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deste), Brasília (Centro-Oeste), O movimento de slam nasceu

EMERSON ALCADE (ORG.)


São Paulo (Sudeste) e Porto na década de 1980, em Chi-
Alegre (Sul). cago e vem crescendo pelo
mundo, incentivando a ex-
Em 18 de maio de 2018, em
pressão e a emancipação por
São Paulo (SP), a grande final Os slams são campeonatos de poesia meio da arte, ocupando os
do Slam Nacional em Dupla de autoria própria, sem adereços espaços públicos das cidades.
– Brasil que o Povo Quer. ou acompanhamento musical.
Após uma disputa acirrada, Com texto escrito previamente Há poucos anos no Brasil, já

BRASIL QUE O POVO QUER


com direito a rodada desem- ou improvisado, não há regras possui dezenas de iniciativas
pate, venceu a dupla gaúcha espalhadas pelo país, em di-
sobre o formato da poesia.
formada pelos poetas Deds e versos formatos e locais. As
O júri é escolhido na hora e dá notas
Agnes com G mudo. competições possuem um
inteiras ou fracionadas de 0 a 10.
caráter comunitário e inclusi-
Conforme nos diz Emerson Al- Entre todos os competidores, vo, com grande impacto no
calde, coordenador executivo a maior nota vence.

Slam
público jovem e periférico,
do projeto e organizador do
tratando em sua maioria de
livro, “o Slam Nacional em Du-
conteúdos urbanos como a

Slam Nacional em Dupla


pla trouxe, além do ineditismo

Nacional
desigualdade social, racismo,
da linguagem, um novo fôle-
violência policial, homofobia,
go para a cena, endossando
machismo, intolerância reli-
ainda mais o caráter político e

em Dupla
giosa, entre outros.
social do slam”.
Este livro traz o resultado fi-
Boa leitura!
nal nacional e todas as eta-
pas estaduais desta iniciativa
da Fundação Perseu Abramo
BRASIL QUE O POVO QUER (FPA), por intermédio de seus
projetos Brasil que o Povo Quer
EMERSON ALCALDE (ORG.) e Reconexão Periferias. O even-
to contou com poetas repre-
sentantes das regiões do país,
com etapas em Rio Branco
(Norte), Salvador e Recife (Nor-
BRASIL QUE O POVO QUER

EMERSON ALCALDE (ORG.)

SÃO PAULO, 2018


FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO
Instituída pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
em maio de 1996.

DIRETORIA
Presidente: Marcio Pochmann (licenciado)
Diretoras: Isabel dos Anjos e Rosana Ramos
Diretores: Artur Henrique e Joaquim Soriano

EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO


Coordenação editorial: Rogério Chaves
Assistente editorial: Raquel Maria da Costa

Projeto gráfico e diagramação


Caco Bisol Produção Gráfica Ltda.
Fotos
Sérgio Silva, Fundação Perseu Abramo; Arquivo Fundação Perseu Abramo
Foto de capa
Deds e Agnes com G mudo, presentes na final em São Paulo.

Fundação Perseu Abramo


Rua Francisco Cruz, 234 Vila Mariana
04117-091 São Paulo – SP
www.fpabramo.org.br
f: 11 5571 4299

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S631 Slam Nacional em Dupla : Brasil que o povo quer / Emerson Alcalde
(org.). – São Paulo : Fundação Perseu Abramo, 2018.
132p. ; 21 cm.

ISBN 978-85-5708-123-9

` 1. Poesia brasileira. 2. Campeonatos de poesia falada - Brasil.


I. Alcalde, Emerson.

CDU 869.0(81)-1
CDD B869.1
(Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507)
4 FICHA TÉCNICA

5 INTRODUÇÃO

9 ETAPA SUDESTE I

23 ETAPA SUDESTE II

39 ETAPA NORDESTE I

53 ETAPA CENTRO-OESTE

67 ETAPA NORTE

79 ETAPA SUL

97 ETAPA NORDESTE II

111 RELATO DA DUPLA VENCEDORA

123 O ACRE (R)EXISTE COM POESIA


EMERSON ALCADE

125 SOBRE OS AUTORES

129 ORGANIZADORES
SLAM NACIONAL EM DUPLA
Ficha técnica

Emerson Alcalde e Slam da Guilhermina


Coordenador geral e coordenador da etapa Sudeste

Cristina Assunção
Coordenadora da etapa Sul

Mariana Félix
Coordenadora da etapa Centro-Oeste

Patrícia Meira
Coordenadora da etapa Nordeste

Roberta Estrela D’Alva


Coordenadora da etapa Norte

Shaina Souza e Slam Peleia


Coordenadores da etapa Sul

Meimei Bastos e Slam Q’brada


Coordenadores da etapa Centro-Oeste

Evanilson Alves e Sarau da Onça


Coordenadores da etapa Nordeste

Cláudio Junior e Slam Acre


Coordenadores da etapa Norte

Tagore e Slam das Minas PE


Coordenadores da etapa Nordeste 2
5

A ideia da realização do SLAM NACIONAL EM DUPLA pela


Fundação Perseu Abramo (FPA) surgiu em ouztubro de 2017,
durante discussão da resolução Congressual do Partido dos
Trabalhadores (PT), que tinha o intuito de realizar o encontro
nacional das pautas políticas das periferias. No lugar deste
encontro, optou-se por construir uma ampla agenda anual de
várias atividades, debates, pesquisas, artigos e entrevistas entre
as quais a primeira delas foi a realização de um slam a nível
nacional, em parceria com o projeto Brasil Que o Povo Quer.
Com a intenção de reaproximar o Partido dos
Trabalhadores (PT) com a periferia por meio do projeto que
ganharia o nome inicial de Iniciativas Periferias e depois se
tornou Reconexões Periferias, foi proposto a inovação de trazer
ao centro do debate as novas expressões periféricas, e o slam
foi a modalidade escolhida.
Um dos parceiros do projeto e membro do grupo
consultivo, Claudinho da Silva, se responsabilizou em orientar
a melhor forma de apresentá-lo junto ao conjunto do PT
e da FPA, assim como aproveitou uma audiência sua com o
6

presidente Lula para mostrar os vídeos dos poetas slammers,


que até então desconhecia essa expressão artística.
Eu, enquanto integrante orgânico deste movimento
desde sua chegada ao Brasil há dez anos, e militante de
movimentos sociais na zona leste paulistana, fiquei incumbido
de tocar esse projeto na prática. Avaliei a proposta e consultei
algumas lideranças do slam de São Paulo e de outros estados,
pois o projeto não poderia ser panfletário e restrito somente
aos militantes exclusivos, aos interesses de um ou mais
partidos e, sim, deveria estar próximo da juventude periférica --
aquela que se posiciona contra o golpe, porém descrente dos
partidos políticos tradicionais --, ela teria que ter autonomia e
protagonismo no evento. No primeiro Seminário Nacional do
então Iniciativa Periferias, na Fundação Perseu Abramo (FPA),
Claudinho e eu fizemos a defesa da proposta, me apresentando
como uma pessoa que poderia fazer essa articulação nacional
com as periferias. A proposta foi aceita pelo grupo e a partir daí
esboçamos o projeto.
Entramos em contato com organizadores de cada
região do país, Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste, Norte e Sul,
apresentamos os eixos temáticos da plataforma Brasil Que o
Povo Quer, para que os poetas criassem textos respondendo
essas e outras questões pertinentes ao universo das periferias
da atualidade, e o resultado tornou-se uma contribuição
valorosa para um projeto nacional de resistência contra o
golpe e, principalmente, ao avanço do fascismo no Brasil.
Agradeço a todos os poetas do país que acreditaram e
deram sua contribuição poética e, também aos coordenadores
7

locais que fizeram a divulgação e a produção local, assim


como as coordenadoras regionais que me acompanharam
nesta jornada e a toda equipe técnica. Em todas as edições
contamos com acessibilidade em libras e transmissão ao vivo
por meio das redes sociais.
Contamos, na equipe, com uma das lideranças femininas
de maior destaque desta cena: Roberta Estrela D’Alva, a
pessoa que trouxe o slam ao Brasil; Mariana Félix, uma das
mais acessadas na internet; Patrícia Meira, uma das grandes
revelações; e Cristina Assunção, à frente de um dos mais
tradicionais slams de rua do país. Nos locais, nos articulamos
com fortes organizações, em Salvador, com o Sarau da Onça,
um dos coletivos negros mais atuantes da Bahia; em Brasília,
com o Slam Q’brada, foi lá que começou a história de Slam
das Minas e na qual a coordenadora Meimei Bastos fez parte
da organização inicial. No Acre, nós fizemos a parceria com o
Slam Acre, coordenado por Cláudio Júnior, um militante da
Juventude do PT que conseguiu fazer uma articulação com
vários coletivos e governo, foi a maior edição do evento. Já
no Sul, a parceria se deu com o Slam Peleia, o primeiro slam
do Sul, coordenado por quatro mulheres em um slam misto
e potente. Para a última edição de seletiva convidei a poeta e
atual vencedora do Slam BR, a pernambucana Bell Puã – que
estava na França participando da Copa do Mundo de Slam e
deixou Tagore Simões na missão de coordenar, em parceria
com a coletiva Slam da Minas PE.
Encerramos o projeto em uma edição lotada no Selva
Club, com duplas das cinco regiões do país e a presença
8

massiva e diversa de público. E a reconexão do partido com


a periferia, que começou no início dos anos 1990 com o Hip-
Hop, se iniciou na prática e na voz.
Obrigado a toda equipe da Fundação Perseu Abramo!
E ao Claudinho Silva, mentor da ideia.

Emerson Alcalde
Escritor e slammer
Coordenador geral do projeto SLAM NACIONAL EM DUPLA - FPA
9

FELIPE MARINHO E CLEYTON MENDES, SÃO PAULO.


10

JÉSSICA CAMPOS E TAWANE THEODORO, SÃO PAULO.

AMANDA LIONI E CATHARINE MOREIRA, SÃO PAULO.


