Manual de Um Cafajeste
Manual de Um Cafajeste
Manual de Um Cafajeste
Nina Müller
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Prólogo
Cléo
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não precisa cumprir o aviso prévio. Darei esse prazo do aviso para você
procurar algo novo, algo que combine com você!
— Eu sou formada em Letras e Publicidade. Tenho
especialização e amo o que eu faço. Por favor, reconsidere! — Eu
implorei e eu torceu os lábios me encarando sem emoção.
— Não precisa terminar o turno, Cléo. Pode pegar suas coisas e
passar no setor pessoal — falou desviando os olhos para o monitor do
seu notebook, me ignorando como se eu fosse uma qualquer.
A arrogância do meu ex-chefe era tanta, que ele se achava Deus
só por que tinha doutorado. Babaca imbecil! A vontade que tive foi de
esganar esse egocêntrico filho da puta. Ele achava que era muito fácil
arrumar emprego em nosso país, no meio de uma crise, só porque ele
tinha um cargo poderoso dentro de uma empresa igualmente poderosa.
Controlei o pranto e deixei sua sala, arrasada. Eu me sentia
impotente diante da vida e via tudo que tanto lutei se desmoronar em
questão de minutos. Havia estudado tanto para aquele cargo, para
conseguir aquela vaga. Fiz duas provas escritas e uma oral e mesmo
assim, o doutor Adalberto disse que eu não me encaixava no perfil da
empresa?! Ele só podia estar de brincadeira e eu só podia estar tendo
um maldito pesadelo. Não tinha explicação!
Quando cheguei a minha mesa, vi Tatiana, o braço direito do
doutro Adalberto, sorrindo cinicamente para mim. Senti que ela sabia
que eu seria demitida e que tinha dedo dela nessa história. Tatiana
nunca me convenceu com sua bondade mascarada, seus conselhos
falsos. Era mesquinha e muito metida a besta para ser tudo que
quisesse, menos uma pessoa de respeito. Ela usava da beleza e do
charme para levar vantagem no trabalho. Era bonita, magra alta,
morena de olhos verdes. Eu sabia que ela não gostava de mim, pois já
havia feito intrigas usando meu nome. No final, ela saia de boazinha da
história e era eu que recebia sermões do doutor Adalberto. Tinha dedo
dessa cobra! Ah, se tinha!
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— Está tudo bem, Cléo? — ela perguntou inocentemente fazendo
uma cara de coitadinha. Trinquei os dentes de raiva.
— Você sabia, não é? — Agarrei seu braço e ela me olhou
espantada.
— O que está dizendo? Me solta, sua doida! Antes que a coisa
fique ainda mais feia para o seu lado!
— Olha aqui, Tatiana, eu sei que você não gosta de mim, que
sempre criou fofoquinhas aqui dentro pra se dá bem com o doutor
Adalberto. Mas não pense que a vida não ensina. Aqui se faz, aqui se
paga! — rosnei em tom baixo enquanto ela erguia o queixo e me
desafiava. Nunca perdia a pose essa desgraçada!
— Filosofando, Cléo?! Você foi pra rua porque é incompetente e
não sabe fazer as coisas direito. Se não fosse por mim, você já estaria
na rua há muito mais tempo. Agora solte o meu braço antes que eu grite
por socorro! — Ela se debateu tentando se desvencilhar de minhas
mãos. Como eu não queria chamar atenção de outras pessoas que
trabalhavam ali, eu a soltei abruptamente. Tatiana se distanciou
esfregando o pulso e me fulminando com o olhar. Ah, foda-se essa
lambisgoia magricela!
— O mundo não gira ao redor do seu umbigo! Você só tem
regalias aqui por causa do doutor Adalberto. Quero ver só o dia que ele
for promovido e vir outro chefe no lugar dele. Adeus privilégios e vida
boa. Você vai ter que suar a camisa, querida! — ironizei pegando as
minhas coisas e dando as costas para ela.
Ainda ouvi Tatiana dizer mais alguma coisa, mas não olhei para
trás. Contendo o pranto e a dor da demissão, eu entrei no elevador o
mais depressa possível. Queria esquecer aquele dia horrendo e a
humilhação que passei. Tudo que eu precisava agora era do meu noivo,
Afonso e de seu amor.
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***
Já dizia o velho ditado que o sexo era bom para várias coisas e
uma delas era relaxar o corpo. E eu estava me sentindo assim, depois de
transar com Afonso. Nossa! Ele sempre conseguia me deixar mais
tranquila. Era por isso que eu o amava. Afonso era um homem
maravilhoso.
— Amor, a gente precisa combinar a data do nosso casamento.
Você se lembra? — perguntei sentada na cama terminando de me vestir
enquanto ele saía do banheiro com uma toalha ao redor dos quadris.
— A gente precisa conversar!
