DEGENERAÇÃO

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DEGENERAÇÃO

Profª Ms. KARINE CARDOSO DOS SANTOS

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As agressões sofridas pelo organismo são reconhecidas por células e tecidos, os
quais montam uma resposta que, juntamente com o agente agressor, também podem
provocar lesões.

Os alvos de lesões podem ser qualquer um dos componentes teciduais:


células,
matriz extracelular,
microcirculação sanguínea,
vasos linfáticos
e terminações nervosas.

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Degeneração é a lesão reversível secundária a alterações bioquímicas que resultam
em acúmulo de substâncias no interior de células.

Morfologicamente, uma degeneração aparece como deposição (ou acúmulo) de


substâncias em células. Quando a substância acumulada é um pigmento, a lesão é
estudada à parte, entre as pigmentações.

A composição química das células:


água, eletrólitos, lipídeos, carboidratos e proteínas.

As degenerações são agrupadas de acordo com a natureza da substância


acumulada.

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As degenerações são classificadas em:

• degenerações por acúmulo de água e eletrólitos – o exemplo clássico é o da


degeneração hidrópica;
• degenerações por acúmulo de proteínas – as mais importantes são as
degenerações hialina e mucóide;
• degenerações por acúmulo de lipídeos – as de maior interesse são a esteatose e
as lipidoses;
• degenerações por acúmulo de carboidratos.

Na maioria dos casos, o acúmulo de carboidratos em células deve-se a deficiências de


enzimas responsáveis por sua metabolização – glicogenoses e mucopolissacaridoses
são os exemplos principais.

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Degeneração hidrópica

é a lesão celular reversível caracterizada por acúmulo de água e eletrólitos no interior


das células, tornando-as tumefeitas, aumentadas de volume.

É uma lesão não letal mais comum diante dos mais variados tipos de agressão,
independentemente da natureza:
física, química ou biológica do agente agressor.

Degeneração hidrópica é provocada por distúrbios no equilíbrio hidroeletrolítico que


resultam em retenção de eletrólitos e água em células.

Como toda degeneração, a hidrópica é um processo reversível; eliminada a causa, as


células voltam ao aspecto normal. Quase sempre, ela não traz consequências
funcionais sérias, a não ser quando é muito intensa.
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O trânsito de eletrólitos através de membranas (citoplasmática e de organelas)
depende de mecanismos de transporte feito por canais iônicos; são as chamadas
bombas eletrolíticas, que são capazes de transportar eletrólitos contra um gradiente
de concentração e de manter constantes as concentrações desses eletrólitos no
interior dos vários compartimentos celulares.

Uma agressão pode diminuir o funcionamento da bomba eletrolítica quando:


• altera a produção ou o consumo de ATP;
• interfere com a integridade de membranas;
• modifica a atividade de uma ou mais moléculas que formam a bomba.

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Degeneração hidrópica pode ser provocada por grande variedade de agentes lesivos:

• hipóxia, desacopladores da fosforilação mitocondrial (p. ex., tiroxina), inibidores da


cadeia respiratória e agentes tóxicos que lesam a membrana mitocondrial, pois
reduzem a produção de ATP;

• hipertermia exógena ou endógena (febre), por causa do aumento no consumo de


ATP;

• toxinas com atividade de fosfolipase e agressões geradoras de radicais livres, que


lesam diretamente membranas;

• substâncias inibidoras da ATPase Na+/K+ dependente (é o caso da ouabaína,


utilizada no tratamento da insuficiência cardíaca).

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Em todas essas situações, diferentes causas conduzem a um fenômeno comum:

retenção de sódio,

redução de potássio e

aumento da pressão osmótica intracelular, o que leva à entrada de água no


citoplasma e à expansão isosmótica da célula.

Macroscopicamente, o aspecto de órgãos com degeneração hidrópica varia de acordo


com a intensidade da lesão.

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Em geral, os órgãos aumentam de peso e volume,
as células são mais salientes na superfície de corte e
a coloração é mais pálida,
porque as células degeneradas, que ficam aumentadas de volume, comprimem os
capilares e diminuem a quantidade de sangue no órgão.

Ao microscópio de luz (ML), as células são tumefeitas, e o citoplasma adquire aspecto


granuloso e torna-se menos basófilo (fica mais acidófilo).

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Degeneração hialina

Consiste no acúmulo de material proteico e acidófilo no interior de células, pois as


primeiras observações feitas em cortes sem coloração mostravam acúmulo de
material transparente dentro das células.

Em alguns casos, a degeneração resulta da:


condensação de filamentos intermediários e proteínas associadas que
formam corpúsculos no interior das células;
em outros, representa acúmulo de material de origem viral;
outras vezes, o material hialino depositado é constituído por proteínas
endocitadas.

