Dinheiro Poder e Sexo - Viviana Zelizer

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Dinheiro, poder e sexo*

Viviana A. Zelizer**

Resumo

A crena generalizada de que o dinheiro corrompe a intimidade bloqueia nossa capacidade de descrever e explicar como dinheiro, poder, e sexo, de fato, interagem. A crena oposta de que o sexo funciona como uma mercadoria como qualquer outra no melhor para ajudar descries e explicaes. A interseco de sexo, dinheiro e poder, de fato, gera confuso e conflito, mas isso ocorre precisamente porque os participantes esto simultaneamente negociando relaes interpessoais delicadas e responsveis e marcando diferenas entre essas relaes e outras com as quais elas poderiam ser fcil e perigosamente confundidas. Na vida cotidiana, as pessoas lidam com essas dificuldades com um conjunto de prticas que poderamos chamar de Boas Combinaes.

Palavras-chave: Gnero; Relaes Interpessoais; Dinheiro; Sexo;

Intimidade.

Recebido para publicao em abril de 2009, aceito em maio de 2009. Publicado originalmente na Yale Journal of Law and Feminism (18), 2006. Este texto adapta algumas passagens de V.A. Zelizer, The Purchase of Intimacy (2005) e de The Purchase of Intimacy, Law & Social Inquiry 817 (2000). Sou grata por comentrios e crticas a Charles Tilly e aos participantes do Simpsio Sex for Sale, na Yale Law School em 2006.
**

Professora de Sociologia, Universidade de Princeton. [email protected]

cadernos pagu (32), janeiro-junho de 2009:135-157.

Dinheiro, poder e sexo

Money, Power, and Sex

Abstract

Widespread beliefs that money corrupts intimacy block our ability to describe and explain how money, power, and sex actually interact. The opposite belief that sex operates like an ordinary market commodity serves description and explanation no better. The intersection of sex, money, and power, does indeed generate confusion and conflict, but that is precisely because participants are simultaneously negotiating delicate, consequential, interpersonal relations and marking differences between those relations and others with which they could easily and dangerously be confused. In everyday social life, people deal with these difficulties by relying on a set of practices we can call good matches.

Key Words: Gender;

Interpersonal

Relations;

Money;

Sex;

Intimacy.

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No final dos anos 1990, John Bowe, Marisa Bowe, Sabin Streeter, e seus colaboradores, entrevistaram os norte-americanos a respeito de seu trabalho. Seguindo o modelo de Studs Terkel, seu livro, Gig: Americans Talk About Their Jobs (Bico: os americanos falam de seus empregos), relata como as pessoas numa ampla gama de ocupaes sentem-se a respeito do que fazem para ganhar a vida. Entre elas est a stripper Sara Maxwell. Com 22 anos Maxwell mudou-se para San Francisco, depois de se formar numa pequena faculdade da Virginia, e danava tirando a roupa para homens num clube chamado Lusty Lady. A parte mais lucrativa de seu trabalho consistia em apresentaes erticas, sem contato fsico, num cubculo ocupado por um homem de cada vez. Maxwell observou como a sua experincia de trabalho afetava suas relaes com os homens em geral:
Cada cara que eu via caminhando na rua tornava-se um cliente aos meus olhos. At meu namorado mostrava as qualidades de um cliente. Ele dizia algo como Voc precisa escovar os cabelos e eu ouvia algo como Escove os cabelos para mim. Na minha cabea, estava implcito que ele queria se divertir. E, claro, ele tambm queria sexo, o que o punha mais ainda no papel de cliente (John Bowe,
Marisa Bowe e Sabin Streeter, 2000:368).

Do mesmo modo, quando algum de seus amigos homens, intrigados pela sua ocupao, expressava um interesse em v-la trabalhando: Eu dizia a eles que, se os visse l, ns no poderamos mais ser bons amigos, porque eles se tornariam clientes (Id. ib.). Para Maxwell, a ponte do trabalho com sexo para relaes ntimas passava sobre um riacho muito pedregoso. De um lado, ela fazia apresentaes sexuais por dinheiro, de outro, tentava manter qualquer sugesto de pagamento comercial fora de suas relaes sexuais. Na poca em que os autores de Gig estavam fazendo suas entrevistas sobre os empregos dos americanos, Gloria GonzlezLpez comeou a fazer suas prprias e importantes entrevistas. Ela
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examinou, no entanto, combinaes muito diferentes de dinheiro, poder e sexo. Gonzlez-Lpez falou com homens e mulheres mexicanos, imigrantes vivendo em Los Angeles, a respeito de suas vidas ntimas. E descobriu, entre outras coisas, que as mulheres mexicanas que tinham renda independente da do marido nos Estados Unidos falavam de mudanas nas suas relaes sexuais com eles. Por exemplo, Azalea (43 anos), porteira de prdio, contou que quando ela e o marido chegaram do Mxico, ele era o principal provedor. Na poca, ele a obrigava a ter relaes sexuais com ele, ela querendo ou no. Quando Gonzlez-Lpez perguntou para Azalea o que ela diria agora a seu marido se ele a pressionasse para ter relaes sexuais, ela disse enfaticamente:
Eu digo no, porque eu me sustento. Se ele me sustentasse e me desse todas as coisas de que preciso, talvez ento se tivesse de fazer o que eles [os homens] dizem. Mas uma vez aqui, todas ns, mulheres, trabalhamos, nos sustentamos e ajudamos nossos pais
(Gloria Gonzlez-Lpez, 2005:190).

