Slam Web
Slam Web
Slam Web
Slam
público jovem e periférico,
do projeto e organizador do
tratando em sua maioria de
livro, “o Slam Nacional em Du-
conteúdos urbanos como a
Nacional
desigualdade social, racismo,
da linguagem, um novo fôle-
violência policial, homofobia,
go para a cena, endossando
machismo, intolerância reli-
ainda mais o caráter político e
em Dupla
giosa, entre outros.
social do slam”.
Este livro traz o resultado fi-
Boa leitura!
nal nacional e todas as eta-
pas estaduais desta iniciativa
da Fundação Perseu Abramo
BRASIL QUE O POVO QUER (FPA), por intermédio de seus
projetos Brasil que o Povo Quer
EMERSON ALCALDE (ORG.) e Reconexão Periferias. O even-
to contou com poetas repre-
sentantes das regiões do país,
com etapas em Rio Branco
(Norte), Salvador e Recife (Nor-
BRASIL QUE O POVO QUER
DIRETORIA
Presidente: Marcio Pochmann (licenciado)
Diretoras: Isabel dos Anjos e Rosana Ramos
Diretores: Artur Henrique e Joaquim Soriano
S631 Slam Nacional em Dupla : Brasil que o povo quer / Emerson Alcalde
(org.). – São Paulo : Fundação Perseu Abramo, 2018.
132p. ; 21 cm.
ISBN 978-85-5708-123-9
5 INTRODUÇÃO
9 ETAPA SUDESTE I
23 ETAPA SUDESTE II
39 ETAPA NORDESTE I
53 ETAPA CENTRO-OESTE
67 ETAPA NORTE
79 ETAPA SUL
97 ETAPA NORDESTE II
129 ORGANIZADORES
SLAM NACIONAL EM DUPLA
Ficha técnica
Cristina Assunção
Coordenadora da etapa Sul
Mariana Félix
Coordenadora da etapa Centro-Oeste
Patrícia Meira
Coordenadora da etapa Nordeste
Emerson Alcalde
Escritor e slammer
Coordenador geral do projeto SLAM NACIONAL EM DUPLA - FPA
9
CLEYTON MENDES
CLEYTON MENDES
FELIPE MARINHO
eu, o neguinho
que você sente medo
quando me vê
do outro lado da rua
aquele neguinho
que passou a vida inteira
em branco
que só não foi esquecido
pelo cassetete e a viatura
aquele neguinho
que cês estupraram no canavial
que no tronco cês tiraram o sangue
que hoje cês diminuem
mais enfatiza seu pau grande
19
vocês
que trouxeram doenças
pra nossa América
que matou antigas civilizações
que trouxeram consigo
a antiga bancada evangélica
entendam
preto também tem história
o egito não é branco
rafael braga não é culpado
tira pobre e preto de sujo
mas vocês que lava? jato.
não é novidade
que mais um preto foi açoitado
no poste foi amarrado
esse não tinha olhos azuis
mas disseram
que bandido bom é bandido morto
me disseram
que odeiam cultos africanos
por causa da galinha morta
que na janta come bife
que usa jaqueta de coro
e que é de frango a sua torta
seja na senzala
ou lavando banheiro
21
no tronco ou quando
na carteira de trabalho
ele te registra
não importa qual a forma
que o sistema te domina
JÔ FREITAS
E eu respondo
Agora escuta aqui o que tenho pra te falar
Se eu falo ou escrevo não é você que tem que aprovar
Tu me querias empregada
E hoje é dos livros que me armo
Tu me querias submissa
E hoje rezo a missa da morte de teus privilégios
LUIZA ROMÃO
mas a caneta
num ato de legítima revolta
como quem se cansa de reproduzir sempre a mesma história
me disse
para e volta
volta pro começo da frase
pro começo do livro
pro começo da história
volta pra cabral e as cruzes lusitanas
e se pergunte
DA ONDE VEM ESSE NOME?
