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Universidade Federal da Maranhão - UFMA

Centro de Ciências Exatas e Tecnologia CCET


Programa de Pós-Graduação em Matemática - PPGMAT

PPGMAT - UFMA

Dissertação de Mestrado

Teoremas de ponto fixo e algumas aplicações

Felipe Rodrigues Vaz

São Luı́s - MA
Novembro de 2015
Felipe Rodrigues Vaz

Teoremas de ponto fixo e algumas aplicações

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do


Programa de Pós-Graduação em Matemática da
UFMA como requisito parcial para obtenção do
tı́tulo de Mestre em Matemática sob a orien-
tação do Prof. Dr. Marcos Antonio Ferreira
de Araújo.

São Luı́s - MA
2015
Vaz, Felipe Rodrigues

Teoremas de ponto fixo e algumas aplicações/ Felipe Rodrigues Vaz. – São Luı́s -

MA, 2015.

76 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio Ferreira de Araújo.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Maranhão, Centro de Ciências

Exatas e Tecnologia, Programa de Pós-graduação em Matemática, 2015.

Referências bibliográficas.

1. Análise. 2. Topologia. 3. Teoremas de ponto fixo I. Araújo, Marcos Antonio

Ferreira. II. Universidade Federal do Maranhão, Pós-graduação em Matemática. III.

Tı́tulo.

CDU : 515.1
Felipe Rodrigues Vaz

Teoremas de ponto fixo e algumas aplicações

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do


Programa de Pós-Graduação em Matemática da
UFMA como requisito parcial para obtenção do
tı́tulo de Mestre em Matemática sob a orien-
tação do Prof. Dr. Marcos Antonio Ferreira
de Araújo.

Dissertação aprovada em 23 de novembro de 2015, pela BANCA EXAMINADORA:

(Orientador) Prof. Dr. Marcos Antonio Ferreira de Araújo (UFMA)

Profa . Dra . Renata de Farias Limeira Carvalho (UFMA)

Prof. Dr. Flank David Morais Bezerra (UFPB)


DEDICATÓRIA

Aos meus filhos: Tamires, Thomas e Lucas, pela paciência e incentivo.


AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus, criador dos céus e da terra. A toda a minha famı́lia e a todos os
colegas de curso e aos professores do PPGMAT: Prof. Marcos Araujo, Prof. Nivaldo
Muniz, Prof. José Marão; pelo encorajamento e apoio.
“ ... Àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais além daquilo que pedimos
ou pensamos ... ”. Paulo, O apóstolo [Bı́blia Sagrada]
“ ... Um matemático é uma pessoa que pode encontrar analogias entre teoremas, um
matemático bom é aquele que consegue ver analogias entre provas e o melhor matemático
pode perceber analogias entre teorias; e pode-se imaginar que o matemático ultimate é
aquele que pode ver analogias entre analogias ... ” [Stefan Banach]
RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar os teoremas do ponto fixo de Banach e de


Brouwer, e algumas aplicações destes teoremas e fazer uma análise comparativa sobre
eles.

Palavras-chave: Análise, Topologia, , Teoremas de pontos fixos.


ABSTRACT

The objective of this paper is to present the theorems of Banach fixed-point and
Brouwer, and some applications of these theorems and to make a comparative analysis of
them.

Keywords: Analysis, Topology, Fixed-points theorems.


SUMÁRIO

Pág.

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Capı́tulo 1: Noções preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Capı́tulo 2: Teoremas de ponto fixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22


2.1 O princı́pio da contração de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Sequências de aplicações e pontos fixos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.3 Pontos fixos de aplicações não-expansivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4 O teorema da média ergódica de Riesz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.5 O teorema do ponto fixo de Brouwer . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.6 O teorema do ponto fixo de Schauder-Tychonoff . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.7 O teorema de Markov-Kakutani . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

Capı́tulo 3: Análise comparativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

Capı́tulo 4: Aplicações de teoremas do ponto fixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60


4.1 O teorema da função ı́mplı́cita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.2 Equações diferenciais ordinárias em espaços de Banach . . . . . . . . . . . 66
4.3 O teorema fundamental da Álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.4 Teoria dos jogos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
11

INTRODUÇÃO

Um ponto fixo é um idéia bastante simples, é um ponto que é levado em si mesmo por
uma aplicação em um mesmo conjunto, e podemos inicialmente formalizar asssim: Um
ponto fixo de uma aplicação f : X −→ X é um ponto x ∈ X tal que f (x) = x, e sua
importância reside no fato de ser muito útil na solução de equações. Os teoremas de ponto
fixo são afirmações que garantem existência de pontos fixos em determinados conjuntos e
por vezes garantem também, unicidade.
A teoria dos pontos fixos envolve um grande número de teoremas do ponto fixo e é
um assunto fascinante, com um enorme número de aplicações em vários campos da ma-
temática e em outras áreas afins, e em função disso, apresentamos neste trabalho uma
panorâmica de alguns resultados e aplicações da teoria, com enfâse no teorema do ponto
fixo de Banach e no teorema do ponto fixo de Brouwer. Há mais de um século que o
teorema do ponto fixo de Brouwer foi provado, precisamente em 1910, e em certo sentido
este resultado é um dos primeiros na teoria e dele surgiram alguns outros teoremas, e o
teorema de Banach é de 1922. Nosso intuito, é fazer uma abordagem comparativa destes
dois teoremas no sentido de investigar se existe alguma relação de implicação entre eles.
Uma abordagem preliminar na literatura matemática encaixa o teorema de Brouwer como
um resultado da teoria topológica dos pontos fixos, e o teorema de Banach na teoria mé-
trica dos pontos fixos. Além dessas teorias, existem outras que não serão abordadas aqui,
como por exemplo: a teoria combinatória dos pontos fixos, e etc. Na teoria topológica dos
pontos fixos se destacam inicialmente, três grandes matemáticos: Bernard Bolzano, Luit-
zen Brouwer e Karol Borsuk; e que são coincidentemente referenciados como os três B’s
da teoria. O teorema do ponto fixo de Brouwer foi considerado um dos resultados mate-
máticos mais relevantes e de maior impacto em outras áreas da ciência no século XX, por
John L. Casti em seu livro popular Five Golden Rules, e pode-se verificar estas implica-
ções em: biologia matemática, geometria de corpos convexos, equações diferenciais, teoria
dos jogos, economia, programação não-linear e etc. O teorema do ponto fixo de Banach
é considerado um dos pilares da análise matemática, principalmente na análise numérica,
e a partir dele foram provados outros teoremas de igual importância como: o teorema da
12

função implı́cita, o teorema da função inversa, e o teorema de existência e unicidade de


solução de equações diferenciais ordinárias e etc . De maneira geral, a importância dos
teoremas do ponto fixo de Banach e de Brouwer dificilmente seria exagerada.
Este trabalho está estruturado da seguinte forma: no primeiro capı́tulo são apresen-
tadas definições e conceitos que envolvem a teoria dos pontos fixos, no capı́tulo seguinte
faz-se uma abordagem sobre vários teoremas de ponto fixo, com ênfase sobre o teorema
de Banach e Brouwer. No terceiro, faremos uma análise comparativa entre os teoremas de
Brouwer e de Banach. Finalmente, no quarto capı́tulo, apresentaremos algumas aplicações
desses teoremas.
13

Capı́tulo 1
NOÇÕES PRELIMINARES

A teoria dos pontos fixos foi desenvolvida em conjuntos ou espaços que possuem uma
estrutura que permite falar de proximidade entre pontos, esta noção é caracterizada como
continuidade. Tais conjuntos são chamados espaços topológicos, onde são definidas funções
contı́nuas. Chama-se Topologia à área da matemática que se ocupa do estudo das funções
contı́nuas de um espaço topológico em outro. A maneira mais natural de verificar qual
de dois pontos x e y, pertencentes a um conjunto X, está mais próximo de um ponto a
pertencente a X, é medir as distâncias de x e y ao ponto a. Isto só é possı́vel quando
existe a noção de distância já previamente definida no conjunto X. Os conjuntos onde
tem sentido falar de distância entre dois pontos se apresentam como espaços topológicos,
e são denominados espaços métricos. Entretanto, nem todos os espaços topológicos são
métricos. Apresentaremos algumas definições destes espaços e seus desdobramentos:

Definição 1.0.1 (Métrica e Distância). Uma métrica num conjunto M é uma função
d : M × M −→ R que associa a cada par ordenado de elementos x, y ∈ M um número
real d(x, y), chamado a distância de x a y, de modo que sejam satisfeitas as seguintes
condições para quaisquer x, y, z ∈ M :
(i) d(x, x) = 0, e se x 6= y, então d(x, y) > 0;
(ii) d(x, y) = d(y, x);
(iii) d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).

Um espaço métrico é um par (M, d), onde M é um conjunto e d é uma métrica em M .


Todo subconjunto X de um espaço métrico M possui uma estrutura natural de espaço
métrico.

Exemplos :
A reta real, ou seja, o conjunto R dos números reais, é o exemplo mais importante de
espaço métrico. A distância entre dois pontos x, y ∈ R é dada por d(x, y) = |x − y|.
O espaço euclidiano Rn também é um espaço métrico e generaliza o exemplo anterior.
14

Há três maneiras naturais de definir a distância entre dois pontos em Rn . Dados x =
(x1 , ..., xn ) e y = (y1 , ..., yn ), escreve-se
" n #1/2
p X
d(x, y) = (x1 − y1 )2 + ... + (xn − yn )2 ) = (xi − yi )2
i=1

n
X
0
d (x, y) = |x1 − y1 | + ... + |xn − yn | = |xi − yi | , e
i=1

d00 (x, y) = max {|x1 − y1 | , ..., |xn − yn |} = max |xi − yi | .


1≤i≤n

As funções d, d0 , d00 : Rn × Rn −→ R são métricas. A métrica d é chamada euclidiana.


Considerando que os elementos de um espaço métrico podem ser de natureza bastante
arbitrária, tais como: números, pontos, vetores, matrizes, funções, conjuntos e etc, apre-
sentamos um espaço de funções, no qual define-se uma métrica: Seja X um conjunto
arbitrário. Uma função real f : X −→ R chama-se limitada quando existe uma constante
k = kf > 0 tal que |f (x)| ≤ k para todo x ∈ X. Indicaremos com B(X; R) o conjunto
das funções limitadas f : X −→ R, então para f, g ∈ B(X; R) arbitrárias,

d(f, g) = sup |f (x) − g(x)| .


x∈X

Definição 1.0.2 (Funções contı́nuas em espaços métricos). Sejam M e N espaços


métricos. Diz-se que uma aplicação f : M −→ N é contı́nua no ponto a ∈ M , quando
para todo  > 0 dado, é possı́vel obter δ > 0 tal que d(x, a) < δ implicar d(f (x), f (a)) < .
Diz-se que f : M −→ N é contı́nua, quando ela é contı́nua em todos os pontos a ∈ M .

Definição 1.0.3. Seja (xn )∞


n=1 uma sequência no espaço métrico (M, d).

(i) A sequência (xn )∞


n=1 converge para x ∈ M se

lim d(xn , x) = 0
n→∞

Neste caso, escreve-se x = lim xn = lim xn ou xn −→ x.


n n→∞
(ii) A sequência (xn )∞
n=1 é dita convergente se existe x ∈ M tal que xn −→ x. Caso
contrário, é dita divergente.

Definição 1.0.4 (Sequências de Cauchy). Diz-se que uma sequência (xn ), num espaço
métrico M , é uma sequência de Cauchy quando, para todo  > 0 dado arbitrariamente, é
possı́vel obter n0 ∈ N tal que m, n > n0 implica d(xm , xn ) < .
15

W
Sejam M e N espaços métricos e E um conjunto de aplicações f : M −→ N . O conjunto
E diz-se eqüicontı́nuo no ponto a ∈ M quando, para todo  > 0, existe δ > 0 tal que
d(x, a) < δ em M implique d(f (x), f (a)) < , seja qual for f ∈ E.
Uma sequência de aplicações fn : M −→ N diz-se eqüicontı́nua no ponto a ∈ M quando
o conjunto {f1 , f2 , ..., fn , ...} o for.

Definição 1.0.5 (Espaço Métrico Completo). Diz-se que um espaço métrico M é


completo quando toda sequência de Cauchy em M é convergente.

Definição 1.0.6 (Espaços Vetoriais Normados). Seja E um espaço vetorial sobre


o corpo de escalares K = R, ou C. Uma norma em E é uma função k·k : E −→ K,
que associa a cada vetor x ∈ E o escalar kxk, chamado a norma de x, de modo a serem
cumpridas as condições abaixo para quaisquer x, y ∈ E e λ escalar:
(N1) kxk ≥ 0 para todo x ∈ E e kxk = 0 ⇐⇒ x = 0
(N2) kλ · xk = |λ| kxk;
(N3) kx + yk ≤ kxk + kyk.

Todo espaço vetorial normado E possui uma métrica natural, definida a partir da norma
d(x, y) = kx − yk
Um operador linear contı́nuo do espaço normado E no espaço normado F , ambos sobre o
mesmo corpo K = C ou R, é uma função T : E −→ F , que é linear, isto é
(i) T (x + y) = T (x) + T (y),
(ii) T (ax) = aT (x) para todo a ∈ K, e qualquer x em E;
e contı́nuo, isto é, para todo x0 ∈ E e  > 0, existe δ > 0 tal que
kT (x) − T (x0 )k < , sempre que x ∈ E e kx − x0 k < δ.
O conjunto de todos os operadores lineares contı́nuos de E em F será denotado por
L(E, F ), que é um espaço vetorial sobre K com as operações usuais de funções. Quando
F é o corpo dos escalares, escrevemos E 0 no lugar de L(E, K), chamamos esse espaço
de dual topológico de E, ou simplesmente dual de E, e dizemos que seus elementos são
funcionais lineares contı́nuos.

Definição 1.0.7. Seja X um espaço vetorial normado. Uma função f : X −→ R diz-se


semicontı́nua inferiormente no ponto a ∈ X, quando para cada  > 0 dado, pode-se obter
δ > 0, tal que x ∈ X, kx − ak < δ =⇒ f (x) < f (a) + .
16

Um espaço vetorial normado completo chama-se de espaço de Banach


Um espaço de Hilbert é um espaço vetorial H, munido de um produto interno, e completo
em relação a norma definida por esse produto interno.

Definição 1.0.8 (Seminorma). Uma seminorma no espaço vetorial E é uma função


p : E −→ R que satisfaz as seguintes condições:
(i) p(x) ≥ 0 para todo x ∈ E.
(ii) p(ax) = |a| p(x) para todo a ∈ K = C ou R, e x ∈ E.
(iii) p(x + y) ≤ p(x) + p(y), para qualquer x, y ∈ E.
Das condições (ii) e (iii) conclui-se que p(0) = 0 e que

|p(x) − p(y)| ≤ p(x − y) para todo x, y ∈ E

Toda norma é uma seminorma.

Definição 1.0.9. Dado um espaço normado X, e x um elemento pertencente a X e um


número real r > 0, e sendo kxkX a norma relativa ao espaço normado X, definimos:
(i) A bola aberta em X com centro em x0 e raio r ao conjunto denotado por

BX (x0 , r) = {x ∈ X : kx − x0 k < r}

(ii) A bola fechada em X com centro em x0 e raio r ao conjunto

BX [x0 , r] = {x ∈ X : kx − x0 k ≤ r}

(iii) A fronteira da bola fechada, ou ainda a esfera de centro x0 e raior r ao conjunto

∂BX = S = {x ∈ X : kx − x0 k = r} .

(iv) Para um subconjunto Y ⊂ X, Y é o fecho de Y


(v) Y c é o complementar de Y em X, desde que, Y ⊂ X
(vi) span(Y ) é o espaço linear gerado por Y
(vii) Noção de espaços de Banach uniformemente convexos: Um espaço de Banach X é
uniformemente convexo se dadas duas sequências xn , yn ∈ X com

kxn k ≤ 1, kyn k ≤ 1, lim kxn + yn k = 2,


n→∞

e segue que, lim kxn − yn k = 0.


n→∞
Em particular, uma propriedade que deriva diretamente da definição de convexidade uni-
17

forme é que, sequências minimizantes em subconjuntos fechados e convexos são conver-


gentes. Isto é, se C ⊂ X é não-vazio, fechado e convexo, e xn ∈ C é tal que

lim kxn k = inf kyn k .


n→∞ y∈C

Então, existe um único x ∈ C tal que kxn k = inf kyn k e lim xn = x.


y∈C n→∞
Uma noção fraca de convexidade é a convexidade estrita: Um espaço de Banach X é
estritamente convexo se, para todo x, y ∈ X com x 6= y a relação

kxk = kyk ≤ 1

implicando que
kx + yk < 2

Definição 1.0.10 (Gráfico). Sejam E e F espaços normados e T : E −→ F um operador


linear. O gráfico de T é o conjunto

G(T ) = {(x, y); x ∈ E, y ∈ T (x)} = {(x, T (x)); x ∈ E} ⊆ E × F.

G(T ) é subespaço vetorial de E × F . O gráfico G(T ) pode ser um subconjunto fechado


de E × F ou não. O Teorema do Gráfico Fechado [4], afirma que em operadores lineares
entre espaços de Banach, a continuidade de T é equivalente ao fato de G(T ) ser fechado
em E × F .