No entanto, a vida em Los Angeles no aboliu as preocupaes morais dos maridos e esposas mexicanos. Victoria, uma dona de casa tradicional, de 34 anos, descrevia as relaes sexuais com seu marido como um compromisso moral, no qual ela trocava favores sexuais pelo sustento material de seu marido (Id. ib.:198). Ao mesmo tempo, alguns homens mexicanos descreviam as trocas econmicas de suas companheiras por favores sexuais como chantagem (Id. ib.:283, n 2). Tanto maridos quanto mulheres reconheciam o quo delicada era a mistura de trocas econmicas com atividades sexuais. Ambos se preocupavam com a difcil triangulao de dinheiro, poder e sexo. O Simpsio Sexo Venda da Yale Journal of Law and Feminism registrou muitos exemplos da difcil juno entre intimidade sexual e transaes comerciais. Minha prpria contribuio no a de multiplicar exemplos, mas a de adequar
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esses tipos particulares de dificuldades num padro mais geral de negociao entre intimidade e atividade econmica. Deixem-me sublinhar quatro pontos: 1. A crena generalizada de que o dinheiro corrompe a intimidade bloqueia nossa capacidade de descrever e explicar como dinheiro, poder, e sexo, de fato, interagem. 2. A crena oposta de que o sexo funciona como uma mercadoria como qualquer outra no melhor para ajudar descries e explicaes. 3. A interseco de sexo, dinheiro e poder, de fato, gera confuso e conflito, mas isso ocorre precisamente porque os participantes esto simultaneamente negociando relaes interpessoais delicadas e responsveis e marcando diferenas entre essas relaes e outras com as quais elas poderiam ser fcil e perigosamente confundidas. 4. Na vida cotidiana, as pessoas lidam com essas dificuldades com um conjunto de prticas que poderamos chamar de Boas Combinaes. primeira vista, a experincia de Sara Maxwell e os relatos dos imigrantes mexicanos confirmam a primeira crena: a mercantilizao inevitavelmente corrompe a intimidade sexual. No entanto, deveramos ser cticos a respeito de uma formulao to absoluta. Ao invs disso, deveramos pensar a respeito de algumas das complexidades que nos levam a mistura de relaes sexuais com atividades econmicas.
Mal-entendidos sobre dinheiro, poder e sexo