— Claro, meu amor! — Eu me levantei e fui até ele, animada. —
além da data, precisamos ver a equipe que fará o buffet, a decoração, as
lembrancinhas...
— Cléo, eu andei pensando muito e... Bem eu... Eu acho que não
estou pronto para me casar agora.
Fiquei estática. Era como se eu tivesse acabado de levar um
enorme banho de água fria. Não consegui pensar e senti que até o ar me
faltava. Afonso não estava falando sério? Isso era uma brincadeira de
muito mau gosto.
— O que está dizendo, amor? — Abri um sorriso nervoso
enquanto ele prendia os lábios e me encarava consternado.
— Eu não estou preparado para assumir um compromisso mais
sério, Cléo. Não quero me amarrar agora. Não estou pronto! — Ele se
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distanciou de mim e senti uma imensidão nos separando. Era loucura!
Mas eu percebi que Afonso não me queria mais!
— Por que está dizendo isso? Você estava tão animado dias atrás
com os preparativos. Você só pode estar de brincadeira!
— Não, Cléo! Eu estou falando muito sério! — Afonso começou
a se vestir apressadamente. — Pensei muito e acho bom a gente dar um
tempo na nossa relação.
— Pra que você quer um tempo? Você não me ama mais,
Afonso? — Eu me aproximei aflita sem poder acreditar no que ouvia.
— Não tem nada a ver com sentimento. Eu estou muito confuso e
preciso de um tempo para pensar.
— Você tem outra! Quem é a vagabunda? — esbravejei perdendo
o controle, me deixando guiar somente pelas emoções.
— Eu não tenho outra, Cléo! Que loucura é essa? Você sabe que
eu só trabalho dia e noite naquela empresa e não tenho tempo nem pra
tomar um cafezinho. Ah, para, né! Isso é paranoia sua! — Ele saiu do
quarto em direção a sala de estar. Eu sabia que Afonso estava me
deixando, indo embora para não voltar.
— Você tem outra sim!
— Não tenho ninguém! Eu apenas quero dar um tempo para
colocar a cabeça em ordem. Juro pra você que não tem outra mulher na
jogada! — disse e parecia estar seguro de si, o que me irritou ainda
mais. A maioria dos homens escondia o real motivo para dar fim em
um relacionamento. E nenhum cachorro deixava de um osso se não
tivesse outro para roer!
— Você vai jogar cinco anos de namoro e noivado no lixo?! Não
acredito que tomou essa decisão do dia para a noite!
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— Eu não tomei essa decisão de forma impensada. Eu já vinha
pensando sobre isso a algum tempo. — Ele passou a mão pelo cabelo
loiro em um gesto nervoso.
— Então você queria terminar comigo e mesmo assim me usava
para ter sexo? — Perdi a cabeça e avancei sobre ele distribuindo tapas e
socos. Eu estava fora de mim, apenas sendo consumida pela rejeição e
pela dor. — Desgraçado! Filho da mãe!
— Pare, Cléo! Pare! Você está louca? — Afonso agarrou meus
pulsos e me encarou.
Eu estava no meu limite. Tudo em mim borbulhava
desesperadamente. Eu via meu mundo acabando, meus sonhos de
construir uma vida ao lado dele cada vez mais distantes. Eu não tinha
conseguido um emprego ainda, embora tivesse deixado meu currículo
em vários lugares. Eu me sentia impotente e tudo isso colaborava para
minha ruína.
— Por que está fazendo isso comigo? Por quê, Afonso? —
indaguei chorando, sentindo um nó em minha garganta e um vazio em
meu peito.
— Cléo, é o melhor que temos a fazer. Nenhum de nós dois seria
feliz vivendo um casamento de mentira. Por favor, acredite em mim!
Eu não tenho ninguém, eu apenas estou confuso demais! — Ele
segurou meu queixo e fitei seus olhos esverdeados. Eles não tinham
aquele brilho apaixonado de antes. Afonso não me amava mais!
— Você não me ama mais! — balbuciei e me distanciei dele,
limpando as lágrimas com a palma da minha mão.
— Não é isso! Por favor, aceite o meu tempo. Eu preciso...
— Viva o seu tempo e esqueça que eu existo! — Tirei a aliança e
joguei para ele.
— Cléo!
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— Vai embora, Afonso! Saia! — Caminhei até a porta e a
escancarei.
Ele pegou a joia que estava no assoalho, me olhou pela última
vez e deixou o meu apartamento sem olhar para trás. Bati a porta com
força e escorreguei no chão. Afundei a cabeça em minhas mãos e o
desespero tomou conta de mim. Eu havia perdido o emprego que tinha
lutado tanto para conseguir e agora o meu noivo tinha acabado de me
dizer que estava confuso e precisava de um tempo. O meu sexto sentido
me dizia que Afonso estava mentindo. Um dia eu descobriria a verdade.