Exemplo:(Espaços normados)
(i) Denotamos por c0 o conjunto de todas as sequências de escalares que convergem para
zero, ou seja, fixado K = R ou C,

c0 = {(ak )∞
k=1 : ak ∈ K para todo k ∈ N e ak −→ 0} .

c0 é um espaço vetorial com as operações usuais de sequências.

A expressão
k(ak )∞
k=1 k∞ = sup {|ak | : k ∈ N}

torna c0 um espaço normado. Além disso, também é um espaço de Banach.


(ii) Denotamos por c00 o subespaço de c0 formado por sequências eventualmente nulas,
isto é,

c00 = {(ak )∞
k=1 ∈ c0 : existe k0 ∈ N tal que ak = 0 para todo k ≥ k0 } .
18

Definição 1.0.11 (Espaços topológicos). Uma topologia num conjunto X é uma cole-
ção T de partes de X, chamados os abertos da topologia, com as seguintes propriedades:
(i) ∅ e X pertencem a T;
(ii) Se A1 , ..., An ∈ T então A1 ∩ ... ∩ An ∈ T
(iii) Dada uma famı́lia arbitrária (Aλ )λ∈L com Aλ ∈ T para cada λ ∈ L, tem-se
S
λ∈L Aλ ∈
T.
Um espaço topológico é um par (X, T) onde X é um conjunto e T é uma topologia em X.

Definição 1.0.12 (Funções contı́nuas em espaços topológicos). Entre espaços topo-


lógicos, uma aplicação f : X −→ Y se diz contı́nua quando para cada A0 ⊂ Y aberto, sua
imagem inversa f −1 (A0 ) é um aberto em X. Um homeomorfismo é uma bijeção contı́nua
h : X −→ Y cuja inversa também é contı́nua.

Uma propriedade de um espaço X diz-se propriedade topológica, se em qualquer outro


espaço homeomorfo a X se verifica esta mesma propriedade, como exemplo temos: a
propriedade de um conjunto ter um ponto fixo. Assim, esta é uma propriedade topológica.

Definição 1.0.13. Dois espaços topológicos X e Y são ditos homeomórficos se existe uma
função bijetiva f : X −→ Y , tal que f e f −1 são contı́nuas. A aplicação f e chamada um
homeomorfismo.

Definição 1.0.14. Um espaço topológico X tem a propriedade do ponto fixo se toda


função contı́nua f : X −→ X, tem um ponto fixo.

Teorema 1.0.15. Se um espaço topológico X tem a propriedade do ponto fixo, e X é


homeomórfico a Y , então Y tem a propriedade do ponto fixo.

Demonstração: Seja h : X −→ Y um homeomorfismo, e supondo que g : Y −→ Y seja


contı́nua. Precisamos mostrar que g tem um ponto fixo em Y . Observe que h−1 ◦ g ◦ h :
X −→ X é contı́nua. Desde que X tem a propriedade do ponto fixo, existe x0 ∈ X com:
h−1 ◦ g ◦ h(x0 ) = x0 . Daı́, g(y0 ) = y0 , onde y0 = h(x0 ). 

Definição 1.0.16. Um subconjunto A de um espaço topológico X é um retrato de X, se


existe uma aplicação contı́nua r : X −→ A, com r(a) = a para todo a ∈ A. A aplicação
r é chamada uma retração.

Teorema 1.0.17. Se X tem a propriedade do ponto fixo e A é um retrato de X, então


A tem a propriedade do ponto fixo.
19

Demonstração: Seja f : A −→ A uma função contı́nua, e r : X −→ A uma retração.


Precisamos mostrar que f tem um ponto fixo em A.
Observe que:
f ◦ r : X −→ A ⊆ X.

Desde que, X tem a propriedade do ponto fixo, então existe x0 ∈ X tal que

f ◦ r(x0 ) = x0 .

Contudo, f (r(x0 )) ∈ A e portanto x0 ∈ A. Mas, desde que x0 ∈ A e r : X −→ A é


uma retração, temos que r(x0 ) = x0 . E consequentemente, f (x0 ) = x0 para todo x0 ∈ A.
.

Teorema 1.0.18. Se T é aplicação de M em M , então qualquer ponto fixo z ∈ T , está



\ ∞
\
na interseção T n M . Reciprocamente, se T n M = {y} é um conjunto de um único
n=1 n=1
ponto, então y é um ponto fixo para T .

\
Demonstração: Desde que, T (y) precisa estar na interseção T n M , logo T (y) =
n=1
y. 

Definição 1.0.19. (i) Um espaço topológico X chama-se compacto, quando toda cober-
tura aberta de X possui subcobertura finita.
(ii) Seja M um espaço métrico. Se M é compacto, então M é completo.
(iii) Todo subconjunto fechado F de um espaço compacto X é compacto.
(iv) A imagem de um conjunto compacto por uma aplicação contı́nua é um conjunto com-
pacto.
(v) Um espaço topológico X diz-se localmente compacto quando todo ponto x ∈ X, pos-
sui uma vizinhança compacta.

Definição 1.0.20. Um espaço topológico M é um espaço de Hausdorff se para todos


x, y ∈ M, x 6= y, existem vizinhanças U de x e V de y tais que U ∩ V = ∅.

Teorema 1.0.21. Se T é contı́nua em um espaço topológico Hausdorff M para M , e se


o lim T n (x) = y, então T (y) = y e T n (y) = y.
n→∞

Demonstração: Desde que, T (y) = T ( lim T n (x)) = lim T n+1 (x) = y. .


n→∞ n→∞
20

Teorema 1.0.22 (Ascoli). (ver prova em [4]). Sejam K um espaço métrico compacto e
A um subconjunto de C(K), onde C(K) é o conjunto das funções contı́nuas f : K −→ K,
( K = C ou R), e a métrica de K é dada por d(f, g) = sup {|f (t) − g(t)| : t ∈ K}. Então
A é compacto em C(K) se, e somente se, as seguintes condições são satisfeitas:
(i) A é equicontı́nuo, isto é, para todo t0 ∈ K e  > 0, existe δ > 0 tal que

|f (t) − f (t0 )| < , para todo t ∈ K, com d(t, t0 ) < δ e f ∈ A.

(ii) O conjunto {f (t) : f ∈ A} é limitado em K para todo t ∈ K

Teorema 1.0.23 (Desigualdade de Ky Fan). [ver prova em Proc. Nat. Acad. Sci.
USA 88, 121126 (1952)]. Seja K ⊂ X não-vazio, compacto e convexo. Seja Φ : K×X −→
R uma aplicação tal que
(i) Φ(·, y) é semicontı́nua inferiormente para todo y ∈ K;
(ii) Φ(x, ·) é côncava para todo x ∈ K.
Então existe x0 ∈ K tal que

sup Φ(x0 , y) ≤ sup Φ(y, y).


y∈K y∈K

Teorema 1.0.24 (Teorema de Hahn-Banach para espaços localmente convexos).


(ver prova em [4]). Sejam E um espaço localmente convexo, e M um subespaço vetorial
de E. Então todo funcional linear e contı́nuo ϕ0 ∈ M 0 , onde M 0 é o espaço dual de M ,
pode ser estendido a E 0 preservando linearidade e continuidade, isto é, existe ϕ ∈ E 0 tal
que ϕ(x) = ϕ0 (x) para todo x ∈ M .

Definição 1.0.25. Sejam E e F espaços de Banach e U um aberto em E. Dizemos que


uma função f : U −→ F é Fréchet-diferenciável no ponto x0 ∈ U se existe um operador
linear contı́nuo A : E −→ F tal que

f (x0 + h) = f (x0 ) + A(h) + R(x0 , h),

para todo h tal que x0 + h pertence a uma bola aberta centrada em x0 e contida em U ,
onde R(x0 , h) = o(khk), isto é:

kR(x0 , h)k
lim = 0.
h→0 khk
Neste caso A é chamada de derivada de Fréchet de f em x0 , e denotada por A = Df (x0 ).
21

Teorema 1.0.26 (Desigualdade do Valor Médio para funções entre espaços de


Banach). (ver prova em [4]). Sejam E e F espaços de Banach, U ⊆ E aberto, e f :
U −→ F uma aplicação Fréchet-diferenciável. Sejam x1 , x2 ∈ U tal que o segmento
` := {tx1 + (1 − t)x2 : 0 ≤ t ≤ 1} está contido em U . Então

kf (x1 ) − f (x2 )k ≤ sup kDf (x)k . kx1 − x2 k .


x∈`
22

Capı́tulo 2
TEOREMAS DE PONTO FIXO

Introdução
Um teorema de ponto fixo é um resultado que estabelece sob certas condições, a
existência de um elemento x pertencente a um domı́nio X e uma aplicação f : X −→ X,
tal que f (x) = x. Neste caso, x é chamado ponto fixo de f .
De maneira geral, o conjunto X será admitido ser um espaço topológico de modo a
se poder trabalhar os conceitos de continuidade e compacidade. Ao longo deste capı́tulo
iremos tratar de vários teoremas do ponto fixo, da seção 2.1 á seção 2.4 trataremos sobre
o teorema de Banach, iniciando na seção 2.1 com o princı́pio da aplicação contração, na
seção 2.2 trataremos da convergência de uma famı́lia de aplicações, na seção 2.3 e 2.4
trataremos de aplicações não-expansivas, na seção 2.5 iremos tratar o teorema do ponto
fixo de Brouwer e seu caráter topológico restrito ao espaço euclideano Rn , e as seções 2.6
e 2.7 consiste na extensão do teorema do ponto fixo de Brouwer em espaços de dimensão
infinita.
Os teoremas de pontos fixos encontram-se em muitos ramos da Matemática, tais como:
álgebra, análise, geometria, topologia, dinâmica, etc. Segue um exemplo simples que
caracteriza esta noção inicial.
Exemplo 1: Supondo que sejam dados um sistema de n equações em n incógnitas da
forma:
gj (x1 , ..., xn ) = 0, j = 1, ..., n

onde, gj são funções contı́nuas de valores reais, de variáveis reais xj . Seja hj (x1 , ..., xn ) =
gj (x1 , ..., xn ) + xj , e para qualquer ponto x = (x1 , ..., xn ), defina h(x) = (h1 (x), ..., hn (x)).
Assumindo agora que h(x) tem um ponto fixo x ∈ Rn , então, verifica-se que x é uma
solução do sistema de equações.
23

2.1 O princı́pio da contração de Banach

O teorema do ponto fixo de Banach é conhecido como - teorema da aplicação contra-


ção - ou - princı́pio da aplicação contração - E é uma importante ferramenta na teoria
de espaços métricos, pois garante a existência e unicidade de pontos fixos para certas
aplicações nestes espaços.

Definição 2.1.1. Seja X um espaço métrico munido com a distância d. Uma aplicação
f : X −→ X, é dita ser - Lipschitz contı́nua - se existe λ ≥ 0 tal que

d(f (x1 ), f (x2 )) ≤ λd(x1 , x2 ),

para todo x1 , x2 ∈ X. O menor λ para o qual a desigualdade acima se mantém é a -


constante de Lipschitz de f . Se λ ≥ 1, f é dita ser não-expansiva, e se λ < 1, f é dita ser
uma contração

Teorema 2.1.2 (Banach). Se X é um espaço métrico completo, então toda contração


f : X −→ X possui um único ponto fixo em X. Mas precisamente, se escolhermos um
ponto qualquer x0 ∈ X e pusermos x1 = f (x0 ), x2 = f (x1 ), ..., xn+1 = f (xn ), ... a sequência
(xn ) converge em X e x = lim xn é o único ponto fixo de f .
n→∞

Demonstração: Primeiramente, se x1 , x2 ∈ X são pontos fixos de f , então

d(x1 , x2 ) = d(f (x1 ), f (x2 )) ≤ λd(x1 , x2 ),

Desde que, um número não pode ser menor do que si mesmo, e isto implica que x1 = x2 .
Escolhendo agora, qualquer x0 ∈ X e definindo uma sequência por:

xn+1 = f (xn )

Por indução em n,
d(xn+1 , xn ) ≤ λn d(f (x0 ), x0 ).

Se n ∈ N e m ≥ 1,

d(xn+m , xn ) ≤ d(xn+m , xn+m−1 ) + ... + d(xn+1 , xn )

≤ (λn+m + ... + λn )d(f (x0 ), x0 )


λn
≤ d(f (x0 ), x0 ) (2.1)
1−λ
24

Potanto, xn é uma sequência de Cauchy e admite um limite x ∈ X, logo X é completo.


Desde que, f é contı́nua, têm-se f (x) = lim f (xn ) = lim xn+1 = x 
n n
Observação: Fazendo m −→ ∞ em (2.1) encontra-se a relação

λn
d(xn , x) ≤ d(f (x0 ), x0 )
1−λ

a qual fornece um controle na taxa de convergência de (xn ) para o ponto fixo x.


A completitude de X desempenha aqui um papel crucial. De fato, contrações em
espaços métricos incompletos podem deixar de ter pontos fixos.
x
Exemplo 2.1.3. Seja X = (0, 1] com a distância usual. Defina f : X −→ X, f (x) = .
2
Corolário 2.1.4. Seja X um espaço métrico completo e Y um espaço topológico.
Seja f : X × Y −→ X uma função contı́nua. Assumindo que f é uma contração em X,
e uniformemente em Y , isto é,

d(f (x1 , y), f (x2 , y)) ≤ λd(x1 , x2 ),

e para todo x1 , x2 ∈ X, para todo y ∈ Y , e para algum λ < 1. Então, para todo y ∈ Y
fixado, a aplicação x 7−→ f (x, y) tem um único ponto fixo ϕ(y). Além disso, a função
y 7−→ ϕ(y) é contı́nua de Y para X. Observando que se f : X × Y −→ X é contı́nua
em Y e é uma contração em X, uniformemente em Y , então, f é de fato, contı́nua em
X ×Y.

Demonstração: Em função do Teorema 2.1.2, resta somente provar a continuidade de


ϕ.
Para y, y0 ∈ Y , tem-se que:

d(ϕ(y), ϕ(y0 )) = d(f (ϕ(y), y), f (ϕ(y0 ), y0 ))

≤ d(f (ϕ(y), y), f (ϕ(y0 ), y)) + d(f (ϕ(y0 ), y), f (ϕ(y0 ), y0 ))

≤ λd(ϕ(y), ϕ(y0 )) + d(f (ϕ(y0 ), y), f (ϕ(y0 , y0 ))

o que implica:
1
d(ϕ(y), ϕ(y0 )) ≤ d(f (ϕ(y0 ), y), f (ϕ(y0 ), y0 )).
1−λ
Desde que o lado direito acima vai a zero quando y −→ y0 , obtém-se a continuidade
desejada. 
25

Observação: Se em adição, Y é um espaço métrico e f é Lipschitz contı́nua em Y ,


uniformemente com respeito a X, com constante de Lipschitz L ≥ 0, então a função
y 7−→ ϕ(y) é Lipschitz contı́nua com constante de Lipschitz menor que ou igual a L/(1−λ).
O Teorema 2.1.2 dá uma condição suficiente para f ter um único ponto fixo.

Exemplo 2.1.5. Um contra-exemplo: Considere a aplicação



 1/2 + 2x, x ∈ [0, 1/4],
g(x) =
 1/2, x ∈ (1/4, 1]

aplicando [0, 1] sobre si mesmo, neste caso, muito embora g não seja contı́nua, tem um
único ponto fixo ( x = 1/2 ).

O próximo corolário leva em consideração a situação acima e fornece existência e


unicidade em condições mais gerais.

Definição 2.1.6. Para f : X −→ X e n ∈ N denota-se por f n a n-ésima iterada de f , a


saber f ◦ ... ◦ f n-vezes (f 0 é a aplicação identidade). Considerando um ponto arbitrário
x0 ∈ X, e a fórmula de recorrencia dada por xn+1 = f (xn ), obtem-se:

x1 = f (x0 )

x2 = f (x1 ) = f (f (x0 )) = f 2 (x0 )

x3 = f (x2 ) = f (f (f (x0 ))) = f 3 (x0 )

...

xn = f n (x0 )

Corolário 2.1.7. Seja X um espaço métrico completo e seja f : X −→ X contı́nua. Se


f n é uma contração para algum n ≥ 1, então f tem um único ponto fixo x ∈ X.

Demonstração: Seja x o único ponto fixo de f n , dado pelo Teorema 2.1.2 . Então
f n (f (x)) = f (f n (x)) = f (x) implicando f (x) = x. Desde que, um ponto fixo de f é
claramente um ponto fixo de f n . obtém-se a unicidade. 
Observando que no Exemplo 2.1.5, g ◦ g = g 2 (x) ≡ 1/2.
Algumas extensões do princı́pio da contração - Existe na literatura um grande número
de generalizações do Teorema 2.1.2 . Aqui, apresentaremos alguns resultados.
26

Teorema 2.1.8 (Boyd-Wong). Seja X um espaço métrico completo e seja f : X −→


X. Assumindo que exista uma função contı́nua à direita ϕ : [0, ∞) −→ [0, ∞), tal que
ϕ(r) < r, se r > 0, e
d(f (x1 ), f (x2 )) ≤ ϕd(x1 , x2 ),

para todo x1 , x2 ∈ X. Então, f tem um único ponto fixo x ∈ X. Além disso, para
qualquer x0 ∈ X a sequência f n (x0 ) converge para x.
O Teorema 2.1.2, é um caso particular deste resultado para ϕ(r) = λr.