Mesmo os pesquisadores que estudam relaes ntimas e atividades econmicas frequentemente se confundem a respeito dessas questes. Quando se trata da mistura da intimidade (sexual ou outra) com transaes econmicas, encontramos enganos generalizados bloqueando a anlise do quanto relaes ntimas e transaes econmicas de fato se misturam. Muitos observadores supem, especialmente, que qualquer mistura de laos pessoais
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ntimos com transaes econmicas corrompe inevitavelmente a intimidade, e que invases das atividades comerciais pelas relaes ntimas corrompem igualmente essas atividades. De onde vm essas preocupaes? Elas derivam de dois mal-entendidos complementares, mas parcialmente independentes. Podemos cham-los de Esferas Separadas e Mundos Hostis. Idias de Esferas Separadas identificam dois domnios distintos da vida social que operam de acordo com princpios diferentes: racionalidade, eficincia e planejamento, de um lado; solidariedade, sentimento e impulso, de outro. A atividade econmica pertence primeira esfera, as relaes sexuais segunda. As crenas de tipo Mundos Hostis dizem que quando tais esferas separadas entram em contato, elas contaminam uma outra. Sua mistura, continua o argumento, corrompe ambas; a invaso do mundo sentimental pela racionalidade instrumental, o diminui, enquanto que a intromisso do sentimento em transaes racionais produz ineficincia, favoritismo e cliques. Nesse relato existe e deve existir uma diviso ntida entre relaes ntimas e transaes econmicas, j que qualquer contato entre as duas esferas contamina ambas. Esferas Separadas e Mundos Hostis aparecem nas cincias sociais, lugar em que geraes de analistas deploraram o que viam como a eroso da autenticidade e da intimidade por um mercado invasor. Fora das cincias sociais, os mesmos temas frequentemente ecoam no discurso moral, quando as pessoas explicam mau comportamento como conseqncia da ganncia e dizem que o dinheiro a raiz de todo mal. Na justia norte-americana, as doutrinas de Esferas Separadas e Mundos Hostis aparecem em novas verses. Os tribunais, por exemplo, comumente decidem que as transaes econmicas entre cnjuges devem ser vistas como ddivas e no como trocas diretas pelo menos at o momento do divrcio (Zelizer, 2005:284-285; Williams, 2005:115-120; Siegel, 1994). Mas prticas baseadas em Esferas Separadas e Mundos Hostis figuram
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tambm na vida cotidiana. Casais sexualmente ntimos, por exemplo, comumente tomam grande cuidado em sinalizar (tanto para os outros quanto para si mesmos) que eles no esto simplesmente trocando sexo por recompensas econmicas. A idia de que a mercantilizao da intimidade a corrompe reaparece numa ampla gama de relaes ntimas. Num editorial do New York Times de 2005, por exemplo, David Brooks lamenta o crescente uso de contas bancrias separadas pelos cnjuges. Ele se preocupa com o fato de que maridos e mulheres estejam esquecendo a distino entre o etos individualista do mercado e o etos comunitrio do lar. Como resultado, adverte Brooks,
uma unio baseada no amor pode facilmente transformarse numa aliana baseada no auto-interesse, na qual o principal critrio se torna: Estou recebendo um bom retorno de meu investimento? (Id. ib.).

Cientistas sociais, que acertadamente suspeitam dessas idias amplamente aceitas, frequentemente replicaram Nada Mais. Eles afirmam que arranjos ntimos no so mais que tipos especiais de economias, nada mais que arenas de poder, ou nada mais que expresses de uma cultura comum. A verso mais comum diz que os que adotam a idia de Mundos Hostis esto errados porque o mundo todo no nada mais do que uma nica, grande, economia: h mercados por toda parte. Isso inclui as famlias e as relaes ntimas. Nessa viso Nada Mais, amor, sexo e cuidados pessoais so, de fato, mercadorias como todo o resto (Becker, 1996; Posner, 1997). As descries e explicaes, teorias de Esferas Separadas, Mundos Hostis e Nada Mais falham indubitavelmente. Estudos reais de arranjos sociais concretos, de corporaes a unidades domsticas, no mostram esferas separadas, mundos hostis segregados, mercados em toda parte, ou quaisquer dos Nada Mais.

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O que surpreendente sobre tais vises o seu fracasso em reconhecer o quo regularmente relaes ntimas coexistem com transaes econmicas sem dano aparente para quaisquer das duas: casais compram anis de noivado; pais pagam babs ou centros infantis para cuidar de seus filhos; pais adotivos pagam advogados e agncias para obter bebs; cnjuges divorciados pagam ou recebem penso para si e para os filhos; pais do mesadas a seus filhos, pagam seus estudos, os ajudam a pagar sua primeira hipoteca e lhes deixam dotes substanciais em seus testamentos. Amigos e parentes mandam dinheiro de presente de casamento, e amigos emprestam dinheiro uns aos outros. Imigrantes enviam dinheiro obtido com sacrifcio para famlias que ficaram para trs. De fato, pessoas que mantm relaes ntimas umas com as outras regularmente somam recursos, fazem compras conjuntas, investem em fundos comuns, organizam heranas e negociam a diviso do trabalho domstico. No entanto, tais relaes no so, de nenhuma maneira, semelhantes a bolsas de valores ou aes do mercado. Para contrastar com os argumentos de Mundos Hostis e Nada Mais, proponho uma explicao alternativa para a mistura de transaes econmicas com relaes ntimas: Boas Combinaes. Boas Combinaes replica a ambas que a atividade econmica e a intimidade intersectam todo o tempo, no se comportam como mini-mercados, mas apenas funcionam bem quando as pessoas fazem boas combinaes das duas. Com boa combinao no quero dizer que voc e eu vamos aprovar a barganha ou que a combinao igualitria e justa. Quero dizer que a combinao vivel: torna possvel o trabalho econmico da relao e sustenta a relao. Um conjunto de transaes econmicas que reforaria o lao entre marido e mulher, por exemplo, poderia ser ruinosa para a relao entre patro e secretrio. As relaes so to importantes que as pessoas trabalham duro para combin-las com formas apropriadas de atividade econmica e marcadores claros do carter dessa relao.
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Boas combinaes entre relaes ntimas e transaes econmicas so interessantes de se observar. Vistas de perto, elas dependem muito de negociaes entre os parceiros, tais como marido-mulher, patro-secretrio, mdico-paciente, ou acompanhante-cliente. As prticas combinatrias tambm variam significativamente de uma classe, uma etnia, ou um arranjo cultural para outros. Ainda assim, trs caractersticas principais se delineiam em boas combinaes: 1. A transao econmica distingue a relao de outras com as quais poderia ser confundida, danificando assim a prpria relao. Um exemplo a confuso entre o pagamento a uma prostituta e a contribuio econmica de amantes ocasionais. 2. Boas combinaes demonstram e propiciam acordos entre os parceiros numa relao. Eles compartilham a mesma compreenso sobre a relao. Por exemplo, namorados ricos, cada um dos quais pode facilmente pagar pelas despesas de ambos, comumente chegam a um entendimento sobre o que se constitui como uma diviso equitativa dos custos. Saindo de frias, por exemplo, quem paga o hotel, ou o restaurante, ou a viagem? 3. Boas combinaes identificam a relao claramente para um terceiro envolvido. Um exemplo qual ser o terceiro envolvido que pagar pelo qu numa festa de noivado ou de casamento: o anel, o vestido, o banquete, a banda de msica. Obviamente, em qualquer situao especfica, boas combinaes dependem do estoque de significados, marcadores e prticas existentes no meio local. Para alm do particularismo cultural, no entanto, podemos identificar algumas regularidades que podem ser amplamente verificadas.
Intimidade: limitada ou ampla, durvel ou passageira

