Sociologia Weberiana e Suas Influências
Sociologia Weberiana e Suas Influências
Sociologia Weberiana e Suas Influências
DESCRIÇÃO
A sociologia compreensiva de Max Weber, a demarcação dos conceitos de ação social, relação
social, dominação, burocracia e desencantamento do mundo.
PROPÓSITO
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 1
PRIMEIRAS PALAVRAS
Em abril de 1999, o jornal Folha de S. Paulo realizou uma enquete com 10 renomados
intelectuais brasileiros a respeito dos textos teóricos mais importantes do século XX. Escrito
pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), o livro A ética protestante e o “espírito” do
capitalismo (1904-1905) conquistou a primeira colocação. Em terceiro lugar, outra obra de
Weber foi premiada: Economia e sociedade (1922).
Seus escritos são lidos no mundo inteiro: é difícil imaginar um pensador contemporâneo que
não tenha sido influenciado por seus temas e suas questões. Destacaremos alguns dos
conceitos criados ou debatidos por ele:
Tipo ideal
Patrimonialismo
Racionalismo
Carisma
Burocracia
Estamento
Ética protestante
ESTAMENTO
Para Weber, informa Kalberg (2010, p. 102), os estamentos são como “grupos de status”
e funcionam como uma base para a estratificação social.
Ainda muito jovem, Weber foi nomeado professor em Berlim e, em 1895, tornou-se catedrático
da Universidade de Heidelberg. Uma aguda crise pessoal fez com que ele interrompesse suas
aulas e suas pesquisas durante anos. Suas atividades de pesquisa se desenrolaram de modo
intermitente nos intervalos entre os anos de sua convalescença.
Foto: Autor/Shutterstock
Max Weber em 1918
ABASTADA
Uma das preocupações centrais da obra de Weber era entender o caráter particular e
específico do capitalismo ocidental. Ele dedicou boa parte de suas energias intelectuais a tal
tema, estudando-o desde sua perspectiva histórica e econômica até a sociológica e cultural.
Na figura de seu principal autor, o francês Augusto Comte (1798-1857), o positivismo defendia
a adoção dos métodos das Ciências Naturais e da Matemática como os fundamentos para a
produção de conhecimento na área das Ciências Humanas.
De acordo com Dilthey, o modo explicativo era a característica essencial das Ciências Naturais,
que buscavam explicar as causas que davam existência aos fenômenos naturais. A
compreensão seria o modo típico das Ciências Humanas, que não devia explicar os fatos em
si, determinando as causas imediatas, e sim compreender os processos da ação humana e
dela extrair seu sentido.
Segundo Weber, um cientista é inspirado pelos próprios valores e ideais, que o levam a
escolher e a definir os temas e o objeto de seus estudos. Para ele, os cientistas nunca
abordam a realidade empírica de maneira “objetiva”, mas trazem consigo as questões e os
interesses provenientes de seus valores.
Contudo, uma vez escolhido o tema de pesquisa, não se deve permitir que os valores
pessoais, as preferências e os preconceitos interfiram na coleta de dados empíricos e em sua
avaliação. A contaminação dos valores do pesquisador com os dos atores investigados
também precisa ser evitada. Essa postura implica uma estreita separação entre o que existe (a
pergunta para a análise científica) e o que deve ser (o domínio dos valores e das preferências
pessoais).
Max Weber também sustentava o seguinte ponto de vista: as Ciências Sociais visam à
compreensão de eventos culturais como singularidades. Seu objetivo é, portanto, captar a
especificidade dos fenômenos de estudos e seus significados.
Entre os instrumentos de que o sociólogo dispõe para compreender e interpretar a vida social,
um dos mais importantes é o que Weber chamou de “tipo ideal”. Esse tipo é formado por
ferramentas metodológicas com as quais é possível, na abordagem weberiana, lançar luz
sobre o que caracteriza um grupo. Em outros termos, significa buscar o essencial ou o
fundante de determinado fenômeno.