Demonstração: Se x1 , x2 são pontos fixos de f , então

d(x1 , x2 ) = d(f (x1 ), f (x2 )) ≤ λ(d(x1 , x2 ))

logo x1 = x2 . Para provar a existência, fixando qualquer x0 ∈ X e definindo a sequência


xn+1 = f (xn ). Mostra-se que xn é um sequência de Cauchy, e a conclusão desejada segue
do argumento utilizado na prova do Teorema 2.1.2 . Para n ≥ 1 , define-se uma sequência
positiva
an = d(xn , xn−1 ).

está claro que an+1 ≤ ϕ(an ) ≤ an ; e portanto, (an ) converge monotonicamente para algum
a ≥ 0. Da continuidade à direita de ϕ, obtém-se a ≤ ϕ(a) o que implica a = 0. Se (xn )
não é uma sequência de Cauchy, existe  > 0 e inteiros mk > nk ≥ k para todo k ≥ 1 tal
que
dk := d(xmk , xnk ) ≥ ,

para todo k ≥ 1. Em adição, sobre a escolha do menor possı́vel mk , pode-se assumir que

d(xmk−1 , xnk ) < 

para k suficientemente grande (aqui se usa o fato de que (an ) → 0). Portanto para k
suficientemente grande

 ≤ dk ≤ d(xmk , xmk−1 ) + d(xmk−1 , xnk ) < amk + 

implicando que dk → , quando acima k → ∞. Além disso,

dk ≤ dk+1 + amk+1 + ank+1 ≤ ϕ(dk ) + amk+1 + ank+1

e passando ao limite quando k → ∞, obtêm-se a relação  ≤ ϕ(), a qual é falsa desde


que  > 0. 
27

Teorema 2.1.9 (Caristi). Seja X um espaço métrico completo, e seja f : X −→ X.


Assumindo que exista uma função semicontı́nua inferiormente ψ : X −→ [0, ∞); tal que

d(x, f (x)) ≤ ψ(x) − ψ(f (x)),

para todo x ∈ X. Então, f tem (ao menos) um ponto fixo em X.

Novamente, o Teorema 2.1.2 é um caso particular, obtido por

ψ(x) = d(x, f (x))/(1 − λ),

observando que f não precisa ser contı́nua.


Demonstração: Introduzindo aqui a ordenação parcial em X, conforme [4], definindo
x ≺ y se e somente se d(x, y) ≤ ψ(x)−ψ(y). Seja ∅ =
6 X0 ⊂ X totalmente ordenado, e con-
sidere uma sequência xn ∈ X0 tal que ψ(xn ) é decrescente para α := inf {ψ(x) : x ∈ X0 }.
Se n ∈ N e m ≥ 1,
m−1
X
d(xn+m , xn ) ≤ d(xn+i+1 , xn+i )
i=0
m−1
X
≤ ψ(xn+i ) − ψ(xn+i+1 )
i=0
= ψ(xn ) − ψ(xn+m )

Daı́, xn é uma sequência de Cauchy, e admite limite x∗ ∈ X, pois X é completo. Desde


que, ψ pode únicamente saltar para baixo (sendo semicontı́nua inferiormente), tem-se
ψ(x∗ ) = α. Se x ∈ X0 e d(x, x∗ ) > 0, então é preciso ter x ≺ xn para n grande.
De fato, lim ψ(xn ) = ψ(x∗ ) ≤ ψ(x). Conclui-se que x∗ é cota superior de X0 , e pelo
n→∞
Lema de Zorn [4] existe um elemento maximal x. Por outro lado, x ≺ f (x). Assim, a
maximilidade de x implica a igualdade x = f (x). 

Teorema 2.1.10. Seja X um espaço métrico completo, seja f : X −→ X uma aplicação


contı́nua. Assumindo que exista uma função ψ : X −→ [0, ∞); tal que

d(x, f (x)) ≤ ψ(x) − ψ(f (x)),

para todo x ∈ X. Então, f tem um ponto fixo em X. Além disso, para qualquer x0 ∈ X
a sequência f n (x0 ) converge para um ponto fixo de f
28

Demonstração: Escolhendo x0 ∈ X. Devido a condição acima, a sequência ψ(f n (x0 )) é


decrescente e limitada, e assim convergente. Raciocinando como na prova do teorema de
Caristi, obtém-se que f n (x0 ) admite um limite x ∈ X, logo X é completo. A continuidade
de f acarreta que f (x) = lim f (f n (x0 )) = x. 
n
Conclui-se aqui com a seguinte extensão do Teorema 2.1.2 , e que desenvolve o conceito
de Quase-contração mas que afirmamos sem prova. [Este resultado é devido a Lj. B.
Ciric e pode ser visto em Proc. Amer. Math. Soc. 45, 267 273 (1974)].

Teorema 2.1.11 (Ciric). Seja X um espaço métrico completo, e seja f : X −→ X tal


que,

d(f (x1 ), f (x2 )) ≤ λ max {d(x1 , x2 ), d(x1 , f (x1 )), d(x2 , f (x2 )), d(x1 , f (x2 )), d(x2 , f (x1 ))} ,

para algum λ < 1 e x1 , x2 ∈ X. Então, f tem um único ponto fixo x ∈ X. Além disso,
d(f n (x0 ), x) = O(λn ), para qualquer x0 ∈ X.

Observação: Também, neste caso, f não precisa ser contı́nua. Contudo, é fácil checar
que ela é contı́nua no ponto fixo.
Contrações fracas: agora veremos o caso de aplicações em espaços métricos que são
fracamente contractivas .

Definição 2.1.12. Seja X um espaço métrico com a distancia d. Uma aplicação f :


X −→ X é uma contração fraca se,

d(f (x1 ), f (x2 )) ≤ d(x1 , x2 ),

para todo x1 6= x2 ∈ X.

De maneira geral, uma contração fraca não é condição suficiente para se ter um ponto
fixo, como é mostrado no seguinte exemplo.

Exemplo 2.1.13. Considere o espaço métrico completo X = [1, ∞) e seja f : X −→ X


definida como f (x) = x + 1/x. É fácil ver que f é uma contração fraca sem ponto fixos.

No entanto, a condição se torna suficiente quando X é compacto.

Teorema 2.1.14. Seja f uma contração fraca em um espaço métrico compacto X. Então
f tem um único ponto fixo x ∈ X. Além disso, para qualquer x0 ∈ X a sequência f n (x0 )
converge para x ∈ X.
29

Demonstração: O argumento da unicidade segue exatamente como na prova do Teorema


2.1.2 . Devido a compacidade de X, a função contı́nua x 7−→ d(x, f (x)) atinge seu mı́nimo,
em algum x ∈ X. Se x 6= f (x), obtém-se

d(x, f (x)) = minx∈X d(x, f (x)) ≤ d(f (x), f (f (x))) < d(x, f (x))

o que é impossı́vel, assim x é o único ponto fixo de f ( e também de f n para todo n ≥ 2).
Seja agora, x0 6= x dado, e defina dn = d(f n (x0 ), x). Observe que

dn+1 = d(f n (x0 ), f (x)) < d(f n (x0 ), x) = dn .

Daı́, dn é estritamente decrescente, e admite um limite r ≥ 0. Seja agora f nk (x0 ) uma


subsequência de f n (x0 ) convergindo para algum z ∈ X. Então,

r = d(z, x) = lim dnk = limk→∞ dnk+1 = lim d(f (f nk (x0 )), x) = d(f (z), x).
k→∞ k→∞

Mas, se z 6= x, então
d(f (z), x) = d(f (z), f (x)) < d(z, x).

Por conseguinte, qualquer subsequência convergente de f n (x0 ) tem limite x, que junta-
mente com a compacidade de X, implica que f n (x0 ) converge para x. 
Obviamente, pode-se relaxar a compacidade de X, exigindo que f (X) seja compacto
(somente aplicando o teorema na restrição de f em f (X) ). Argumentando como no
Corolário 2.1.7 , também é imediato a prova do corolário seguinte.

Corolário 2.1.15. Seja X um espaço métrico completo, e seja f : X −→ X. Se f n é


uma contração fraca, para algum n ≥ 1, então f tem um único ponto fixo x ∈ X.

A recı́proca do Teorema de Banach: Assumindo que sejam dados um conjunto


X e uma aplicação f : X −→ X. Estamos interessados em encontrar uma métrica d em
X tal que (X, d) seja um espaço métrico completo e f uma contração em X. Claramente,
em função do Teorema 2.1.2 , uma condição necessária é que cada iterada f n tenha um
único ponto fixo. E, surpreendentemente, a condição se torna suficiente, também.

Teorema 2.1.16 (Bessaga). Seja X um conjunto arbitrário, e seja f : X −→ X uma


aplicação tal que f n tenha um único ponto fixo x ∈ X para todo n ≥ 1. Então, para todo
 ∈ (0, 1), existe uma métrica d = d em X que faz X ser um espaço métrico completo, e
f uma contração em X com constante de Lipschitz igual a 
30

Demonstração: Escolhendo  ∈ (0, 1). Seja Z um subconjunto de X, consistindo de


todos os elementos z tal que f n (z) = x para algum n ∈ N. Define-se, a seguinte relação
de equivalência em X \ Z: dizemos que x ≈ y se, e somente se, f n (x) = f m (y) para
0 0
algum n, m ∈ N. Obsevando que se f n (x) = f m (y) e f n (x) = f m (y), então utilizando a
0 0
propriedade simétrica e reflexiva obtém-se f n+m (x) = f m+n (x). Mas, desde que x ∈
/ Z,
esta soma n + m0 = m + n0 que é n − m = n0 − m0 . Neste ponto, por meio do axioma
da escolha, seleciona-se um elemento de cada classe de equivalencia. Agora procedendo,
definindo a distância de x a um x ∈ X genérico, por d(x, x) = 0, d(x, x) = −n se x ∈ Z
com x 6= x, onde n = min {m ∈ N : f m (x) = x} e d(x, x) = n−m se x ∈
/ Z, onde n, m ∈ N
são tais que f n (x̂) = f m (x), sendo x̂ o representante selecionado da classe de equivalência
de [x]. A definição não é ambı́gua, devido a discussão acima. Finalmente, para qualquer
x, y ∈ X, define-se 
 d(x, x) + d(y, x), se x 6= y
d(x, y) =
 0, se x = y

É fácil verificar que d é uma métrica, para ver que d é completa, basta observar que
as únicas sequências de Cauchy que não convergem para X, são em ultima análise, as
constantes. Mostra-se que f é uma contração com constante de Lipschitz igual a . Seja
x ∈ X, x 6= x.Se x ∈ Z tem-se

d(f (x), f (x)) = d(f (x), x) ≤ −n = −(n+1) = d(x, x)

Se x ∈
/ Z, tem-se

d(f (x), f (x)) = d(f (x), x) = n−m = n−(m+1) = d(x, x)

desde que x é equivalente a f (x). A tese segue diretamente da definição de distância.



31

2.2 Sequências de aplicações e pontos fixos

Iremos considerar nesta seção dois tipos de convergência de sequências de aplica-


ções em espaços métricos completos: a convergência uniforme e a convergência pontual.
Considerando agora (X, d) um espaço métrico completo e uma sequência de aplicações
fn : X −→ X e verifica-se a convergência desta sequência para pontos fixos. O Corolário
2.1.7 será usado implicitamente na afirmação dos próximos dois teoremas.

Teorema 2.2.1. Assumindo que cada fn tem ao menos um ponto fixo xn = fn (xn ). Seja
f : X −→ X uma aplicação uniformemente contı́nua, tal que f m é uma contração para
algum m ≥ 1. Se fn converge uniformemente para f , então xn converge para algum
x = f (x).

Demonstração: Primeiramente, assumindo que f é uma contração (isto é, m = 1). Seja
λ < 1 a constante de Lipschitz de f . Dado  > 0, escolhendo n0 = n0 () tal que

d(fn (x), f (x)) ≤ (1 − λ),

para todo n ≥ n0 , e para todo x ∈ X. Então, para n ≥ n0 ,

d(xn , x) = d(fn (xn ), f (x))

≤ d(fn (xn ), f (xn )) + d(f (xn ), f (x))

≤ (1 − λ) + λd(xn , x).

Portanto d(xn , x) < , o que prova a convergência. 


Para provar o caso geral, é suficiente observar que se,

d(f m (x), f m (y)) ≤ λm d(x, y)

para algum λ < 1, pode-se definir uma nova métrica d0 em X equivalente a d, assim
m−1
X 1
d0 (x, y) = k
d(f k (x), f k (y)).
k=0
λ

Além disso, desde que f uniformemente contı́nua, fn converge uniformemente para f


32

também com respeito a d0 . Finalmente, f é uma contração com respeito a d0 . De fato,


m−1
X 1
d0 (f (x), f (y)) = d(f k+1 (x), f k+1 (y))
k=0
λk
m−1
X 1 1
= λ k
d(f k (x), f k (y)) + m+1 d(f m (x), f m (y))
k=0
λ λ
m−1
X 1
≤ λ d(f k (x), f k (y)) = λd0 (x, y)
k=0
λk

Logo, o problema é reduzido ao caso prévio m = 1. 


33

O próximo resultado se refere a uma classe especial de espaços métricos completos.

Teorema 2.2.2. Seja X localmente compacto. Assumindo que para cada n ∈ N existe
mn ≥ 1 tal que fnmn é uma contração. Seja f : X −→ X uma aplicação tal que f m é uma
contração para algum m ≥ 1. Se fn converge ponto a ponto para f e fn é uma famı́lia
equicontı́nua, então xn = fn (xn ) converge para x = f (x).

Demonstração: Seja  > 0, suficientemente pequeno, tal que

K(x, ) := {x ∈ X : d(x, x) ≤ } ⊂ X.

é compacto. Como subproduto do Teorema de Ascoli, fn converge uniformemente para


f em K(x, ) desde que, é equicontı́nua e converge pontualmente. Escolhendo n0 = n0 ()
tal que

d(fnm (x), f m (x)) ≤ (1 − λ), para todo n ≥ n0 , para todo x ∈ K(x, ).

onde λ < 1 é a constante de Lipschitz de f m . Então, para n ≥ n0 e x ∈ K(x, ), tem-se

d(fnm (x), x) = d(fnm (x), f m (x))

≤ d(fnm (x), f m (x)) + d(f m (x), f m (x))

≤ (1 − λ) + λd(x, x) ≤ 

Daı́, fnm (K(x, )) ⊂ K(x, ) para todo n ≥ n0 . Desde que, as aplicações fnmn são contrações,
segue que, para n ≥ n0 , os pontos fixos xn de fn pertencem a K(x, ), que é d(xn , x) ≤ .

34

2.3 Pontos fixos de aplicações não-expansivas

Seja X um espaço de Banach, C ⊂ X não vazio, fechado, limitado e convexo, e seja


f : C −→ C. A aplicação f é dita ser não-expansiva se:

kf (x) − f (y)k ≤ kx − yk , para todo x, y ∈ C.

O problema é saber se f admite ou não um ponto fixo em C. A resposta, em geral, é


falsa.

Exemplo 2.3.1. Seja X = c0 com a norma do supremo. Deixando, B X (0, 1), a aplicação
f : C −→ C, definida por

f (x) = (1, xo , x1 , ...), para x = (x0 , x1 , ...) ∈ C

é não-expansiva, mas claramente, não admite ponto fixo em C.

As coisas são muito diferentes em espaços de Banach uniformemente convexos.

Teorema 2.3.2 (Browder-Kirk). Seja X um epaço de Banach, uniformemente convexo


e C ⊂ X não-vazio, fechado, limitado e convexo. Se f : C −→ C é uma aplicação não-
expansiva, então f tem um ponto fixo em C.

A prova deste teorema pode ser vista em [15]. Aqui forneceremos uma prova para um
caso particular quando X é um espaço de Hilbert.
Demonstração: Seja x∗ ∈ C fixado, e considere uma sequência rn ∈ (0, 1) convergindo
para 1. Para cada n ∈ N, defina uma aplicação fn : C −→ C, quando

fn (x) = rn f (x) + (1 − rn )x∗

Observando que fn é uma contração em C, daı́, existe um único xn ∈ C tal que fn (xn ) =
xn . Desde que, C é fracamente compacto, xn tem uma subsequência (ainda denotada por
xn ) fracamente convergente para algum x ∈ C. Nós provaremos que x é um ponto fixo de
f . Observe primeiro que,

lim (kf (x) − xn k2 − kx − xn k2 ) = kf (x) − xk2 .


n→∞

Desde que f é não-expansiva, nós temos

kf (x) − xn k ≤ kf (x) − f (xn )k + kf (xn ) − xn k

≤ kx − xn k + kf (xn ) − x∗ k

= kx − xn k + (1 − rn ) kf (xn ) − x∗ k .
35

Mas rn → 1 quando n → ∞ e C é limitado, logo, conclui-se que

lim sup(kf (x) − xn k2 − kx − xn k2 ) ≤ 0


n→∞

que produz a igualdade f (x) = x. 

