Aula 4 Psicanalise No Brasil

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CURSO DE PSICOLOGIA

DISCIPLINA: PSICOLOGIA CLÍNICA I – ENFOQUE PSICANALÍTICO

Profª LISIANE THOMPSON FLORES

AULA 4: A PSICANÁLISE NO BRASIL

PRECURSORES

Em 1899, Juliano Moreira, como professor catedrático na Faculdade de Medicina de Salvador, é o


primeiro brasileiro a citar em conferência, artigos científicos de Freud, quando a prática clínica
profissional da Psicanálise não havia sido bem estabelecida em Viena, no chamado período de
isolamento esplêndido de S. Freud (1898-1902).

Entre 1900 e 1902, permaneceu fazendo tratamento de tuberculose na Europa e, nessa ocasião,
viajou por vários países, tendo o objetivo de conhecer os tratamentos e instituições psiquiátricas.

Em 1903, retornou ao Brasil e instalou-se no Rio de Janeiro, onde se tornou o diretor do Hospital
Nacional dos Alienados.

Nessa instituição, as obras de Freud foram transformadas em teorias de interesse acadêmico e se


tornaram objeto de teses de Doutorado nas Faculdades de Medicina.

A primeira tese sob sua inspiração foi a de Genserico de Souza Pinto, um médico cearense,
denominada: “Psicanálise – a sexualidade nas neuroses”, defendida em 26 de Dezembro de 1914,
na Faculdade Nacional de Medicina.

Em 1920, Franco da Rocha lançou a obra, “A doutrina pansexualista de Freud” que se baseou em
suas aulas e conferências na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo.

Em 1924, João César de Castro defendeu uma tese de doutoramento em Medicina intitulada:
“Concepção freudiana das psico-neuroses”.

Essas três primeiras publicações acadêmicas não tiveram repercussão expressiva no contexto
cultural e científico da época.
JULIANO MOREIRA

Segundo seu discípulo Afrânio Peixoto “Juliano era múltiplo.

Foi médico, tropicalista, dermatólogo, sifilógrafo, alienista, psicólogo, naturalista e historiador da


Medicina.

Quem poderia imaginar tão brilhante carreira para um menino negro nascido e seis de janeiro de
1873, na cidade de Salvador, Bahia, no Bairro da Sé.

Conta-se que Einstein surpreendeu-se ao encontrar Juliano Moreira na presidência dos trabalhos
da Faculdade de Medicina, um senhor de olhos grandes e penetrantes, pele escura e franzino.

Seu currículo na mesma foi o seguinte:

1926/1929 - Presidente

30/04/1929 - Presidente Honorário

Na Sociedade Brasileira de Neurologia, Psychiatria e Medicina Legal ele recebeu o título de


Presidente Perpétuo, reconhecido mundialmente

FRANCO DA ROCHA

Em São Paulo distinguia-se Franco da Rocha, aluno de psicopatologia de Teixeira Brandão, interno
da Casa de Saúde Doutor Eiras no Rio de Janeiro.

Planejou e construiu o Hospício de Juqueri.


Era músico, escritor, ornitólogo (especialista em Tico-Tico) e o primeiro professor de Neurologia e
Psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo (1918–23).

Se não bastasse tudo isso, foi um bom pai e bom marido.

Criou seis filhos dentro do espaço físico do Juqueri.

Foi, talvez, o primeiro médico residente na acepção radical do termo.

Foi o precursor da Psicanálise.

Em 1919, sua aula inaugural baseou-se numa abordagem psicanalítica de um assunto psiquiátrico,
que foi transformado em artigo de jornal publicado no O Estado de São Paulo, com o título - Sob o
delírio em geral.

Em 1920 escreveu o livro A doutrina pansexualista de Freud, que abordava o instinto sexual na
obra de Freud, dando à sexualidade um destaque muito diferente do que tem na obra freudiana.

Esse título foi corrigido em 1930, quando foi lançada a segunda edição dessa mesma obra, por
influência de Durval Marcondes.

Assim como Franco da Rocha, é possível dizer o seguinte a respeito da maioria dos médicos
interessados na Psicanálise dessa época: de um modo geral, esses primeiros médicos psiquiatras
ou neuro-psiquiatras ou neurologistas, que se interessaram pela obra de Freud, ficaram apenas no
plano teórico ou especulativo.

Não se dedicaram à prática da clínica psicanalítica.