Os exemplos analisados não representam o todo do “tipo ideal”, mas possibilitam a relação de
semelhanças comparáveis entre os grupos sociais em análise. Nesse sentido, trata-se de um
trabalho teórico indutivo que busca alcançar a dimensão essencial em meio à diversidade dos
fenômenos da vida social.
Foto: Shutterstock.com
De certa forma, isso funciona como um manequim de loja: um corpo que ninguém tem, embora
o coletivo o reconheça como tal. Comparando as formas, somos capazes de perceber se
precisamos de um modelo maior ou menor ou se o caimento ficará bom ou não.
A sociologia de Weber considerava o indivíduo e sua ação como o centro da investigação. Com
isso, ele queria salientar que o verdadeiro ponto de partida da Sociologia é a compreensão das
ações dos indivíduos, e não de entidades coletivas, grupos ou instituições.
Ele não tinha a intenção de negar a existência ou a importância dos fenômenos sociais, como o
Estado, a empresa capitalista e a sociedade anônima, mas tão somente a de ressaltar a
necessidade de se compreender as intenções e as motivações dos indivíduos que agem em
sociedade. Sua insistência em compreender as motivações da ação humana o levou a rejeitar a
proposta do positivismo de transferir para a Sociologia a metodologia de investigação utilizada
pelas Ciências Naturais.
Segundo o sociólogo, a “ação social” se define como toda conduta humana dotada de um
significado subjetivo dado por quem a executa. Ela é diferente de um comportamento reativo
ou imitativo, pois a ação social é subjetivamente orientada e conduzida pelo agente tendo em
vista a conduta de outro ou de outros agentes.
Para Weber (1999, p. 7), a Sociologia é a ciência “que pretende entender, interpretando-a, a
ação social para, dessa maneira, explicá-la causalmente em seu desenvolvimento e efeitos”. A
interpretação dessa ação não implica uma avaliação dos processos psicológicos internos aos
agentes, pois o que interessa a Weber é apreender os motivos que os impeliram a exercer tal
ou qual ação social, sempre levando em conta a resposta ou a reação dos outros.
Toda ação humana, portanto, é influenciada pela consciência da situação na qual se realiza e
pela existência das ações e reações dos outros agentes sociais envolvidos.
Em outras palavras, o sujeito faz escolhas como pessoa, ou seja, como alguém que vive as
situações sociais. As pessoas têm escolhas e podem, diante da dúvida, do acolhimento, da
acomodação e do convencimento, permanecer naquela situação.
Foto: Shutterstock.com
Imagine que você nasceu em meio a uma família de criminosos, verdadeiros ladrões históricos.
Tudo aquilo que você aprendeu durante toda a sua vida foi naturalizar o roubo. Mas você
convive socialmente e tem acesso aos meios de comunicação. As falas, mesmo entre seus
próximos, estão do lado “errado”, porém podem até defender seus atos. Você, como indivíduo,
está inundado de referências contraditórias: vozes que ouve, olhares e pressão. Quem vai lidar
com a sociedade e tomar decisões é você.
Foto: Shutterstock.com
AÇÃO TRADICIONAL
Atuação pautada por hábitos arraigados e costumes seculares. Normalmente, isso é uma
resposta rotineira a demandas e estímulos conhecidos ou comuns. Esse tipo de ação está
vinculado ao âmbito da dominação tradicional e carismática (tal qual a ação seguinte).
AÇÃO AFETIVA
Essa ação é determinada por afetos e estados sentimentais, como vingança, desespero,
admiração, orgulho, medo, inveja, entusiasmo, desejo, compaixão e gosto estético ou
alimentar, sem haver uma consideração dos meios ou dos fins que se deseja atingir.
Se a sociologia positivista considera que a ordem social, enquanto força exterior, subjuga os
indivíduos, Weber salientava que não existia oposição absoluta entre eles e a sociedade.