palavra mercadoria
brasil
PAU-BRASIL
matas virgens
virgens morta
a colonização foi um estupro
pedro ejaculando-se
dom precoce
deodoro metendo a espada
entre as pernas
de uma princesa babel
costa e silva gemendo cinco vezes
ai ai ai ai ai
ai-5
JÔ FREITAS
Não cozinho
Mas o meu tempero
É a luta
Com pitadas revolucionarias
E açucaradas de prazer
E a única coisa que passo
É o teu machismo
Pra bem longe
Das minhas
Parceiras, guerreiras e dandaras
Dizer está muito além de sua prática
Dizer pra me calar
Xiiiiiiiii
Sai pra lá, não me rebaixe
Não beijarei teus pés
Não alimentarei teu papo manipulado
Que acha que mulher
Tem que ficar no tanque
E seu amor esmolar
Você está enganado
Meu corpo é livre
Meu ventre é livre
E de fato, eu acho que não sou mulher pra casar
Mas, cuidado
Se você quiser
O único tanque
Que eu vou estar
É o de guerra
34
LUIZA ROMÃO
fomos tantas
tanto tempo
silenciadas
joanas d’arc estrangeiras
nossa guerra dos cem anos
é dentro da fronteira
36
fomos matéria-prima
corpo-a-prêmio
passatempo de feitor
em nome do pai
do marido
e do espírito do pastor
se falas tanto em igualdade
pra que manter um senhor?
Sororidade de poesia
Respeito de poesia
Gratidão linda em poesia
Amor de poesia
Eu sou bantu
Eu sou griot, xamã, Babalorixá
Andar com fé eu vou ela não costuma falhar
Eu sou a insistência
Com a pirraça de Oxalá
Evanilson Alves
Kuma França
A piada que vocês não vão contar
45
Postura firme
Afirma que a militância
Não enfraquece
Por fazer uso de um baseado
Frustração eminente
O sentimento que fica é desistir
Mas volto atrás ao ouvir Pedro Zaki, dizer
Que meu verso o manteve vivo até aqui
Competidor por essência
Mas dentro e fora dos palcos
Valorizo os meus
Sua arrogância te cega
Talvez seja por isso que não compreendeu
A gente está de pé
Se mantendo resistente
E a nossa união incomoda muita gente
Se prepara Sistema
Vou ser o dedo na sua cara
Vou tirar a sua paz
Pois se Exu abriu o meu caminho, porra
Ninguém me para mais
52
MEIMEI BASTOS.
55
E elementar meu caro Chicó, foi o que disse João Grilo quando
soube da lida
E depois no Topo do Big-Ben, eu vi Sherlock contar pra Watson
a história em Londres do Auto da Compadecida
Na saudosa maloca
Sinatra mata um cupcake de paçoca
Enquanto no Empire State quem canta é Adoniran
Eu só sei que notei que fui num rolê com Sheik e tomei um
shake, tô mei que maluco
Vi Ventania, Alceu Valença e Johnny Cash num luau numa praia
em Pernambuco
A gente só se loga
E logo, larga
A passos largos
Pra uma solidão compartilhada que não se esgota
Nós trocamos as conexões astrais pela wi-fi
61
Caos à vista,
Sejam todos bem vindos ao século XXI:
Desequilíbrio evidente entre entre bom senso e senso comum
Só que na verdade nosso povo não vai pra frente sem saber
pelo o que estão lutando
Regime militar?
Opa opa pera lá! Vocês estão falando de surrar matar e
apedrejar?
Já pensou se o branco
Fosse oprimido com o preto no poder!
se o branco fosse excluído com o preto no poder!
Se o branco fosse morto com o preto no poder!
o pior, que isso tudo acontece com o preto, e é os brancos que
tão no poder!
Ele - Negativo!
Eu digo que não!
Já me preocupo com muitas coisas ainda vou ter que pagar
pensão!
Pode esquecer essa ideia! O aborto é a solução!