Pense nas relaes ntimas como variando ao longo de duas dimenses: amplitude e durao. Uma relao limitada envolve
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apenas uma, ou poucas, prticas compartilhadas, incluindo prticas econmicas. Uma relao ampla envolve uma extensa gama de prticas, incluindo prticas econmicas. Falando de relaes que envolvem intimidade sexual, podemos colocar a prostituio do lado limitado e a participao numa comunidade promscua do lado amplo. Relaes ntimas tambm variam em sua durao, de quase instantneas at um longo perodo. No lado passageiro dessa dimenso, podemos encontrar colegiais que ficam por uma noite; no lado durvel, casamentos estveis. Tanto quanto posso dizer, relaes amplas, mas por um curto perodo, so raras ou inexistentes. No entanto, uma relao pode permanecer limitada durante um longo perodo, como o caso de algumas ligaes sexuais. Ou pode ser ampla e durvel, como em muitas formas de coabitao. A durao no necessariamente produz a ampliao de uma relao ntima. A amplitude, no entanto, requer durao. Porque amplitude e durao so importantes? Uma relao que envolva uma extensa variedade de atividades, incluindo atividades econmicas, coloca problemas maiores de gerenciamento do que uma relao limitada; desempenho, positivo ou negativo para uns, tem repercusses em relao a outras atividades compartilhadas. Uma relao de longo termo, limitada ou ampla, lana sombras tanto do passado quanto do futuro nas interaes correntes; os sentidos acumulados da relao e as apostas dos parceiros em seu futuro afetam, ambos, o que acontece hoje. Embora amplitude e durao de modo nenhum garantam harmonia e felicidade, ambos tornam muito mais extensas as ramificaes das interaes correntes. Para nossos objetivos, as implicaes so claras. Uma ampla variedade de relaes interpessoais combina a atividade econmica com a atividade sexual. Quando as relaes so limitadas e por um perodo curto, tendemos a cham-las de trabalho sexual (Stitchcombe, 1994). Quando elas so amplas e de longa durao, tendemos a cham-las de unidades domsticas. Os participantes dessas diferentes relaes tomam cuidado em
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distingui-las de outras relaes com as quais elas possam ser fcil e dolorosamente confundidas, compartilham definies da relao, reconhecem implicaes prticas da definio compartilhada, e identificam claramente suas relaes para terceiros envolvidos que sejam relevantes. Nosso espao conceitual identifica, assim, quatro tipos bem diferentes de relaes: limitado e breve; limitado e durvel, amplo e breve, amplo e durvel. Olhemos mais de perto exemplos concretos de trs desses quatro tipos: limitado e breve, limitado e durvel, amplo e durvel. No tipo limitado e breve, encontramos pessoas trabalhando arduamente para produzir boas combinaes. Vemos aqui trabalhadores do sexo que ganham a vida atravs da venda de servios sexuais explcitos, incluindo sexo pelo telefone, sexo ciberntico, produo de pornografia, shows de sexo ao vivo, massagem ertica, servios de acompanhantes, e uma ampla variedade de prostituio. Poder-se-ia imaginar que uma nica relao est subjacente a essa diversidade de ocupaes: um relao toma l d c, uma troca a curto prazo de sexo por dinheiro. Mas isso seria um equvoco. Ao contrrio do que pensam os seguidores da linha Mundos Hostis de que as prostitutas faro qualquer coisa por um tosto de fato, tanto provedores quanto consumidores do trabalho sexual traam distines impressionantemente finas entre suas muitas variedades. Os trabalhadores do sexo so to cuidadosos em diferenciar o que fazem das atividades de outros trabalhadores do sexo, quanto de suas relaes sexuais no profissionais. Para ficar apenas num exemplo, ouam como Heart, uma operadora de sexo por telefone, descreve seu trabalho:
Ns no somos como essas mulheres da rua arrastandose pelas ruas no meio da noite... Ns trabalhamos num escritrio. Eu nunca toquei num pnis. No posso pegar nenhuma doena. No posso ser atacada. No sou uma prostituta. Posso sentar aqui e ler uma revista e s gemer de