Devem ser considerados os precursores da obra de Freud no Brasil.

PRECURSORES X PIONEIROS

Há uma diferença fundamental entre os precursores e os pioneiros.

Enquanto os precursores tiveram um interesse apenas teórico pela nascente Psicanálise, os


pioneiros já se interessaram, desde o início com o envolvimento na prática clínica.

PIONEIROS
No Brasil, o pioneiro da Psicanálise foi Durval Bellegarde Marcondes.

Nasceu em São Paulo, no dia 27 de Novembro de 1899. Psiquiatra erudito, formado pela
Faculdade de Medicina de São Paulo em 1924, já no ano seguinte introduz as ideias da
Psicanálise na atividade clínica brasileira.

Em 1927, escreve a Freud comunicando a fundação, junto com Franco da Rocha, da Sociedade
Brasileira de Psicanálise - a primeira da América Latina, que renasce como Grupo Psicanalítico de
São Paulo em Junho de 1944 e, em 1951, no Congresso da IPA, em Amsterdã, torna-se a
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

Freud responde

Meu prezado senhor!

Infelizmente não domino o seu idioma, mas graças aos meus conhecimentos da língua espanhola
pude deduzir de sua carta e do seu livro que é sua intenção aproveitar os conhecimentos
adquiridos em psicanálise nas belas letras, e, de um modo geral, despertar o interesse de seus
compatriotas por nossa ciência. Fico sinceramente grato pelos seus esforços, desejo-lhe muito
sucesso e posso assegurar-lhe que achará rica e recompensadora em revelações a sua
continuada associação com o tema.

Cordiais saudações,

Freud

As primeiras instituições psicanalíticas brasileiras

Em 24 de Outubro de 1927, foi fundada a Sociedade Brasileira de Psychanalyse, em São Paulo.


Foram eleitos: Francisco Franco da Rocha, presidente, e Durval Marcondes, secretário.

Em 17 de Junho de 1928, Durval Marcondes viajou ao Rio de Janeiro com o objetivo de participar
da fundação dessa primeira Sociedade no Rio de Janeiro. Na sede do Hospital Nacional de
Alienados, foram eleitos: Juliano Moreira, presidente, e Porto-Carrero, secretário.
Todo o grupo de discípulos de Juliano Moreira tornou-se membro dessa Sociedade.

Essa primeira Sociedade Brasileira de Psychanalyse teve o objetivo de divulgar a Psicanálise,


assim como criar um centro de debates científicos entre seus membros.

Durante cerca de três anos, permaneceu ativa.

Nos anos subsequentes acabou se extinguindo por inatividade.

O principal fator determinante pode ser atribuído ao fato de Durval Marcondes ter tomado
conhecimento do sistema de formação psicanalítica e considerar esse o principal objetivo a ser
alcançado no Brasil por ela.

Os demais membros não aderiram, mas Durval resolveu seguir nessa caminhada.

Em Junho de 1928, foi lançado o primeiro número da Revista Brasileira de Psychanalyse, com
artigos de Franco da Rocha, J. Ralph, J.P. Porto Carrero, Durval Marcondes e Paulo José de
Toledo.

Essa Revista não teve continuidade e somente em 1967 foi retomada e relançada e, a partir de
então, não foi mais interrompida.

Nessa ocasião, o Grupo estabeleceu que seria criada uma Comissão de Ensino para organizar a
formação de psicanalistas, conforme estipulados pela IPA.

O Dr. Durval Marcondes conseguiu a vinda da Dra. Adelheid Koch (1896-1980), em 1936, primeira
psicanalista com formação reconhecida pela IPA a atuar na América Latina e a exercer a análise
didática.

Em 1951, por ocasião do XVII Congresso Internacional em Amsterdam, a IPA reconheceu como
sua integrante a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), graças ao seu
trabalho.

Após várias tentativas frustradas Danilo Perestrello, Alcion Baer Bahia e Marialzira Perestrello
foram fazer a formação psicanalítica em Buenos Aires, que havia se tornado o maior centro
formador de psicanalistas da América Latina.

Finalmente em Março de 1949, o psicanalista alemão Werner Kemper, aceita o convite para morar
no Rio e inicia a análise de alguns candidatos.

Em 1953, seu grupo é reconhecido pela IPA, no Congresso Internacional de Londres e em 1955,
no Congresso Internacional de Genebra, foi reconhecido como Sociedade Psicanalítica do Rio de
Janeiro.