Proposição 2.3.3. Na hipótese do Teorema 2.3.2, o conjunto F dos pontos fixos de f é


fechado e convexo.

Demonstração: A primeira afirmação é trivial. Assumindo então, que x0 , x1 ∈ F , com


x0 6= x1 , e denotamos xt = (1 − t)x0 + tx1 , com t ∈ (0, 1). Tem-se

kf (xt ) − x0 k = kf (xt ) − f (x0 )k ≤ kxt − x0 k = t kx1 − x0 k

kf (xt ) − x1 k = kf (xt ) − f (x1 )k ≤ kxt − x1 k = (1 − t) kx1 − x0 k

que implica na igualdade

kf (xt ) − f (x0 )k = t kx1 − x0 k

kf (xt ) − f (x1 )k = (1 − t) kx1 − x0 k . 

A prova estará completa se mostrarmos que f (xt ) = (1 − t)x0 + tx1 . Isto segue de um
fato geral acerca da convexidade uniforme, o qual será recordado no próximo lema.

Lema 2.3.4. Seja X um espaço de Banach uniformemente convexo e seja α, x, y ∈ X


tal que kα − xk = t kx − yk , kα − yk = (1 − t) kx − yk,
para algum t ∈ [0, 1]. Então, α = (1 − t)x + ty

Demonstração: Sem perda de generalidade, pode-se assumir que t ≥ 1/2, tem-se

k(1 − t)(α − x) − t(α − y)k = k(1 − 2t)(α − x) − t(x − y)k

≥ t k(x − y)k − (1 − 2t) k(α − x)k

= 2t(1 − t) k(x − y)k .

desde que, a desigualdade reversa afirma que

(1 − t) kα − xk = t kα − yk = t(1 − t) kx − yk

da convexidade uniforme de X (mas, convexidade estrita seria suficiente), obtem-se

k(α − (1 − t)x − tyk = k(1 − t)(α − x) + t(α − y)k = 0

como foi afirmado. 


36

2.4 O teorema da média ergódica de Riesz

Se T é uma aplicação linear não-expansiva em um espaço de Banach uniformemente


convexo. Então, todos os pontos fixos de T são encontrados por meio de um processo de
limite.
Projeções: Seja X um espaço linear. Um operador linear P : X −→ X é chamado
uma projeção em X se, P ◦ P = P 2 x = P P x = P x, para todo x ∈ X. É facil verificar
que P é o operador identidade em Im(P ) e a relação Ker(P ) = Im(I − P ), Im(P ) =
Ker(I − P ), e Ker(P ) ∩ Im(P ) = {0}. Além disso, todo elemento x ∈ X admite uma
única decomposição x = y + z com y ∈ Ker(P ) e z ∈ Im(P ). Onde Ker(P ) denota o
núcleo de P , e Im(P ) a imagem de P .

Proposição 2.4.1. Se X é um espaço de Banach, então a projeção P é contı́nua se, e


somente se, X = Ker(P ) ⊕ Im(P ) A notação X = A ⊕ B é usada para indicar que A e
B são subespaços fechados de X tal que A ∩ B = {0} e A + B = X.

Demonstração: Se P é contı́nua então I − P é contı́nua. Daı́, Ker(P ), e Im(P ) =


Ker(I − P ) são fechados. Reciprocamente, seja xn → x e P xn → y. Desde que, Im(p)
é fechado, y ∈ Im(P ), portanto P y = y, mas P xn − xn ∈ Ker(P ) e Ker(P ) é fechado.
Logo, tem-se x − y ∈ Ker(P ), implicando P y = P x. Do teorema do gráfico fechado, P é
contı́nua.

Teorema 2.4.2 (F. Riesz). Seja X um espaço de Banach uniformemente convexo. Seja
T : X −→ X um operador linear tal que

kT xk ≤ kxk ,

para todo x ∈ X. Então, para todo x ∈ X, o limite

x + T x + ... + T n x
px = lim
n→∞ n+1

existe. Além disso, o operador P : X −→ X, definido por P x = px é uma projeção


contı́nua sobre o espaço linear M = {y ∈ X : T y = y}.

Demonstração: Fixando x ∈ X, o conjunto

C = co({x, T x, T 2 x, T 3 x, ...}).
37

C é um conjunto, não-vazio, convexo e fechado, e da convexidade uniforme de X existe


um único px ∈ C tal que
µ = kpx k = inf {kzk : z ∈ C} .

Selecione  > 0. Então para px ∈ C, existe m ∈ N e constantes não negativas α0 , α1 , ..., αm


com
Xm
αj = 1;
j=0
m
X
tal que, definindo z = αj T j x.
j=0
Não satisfaz
kpx − zk < 

Em particular, para todo n ∈ N


z + T z + ... + T n z

≤ kzk ≤ µ + 
n+1

observe que

z + T z + ... + T n z = (α0 x + ... + αm T m x) + (α0 T x + ... + αm T m+1 x)

+... + (α0 T n x + ... + αm T m+N x)

Assim assumindo n > m obtem-se

z + T z + ... + T n z = x + T x + ... + T n x + r

onde
r = (α0 − 1)x + ... + (α0 + α1 + αm−1 T m−1 )x

+(1 − α0 )T 1+n x + ... + (1 − α0 − α1 − ... − αm−1 )T m+n x.

Portanto,
x + T x + ... + T n x z + T z + ... + T n z r
= − .
n+1 n+1 n+1
Desde que,
r 2m kxk
n + 1 ≤ n + 1

ao escolher n suficientemente grande tal que, 2m kxk < (n + 1) tem-se


x + T x + ... + T n x z + T z + ... + T n z r


n + 1 ≤ µ + 2.
+
n+1 n+1
38

Por outro lado, é preciso ter


x + T x + ... + T n x

≥ µ.
n+1

Então, conclui-se que


x + T x + ... + T n x

lim =µ
n→∞ n+1

Isto diz, que o que precede é uma sequência de minimização em C e devido a convexidade
uniforme de X, ganha-se a convergência

x + T x + ... + T n x
lim = px .
n→∞ n+1

Estamos prontos para mostrar que o operador P x = px é uma projeção contı́nua sobre
M . Com efeito, é evidente que se x ∈ M , então px = x. Em geral,

T x + T 2 x + ... + T n+1 x T n+1 x − x


T px = lim = px + lim = px .
n→∞ n+1 n→∞ n+1

Finalmente, P 2 x = P P x = P px = px = P x. A continuidade é assegurada pela relação


kpx k ≤ kxk. 
Quando X é um espaço de Hilbert, P é na verdade, uma projeção ortogonal. Isto
segue da próxima proposição.
Projeção ortogonal: Se E é um espaço com produto interno e M um subconjunto de
E. Denominamos o subconjunto

M ⊥ = {y ∈ E : hx, yi = 0 para todo x ∈ M }

de complemento ortogonal de M . Se H é um espaço de Hilbert e M é um subespaço


fechado de H, então H = M ⊕ M ⊥ , isto é, cada x ∈ H admite uma única representção
na forma
x = p + q, com p ∈ M e q ∈ M ⊥ .

. Além disso,
kx − pk = dist(x, M ).

O vetor p é chamado de projeção ortogonal de x sobre M .

Proposição 2.4.3. Seja H um espaço de Hilbert, e P = P 2 : H −→ H um operador


linear limitado com kP k ≤ 1. Então, P é uma projeção ortogonal.
39

Demonstração: Desde que, P é contı́nua, Im(P ) é fechado, seja E uma projeção orto-
gonal tendo alcance Im(P ). Então,

P = E + P (I − E).

Seja agora, x ∈ Im(P )⊥ . Para qualquer  > 0 tem-se

kP (P x + x)k ≤ kP x + xk

o qual implica em


kP xk2 ≤ kxk2 .
2+
Daı́, P x = 0 e a igualdade P = E é assegurada. 
O papel desempenhado pela convexidade uniforme é essencial, como mostra o seguinte
exemplo.

Exemplo 2.4.4. Seja X = `∞ , e seja T ∈ L(X) definido por

T x = (0, x0 , x1 , ...),

para x = (x0 , x1 , x2 , ...) ∈ X. Então T tem um único ponto fixo, chamado, o elemento
zero de X. Não obstante, se y = (1, 1, 1, ...), para todo n ∈ N, obtem-se
y + T y + ... + T n y k(1, 2, ..., n + 1, n, n + 1, ...)k

= = 1.
n+1 n+1
40

2.5 O teorema do ponto fixo de Brouwer

Introdução O teorema do ponto fixo de Brouwer é um dos primeiros que surgiram,


ele afirma que: Toda aplicação contı́nua em uma bola fechada e unitária B n ⊂ Rn , em
si mesma, possui um ponto fixo. Este resultado se deve ao holândês Luitzen Brouwer,
as figuras abaixo ilustram duas maneiras pelas quais o próprio Brouwer utilizou para
explicar suas idéias sobre o teorema, a saber: em uma xı́cara de café, um torrão de açucar
é acrescentado, e ao se misturar o açucar com o café de maneira contı́nua, existe algum
ponto após a mistura na superfı́cie do café, que permanece na posição original; ou, ao se
utilizar duas folhas de papéis idênticas, e colocá-las uma sobre a outra horizontalmente,
e ao amassar a folha de cima sem rásgá-la, existe algum ponto da folha amassada que
permanece na mesma posição da outra folha.

a xı́cara de café

as folhas de papéis

Iniciamos com os resultados clássicos sobre o teorema do ponto fixo de Brouwer, com
as provas em dimensão 1, 2 e n, e comentamos brevemente os resultados que utilizam
41

conceitos de homologia e também uma prova que utiliza o teorema de Stokes enfatizando
o uso de formas diferenciais. Entretanto, a idéia chave na demonstração em todo estes
casos está intimamente relacionada à noção de retração, que é um conceito topológico.
Mais especificamente, Karol Borsuk provou em 1931 que o teorema do ponto fixo de
Brouwer é equivalente ao teorema da não-retração, sendo este um ponto importante em
nossa abordagem, pois queremos enfatizar que o teorema do ponto fixo de Brouwer não
tem uma prova direta. Finalizamos com a demonstração de que qualquer subconjunto,
não-vazio, compacto e convexo do Rn é homeomorfo a uma bola fechada em Rn . Portanto,
estes subconjuntos tem a propriedade do ponto fixo. De maneira geral, o teorema do ponto
fixo de Brouwer afirma que toda aplicação contı́nua de um subconjunto compacto convexo
do Rn em si mesmo tem um ponto fixo.

Definição 2.5.1. Um espaço topológico X é dito possuir a propriedade do ponto fixo, se


toda aplicação contı́nua de X em X tem um ponto fixo.

Nos exemplos dados abaixo verifica-se que a reta real e o cı́rculo unitário não tem a
propriedade do ponto fixo. De maneira geral, é sempre possı́vel saber se um conjunto não
tem a propriedade do ponto fixo, basta exibir uma aplicação contı́nua sem pontos fixos.

Exemplo 2.5.2. A reta real R não tem a propriedade do ponto fixo, desde que existe uma
função contı́nua de R em R que não fixa em nenhum ponto. Ex. a função f : R −→ R;
dada por f (x) = x + 1, para todo x ∈ R.

Exemplo 2.5.3. O cı́rculo S 1 não tem a propriedade do ponto fixo desde que a função
contı́nua f : S 1 −→ S 1 , dada pela rotação de cada ponto no cı́rculo através de um ângulo
π, não tem pontos fixos.

A prova em uma dimensão do teorema do ponto fixo de Brouwer, mostra que todo
intervalo fechado da reta, isto é, [a, b] ⊂ R tem a propriedade do ponto fixo.
Unidimensional: Apresenta-se o teorema do valor intermediário (TVI), o qual também
é do tipo que é chamado de teorema de existência e sua prova é devido a Bernard Bolzano
(1817) e a Cauchy, o qual é um resultado topológico sobre a retal real, e que tem como
consequência a versão unidimensional do teorema do ponto fixo de Brouwer.

Teorema 2.5.4 (Teorema do Valor Intermediário). Seja f : [a, b] −→ R uma função


contı́nua, tal que f (a) < f (b). Se um número c satisfaz a condição f (a) < c < f (b),
então existe um ponto x0 no intervalo fehado [a, b] para o qual f (x0 ) = c.
42

Demonstração : Inicialmente, se considera o caso para c = 0, isto implica que f (a) < 0
e f (b) > 0, onde I = [a, b]. Define-se uma função contı́nua ϕ(x) = λf (x) + x, tal que
x ∈ I, onde o parâmetro λ 6= 0, foi ecolhido afim de que a função ϕ(x) transforme o
intervalo [a, b] nele próprio. Esta escolha garante pelo Teorema do ponto fixo de Brouwer
que ϕ(x) tem pelo menos um ponto fixo x0 no intervalo [a, b]. Têm-se então:

ϕ(x0 ) = x0 ⇔ λf (x0 ) + x0 = x0 ⇔ λf (x0 ) = 0 ⇔ f (x0 ) = 0.

Definindo λ: pelo teorema de Weierstrass, a função f é limitada e tem um mı́nimo e um


máximo, tais que: m ≤ f (x) ≤ M , para todo x ∈ [a, b]. Em particular, tem-se m < 0, e
M > 0. Logo, pela continuidade de f , e f (a) < 0 < f (b), pode-se escolher um x1 tal que
f (x) < 0 para qualquer x ∈ [a, x1 ], e da mesma forma, escolhe-se x2 , tal que f (x) > 0
para todo x ∈ [x2 , b]. Seja
 
a − x1 b − x2
λ = max , .
M m

a − x1 b − x2
Assim, λ será igual a um dos dois valores negativos: ou .
M m
Escolhendo λ, têm-se ϕ(x) ≥ a para todo x ∈ [a, b].
a − x1
De fato, considerando x ∈ [a, b] tal que f (x) ≥ 0, e como λ ≥ , e multiplicando esta
M
a − x1
expressão por f (x), obtem-se λf (x) ≥ f (x), e utilizando o fato que −f (x) ≥ −M ,
M
resulta que

a − x1 a − x1 a − x1
ϕ(x) = λf (x)+x ≥ f (x)+x = (−f (x))+x ≥ (−M )+x = a−x1 +x.
M −M −M

implicando que ϕ(x) ≥ a − x1 + x ≥ a ou seja, ϕ(x) ≥ a para todo x ∈ [a, b] tal que
f (x) ≥ 0.
Para x tal que f (x) < 0, tem-se que λf (x) > 0 e ϕ(x) = λf (x) + x ≥ x ≥ a, ou seja

ϕ(x) ≥ a, para todo x ∈ [a, b].

De maneira análoga, tem-se que ϕ(x) ≤ b para todo x ∈ [a, b]. De fato, seja x ∈ [a, b] tal
que f (x) ≥ 0. Então

λf (x) ≤ 0 ⇒ ϕ(x) = λf (x) + x ≤ x ⇔ ϕ(x) ≤ b.

b−x2
Seja agora, x ∈ [a, b] tal que f (x) ≤ 0. E como, λ ≥ m
, e multiplicando ambos os
b−x2
membros da desigualdade por f (x), obtem-se λf (x) ≤ m
f (x) e utilizando o artifı́cio
43

anterior, resulta em
b − x2 b − x2 b − x2
ϕ(x) = λf (x) + x ≤ f (x) + x = (−f (x)) + x ≤ (−m) + x = b − x2 + x.
m −m −m
Isto implica que, ϕ(x) = λf (x) + x ≤ b para todo x ∈ [a, b], ou seja ϕ(x) ≤ b para todo
x ∈ [a, b], tal que f (x) ≤ 0.
Assim, ϕ(x) aplica [a, b] em [a, b], de forma que ϕ(x) tem pelo menos um ponto fixo x0
em [a, b]. Ou seja,

ϕ(x0 ) = λf (x0 ) + x0 = x0 ⇔ λf (x0 ) = 0 ⇔ f (x0 ) = 0.

Para o caso c 6= 0, basta utilizar o mesmo argumento definindo a função


ϕc = λ [f (x) − c] + x. 

Teorema 2.5.5 (Teorema do ponto fixo de Brouwer - em uma dimensão). Seja


f : [a, b] −→ [a, b] uma função contı́nua. Então, existe pelo menos um ponto fixo c ∈ [a, b]
tal que f (c) = c.

Demonstração: Se f (a) = a ou f (b) = b, o teorema está provado.


Supondo que f (a) > a e f (b) < b, podemos definir uma nova função ϕ : [a, b] −→ R
contı́nua, dada por ϕ(x) = x − f (x), com ϕ(a) > 0 e ϕ(b) < 0. Pelo TVI, deve existir
c ∈ [a, b] tal que ϕ(c) = 0, isto é, f (c) = c. 

Teorema 2.5.6 (Teorema da não-retraçao em dimensão 1). Não existe retração de


B 1 = [−1, 1] sobre sua fronteira ∂B = S 0 = {−1, 1}.

Demonstração: É imediato que não existe retração de [−1, 1] sobre {−1, 1}, desde que,
se existisse retração de [−1, 1] sobre {−1, 1} seria uma aplicação contı́nua de um espaço
conexo sobre um desconexo, o que é uma impossibilidade. 

