uma justa remuneração dos custos de investigação e
produção. B opõe-se, logo em 9 de Julho – por considerar inadmissível fazer depender de remuneração o acesso a

19/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

cuidados médicos urgentes – mas C, velho aliado de A, aceita a declaração deste, na mesma data. Em 15 de Julho D
deposita o instrumento de vinculação. (Assuma que A, B, C e D assinaram a convenção).
2. Quando ocorre a entrada em vigor da convenção? (4 valores)
3. Qual seria a intervenção do Presidente da República na vinculação do Estado português a esta convenção?
(4 valores)
4. Se, meses mais tarde, D viesse a declarar que o processo interno relativo à sua vinculação havia sido
conduzido por um governo de gestão que não tinha poderes para vincular o Estado, poderia considerar-se
ipso jure desobrigado da convenção? (4 valores)

Z.5
[Exame especial 2020.07.21]
Suponha que em Janeiro de 2015 os Estados A, B, C, D e E estabeleceram um memorando de entendimento
tendo em vista a imediata prestação de apoio consular aos respectivos cidadãos nas cidades em que o país não
dispusesse de posto consular.
Em 2016, na sequência de um atrito entre os Estados A e B, este suspende a assistência consular aos cidadãos
daquele. O governo de A protestou lembrando o acordo estabelecido, ao que B retorquiu lembrando que se tratava
de mero memorando de entendimento, sem carácter vinculativo e que, em qualquer caso, o seu regime interno
impunha a transformação de qualquer convenção para que vigorasse na ordem interna, o que manifestamente não
havia ocorrido.
1. Neste enquadramento, explique se A estava ou não obrigado a prestar assistência consular aos cidadãos de
B.
[Assumindo a natureza vinculativa do acordo] Suponha ainda que, Março de 2015, F solicitou a assinatura
diferida do acordo e três meses depois G depositou um pedido de adesão. A, B e C não se pronunciaram, mas D e E,
numa declaração conjunta, recusaram ambos os pedidos, por não estarem contemplados no acordo.
Neste enquadramento explique
2. Qual o destino ou efeito dos pedidos de F e G?
3. Qual seria a intervenção do governo caso Portugal se tivesse vinculado ao acordo em causa?
Suponha ainda que, no quadro da actual crise pandémica, os serviços consulares de D eram assoberbados por
pedidos de apoio de cidadãos e empresas dos outros Estados, o que levou a autoridades daquele a declarar não poder
manter o apoio consular nos termos acordados, motivando protestos dos demais Estados.
4. Aprecie a posição de D face ao direito aplicável.

Z.6
[Frequência – 2021.06.22]
Suponha o seguinte enquadramento factual hipotético.
A AG das NU aprovou em 10 de Setembro de 2016 o texto de uma convenção-quadro sobre a determinação
das fronteiras que lhe foi proposta pela CDI e submeteu-a à assinatura dos EM que entendessem fazê-lo, no prazo de
uma semana, seguindo-se os demais trâmites de vinculação.
No texto da convenção determinava-se que esta entraria em vigor o primeiro dia do mês seguinte ao depósito
do 35.º instrumento de vinculação. Estipulava ainda que a adesão poderia ocorrer, após a entrada em vigor, através
do depósito do respectivo pedido, junto do SG.
Em 15 de Outubro, 35 Estados haviam depositado o respectivo instrumento de vinculação, mas 2 deles haviam
formulado reservas. Em 2 Novembro, 5 EM haviam aceitado as reservas, 2 tinham objectado as mesmas e os demais
não se haviam pronunciado.
Neste enquadramento responda às questões seguintes:
1. Se o dispositivo da convenção contrariasse uma regra consuetudinária formada entre Estados africanos,
aqueles que a ela (à convenção) se vinculassem deveriam aplicar nas suas relações mútuas a regra consuetudinária
ou a regra convencional? Justifique.
2. Em 5 de Dezembro, o Estado A depositou junto do SG o pedido de adesão. Deve este aceitá-lo? Justifique.
3. Poderia o PR impedir a vinculação do Estado português a esta convenção, contrariando a vontade expressa
do Governo e da Assembleia da República?
Suponha ainda que, em 1 de Janeiro de 2017, o novo governo de A (Estado que se contava entre os 35 que
haviam depositado em 15 de Outubro o respectivo instrumento de vinculação) toma conhecimento de que o
representante de B (Estado que se incluía nesse mesmo grupo) havia assinado a convenção no convencimento
indevido de que esta salvaguardaria algumas pretensões territoriais do seu Estado e que a vinculação tinha assentado
nesse pressuposto.
20/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