Nesse sentido, as normas são concretas quando assumem a forma de motivação em cada
indivíduo. Aquilo que leva a ação social e seu sentido pode ser expresso pelo agente ou estar
implícito em sua atitude ou seu comportamento.
Foto: Shutterstock.com
Por sempre se pautar pela conduta dos outros, as ações sociais se orientam de forma
recíproca na expectativa de que se agirá socialmente de certo modo e a partir de conteúdos e
motivações compartilhados.
Foto: Shutterstock.com
Com o conceito de “relação social”, Weber designava a probabilidade de que uma forma
determinada de conduta social tenha seu sentido partilhado pelos diversos agentes em uma
sociedade qualquer.
A diferença entre ação social e relação social é importante. Como lembra um dos mais
importantes estudiosos de Weber no Brasil...
[...] na primeira [ação social], a conduta do agente está orientada significativamente pela
conduta de outro (ou outros), ao passo que, na segunda [relação social], a conduta de
cada qual entre múltiplos agentes envolvidos (que tanto podem ser apenas dois em
presença direta quanto um grande número e sem contato direto entre si no momento da
ação) orienta-se por um conteúdo de sentido reciprocamente compartilhado.
Assim, um aperto de mão é uma ação social, porque a conduta de cada participante é
orientada significativamente pela conduta de outro; já a amizade é uma relação social,
porque envolve um conteúdo de sentido capaz de orientar regularmente a ação de cada
indivíduo em relação a múltiplos outros possíveis e que, portanto, manifesta-se sempre
que as ações correspondentes são realizadas (por isso mesmo, podemos designar esse
conteúdo de sentido pelo termo genérico de “amizade”).
Claro que a amizade, como qualquer relação social, não existe senão quando se traduz
em condutas efetivas. E, como não há garantia prévia de que isso se dê, a ocorrência de
qualquer relação social só pode ser pensada em termos de probabilidade, que será
maior ou menor conforme o grau de aceitação do conteúdo de sentido da ação pelos
seus participantes.
O trabalho mais conhecido e importante de Max Weber é, sem dúvida, A ética protestante e o
“espírito” do capitalismo , publicado, ao longo dos meses de 1904 e 1905, na revista Archiv für
Sozialwissenchaft . Quinze anos depois, o ensaio foi republicado em edição revista e ampliada.
PIERUCCI, 2004, P. 7.
Os velhos modelos políticos de mundo ruíram ao longo do século XIX, mas, ao mesmo tempo,
ele continuava vivo, andando e transformando-se. Novas nações e outras potências vinham se
solidificando e vivenciando um fenômeno denominado capitalismo.
Destacaremos a seguir as categorias que foram transformadas com o surgimento do
capitalismo:
Foto: Shutterstock.com
A chegada do proletário
autor/shutterstock
A remuneração por papel-moeda
Foto: Shutterstock.com
A mudança da rotina e da jornada de trabalho
Autor:
neftali / Foto: Shutterstock.com / Tempos modernos, 1936
O controle do tempo
Na busca por entender como tais fenômenos se mantinham, Weber inaugurou uma série de
conceitos que se tornaram fundamentais:
COSTUME E HÁBITO
Parece uma distinção menor, mas não é. Costume é o trabalho na fábrica, o horário de entrada
e saída. Significa estar preparado para as rotinas corriqueiras sem que se brigue ou se lute por
elas, embora elas estejam fortemente internalizadas. Já um hábito se manifesta quando
internalizamos algo que parece certo e faz parte do grupo, como, por exemplo, ir à igreja no dia
em que a comunidade se encontra, a culpa que se sente por não ir, o peso de representar algo
naquele dia, levar os filhos a esse ambiente ou ensinar que é certo guardar aquele dia.
RELAÇÃO SOCIAL
Retomaremos esse conceito em outro ponto, mas, aqui, estamos falando não de estruturas
propriamente antagônicas, e sim complementares. Como vimos, o indivíduo, para Weber, tem
escolha. Por exemplo, não cumprir a fiança é uma escolha. Essa decisão gera, no entanto,
pressões para além do indivíduo, como o peso de quem o cerca e o que ele perde na
comunidade por não exercer o esperado. Isso é a relação social – e todos os indivíduos são
constantemente pressionados por ela.