Exemplo 2.5.7. Interpretação Geométrica: Seja f : [−1, 1] −→ [−1, 1], f tem um ponto
fixo, o que equivale a afirmar que: Não é possı́vel ligar dois lados paralelos de um quadrado
por uma linha contı́nua, sem intersectar a diagonal do quadrado.
44

Bidimensional: Apresenta-se o teorema do ponto fixo de Brouwer para duas dimensões,


e o teorema de não-retração, e a equivalencia entre os dois teoremas.

Teorema 2.5.8 (Teorema do ponto fixo de Brouwer - em duas dimensões). Toda


função contı́nua f : D −→ D que aplica o disco sobre si mesmo, tem um ponto fixo.

Teorema 2.5.9 (Teorema da não-retração em duas dimensões, a prova pode ser


vista em [2]). Não existe retração do disco D ⊂ R2 sobre sua fronteira ∂D = S 1 .

Como indicamos, nossa abordagem para provar o teorema do ponto fixo de Brouwer
consiste em mostrar a equivalência ao teorema da não-retração, e isto é feito no próximo
teorema.

Teorema 2.5.10. O disco D, como subespaço do R2 tem a propriedade de ponto fixo se,
e somente se não existe retração de D sobre sua fronteira S 1 .

Demonstração: Inicialmente, assumindo que exista uma retração r : D −→ S 1 . E,


considera-se a aplicação q : S 1 −→ D; tal que q(x) = −x, para todo x ∈ S 1 , onde x é
um vetor no plano. A função composta q ◦ r : D −→ D é contı́nua e não tem ponto fixo.
Portanto, se existe retração r : D −→ S 1 então D não tem a propriedade do ponto fixo.
Por outro lado, assumindo também que a função contı́nua f : D −→ D não tem ponto
fixo, mostra-se que existe uma retração r : D −→ S 1 , e define-se assim:
Seja um raio em R que vai de f (x) até x. Este raio está bem definido, desde que não
existe ponto fixo. E seja r(x) o ponto onde o raio intersepta S 1 . Obviamente, r aplica D
sobre S 1 e r(x) = x para todo x ∈ S 1 . e assim segue que r é uma retração, desde que a
continuidade de r é estabelecida. Então mostra-se que r é contı́nua: Seja U um aberto
em S 1 e x um ponto de r−1 (U ). Mostra-se que existe um conjunto aberto V contendo
x tal que r(V ) ⊂ U e além disso r−1 (U ) é aberto. Escolhendo pequenas bolas abertas
O1 e O2 centradas em x e f (x), respectivamente, tal que todo raio iniciando em O1 e
passando através de O2 intercepta S 1 no conjunto U . Desde que f é contı́nua, pode-se
encontrar um conjunto aberto V contendo x e contido em O2 tal que f (V ) ⊂ O1 . Assim,
para todo v ∈ V , o raio iniciando em f (v) passando através de v intercepta S 1 em U . E
como r(V ) ∈ U , e disto segue que r é contı́nua. Mas isto é impossı́vel pelo teorema da
não-retração Por isto, estabeleceu-se que se D não tem a propriedade do ponto fixo, então
existe uma retração r : D −→ S 1 . 
45

Teorema do ponto fixo de Brouwer - em dimensão n, e o Teorema da não-


retração
Seja B n = {x ∈ Rn ; kxk ≤ 1}. Um subconjunto E ⊂ B n é chamado um retrato de
B n se existe uma aplicação contı́nua r : B n −→ E (chamada retração), tal que r(x) = x,
para todo x ∈ E

Teorema 2.5.11 (Teorema do ponto fixo de Brouwer). Toda aplicação contı́nua da


B n bola unitária e fechada em si mesmo tem um ponto fixo.

Teorema 2.5.12 (Teorema da não-retração, a prova pode ser vista [14]). Não
existe retração de B n sobre S n−1

O resultado seguinte mostra a equivalência entre os dois teoremas.

Teorema 2.5.13. Sejam S n−1 = {x ∈ Rn ; kxk = 1} e B n = {x ∈ Rn ; kxk ≤ 1}. Para


n ≥ 1, S n−1 não é um retrato de B n , em outras palavras, o conjunto B n tem a propriedade
do ponto fixo se, e somente se não existe aplicação retração de B n sobre S n−1 .

Iremos apresentar o Lema do Raio, e sua demonstração.

Lema 2.5.14. Suponha que X é um subconjunto compacto, convexo do Rn com interior


não-vazio. Seja x0 ∈ IntX e x1 ∈ X tal que x0 6= x1 .

1. Se Rx0 ,x1 = {x0 + t(x1 − x0 ); t ≥ 0} é o raio que vai de x0 através de x1 . Então


Rx0 ,x1 encontra a fronteira de X em um único ponto.

2. De fato, todo x ∈ X encontra-se no único raio Rx0 ,xn tal que xn encontra-se na
fronteira de X.

Demonstração: a) Seja ∂X definido como a fronteira de X. Afirma-se que Rx0 ,x1 ∩ X 6=


∅. Pois X é limitado, logo existe M > 0 tal que d(x0 , y) < M, para todo y ∈ X.
Mas, Rx0 ,x1 é ilimitado, logo existe algum xn ∈ Rx0 ,x1 tal que d(x0 , xn ) > M . Assim
Rx0 ,x1 ∩ (Rn − X) 6= ∅. Por hipótese, x0 ∈ IntX, logo Rx0 ,x1 ∩ IntX 6= ∅. Desde
que Rx0 ,x1 é conexo, Rx0 ,x1 encontra ∂X. Pelo fato de X ser fechado, qualquer ponto
de Rx0 ,x1 ∩ ∂X está também em X. Suponha que y1 , y2 ∈ Rx0 ,x1 ∩ ∂X onde y1 6= y2 .
Então o segmento de reta fechado definido por [y1 .y2 ] ⊂ X, pois X é convexo. Sem
perda de generalidade, seja y2 ∈ (x0 , y1 ) = intervalo aberto, seja x0 ∈ IntX = conjunto
46

aberto, existe r > 0, tal que U0 ⊂ Br (x0 ). Dado qualquer x ∈ Br (x0 ), (x, y1 ) ∈ X. Seja
S
A = x∈U0 (x, y1 ). Então, A ⊂ X desde que (x, y1 ) ⊂ X, para todo x ∈ X. Define-se
Uλ = y1 + (1 − λ)(U0 − y1 ), 0 < λ < 1. Este é um conjunto aberto desde que é obtido por
translação e redefinição de U0 . Então,
[ [ [ [
A= (x, y1 ) = {y1 + (1 − λ)(x − y1 ); 0 < λ < 1} = Uλ = (conjuntos abertos).
x∈U0 x∈U0

Mas, y2 ∈ (x0 , y1 ), logo existe um λ tal que y2 ∈ Uλ assim y2 está no interior de X. Isto
é uma contradição. Portanto, Rx0 ,x1 ∩ ∂X tem um único ponto. b) Todo ponto x ∈ X,
com x 6= x0 , encontra-se no único raio Rx0 ,x1 com x ∈ ∂X, ou seja Rx0 ,x = Rx0 ,x1 com
{x} = Rx0 ,x1 ∩ ∂X. 
Demonstração do teorema: Afirmação 1: Se B n tem a propriedade do ponto fixo, então
não existe retração de B n sobre S n−1 . Isto é, se existir uma retração de B n sobre S n−1 , en-
tão existirá uma aplicação de B n em B n sem pontos fixos. Seja r : B n −→ S n−1 uma apli-
cação retração. E define-se m : S n−1 −→ S n−1 por m(x) = −x e também i : S n−1 −→ B n
para ser a aplicação inclusão, i(x) = x. Então, para todo x ∈ B n , i ◦ m ◦ r(x) 6= x.
Se x ∈ IntB n , então [i ◦ m ◦ r(x) ∈ S n−1 =⇒ i ◦ m ◦ r(x) 6= x]. Se x ∈ S n−1 , então
r(x) = −x 6= x. Assim, existe uma aplicação de B n para B n sem pontos fixos.
Afirmação 2: Se não existe aplicação retração de B n sobre S n−1 , então B n tem a proprie-
dade do ponto fixo. Isto é, se existe uma aplicação de B n em B n sem pontos fixos, então
existe uma aplicação retração de B n sobre S n−1 . Seja f : B n −→ B n não tendo pontos
fixos. Pode-se construir uma aplicaçao retração r, assim: Defina-se r : B n −→ S n−1 ,
por r(x) = f (x) + g(x)(x − f (x)) onde g(x) ≥ 1, desde que x 6= f (x) resultando em
f (x) 6= r(x) para todo x, e é escolhido de modo que r(x) ∈ S n−1 . Isto exige que:

hf (x) + g(x)(x − f (x)), f (x) + g(x)(x − f (x))i = ||r(x)||2 = 1

||x − f (x)||2 g(x)2 + 2 hf (x), x − f (x)i g(x) + ||f (x)||2 − 1 = 0

Daı́, pela formula quadrática e o fato que ||f (x)|| ≤ 1


q
− hf (x), x − f (x)i + hf (x), x − f (x)i2 − ||x − f (x)||2 (||f (x)||2 − 1)
g(x) =
||x − f (x)||2
O valor de g(x) depende do fato que x 6= f (x) para todo x ∈ B n . Precisa-se mostrar que,
de fato, r é uma retração. Pela hipótese, f (x) é contı́nua. Pois g(x) é dependente dos
valores de x e de f (x), e este é uma variável escalar contı́nua. Sendo r uma combinação
47

linear de funções contı́nuas, é então uma função contı́nua. Seja x ∈ S n−1 . Por definição
r extende o vetor x − f (x), baseado em f (x), logo, este encontra-se na fronteira de B n ,
em r(x). Pois [x, f (x)] é um segmento de reta nesta extensão. O Lema do Raio mostra
que esta extensão encontrará a fronteira, exatamente em um ponto. Por definição, este é
r(x). Mas, x ∈ ∂B n está neste raio. Assim, r(x) = x. 
Segue a prova de que os subconjuntos, compactos, convexos do Rn tem a propriedade
do ponto fixo.
Os subconjuntos compactos convexos do Rn

Teorema 2.5.15. Se K ⊂ Rn é compacto, convexo e tem interior não-vazio, então K é


homeomorfo a uma bola fechada B ⊂ Rn

Demonstração: (i) Inicialmente, estabelecendo um homeomorfismo ρ : ∂K −→ S, en-


tre a fronteira de K e uma esfera S em Rn . Para simplificar a notação: admitindo que
0 ∈ intK, por translação. Sejam B = B[0, ] uma bola fechada de centro 0 contida em K
e S = (0, ) a fronteira de B.
x
Definindo ρ : ∂K −→ S, pondo ρ(x) =  |x| . Logo, ρ é uma aplicação contı́nua de ∂K
em B. Para cada x ∈ ∂K, ρ(x) é o ponto onde a semi-reta que sai de zero e contém x
corta a esfera S. ~ é ilimitada,
Para cada u ∈ S, como K é limitado e a semi-reta Ou
existem nela pontos que não pertencem a K.
~ é um conjunto conexo, segue-se do teorema da alfandega que Ou
Como a semi-reta Ou ~

contém algum ponto x da fronteira de K, ou seja, ρ(x) = u. Isto mostra que ρ : K −→ S


é sobrejetiva. Afirma-se que ρ é injetiva: de fato, supondo que existissem x, y ∈ ∂K,
com x 6= y, e ρ(x) = ρ(y). Então, x, e y pertenceriam a mesma semi-reta.
Esolhendo a notação de modo que seja y ∈ [0, x], tem-se y = (1 − λ)x, com 0 < λ < 1. A
aplicação h : Rn −→ Rn , definida por h(z) = x+λ(z −x), é um homeomorfismo de Rn (ho-
motetia de centro x e razão λ) tal que h(0) = y. Como K é convexo e h(z) = (1−λ)x+λz,
ve-se que h(K) ⊂ K. Segue-se que h(B) é uma vizinhança de y, contida em K, o que
contradiz ser y ∈ ∂K. Assim ρ : ∂K −→ S é uma bijeção contı́nua. Como ∂K é um
subconjunto fechado do compacto K, e portanto é compacto, segue que ρ é um homeo-
morfismo.
(ii) Definindo uma aplicação f : K −→ B do seguinte modo: f (0) = 0 e, se 0 6= y ∈ K
~ corta a fronteira ∂K num único ponto x. Tem-
então, como visto acima, a semi-reta Oy
se portanto y = t.x, com t ∈ (0, 1] e x ∈ ∂K univocamente determinados. Pondo
48

f (y) = t.ρ(x).
Mostrando que f : K −→ B assim definida, é um homeomorfismo. Observando pri-
meiramente que, se I = [0, 1], o produto I × ∂K é compacto e portanto a sobrejeção
contı́nua m : I × ∂K −→ K, dada por m(t, x) = t.x, é uma aplicação quociente, e sendo
f ◦ m : I × ∂K −→ B, dada por (f ◦ m)(t, x) = t.ρ(x), é contı́nua. Logo, f é contı́nua e
bijetiva.
Segue-se que, f : K −→ B é um homeomorfismo. 
Em geral, para a demonstração do teorema do ponto fixo de Brouwer é necessário
ferramentas da topologia algébrica, as quais estão alem do propósito deste trabalho. No
exemplo a seguir verificaremos a validade do teorema do ponto fixo de Brouwer em ambi-
entes de dimensão infinita. A continuidade é deveras importante em dimensão finita, mas
não nos permite ir muito longe, quando os ambientes são de dimensão infinita.

Exemplo 2.5.16. Denotando por B a bola fehada e unitária de `2 , considere a aplicação


contı́nua
2 1/2
f : B −→ B, f (a = (aj )∞

j=1 ) = (1 − kak2 ) , a1 , a2 , ... .

observando que

X
2 2
kf (a)k = 1 − kak + a2j = 1
j=1

Verifica-se a seguir que f não tem ponto fixo. De fato, se existisse b ∈ B tal que f (b) = b,
terı́amos kbk2 = kf (b)k2 = 1 e então

(b1 , b2 , ...) = b = f (b) = (1 − kbk22 )1/2 , b1 , b2 , ... = (0, b1 , b2 , ...).




isto implica que b = 0, o que é uma contradição pois kbk2 = 1. Concluı́mos que f mesmo
sendo contı́nua, não tem ponto fixo.

O exemplo acima mostra que o teorema do ponto fixo de Brouwer é um resultado


confinado a espaços euclidianos, muito embora, este resultado pode ser exportado para
espaços de Banach, utilizando-se outras hipóteses, o que veremos nas próximas seções.
49

Comentário 1: O teorema da não-retração pode ser provado por meios de ferramentas


da topologia algébrica, embora esta abordagem esteja além deste trabalho.
Comentário 2: Sobre a prova do torema do ponto fixo de Brouwer utilizando o teorema
de Stokes, conforme [3]:
Para provar que uma aplicação tem pontos fixos, pode-se assumir que ela é suave, pois
se uma aplicação não tem pontos fixos, então envolvendo esta com uma função suave de
suporte suficientemente pequeno, esta produz uma função suave sem pontos fixos. Como
na prova em duas dimensões e na n-dimensional, e até mesmo quando se usa conceitos
de homologia, a não-retração é o ponto chave da demonstração. Assim, fica reduzido a
provar que não existe retração suave f da bola B sobre sua fronteira ∂B. Se ω é a forma
volume na fronteira então pelo teorema de Stokes, onde se utilizam conceitos de formas
diferenciais, temos:
Z Z Z Z Z
∗ ∗ ∗
0< ω= f (ω) = df = f (dω) = f ∗ (0) = 0
∂B ∂B B B B

dando uma contradição.


É possı́vel, utilizando Stone-Weierstrass, aproximar funções contı́nuas por aplicações
C 1 , ou se a função não é C 1 pode ser aproximada utilizando (S-W). Mas, o resultado
seguinte é para aplicações suaves.

Teorema 2.5.17. Toda aplicação C 1 , f : B n −→ B n da bola n-dimensional em si mesma,


tem ao menos um ponto fixo.

Demonstração Suponha que f : B n −→ B n não tenha pontos fixos. Então define-se uma
aplicação F : B n −→ S n−1 da bola para sua fronteira, atribuindo a cada ponto x ∈ B n , o
ponto de interseção do raio que de f (x), através de x, com a esfera S n−1 . A formula para
F,
s 
 2  
x − f (x) x − f (x)  x − f (x)
F (x) = x +  1 − ||x||2 + x, − x, .
||x − f (x)|| ||x − f (x)|| ||x − f (x)||

mostra que F é suave, e além disso, atua na fronteira da bola como a identidade, F (x) = x,
para todo x ∈ S n−1 . F é uma retração Seja F 1 , ..., F n as componentes de F . E
diferenciando a seguinte relação que é válida para todo x ∈ B n .
n
X
(F i (x))2 = 1,
i=1
50

produzindo,
n n
X X ∂F i (x)
2 F i (dF i ) = 2 (F i j
)dxj = 0,
i=1 i,j=1
∂x

e portanto para cada ı́ndice j


n
X ∂F i (x)
F i (x) = 0.
i=1
∂xj

Além disso, o sistema de equações


n
X ∂F i (x)
αi (x) =0
i=0
∂xj

tem uma solução não trivial

(α1 , ..., αn ) = (F 1 (x), ..., F n (x)) 6= (0, ..., 0).

i
Daı́,o determinante da matriz se torna zero det( ∂F∂x(x)
j ) = 0. Agora, aplica-se esta obser-

vação de formas diferenciais:

ω n−1 = F 1 ∧ dF 2 ∧ ... ∧ dF n ,

E, concluı́-se que esta diferencial se torna zero:

n−1 1 2 ∂F i (x) n
dω = dF ∧ dF ∧ ... ∧ dF = det( j
)dx1 ∧ ... ∧ dxn = 0
∂x

Pelo teorema de Stokes, a integral da forma ω n−1 sobre a fronteira S n−1 de B n é igual a
zero. Z Z
n−1
0= dω = ω n−1 .
Bn S n−1

Por outro lado, F atua na fronteira da esfera S n−1 como a identidade; por isso

ω n−1 |S n−1 = x1 dx2 ∧ ... ∧ dxn |S n−1 .