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Dinheiro, poder e sexo vez em quando... e ainda ser paga (Rich e Guidroz, 2000; Flowers, 1998).

Os trabalhadores do sexo no apenas diferenciam o prprio servio sexual, mas tambm quem so seus clientes, suas relaes com eles, sua durao e amplitude, a quantia e as formas de pagamento, e o significado geral de seu trabalho. De fato, o pagamento monetrio em si mesmo sinaliza a forma de relacionamento tanto para o fornecedor quanto para o consumidor. Annie Sprinkle1, uma massagista ertica entrevistada por Wendy Chapkis no incio dos anos 1990, refletia sobre como o dinheiro contava nas suas relaes com clientes.
O dinheiro importante. E no porque estejamos desesperadas por ele, como se fossemos drogadas e precisssemos do dinheiro, j que no somos, ou porque sejamos gananciosas por dinheiro... Mas, de algum modo, quando existe dinheiro podemos passar um tempo maravilhoso com essas pessoas, realmente dar e ser amorosa e totalmente ao seu dispor. Se no existe dinheiro, esquea, no quero voc no mesmo quarto comigo. to estranho... O que que o dinheiro propicia? Talvez seja uma troca clara, especialmente quando voc est com algum de quem voc no gosta muito, de algum modo, se eles lhe do, voc pode dar para eles. Voc foi compensada de uma maneira clara, limpa. Quero dizer, eu posso de fato gostar de uma pessoa, se me pagam, da qual no gostaria se no me pagassem. incrvel (Chapkis, 1997:92).

No apenas a forma de pagamento, mas tambm o local, a roupa, o estilo pessoal e as prticas do fornecedor do servio
1

A articulada Annie Sprinkle , claro, mais do que uma trabalhadora do sexo comum. Tendo sido em sucesso prostituta, atriz porn, artista de performances, especialista sexual e ativista, ela autora de pelo menos quatro livros, incluindo Dr. Sprinkes Spectacular Sex, para no mencionar pginas na internet, DVSs e produtos sexuais relacionados. 146

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identificam as qualidades especiais da relao entre os trabalhadores do sexo e seus clientes. Os que trabalham na rua, por exemplo, diferenciam nitidamente os clientes, suas relaes com eles, os atos sexuais que praticaro, ou no, formas de pagamento e locais de trabalho. Em todos esses casos, claro, um ou ambos os parceiros s vezes procuram ampliar ou alargar as relaes envolvidas. Nesse ponto, mais algumas distines estaro em jogo. Trabalhadores do sexo vivem num mundo de laos sociais altamente diferenciados e bem demarcados.2
Relaes sexuais de longa durao, mas limitadas

Algumas relaes sexuais, no entanto, mantendo seu carter limitado, duram muito tempo. O exemplo mais bvio so mulheres e homens mantidos por seus parceiros. Embora tais relaes quase sempre contemplem um espectro mais amplo de atividades econmicas do que o trabalho sexual que acabei de descrever, em geral os envolvidos focam suas relaes na atividade sexual. Considere-se o caso de Deborah Vandevelde e Thomas Colucci, um rico empresrio de 53 anos de Long Island, casado e com dois filhos adolescentes. Em 1999, encantado pela beleza de Vandevelde, Colucci a cobriu de presentes e a alojou em dois apartamentos em Manhattan. Eles assinaram um contrato Colucci a pagava como se ela fosse uma empregada de um de seus negcios. Dois anos depois, no entanto, quando ele suspeitou que Vandevelde estava se encontrando com outro