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O corpúsculo hialino de Mallory-Denk encontrado tipicamente em hepatócitos de
alcoólatras crônicos, é formado por:
filamentos intermediários (ceratina) associados a outras proteínas do
citoesqueleto.
Além do alcoolismo, é visto também na esteato-hepatite não alcoólica, na cirrose
juvenil da Índia e no carcinoma hepatocelular.

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A degeneração hialina de fibras musculares esqueléticas e cardíacas resulta de
endotoxinas bacterianas e de agressão por linfócitos T e macrófagos (p. ex.,
miocardite e miosite chagásicas).

Admite-se que o aspecto hialino (acidófilo e homogêneo) seja por desintegração de


microfilamentos, o que parece estar relacionado com a ação de IL-1 e TNF-α em
células musculares, nas quais induzem grande atividade catabólica (ativação de
proteassomos do citosol e outras proteases intracelulares).

A degeneração hialina segmentar de miocélulas é compatível com reabsorção e


reestruturação dos sarcômeros, mas, se muito extensa, leva a célula à morte (necrose
hialina).

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Ao microscópio de luz, muitas vezes é difícil distinguir necrose hialina de degeneração
hialina acentuada. Os miócitos em apoptose podem também ter aspecto hialino.

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Em indivíduos com proteinúria, encontra-se degeneração hialina no epitélio tubular
renal por endocitose excessiva de proteínas.

O acúmulo excessivo de imunoglobulinas em plasmócitos forma estruturas


intracitoplasmáticas conhecidas como corpúsculos de Russell, os quais são frequentes
em:
algumas inflamações agudas (p. ex., salmoneloses) ou
crônicas (especialmente leishmaniose tegumentar e osteomielites).

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www.unicamp.com.br

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Degeneração mucóide

São conhecidas duas condições:


• hiperprodução de muco por células mucíparas dos tratos digestivo e respiratório,
levando-as a se abarrotar de glicoproteínas (mucina), podendo, inclusive, causar
morte celular;

• síntese exagerada de mucinas em adenomas e adenocarcinomas, as quais,


geralmente, extravasam para o interstício e conferem aspecto de tecido mucóide.

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Esteatose
é o acúmulo de gorduras neutras (mono, di ou triglicerídeos) no citoplasma de células
que, normalmente, não as armazenam. A lesão é comum no fígado, no epitélio tubular
renal e no miocárdio, mas pode ser encontrada também em músculos esqueléticos e
no pâncreas.

Pode ser provocada por agressões muito diversas.

A lesão aparece todas as vezes que um agente interfere no metabolismo de ácidos


graxos da célula, aumentando sua captação ou síntese ou dificultando sua utilização,
seu transporte ou sua excreção.

Esteatose é causada por agentes tóxicos, hipóxia, alterações na dieta e distúrbios


metabólicos.

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Apesar de ser uma lesão reversível, em agressões mais graves a esteatose pode
evoluir para morte celular.

O excesso de ácidos graxos pode gerar ceramida, que é potente indutor de apoptose.
No fígado, os hepatócitos repletos de gordura podem se romper e formar lagos de
gordura (cistos gordurosos), podendo ocorrer reação inflamatória com células
gigantes.

Pode haver, ainda, embolia gordurosa a partir da ruptura de cistos gordurosos na


circulação, o que é facilitado por traumatismos.

Em alguns casos de esteatose difusa e grave (p. ex., esteatose aguda da gravidez),
pode haver manifestações de insuficiência hepática.

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No etilismo crônico, a esteatose hepática muitas vezes se acompanha de fibrose
pericelular, especialmente centrolobular, que pode evoluir para cirrose.

Fibrose e cirrose hepáticas podem surgir, também, na evolução de esteato-hepatite


não alcoólica, indicando que a esteatose pode estar relacionada diretamente com
mecanismos fibrogênicos, possivelmente por meio de alterações no metabolismo
lipídico dos hepatócitos.

No coração, a esteatose difusa pode agravar a insuficiência funcional do órgão.


Como a lesão é reversível, em etilistas crônicos ela se reduz ou desaparece em
poucos dias após abstinência.

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Lipidoses

São acúmulos intracelulares de outros lipídeos que não triglicerídeos. Em geral, são
representados por depósitos de colesterol e seus ésteres, sendo raros acúmulos de
lipídeos complexos, como esfingolipídeos e gangliosídeos, que se formam em
doenças metabólicas.

As lipidoses são localizadas ou sistêmicas.

Depósitos de colesterol
Os depósitos localizados de colesterol e seus ésteres podem ser formados em
artérias (aterosclerose), na pele (xantomas) e em locais com inflamações crônicas.