Isto implica que,


Z Z
1 2 n
0= x dx ∧ ... ∧ dx = dx1 ∧ ... ∧ dxn = vol(B n ),
S n−1 Bn

e chega-se a uma contradição. 


51

2.6 O teorema do ponto fixo de Schauder-Tychonoff

Este teorema é uma extensão do Teorema do ponto fixo de Brouwer para uma situação
mais geral. Para um melhor entendimento iniciaremos com os enunciados dos teoremas
de ponto fixo devido a Brouwer, Schauder e Tychonoff. A prova de Schauder e Tychonoff
pode ser vista em [4].

Teorema 2.6.1 (Teorema do ponto fixo de Brouwer). - Toda aplicação contı́nua da


bola unitária e fechada de Rn em si mesma, tem um ponto fixo.

Teorema 2.6.2 (Teorema do ponto fixo de Schauder). - Seja C um subconjunto,


não-vazio, fechado, convexo, limitado de um espaço de Banach X. Então, toda aplicação
contı́nua, compacta T : C −→ C tem um ponto fixo.

Teorema 2.6.3 (Teorema do ponto fixo de Tychonoff ). - Seja C um subconjunto,


não-vazio, compacto, convexo de um espaço topológico linear X, localmente convexo e
T : C −→ C uma aplicação contı́nua. Então, T tem um ponto fixo.

um espaço topológico linear é um espaço vetorial topológico cujas estruturas algébricas


e topológicas são compatı́veis.

Lema 2.6.4. Seja K um não-vazio, compacto, convexo subconjunto de um espaço de


Banach real de dimensão finita. Então, toda função contı́nua f : K −→ K tem um ponto
fixo x ∈ K.

Demonstração: Desde que, X é homeomórfico ao Rn para algum n ∈ N, assumindo sem


perda de generalidade, que X = Rn . Também, assume-se K ⊂ Dn . Para todo x ∈ Dn ,
seja p(x) ∈ K o único ponto da norma do mı́nimo do conjunto x − K. Além disso, p é
contı́nua em Dn . De fato, dado x, xn ∈ Dn , com xn → x,

kx − p(x)k ≤ kx − p(xn )k ≤ kx − xn k + infk∈K kxn − kk −→ kx − p(x)k .

quando n → ∞. Assim, x − p(xn ) é uma sequência minimizada quando xn → x em x − K


e isto implica a convergência de p(xn ) → p(x). Defina agora, g(x) = f (p(x)). Então g
aplica continuamente D sobre K. Do teorema do ponto fixo de Brouwer, existe um x ∈ K
tal que g(x) = x = f (x). 
Como imediata aplicação, considere o exemplo 1 de capı́tulo 2. Se existe um conjunto
compacto, convexo K ⊂ Rn tal que h(K) ⊂ K, então h tem um ponto fixo x ∈ K
52

Outras aplicações bastante diretas são o teorema de Frobenius e o teorema fundamental


da Álgebra.

Teorema 2.6.5 (Frobenius). Seja A uma matriz n × x com entradas estritamente po-
sitiva, então A tem autovalores estritamente positivos.

Demonstração: A matriz A pode ser vista como uma transformação linear de Rn para
Rn . Introduzindo o conjunto compacto convexo
( n
)
X
n
K= x∈R : xj = 1, xj ≥ 0, para j = 1, ..., n .
j=1

e defina f (x) = Ax/ kAxk1 (onde k·k1 é a norma euclideana 1). Observe que se x ∈ K
então toda as entradas de x são não negativas e ao menos uma é estritamente positiva,
daı́, todas as entradas de Ax são estritamente positivas. Então f é uma função contı́nua
aplicando K em K e portato, existe x ∈ K tal que Ax = kAxk1 x. 
Partições da unidade: - Suponha que V1 , ..., Vn são subconjuntos abertos de um espaço
de Hausdorff X, localmente compacto, K ⊂ X é compacto, e

K ⊂ V1 ∪ ... ∪ Vn .

Então, para todo j = 1, ..., n existe ϕj ∈ C(X), 0 ≤ ϕj ≤ 1 com suporte em Vj tal que

ϕ1 (x) + ... + ϕn (x) = 1, para todo x ∈ K.

A coleção ϕ1 , ..., ϕn é dita ser uma partição da unidade para K, subordinada a cobertura
aberta {V1 , ..., Vn }. A existência de partições da unidade, é consequência direta do Lema
de Urysohn, que de maneira geral afirma que dados A, B dois subconjuntos fechados e
disjuntos de um espaço topológico X, existe uma função contı́nua f : X −→ [0, 1] tal que
f (A) ⊆ {0} e f (B) ⊆ {1}. Frequentemente, é interessante encontrar partições da unidade
de um conjunto compacto K ⊂ X, cujos membros, são funções contı́nuas definidas em K.
Claramente, neste caso, X não precisa ser localmente compacto.

Teorema 2.6.6 (Schauder-Tychonoff ). Seja X um espaço localmente convexo, K ⊂ X,


não-vazio e convexo, K0 ⊂ K, e K0 compacto. Dado uma aplicação contı́nua f : K −→
K0 . Então, existe x ∈ K0 tal que f (x) = x.

Demonstração: Denote por B uma base local para a topologia em X gerada pela famı́lia
separável de seminormas de P em X. Dado U ∈ B, da compacidade de K0 , existe
53

x1 , ..., xn ∈ K0 tal que


n
[
K0 ⊂ (xj + U ),
j=1

Seja ϕ1 , ..., ϕn ∈ C(K0 ) uma partição de unidade de K0 subordinada a cobertura aberta


{xj + U }, defina
n
X
fU (x) = ϕj (f (x))xj , para todo x ∈ K
j=1

então,
fu (K) ⊂ Ku := co({x1 , ..., xn }) ⊂ K,

o Lema 2.6.4, assegura a existência de xU ∈ KU tal que fU (xU ) = xU . Então,


n
X
xU − f (xU ) = fU (xU ) − f (xU ) = ϕj (f (xU ))(xj − f (xU )) ∈ U (2.2)
j=1

para ϕj (f (xU )) = 0 quando xj − f (xU ) ∈


/ U , apelando novamente para a compacidade de
K0 , existe
\
x∈ {f (xU ) : U ∈ B, U ⊂ W } ⊂ K0 , (2.3)
W ∈B
Selecione agora, p ∈ P e  > 0 , e seja

V = {x ∈ X : p(x) < } ∈ B,

Desde que f é contı́nua em K, existe W ∈ B, W ⊂ V , tal que

f (x) − f (x) ∈ V

quando x − x ∈ 2W, x ∈ K. Além disso, por (2.3), existe U ∈ B, U ⊂ W , tal que

x − f (xU ) ∈ W ⊂ V, (2.4)

Coletando (2.2) e (2.4), obtem-se

xU − x = xU − f (xU ) + f (xU ) − x ∈ U + W ⊂ W + W = 2W,

o que produz
f (xU ) − f (x) ∈ V, (2.5)

Por isso, (2.4) - (2.5) acarreta

p(x − f (x)) ≤ p(x − f (xU )) + p(f (xU ) − f (x)) < 2.

Sendo p e  arbitrário, conclui-se que p(x − f (x)) = 0 para todo p ∈ P , o que implica na
igualdade f (x) = x. 
54

2.7 O teorema de Markov-Kakutani

O seguinte teorema refere-se a pontos fixos comuns de uma famı́lia de aplicações line-
ares comutativas.

Teorema 2.7.1 (Markov-Kakutani). Seja X um espaço localmente convexo, e seja


K ⊂ X um conjunto não-vazio, compacto, convexo. Assumindo que G é uma famı́lia de
operadores lineares e limitados de X em X tal que:
(a) G é abeliano, isto é, T S = ST , para todo S, T ∈ G;
(b) T K ⊂ K para todo T ∈ G.
Então existe, x ∈ K tal que T x = x para todo T ∈ G.
Demonstração: Para qualquer T ∈ G e qualquer n ∈ N, defina o operador

I + T + ... + T n
Tn =
n+1

Observando que (b) e a convexidade de K implicam que

Tn K ⊂ K.

Dado T (1) , ..., T (k) ∈ G e n1 , ..., nk ∈ N, segue que


k
\
Tn(j)
j
6= ∅.
j=1

De fato, de (a) para qualquer T, S ∈ G, e qualquer m, n ∈ N,

Tn K ∩ Sm K ⊃ Tn Sm K − Sm Tn K 6= ∅

Envolvendo a compacidade de K, a propriedade da interseção finita fornece


\
F = Tn K 6= ∅
T ∈G,n∈N

Afirma-se que, todo x ∈ F , é ponto fixo de todo T ∈ G. Seja então, x ∈ F , e qualquer


T ∈ G. Então, para todo n ∈ N existe y = y(n) ∈ K tal que x = Tn y. Por isso,

T y + T 2 y + ... + T n+1 y + T y + ... + T n y T n+1 y − y 1


Tx − x = − = ∈ (K − K).
n+1 n+1 n+1 n+1

Assim,
\ 1
Tx − x ∈ (K − K).
n∈N
n+1
55

O conjunto K − K é claramente compacto, pois é a imagem de K × K sob a aplicação


contı́nua Φ(x1 , x2 ) = x1 − x2 . Seja então, p a seminorma em X. Então para qualquer
 > 0 existe n ∈ N tal que

1
(K − K) ⊂ {x ∈ X : p(x) < } .
n+1

Conclui-se que p (T x − x) = 0, para toda seminorma em X, o que acarreta a igualdade


T x = x. 
56

Capı́tulo 3
ANÁLISE COMPARATIVA

Neste capı́tulo iremos comparar e analisar os teoremas do ponto fixo de Banach e de


Brouwer em seus aspectos mais gerais, os assuntos iniciais que embasam esta abordagem
estão contidos na capı́tulo 2, especificamente na seção 2.1 e na seção 2.5 , pois contém os
enunciados clássicos destes teoremas.
Quadro preliminar comparativo:

item BROUWER (1910) BANACH (1922)


1 f é uma aplicação contı́nua f é uma aplicação contração (Lips-
chitziana)
2 X é um espaço topológico. Mais es- X é um espaço métrico completo
peficicamente, X é um subconjunto
compacto, convexo do Rn
3 A prova clássica padrão é não- A prova padrão é essencialmente
construtiva construtiva. Exibe um método para
localizar o ponto fixo.
4 teorema de existência teorema de existência e unicidade

Inicialmente se observa uma diferença na natureza das demonstrações destes dois teo-
remas clássicos, sendo a de Brouwer de forma indireta ou por equivalencias e a de Banach,
essencialmente construtiva.
Um outro aspecto observado foi o ambiente comun em que os teoremas foram conce-
bidos, a saber: o espaço euclideano Rn ou seja, foi considerado espaços de dimensão finita
e também foram consideradas funções f ou aplicações onde o domı́nio e a imagem são os
mesmos, já que em dimensão infinita o domı́nio e a imagem de uma aplicação podem ter
diferentes topologias.
E em Brouwer o subconjunto X do Rn considerado é um espaço topológico, no caso,
a bola unitária B n e f uma função contı́nua, e em Banach o subconjunto X considerado
57

é um espaço métrico completo e f uma contração que garante a existência de um único


ponto fixo.
A métrica em X utilizada no teorema de Banach é crucial na hipotése de f ser uma
contração, e muito embora, a bola unitária no espaço euclideano Rn ser um espaço métrico,
e a topologia métrica determinar a continuidade da função f e esta garantir a existência
de pelo menos um ponto fixo, a ênfase em Brouwer é na caracterı́stica topológica da bola
unitária que por sua vez é contrátil.
Em função desta análise preliminar apresentada no quadro, é imediato verificar que o
aspecto em que há um ponto mais dissonante entre os teorema é exatamente a sua demons-
tração, e aı́ reside a principal motivação para este trabalho, por duas razões bem conheci-
das historicamente: A natureza não construtiva do teorema do ponto fixo de Brouwer; e o
fato da prova padrão do teorema do ponto fixo de Banach, ser definitivamente construtiva.
Um teorema de ponto fixo, em geral, é conhecido como um resultado de existência
real, ou seja, como um princı́pio de existência em matemática, e estes são basicamente de
dois tipos: a saber, de natureza construtiva em que a demonstração da existência de um
determinado objeto matemático consiste em exibir um algoritmo que permite pelo menos
em tese, calculá-lo. E o outro tipo, é de natureza conceitual, onde se garante a existência
e eventualmente se caracteriza o objeto, mas não fornecendo nenhum método de obtê-lo.
A versão classica do teorema de Brouwer se encaixa, pelo menos até o momento, neste
ultimo tipo, e por isto muitos estudiosos afirmam que este teorema não pode ser provado
construtivamente. Mas, desde que, suas muitas formulações equivalentes ou extensões
podem mostrar a existência de soluções para muitos problemas em matemática pura e
aplicada se empreendeu uma busca no sentido de se prová-lo diretamente.
As idéias sobre construtividade ou provas construtivas, surgem com Leopold Kronecker
(1823-1891), pois este acreditava que a prova da existência de um ente matemático deveria
se basear em um algoritmo finito que permitisse a sua construção, e isto deu impulso para
a formação da escola intuicionista, a qual teve Brouwer como um de seus expoentes, em
oposição à esola formalista, fundada por David Hilbert.
De maneira breve e objetivando entender neste texto o termo - matemática construtiva,
afirma-se que: Primeiro, são matemáticas feitas no ambito da matemática construtiva
proposta por Bishop [6], que é essencialmente a matemática feita com o uso da lógica
intuicionista e escolhas dependentes.
58

Segundo, o uso da lógica intuicionista garante que as provas prosseguem de maneira que
preservem o significado computacional, em particular, uma prova construtiva de existência
de P (x) incorpora um algorı́tmo para a construção de um objeto x e um algoritmo para
verificação de que P (x) se mantém. Desta forma, matemáticas construtivas podem ser
vistas como um alto nı́vel de linguagem de programação. O que contrastaria com as
demonstrações aceitas de forma indireta de um dado primeiro teorema, e que são aceitas
como válidas após verificar a demonstração de um segundo teorema, implicando assim em
uma formulação equivalente.
O teorema do ponto fixo de Brouwer em sua versão original ou clássica, até o momento
não tem uma prova direta. Mas em versões cuja idéia foi de utilizar o argumento da
aproximação de pontos fixos, tem surgido várias provas, este argumento foi defendido
pelo próprio Brouwer em 1952, conforme [14]. No artigo de 1976, R. B Kellogg e etc. [9]
apresenta a prova construtiva do teorema do ponto fixo de Brouwer que resulta em um
algoritmo ou metódo para se obter um ponto fixo, chamado de método da continuação,
no qual em linhas gerais se considera: D um conjunto aberto, convexo e limitado em Rn ,
e seja F : D̄ −→ D̄ contı́nua. O teorema do ponto fixo de Brouwer garante a existência
de um ponto fixo, um ponto x tal que x = F (x).
Para esta prova recente, foi observado que a técnica utilizada é a de  − pontos f ixos,
e é neste contexto que encontramos uma equivalencia nas demonstrações dos teoremas de
Brouwer e de Banach: A utilização de  − pontos f ixos , um argumento defendido por
Brouwer como tendo significado intuicionista.
Nos teoremas de Kellogg , a demonstração consiste em provar que existe -aproximação
no conjunto, a qual nos leva a encontrar um ponto fixo, e em caso contrário podemos
melhorar esta aproximação o quanto desejarmos até que se encontre o ponto desejado,
isto permite construir um algoritmo que levará a encontrar o ponto fixo.
Em Kellogg, observa-se que ao utilizar todas as hipotéses clássicas do teorema de
Brouwer, juntamente com o teorema da não retração, e introduzindo a hipótese da dife-
renciabilidade de uma aplicação, chega-se a uma situação em que se utiliza o argumento
intuicionista, para aproximação de pontos fixos. O qual é muito semelhante ao argumento
utilizado no teorema de Banach, e que resultou em um método, chamado de método das
aproximações sucessivas.
59

O argumento considerado por Brouwer como o único tendo significado para os intui-
cionistas consiste na validade deste teorema.

Teorema 3.0.2. Seja M um espaço métrico. E supondo que f seja uma aplicação contı́-
nua de um subconjunto fechado de M em um subconjunto compacto de M e que para cada
 > 0, deve existir x() tal que:

d(f (x()), x()) < , (3.1)

Então, f tem um ponto fixo.