ORDEM LEGÍTIMA
A relação social nos leva ao entendimento de que toda sociedade constitui uma ordem
complexa, um conjunto de valores partilhados pelos grupos e vivenciados por eles. Essa
construção de ordem é reconhecida e trabalhada de duas formas: ordem legítima de
convenção e ordem legítima de direito.
EXEMPLO
Se um homem lhe estende a mão, não retribuir esse ato é, segundo uma convenção tradicional
do patriarcado ocidental, uma ofensa. Observe que não há uma lei ou uma punição prevista na
legislação para isso, porém, na ordem legítima de convenção, foi cometido um ato muito grave.
Já na ordem legítima de direito, há punições previstas para determinados casos, pois as leis
espelham a materialidade da ordem e buscam garanti-la. Analisaremos agora um exemplo
mais amplo.
EXEMPLO
O adultério faz parte da ordem legítima das sociedades. Algumas pessoas o relativizam, tendo
outras posições a respeito do assunto, mas, geralmente, a ordem legítima de convenção
entende que ele é algo errado e passível de separação, conflitos etc. Há pouco tempo,
inclusive, a legislação brasileira previa o adultério como crime. Tratava-se de algo tão
estruturado e crítico que fazia parte do ordenamento jurídico.
ESTAMENTOS/STATUS SOCIAL
Todos os indivíduos disputam prestígio em meio a suas relações. As formas e seus
reconhecimentos são diversos. Nesse sentido, os estamentos aparecem quando a ação social
é pautada e orientada para a honra e a estima social, bem como para os padrões de consumo
e os estilos de vida compartilhados. Portanto, a desigualdade ocorre não somente pela
propriedade, mas também em relação às diferenças de status.
Nas páginas finais de seu clássico estudo, Weber indica que, após expandir-se como forma
econômica e consolidar-se como modo de produção industrial de massa, o capitalismo
abandonou suas raízes religiosas e passou a sustentar-se exclusivamente por razões
mundanas.
O capitalismo moderno já não necessita mais do suporte de qualquer força religiosa e sente
que a influência da religião sobre a vida econômica é tão prejudicial quanto a regulamentação
do Estado.
Em suas palavras...
[...] O PURITANO QUERIA SER UM PROFISSIONAL – NÓS DEVEMOS SÊ-LO. POIS A ASCESE,
AO SE TRANSFERIR DA CELA DOS MOSTEIROS PARA A VIDA PROFISSIONAL, PASSOU A
DOMINAR A MORALIDADE INTRAMUNDANA E, ASSIM, CONTRIBUIU PARA EDIFICAR ESSE
PODEROSO COSMOS DA ORDEM ECONÔMICA MODERNA, LIGADO AOS PRESSUPOSTOS
TÉCNICOS E ECONÔMICOS DA PRODUÇÃO PELA MÁQUINA, QUE, HOJE, DETERMINA COM
PRESSÃO AVASSALADORA O ESTILO DE VIDA DE TODOS OS INDIVÍDUOS QUE NASCEM
DENTRO DESSA ENGRENAGEM – NÃO SÓ DOS ECONOMICAMENTE ATIVOS – E, TALVEZ,
CONTINUE A DETERMINAR ATÉ QUE CESSE DE QUEIMAR A ÚLTIMA PORÇÃO DE
COMBUSTÍVEL FÓSSIL.