4. Explique se esse facto permitiria a A considerar o tratado inválido exigindo ser ressarcido pelas despesas
tidas.
Suponha, finalmente que o Estado C – parte da convenção em questão – que durante décadas tinha uma
disputa fronteiriça com D (também parte), vinha exigir a aplicação de uma regra subsidiária constante na dita
convenção no âmbito da dita disputa. D considerou, todavia, que a disputa havia sido ultrapassada a partir do
momento em que, o governo anterior de C havia reconhecido publicamente e repetidas vezes as fronteiras
estabelecidas de facto com sendo adequadas e definitivas.
5. Analise a situação e explique se efectivamente há lugar á aplicação das normas convencionais (tal como
pretende C) ou se a situação está resolvida (tal como pretende D).

Z.7
[Exame de recurso – 2021.07.22]
Suponha que
Os representantes dos Estados A, B, C e D assinaram em 20 de Fevereiro de 2016 uma convenção que codificava
e desenvolvia o regime consuetudinário relativo a uma cordilheira de montanhas que separava aqueles países,
especificamente em relação ao atravessamento das mesmas e ainda ao uso comum das pastagens dos vales de
montanha. O texto da convenção estipulava que esta entraria em vigor assim que três Estados de vinculassem.
B, C e D depositaram os respectivos instrumentos de ratificação simultaneamente, em 15 de Junho de 2016
tendo este último juntado uma declaração na qual esclarecia que, em relação ao rio X, que corria nas montanhas em
questão e em alguns troços fazia fronteira entre os Estados signatários, era seu entendimento que a dita convenção
em nada afectava as práticas que vinham sendo seguidas. Condicionava a sua vinculação à aceitação pelas outras
partes desse entendimento.
B e C declararam imediatamente terem o mesmo entendimento, pelo que nada tinham a opor à posição
expressa por D.
A, que apenas depositou o instrumento de ratificação em 1 de Agosto de 2016, não se pronunciou.
Face ao circunstancialismo descrito, responda às seguintes questões (4 valores cada).
1. Estariam A e B obrigados a cumprir o regime convencional em 1 de Julho de 2016? Justifique.
2. C e D são partes da convenção? Se sim, desde quando?
3. Qual seria a intervenção do Presidente da República no processo de vinculação do Estado português a
esta convenção?
4. Explique se em 25 de Maio de 2016 B tinha já algum tipo de obrigação decorrente do tratado em causa.
Suponha ainda que em 1 de Janeiro de 2018 o novo governo de A toma conhecimento de que o Governo de C
- que havia depositado o instrumento de vinculação – não tinha cumprido todas as exigências de direito interno
relativas à vinculação.
5. Explique se esse facto permitiria a A considerar o tratado inválido exigindo ser ressarcido pelas despesas
tidas.

Z.8
[Frequência – 2022.01.11]
1. Dê um exemplo do que seria uma norma constitucional que consagrasse um regime dualista e
simultaneamente regulasse a vigência do direito internacional convencional na ordem interna nesses
termos (4 valores).