Ver, por exemplo, Brewis e Linstead, 2000; Frank, 2002; Hill, 1993; Kempadoo, 2004; Meckel, 1995; Wilson, 2004; Bernstein,1999, 2005; Hausbeck e Brents, 2000; Lever e Dolnick, 2000; Massey e Hope, 2005; Murphy e Venkatesh, 2006; Sanchez, 1997 e Trautner, 2005. Sobre pagamento por servios sexuais entre homens, ver, por exemplo, Aggleton, 1999; Boag, 2003; Chauncey, 1995; Humphreys, 1970, 1985; Moodie com Ndatshe, 1994; Reiss 1961 e Sanchez, 1997. 147

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homem, Colucci parou de pagar o aluguel e todas as outras despesas. A essa altura, Vandevelde processou Colucci, pedindo trs e meio milhes de dlares por quebra de contrato. Vandevelde afirmou que, enquanto seu relacionamento durou, Colucci tivera acesso irrestrito a sexo... e lhe prometera segurana financeira (Maull, 2002; The Abrams Report, 2002). Em 1 de outubro de 2002, o New York Post publicou uma matria sobre o caso, com um ttulo caracteristicamente picante: Mistress: More Sugar, Daddy (Amante: Mais Acar, Paizinho) (Dareh Gregorian, 2002). Alm disso, num recurso encaminhado ao Tribunal Superior de Justia do Estado de Manhattan, Colucci argumentou que, como seu contrato era um acordo para facilitar o adultrio, era ilegal.3 O juiz desse caso, Leland DeGrasse, estabeleceu um delicado equilbrio entre as consideraes comerciais e morais. Primeiro separou o processo de quebra de contrato de Vandevelde de outro processo, por no pagamento de aluguel, dos proprietrios do prdio em que Vandevelde vivia. Nesse ltimo caso, decidiu contra Colucci, ordenando-lhe que pagasse mais de cinquenta mil dlares em aluguis atrasados (Peterson,
2002).

Muitos processos legais lidam com este tipo de relao delicada entre negcios e prazer. Outras relaes sexuais de longa durao, mas limitadas, levantam muitas das mesmas questes morais e legais. De uma perspectiva diferente, podemos considerar a relao entre uma mulher e seu ginecologista, ou entre um homem e seu urologista. Embora alguns possam estranhar essa qualificao de sexual, os paralelos e diferenas com outras relaes duradouras e limitadas so reveladores. No caso dos ginecologistas, os mdicos tomam grande cuidado para limitar suas relaes com as pacientes ao seu aspecto estritamente profissional. Pense-se nos elaborados
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The Abrams Report; Helen Peterson, 2002, disponvel em http://www. nydailynews.com/bews/v-pfriendly/story/22141p-20999c.html 148

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esforos para assegurar que o exame vaginal, certamente um evento com conotaes sexuais, permanea no mbito de limites adequados. James Henslin e Mae Biggs (1971) fazem uma descrio detalhada do exame vaginal, identificando o quanto mdicos e enfermeiras despersonalizam a situao, mantendo-a assim o mais longe possvel de situaes sexuais similares com as quais ela poderia ser confundida.4 Alm disso, o cdigo de tica oficial dos ginecologistas barra qualquer confuso, proibindo interaes que outros possam perceber como sexualmente imprprias. Entre as diretrizes do cdigo esto as seguintes:
. O contato sexual ou uma relao romntica entre mdico e paciente nunca so ticas... . Os exames dever ser feitos apenas com o contato fsico necessrio para se obter dados para diagnstico e tratamento... . Os mdicos devem evitar insinuaes sexuais e observaes sexualmente provocativas... . importante que os mdicos auto-monitorem qualquer indcio de que os limites entre sentimentos sexuais normais e um comportamento inadequado no estejam sendo mantidos. Esses indcios podem incluir uma consulta especial, receber uma paciente fora dos horrios regulares do consultrio, ou fora do consultrio, levar uma paciente para casa, ou fazer comentrios sexualmente explcitos sobre pacientes...5

Assim, relaes duradouras, mas limitadas, evocando as relaes sexuais, existem e, como o trabalho com sexo, tem suas prprias caractersticas especficas. Sem dvida j est claro que ambas diferem significativamente de relaes duradouras, amplas,
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Para uma crtica dessa anlise, ver Kapsalis, 1997.