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Aterosclerose

É uma doença caracterizada por depósitos de colesterol, ésteres do colesterol e, em


menor quantidade, de fosfolipídeos e glicerídeos, na íntima de artérias de médio e
grande calibres.

A doença é multifatorial, com participação de fatores genéticos e ambientais.

Dislipidemia, com aumento de triglicerídeos e colesterol no plasma, é o principal fator


de risco; hipertensão arterial, tabagismo, diabetes melito, estresse e sedentarismo são
outros fatores envolvidos na doença.

Os componentes genéticos são também importantes e estão envolvidos com


polimorfismos em genes relacionados com o metabolismo lipídico, biologia do tecido
adiposo e resposta inflamatória.
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Arteriosclerose

Colesterol e seus ésteres, além de outros lipídeos e proteínas plasmáticas, podem


depositar-se também na íntima de pequenas artérias e arteríolas, especialmente no
rim e no encéfalo de indivíduos com hipertensão arterial.
O processo é bem diferente da aterosclerose, pois os lipídeos depositados,
originados do plasma, associam-se a proteínas, formando o que se denomina lipo-
hialinose da íntima.

Os depósitos lipo-hialinos associam-se a outras alterações da íntima (elastose,


fibrose). Esse conjunto de lesões recebe a denominação de arteriosclerose.

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Xantomas

São lesões encontradas na pele sob a forma de nódulos ou placas que, quando
superficiais, têm coloração amarelada.

Microscopicamente, são formados por aglomerados de macrófagos carregados de


colesterol, com aspecto espumoso. Os xantomas surgem geralmente em pessoas
com aumento do colesterol sérico, embora possam ser encontrados sem
hipercolesterolemia.

Em algumas inflamações crônicas ou em áreas de necrose em processo de


reabsorção, são encontrados macrófagos espumosos, carregados de colesterol e
fosfolipídeos, originados de restos celulares fagocitados.

Um bom exemplo é a pielonefrite xantogranulomatosa.

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www.google.com.br/imagem/xantoma

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Esfingolipidoses

São doenças de armazenamento de esfingolipídeos e seus produtos, decorrentes da


falta ou da deficiência de enzimas lisossômicas encarregadas da demolição de
gangliosídeos e cerebrosídeos até esfingosina e ácidos graxos.

As esfingolipidoses são doenças genéticas, algumas mais frequentes em


determinados grupos raciais (p. ex., judeus); outras, sem preferência por grupo
étnico.

Os depósitos são encontrados em lisossomos, que, ao ME, apresentam estrutura em


impressão digital ou linhas em espiral concêntrica em seu interior.

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O diagnóstico é confirmado a partir da cultura de células do paciente (p. ex., da pele),
nas quais pode ser feita a pesquisa de enzimas lisossômicas.

Embora as lesões possam ser sistêmicas, são mais graves em alguns órgãos:
em neurônios do sistema nervoso central na doença de Fabry,
na doença de Niemann-Pick e
na doença de Tay-Sachs;
em macrófagos do fígado e do baço, na doença de Gaucher.

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Glicogenoses

São doenças genéticas caracterizadas pelo acúmulo de glicogênio em células do:


fígado, rins, músculos esqueléticos e coração e que têm como causa
deficiência de enzimas envolvidos no processo de sua degradação.

Dependendo da doença, os depósitos podem ser intralisossômicos ou no citosol.


Acúmulo de glicogênio pode ocorrer também por outros mecanismos.

É o que acontece em células tubulares renais no diabetes melito por causa da


reabsorção da glicose presente em excesso no filtrado glomerular.

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Mucopolissacaridoses

Depósitos anormais de poliglicanos e/ou proteoglicanos ocorrem em doenças


metabólicas denominadas genericamente mucopolissacaridoses, que resultam de
deficiências enzimáticas e se caracterizam por acúmulo intralisossômico dessas
moléculas e/ou de seus catabólitos.

Embora tenham alguns aspectos em comum, as mucopolissacaridoses apresentam


manifestações diferentes, de acordo com a enzima lisossômica deficiente; no entanto,
anormalidades no esqueleto, em artérias e em valvas cardíacas, retardo mental e
opacificação da córnea existem em todas elas.

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REFERÊNCIAS

BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo patologia geral. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2009.

Bases da patologia em veterinária / [editores] M. Donald McGavin, James F.


Zachary ; [tradução Renata Scavone de Oliveira … et al.]. - [2.ed.]. - Rio de Janeiro :
Elsevier, 2013.

FARIA, José Lopes de;. Patologia geral: fundamentos das doenças, com aplicações
clínicas.. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

ROBBINS, Stanley L.; COTRAN, Ramzis.;. Patologia estrutural e funcional.. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
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