Pablo Almada - Classe Média, Classe Trabalhadora e Precariado
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Pablo Almada1
Desde os anos 1970, a definição teórica das classes médias tem sido um importante
conceito para compreender as transformações de classe no interior das sociedades
capitalistas. Atualmente, trata-se de um ponto de tensão entre varias vertentes de analise de
classe que, basicamente, ou partem das analises sobre o trabalho (vertente marxista), ou
partem das analises sobre o mercado (vertente weberiana) ou são sustentadas por analises
de rendas. Constitui-se, portanto, um desafio explicativo para a sociologia, no que diz
respeito as transformações das estruturas e estratificações de classe. Para isso, o presente
artigo propõe revisar algumas das premissas que embasaram as formulações teóricas das
classes médias e confrontá-la com a perspectiva de alargamento da classe trabalhadora e
com as novas teorias sobre o precariado. Devido a heterogeneidade de abordagens, entende-
se que a noção de exploração e luta de classes tem sido abandonada por algumas dessas
vertentes, mas, questiona-se aqui a atualidade e pertinência desses conceitos para a
compreensão das recentes transformações de classe.
Palavras Chave: Classes Sociais, Classe média, Classe Trabalhadora, Precariado, Análise
de Classes.
INTRODUÇÃO
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Professor do Departamento de Ciências Sociais, área de Sociologia, da Universidade Estadual de Londrina.
Contato: [email protected]
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Nas Ciências Sociais, por muito tempo, as definições sobre classes sociais
opuseram substancialmente as formulações marxianas e weberianas, o que conduziu a
inúmeras tensões no interior da chamada análise de classes. Em comum, as duas
formulações teriam interesse em buscar as causas das desigualdades sociais (PORTES &
HOFFMANN, 2003), que podem ser similares, mas alterando as dinâmicas explicativas e
analíticas.
É na tradição marxista que a classe aparece como um valor explicativo histórico e
econômico essencial. As classes sociais aparecem a partir da estrutura econômica, o que
separa os proprietários dos meios de produção e àqueles que vendem a sua força de
trabalho, o que conduz a um conflito central de exploração no modo de produção
capitalista. Por sua vez, estabelece-se uma explicação holista e realista das classes sociais:
holista porque permite relacionar a classe para além dos seus membros individuais; realista
porque as classes não são apenas construções intelectuais, mas “entidades verificáveis e
tangíveis” (CHAUVEL, 2001, p. 317). Por conta disso, na teoria marxista, a análise de
classes é uma construção teórica fundamental, porque é nela que se dá a compreensão do
conflito de classes como estruturante das relações sociais capitalistas, desenvolvendo a
percepção de que esse conflito é força motriz das relações de produção, a noção de luta de
classes (MILIBAND, 1996, p. 473). A tradição marxista constituiu-se naquela em que a
importância do conceito de classes sociais é conduzida tanto pelos aspectos econômicos
quanto pelos aspectos políticos e, por conta disso o conceito adquire uma centralidade
explicativa (WRIGHT, 2015).
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desenvolve uma crítica a unidade ideológica entre a pequena burguesia tradicional
e a nova classe média, identificando a primeira com o campesinato e os pequeno
comerciantes e, os segundos, com os trabalhadores assalariados do comercio, ou
administradores e gestores financeiros. Assim, enquanto a pequena burguesia tradicional
teria uma relação de subordinação indireta e externa ao capital, sendo constantemente
ameaçada pelo grande capital no processo de proletarização, a nova classe média estaria na
subordinação direta do trabalho ao capital, sendo, portanto, uma expressão acabada das
relações de trabalho tipicamente capitalistas.
Nesse sentido, as situações são distintas e não podem ser deduzidas como
semelhantes. Para a tradição marxista, a pequena burguesia tradicional é uma classe em
transição e, portanto, são proprietários ameaçados pelo grande capital; mas ainda não são
trabalhadores já sujeitos ao capital, porque ela se apega na propriedade privada e rejeita o
trabalho assalariado: ela executa sobretudo trabalho manual. A nova classe média é
assalariada e rejeita o trabalho manual (essa é sua singularidade ideológica). A Classe
média e trabalhador improdutivo não são conceitos coincidentes, porque a noção de classe
média não se dá ao nível econômico, mas a nível ideológico. A Classe média é uma noção
de estratificação social, “relacionada com a ideologia dominante que reduz a divisão
capitalista do trabalho em uma hierarquia de trabalho” (SAES, 1985, p. 99). Isso quer dizer
que “a ideologia dominante apaga da consciência de certos trabalhadores improdutivos a
contradição entre capital e trabalho assalariado, substituindo-a ai pelo sentimento de
superioridade do trabalho não-manual com relação ao trabalho manual” A definição de
classe média, utilizada por Saes é a seguinte: “a classe média se define como o conjunto
dos efeitos políticos reais produzidos sobre certos setores do trabalho assalariado pela
ideologia dominante, que apresenta a hierarquia do trabalho como a expressão de uma
pirâmide natural de dons e méritos” (SAES, 1977, p. 100).
Ao contrário da determinação estrutural de classes como defendida por Nicos
Poulantzas e Décio Saes, Wright (1989) enfatiza a definição a partir do posicionamento de
classes, colocando no centro de sua análise, a questão das classes médias, no tocante à
necessidade de explicação e equacionamento entre exploração e dominação. Em seu
primeiro modelo analítico, Wright procurava explicar a classe média através de uma
“unidade política” da qual poderia ser analisada em termos de lugares contraditórios de
classe, trabalhando com critérios de diferenciação, como a propriedade dos meios de
produção, a autonomia da produção, o controle sobre as forças de trabalho e as relações de
poder, separando a propriedade e o controle dos meios físicos do processo de produção
(ESTANQUE, 2001, p. 29-31). A noção de lugares contraditórios de classe leva em
consideração que uma classe média pode possuir uma dupla (ou tripla, etc.) designação
contraditória, ser ao mesmo tempo classe explorada e classe exploradora, definida através
das relações entre classes e seus posicionamentos, o que faz com que a “relação trabalho-
capital deva ser vista como um combinado de práticas relacionais”, enfatizando a
composição das relações de classe em duas dimensões, as “relações de propriedade ou de
posse e [as] relações de posse ou controle”, a primeira ligada ao conceito de exploração, a
segunda ligada ao conceito de dominação (WRIGHT, 1989, p. 302-3).
O segundo modelo explicativo de Wright (1989) procurou evitar o déficit da
exploração em sua análise de classes, ao compreender o desenvolvimento do mercado nas
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BIBLIOGRAFIA
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MILS, C. Wright. A nova classe média. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1976.
SAES, Décio. Classe Média e políticas de classe (uma nota teórica). In: Contraponto, Ano
2, 2 novembro de 1977, pp. 96-102.
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WRIGHT, Erik Olin. (1989). Rethinking, once again, the concept of class structure. In:
WRIGHT, Erik Olin. The Debate on Classes. London: Verso.
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