Em Fevereiro de 1948, Mark Burke, membro da Sociedade Britânica de Psicanálise, aceita o


convite de alguns outros candidatos à formação para vir morar no Rio, mas em 1953, retornou à
Londres, devido incompatibilidade com as condições meteorológicas da cidade.
Seus analisandos procuraram a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo para terminarem
a formação e foram aceitos por esta.

Esse grupo juntou-se ao grupo argentino formado por Danilo Perestrelo, Marialzira Perestrelo e
Alcion Baia para formar um grupo que é reconhecido como Study Group pela IPA, em 1957, no
Congresso Internacional de Paris e é reconhecido como Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio
de Janeiro em 1959 durante o Congresso Internacional de Copenhague.

Porto Alegre teve seu início de Psicanálise simultâneo aos de São Paulo e Rio de Janeiro.

Também teve seus precursores (João César de Castro, Martim Gomes) e seus pioneiros (Mário
Martins, Zaira Martins, José Lemmertz e Cyro Martins).

Uma peculiaridade de Porto Alegre é que todos esses pioneiros do movimento psicanalítico fizeram
sua formação em Buenos Aires, na Associação Psicanalítica Argentina e depois voltaram para
formar o Study Group de Porto Alegre, reconhecido como tal pela IPA em 1961, no Congresso
Internacional de Edimburgo.

Em 1963, no Congresso de Estocolmo, foi reconhecido como Sociedade Psicanalítica de Porto


Alegre.

Entidades componentes atuais da Federação Brasileira de Psicanálise

Sociedades

 Associação Psicanalítica do Estado do Rio de Janeiro


 Associação Psicanalítica Rio 3
 Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre
 Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto
 Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
 Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro
 Sociedade de Psicanálise de Brasília
 Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul
 Sociedade Psicanalítica de Pelotas
 Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
 Sociedade Psicanalítica do Recife
 Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro

Grupos de Estudos

 Grupo de Estudos Psicanalíticos de Fortaleza


 Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais

Núcleos
 Núcleo de Psicanálise de Campinas e região
 Núcleo Psicanalítico de Aracaju
 Núcleo Psicanalítico de Curitiba
 Núcleo Psicanalítico de Florianópolis
 Núcleo Psicanalítico de Goiânia
 Núcleo Psicanalítico de Maceió
 Núcleo Psicanalítico de Marília e região
 Núcleo Psicanalítico de Natal
 Núcleo Psicanalítico de Santa Catarina
 Núcleo Psicanalítico do Espírito Santo

REFERÊNCIAS:

ABRAHAM PAIS, Sutil é o Senhor: A ciência e a vida de Albert Einstein, ed. Nova Fronteira - Rio
de Janeiro, 1995.

CARL B. BOYER, História da matemática, ed. Edgard Blücher - São Paulo, 1974.

CARL SCHORSKRE, Viena fin-de-siècle: política e cultura, Cia. das letras - ed. Unicamp, 1988.

COLIN A. RONAN, História Ilustrada da Ciência, da Universidade de Cambridge, ed. Jorge Zahar -
Rio de Janeiro, 1987.

ELIZABETH ROUDINESCO E MICHAEL PLON, Dicionário de psicanálise, ed. Jorge Zahar - Rio de
Janeiro, 1998.

ERIC J. HOBSBAWN, A era dos impérios: 1875-1914, ed. Paz e Terra - Rio de Janeiro, 1988.

ERIC J. HOBSBAWN, A era dos extremos: o breve século xx, ed. Cia. das letras - São Paulo,
1995.

GIOVANNA BARTUCCI (org), Psicanálise e Estéticas de Subjetivação.

GIOVANNA BARTUCCI Psicanálise, Cinema e Estéticas de Subjetivação. Imago, p. 13-17, 2000.

JEAN-CLAUDE FILLOUX, O Inconsciente, ed. Martins Fontes - São Paulo, 1988.

JOEL BIRMAN, Percursos na história da psicanálise, ed. Taurus - Rio de Janeiro, 1988.

JURANDIR FREIRE COSTA, História da psiquiatria no Brasil, ed. Documentário - Rio de Janeiro.
1976.

MARIZA CORRÊA, As ilusões da liberdade - a escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil,


Bragança paulista, EDUSF, 1998.

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