11

CLEYTON MENDES

Poeta Akins Kinte já falou


Mas eu volto a repetir
Que duro não é o cabelo
Duro é o seu preconceito
Que tenta nos reprimir
Não existe cabelo duro
Deu pra entender?
O que vocês estão vendo aqui
São raízes prestes a florescer
Duro? Duro é o chão, é pedra, parede, madeira
Meu cabelo não! Meu cabelo é pura capoeira
Pronto pra gingar e, queira ou não queira, ele vai afrontar
Meu cabelo é diáspora, forte como baobá
E se for preciso o seu eurocentrismo tipo, Mohamed Ali vai
nocautear
E se libertar... desse padrão
Pois meu cabelo não é duro, meu cabelo não é ruim
Pelo contrario meu cabelo é muito bom!
12

Duro? Duro é ter que aturar piada racista


Duro é meu cabelo ser o motivo por eu não passar na entrevista
Duro é nossas crianças quererem ser a Barbie sem nem
conhecer Abayomi
Duro é nossos heróis, em tese, nem existir
Dura é beleza renegada, duro é a opressão
Dura é menina apedrejada por causa da religião
Duro? Duro é eu ser sempre vítima das balas perdidas, das
estatísticas, dos enquadros
Duro é ver youtubers brancas dando dicas de como deixar o
cabelo mais cacheado
Duro? É todos os dias ter que escutar “como você faz pra
dormir?”
“como você faz pra lavar?”
“Seu cabelo é bonito, mas já tentou alisar?”
Duro é os seus negócios, sua química, a sua “solução”
Duro é ver as nossas rainhas além de flertarem com alisantes,
chapinha, flertarem também com a depressão...
Tudo isso é duro, o meu cabelo não!
Então!!!
Eu vou gritar, feito um desvairado
(pra encorajar mais irmãs e mais aliados)
PROGRESSIVA NÃO É PROGRESSO!
Deixemos nossos cabelos armados
Armados de Africanidades
Hei! Vem comigo esfregar nossos Black’s na cara da sociedade!
Esfrega o dread, a trança, o turbante se preferir
O importante é a gente estar bem
13

O importante é a gente sorrir


E... meu crespo, minha trança
Não é adereço, é herança
É ânsia de ancestralidade
É afirmação e reconhecimento da minha identidade
O meu cabelo natural não é tendência
Meu cabelo natural é resistência
Mas algumas pessoas não entendem esse fato que é obvio
Que em cada fio exaltado
Tem um rio de historia e 100% de amor próprio
Não existe cabelo duroooo!
Eu vou repetir isso quantas vezes for preciso
Somos lindos, não precisamos ser lisos!
Somos lindos, lindas, lindos, lindas...
E se vier me debochar, perguntar se eu perdi meu pente
É melhor se preparar, pois é você que vai perder... os dentes
Pois eu e meu cabelo seguiremos imponentes
Como se fosse uma vingança
Pois duro não é cabelo
Duro é o racismo! Duro é a sua ignorância!
14

CLEYTON MENDES

Não posso acreditar que existe um Deus que feche com a


segregação...
Não posso acreditar que existe um Deus que feche com a
segregação...

Gênero, cor, religião


Se o seu Deus segrega, a ele eu não peço a benção
Radicalismo e intolerância não é fé
É ignorância
Será mesmo que Cristo era a favor de
Apedrejar crianças ?
Terreiros destruídos incendiados
Candomblecistas e umbandistas sendo perseguidos e
assassinados
E tem gente que diz que o estado é laico
Estado laico!? Só em teoria
Pois sabemos quem recebe olhar de desprezo
Por estar usando uma guia
Laico!? É mais uma falácia inventada
Pois se for de religião diferente eles rogam praga
Laico? Mentira!!!
15

Se o estado é laico, então porque desde pequenos somos


obrigados a rezar pai nosso e ave Maria?
Laico? Infelizmente não é
Pois ainda tentam silenciar o meu povo do axé...
Será que é uma nova inquisição
Isso que estamos vivenciando
Crente, cristão
Agindo como medievais romanos
Em nome de Jesus propagando ódio
Mas nos só queremos paz
Se fosse em outros tempos
O discurso de alguns religiosos
Seria em pró de Barrabás

“Amai o próximo como a ti mesmo”


Cristo deixou essa mensagem
Bancada evangélica que apoia a tortura?
Pastores acumulam fortunas
Dos gays querem cura?
Pelo visto não entenderam!
“Pai, perdoai-vos, pois não sabem o que fazem”
Perseguem, discriminam, demonizam aquilo que nem
conhecem de fato
Intolerância religiosa no Brasil é resultado de um racismo
velado
Mas chega!!!
Exigimos ser respeitados
Respeite minha crença, minha fé e o meu sagrado
16

Não importa se eu falo aleluia ou sarava


Se carrego bíblia ou patuá
Se tenho santo ou orixá
Não interessa, você tem que me respeitar
Eu não posso acreditar num Deus que feche com segregação
Até porque Jesus pregou a paz, o amor e a comunhão
Deve ter algo errado nessa bíblia
Me diz ai em qual versículo está escrito
Que você tem que tomar conta da minha vida?
Então abaixa esse dedo que aponta e julga a pessoa alheia
Enquanto você critica tudo e todos fora da igreja
Tem muito ladrão, pedófilo, adultero tomando santa ceia
Conceito de fé foi invertido totalmente
É triste, mas com tanto ódio se Jesus tivesse aqui vocês
crucificariam ele novamente
Alguns crentes vão dizer
QUEEEEIMA!!! TA AMARRADO!!!
Mas calma não leve a mal o meu recado
É só um filho de Xangô querendo ser respeitado
Do que adianta se ajoelhar
Se não tem a capacidade de estender a mão?
E só pra te lembrar
Jesus nem era cristão
17

FELIPE MARINHO

hoje vocês batem panela


ontem o açoite bateu no meu rosto
foram 400kg de cocaína
no helicóptero do Perrela
mas a PM só mata
o preto recrutado no morto

já não aceito mais


chibatada nas costas
muito menos tapa na cara
eu entendo o porque das cotas
mas você não entende
seu lugar de fala

mas fomos silenciados


por anos de mordaças
enquanto o discurso
de quem nunca sofreu na pele
sempre foi lindo

mas nunca vi ninguém achar bonito


18

as nossas balas alojadas


o peso das falhas da lei áurea
todos os minutos que compõe
500 anos

e a pm também assina embaixo


que só existiria racismo reverso
quando você for morto
por ser branco
que eu sou morto por ser “feio”
pelo meu cabelo não ser liso
pela suposta cara de “bandido”

eu, o neguinho
que você sente medo
quando me vê
do outro lado da rua

aquele neguinho
que passou a vida inteira
em branco
que só não foi esquecido
pelo cassetete e a viatura

aquele neguinho
que cês estupraram no canavial
que no tronco cês tiraram o sangue
que hoje cês diminuem
mais enfatiza seu pau grande
19

vocês
que trouxeram doenças
pra nossa América
que matou antigas civilizações
que trouxeram consigo
a antiga bancada evangélica

entendam
preto também tem história
o egito não é branco
rafael braga não é culpado
tira pobre e preto de sujo
mas vocês que lava? jato.

vocês que desfilam e dançam


o nosso samba
o nosso funk
o nosso jazz
de muito dos nossos costumes
e cultura ter parte do candomblé
enquanto vocês já mataram
dizendo: amém
muitos dos nossos já foram salvos
dizendo: axé!

por que por mais que a pele


seja escura
o coração é maracatu
20

pois teu clero


depositou mais minha gente
em um tronco
do que sua própria fé numa cruz

não é novidade
que mais um preto foi açoitado
no poste foi amarrado
esse não tinha olhos azuis
mas disseram
que bandido bom é bandido morto

mas não viram


que esse bandido era jesus

ninguém perdoou nossa carne


eu vi vários jesus cristo
apanhando no corpo
de zumbi dos palmares

me disseram
que odeiam cultos africanos
por causa da galinha morta
que na janta come bife
que usa jaqueta de coro
e que é de frango a sua torta

seja na senzala
ou lavando banheiro
21

no tronco ou quando
na carteira de trabalho
ele te registra
não importa qual a forma
que o sistema te domina

pretos vocês são lindos


seja com cabelo crespo
ou quando o cabelo você alisa
não se enganem
empoderar-se
é amar seus próprios traços
na semelhança do próximo

mas que fique avisado


que a coisa tá tão preta
mas tão preta
que mais nada passa em branco.
23

EMERSON ALCALDE, LUIZA ROMÃO E JÔ FREITAS, SÃO PAULO.


24

DEUSA POETIZA E PATRÍCIA MEIRA, SÃO PAULO.

PÚBLICO GERAL E JURADOS DO SLAM, SÃO PAULO.


25

JÔ FREITAS

Eu escrevi essa poesia porque minha vó é empregada


doméstica,
minha mãe empregada doméstica,
minha tia empregada doméstica,
minha irmã empregada doméstica e eu?
Sou poeta!
E desde pequena tem uma voz de um patrão no meu ouvido
Dizendo:
Ei menina
Em tempos de guerra
Que está fazendo com papel e caneta na mão?
É em vão
Quero só ver quando quiser roupa
Sapato ou pão
Vai empunhar o tal canetão?
Pra que lamentar em cadernos brancos
Tua dor preta?
Pra que poesia se não existe paz em sua vida?
Grita
26

Mas grita alto pra estremecer essa multidão


De descalços e escravizados
Seus comparsas
É tudo ilusão! Menina

E eu respondo
Agora escuta aqui o que tenho pra te falar
Se eu falo ou escrevo não é você que tem que aprovar

Eu tô cansada de ter que provar pra você


Eu tô cansada de ter que servir outra vez
Eu tô cansada

Como dizia Plinio Marcos, me lasco mas não me dobro


Então eu digo, eu não me rendo, escrevo pra me vingar
Me vingar dos senhores que nos obrigou, a contragosto, a
trabalhar
Agora não sou eu que vou calar
Meu papel e caneta é arma potente
De criança que quer aprender além do bê-á-bá
Se para ti minhas armas são em vão
É porque em berço de ouro tu era o patrão
Deixem minhas armas
Porque sei o que tu quer, é a vassoura em seu banheiro, Não é?
Olhe para mim e bata suas panelas
Mas não terá mais empregada para lavar
E seu chão esfregar
Por causa de você, hoje sou rebelião e desta cadeia eu abri
mão
27

Luto como um dragão


Contra você, o patrão e a inquisição
Tenho pensamentos libertos
E não mais poderá enjaular
Porque hoje escrevo pra me vingar

Me vingar das roupas lavadas


Da comida cozida
Do cafezinho servido
Meu papel e caneta será para escrever outra história aos
meus descendentes
Porque todas as mulheres de minha família foram serviçais de
teus desejos
Empregadas e diaristas
E se depender de mim não deixarei mais rastro

E essa mão que engraxava teu sapato


Engomava teu paletó
Está bem armada
Com fuzil grafitti

Tu me querias empregada
E hoje é dos livros que me armo
Tu me querias submissa
E hoje rezo a missa da morte de teus privilégios

Porque só quero que você entenda uma coisa, senhor patrão


Que você nunca esqueça o que vou te dizer, senhor patrão
28

Se hoje eu sou poeta


E se hoje eu escrevo
É apenas por vingança
29

LUIZA ROMÃO

eu queria escrever a palavra br*+^%


a palavra br*+^% queria escrever eu
palavra eu br*+^% escrever queria
brasil

aquela em nome da qual


tanto homem se faz bicho
tanto bandido general
aquele em nome de quem
a borracha vira bala
o policial homem de bem

aquela empunhado em canto


legitima em docs
que esconde pranto
mãe do dops

eu queria escrever a palavra brasil


30

mas a caneta 
num ato de legítima revolta
como quem se cansa de reproduzir sempre a mesma história
me disse
para e volta
volta pro começo da frase
pro começo do livro
pro começo da história
volta pra cabral e as cruzes lusitanas
e se pergunte
DA ONDE VEM ESSE NOME?