Me arrastei até o sofá e deitei abraçando os joelhos ao corpo. A
minha vida estava um caos, tudo ao redor estava ruindo. Parecia um
pesadelo sem fim. Mas eu tinha certeza de que um dia as coisas
mudariam. E eu lutaria com unhas e dentes se fossem necessário. Essa
era uma promessa que eu cumpriria. Eu daria a volta por cima!
COMPLETAR. PARIS!!!
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Capítulo 1
Cléo
Dias atuais...
— Nunca pensei que fosse dizer isso, mas aquele dinheiro que
gastei em Paris está me fazendo falta. Nossa! São tantas contas para
pagar que nem sei por onde começar — disse ao telefone conversando
com Soraia, minha amiga de longa data, enquanto entrava no elevador e
apertava o botão no 15º andar.
— Você foi impulsiva, Cléo. Eu disse isso! Mas você não me
ouviu! — ralhou do outro lado da linha. — Se precisar de ajuda, é só
pedir. Se bem que ando numa bindaíba desgraçada que só Deus sabe.
— Valeu, Soraia! Eu sei que posso contar com você! — Sorri
lançando um rápido olhar para meu relógio de pulso. Faltavam dez
minutos para as 8horas. Fazia três meses que estava trabalhando em
uma agência de publicidade renomada e não queria chegar atrasada.
— Cléo, a galera convidou a gente para ir amanhã naquele pub
novo que abriu no centro. Vamos?
— Vou pensar! Não ando animada para sair. Você sabe!
— Então se anime. Por favor! — Soltei um longo suspiro. —
Gustavo-gato vai estar lá! — Soraia se referiu ao carinha safado que
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vivia dando em cima da mim. Eu até ficaria empolgada com a ideia se o
tal Gustavo não fosse tão galinha.
— Ah, sim... O cafajeste que canta Deus e o mundo? Soraia, você
sabe que eu corro léguas de caras assim!
— Esses são os melhores na cama! — Ela gargalhou divertida.
— Não estou procurando por sexo, ou por um ficante, um caso.
Nunca estive! Vivo bem do jeito que estou: SOLTEIRA! — deixei bem
claro a minha condição a ela. — Sô, eu tenho que desligar. Nos
falamos!
— Tá bom! Beijinhos, sua chatonilda! — Ela se despediu em tom
brincalhão.
Eu me despedi dela e desliguei o telefone. As portas se abriram e
saí apressada em direção ao escritório. A minha mesa me esperava,
repleta de papéis. Ariane, a minha colega insuportável, invejosa e
peituda, me lançou um olhar estreito por cima do monitor de seu
notebook. Ignorei a presença dela e me sentei ajeitando as minhas
coisas. Mas parecia que a desgraçada não estava disposta a fazer o
mesmo. Era incrível como a vida havia me dado um emprego novo e
uma nova colega de trabalho insuportável de brinde.
— Atrasadinha, Cléo! Se a chefia fica sabendo, vai descontar do
seu salário!
Desviei os olhos dos papéis e a encarei. Eu estava irritada com
seu comentário descabido, mas me controlei para dar uma resposta a
altura para essa megera que tentava a todo custo foder com meu
trabalho.
— Ariane, você sabia que o macaco de tanto cuidar o rabo dos
outros acabou perdendo o dele? — Abri um sorriso sarcástico e me
concentrei em meus afazeres. Essa vaca não estragaria o meu bom
humor!
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Mergulhei no trabalho e quando percebi já eram 10horas. Meus
olhos estavam ardendo e minha garganta estava seca. Me levantei e fui
até a mesinha do cafezinho. Eu precisava de cafeína para me manter
acordada. Não havia dormido direito a noite e o sono dava sinal.
Estava de pé, parada em frente a mesinha, bebericando meu
cafezinho tranquilamente, quando senti um esbarrão atrás de mim. Era
a vaca da Ariane. Com o choque de nossos corpos a minha xicarazinha
foi para o bebeléu. Ela passou por mim rindo e rebolando. Estava com
uma pasta de documentos e se dirigia até a sala do setor administrativo.
A vontade que tive foi de esganar a filha da mãe por ter espatifado com
meu café. Rosnei algo incompreensível e mandei que ela se fodesse
mentalmente.
Eu precisava limpar aquela bagunça provocada por ela. Então,
munida de uma toalha de papel eu decidi limpar aquela sujeira. Com
um pouco de dificuldade devido a minha saia justa, eu me abaixei para
frente e comecei a esfregar o chão molhado. A mancha não era grande,
mas havia feito um estrago no carpete do corredor.