DEDS
AGNES
DEDS
AGNES
AGNES
É por isso que veneno na boca de quem tem amor pela causa
DÁ VOZ, não mata
84
DEDS
É que
Somos “Gigantes de Aço” na hora de lutar
E pra não esquecerem de mim
Meu fim vai ser no Largo do Zumbi:
PORTO ALEGRE DE VOLTA AO LAR
AGNES E DEDS
DEDS
AGNES
AGNES
DEDS
DEDS
DEDS
AGNES
DEDS
AGNES
AGNES
AGNES E DEDS
DEDS
Atenção!
Agora as notícias diárias...
AGNES
NÃO!
A fúria que o sistema trata a favela
Na tela da SMART não passa
Tipo faces da morte
Atenção: cenas fortes
IMAGEM CENSURADA
A cor da pele imita a cor da tarja
Preta, mulher, militante da causa
Marielle, 38 anos à tiros é executada
E em menos de 3 minutos a milícia leva embora a pessoa
amada
Será que é justa a causa?
Sem tutorial de como virar o jogo
Antes dos 28 muitos de nós tem a vida zerada
92
Slam na escola?
Deds: Que nada! É tabuada:
Agnes: 7 e 7?
Deds: São 14
Agnes: Com mais 7?
Deds: 21
Agnes: E a cada 23 minutos de nós morre 1
DEDS
Game Over!
E dessa vez não pode apertar “play” pra recomeçar
Nessa parte a vida acaba na metade sem bônus para ajudar
Massacre em multiplayer, 5 jovens de Maricá
Resolveram passear além da favela pra fazer rap
Mas nenhum deles voltou vivo de lá
AGNES
BARTH E DANOVA.
tô vendo
ladrão assinando contrato
assassino no anonimato
que o assunto desse ano
vai ser copa e lava-jato
e a família de Marielle?
sem resultado sensato
mas eu tô aqui
como descartes
“se penso, logo existo”
se quero, logo faço
se luto, logo insisto
se posso, não relaxo
mulher com vez e voz
é oque mais assusta macho
e agora, a gente
procura respostas
façam suas apostas
sei que tem gente
que não gosta
101
Marielle, presente.
102
E vê se fica esperto
Amor por poesia é concreto
Sou impaciente demais
Pra ter paciência pelo tempo certo
Mas não quero sucesso
Respeito é o que eu peço
Tô fazendo protesto
Através de cada verso
E já tentaram me calar
quando disseram na batalha
que eu não sabia rimar
me mandaram lavar pratos
e a casa arrumar
não fui pior que nenhum
e mostrei pra cada um
onde era o meu lugar
e a partir dali
quem disse que eu ia parar?
ainda tô na caminhada
eu sou preta, favelada
e vou calando a boca
de quem quer me ver calada
EU E A AGNES NO SUL
Foi aí que eu conheci a Agnes, uma das mulheres mais
representativas que eu já vi. Ela foi competir na segunda
edição do Slam da Tinga. Na hora que eu ouvi os versos, bateu.
A emoção em cada palavra, a verdade nas linhas... Foi demais.
Mas nós não tínhamos o contato um do outro.
Meses depois, quando foi anunciado o Slam Nacional
em Duplas, pensei que seria um grande desafio, e até então
eu não tinha uma dupla fixa. Foi numa dessas vendo os
116
EMERSON ALCALDE
CRISTINA ASSUNÇÃO
Mestre em História pela PUC-SP, professora, atriz,
slammaster e moradora da Cohab I. Desde 2006, atua na área de
audiovisual. Em 2011, dirigiu o documentário “Jardim Samara:
História e Identidade” e escreveu o livro homônimo que retrata
a história do bairro, com o apoio do Programa VAI. É membro
126
MARIANA FÉLIX
Escritora, slammaster e feminista. Publicou dois livros
“Mania” (2016) e “Vício” (2017), além de dois fanzines: “Só se
for uma rapidinha”, com poesias curtas de amor, e “Gavetas”,
com versos livres de amor. Faz parte do coletivo Prosa Poética
(coletivo formado apenas por mulheres) e apresenta o
programa “Além da Poesia”, transmitido pela TVT.