palavra mercadoria
brasil
PAU-BRASIL

o pau branco hegemônico


enfiado à torto e à direto
suposto direito histórico
de violar mulheres
o pau à pique
o pau de arara
o pau de sebo
o pau de selfie
o pau de fita
o pau de fogo
o pau
cara e orgulho nacional

a colonização começou pelo útero


31

matas virgens
virgens morta
a colonização foi um estupro  

pedro ejaculando-se
dom precoce
deodoro metendo a espada
entre as pernas
de uma princesa babel
costa e silva gemendo cinco vezes
ai ai ai ai ai
ai-5

getúlio, juscelino, geisel


collor, jânio, sarney
a decisão parte da cabeça
do membro ereto
de quem é a favor da redução
mas vê vida num feto
é o pau-brasil
multiplicado trinta e três vezes
e enfiado numa só garota

olho pra caneta e tenho certeza


não escreverei mais o nome desse país
enquanto estupro for prática diária
e o ideal de mulher
a mãe gentil
32

JÔ FREITAS

Caminho pela rua e tanta gente fala de mim


Se dou oi sou exibida
Se não falo sou metida
Tem faladô que precisa engolir sua língua
Dizem por aí
Que eu sou qualquer uma
Só porque sou feliz
Sorriso largo
Olho no olho
Digo o que quero
Dizem que eu não sou mulher pra casar
Dizem por aí que eu não cozinho, não passo
Dizem que não sou dona de casa
Dizem por aí
Que eu não me intimido
Nos lugares onde só tem homem
Seguinte
Você que adora falar
33

Não cozinho
Mas o meu tempero
É a luta
Com pitadas revolucionarias
E açucaradas de prazer
E a única coisa que passo
É o teu machismo
Pra bem longe
Das minhas
Parceiras, guerreiras e dandaras
Dizer está muito além de sua prática
Dizer pra me calar
Xiiiiiiiii
Sai pra lá, não me rebaixe
Não beijarei teus pés
Não alimentarei teu papo manipulado
Que acha que mulher
Tem que ficar no tanque
E seu amor esmolar
Você está enganado
Meu corpo é livre
Meu ventre é livre
E de fato, eu acho que não sou mulher pra casar
Mas, cuidado
Se você quiser
O único tanque
Que eu vou estar
É o de guerra
34

Só pra ter o prazer


De seu machismo
Bombardear
CLIC
BUMMMMM
35

LUIZA ROMÃO

tire sua cruz do caminho


já não bastou caminha
e anchieta
querendo lacrar
minha bu...chega
que esse papo eu decorei
que esse papa não é rei
orei
pelo fim dos ianques
vejo cristo sobre tanques
lugar de fé é no altar
não no palanque

fomos tantas
tanto tempo
silenciadas
joanas d’arc estrangeiras
nossa guerra dos cem anos
é dentro da fronteira
36

fomos matéria-prima
corpo-a-prêmio
passatempo de feitor
em nome do pai
do marido
e do espírito do pastor
se falas tanto em igualdade
pra que manter um senhor? 

com seu bom partido


não quero aliança 
suas bodas de ouro
suas botas de chumbo
só multiplicam defunto
solteira, viúva, casada
que importa
meu estado civil é laico
e seu paradigma
arcaico
arque com as consequências
de ser nação-bastarda de nascença
o nome ausente 
vazio de progenitor
de quem se nomeia patriarca
mas não passa de estuprador
miscigenar
verbete bonito
estilo requintado
37

mas que camufla o ventre violado


mas isso não existe
imagina
tantos querendo ordenhar minha
va...xinga
de mal-amada
mal-comida
mal-educada
mas pro homem de bem
sou o mal-encarnada
39

PÚBLICO PRESENTE EM SALVADOR, BA.


40

SANDRO SUSSUARANA, SALVADOR, BA.

EMERSON ALCALDE E PATRÍCIA MEIRA. SALVADOR, BA.


41

Sororidade de poesia
Respeito de poesia
Gratidão linda em poesia
Amor de poesia

Nós por Nós de poesia


Militância de poesia
Ao te olhar vejo hipocrisia
Mas...
Cada um na sua correria

Eu ando fudido com esses irmãos


Que alimentam o sistema da segregação
Estampam na testa eu sou militante
E na primeira chance destrói o parceiro justificando a
inovação

Mas cada um no seu castelo


42

Cada um na sua função


É tamo junto, mas cada qual na sua solidão
Porque na minha correria eu rego a evolução
Filho da Injustiça Brasil revolução

Eu sou bantu
Eu sou griot, xamã, Babalorixá
Andar com fé eu vou ela não costuma falhar

Ah... mas tu é Neguinho


Neguinho com muito amor
Vê se lava a porra da boca para falar da minha cor
Peça licença para bater cabeça
E bater no meu tambor

Pois como todo preto em ascensão


Eu vou causando indigestão
Meu idioma gentil você transformou em agressão
Mas seu chicote, seu boicote não conseguiu derrubar

Se fudeu branco de merda


Vai ter que me ouvir falar
E quando eu terminar cê ainda vai ter que me aplaudir
teto preto ago
Vocês não têm pra onde fugir

Eu vou tomando os espaços


Que sempre me pertenceu
43

Cês tudo puto pirando e perguntando quem sou eu


Mandingueiro de primeira siga a minha ladainha
Prazer sou a andorinha que fez o verão sozinha

O feto que o Brasil não conseguiu abortar


Eu sou o câncer que a sua consciência obrigou a amar

A malandragem que me preparou


Me fez mais safo que o Malasartes
Meu tutor mal tinha o ensino médio
Mas se graduou na matéria arte

Meus amigos são meus professor


E eu, o aluno, aproveito a sorte
Tenho o que muitos não terão
Hoje sou respeitado pela própria morte

A confiança foi uma mulher ingrata


Que ficou assim para sua proteção
Apresentei a ela minha esperança
Hoje ela é uma criança, pura gratidão

A poesia é a arma contra a opressão


Hoje geral sabe que ela vale apena
Inteligência e humildade de um ancião
Fui eu que ensinei estratégia a Atena

Presenteie a flor dei a ela espinhos


Se não tiver champanhe
44

Joga água pro alto


O importante é que se abram os nossos caminhos

Ando pela escuridão e rezo pra não ser encontrado


Trago a certeza que Deus é mãe, se fosse pai já tinha me
abandonado
Enquanto eu viver que ela sempre me acompanhe
Sou eu, sou eu até morrer o Xodó de mamãe

Sou estratégia dos Oxossi


Destemidos feito Ogum
Trago o canto de Oxum
Me aprecie, eu sou Exu

Eu sou a insistência
Com a pirraça de Oxalá
Evanilson Alves
Kuma França
A piada que vocês não vão contar
45

Encarei a verdade de frente


E pela primeira vez não retruquei
Fixei meu olhar em seus olhos
E vi claramente o quanto errei

Confiei demais e cai na ilusão


De viver uma vida que não era minha
Tentei abraçar o mundo
E quando pensei já ter tudo
Descobri que não tinha

Sem contar as inúmeras vezes


Que em casa eu estive
Levando minha vida
E por consequência
Longe de meus pais, parentes e de minha família

Mas muitos dirão com alegria


O que presenciou nos quase
Sete anos de sarau
46

Poucos sabem as dores que enfrentamos


Pra manter o diferencial

Muito pior é descobrir da forma mais dura


Que quem te apunhála
É quem se dizia seu aliado
E mesmo assim por um sorriso no rosto
Pra manter o equilíbrio
No respectivo trabalho

Tudo isso me fez repensar


E tentar entender o verdadeiro sentido
E a conclusão que cheguei
É que fazer por você
Não é trair o coletivo
É necessário
E muito cuidado com o padrão que estabelecem
Quando o alvo não for sua luta
Será o jeito que você se veste

Postura firme
Afirma que a militância
Não enfraquece
Por fazer uso de um baseado

Que você comprou na mão do irmão


Antes dele ser executado
Mas é mais fácil
47

Apontar os de terno e gravata


E culpabilizar o Estado

É mais fácil tirar sua mão de culpa


Por não assumir
Que você também
Financia o tráfico

Frustração eminente
O sentimento que fica é desistir
Mas volto atrás ao ouvir Pedro Zaki, dizer
Que meu verso o manteve vivo até aqui
Competidor por essência
Mas dentro e fora dos palcos
Valorizo os meus
Sua arrogância te cega
Talvez seja por isso que não compreendeu

Declarei meu amor a Kuma


Sua vida e sua escrita
Muito obrigado meu irmão
Por mostrar que poesia foda
Nem sempre é a mais aplaudida

Por mais apreço a escrita


Sentimentos e emoções
E menos ego inflado e teatro em competições
48

E aos que se dizem imbatíveis


Eu prefiro seguir na responsa
Só não esquece que pra você competir
Eu criei o Slam da Onça

Ser humilde e pedir ajuda


Não significa baixar a cabeça
Mas depois da ajuda aceita
Nunca jamais se esqueça

Talvez quando pararem de me criticar


Por andar bem, bem vestido
Pois né porque eu sou poeta
Que eu tenho que tá fudido
Talvez aí me dêem os créditos
Por tudo que tenho escrito

Daí vão respeitar os corre de todos os seus amigos


E perceber que militâncias vão muito além
De levantar a bandeira do seu umbigo
49

Mais dias de lutas


Por menos dias de Luto
Aprendi com a poesia
Que a palavra Marginal
Nem sempre é um insulto

O que vocês chamam de rebeldia


Eu chamo de Redenção
Na escola eu quero Ganga Zumba
Talvez, depois, Napoleão

A minha palavra é um soco


Para quem não quer ver a nossa vitória
Um balde de tinta preta
Pra quem tenta embranquecer a nossa história

Pra quem vem da terra dos vilões


Se torna bem mais longe o caminho
Mas nosso tapete é de folha
E quem tenta puxar se fode sozinho
50

Escrever é ar, água e alimento


E não seria a nossa se não fosse inundado de sentimento
E muitos que disseram que eu não conseguiria
Hoje tem que aplaudir a seco a minha poesia

Entendam o meu tormento


E o quanto de dor tem nessa informação
Porque aqui não tem nenhum ator
Forjado para ser campeão

E mesmo questionando a resistência


À nossa existência se resume a fé
Por que é cada José com seu e agora
Ou cada e agora com seu José

Das vezes que eu falhei


Dando o máximo que eu sei
Ouvir da minha avó
Seja duas vezes melhor Duas vezes melhor como
Se já nasce fracassado
Atestado de malandro
Destino inferno
E o passaporte já vem carimbado
O que eu aprendi como prisão
E como cativeiro
Hoje é vendido com cuidado
Como amor verdadeiro
Contra toda essa merda
51

A gente está de pé
Se mantendo resistente
E a nossa união incomoda muita gente

E o chão de vários movimentos cai


A poesia escancara
Os falsos militante
Que o sistema mascara
O dinheiro é a maquiagem
Que não me compra
A nossa letra cara
A verdade engrenagem
Estampada que não me encara
Não sou o Pablo Vittar
Mas vou jogar na sua cara

E é pela melhora de todos nós


Aos corres antigos
Máximo respeito
A revolução virá
E vai ser do nosso jeito

Se prepara Sistema
Vou ser o dedo na sua cara
Vou tirar a sua paz
Pois se Exu abriu o meu caminho, porra
Ninguém me para mais
52

KUMA FRANÇA E EVANILSON ALVES

POETA RECITA EM MICROFONE ABERTO E PLATEIA, SALVADOR, BA.