Estava quase terminando a minha tarefa, quando senti um cheiro
maravilhoso de perfume masculino penetrar em minhas narinas. Fechei
os olhos sentindo aquela fragrância deliciosa, que estava deixando meu
cérebro em transe. E quando me virei eu encontrei com um homem
lindo, alto, vestindo uma camisa polo, jaqueta e calça jeans. Ele tinha
os olhos azuis focados em minha bunda, ou pelo menos eles estavam
focados nela, pela direção onde ele os fixava. Sem ser discreto, ele
passeou seus olhos em meu corpo, me olhando com ar predatório e
cheio de malícia. Prendi a respiração, sentindo um calor absurdo tomar
conta de mim.
O homem era um espetáculo! Tinha todas as combinações que
uma mulher procurava. Era bonito e tinha um ar de cafajeste. Não me
importei com a maneira como ele me olhava. Eu até gostei! Sorri e
passei a analisá-lo melhor. O cabelo era castanho claro, curto e
ligeiramente bagunçado. Ele era jovem, provavelmente na fixa dos
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trinta anos. O corpo era fabuloso! Pelo jeito ele malhava e muito para
manter aquela gostosura em dia. O rosto era másculo e ostentava uma
barba suave, dessas que estão por fazer. Ele viu que eu o olhava e
sorriu. Santo Deus! Me segurei na mesinha para não cair. Que sorriso
sedutor foi esse? Pai do céu!
Ofeguei e me recompus. Eu precisava beber algo e não era café.
Eu precisava era de uma bebida bem forte para aguentar essa visão
paradisíaca. Fazia muito tempo que não via um homem tão bonito e tão
descarado. Ah, foda-se! Eu sabia que estava exagerando! Havia
milhares desse tipo por aí.
Ainda sorrindo daquele jeito meio canalha, meio Dom Juan, ele
passou por mim e deixou seu rastro de perfume delicioso e importado
no ar. Fiquei um pouco zonza. Respirei fundo e olhei por cima do
ombro. Ele havia acabado de entrar na sala da chefia. Quem era esse
homem? Algum empregado novo que eu não conhecia? Um negociador
ou algo assim? Se bem que ele não tinha jeito de ser um empresário,
pois usava roupas casuais. Então, quem ele era?
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Capítulo 2
Leoni
Fazia mais de cinco anos que a empresa que era do meu pai
estava sob o comando dos sócios. Depois que meu pai adotivo faleceu,
seu Fausto Vilas Boas, eu saí pelo mundo. Viajei muito. Rodei o globo
terrestre. Mas ao contrário do que todos falavam, eu não gastei um
centavo da fortuna do velho. Eu me virei. Arranjava sempre um
emprego para pagar minha hospedagem e comida em hotéis ou
pousadas. Fui assistente de cozinheiro na Tailândia, lavador de pratos
no Japão, garçom no México. Conheci muitos lugares e culturas novas,
aprendi várias línguas, transei com muitas garotas e me meti em
algumas confusões. Mas agora era hora de ter responsabilidade. Tomar
as rédeas da situação e chefiar a minha empresa. Sim! Essa empresa era
minha antes desses sangues sugas dos meus sócios tomarem conta dela.
Agora havia chegado a hora de eles saberem quem havia
retornado para comandar os negócios: Eu!
Abri a porta da sala de reuniões, onde todos me aguardavam
acomodados ao redor da enorme mesa, e entrei. Quatro pares de olhos
curiosos e desdenhosos me olharam de cima a abaixo. Olhei para mim
mesmo e me voltei para eles. O que havia de errado com essa gente?
Esperavam que eu vestisse terno e gravata?! Era óbvio que sim! Mas
como eu vim apenas para fazer a reunião, optei por algo mais casual. E
que se fodam as opiniões dos meus sócios arrogantes.
Havia pedido ao Marcos, um dos braços direitos do meu pai, que
reservasse a cadeira de destaque para mim. Ele era um dos poucos que
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eu confiava. Na verdade, ele era o único. Cumprimentei a todos com
um “bom dia” e me acomodei. Estiquei as pernas e coloquei os pés em
cima da mesa, inclinando a cadeira um pouco para trás. Na mesma hora
todos cochicharam e resmungaram. Certamente eles estavam
desaprovando o meu jeito despojado de ser. O que eles não sabiam era
que eu os estava testando. Queria saber se eles reagiriam aos meus
modos nada convencionais. E eles reagiram.
— Léo, isso é jeito de se sentar na cadeira que era ocupada pelo
seu pai? — indignou-se Sócrates, o mais velho de todos os sócios.
— Cadê o respeito? — bradou Ivone me olhando com
desaprovação. — Você é uma vergonha à memória do Fausto.
— Por que não age com seriedade uma vez na vida, Leoni? —
Sócrates voltou a falar.
Com a finalidade de cessar com aquela balbúrdia, eu me ajeitei na
cadeira, me sentando como os demais. Eles torceram os lábios, me
lançaram olhares desaprovadores, mas não falaram mais nada. Eu sabia
que tinha exagerado, mas fiz de propósito para chocá-los. Talvez eles
nem ficassem tão espantados com minhas atitudes, pois me conheciam.