Suponha que
Os Estados A, B, C, D e E assinaram em 15 de Julho de 2016 uma convenção que estabelecia um protocolo de
troca de informações para efeitos de imigração.
Nas cláusulas finais, a convenção estipulava:
- a indicação da A como depositário;
- a entrada em vigor da convenção assim que quatro Estados se vinculassem;
- a admissão da adesão, após a entrada em vigor, a qualquer Estado daquela região que apresentasse o
respectivo pedido.
Os Estados A, B e C depositaram o respectivo instrumento de ratificação ao longo do mês de Agosto de 2016.
Em 2 de Setembro seguinte, o Estado D efectuou esse depósito acompanhado de uma declaração, nos termos da qual
se considerava dispensado das obrigações de troca de informações sempre que essa troca pudesse colocar em risco
operações policiais.
Em 3 de Outubro (de 2016) os Estados F e G depositaram junto de A o respectivo pedido de adesão.
21/23 - RM - 2022.11.18 17:57
Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

Nenhum dos Estados se pronunciou sobre essa declaração ou o pedido de adesão.


2. Nestas circunstâncias explique se e quando ocorreu a adesão de F e G (4 valores).
3. Explique como deveria reagir A se o Estado H pretendesse efectuar a assinatura diferida (informando ainda
que, nos termos da sua ordem interna, desse acto resultaria a vinculação)? (4 valores)
4. Assumindo que Portugal se vinculara à convenção em questão, explique se o facto de o PR ter assinado a
Resolução da Assembleia que aprovara a mesma poderia constituir um vício susceptível de invalidar essa
vinculação (4 valores).
Suponha ainda que na referida convenção constava uma norma com o seguinte teor: As informações relativas
a indivíduos de étnica cigana ou de religião muçulmana devem indicar especificamente essa circunstância e adiantar
todos os elementos disponíveis de identificação (ADN, impressões digitais, sinais particulares, etc.) para efeito de
imediata actualização dos ficheiros de polícia.
Neste enquadramento – já na vigência da convenção - o novo governo de B comunica aos demais que considera
essa regra intrinsecamente inválida e entende, por isso, que deve considerar-se como inexistente.
5. Comente esta posição, face ao direito aplicável (4 valores).

Z.9
[Exame de recurso – 2022.07.04]
I
Suponha que os Estados A, B, e C celebraram uma convenção em matéria de preservação dos recursos
marinhos a qual, entre outras medidas, proíbe totalmente a pesca durante os dois primeiros anos de execução. A
convenção estabelecia também que a vinculação decorreria da ratificação.
Neste enquadramento responda às seguintes questões:
a) Podia (se esse fosse o interesse manifestado pelos Estados signatários) a convenção aplicar-se logo desde
a assinatura, enquanto decorria o processo de vinculação dos Estados?
b) Que efeitos teria a declaração do Estado C condicionando a sua vinculação à manutenção na sua costa da
pesca artesanal?
c) Se o Estado D solicitasse a adesão à convenção, em que condições poderia a mesma verificar-se?
II
Imagine que trabalha no Ministério dos Negócios Estrangeiros e que do Ministério da Defesa, surgiu uma
proposta no sentido de o Estado português participar na negociação de uma convenção em matéria de segurança no
Mediterrâneo.
Neste enquadramento são-lhe colocadas as seguintes questões às quais deve responder sucinta, mas
fundamentadamente:
a) A negociação deve ser conduzida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros ou pelo Ministério da Defesa?
b) Esta convenção teria de ser um tratado solene ou poderia ser um acordo em forma simplificada?
c) A quem competia aprová-la?
d) Qual a intervenção do Presidente da República no processo?
III
Suponha que os Estados D, E e F celebraram uma convenção em matéria de ajuda económica mútua e que
durante a negociação o representante do Estado D exigiu ao representante de F que lhe fosse assegurado um lugar
na administração da empresa estatal de produção e fornecimento de electricidade, como condição da vinculação de
D.
Nestas circunstâncias, responda às seguintes questões, justificando as suas respostas:
a) Que consequências para a convenção teria tido o facto de F ter acedido à exigência do representante de
D?
b) Podia E, ao tomar conhecimento da situação, pôr em causa a validade da convenção?
c) Invocada a nulidade da convenção, podia D exigir a devolução das verbas por si disponibilizadas num
programa de ajuda entretanto lançado para apoiar populações em dificuldades em E?