53

FOTO FINAL COM TODOS OS PARTICIPANTES EM BRASÍLIA, DF.


54

LIVROS DE EMERSON ALCALDE E MARIANA FELIX.

MEIMEI BASTOS.
55

(Uma poesia pensada num universo sem fronteiras físicas,


geográficas, espaciais ou espirituais)

Legião cantou será


Rapadura o Ceará
Jackson 5 o ABC
Biroleibe o bê-á-bá,
Beatles, ob la di ob la da
Um feat da Ciara com Karol Conka
Ainda hei de ouvir

Igual batalha de Mc com pandeiro e viola


Uma Bossa Nova da velha escola
E Caju e Castanha rimando em cima de um beat
Nem Froid explica o The Wall do Pink Floyd e foi notícia do
tabloide Os Gêmeos grafitando em Wall Street

Olhe, onde tá o Wally? pergunta no Ipiranga ou pergunta pro


Seu Lunga
Na seleção mundial de golzinho Pelé, Maradona, Nenzinedine
Zidane e Biro-Biro são treinados pelo Dunga
56

E elementar meu caro Chicó, foi o que disse João Grilo quando
soube da lida
E depois no Topo do Big-Ben, eu vi Sherlock contar pra Watson
a história em Londres do Auto da Compadecida

Nesse mundo moderno


Tem Boulevard na favela
Dry Martini de Siriguela
Mortadela e queijo coalho no croissant

Na saudosa maloca
Sinatra mata um cupcake de paçoca
Enquanto no Empire State quem canta é Adoniran

E Cumpadi Washington já avisava via inbox do Face à Justin


Timberlake
Não adiciona esse perfil que é fake

Eu só sei que notei que fui num rolê com Sheik e tomei um
shake, tô mei que maluco
Vi Ventania, Alceu Valença e Johnny Cash num luau numa praia
em Pernambuco

Esquibunda de natal nas olimpíadas de inverno do Piauí


Tão genial quanto Tonyhawk mandando um 900 no skatepark
da praça do D.I.

Eu li que o Bruce Lee, o Jet Lee e a Chun-Li tão com ingressos


pra luta do século, na primeira fila
57

Um combate épico, Rocky Balboa VERSUS Maguila

E no open bar desse role, trombei o rei do camarote


Ele chegou num camaro e me pediu um papelote

Me embriaguei de Velho Barreiro e Johny Walker


Bebi até ver Curupira fazer moonwalk
E o segurança, Jeca-Tatu, com walkie talkie
Me disse que o Uber tava na porta,
Num fusquinha o Paul Walker

É noiz, bate em retirada na cidade projetada por Lucio Costa


Skywalker
Mas eis que na saída a marcha cai
E na subida do Senai, Deus nos acuda
O motor faia
Cabou-se o gás, cabou-se a paz
Vi GTOP vindo atrás, já joguei fora minhas traia

Mas ali na subida do Senai


O fusca dá um prego
E noiz dois engole a seco
E o jeito foi tentar arrumar umas moedinhas fazendo poesia
pra arrumar uma vaquinha aqui no Slam do Beco
58

Tamo contra a farsa do papo meritocrata, que eles usam pra


julgar uma pá de vida
Dos que já nasceram 100 passos à frente da linha de largada
e pregam igualdade na corrida

Não dê o peixe, mas sim ensine a pescar. Foi o que falou o


irmão
Que já nasceu com barco a motor, isca, vara e anzol na mão

Pra quem sempre teve comida no prato antes de ir pro


estúdio ou escola
É fácil chamar programa assistencialista de Bolsa Esmola

No Congresso a vida imita a arte; somos todos vigiados pelo


olho do Grande Irmão
É a bancada BBB colocando nossos direitos no paredão

Ruralista, rei do gado, quadriplica suas fontes de renda


Decide vida de indígena e escraviza mão de obra em fazenda
59

E eles usam o Pai Nosso, pra roubar os seus e os meus, é


tudo em nome do Senhor
E o pão nosso de cada dia são migalhas do pão que o diabo
amassou

E no Estado laico Deus é a salvação, mas só se for o dos


cristão, rio
Senão a coisa fica feia
Se forem deuses afros, (ishhhhhhh) aí nóis taca pedra,
demoniza e incendeia
E se Jesus voltar, aposto que morre de novo na nossa mão,
feito ladrão
Eu num tenho provas, mas tenho convicção

E a bancada da bala quer cela e não sala de aula


Pra trancar os menor de favela feito bicho dentro das jaula

É o lobby financeiro de quem quer entupir nossa juventude no


sistema prisional
Muito mais fácil e lucrativo que uma profunda reformulação
no sistema educacional

É, Biro, o país tá mermo na lama


Que o diga Regência e Mariana
E o que tá no artigo quinto

Sobre todo brasileiro perante a lei, igual deveria ser


Sinto lhe dizer, é a maior mentira que contaram pra mim e
procê
60

E do artigo quinto a gente volta pro AI-5, compara sem caô


Sociedade que aplaude político que faz menção em discurso
a torturador

É um show de horror, com audiência global


Múltilplas siglas partidárias, a maioria desnecessárias
A única diferença é a ordem de consoante e vogal

E no país do futebol a gente segue levando gol (7x1) a todo


momento
Pelos mil Neymar que a quebrada deixou de produzir por falta
de investimento

Pelos mil líderes políticos que vão morrer antes mesmo de


virarem exemplo
Onde a educação chegou depois que a chance de ser traficante
tinha já chegado faz tempo

No mundo digital e virtual, a realidade aqui sufoca


Essa era touch, onde ninguém mais se toca

Ninguém se liga, nem se interliga, nem dialoga

A gente só se loga
E logo, larga
A passos largos
Pra uma solidão compartilhada que não se esgota
Nós trocamos as conexões astrais pela wi-fi
61

Por isso pedimos senha


E não mais benção pra mãe e pai
Ê mundão sinistro !!!!
Mais importante que a vivência
É o registro?
E por falar em registro, anota aí doutor
Outra Maria apanhou, mais uma Marielle morreu, outra mulher
assediada no metrô

É foda, mas é a verdade nua e crua


E mais foda é achar que a culpa não é minha e sua
E é que dizem que tudo acaba em pizza,
E nois só veio temperar nossa fatia
62

Dois zero um oito


Notícias populares
Descrença bate recorde e invade os lares
Basta que confiram com seus pares
Como anda rarefeita a esperança por novos ares

Nós somos a Geração Novo Milênio, mas segurando do


passado uma tonelada de B.O.
E não que o mundo já foi um bom lugar, mas parece que ele
tá cada vez pior

País racista, sociedade machista, justiça classista e cês achando


que discutir essas fita é pauta esquerdista
Beleza, então despista, depois só não vale se espantar com
mundão tendo marcha neonazista

Caos à vista,
Sejam todos bem vindos ao século XXI:
Desequilíbrio evidente entre entre bom senso e senso comum

No Brasil, esse é o cenário, quase tudo precário


Menos o milionário fundo partidário
63

Nor tamo sob a reforma “padrão progressista”


A que promete voz pros empregado negociar com os patrão
as causa trabalhista
E Ó noiz Mordendo a isca:
morrer de trabalhar e trabalhar até morrer,

SHIUUUU, só segue à risca.


Cê só é estatística

E Cê Rala dia e noite pra ter as conta paga


E se tu quer algo melhor? Estuda nas hora vaga
Mas como? se num tem hora vaga, e cê ainda disputa com
quem paga pra comprar tua vaga
Época das vaca magra,
E cê pensa toda vez

Que ultimamente essa época tá durando quase os 30 dia do


mês
Na velô da luz a grana se encerra e o zero te emperra
Salário morrendo mais cedo que figurante em filme de guerra
Mas a guerra por aqui não é figuração, cuzao
Só Ano passado, 50 mil homicídio.
Pra bolsominion querer me convencer que a solução é porte
de arma e mais presídio???? Não

Enquanto isso a educação segue sucateada, sem estrutura


pros menor na escola
Mas governo tem dinheiro pros Pm andar portando os New
Corolla
64

Eu acho mó Tiração, patifaria,


como o próprio coronel ao vivo explicou como funcionaria:
Diferença de abordagem por questão de cor e geografia

Afinal igualdade é o cacete,


Maquiagem na cracolandia, sujeira pra debaixo do tapete.
A Lógica é opressora
A merma que manteve Rafa braga preso,
por não ser branco nem filho de desembargadora
Nós somos a sociedade cansada de tanta Corrupção
Que assiste inerte político comprar apoio botando nossa
Floresta em leilão

Cadê a filiação do bolsa-hipocrisia


Pra quem critica bolsa família
mas passa pano pras discrepância dos auxílio-moradia
E Primeiro a gente tira a Dilma
E depois...depois a gente admite que caiu nesse Blefe
E sorri amarelo feito o pato e as camisa da cbf

E deixa os Fora temer morrer,


nos grito sem forças e nos adesivo apagado em estêncil
Enquanto a rua segue vendo que suas panela
Ainda repousa em silêncio
65

BIRO-BIRO E MC NENZIN EM BRASÍLIA, DF.

PLATEIA EM BRASÍLIA, DF.


66

RAPPER VERA VERÔNICA E DJ W RAP EM BRASÍLIA, DF.

GUILHERME RAEDER E HIURY SILVA EM BRASÍLIA, DF.


67

IMAGEM DESFOCADA DE UMA POETA RECITANDO.


69

“Caminhando e cantando e seguindo a canção


Somos todos iguais
Braços dados ou não”

Hoje eu tenho verdades pra falar


Sobre o regime militar
Enquanto na favela por necessidade um negro passa pelo
Regime alimentar
Então te prepara que eu vou jogar bem na tua cara
E se o governo não gostar, pode fazer igual a ditadura e me
jogar no pau de arara

Bate! Pode bater! (2X)

Mas vocês não vão calar minha liberdade de expressão,


Pode até negar e esconder da população,
Se pagamos 64 e 2016, chegamos a uma conclusão

Foi golpe ou não? (2X)

Ou será que já estão preparando outro golpe para essa próxima


eleição!
70

Povo hipócrita, e sem inteligência,


Eleger Bolsonaro seria a mesma coisa que os judeus colocar
Hitler
Na presidência!

Caminhando e cantando (2X)

Só que na verdade nosso povo não vai pra frente sem saber
pelo o que estão lutando

Regime militar?
Opa opa pera lá! Vocês estão falando de surrar matar e
apedrejar?

Porque se for isso eles são profissionais.


Servir e proteger, mas nem todos né meu bom rapaz?

Sim, sim a corrupção tá subindo, a mente apodrecendo, será


que isso hoje em dia também tá acontecendo?

De 64 a 84, será ainda que fulana fica de 4?


Falei que ia deixar eles viverem, é uma pena que eu minto
irmão, e sim!
Vamos resistir até a próxima geração.