Mas não me conheciam plenamente.
— Vamos falar sério agora! — Inclinei o tronco para frente e
coloquei os cotovelos sobre a mesa. Olhei nos olhos de cada um deles,
até mesmo no de Marcos, que estava calado.
Eu os conhecia como a palma da minha mão. Quando meu pai era
vivo, Ivone e Sócrates viviam bajulando, puxando o saco para ganhar
proveito e com isso, conquistar confiança. Era muito fácil adquirir a
confiança de um velho solteirão, que nunca se casou e não tinha
herdeiros. Depois que o meu pai decidiu me adotar, a coisa mudou.
Eles encheram a cabeça do seu Fausto dizendo que era um absurdo ele
deixar toda a sua fortuna para alguém que não era do seu sangue, para
um desconhecido como eu. Mas meu pai estava decidido que me
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adotar. Ele me criou como um filho e a gente nutria um sentimento
puro um com o outro. Eu amava muito o meu pai.
— A partir de hoje eu estou tomando posse no cargo de
presidente da empresa. Vou realizar o pedido que meu pai fez antes de
morrer. — Todos arregalaram os olhos e seus queixos caíram. Eu sorri
e olhei para Sócrates, que era o que possuía a maioria das ações, depois
de mim, e disse: — Seu Sócrates, eu quero que desocupe a sala que era
do meu pai o mais rápido possível. Avisarei ao pessoal da limpeza que
arrume tudo por lá hoje, pois amanhã eu quero começar a trabalhar.
— O quê?! Você está louco, rapaz?
— O senhor ouviu! Aquela sala é minha a partir de agora.
— Desde quando você acha que está apto para gerenciar essa
empresa? Isso aqui não é uma de suas festas onde você cai na farra.
Isso é coisa séria, Leoni! — exclamou Ivone, indignada.
— Dona Ivone, eu sei muito bem o que é uma empresa. E vocês
não se preocupem, porque eu estou muito preparado para assumi-la.
Sócrates deu uma risada sarcástica e me lançou um olhar
desdenhoso. Não me intimidei e o encarei muito determinado. Nada me
faria recuar do meu propósito. E não seria a ironia do meu sócio que me
intimidaria.
— Garoto, você não sabe nada de administração. Não tem
experiência alguma.
— Seu Sócrates, pelo visto não é somente a dona Ivone que está
enganada quanto as minhas qualificações. O senhor também! Eu me
formei em Administração, fiz estágio aqui mesmo, como vocês sabem.
Posso não ter uma vasta experiência no meu currículo, mas tenho força
de vontade e muitas ideias novas. Acho que isso conta muito!
— Eu acho isso uma loucura! — Sócrates estava estupefato e
balançava a cabeça de um lado para outro. — Eu acho que...
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— Sócrates — interveio Marcos, finalmente quebrando seu
silêncio. —, a empresa é do Leoni. Ele é o único herdeiro do Fausto,
quer você goste, ou não. Leoni tem o direito de assumir seu cargo aqui.
— Ele olhou para mim e completou: — Pode contar com meu apoio.
No que precisar eu te ajudarei.
Sorri e acenei com a cabeça. De todos ali Marcos era o mais novo
e mais aberto ao diálogo. Tinha quarenta anos, era centrado nos
negócios e possuía uma visão moderna sobre o rumo da empresa. Eu
sempre conversava com ele ou por telefone, ou pessoalmente, quando
nos encontrávamos no clube, fosse para jogar futebol, ou para uma
bebida no fim de tarde. Sócrates e Ivone eram mais velhos, cinquenta e
poucos anos. Tinham ideias obsoletas e não se arriscavam a nada. Eu
não podia me queixar do trabalho deles, mas era óbvio que a empresa
precisava de mudanças, de novos horizontes. E com os dois chefiando a
presidência e vice, isso não aconteceria nunca.
— Eu preciso falar com o pessoal para que arrume a sala.
Amanhã eu estarei aqui bem cedo e marcarei uma nova reunião com
todos os funcionários. — Eu me levantei, decidido enquanto Ivone e
Sócrates ainda me olhavam com desconfiança.
— Se é assim que você quer... — Meu sócio suspirou fundo, com
semblante derrotado. — Eu começarei a encaixotar as minhas coisas e
passarei para outra sala.
— Obrigado, Sócrates. — Sorri satisfeito. — Tenham um bom
dia! — falei e me retirei.
A alegria me consumia, mas junto com ela vinha um pouco de
preocupação. Eu sabia que as coisas seriam um tanto complicadas. Eu
precisava adquirir a confiança de meus sócios, mas, sobreduto, eu
precisava urgente de uma secretária pessoal. E amanhã mesmo eu
escolheria a funcionária mais qualificada para esse cargo.
