Trabalho Final - Antropologia e Arte
Trabalho Final - Antropologia e Arte
Trabalho Final - Antropologia e Arte
Licenciatura: Antropologia
Junho 2021
Com apenas sete anos de idade, pinta a sua primeira obra “El Pintador”, que
representa uma tourada. Contudo, aos 13 anos Pablo deixa de pintar aqueles quadros sem
vida a que foi induzido a pintar e dá uma “nova vida” aos seus pincéis, uma “nova
liberdade” (PICASSO)
Em 1900, Picasso vai viver para Paris. Foi aí que começou a receber fortes
influências do modernismo e desenvolveu o Cubismo. No final do século dezanove e
início do século vinte, a Revolução Industrial, a hegemonia europeia, o surgimento de
governos democráticos, quer em sistemas republicanos, quer em monárquicos, foram
alguns destes fatores que impulsionaram o questionamento das antigas formas de “fazer
arte”. Era aqui que residia uma maior sensibilidade (estética) e, por conseguinte, uma
maior concessão do “eu” e da racionalidade (razão), por outras palavras, havia uma
enorme sensibilidade estética (senso comum) e uma grande manifestação do gosto
(dimensão cognitiva), isto é, a capacidade de aprender noções que só apreendemos, se
tivermos uma educação emocional/ sentimental, ou seja, a relação da sensibilidade com
o objeto.
Como foi referido anteriormente, o Cubismo foi uma corrente vanguardista que
surgiu na época da emergência do modernismo e foi um movimento artístico, iniciado por
Picasso e Braque (1907), que foram fortemente influenciados pelo geometrismo de
Cézanne. Picasso e Braque rejeitaram a representação do objeto em função da perceção
ótica e substituíram-na por uma visão do tipo geométrico.
Em 1936, o seu país entra em guerra civil. Os cinco anos antecedentes foram uma
época de grande agitação política em Espanha, pois para substituir a velha monarquia, os
partidos de esquerda criaram uma República Espanhola, mas alguns grupos não aceitaram
esta nova forma de governo. Nesse ano, os republicanos venceram novamente as eleições,
o general Franco e uma parte do exército espanhol decidiram tomar o poder. Em 18 de
julho de 1936 começaram três longos anos de guerra civil. Nesse ano, Picasso é nomeado
diretor do Museu do Prado pelo governo republicano.
Esta obra “representa” o cubismo analítico, pois para além da geometrização dos
volumes, nesta pintura a óleo pode-se observar a destruição das leis da perspetiva, que se
restringe a uma paleta de tons brancos, pretos e cinzentos, de forma a não perturbar o
rigor geométrico da representação. Com esta obra, Picasso procurou substituir essa visão
parcelar por uma visão generalizada dos objetos representados. Assim, as figuras podem
ser observadas concomitantemente de frente, de lado, por cima, por debaixo, isto é,
estilhaçando o volume das figuras em vários planos que se justapõem. Resumindo,
enquanto o pintor tradicional pinta o que vê, os cubistas pintam aquilo que sabem que
existe, mas só poderiam ver em momentos sucessivos.
Esta obra representa um episódio que ocorreu apenas uma vez. Pode-se observar,
diferentes interações entre os diversos elementos espaciais (formas, áreas internas e
externas) que estão em permanente conflito e contraste, pois era assim que se encontrava
a mente do pintor. Em sete metros de lona, Picasso “seizes a piece of charcoal, climbs the
ladder and starts drawing the characters that possess it” (And Picasso Painted ), ou seja,
“Guernica” é um reflexo da mente do autor. Picasso estava incrédulo, revoltado e com
uma grande mágoa, devido às atrocidades que aconteceram ao seu povo em Guernica.
Todas as figuras têm o seu olhar dirigido para o touro e simultaneamente para
cima (a destruição vem de cima, os aviões a bombardearem), por conseguinte, o lado
esquerdo da pintura é o ponto de ligação que hierarquiza todo o conteúdo e orienta a
leitura do quadro, ou seja, é o lado mais ativo da composição pictórica. A sensação de
movimento, que as figuras transmitem, do canto inferior direito para o canto superior
esquerdo, contraria a “nossa normalidade de ler da esquerda para direita”, o que causa
uma sensação de “choque” percetivo.
Após a análise realizada sobre alguns aspetos da vida do autor, assim como da
nossa história, pode-se afirmar, que as figuras pintadas na pintura “Guernica” têm um
importante significado, pois são baseadas num marco histórico, assim como a vida íntima
do autor.
Na mesma direção, mas mais ao centro da pintura, pode-se observar um olho que
“erradia” luz para todo o quadro é um símbolo que representa o sol (o divino) e é um sinal
de esperança, mais abaixo, um cavalo que representa a tradição e observa-se um braço
caído, que detém uma espada partida, símbolo de uma batalha perdida e da morte.
Pablo Picasso estava determinado a transpor a sua indignação e a criar uma obra
que não deixasse cair no esquecimento o bombardeamento de Guernica, que foi dirigido
propositadamente a civis, funcionando como ensaio para aquilo que viria a ser perpetrado
na Segunda Guerra Mundial. Este alerta para não ser olvidada, tornou-se um ícone.
A pintura “Guernica” é uma obra de arte que espelha o “ser” do autor, ou seja, a
maneira como Pablo Picasso, observou, interpretou e justificou o seu ser, isto é, a sua
forma de existir, assim como, a realidade que o circunda. É nesta perspetiva que
Heidegger afirma, que a arte é um tema relevante para a reflexão ontológica do ser
humano, pois a forma como a arte é produzida, interpretada ou utilizada permite ao artista
fazer uma análise do seu “ser” e do mundo que o rodeia. (Ontology of Art). Contudo,
também permite ao intérprete fazer uma análise sobre a sua existência e o mundo onde
vive.
Após ter analisado esta obra, fiquei com outra noção de beleza; figuras distorcidas,
não significam fealdade, mas toda a carga emocional que o pintor descarrega em cada
pincelada que dá. Assim como as cores simbolizam algo, há sempre um conhecimento
pouco inteligível para os demais, só com uma análise minuciosa e conhecimento da
realidade é que conseguimos atingir o âmago da obra. Tive uma evolução no conceito de
arte.
Em suma, uma obra de arte pode ser considerada uma página de um diário. A
nossa reflexão sobre a Arte parte do nosso património cultural e histórico, isto é, para
compreendermos a arte, é necessário conhecermos a história. Analisar a Arte exige
conhecimento e, por conseguinte, transmite-se novos saberes, desta forma, o gosto pela
Arte pode ser educado. Todavia, aprender a analisar e a gostar de Arte é um “passaporte”
para interrogar e conhecer melhor o nosso mundo. O conceito da palavra Arte está sempre
numa continua modificação, assim comos os estilos da Arte. Assim, a história da mesma
consiste numa sucessão de períodos de Arte, onde se observa uma inovação/modificação
do paradigma anterior. Desta forma, o conhecimento sobre a Arte está em constante
evolução e para conseguirmos acompanhar esse desenvolvimento é necessário “to have a
fresh mind, ready to grasp every suggestive hint and to react to all the hidden harmonies;
above all, a mind not cluttered up with bombastic words and set phrases” (The Story of
Art ) e deixar para trás a conceção estética (metafísica) da arte.