As vezes queria ser Cazuza


Exagerado
Ou Renato Russo amar como se não tivesse amanhã
E Marilene Franco, preta, pobre e sã
71

Eles quiseram me calar, é uma pena que eu tô pronta pra


desentalar tudo que eu tenho pra falar, é pra parar esses
machistas que acham que podem tomar o meu lugar

Vai tomar no cú!


tu e essa tua paz armada, que eu quero é mais ser bem
representada,
quero ser amada mas nunca desmoralizada

E eu só quero mostrar pra vocês que aqui o amor impera,


e eu só quero igualdade perante as leis,
o futuro é o que nós espera

Chico, Cazuza, Elis e Cássia,


Lutaram pra essa ditadura terminar, e vocês acham mesmo
que os porcos fardados vão me calar?

Pode bater, eu vou apanhar, mas a porra da minha voz, quero


ver quem vai calar.
72

E se eu começasse falando que a metade da população


carcerária do Brasil são negros?
E se eu falasse que a maior taxa de homicídio no Brasil são
pessoas negras?
Ha quem diga que o pior castigo é você ter nascido preto,
pobre é nordestino
Não!

Agora eu vou falar, eu vou gritar tudo que eles fazem


eles são nojentos, imundos, detestáveis!
Eu to rindo, vendo uma mãe solteira espancando o PM que
matou seu filho
eu to assistindo,
eu expondo minha ira, e vocês sorrindo.
Olhem pra mim
vocês acham mesmo que se Jesus fosse branco ele ia pra cruz?
73

Acreditar que sim seria o mesmo que acreditar na rapidez da


fila do SUS.

Mas não queira me limitar no seu racismo,


meu objetivo e ir além,
e Desculpas se o índice de desempenho de preto aumentam
na nota do Enem
porque do lado de onde eu vim,
Só pensavam em dividir,
Escolhi ir pro outro lado pra aprender multiplicar,
Mas pelo fato de eu ser mais um neguin

Toda opressão esta tentando me calar


Criticaram o meu cabelo
Criticaram tudo que eu fiz
Mas eu carreguei a cruz de ser mais um preto raiz
Eu costumo dizer que o problema do branco é o preto
E o problema preto é o branco
E se tu não respeitar a nossa raça mermão

Hoje tu vai ficar no banco


Porque ao contrario de branco
Preto tem humildade
Que sonha em orgulhar a coroa
Entrando na faculdade
Na moral é difícil de dizer
Acontece tanta merda no país e nem é os pretos que estão no
poder!
74

Já pensou se o branco
Fosse oprimido com o preto no poder!
se o branco fosse excluído com o preto no poder!
Se o branco fosse morto com o preto no poder!
o pior, que isso tudo acontece com o preto, e é os brancos que
tão no poder!

Mas a cruz de ser um negro,


Nois sabe na cor da pele,
Mais aqui é liberdade Rafa Braga e viva Marielle!
75

Ela - Eu amo você


Fica comigo
Vamos ter esse bebe

Ele - Não, ta louca? Quem não quer sou eu!


tira logo que esse filho nem sequer é meu...

Ela - Meus sonhos, meus planos


Ho meu Deus eu só tenho 15 anos
Meus pais?
Que pais?
Meu pai me abandonou, minha mãe nem sequer ligou

A angustia no meu peito ressalta meus sentimentos mais


soberbos
Eu vou abortar?
Será que eu devo realmente tirar?
Mas por que? Eu não consigo entender
Não tenho outra opção!
Eu vou ter esse BB!
76

Ele - Negativo!
Eu digo que não!
Já me preocupo com muitas coisas ainda vou ter que pagar
pensão!
Pode esquecer essa ideia! O aborto é a solução!

Ela - E ali estava eu,


Olhando a luz do sol pela janela!
Tentando tomar uma decisão
No mesmo tempo fugindo dela!

Ele - Mas, não sei o que fazer,


Não trabalho sou sem emprego
Como vou criar esse BB?
E agora ultrassom acompanhamento médico,
E ela só tem 15 anos, ainda vai ter compras de remédio,
Vou ter que arrumar uma casa aluguel pra pagar,
E não tenho dinheiro nem se quer pro vale alimentar,
Enfim fui pra uma praça pra poder descansar,
Quando chegou um parça
E disse que o jogo iria virar,
Ele me deu uma proposta e me perguntou se eu iria aceitar,
E eu sem ter nenhuma alternativa falei, “se ta na chuva é pra
se molhar”
Bolemos um plano de como iríamos começar
e se pah era um condomínio que teríamos que entrar
E ele me deu uma arma
e eu não sabia usar
77

Mais ele disse qualquer coisa é só o gatilho puxar


E a vida do menor no crime acabou de começar

Maria, é só mais uma em centenas


Maria podia ter a oportunidade de abortar e ficar livre dessa
pena
E você diz que é a favor da vida?
Então me explica
se bandido bom é bandido morto,
qual a diferença que existe entre essas simples vidas?
É muito fácil falar que não é a favor do aborto quando não é
mulher

é muito fácil falar que não vai assumir e depois meter o pé


Se fez vai ter que criar, filha da puta nenhum vai querer nós
ajudar!
Quantas mulheres morrem em clínicas clandestinas?
Quantas mulheres vocês acham que morrem por causa disso
todos os dias?
Legalize o aborto, ninguém sabe o filho que terá um dia!
o problema não é o aborto
o problemas são as pessoas que são contra
apenas sabendo pouco.
79

PLATEIA EM PORTO ALEGRE, RS.


80

BRUNO NEGRÃO E CRISTAL EM PORTO ALEGRE, RS.

HERCULES MARQUES E MORGHANA BENVENUTO EM PORTO ALEGRE, RS.


81

DEDS

Era uma vez…

AGNES

Era uma vez é o caralh*


Não existe final feliz pra Alices de 9 forçadas a fazer boquete
Em soldadinhos de chumbo fardados
Aqui pela estrada a fora, quando se vai bem sozinha
“Nayaras” de 7 anos são violentadas e mortas por asfixia
Não é doce o caminho de João Maria
Que cansado de comer migalhas na trilha
Foi flagrado furtando celular no Fantástico reino das maravilhas
Apavorado, Bambi não caminha no bosque com medo de ser
espancado
Mas dentro do seu próprio castelo é humilhado e trancado no
armário
E assim nasce o tal príncipe encantado que contrariado:
Vai taca a bebida
Vai taca a pica
82

E estuprar a bela adormecida sem sequer ser notado


Afinal, toda magia é negra, mesmo que tenha cabelo liso e
olho claro

Deds: Entendem o quê ela tá falando?


Agnes: É claro que entendem

DEDS

Até no mundo da fantasia o mago Negro é branco.

Aqui os reis detestam os jovens ferozes


Por isso existem os jogos vorazes
O ogro que manda na fauna explora a flora
E impõe ditadura em sua era
No reino do pecado onde Bela é mutilada e servida no jantar
da Fera
Nossas meninas são mantidas em torres sem enxergar o sol
nascer
E querem que eu não fale sobre isso…

Quem fala que eu ocupo espaço de fala quando falo disso


Tem no mínimo o dobro da idade de quem me contou essa
história
Por isso quem só fala não pode entender
A vida de crianças.
Que depois de mortas recebem orações para virarem fadas
E protegerem o bosque onde o príncipe obriga a princesa a
fazer visitas em sua casa
83

Para nos fazer dormir, canções de espanto


Onde o boi da cara preta só é sinônimo de careta quando
quem conta a história é um cara de careta branca

AGNES

Meu conto é de faltas


Porque abaixo da linha da miséria
A desgraça é per capita
Tem um Bicho Papão pra cada
Hoje, Pantera Negra
Sou língua afiada
Mas precisei ser Robin Hood
Pra matar a fome que me matava
Vivi mil e uma noites de experiências frustradas
Regadas a pó de fada, Kryptonita e litros e litros de poção
mágica

Ainda bem que o SLAM salva


Já pensou que final infeliz,
A Agnes de Deus virada na Nega Diaba?

Deds: Aí eles não aguentava!

AGNES

É por isso que veneno na boca de quem tem amor pela causa
DÁ VOZ, não mata
84

Se me picar morre a Naja


Porque foi entre o Machado de Assis e o de Xangô que fui
forjada

DEDS
É que…
Somos “Gigantes de Aço” na hora de lutar
E pra não esquecerem de mim
Meu fim vai ser no Largo do Zumbi:
PORTO ALEGRE DE VOLTA AO LAR

Como Chico Xavier, escutando o outro plano


Como Charles Xavier, executando o melhor plano
Deds Winchester, aconselhado por anjos
Já que aprendi com o Scooby Doo que os demônios são
humanos
Sei que o pior pecado é a inveja
Assim Caim matou Abel
E Scar matou Mufasa
O quê separa o céu da terra?
Agnes: Extinção da própria raça!

A história é de caça, me fala que cês não viu


O Coiote atrás do Papa-Léguas
E o trabalhador correndo atrás do seus direitos explorados no
Brasil
É foda viu!
Estudar no sul
85

Mais fácil juntar as 7 esferas do que 7 pretos em um curso na


facul
Nesse mundo enfeitiçado
Eu tô incentivando
Minha irmã de 11 anos ser forte igual Mulan
E lá no futuro ela caçar os opressores e virar uma guerreira do
Slam!

AGNES E DEDS

Vida longa a resistência


Espero que nos ouça, irmão
Somos POETAS VIVOS
Militantes do povo
A VOZ DA REVOLUÇÃO!
86

DEDS

Bem vindos ao terrorismo lírico em ação, diretamente do


umbral da zona sul
Uma história em meio à guerras;
Agnes: Misérias,
Deds: Biqueiras,
Agnes: Choros
Deds: E velas

AGNES

Dois bastardos programados para rimar


Nós somos os poetas que o sistema não foi capaz de eliminar
e nem silenciar
Seguimos na contenção com disposição de sobra pra jogar
eu tô armada
assim como nossos blacks
com minha metralhadora verbal engatilhada eu entro em
campo e honro a missão
87

Dou o sangue e a garganta a favor da revolução.


A nossa poesia é libertação
Que teu cartão de crédito…

Deds: Não compra!


Agnes: A nossa postura...
Deds:Te afronta!
Agnes: As nossas linhas…
Deds: Te assombram!

AGNES

E há cada verso escrito um oprimido se levanta


E levanta a voz, resistente e feroz
Esbravejando que assim como a rua
Cultura, arte e literatura também é nós
Somos os heróis e heroínas
Sobreviventes das chacinas que o Estado genocida cria
E no jogo da vida é a patrulha canina exterminando mais do
que guerra na Síria

DEDS

Que comecem os jogos!


Dentro dessa sociedade acostumada a julgar antes de saber a
verdade
Para “tomar jeito na vida e ter futuro”
Agnes: Depende da idade...
88

DEDS

Se sair do padrão e for favelado


+18 é prisão
Se for menor desconstruído?
É reconstruído com tratamento de choque, onde o coturno
chuta a costela e perfura o pulmão
Mãe nação!
O futuro do país não era pra ser as crianças e os adolescentes?
Então porquê sempre o sangue que escorre no chão é da
gente?
2018 enchentes no ano da copa, e ainda vivemos em regime
Enquanto o campo do jogo for a favela, cada gol do estado é
um desfalque em nosso time
Agnes: Como vencer?