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Capítulo 3
Cléo
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— Me diga, criatura, o que aconteceu? — indaguei curiosa, louca
para saber qual seria o motivo de tanta algazarra.
— O herdeiro, filho do seu Fausto Vilas Boas, o playboyzinho
que só sabe gastar o dinheiro que o velho lhe deixou, está assumindo a
vaga de presidente da empresa no dia de hoje.
— O quê?!
— Isso mesmo que acabei de te dizer. E tem mais! Ele marcou
uma reunião agora às oito e meia com o pessoal da administração. Isso
inclui os sócios, a ariranha, eu e você! — Sorriu apontando o dedo para
mim.
— Mas eu nem conheço esse homem! Eu nem sei por onde
começar... — falei um pouco nervosa me erguendo e pegando a
papelada de cima da mesa. Enfiei tudo dentro da pasta e olhei para o
relógio de pulso. — Jesus, está quase no horário!
— Não precisa se preocupar, Cléo! Você vai entrar comigo.
Vem! — disse Kako se movendo em direção a sala de reuniões. —
Menina, o bofe é um bapho de lindo! Pensa num homem tesudo e
gostoso — cochichou com malícia, revirando os olhos teatralmente.
— Pare com isso, Kako! Ele é nosso chefe agora! — ralhei em
tom de brincadeira e ele riu.
— Você acha que vai onde, hein Cleópatra? — A voz enjoativa
de Ariane reverberou ao nosso redor.
Eu e Kako nos viramos conjuntamente e a vimos vir a passos
largos até nós. Ela estava com uma pasta nas mãos e caminhava com
um pouco de dificuldade devido ao vestido justíssimo tubinho que
usava. Parecia um espeto: ereta, seca e fria como metal.
— Bom dia, Ariane! — eu a cumprimentei e dei as costas para
ela voltando a me mover em direção a sala.
— Você está ficando surda, Cleópatra?
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— Ariane, vai infernizar a vida do capeta, vai queridinha! —
Kako mostrou a língua para ela que devolveu o insulto do mesmo
modo.
— Kako, eu acho que o diabo não quer concorrência! —
debochei e eu e meu amigo rimos. Ariane rosnou algo incompreensível.
Entramos e nos acomodamos ao redor da enorme mesa. Kako se
sentou do meu lado, enquanto Ariane se acomodou a minha frente, me
encarando com desdém. Fingi que ela não estava ali e me concentrei
em meus documentos. Os outros sócios já estavam presentes com
exceção do presidente, pois sua cadeira de destaque estava vazia.
— Você nem tente puxar o meu tapete, Cléo! Ou eu acabo com
você! — Ariane rosnou mostrando os dentes.
— Graças a Deus eu não sou como você, Ariane, que vive
puxando o tapete dos outros. Eu tenho caráter, algo que você
desconhece. — Sorri cinicamente para ela.
Escutei um barulho na porta e minha atenção se concentrou no
homem que entrava e se acomodava na cadeira de destaque. Quase me
engasguei quando vi que o nosso presidente era o mesmo homem lindo
e gostoso que eu havia visto outro dia na recepção. Não podia ser!
Fiquei sem reação apenas olhando para ele enquanto, sem jeito, ele
abria uma pasta que continha a pauta da reunião. Estava vestindo um
terno cinza escuro, gravata vermelha e tinha o cabelo um pouco
bagunçado, mas brilhante.
Quando ele ergueu a cabeça e nossos olhos se encontraram, um
suave sorriso surgiu em seus lábios. Meu coração deu um salto e minha
boca ficou seca, pisquei rapidamente e voltei e me concentrar na
papelada. Eu não queria que meu chefe pensasse que eu o estava
encarando, embora isso fosse verdade.
— Bom dia a todos! Eu me chamo Leoni Vilas Boas — ele disse
se apresentando. — Alguns já me conhecem, porém outros não. Sou o
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filho único do senhor Fausto e estou assumindo a presidência da
empresa no dia de hoje.
O pessoal que ali estava se entreolhou um pouco surpreso. Kako
que estava sentando ao meu lado deu um leve cutucão no meu braço
por debaixo da mesa. Girei meu rosto e olhei rapidamente para ele e
depois para Ariane, que não desgrudava os olhos do nosso chefe. Ela
estava com olhar brilhante e um sorriso bobo estampado no rosto. Foi
então que percebi que a ariranha assanhada estava a fim do Leoni. Não
sei por que, mas não gostei de saber disso.
Todos deram as boas-vindas a ele, saudando-o formalmente como
presidente que era. Seguiu-se a reunião com assuntos primordiais do
dia. Leoni explicou a mudança que pretendia fazer na empresa, como as
coisas iriam ficar daqui em diante, qual a função que cada um
receberia. Os sócios mais antigos resmungaram um pouco, mas como
não tinha saída, acataram com o pedido do novo presidente.