Demonstração: Seja X um subconjunto fechado de U e seja Y uma subconjunto com-


pacto de U e seja T : X −→ Y , logo T (x()) está em Y .
Pode-se assumir que para alguma sequência n −→ 0 tenhamos T (x(n )) −→ y ∈ Y
e por d(T (x(), x()) < , x(n ) −→ y; tal que y ∈ X Assim, T (y) está definido e
T (y) = T (lim x(n )) = lim T (x(n )) = y. 

Definição 3.0.3. Os x() satisfazendo (3.1) são chamados de -pontos fixos para f .

Enunciaremos os teoremas e lema devido a R. B Kellogg e etc., sem demonstração, no


entanto, a prova está detalhada em [9], e esta é, uma prova construtiva do Teorema do
ponto fixo de Brouwer, a qual serve com base para a nossa abordagem comparativa.

Teorema 3.0.4. Para x0 ∈ U ∩ ∂D. O conjunto H −1 (x0 ) ∩ D consiste de um número de


componentes conexas, cada uma das quais é uma imagem difeomórfica C 1 de um cı́rculo
ou de um intervalo aberto.

Lema 3.0.5. Cada componente conexa de H −1 (x0 )∩D é um subconjunto fechado de D\C
na topologia relativa de D \ C.

O próximo teorema mostra a existência de um ponto fixo e dá a base para o método
numérico de Kellogg.

Teorema 3.0.6. Seja x0 ∈ R, e seja sj uma sequência com sj −→ L(x0 ). Então


x(sj , x0 ) contém uma subsequência que converge para um ponto fixo de F , logo C não
é vazio. Além disso, para  > 0 existe um s(, x0 ) < L(x0 ) tal que s(, x0 ) < s < L(x0 ),
dist(x(s, x0 ), C) < .

A partir destas provas, claramente o teorema do ponto fixo de Brouwer fornece agora
um método para se obter um ponto fixo, tal qual o faz, o teorema do ponto fixo de Banach.
60

Capı́tulo 4
APLICAÇÕES DE TEOREMAS DO PONTO FIXO

Ao longo deste capı́tulo iremos tratar de algumas aplicações de teoremas de ponto fixo,
como ferramentas importantes para provar teoremas da Análise, e da Teoria dos Jogos.

4.1 O teorema da função ı́mplı́cita

Diferenciabilidade Fréchet - Sejam X, Y espaços de Banach (real ou complexos), U ⊂


X, U aberto e x0 ∈ X e f : U −→ Y

Definição 4.1.1. f é Fréchet-diferenciável em x0 e existe T ∈ L(X, Y ) e σ : X −→ Y ,


kσ(x)kY
com kxkX
−→ 0 quando uniformemente kxkX −→ 0 tal que

f (x) − f (x0 ) = T (x − x0 ) + σ(x − x0 ), para todo x ∈ X.

O operador T é chamado de a derivada de Fréchet de f em x0 , e é denotado por f 0 (x0 ). A


função f e dita ser Fréchet-diferenciável em U se é Fréchet-diferenciável em todo x0 ∈ U .
É imediato verificar que a derivada de Fréchet em um ponto, se existe, é única.

Lema 4.1.2. Sejam X, Y espaços de Banach, e seja f : BX (0, r) −→ Y Fréchet-


diferenciável e kf 0 (x)kL(X,Y ) ≤ λ para todo x ∈ BX (0, r) e algum λ ≥ 0. Então, f é
Lipschitz contı́nua com constante de Lipschitz menor que ou igual a λ.

Demonstração: Seja x1 , x2 ∈ BX (0, r). Pelo teorema de Hahn-Banach, existe Λ ∈ Y 0 ,


onde Y 0 é o espaço dual de Y , de norma unitária tal que

kf (x1 ) − f (x2 )kY = |Λ(f (x1 ) − f (x2 ))| ,

Para t ∈ [0, 1] o conjunto


Φ(t) = Λf (tx1 + (1 − t)x2 ).

Aplicando o teorema do valor médio de Lagrange para Φ, existe τ ∈ (0, 1) tal que
|Λf (x1 ) − Λf (x2 )| = |Φ(1) − Φ(0)| ≤ |Φ0 (τ )| = |Λf 0 (τ x1 + (1 − τ )x2 )(x1 − x2 )| Daı́,

kf (x1 ) − f (x2 kY ≤ kf 0 (τ x1 + (1 − τ )x2 )(x1 − x2 )k ≤ λ kx1 − x2 kX . 


61

Dado dois espaços de Banach X e Y , o espaço vetorial X × Y é um espaço de Ba-


1/p
nach com qualquer das normas euclideanas (equivalentes). k(x, y)kp = (kxkpX + kykpY ) ,
k(x, y)k∞ = max {kxkX , kykY }, (p ≥ 1). Na sequência, sempre se usará a ∞-norma, de
modo que
BX×Y ((x0 , y0 ), r) = BX (x0 , r) × BY (y0 , r)

Para espaços de Banach X, Y, Z, dado T ∈ L(X, Z) e S ∈ L(Y, Z), o operador R :


X × Y −→ Z definido por
R(x, y) = T x + Sy

pertence a L(X × Y, Z). Reciprocamente, qualquer R ∈ L(X × Y, Z), tem a representação


acima com T x = R(x, 0) e Sy = R(0, y). É imediato ver que, L(X, Z) × L(Y, Z) e L(X ×
Y, Z) são espaços de Banach isomórficos. Dado então, f : U ⊂ X × Y −→ Z, onde
U é aberto e f é Fréchet-diferenciável em u0 = (x0 , y0 ) ∈ U , uma verificação fácil é
que as derivadas parciais Dx f (u0 ), e Dy f (u0 ) existem, (que é a derivada de Fréchet de
f (·, y0 ) : X −→ Z em x0 e de f (x0 , ·) : Y −→ Z em y0 respectivamente), e

f 0 (u0 )(x, y) = Dx f (u0 )(x) + Dy f (u0 )(y)

Teorema 4.1.3 (Dini). Sejam X, Y, Z espaços de Banach, U ⊂ X × Y um conjunto


aberto, u0 = (x0 , y0 ) ∈ U , F : U −→ Z, tal que
(a) F é contı́nua e F (u0 ) = 0;
(b) Dy F (u) existe para todo u = (x, y) ∈ U ;
(c) Dy F é contı́nua em u0 e Dy F (u0 ) é invertı́vel.
Então existe α, β > 0 para o qual B X (x0 , α) × B Y (y0 , β) ⊂ U e a única função contı́nua
f : B X (x0 , α) −→ B Y (y0 , β) tal que a relação

F (x, y) = 0 ⇐⇒ y = f (x)

É válido para todo (x, y) ∈ B X (x0 , α) × B Y (y0 , β).

Demonstração Sem perda de generalidade, assume-se x0 = 0 e y0 = 0. Defina

Φ(x, y) = y − [Dy F (0, 0)]−1 F (x, y), (x, y) ∈ U

Por (a) Φ é contı́nua de U em Y . Desde que,

[Dy Φ(0, 0)]−1 (Dy Φ(0, 0) − Dy Φ(x, y)) ,


62

por (c) existe γ > 0 pequeno o suficiente tal que

1
kDy Φ(x, y)kL(Y ) ≤ , para todo (x, y) ∈ BX (0, γ) × BY (0, γ) ⊂ U.
2

Assim o Lema 3.1.2 e a continuidade de Φ acarreta a desigualdade

1
kΦ(x, y1 ) − Φ(x, y2 )kY ≤ ky1 − y2 kY , kxkX , ky1 kY , ky2 kY ≤ β < γ.
2

Usando agora (a), encontra-se 0 < α < β tal que

β
kΦ(x, 0)kY ≤ , kxkX ≤ α.
2

Então para, kxkX ≤ α e kykY ≤ β,

1
kΦ(x, y)kY ≤ kΦ(x, 0)kY + kΦ(x, y) − Φ(x, 0)kY ≤ (β + kykY ) ≤ β.
2

Portanto, a aplicação contı́nua Φ : B X (0, α) × B Y (0, β) −→ B Y (0, β) é uma contração


em B Y (0, β) uniformemente em B X (0, α). Do Corolário 2.1.4, existe uma única função
contı́nua f : B X (0, α) −→ B Y (0, β) tal que Φ(x, f (x)) = f (x), isto é F (x, f (x)) = 0.

É obvio, que a tese se mantém ao se substituir na hipótese as bolas fechadas por bolas
abertas.

Corolário 4.1.4. Seja a hipótese do Teorema 4.1.3. Se, em adição F é Fréchet-diferenciável


em u0 = (x0 , y0 ), então f é Fréchet-difrenciável em x0 , e

f 0 (x0 ) = − [Dy F (u0 )]−1 Dx F (u0 ),

Demonstração: Aplicando a definição da diferenciabilidade Fréchet para F (x, f (x)) em


um ponto (x0 , f (x0 )), obtem-se

0 = Dx F (u0 )(x − x0 ) + Dy F (u0 )(f (x) − f (x0 )) + σ(x − x0 , f (x) − f (x0 )),

Observe que a relação acima implica que f é localmente Lipschitz em x0 . Por isso,

kσ(x − x0 , f (x) − f (x0 ))kZ


−→ 0,
kx − x0 kX

uniformemente quando kx − x0 kX −→ 0 o que produz a tese. 


63

Uma consequência do Teorema 4.1.3, é o teorema da função inversa.

Teorema 4.1.5. Sejam X, Y espaços de Banach, V ⊂ Y e y0 ∈ V . Seja g : V −→ X


Fréchet-diferenciável em uma vizinhança de y0 , g(y0 ) = x0 , g 0 é contı́nua em y0 e g 0 (y0 )
é invertı́vel. Então existem α, β > 0 e uma única função contı́nua f : BX (x0 , α) −→
BY (y0 , β) tal que x = g(f (x)) para todo x ∈ BX (x0 , α). Além disso, f é Fréchet-
diferenciável em x0 e f 0 (x0 ) = g(y0 )−1 .

Demonstração: Aplicando o Teorema 4.1.3 e o subsequente corolário para F (x, y) =


g(y) − x, guardando em mente as considerações feitas antes do teorema de Dini. 
O teorema de Dini, pode ser explorado para fornecer uma prova alternativa do fato
bem conhecido, no qual o conjunto de operadores lineares, limitados e invertı́veis entre
espaços de Banach é aberto.

Teorema 4.1.6. Sejam X, Y espaços de Banach, e seja Lreg (X, Y ) ⊂ L(X, Y ) o conjunto
de operadores lineares, limitados e invertı́veis de X sobre Y . Então Lreg (X, Y ) é aberto
em L(X, Y ). Além disso, a aplicação T −→ T −1 é contı́nua.

Demonstração: Seja F : L(X, Y ) × L(Y, X) −→ L(X) definda por F (T, S) = IY − T S.


Seja T0 ∈ Lreg (X, Y ), e seja S0 = T0−1 . Observando que DS (T, S) = −T R. Em particular,
DS (T0 , S0 ) = −T0 R. Então, a hipótese do Teorema 4.1.3, estã satisfeita; portanto, existe
uma função contı́nua f : BL(X,Y ) (T0 , α) −→ L(X, Y ) tal que IY − T f (T ) = 0, que é, IY =
T f (T ). Analogamente, se pode encontrar uma função contı́nua f1 : BL(X,Y ) (T0 , α) −→
L(X, Y ) (talvez para um pequeno α) tal que f1 (T )T = IX . E é imediato verificar que
f ≡ f1 , que é, f (T ) = T −1 para todo T ∈ BL(X,Y ) (T0 , α). 
Localização de Zeros - Sejam X, Y espaços de Banach e f : BX (x0 , r) −→ Y uma
aplicação Fréchet-diferenciável. Afim de encontrar um zero de f , a idéia é aplicar um
método iterativo, construindo uma sequência xn (iniciando de x0 ) de modo que xn+1 é o
zero da tangente de f em xn . Assumindo que f 0 (x)−1 ∈ L(Y, X) em BX (x0 , r), tem um

xn+1 = xn − f 0 (xn )−1 f (xn ), (4.1)

fornecendo xn ∈ BX (x0 , r) para todo n. Este procedimento é conhecido como o método


de Newton. Contudo, na prática, poder ser complicado inverter f 0 em cada passo. Assim
pode se tentar uma modificação

xn+1 = xn − f 0 (x0 )−1 f (xn ). (4.2)


64

Claramente, usando (4.2) em lugar de (4.1), uma menor taxa de convergência é esperada.
O próximo resultado é baseado em (4.2).

Teorema 4.1.7. Sejam X, Y espaços de Banach, e f : BX (x0 , r) −→ Y , uma aplicação


Fréchet-diferenciável. Assuma que, para algum λ > 0,
(a) f 0 (x0 ) é invertı́vel;
(b) kf 0 (x) − f 0 (x0 )kL(X,Y ) ≤ λ kx − x0 kX , para todo x ∈ BX (x0 , r);
2
(c) µ := 4λ kf 0 (x0 )−1 kL(X,Y ) kf (x0 )kY ≤ 1;
(d) s := 2 kf 0 (x0 )−1 kL(x,Y ) kf (x0 )kY < r.
Então, existe um único x ∈ B X (x0 , s) tal que f (x) = 0.

Demonstração: Defina Φ : B X (x0 , s) −→ X como Φ(x) = x − f 0 (x0 )−1 f (x). Então,

µ
kΦ0 (x)kL(X) ≤ f 0 (x0 )−1 L(Y,X) kf 0 (x0 ) − f 0 (x)kL(X,Y ) ≤ λs f 0 (x0 )−1 L(Y,X) = .

2

Por isso Φ é Lipschitz, com contante de Lipschitz menor que ou igual a µ/2 ≤ 1/2. Além
disso,
s
kΦ(x0 ) − x0 kX ≤ f 0 (x0 )−1 L(Y,X) kf (x0 )kY =

2
que por sua vez dá

µ s
kΦ(x) − x0 kX ≤ kΦ(x) − Φ(x0 )kX + kΦ(x0 ) − x0 kX ≤ kx − x0 kX + ≤ s.
2 2

Logo , Φ é uma contração em B X (x0 , s). Do princı́pio da contração, existe um único


x ∈ B X (x0 , s) tal que Φ(x) = x, o que implica em f (x) = 0. Em relação a velocidade da
convergência de xn para x, em virtude da observação após o Teorema 2.1.2, obtem-se

sµn
kxn − xkX ≤ .
(2 − µ)2n

Também, desde que

xn+1 − x = f 0 (x0 )−1 (f 0 (x0 − f 0 (xn ))(xn − x) + o(kxn − zkX )

segue que,
µ
kxn+1 − xkX = kxn − xkX + o(kxn − zkX )
2
como consequência,
kxn+1 − xkX ≤ c kxn − xkX
65

para algum c ∈ (0, 1), e para todo n grande. Isto é referido como, a convergência linear
do método. 
Observação: Se fizer µ < 2 e se for assumido que f 0 e Lipschitz contı́nua em BX (x0 , r)
com constante de Lipschitz λ, pode-se obter a tese com uma prova inteiramente diferente
explorando o método iterativo (4.1). Neste caso, obtem-se uma estimativa muito melhor

s  µ 2n−1
kxn − xkX ≤
2n 2

e
kxn+1 − xkX ≤ c kxn − xk2X

para algum c > 0 (isto é, tem-se a convergência quadrática).


66

4.2 Equações diferenciais ordinárias em espaços de Banach

Apresenta-se a prova do teorema de existência e unicidade de soluções de EDO’s numa


situação particular
Teorema de Picard
Considere o problema da existência de solução de uma equação diferencial ordinária
(EDO) de primeira ordem geral.
y 0 = f (x, y), (4.3)

onde f : Ω −→ R é qualquer função contı́nua definida em algum domı́nio (conjunto aberto


e conexo) Ω ⊆ R2 , onde y é a variável dependente, e x é variável independente. Isto é,
y = y(x) é a função desconhecida. O principal objetivo é provar que a classe de equações
da forma (4.3) tem solução local, e que a solução para tal problema de valor inicial é
única.

Definição 4.2.1. Seja (α, β) ⊆ R um intervalo dado e a ∈ (α, β) e y(x) contı́nua em


(α, β). Dada qualquer constante fixa b, um problema de valor inicial para a equação (4.3)

y 0 = f (x, y), y(a) = b. (4.4)

A idéia chave para solucionar o problema de valor inicial da equação em (4.4), reside
na substituição pela equação integral equivalente em y
Z x
y(x) = b + f (t, y(t))dt, (4.5)
a

onde x ∈ (α, β).

Proposição 4.2.2. A função ϕ é solução do problema de valor inicial (4.4), no intervalo


(α, β) ⊆ R se, e somente se, ϕ é solução da equação integral (4.5) em (α, β).

Demonstração: Se ϕ é solução do problema de valor inicial (4.4), então, para t ∈ (α, β)

ϕ0 (t) = f (t, ϕ(t)), (4.6)

e ϕ(a) = b. Desde que, ϕ é contı́nua em (α, β), e f é contı́nua em Ω, a função f (t, ϕ(t))
é contı́nua em (α, β). Daı́, integrando (4.6) de a até x acarreta que
Z x
ϕ(x) = b + f (t, ϕ(t))dt, (4.7)
a
67

e assim, ϕ é solução de (4.5). Reciprocamente, se ϕ satisfaz a equação integral (4.5), então,


ϕ(a) = b e diferenciando (4.7), encontra-se usando o teorema fundamental do cálculo, que

ϕ0 (x) ≡ f (x, ϕ(x)), em (α, β)

Assim, ϕ é solução do problema de valor inicial em (4.4). 