DEDS

Os nossos técnicos são pais ausentes, nunca vieram nos treinar


Ainda bem que temos uma torcida de mães otimistas
esperando ver seus filhos brilhar
O problema é que o sistema do jogo nunca quis ver a favela
jogar

AGNES

O sistema oprime, mas não nos para


Podem até nos derrubar na área
89

que mesmo desfalcados seguimos fintando sem camisa e pés


descalços
Favela é a seleção brasileira convocada pelo descaso

DEDS

Na copa, só crack em campo


Na campanha, crack nem pensar
E o camisa 10 do time, um preto habilidoso
Se viu de frente ao preconceito, adversário mais difícil de driblar
Num país onde não investem 1 real em moradia popular para
tirar os Niemayer de barracos
Andam vendendo cadeiras de sócio
Ahh… A nossa vida virou um jogo de negócios
Meu eu-lírico profeta teve um presságio
Onde torturavam nosso povo e vendiam ingressos dos “Jogos
Mortais da Favela” em estádios

AGNES

E a classe trabalhadora com dinheiro contado, pagando à


prazo, comprando fiado
Trampando de sol a sol
Sábado, domingo e feriado
Eu não vou ser o palhaço manipulado pelo Estado
E nesse jogo mortal eu prefiro amputar o meu pé do que ter
ele acorrentado
90

Agnes e Deds: Por isso eu não me calo!

AGNES

Somos poetas do povo


Incitando na periferia o uso do armamento mais potente e
pesado:
O cérebro pensante e informado

AGNES E DEDS

Vida longa a resistência


Espero que nos ouça, irmão
Somos poetas vivos, militantes do povo
A VOZ DA REVOLUÇÃO!
91

DEDS

Atenção!
Agora as notícias diárias...

AGNES

NÃO!
A fúria que o sistema trata a favela
Na tela da SMART não passa
Tipo faces da morte
Atenção: cenas fortes
IMAGEM CENSURADA
A cor da pele imita a cor da tarja
Preta, mulher, militante da causa
Marielle, 38 anos à tiros é executada
E em menos de 3 minutos a milícia leva embora a pessoa
amada
Será que é justa a causa?
Sem tutorial de como virar o jogo
Antes dos 28 muitos de nós tem a vida zerada
92

Slam na escola?
Deds: Que nada! É tabuada:
Agnes: 7 e 7?
Deds: São 14
Agnes: Com mais 7?
Deds: 21
Agnes: E a cada 23 minutos de nós morre 1

DEDS

Game Over!
E dessa vez não pode apertar “play” pra recomeçar
Nessa parte a vida acaba na metade sem bônus para ajudar
Massacre em multiplayer, 5 jovens de Maricá
Resolveram passear além da favela pra fazer rap
Mas nenhum deles voltou vivo de lá

Agnes: E como voltar Deds, se o fardado pago para proteger


também é programado pra matar?!
Deds: É verdade, Agnes. Nossa realidade é nível hard
Agnes: Assistir nossos filhos morrendo de frio é o quê nos faz
invadir edifícios e transformar em lares
Mas de repente, sem start o fogo invade
E como sodoma arde
Carbonizando famílias sem memory card que salve
E isso tudo por causa de 12 hectares?
24 andares?
São 146 famílias sem lares
93

Deds: Debaixo de viadutos


Do fundo do fundo do poço de Lázaro, rejuvenescidos igual
criança de profecia
Querendo enfrentar esse mundo
E eu mudo isso tudo não ficando mudo
No meio do jogo onde o escudo burguês é o luto do pobre
E tudo resulta em velório coletivo
Nas vilas não importa se é criança ou adulto
Agnes: Favelado morre do mesmo jeito
Deds: Aí a burguesia vê Cidade de Deus e acha engraçado
Sua barriga dói com tantos risos
Agnes: Eu tô rindo? Não!
Deds: Aqui a periferia da cidade vê Deus mais cedo
Acertados na barriga com tantos tiros

AGNES

Honra ao mérito é pro esquadrão da morte


Que faz mães de maio chorar de Sul a Norte
Assassinos de farda apontam o revólver e em poucos segundo
é bala no córtex
Mas que diferença faz se mais um favelado aqui jaz
Enquanto marchamos por justiça com velas e cartaz
Se no fim das contas só sai de alcatraz
Quem dá mais, quem tem mais, quem mata os pais…

Deds: Suzane Von Richthofen ganha saída


Enquanto milhares de mães presidiárias não podem ter visitas
94

Assassinas de classe rica por bom comportamento saem pra


passear
Agnes: Assim é fácil virar o jogo e a lei burlar
Deds: Ainda nos falam que a culpa é do povo que não sabe
votar...
Tu tem razão Agnes, as mãos sujas de sangue são mesmo da
polícia e do governo
Que ao invés de proteger, só sabem nos matar.

MAS A POESIA MARGINAL É SALVAÇÃO QUE FAZ A FAVELA


RESSUSCITAR

Somos POETAS VIVOS


Vida longa aos resistentes!
95

BARTH E DANOVA.

DEDS E AGNES COM G MUDO.


96
97

FOTO FINAL EM PORTO ALEGRE, RS.


99

Brasil, onde até doença lucra


onde assassinato lucra
mas sem mulher no poder
porque, luta não lucra

e de que vale tua luta


se param teu coração?
é massa ser inspiração
pra um monte de geração
mas nada disso impediu
Marielle de ir pro caixão

meu inimigos estão no poder


mas não é overdose
que mata os heróis
eles pensaram que iam deter
Marielle tá viva
aqui dentro de nós
pensaram que iam calar
100

mas cada uma aqui


reproduz sua voz
não adianta tentar nos parar
a luta não tem freio
e tá muito veloz

tô vendo
ladrão assinando contrato
assassino no anonimato
que o assunto desse ano
vai ser copa e lava-jato
e a família de Marielle?
sem resultado sensato

mas eu tô aqui
como descartes
“se penso, logo existo”
se quero, logo faço
se luto, logo insisto
se posso, não relaxo
mulher com vez e voz
é oque mais assusta macho

e agora, a gente
procura respostas
façam suas apostas
sei que tem gente
que não gosta
101

mas a nossa vida importa


não dói saber que ela morreu
dói saber que ela foi morta!

“Foi levada, Marielle


encontrou-se forçada
com o único mal irremediável
aquilo que junta tudo que é vivo
num só rebanho
porque tudo que é vivo, morre
mas no caso dela
tudo que é forte, vive”

Marielle, presente.
102

Eu sempre soube que eu posso


É que tamo dominando tudo
Fazendo crescer o negócio
Neguim que desacreditava
Quer andar com a gente
Pagando de sócio
Se tu negou do teu prato
Tu não vai comer do nosso

E eu não tô falando de bens


Tô falando do bem
Que causa a rima da mina
Por cima da sina
Que diz que ela não tem
Capacidade pra fazer melhor
Mas eu sempre soube de onde a rima vem
E eu tive uma ideia
De lá da plateia
Senti que o palco era
Meu lugar também
103

E vê se fica esperto
Amor por poesia é concreto
Sou impaciente demais
Pra ter paciência pelo tempo certo
Mas não quero sucesso
Respeito é o que eu peço
Tô fazendo protesto
Através de cada verso

E eu faço promessa com pressa


E já não me interessa
Quando eu vou cumprir
Tô juntando peça com peça
E tudo começa a evoluir
Eu faço de tudo para prosseguir
Quando dizem que eu não vou conseguir
Tudo que eu faço é pelo meu espaço
Atropelando macho
Que quer me impedir

E agora eu domino sem crime


Sou protagonista do filme
Por favor, não me subestime
Ouça o meu rap sublime
Se for pra julgar
Antes de me escutar
Quando for pra jogar
Nem entra no meu time
104

E agora derrubando muro


Mc modinha tá mudo
Que Aqualtune me acuda
Pois cada irmão eu acudo
Ninguém nunca me iludiu
Sempre sou eu que me iludo
Não me iludo muito
Pois meu pensamento
Já me confirmou
Que agora eu posso tudo

E pra quem desacreditou


Isso não foi sorte
Nem o destino
É que o bonde das mina cansou
De ouvir que rap é só pra menino
E as mina bruxa
Tudo vindo braba
Tipo, abracadabra
Já tão com o domínio
E só pra deixar avisado
O comando agora vai ser feminino
105

Sou preta, favelada


e vou calando a boca
de quem quer me ver calada
não me calo, porque meu povo
fez isso por muito tempo
agora eu tô forte demais
pra lutar em qualquer momento
produzindo e dizendo versos
que ajudam no meu crescimento
e antes de pedir licença
eu peço discernimento
pra que saibam
que nem toda resposta diferente
tá errada
que ninguém para no caminho
porque a barra tá pesada
eu sou preta, favelada
e vou calando a boca
de quem quer me ver calada
106

E já tentaram me calar
quando disseram na batalha
que eu não sabia rimar
me mandaram lavar pratos
e a casa arrumar
não fui pior que nenhum
e mostrei pra cada um
onde era o meu lugar
e a partir dali
quem disse que eu ia parar?
ainda tô na caminhada
eu sou preta, favelada
e vou calando a boca
de quem quer me ver calada

Pra todos os efeitos


o negrinho é o suspeito
pro pai que formou o filho
que pegou fila com o preto
daí que vem o crime perfeito
botar o prato cheio
não comer ele inteiro
porque já tá satisfeito
e que se dane o sistema
querendo o preto silenciado
e pra sua informação
vai ter mais preto formado
do que algemado
107

de frente pro delegado


e como essa galera aqui
garanto que eu não tô parada
eu sou preta, favelada
e vou calando a boca
de quem quer me ver calada

Por saber que não tô sozinha


pras minas, eu agradeço
é triste, eu reconheço
saber que pra termos valor
precisamos pagar um preço
mas vamos pagar
sem aturar macho comédia
vomitando desrespeito
fazendo eles engolirem tudo
agora é do nosso jeito
eles vão ter que aprender
a tratar as manas direito
porque mulher já tá cansada
de tanto ser maltratada
somos pretas, faveladas
e vamos calar a boca
de quem quer nos ver caladas.
108

LETÍCIA CARVALHO EM RECIFE, PE.

MC LILO EM RECIFE, PE.


109

NAIA E BIONE. EM RECIFE, PE.

FERNANDA MARTINS EM RECIFE, PE.


111

DEDS E AGNES COM G MUDO, PRESENTES NA FINAL EM SÃO PAULO


112

DEDS E AGNES COM G MUDO, A DUPLA VENCEDORA NA FINAL


EM SÃO PAULO, SP.

MB E JHÚLIA, SLAMMERS DO ACRE NA FINAL EM SÃO PAULO.