— Bem, depois de tudo explicado, eu gostaria de requisitar uma
secretária particular para me assessorar. Tem que ser alguém com visão
aguçada, raciocínio rápido e ideias inovadoras — ele disse
surpreendendo a todos mais uma vez.
Ariane se remexeu na cadeira toda contente, seu sorriso se
ampliando nos lábios de cobra. Respirei fundo, ignorando-a e
escutando atentamente o que Leoni falava.
— Cléo? — ele chamou e eu dei um pulo na cadeira, retesando o
corpo.
— Pois não?
— Eu andei olhando seu currículo e é excelente. Você fala três
línguas: inglês, espanhol e alemão?
— Si-Sim... — gaguejei um pouco e pigarreei sem jeito. Nesse
instante todos estavam olhando para mim. Fiquei vermelha.
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— Interessante... Muito interessante! — Leoni passeava com o
dedo no lábio inferior enquanto me analisava. Agora eu fiquei roxa.
— Eu também sei falar três línguas: inglês, espanhol e italiano —
Ariane se intrometeu me fuzilando com o olhar.
— Ah, sim! Seu currículo também é muito bom, Ariane — disse
Leoni para ela, que abriu um sorriso enorme de satisfação. — Bem, eu
ficarei com os currículos de vocês duas por serem os mais completos. E
assim que eu escolher quem será a minha assessora, eu aviso.
Ariane olhou para mim com ar superior, ainda sorrindo
cinicamente. Ela moveu os lábios e pude ler: “Fracassada”! Meus olhos
se tornaram duas fendas e faiscaram em sua direção. Que vontade de
torcer o pescoço dessa desgraçada, que se achava a rainha da cocada
preta.
Para devolver o deboche, eu sorri lentamente e deslizei a mão
entre as folhas das papeladas que estavam sobre a mesa. Ergui o dedo
do meio e mostrei para ela. Ariane bufou e empinou o queixo, virando
o rosto para o outro lado. Ela que se fodesse! Se o chefe a escolhesse,
eu não iria ficar chateada. Ah, tudo bem! Eu iria ficar muito chateada,
eu iria odiar, e se desse, eu gritaria bem alto – no banheiro da minha
casa, lógico – que ela era uma ariranha filha da puta!
— Pessoal — continuou Leoni me despertando de meus
pensamentos —, eu acho que isso era tudo que tínhamos para conversar
hoje. Qualquer coisa, eu estou na minha sala. — Ele se levantou, me
deu uma olhadinha, e saiu. Quase morri com a olhadinha.
Arrumei os documentos e deixei a sala rapidamente. Kako me
alcançou no corredor e enlaçou seu braço no meu.
— Cleozinha, você nasceu com a bunda virada pra lua.
— Por que está dizendo isso?
— Tenho certeza que o chefinho gostoso vai escolher você! —
Ele deu uma piscadinha.
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— Não vou criar expectativas.
— E nem pode! — A voz irritante da Ariane ecoou em meus
ouvidos. Eu e Kako nos viramos e a encontramos com o queixo erguido
e sua petulância sem limites. — Eu vou ganhar esse cargo! Você não
tem chance, Cleópatra!
— Saí da minha frente, ariranha. Ou eu passo por cima de você!
— grunhi avançando lentamente. Ela arregalou os olhos e, temerosa,
recuou. Covarde! — Agora me dê licença que o trabalho me espera. —
Eu a ignorei e fui em direção a minha mesa. Kako foi para a dele e
Ariane fez uma careta, girou o corpo saindo dali.
Trabalhei durante aquele dia sentindo uma ansiedade fora do
comum. Nunca pensei que meu currículo fosse chamar a atenção do
meu novo chefe. Eu teria chances de competir com a peituda da Ariane,
que fazia de tudo para puxar o meu tapete? Ah, ela que ficasse no canto
dela, por que se eu descobrisse alguma armação para cima de mim, ela
ia se vê comigo!
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Capítulo 4
Leoni
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pegado. Ariane era um casinho antigo, de festas, de esquemas. Ela era
uma garota volúvel e interesseira. Se envolvia somente com gente que
tinha grana e saía com vários homens ao mesmo tempo. Mas eu peguei
a Ariane antes de ser o chefe dela. Agora as coisas mudaram. Hoje eu
tinha que impor respeito aos meus funcionários, zelando pela empresa
em primeiro lugar.
Foi pensando nessa ideia que há alguns anos, quando já
despertava em mim o desejo de tomar conta dos negócios do meu pai,
eu criei um manual. E a primeira regra que eu seguia a risca era: “onde
se ganha o pão, não se come a carne”. Portanto, Ariane era carta fora do
baralho. Infelizmente! Porque ela era boa de cama. Meio doida, mas
sabia como satisfazer um homem. Era daquelas “puta na cama e
patricinha na sociedade”. Eu gostava de mulheres liberais, mas não
gostava de garotas cheias de mimimi. E Ariane era uma dessas.