PATRÍCIA MEIRA
Organizadora e idealizadora do Coletivo Alcova. Realiza
ocupações culturais e oficinas de escrita marginal mensalmente
e de forma itinerante por diversos lugares de São Paulo com o
Sarau Alcova da Deusa. Atua como slammer – termo designado
a poetas no Slam, que por sua vez, são encontros de poesia
falada (Spoken Word) e performática. Ganhadora do Slam
da Guilhermina em 2016. Ganhadora do Slam Função em
2016. Ganhadora do Slam Uma Tacada Só (2016), do Slam
Racha Coração (2018) e do ZAP Slam (2018). Publicou o “Por
Amar Outra Mulher, Resisto (2018). Integrante do espetáculo
de moda CONTRA-CULTURA do brechó Replay na Casa dos
criadores, em 2017. Convidada do programa MANOS E MINAS
127
EVANILSON ALVES
Evanilson Alves dos Santos é natural de São Felipe (BA),
mas reside em Salvador. É idealizador do Sarau da Onça e do
Grupo recital Ágape. É poeta, slamer, slammaster, articulador
de juventude, professor da Fundação da Criança e do
Adolescentes (Fundac), produtor cultural e escritor, com dois
128
MEIMEI BASTOS
É atriz, escritora, poeta, slammer/slammaster, arteedu
cadora, estudante de Artes Cênicas na Universidade de Brasília
(UnB). Atualmente ocupa uma cadeira como conselheira de
Cultura em Samambaia. Nasceu no dia 14 de Agosto de 1991,
em Ceilândia (DF). Atua em movimentos sociais promovendo
saraus, slams, cine clubes, oficinas de escrita criativa, rodas de
conversa e debates, focados na juventude negra e na população
periférica. Em 2017, publicou seu primeiro livro, ‘Um verso e Mei’,
pela editora Malê. Colaborou na publicação da antologia ‘Mulher
Quebrada’, que reúne escritos de diversas mulheres da periferia
do DF e entorno. Participou da edição de número 21 da revista
Traços, de Brasília.
129
SLAM DA GUILHERMINA SP
O Slam da Guilhermina é um campeonato de poesias
faladas – o 2º Poetry Slam do Brasil – e o primeiro a ser
realizado na rua. O evento reúne mensalmente mais de
300 pessoas em uma praça (arena) a céu aberto na Vila
Guilhermina, zona leste paulistana, desde fevereiro de 2012.
Responsável pela organização e produção do Slam Interescolar
SP, o coletivo é composto por Cristina Assunção, Emerson
Alcalde e Uilian Chapéu.
SLAM PELEIA RS
O Slam Peleia existe desde março de 2017. Acontece nas
últimas sextas-feiras do mês no Largo Zumbi dos Palmares, na
Cidade Baixa, atraindo centenas de pessoas. Atualmente, está na
sua 14ª edição. Foi do Slam Peleia que surgiram os poetas que
representaram o Rio Grande do Sul na Final do Slam BR 2017,
em São Paulo, após a seletiva regional. Foi o primeiro slam com
participação livre da cidade. Atualmente, o coletivo é composto
por quatro mulheres. São profissionais de diversas áreas que
acreditam no poder da poesia, da palavra falada, da presença e
do corpo para comunicar e, principalmente, para ouvir.
Slam
público jovem e periférico,
do projeto e organizador do
tratando em sua maioria de
livro, “o Slam Nacional em Du-
conteúdos urbanos como a
Nacional
desigualdade social, racismo,
da linguagem, um novo fôle-
violência policial, homofobia,
go para a cena, endossando
machismo, intolerância reli-
ainda mais o caráter político e
em Dupla
giosa, entre outros.
social do slam”.
Este livro traz o resultado fi-
Boa leitura!
nal nacional e todas as eta-
pas estaduais desta iniciativa
da Fundação Perseu Abramo
BRASIL QUE O POVO QUER (FPA), por intermédio de seus
projetos Brasil que o Povo Quer
EMERSON ALCALDE (ORG.) e Reconexão Periferias. O even-
to contou com poetas repre-
sentantes das regiões do país,
com etapas em Rio Branco
(Norte), Salvador e Recife (Nor-