113

É gratificante fazer minha denúncia por meio de poesia,


quando isso ocorre em uma cidade histórica como São Paulo,
ao lado de poetas grandiosos, em um movimento cultural tão
lindo como o Slam é surreal.
Foi uma honra imensa conhecer pessoas maravilhosas
como Alcalde, Cristina, Patrícia Meira, Deusa, Roberta Estrela
D’alva, Patrícia Naia, Bione, Jhulia, Evanílson, Kuma, Biro-biro,
Nenzim, MB e tatos outros que fizeram da minha São Paulo,
uma selva de afeto e resistência.
Existem momentos na vida que só a poesia pode
proporcionar, e ter conhecido esses militantes líricos é um
deles. O slam em dupla foi uma experiência única.
Poesia salva e une vidas. Eu e o Deds mal nos conhecíamos
quando ele me convidou para fazer parte disso. Eu conhecia as
poesias dele e já o admirava muito, com a competição isso só
aumentou.
Voltamos de São Paulo não apenas com o troféu, mas
com uma amizade que levaremos pelo resto da vida. Dividir
essa inquietação em linhas, versos e sentimentos com o Felipe
114

Deds foi maravilhoso. Sou muita grata pelo convite e pela


paciência que ele teve comigo, ele é um ser iluminado e um
poeta sensacional. Estivemos em sintonia desde a transposição
de cada estrofe para o papel até o abraço apertado na final
com a sensação de que o compromisso foi cumprido.
Essa conquista não pertence só a nós, mas as nossas
famílias, amigos e pessoas que vibraram, se emocionaram,
acreditaram e vociferaram cada poesia junto com a gente.
Essa conquista é da minha poesia mais bonita, minha
esposa Renata que com amor acalenta as minhas inquietações.
É do Felipe Deds por ter sido um gigante de aço na hora de
acreditar.
É de todos os poetas que participaram desse Slam
desde a etapa regional. É de todos os slam que me permitiram
tornar isso possível SLAM DAS MINAS, SLAM RS, SLAM DA
TINGA, SLAM SOPAPO e a organização do SLAM PELEIA. Muito
obrigada, sem vocês seria só um sonho.
Palmas pra nós!
AGNES

SLAM NA MINHA VIDA


O Slam Nacional em Duplas foi a maior experiência
poética que eu já tive, sem dúvidas. Eu participo dos slams aqui
de Porto Alegre (RS) desde Outubro de 2017, e sempre admirei
demais os poetas de outros estados, já que acompanhava pela
internet antes de surgir o movimento aqui. Lembro-me da
minha primeira experiência no slam, como plateia. Eu pensei:
“nossa, eu preciso ir ali”. No começo eu recitava minhas letras
de rap, sem saber que aquilo era a própria poesia.
115

Desde lá, tudo foi acontecendo muito rápido pra mim.


Participei da nossa primeira final regional, onde nem passei de
fase, mas saí tão cheio de energia que decidi seguir escrevendo
cada vez mais. Em novembro de 2017 ganhei meu primeiro
título, e a energia foi inexplicável. Nunca mais parei de recitar.
Logo em seguida, eu e o poeta Bruno Negrão criamos o Slam
da Tinga, na zona sul de Porto Alegre, em uma área periférica,
buscando expandir o movimento dentro das quebradas. Foi
um sucesso. Algumas semanas depois da primeira edição, eu
recebi um convite para ir recitar e falar um pouco sobre o slam
em um projeto social para jovens, Centro da Juventude (POD),
desse mesmo bairro. Aconteceu que comecei a trabalhar lá
como educador dando oficinas de poesia e estimulando a
escrita de adolescentes, dentro dessa zona considera de “risco”.
Fiquei muito feliz em ter a oportunidade de expandir essa
cultura com outros adolescentes. Foi incrível isso que o Slam
me proporcionou. Conheci e virei amigo de pessoas incríveis
que espero levar pra vida toda. Eu amo os poetas do RS.

EU E A AGNES NO SUL
Foi aí que eu conheci a Agnes, uma das mulheres mais
representativas que eu já vi. Ela foi competir na segunda
edição do Slam da Tinga. Na hora que eu ouvi os versos, bateu.
A emoção em cada palavra, a verdade nas linhas... Foi demais.
Mas nós não tínhamos o contato um do outro.
Meses depois, quando foi anunciado o Slam Nacional
em Duplas, pensei que seria um grande desafio, e até então
eu não tinha uma dupla fixa. Foi numa dessas vendo os
116

outros poetas se movimentarem em prol do evento, que eu


comecei a pensar em todxs que eu já tinha ouvido recitar. “Vou
falar com a Agnes, me identifico com as linhas dela”, pensei.
Quando eu fiz o convite, ela aceitou e disse que admirava meu
trabalho como poeta, o quê foi uma honra enorme pra mim.
Porém nesse momento, faltava apenas um mês para o Slam
Nacional em Duplas - Etapa Sul. Sabíamos que não seria fácil,
mas queríamos e precisávamos ser ouvidos.
Nesse curto período, conseguimos criar três poesias.
O dia da eliminatória aqui em Porto Alegre foi fantástico e
inesquecível. As duplas eram incríveis e os poemas nos faziam
vibrar do inicio ao fim. Um salve e máximo respeito a dupla que
ficou em segundo lugar, Bruno Negrão e Cristal Rocha, nossos
primeiros representantes fora do estado. Sou mais que fã
deles. Também a dupla que ficou em terceiro, Barth e DaNova,
que por sinal é integrante do meu grupo de rap: Síganus. E
obviamente, a todas as duplas do Sul que participaram. Foi
emoção atrás de emoção. Um dia para ficar na memória de
todos os slammers do RS.

SLAM NACIONAL EM DUPLAS –


ETAPA FINAL EM SÃO PAULO
Tivemos um mês desde a etapa regional para assimilar
tudo que estava acontecendo, e entender a responsabilidade
de sermos os representantes do SUL nessa competição. Foi um
grande mês de preparo, e cada vez mais nós dois ficávamos
próximos um do outro. Construímos uma relação de amizade
incrível, e hoje eu posso afirmar que Agnes está entre as
pessoas mais importantes do meu dia a dia.
117

Agradeço novamente a importância dos nossos amigos


e poetas daqui da cidade, pois todos nos ajudaram muito
desde o inicio, com um apoio enorme.
Quando chegamos em São Paulo conhecemos as outras
duplas pessoalmente, todxs poetas que eu já conhecia o
trabalho através da internet e era fã. Logo de cara recebemos
o convite para ir gravar no programa “Manos e Minas” na TV
Cultura. Empolgação e felicidade nos definiam. Foi uma tarde
incrível, fomos muito bem recepcionados. Depois de lá, fomos
direto para o local onde aconteceria o Slam.
A energia do evento e de todas as duplas era a maior
que eu já tinha visto. Foi tão emocionante que foi decidido nos
acréscimos, em uma quarta rodada. Quando nos anunciaram
campeões, eu só conseguia pensar nos nossos amigos em
Porto Alegre, que não pararam de nos mandar mensagens em
nenhum momento. Eu sou muito fã da dupla Kuma França e
Evanilson Alves, são verdadeiros gigantes escrevendo.
Foi um prazer enorme conhecer todas as duplas. Biro-
Biro, Nenzin, Bione, Naia, Felipe Marinho, Cleyton Mendes,
Luiza Romão, Jo Freitas, Kuma França e Evanilson Alves são
verdadeiros “Gigantes de Aço na Hora de Lutar”. Ganhei
muito mais que um título, ganhei amigos. Essa viagem me fez
conhecer pessoas que me identifiquei nas vivências e no jeito
de enfrentar a vida. No fim, todos nós somos Poetas Vivos.
Agradecimentos ao Emerson e a Cristina que viajaram
até Porto Alegre, tornando tudo real. Também ao coletivo Slam
Peleia, que tornou possível essa ponte. Sem todas essas pessoas
por trás das câmeras, nada seria real. Obrigado também a
Fundação Perseu Abramo (FPA), por dar vida ao projeto.
118

Por fim, agradeço sempre a Agnes, por ter aceitado meu


convite e vivido esse sonho junto comigo. Nada teria graça se
eu estivesse sozinho. Eu sou fã e amigo dessa mulher.
Minha experiência em São Paulo me mostrou coisas
que nunca pensei que pudesse entender, e tudo isso graças
ao Slam. Realmente, o mundo é de quem sonha e luta para
realizar.
“Bem vindos ao terrorismo lírico em ação, diretamente
do umbral da zona sul.”
119

NAIA E BIONE, NA FINAL EM SÃO PAULO.

CLEYTON MENDES E FELIPE MARINHO, NA FINAL EM SÃO PAULO.


120

INTERVENÇÃO DO COLETIVO ALCOVA DA DEUSA, COM PATRÍCIA MEIRA,


DANIELA ROSA E DEUSA POETIZA, EM SÃO PAULO.

ERIKA MOTA, TRADUTORA DE LIBRAS, EM SÃO PAULO.


121

DEDS E AGNES COM G MUDO, EM SÃO PAULO.

ARTUR HENRIQUE, LUIZ MARINHO E EDUARDO SUPLICY PRESENTES NA


FINAL, EM SÃO PAULO.
123

EMERSON ALCALDE

Mais do que responder a infame pergunta se o Acre


existe, o Acre mostrou que resiste a exploração e a exclusão
com poesia. A Praça da Princesinha ficou pequenininha
perto de tantos manos e minas, descendentes huni kuin,
quilombolas e seringueiros, tomados pela força do açaí e da
farinha com feijão realizaram no norte a edição mais cheia das
etapas regionais do Slam Nacional em Dupla – Brasil que o
Povo Quer – FPA.
Após a chuva, 11 duplas entraram no espaço sagrado
da roda cercada por árvores performando toda a diversidade
amazônica em uma batida poética plural, mixando a tradição
com inovação, não faltaram poesias clássicas, rap e versos livres.
Arrancaram gritos, sussurros, risadas em pleno triste trópico
de uma plateia de mais de 200 pessoas apaixonadas, que
jamais deixarão a borracha apagar a sua história de resistência,
ACREditando sempre nos ensinamentos da floresta. Um olho
estava no BBB na torcida pela conterrânea Gleice, que além de
124

fazer parte da Juventude do PT, também ajudou a fundar este


slam, mas seu outro olho e seus ouvidos estavam direcionados
para a batalha, não era pra menos, pois essa seria a primeira
vez que a voz acreana estava tendo representatividade em um
festival nacional de spoken word.
Estou com a Roberta Estrela D’Alva, eu na condição
slammer e ela de slammaster, juntos há exatamente dez anos,
e remexemos em nossas memórias relembramos projeções
elucubradas que o slam poderia crescer no Brasil: imagina
quando o slam extrapolar a zona autônoma e chegar na zona
franca? Vixi... será que um dia vai a chegar outras cidades e
estados? Esse dia chegou e nós dois estávamos novamente
lá, de corpo presente, vivendo esse momento místico e
histórico. “Está escrito nas estrelas, vai reclamar com Deus”.
Após uma década, o slam com autonomia e franqueza chegou
organicamente em todo território nacional.
125

EMERSON ALCALDE, organizador


Artista da Poesia Falada, produtor cultural, ator,
slammaster do Slam da Guilhermina, um dos mais tradicionais
de São Paulo (SP) e do Sófálá – do Red Bull Station. Autor
dos livros: (A) MASSA e O Vendedor de Travesseiros. Criou
poemas para o disco “...ENTRE...” do Kamau. Apresentou-se na
FLIP, FLUPP, Feira do livro de Poços de Caldas (MG), Feira do
Livro de Picos (PI), Feira do Livro de Buenos Aires (Argentina),
Bienal do Livro de São Paulo, Virada Cultural (SP), Cidadania das
Ruas e eventos internacionais de Spoken Word na Venezuela,
Argentina, Canadá, Caribe e França. Vice-Campeão do Mundo
de Slam em 2014.