American College of Obstetricians And Gynecologists, Ethics. In: Obstetrics And Gynecology, 2004, disponvel em http://www.acog.org/from_home/ publications/ethics/ethics101.pdf 149

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que envolvem atividade sexual. Uma coabitao longa de heterossexuais, gays ou lsbicas oferece o exemplo principal. Aqui encontramos casais envolvidos numa srie de variadas transaes econmicas sem as quais sua unidade domstica no sobreviveria. Contradizendo as vises Mundos Hostis de unidades domsticas como o domnio exclusivo de sentimento e solidariedade no qual qualquer intruso de clculo econmico ameaa a intimidade, os integrantes de uma delas compartilham rotineiramente a produo, o consumo, a distribuio e a transferncia de patrimnio. Viver junto necessariamente produz problemas, oportunidades, direitos e obrigaes econmicas compartilhadas por todos os envolvidos. Quando uma unidade domstica contm mais de um casal, as coisas se tornam mais complicadas: relaes com terceiros envolvidos, tais como crianas, empregados ou parentes idosos, comeam a influenciar significativamente a sua dinmica. No interior de unidades domsticas complexas, o trabalho de estabelecer relaes nunca termina. No entanto, as unidades domsticas se diferenciam de outros lugares de atividades econmicas em trs aspectos cruciais. Primeiro, a coabitao continuada cria conhecimento, influncia, direitos e obrigaes mtuos mais extensos do que os que se desenvolvem em outros conjuntos econmicos. Segundo, a negociao no interior das unidades domsticas ocorre com um futuro mais longo em vista e com maiores conseqncias para a reciprocidade duradoura do que ocorre caracteristicamente no interior de outros espaos de atividade econmica. Terceiro, segundo a lei americana, as transaes econmicas no interior das unidades domsticas ocupam uma posio substancialmente distinta das que ocorrem entre unidades domsticas, entre unidades domsticas e outras unidades econmicas, ou que ocorre fora das unidades domsticas (Zelizer, 2005:263-65). As relaes sexuais esto fortemente vinculadas com a maior parte das outras interaes das unidades domsticas. Meg
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Luxton mostra um indcio surpreendente dessas vinculaes. Na sua pesquisa de 1980, sobre trs geraes de donas-de-casa da classe trabalhadora, numa cidade mineira no norte de Manitoba, Luxton documentou o intenso e extenso trabalho domstico das mulheres o que inclua lavar, passar, espanar, usar o aspirador, limpar, planejar refeies, cozinhar, fazer po, costurar, planejar o oramento, fazer compras, e cuidar das crianas. Nesse ambiente tradicional, no qual as mulheres trabalhavam arduamente em casa, enquanto os homens traziam o dinheiro, o sexo, com freqncia, se tornava uma moeda de troca. Como observou uma das mulheres:
Quando quero algo para a casa, como uma nova lavadora de roupas, ou algo assim, fao amor como uma louca por um tempo e ento paro. A digo a ele o que eu quero e digo que, se ele quiser mais amor, tem que comprar (Luxton, 1980:64).

Assim, dos canadenses ao norte de Manitoba aos mexicanos no sul da Califrnia, uma srie de estudos documentam a vinculao entre relaes sexuais e a atividade econmica das unidades domsticas. Kenneth Feinberg, o advogado que administrou o fundo de indenizao do governo dos Estados Unidos do ataque de 11 de setembro, teve de reconhecer indiretamente essa vinculao. Ainda que, a princpio, ele tenha tentado estimar as indenizaes aos sobreviventes das vtimas do ataque de 11 de setembro exclusivamente atravs da perda da contribuio financeira das vtimas, ele logo se viu obrigado a considerar o valor econmico do trabalho domstico no remunerado e a da perda de companhia. Isso implicava em decidir que tipos de sobreviventes de casais atingidos estavam qualificados ou no para a indenizao, e quais as perdas que esses sobreviventes tinham realmente sofrido. No entanto, Feinberg atingiu seu limite quando um marido enlutado pediu recursos para pagar prostitutas para

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substituir os servios sexuais de sua esposa morta. Feinberg relatou o pedido do homem:
No quero parecer grosseiro, mas h algo mais pelo qual eu pago, ou posso vir a pagar. O senhor pode imaginar... h outros servios que poderiam ser substitudos, mas no vou mencion-los (Feinberg, 2005:154).

Nesse ponto, mesmo o lcido e generoso Feinberg estabeleceu um limite, com base nos Mundos Hostis, e rejeitou o pedido.
Sexo intermedirio

No espao definido por durao e amplitude existem casos intermedirios. Algumas relaes envolvem aspectos mais amplos de atividade econmica e maior durao do que o trabalho sexual, mas muito menos do que os envolvidos na coabitao em unidades domsticas. Em Making Ends Meet (Oramento Apertado), essa clssica pesquisa de como as mes sozinhas de baixa renda ou pensionistas do Estado sobrevivem financeiramente, Kathryb Edin e Laura Lein oferecem pistas pouco comuns sobre como essas mulheres estabelecem uma gama de laos econmicos com os homens em suas vidas. Edin e Lein fazem trs observaes de grande relevncia para o assunto deste artigo: primeiro, que as relaes com homens representavam uma parte significativa nas finanas domiciliares dessas mes; segundo, que as mulheres estabeleciam ntidas distines entre as variadas relaes com homens que so, ou tinham sido, seus parceiros sexuais; e terceiro que elas desenvolveram diferentes sistemas de pagamento e obrigaes correspondentes a essas diferentes relaes. Nas observaes de campo e nas entrevistas de quase 400 mes, Edin e Lein identificaram um sistema amplo de categorias que diferenciavam as relaes distintas das mulheres com homens, desde pais