COMENTÁRIO
Todos os conceitos que observamos neste módulo aparecem em obras diversas de Weber,
embora tenham sido reunidos de forma singular em A ética protestante e o “espírito” do
capitalismo . Insistiremos ainda sobre essa relação, que é fundamental na compreensão das
bases do pensamento weberiano.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. WEBER FOI UM DOS GRANDES NOMES DA SOCIOLOGIA QUE CONTRIBUIU PARA A
CONSOLIDAÇÃO DESSE CAMPO DO CONHECIMENTO. SOBRE O SOCIÓLOGO,
IDENTIFIQUE SE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SÃO VERDADEIRAS (V) OU FALSAS (F):
IV. ELE FOI AUTOR DE UMA DAS MAIS INFLUENTES OBRAS DO SÉCULO XIX, O CAPITAL (1867),
CUJO CONTEÚDO SISTEMATIZAVA UMA BRILHANTE ANÁLISE DA GÊNESE HISTÓRICA E DAS
CONTRADIÇÕES IMANENTES DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA.
A) V - V - V - F
B) F - V - F - F
C) F - V - V - F
D) V - F - F - V
E) F - F - F - V
2. O AMBIENTE SOCIAL, POLÍTICO E ECONÔMICO DA ALEMANHA DA ÉPOCA DE WEBER O
INFLUENCIOU EM SUA PRODUÇÃO SOCIOLÓGICA EM VÁRIOS SENTIDOS. A PARTIR DE TAL
CONSTATAÇÃO, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE:
A) I
B) II
C) III
D) I e III
E) II e IV
MÓDULO 2
PRIMEIRAS PALAVRAS
Iniciaremos este módulo com nosso olhar concentrado em dois pilares fundamentais da
pesquisa de Max Weber:
A união desses dois processos cria o tecido social, tornando singular e complexo o estudo da
Sociologia.
TECIDO SOCIAL
Vamos notar um pouco dessa prática entendendo como o sociólogo escreveu sua famosa obra
A ética protestante e o “espírito” do capitalismo .
WEBER E O CAPITALISMO
FORMAS DE DOMINAÇÃO
UMA VEZ QUE WEBER ENTENDE QUE QUALQUER ENTIDADE SOCIAL SE CONSTRÓI A PARTIR DAS
AÇÕES INDIVIDUAIS, COMO É POSSÍVEL A PERSISTÊNCIA DA VIDA SOCIAL? O QUE LEVA OS
INDIVÍDUOS A CONFERIREM A SUAS AÇÕES UM SENTIDO DETERMINADO QUE GARANTA A
PERMANÊNCIA DAS RELAÇÕES SOCIAIS E A EXISTÊNCIA DA PRÓPRIA SOCIEDADE?
A resposta dada por ele a tais questões encontra-se no conceito de dominação, isto é, a
possibilidade de uma pessoa encontrar outra disposta a obedecer a uma ideia ou situação.
Essa submissão é justificada por uma motivação que a legitima.
Nas relações entre dominantes e dominados, por outro lado, a dominação costuma apoiar-se
internamente em bases jurídicas, nas quais se funda a sua legitimidade, e o abalo dessa
crença na legitimidade costuma acarretar consequências de grande alcance.
Em forma totalmente pura, as bases de legitimidade da dominação são somente três, cada
uma das quais se acha entrelaçada – no tipo puro – com uma estrutura sociológica
fundamentalmente diversa do quadro e dos meios administrativos.
DOMINAÇÃO LEGAL
Trata-se do poder que existe nas instituições modernas – impessoal e garantido por leis e
estatutos. Seu tipo mais puro é a burocracia, tal como ela se expressa na estrutura
administrativa do Estado moderno ou na gestão na empresa capitalista privada. Seu ideal é
proceder sem a menor influência de motivos pessoais nem de questões sentimentais de
espécie alguma.
DOMINAÇÃO TRADICIONAL
DOMINAÇÃO CARISMÁTICA
Decorre da devoção à personalidade ou ao carisma atribuído a um líder, assim como de sua
capacidade excepcional de mobilizar pessoas, seja pelo uso de suas qualidades pessoais ou
por suas ideias, seja por mecanismos como propagandas e apresentações públicas. O tipo que
manda é o líder; o que obedece, o apóstolo. Em relação à dominação legal, a carismática é
mais instável e efêmera, tendendo à rotinização. Em contrapartida, ela contradiz todos os
valores, costumes e leis, assim como todas as normas e tradições existentes.