CRISTINA ASSUNÇÃO
Mestre em História pela PUC-SP, professora, atriz,
slammaster e moradora da Cohab I. Desde 2006, atua na área de
audiovisual. Em 2011, dirigiu o documentário “Jardim Samara:
História e Identidade” e escreveu o livro homônimo que retrata
a história do bairro, com o apoio do Programa VAI. É membro
126

do coletivo de trabalhadores da cultura Dolores Boca Aberta


Mecatrônica de Artes. Em 2015 atuou na peça “O Direito à
Preguiça”, baseada na obra de Paul Lafarge. Atualmente atua na
peça “Rolezinho”. É membro fundador do Slam da Guilhermina
e desde o início o documenta e produz. Em dezembro de 2015
passou a ser Slammaster do evento.

MARIANA FÉLIX
Escritora, slammaster e feminista. Publicou dois livros
“Mania” (2016) e “Vício” (2017), além de dois fanzines: “Só se
for uma rapidinha”, com poesias curtas de amor, e “Gavetas”,
com versos livres de amor. Faz parte do coletivo Prosa Poética
(coletivo formado apenas por mulheres) e apresenta o
programa “Além da Poesia”, transmitido pela TVT.

PATRÍCIA MEIRA
Organizadora e idealizadora do Coletivo Alcova. Realiza
ocupações culturais e oficinas de escrita marginal mensalmente
e de forma itinerante por diversos lugares de São Paulo com o
Sarau Alcova da Deusa. Atua como slammer – termo designado
a poetas no Slam, que por sua vez, são encontros de poesia
falada (Spoken Word) e performática. Ganhadora do Slam
da Guilhermina em 2016. Ganhadora do Slam Função em
2016. Ganhadora do Slam Uma Tacada Só (2016), do Slam
Racha Coração (2018) e do ZAP Slam (2018). Publicou o “Por
Amar Outra Mulher, Resisto (2018). Integrante do espetáculo
de moda CONTRA-CULTURA do brechó Replay na Casa dos
criadores, em 2017. Convidada do programa MANOS E MINAS
127

da TV Cultura, para o espaço de poesia e dos Slams em 2018.


Campeão da Grande Batalha de Slams de São Paulo, em 2018.
Participa das antologias poéticas: 4.0 do Slam da Guilhermina
(2018), Sarau do Peixe (2017 e 2018), Slam das Minas (2018),
Slam da Ponta (2018), Sarau Urutu (2018), Slam Gracinha (2017).

ROBERTA ESTRELA D’ALVA


Atriz-MC, diretora, diretora musical, pesquisadora,
slammer, Roberta Estrela D’Alva é Bacharel em Artes Cênicas
com Habilitação em Interpretação pela USP e Mestre em
Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Membro fundadora
do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e do coletivo Frente
3 de Fevereiro, é idealizadora e slammaster do ZAP! Zona
Autônoma da Palavra, primeiro “poetry slam” (campeonato
de poesia) brasileiro. Em novembro de 2014 foi publicado o
seu primeiro livro “Teatro Hip-Hop, a performance poética do
ator-MC“, pela editora Perspectiva. É curadora e apresentadora
do Rio Poetry Slam, primeiro slam internacional da América
Latina, que acontece anualmente dentro da Festa Literária das
Periferias (FLUP) Rio de Janeiro e apresentadora do programa
Manos e Minas da TV Cultura.

EVANILSON ALVES
Evanilson Alves dos Santos é natural de São Felipe (BA),
mas reside em Salvador. É idealizador do Sarau da Onça e do
Grupo recital Ágape. É poeta, slamer, slammaster, articulador
de juventude, professor da Fundação da Criança e do
Adolescentes (Fundac), produtor cultural e escritor, com dois
128

livros lançados: “O diferencial da favela poesias quebradas de


quebrada” (2014) e “A Poesia Cria Asas” (2014). Organizou o livro
“Força Feminina: a poesia que liberta”, composto por poemas
de internas da CASE Feminina, Editora Galinha Pulando,
2017. Organiza o Slam Deixa Acontecer, batalha de poesias
periféricas no fim de linha da Sussuarana Velha. Tem um poema
a ser publicado no livro “Poéticas periféricas: novas vozes da
poesia soteropolitana”, Editora Galinha Pulando, 2018. E outro
livro no prelo, “A cada linha um desabafo”, a sair pela Editora
Galinha Pulando. Participou do Slam Brasil 2016, em São Paulo,
representando o nordeste. Participou do Slam Nacional em
Dupla 2018, representando o nordeste, onde foi vice campeão.

MEIMEI BASTOS
É atriz, escritora, poeta, slammer/slammaster, arteedu­
cadora, estudante de Artes Cênicas na Universidade de Brasília
(UnB). Atualmente ocupa uma cadeira como conselheira de
Cultura em Samambaia. Nasceu no dia 14 de Agosto de 1991,
em Ceilândia (DF). Atua em movimentos sociais promovendo
saraus, slams, cine clubes, oficinas de escrita criativa, rodas de
conversa e debates, focados na juventude negra e na população
periférica. Em 2017, publicou seu primeiro livro, ‘Um verso e Mei’,
pela editora Malê. Colaborou na publicação da antologia ‘Mulher
Quebrada’, que reúne escritos de diversas mulheres da periferia
do DF e entorno. Participou da edição de número 21 da revista
Traços, de Brasília.
129

SLAM Q’BRADA (DF)


No dia 01 de abril, durante o I - Encontro de Literatura
Marginal do DF, nasceu o Slam Q’Brada. no Espaço Cultural
Ubuntu, no Recanto das Emas(DF), com a participação de
diversos poetas e fazedores culturais. Coordenado e organizado
por Meimei Bastos, poeta, escritora e slammer/slammaster do
DF, a batalha de poesia falada Q’brada, propõe a valorização da
palavra falada, da poesia e da escrita produzida nas periferias.
Realizado de forma itinerante, o Slam Q’brada completou
um ano de atividade a pleno vapor, tendo edições em várias
regiões administrativas do DF, do Recanto à Ceilândia, do
CCBB-Brasília à Samambaia.

SLAM DAS MINAS PE


O Slam das Minas PE é uma batalha de poesia falada que
está percorrendo praças, e lugares diversos da Cidade e das
cidades ao redor, que reúne performances e poesia durante
as apresentações. O Slam das Minas PE, iniciado em agosto de
2017, vem trazendo para o Estado a força da poesia feminina
e a resistência de estar no espaço público escrevendo novas
histórias.
130

SLAM DA GUILHERMINA SP
O Slam da Guilhermina é um campeonato de poesias
faladas – o 2º Poetry Slam do Brasil – e o primeiro a ser
realizado na rua. O evento reúne mensalmente mais de
300 pessoas em uma praça (arena) a céu aberto na Vila
Guilhermina, zona leste paulistana, desde fevereiro de 2012.
Responsável pela organização e produção do Slam Interescolar
SP, o coletivo é composto por Cristina Assunção, Emerson
Alcalde e Uilian Chapéu.

SLAM PELEIA RS
O Slam Peleia existe desde março de 2017. Acontece nas
últimas sextas-feiras do mês no Largo Zumbi dos Palmares, na
Cidade Baixa, atraindo centenas de pessoas. Atualmente, está na
sua 14ª edição. Foi do Slam Peleia que surgiram os poetas que
representaram o Rio Grande do Sul na Final do Slam BR 2017,
em São Paulo, após a seletiva regional. Foi o primeiro slam com
participação livre da cidade. Atualmente, o coletivo é composto
por quatro mulheres. São profissionais de diversas áreas que
acreditam no poder da poesia, da palavra falada, da presença e
do corpo para comunicar e, principalmente, para ouvir.

SLAM ACRE – COLETIVO MOBILIZA AC


O Slam Acre surgiu em agosto de 2017, de agosto até
hoje (um ano depois) realizaram sete edições. Existia uma
vácuo grande na cena da poesia Acreana e depois de assistir
alguns slam da Guilhermina e da Resistência, resolveram
chamar amigos e amigas para ajudar. No começo, poucas
131

pessoas acreditavam que poderia dar certo, mas a poesia


sempre vence. O Slam Acre conta hoje com 23 poetas que
fomentam e fazem parte do movimento. É muita felicidade ter
o slam como referência de saída para alguns jovens.
deste), Brasília (Centro-Oeste), O movimento de slam nasceu

EMERSON ALCADE (ORG.)


São Paulo (Sudeste) e Porto na década de 1980, em Chi-
Alegre (Sul). cago e vem crescendo pelo
mundo, incentivando a ex-
Em 18 de maio de 2018, em
pressão e a emancipação por
São Paulo (SP), a grande fi- Os slams são campeonatos de poesia meio da arte, ocupando os
nal do Slam Nacional em de autoria própria, sem adereços espaços públicos das cidades.
Dupla – Brasil que o Povo ou acompanhamento musical.
Quer. Após uma disputa acir- Com texto escrito previamente Há poucos anos no Brasil, já

BRASIL QUE O POVO QUER


rada, com direito a rodada de ou improvisado, não há regras possui dezenas de iniciativas
desempate, venceu a dupla espalhadas pelo país, em di-
sobre o formato da poesia.
gaúcha formada pelos poetas versos formatos e locais. As
O júri é escolhido na hora e dá notas
Deds e Agnes com G mudo. competições possuem um
inteiras ou fracionadas de 0 a 10.
caráter comunitário e inclusi-
Conforme nos diz Emerson Al- Entre todos os competidores, vo, com grande impacto no
calde, coordenador executivo a maior nota vence.

Slam
público jovem e periférico,
do projeto e organizador do
tratando em sua maioria de
livro, “o Slam Nacional em Du-
conteúdos urbanos como a

Slam Nacional em Dupla


pla trouxe, além do ineditismo

Nacional
desigualdade social, racismo,
da linguagem, um novo fôle-
violência policial, homofobia,
go para a cena, endossando
machismo, intolerância reli-
ainda mais o caráter político e

em Dupla
giosa, entre outros.
social do slam”.
Este livro traz o resultado fi-
Boa leitura!
nal nacional e todas as eta-
pas estaduais desta iniciativa
da Fundação Perseu Abramo
BRASIL QUE O POVO QUER (FPA), por intermédio de seus
projetos Brasil que o Povo Quer
EMERSON ALCALDE (ORG.) e Reconexão Periferias. O even-
to contou com poetas repre-
sentantes das regiões do país,
com etapas em Rio Branco
(Norte), Salvador e Recife (Nor-

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