Z.10
[Frequência 2003.01.28]

Os Estados A, B e C celebraram uma convenção que garantia a livre circulação de pessoas entre os respectivos
Estados, abolindo assim os controlos aduaneiros.

22/23 - RM - 2022.11.18 17:57


Direito Internacional Público 2022/2023
Hipóteses práticas - recolha

Dois anos mais tarde, os Estados C, D e E celebraram uma convenção relativa à luta contra o terrorismo, na
qual todos se obrigavam a registar e lançar numa base de dados comum, todos os movimentos dos cidadãos não
nacionais.
Os Estados A e B ao tomarem conhecimento da nova convenção, protestaram junto de C alegando que o
cumprimento por este do acordado na segunda convenção, implicaria a introdução de um obstáculo à liberdade de
circulação de pessoas, já que impunha o controlo de todos os movimentos. Como não obtivessem de C uma resposta
satisfatória, decidiram pôr fim à convenção no tocante a este Estado.
Qvid jvris?

Suponha que o governo português celebrou com a Autoridade Palestiniana um acordo em matéria cultural, nos
termos do qual se estabelecia um programa de bolsas de estudo e de investigação.
O acordo veio a assumir uma projecção pública muito grande até que dois dos projectos de investigação
incidiram sobre dirigentes do Hamas e do Herzbolah. O governo israelita, agastado com a situação invocou a nulidade
da mesma com fundamento em erro.
a) Explique quem (em Portugal) tinha autoridade para aprovar a convenção e qual a intervenção do PR no
processo;
b) Analise da competência da Autoridade Palestiniana para celebrar a convenção;
c) Supondo que a Autoridade Palestiniana não tinha competência para celebrar a convenção, que tipo de vício
decorreria daí?
d) Tinha o governo israelita legitimidade para invocar o erro?
e) (Pressupondo a incapacidade palestiniana e o erro) poderiam as autoridades portuguesas reclamar a
devolução de todas as somas gastas nas bolsas, caso existisse uma nulidade na convenção? Justifique.

Z.11
[Frequência 2003.02.08]
Em 1995 o Estado A, a braços com uma guerra civil, solicitou apoio de urgência aos Estados B, C e D, nos termos
previstos de uma convenção de assistência económica mútua, celebrada entre todos, em 1990.
O Estado B alegou ser-lhe impossível prestar o apoio solicitado na medida em que a crise económica
internacional enfraquecera extraordinariamente a sua própria economia, pelo que qualquer medida de apoio externo
poderia colocar em risco os esforços de recuperação económica que estavam a ser desenvolvidos.
O Estado C lembrou ser o principal destinatário dos refugiados de A que fugiam à guerra civil em A e que essa
situação importava desde logo um esforço incomportável para a sua frágil economia.
O Estado D informou que face à recusa dos restantes Estados em assumirem as suas obrigações, não estava
disposto a arcar sozinho com o peso da ajuda de urgência, pelo que decidiu praticar o recesso do mesmo.
Qvid ivris?

Os Estados E, F e G celebraram em 1998 uma convenção de ajuda humanitária, nos termos da qual se criou um
uma organização internacional capaz de coordenar os esforços de todos nessa matéria. Em 1999 o Estado H solicitou
a adesão à convenção. Em 2000 a região foi assolada pelas mais graves cheias fluviais do século e o Estado J solicitou
ajuda à dita organização, já que a convenção previa que a mesma deveria ser prestada a qualquer Estado necessitado,
em especial da região. F – que tinha com J desde o século XIX, uma acesa disputa fronteiriça - opôs-se à prestação
dessa ajuda, considerando ser nula a disposição convencional invocada na medida em que pretendesse produzir
efeitos para terceiros Estados.
a) Se Portugal tivesse celebrado a dita convenção, quem teria autoridade para a aprovar e qual a intervenção
do PR no processo?
b) Supondo que a convenção fosse omissa na matéria, ter-se-ia processado a adesão de H?
c) Face à oposição de F, deveria ou não a ajuda ser prestada a H?

23/23 - RM - 2022.11.18 17:57

Você também pode gostar