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ausentes, passando por namorados, at a prostituio, com outras distines intermedirias. Talvez os laos mais notveis sejam os estabelecidos com os namorados: desses homens no casados legalmente com a me e que, em geral, no eram pais de qualquer dos seus filhos se esperavam contribuies regulares, de quantias de dinheiro e de bens em espcie. Alm da quantia semanal de vinte ou trinta dlares para despesas incidentais, por exemplo, o namorado de uma das mes, de Chicago, ajudou-a a pagar sua conta telefnica e pagou sua moblia; ele tambm comprou presentes para as crianas dela. Em troca de sua contribuio, os namorados arranjam um lugar para ficar, obtm companheirismo sexual, algumas refeies e a oportunidade de brincarem de pais com os filhos da mulher (Edin e Lein, 1997:155). O arranjo claro: como as mes disseram repetidas vezes para Edin e Lein, namorados que no pagam no podem ficar (Id. ib.). Ocasionalmente, as fronteiras entre namorados seriais e a prostituio se confundiam: por exemplo, uma me explicou que sua dependncia dos namorados no por amor e tambm no apenas pelo dinheiro. Suponho que eu chamaria de prostituio social (Id. ib.:157). No entanto, a maioria das mes estabelecia marcadores claros, diferenciando a prostituio real e sua relao com um namorado. Aplicar truques ou andar pelas ruas significava ficar por uma noite, sem uma relao a longo prazo com o homem, implicando em dinheiro a curto prazo em troca de sexo a curto prazo (Id. ib.). A cada forma de relao sexual correspondia um conjunto de transferncias monetrias diferentes. Na pesquisa seguinte, com Maria Kefalas, sobre 162 mes sozinhas de baixa renda, Edin demonstrou ainda que as mulheres insistiam numa contribuio financeira regular de seus parceiros a longo prazo. Edin e Kefalas descobriram tambm que um grande nmero de rompimentos dos casais era resultado, exatamente, da incompatibilidade entre a participao econmica dos homens e seus privilgios e exigncias na casa (Edin e Kefalas, 2005).
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Dinheiro, poder e sexo

A comparao das unidades domsticas de coabitao duradoura com unidades domsticas mais instveis, descritas por Edin, Lein e Kefalas, traz ainda um benefcio adicional. Mostra-nos que as combinaes no so, de modo nenhum, conseqncias automticas da compreenso ou da coero culturais, mas emergem de uma incessante barganha entre os integrantes da unidade domstica, especialmente entre casais que se relacionam sexualmente. As barganhas envolvem exerccios de poder.
Combinaes boas, ms e incertas

No que todas as combinaes funcionem, ou que qualquer transao econmica seja compatvel com qualquer relao sexual. Ao contrrio, as pessoas trabalham duro para negociar a combinao certa entre economia e intimidade sexual, procurando arranjos econmicos que confirmem seu entendimento sobre o que define a relao e o que a sustenta. Esta pessoa um explorador ou um amante real? Esta relao sexual implica em respeito ou em explorao? Quando aceitvel que um homem d presentes, ao invs de dinheiro, para uma trabalhadora do sexo? E o que significa se uma trabalhadora do sexo no aceitar o pagamento do consumidor? Quando um casal de namorados se envolve sexualmente um com o outro, como eles devem gerenciar seus gastos com lazer? Alm disso, quando as relaes azedam, as pessoas comeam a lamentar sua contribuio econmica, em detrimento daquelas relaes. s vezes elas acabam nos tribunais. Em ltima anlise, a combinao de sexo, dinheiro e poder mostra que ela compartilha propriedades comuns com uma ampla variedade de relaes interpessoais que envolvem atividades econmicas. Na vida social cotidiana, e tambm nos procedimentos legais, as pessoas se esforam seriamente para combinar formas de atividade econmica efetivamente com relaes sociais relevantes, e em diferenciar essas relaes de outras com as quais elas possam ser sofrida e facilmente
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confundidas. O processo de combinao sempre envolve algum exerccio de poder pelas pessoas diretamente implicadas nas relaes e, s vezes, por terceiros. Sim, gerenciar a interseco de sexo, dinheiro e poder apresenta srios problemas. Mas so problemas que ns e outras pessoas resolvemos todos os dias. Longe de ser tabu, essa interseco pertence prpria vida.
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