Ariane surgiu na minha sala usando um vestido colado ao corpo,
decotado e de salto alto. Pisquei sem poder acreditar que ela vinha
vestida para trabalhar como se estivesse em uma balada. Eu teria que
dar um jeito nisso e seria hoje mesmo.
— Oi, Leoni. Mandou me chamar? — perguntou com voz
melosa. Muito melosa para o meu gosto.
— Sim! Por favor, sente-se! — Eu apontei para a cadeira a minha
frente e ela sentou cruzando as pernas. E que cruzada de pernas! Santo
Deus! Vi até a cor da calcinha que ela usava!
— O escritório ficou diferente. Eu gostei! — Ela sorriu enquanto
analisava o ambiente.
— É... Eu mudei algumas coisas. — Abri a pasta e olhei a
documentação com calma. — Eu te chamei aqui por causa do seu
currículo.
— Você gostou dele? — Seus olhos se iluminaram e ela abriu um
sorriso de orelha a orelha.
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— Sim... É muito bom!
— Eu sabia que você ia gostar. Quando eu começo? Hoje?
Amanhã?
— Ariane, eu... Veja bem... — comecei a falar e nem sabia
direito como explicar que ela não era a escolhida. — Eu gostei dos seus
dados. Você é apta para o cargo, tem alguns requisitos que se
encaixam, mas...
— Mas o quê? — Vi a frustração se estampando lentamente nos
seus olhos claros e me culpei por isso.
— Eu não quero que fique triste, que se desanime. Mas... Bem...
Eu não quero misturar vida pessoal com profissional. E a gente teve um
caso há alguns meses. É isso! — disse dando uma desculpa deslavada.
— Leoni, você não vai me contratar por causa disso?! — Era
nítido o tom de indignação em sua voz.
— Sim, Ariane! É como eu disse: não quero misturar o lado
pessoal com o profissional. É isso!
— Mas eu pensei que... que você havia gostado do meu
currículo...
— E eu gostei! — disse com sinceridade. — Mas infelizmente
não vai dar!
— Eu entendo...
— Mas você continuará a trabalhar aqui no seu cargo. Quanto a
isso não precisa se preocupar! — garanti tentando animá-la.
— Eu sei... Era só isso? — Ela se levantou tristonha, ajeitando a
saia do vestido.
— Sim! Ah, quando você sair pode dizer para a senhorita Cléo
entrar, por favor? — perguntei enquanto guardava a pasta com a
documentação dela na gaveta da escrivaninha.
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— O quê?! — Ela indignou-se de olhos arregalados. — Você não
vai me dizer que... Que vai contratar a Cleópatra no meu lugar. Vai?
Cleópatra?! Mas que diabos deu nessa garota?
— Que eu saiba, eu não tenho nenhuma funcionária com o nome
de Cleópatra, Ariane. E sim! Cléo será a contratada.
— Eu não acredito! — esbravejou possessa e ofegante. Parecia
uma fera. Fiquei pasmo com sua atitude.
— Sem escândalos, por favor! — Ergui a mão interrompendo seu
disparate. — Faça o que eu recomendei!
— Com prazer! — chiou entredentes e saiu pisando duro.
Não dei importância para aquela criancice, de quem não ganhou o
brinquedo desejado no Natal. O currículo da Ariane era bom, mas o da
Cléo superava todas as expectativas. Era excelente! Era ela que eu
precisava para me assessorar. Essa garota devia de ser incrível!
Eu estava entretido olhando algo na internet quando Cléo entrou
na sala. Desviei meus olhos do notebook e os fixei nela. Puta que pariu!
Ela era bonita! Não era uma beldade, magra, alta e peituda como a
Ariane. Ela tinha curvas. E que curvas! Era estilo mulher violão,
cinturinha fina, quadril largo, bunda de gomos avantajados, pernas
grossas e torneadas.
Me ajeitei melhor na cadeira enquanto meus olhos passeavam
agora pelo rosto dela. Tinha o cabelo loiro cor de mel, cacheado,
cortado no estilo Chanel, repicado. Os olhos eram castanhos claros,
com cílios compridos repletos de rímel. As maçãs do rosto eram
salientes, rosadas e nesse instante elas estavam vermelhas. Muito
vermelhas. Os lábios eram convidativos, pintados de gloss labial rosa.
Havia uma pinta pequena logo acima do lábio superior, do lado
esquerdo que a deixava ainda mais atraente. Cléo tinha uma beleza
diferente. E isso me agradou muito!
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— Por favor, sente-se! — disse por fim, saindo do estupor que
me encontrava.
— Obrigada! — Cléo se acomodou a minha frente, ajeitando a
saia rodada de seu vestido de seda.
— Fiquei maravilhado com seu currículo! Ele é demais!
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