Definição 4.2.3. Uma função f (x, y) definida em um conjunto S ⊆ R2 é dita satisfazer


a condição de Lipschitz em y no conjunto S, se existe uma contante M > 0 tal que

|f (x, y1 ) − f (x, y2 )| ≤ M |y1 − y2 | , (4.8)

para todo (x, y1 ) e (x, y2 ) em S.

Observação: Uma condição suficiente para uma função f (x, y) satisfazer a condição de
∂f
Lipschitz em um retângulo fechado S em R2 é a continuidade de ∂y
(x, y) em S. Utilizando
o teorema do valor extremo de Weierstrass, existe M > 0 tal que

∂f
(x, y) ≤ M, (4.9)
∂y

para todo (x, y) ∈ S. Ao mesmo tempo, para (x, y1 ), (x, y2 ) ∈ S o teorema do valor médio
(T.V.M) implica que

∂f
|f (x, y1 ) − f (x, y2 )| = (x, ς) |y1 − y2 | ,
∂y

onde y1 < ς < y2 , agora, desde que (x, ς) ∈ S, utilizando (4.6), obtem-se

|f (x, y1 ) − f (x, y2 )| ≤ M |y1 − y2 | .

∂f
Assim, no teorema seguinte é suficiente assumir que f e são contı́nuas em Ω.
∂y
Teorema 4.2.4 (Picard). Seja Ω um domı́nio em R2 e seja f : Ω −→ R contı́nua. Seja
(a, b) ∈ Ω e considere o prolema de valor inicial

y 0 (x) = f (x, y), y(a) = b, (4.10)

supondo que f satisfaz a condição de Lipschitz em y no domı́nio Ω. Então, existe um


δ > 0 e uma única solução ϕ = ϕ(x) para o problema de valor inicial, para todo |x − a| ≤ δ
68

Demonstração: Desde que, Ω é aberto e v = (a, b) ∈ Ω, existe r1 > 0 tal que, o disco
aberto Br1 (v) ⊆ Ω. Escolhendo 0 < r < r1 , de forma qu o disco fechado B r (v) ⊆ Br1 (v).
desde que, f é contı́nua em Ω e também em B r (v), existe K > 0 tal que

|f (x, y)| ≤ K

para (x, y) ∈ B r (v). Em adição, f satisfaz a condição de Lipschitz em y no domı́nio Ω, e


portanto, em B r (v), existe M > 0 tal que

|f (x, y1 ) − f (x, y2 )| ≤ M |y1 − y2 | ,

r
, 1

para todo (x, y1 ), (x, y2 ) em B r (v). Agora, escolhendo 0 < δ < min K+1 M
tal que
1
δ< M
e o retângulo {(x, y) : |x − a| ≤ δ, |y − b| ≤ Kδ} ⊆ B r (v). Seja J = [a − δ, a + δ] e
considere o espaço métrico C(J) de toda função contı́nua real ψ : J −→ R com a métrica

d(φ, ψ) = max |φ(x) − ψ(x)| .


x∈J

Seja
C = {ψ ∈ C(J) : |ψ(x) − b| ≤ Kδ} .

O conjunto C é um não-vazio (C contém a função constante ψ(x) = b) subconjunto


fechado do espaço métrico completo (C(J), d) e ele mesmo é um espaço métrico completo.
Em adição, note-se que, se ψ ∈ C, então, |ψ(x) − b| ≤ Kδ e (x, ψ(x)) ∈ Ω para todo
x ∈ J.
Agora para cada ψ ∈ C considere a aplicação F dada por
Z x
F (ψ)(x) = b + f (t, ψ(t))dt,
a

onde x ∈ J. Observando que, f e ψ são contı́nuas, toda F (ψ) é contı́nua em J. Além


disso, a estimativa
x x x
Z Z Z

|F (ψ(x)) − b| = f (t, ψ(t))dt ≤ |f (t, ψ(t))| dt ≤ K dt ≤ Kδ,
a a a

mostrando que F (ψ) ∈ C. Agora, mostrando que F : C −→ C é uma aplicação contração


69

deste espaço. Seja ψ1 , ψ2 ∈ C. Então,

d(F (ψ1 ), F (ψ2 )) = max |F (ψ1 (x) − F (ψ2 (x))|


x∈J
Z x

≤ max |f (t, ψ1 (t)) − f (t, ψ2 (t))| dt
x∈J
Za x

≤ max M |ψ1 (t) − ψ2 (t)| dt
x∈J
aZ x

≤ max M
d(ψ1 , ψ2 )dt
x∈J a
≤ M d(ψ1 , ψ2 ) max |x − a|
x∈J

= M δd(ψ1 , ψ2 ).

Desde que M δ < 1, F é uma aplicação contração. Portanto, do princı́pio da aplicação


contração segue que existe ϕ ∈ C tal que, F (ϕ) = ϕ. Isto é
Z x
ϕ(x) = b + f (t, ϕ(t))dt.
a

Em outras palavras, ϕ é solução a equação integral (4.5). E segue da proposição acima


que ϕ é solução do problema de valor inicial (4.10) . Além disso, ϕ é a unica solução de
(4.10). Se houver ψ como outra solução de (4.10), ψ também satisfará a equação integral
Z x
ψ(x) = b + f (t, ψ(t))dt.
a

Portanto, F (ψ) = ψ, o que contradiz a unicidade de ϕ (isto é, a unicidade do ponto fixo).

70

Considerando agora, os casos em espaços de Banach.


A integral de Riemann - Seja X um espaço de Banach, I = [α, β] ⊂ R. A noção da
Integral de Riemann e as propriedades relacionadas podem ser extendidas sem nenhuma
diferença do caso de funções a valores reais para a função de valores X em I. Em particu-
lar, se f ∈ C(I, X), onde C(I, X)é o conjuntos das funções contı́nuas e limitadas, então
f é Riemann integrável em I,
β β
Z Z


f (t)dt ≤
kf (t)kX dt
α X α

d t
Z
e f (y)dy = f (t), para todo t ∈ I. Recordando, que a função h : I −→ X é
dt α
diferenciável em t0 ∈ I se o limite

h(t) − h(t0 )
lim
t→t0 t − t0

existe em X. Este limite é a derivada de h em t0 e é denotada por h0 (t0 ) ou d


dt
h(t0 ). Se
t0 ∈ (α, β) recorda-se a definição da diferenciabilidade Fréchet. É facil ver que, se h0 (t) = 0
para todo t ∈ [α, β], então h(t) é constante em [α, β]. De fato, para todo Λ ∈ X 0 , tem-se,
(Λ ◦ h)0 (t) = Λ0 h(t) = 0, que implica Λ(h(t) − h(t0 )) = 0, e do teorema de Hahn- Banach,
existe Λ ∈ X 0 tal que Λ(h(t) − h(α)) = kh(t) − h(α)k.
O problema de Cauchy - Seja X um espaço de Banach, U ⊂ R × X, U é aberto
u0 = (t0 , x0 ) ∈ U, f : U −→ X contı́nua. O problema é para encontrar um intervalo
fechado I, com t0 pertencente ao interior de I e uma função diferenciável x : I −→ X tal
que 
 x0 (t) = f (t, x(t)), t ∈ I,
(4.11)
 x(t ) = x .0 0

É evidente que x é automaticamente de classe C 1 em I. Também, é rapidamente visto


que (4.11) é equivalentes a equação integral

Rt
x(t) = x0 + t0
f (y, x(y))dy, t∈I (4.12)

A saber, x é solução de (4.11) se, e somente se, é solução de (4.12).


71

Teorema 4.2.5 (Solução Local). Assuma as seguintes hipóteses:


(a) f é contı́nua;
(b) A desigualdade
kf (t, x1 − f (t, x2 kX ≤ k(t) kx1 − x2 kX ,

para todo (t, x1 ), (t, x2 ) ∈ U , se mantém para algum k(t) ∈ [0, ∞];
(c) k ∈ L1 ((t0 − a, t0 + a)) para algum a > 0;
(d) Existe m ≥ 0 e B R×X (u0 , s) ⊂ U tal que

kf (t, x)kX ≤ m, para todo (t, x) ∈ B R×X (u0 , s).

Então, existe τ0 > 0 tal que, para qualquer τ < τ0 , existe uma única solução x ∈ C 1 (Iτ , X)
para o problema de Cauchy, com Iτ = [t0 − τ, t0 + τ ].

Observação: Observando primeiro, que de (b), desde que U é aberto, k é definido em


uma vizinhança de zero. Se k é constante, então (c), (d) são automaticamente satisfeitos.
De fato, para (x, t) ∈ B R×X (u0 , s), tem-se

kf (t, x)kX ≤ ks + max kf (t, x0 )kX .


|t−t0 |

Também, (d) é sempre verdadeiro, se X é de dimensão finita, e bolas fechadas são com-
pactas. Em ambos os casos, definindo

s0 = sup σ > 0 : B R×X (u0 , σ) ⊂ U

pode se escolher qualquer s < s0 .


Demonstração: Seja r = min {a, s} e o conjunto
n ro
τ0 = min r,
m

Selecione então, τ < τ0 e considere o espaço métrico completo Z = B C(Iτ ,X) (x0 , r) com
a métrica induzida pela norma de C(Iτ , X) (aqui x0 é uma função constante igual a x0 ).
Desde que, τ < r, se z ∈ Z, então (t, z(t)) ∈ B R×X (u0 , r) ⊂ U para todo t ∈ Iτ . Por isso,
para z ∈ Z define-se Z t
F (z)(t) = x0 + f (y, z(y))dy,
t0

paratodot ∈ Iτ . Observe que


Z t

sup kF (z)(t) − x0 kX ≤ sup kf (y, z(y))kX dy ≤ mτ ≤ r
t∈I τ t∈I τ t0
72

Conclui-se que F aplica Z em Z. O último passo é para mostrar que F n é uma contração
em Z para algum n ∈ N. Por indução, mostra-se também, que para todo t ∈ Iτ ,
n
1 t
Z
n n

kF (z1 )(t) − F (z2 )(t)k ≤ k(y)dy kz1 − z2 k
C(Iτ ,X) . (4.13)
n! t0

Para n = 1 é uma verificação fácil. Logo assumindo ser verdadeiro para n − 1, n ≥ 2.


Então, fazendo t > t0 (o argumento para t < t0 é análogo),

kF n (z1 )(t) − F n (z2 )(t)kX = F F n−1 (z1 )(t) − F F n−1 (z2 )(t) X
Z t
≤ f (y, F n−1 (z1 )(t)) − f (y, F n−1 (z2 )(t)) dy
X
t0
Z t
≤ k(y) F n−1 (z1 )(t) − F n−1 (z2 )(t) X dy
t0
"Z n−1 #
t Z y
1
≤ k(y) k(w)dw dy kz1 − z2 kC(Iτ ,X)
(n − 1)! t0 t0
Z t n
1
= k(y)dy kz1 − z2 kC(Iτ ,X) .
n! t0

Logo, vale para n − 1. Portanto, de (4.13) obtem-se

1
kF n (z1 ) − F n (z2 )kC(Iτ ,X) ≤ kkknL1 (Iτ ) kz1 − z2 kC(Iτ ,X) .
n!

isto mostra que para n suficientemente grande F n é uma contração. Pelo Corolário 2.1.7,
conclui-se que F admite um único ponto fixo, o qual é claramente a solução da equação
integral (4.12) e também de (4.11). 
73

4.3 O teorema fundamental da Álgebra

Como aplicação do teorema do ponto fixo de Brouwer, apresentamos uma prova para
o teorema fundamental da Álgebra que enfatiza a invariância de uma função em conjuntos
compactos.

Teorema 4.3.1 (Fundamental da Álgebra). Seja p(z) = a0 + a1 z + ... + an z n um


polinômio complexo de grau n ≥ 1 em C. Então, existe z0 ∈ C tal que p(z0 ) = 0.

Demonstração: Para este propósito, se identificará C com R2 . Pode-se supor, sem perda
de generalidade que an = 1 e

r = 2 + |a0 | + ... + |an−1 |.

Define-se a função contı́nua g : C −→ C como



 z − p(z) ei(1−n)θ , se |z| ≤ 1,
r
g(z) = .
 z − p(z) z (1−n) , se|z| > 1
r

onde z = ρeiθ com, θ ∈ [0, 2π) e considerando agora o conjunto K = {z; |z| ≤ r}, que é
compacto e convexo do plano. O objetivo é mostrar que K é invariante pela g, ou seja
g(K) ⊂ K De fato, se |z| ≤ 1, então

|p(z)| 1 + |a0 | + ... + |an−1 |


|g(z)| ≤ |z| + ≤1+ ≤ 1 + 1 = 2 ≤ r.
r r

reciprocamente, se 1 < |z| ≤ r, então tem-se


n−1

p(z) z a 0 + a 1 z + ... + a n−1 z
|g(z)| ≤ z − n−1 = z − −
rz r rz n−1

|a0 | + ... + |an−1 | r−2


≤r−1+ ≤r−1+ ≤r
r r
Assim K é invariante pela g. Seja z0 ∈ K ponto fixo de g, que é claramente a raiz de p,
e assim p(z0 ) = 0. 
74

4.4 Teoria dos jogos

Iremos apresentar um dos importantes resultados da teoria dos jogos, este é devido ao
matemático John Nash, que é sobre jogos não-cooperativos, e que por este resultado obteve
o Prêmio Nobel de Economia. Na demonstração do seu teorema, John Nash utilizou o
teorema do ponto fixo de Brouwer.
Considerando um jogo, com n ≥ 2 jogadores, sob a suposição que os jogadores não
cooperam entre si. Cada jogador adota uma estratégia, independente da estratégia dos
outros jogadores. Denote o conjunto de todas as estratégias possı́veis do K th jogador por
Kk e o conjunto K = K1 × ... × Kn . Um elemento x ∈ K é chamado perfil estratégico.
Para cada k, seja fk : K −→ R, a função perda do K th jogador. Se

n
X
fk (x) = 0, para todo x ∈K (4.14)
k=1

O jogo é chamado de soma-zero. O objetivo de cada jogador é minimizar sua perda,


ou equivalentemente, maximizar seu ganho.

Definição 4.4.1. Um Equilibrio de Nash é um perfil estratégico, com a propriedade de


que um jogador não pode ser beneficiado pela mudança de sua estratégia, enquanto os
outros jogadores mantém as suas estratégias inalteradas. Em fórmula, ele é um elemento
x = (x1 , ..., xn ) ∈ K tal que

fk (x) ≤ fk (x1 , ..., xk−1 , xk , xk+1 , , ..., xn ), para todo xk ∈ Kk . (4.15)

para todo k = 1, 2, ..., n.

Estritamente falando, um equilibrio de Nash sugere uma conveniente estratégia cau-


telosa a ser adotada por cada jogador no jogo. Afirma-se, uma estratégia, ao invés, da
estratégia, desde que um equilibrio de Nash (se existir), pode não ser único.
Precisa-se, é claro, de outras hipóteses sobre os conjuntos Kk e nas aplicações fk . É
razoável assumir que, com todas as outras estratégias fixadas, a função perda fk tenha
uma pequena variação em correspondência com uma pequena variação em xk . Além
disso, francamente falando, presume-se que as médias das perdas, que corresponde a
duas diferentes estratégias do K th jogador é maior que a perda correspondente a média
estratégica. Convexidade, pode traduzir melhor esta questão.
Um dos resultados fundamentais da teoria dos jogos é o seguinte:
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Teorema 4.4.2 (Nash). Para todo k = 1, 2, ..., n, seja Kk um subconjunto, não-vazio,


compacto e convexo de um espaço localmente convexo Xk . Assuma que para todo k a
função perda fk é contı́nua em K. Em adição, para todo xj ∈ Kj fixado, com j 6= k,
a aplicação fk (x1 , ..., xk−1 , ·, xk+1 , ..., xn ) : Kk −→ R é convexa. Então, existe x ∈ K
satisfazendo (4.14), isto é, existe um equilibrio de Nash.

Demonstração: Defina Φ : K × K −→ R, como


n
X
Φ(x, y) = [fk (x) − fk (x1 , ..., xk−1 , yk , xk+1 , ..., xn )]
k=1

Então, Φ é contı́nua, Φ(x, ·) e é concava para todo x ∈ K, fixado. Da desigualdade de Ky


Fan, existe um x ∈ K tal que,

sup Φ(x, y) ≤ sup Φ(y, y) = 0.


y∈K y∈K

Em particular, se nosso conjunto y = (x1 , ..., xk−1 , xk , xk+1 , , ..., xn ), para todo xk ∈ Kk ,
obtem-se

Φ(x, y) ≤ 0, para todo xk ∈ Kk .

que nada mais é do que (4.15). 


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REFERÊNCIAS

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[11] Lima, Elon Lages. Análise Real - volume 1. Funções de Uma Variável, 8a . Edição,
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Mathematics, Springer-Verlag, 1999.

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