Constituída por tipos ideais, essa classificação é apenas abstrata, mas permite o entendimento
das diferenças e a identificação dos tipos de autoridade existentes. Cabe ao cientista social
reconhecê-los na realidade e estudar seus graus de variância.
Para Weber, a dominação legal é o traço mais característico das sociedades ocidentais
modernas, nas quais a burocracia assume um papel destacado. Ele estuda a burocracia como
um tipo de organização da vida social que se manifesta por dispositivos legais e que busca
estabelecer critérios de competência e funcionalidade, como, por exemplo, a qualificação e a
eficiência. No entanto, ela também é uma forma de dominação.
Tal aspecto da vida social moderna ganha importância na teoria weberiana. Essa teoria procura
descrever tanto as estruturas de dominação coercitiva, baseadas no uso da força, quanto as de
dominação diretiva, tendo como base a legitimidade das leis.
Entre essas estruturas, a mais importante na sociedade moderna é o Estado, que detém, além
de instituições racionais de dominação, o monopólio da violência em um território delimitado.
Com isso, entramos em mais um dos grandes temas da sociologia weberiana: o progressivo
processo de racionalização e o chamado “desencantamento do mundo”.
RACIONALIDADE E “DESENCANTAMENTO
DO MUNDO”
De acordo com Weber, o avanço da racionalidade tinha como resultado, de um lado, uma
decadência geral da cultura clássica (em especial, a alemã), e, de outro, uma vida organizada
em torno de princípios impessoais de cálculo racional, eficiência técnica e controle.
COMENTÁRIO
Se fosse necessário indicar a marca distintiva que Weber identificava nas sociedades
ocidentais modernas, ela seria a de que o mundo tende inevitavelmente à racionalização de
todas as esferas da vida: da economia à tecnologia, da administração à jurisprudência, da
religião às artes.
INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO
WEBERIANO
A obra de Max Weber foi traduzida em inúmeras línguas. Seus principais conceitos e questões
continuam a alimentar o debate sociológico contemporâneo.
Parte expressiva das correntes de pensamento e dos autores de destaque nas Ciências
Sociais dialogaram, implícita ou explicitamente, com as principais teses defendidas por Weber.
A gama de temas e de possibilidades aberta por ele é a demonstração de que se trata de um
clássico no sentido mais vigoroso da expressão.
Na vida acadêmica brasileira, Max Weber talvez seja, entre os autores clássicos das Ciências
Sociais, o mais citado e estudado. Desde a década de 1930, constata-se a presença e a
influência de suas ideias e de seus conceitos em obras clássicas do chamado pensamento
social brasileiro, isto é, nas grandes tentativas de interpretação da singularidade da formação
histórica e sociocultural do Brasil.
VOCÊ SABIA
A obra Raízes do Brasil (1934), escrita pelo historiador Sergio Buarque de Holanda,
inaugurou uma perspectiva de análise na qual a tradição cultural brasileira é contraposta à
herança protestante norte-americana e europeia. Inspirado na discussão de Weber sobre os
tipos puros de dominação, Holanda (2005) identificou a raiz do atraso brasileiro em uma
estrutura patrimonial de poder político, ligada, por sua vez, à formação ibérica do Brasil.
Além de retomar temas e questões vinculados à obra de Weber, Holanda (2005) usou seus
principais princípios metodológicos: os tipos ideais e o método compreensivo.
Para refletirmos mais sobre a grande influência de Weber no Brasil, destacaremos outro autor
de grande importância: o antropólogo Roberto DaMatta.
1 Em seu livro mais famoso, Carnavais, malandros e heróis (1979), o autor se propõe a
entender o dilema que atravessa a sociedade brasileira: o antagonismo entre um modelo de
ordem social igualitarista, no qual predominam as relações impessoais e universais, e outro de
ordem social hierárquico, em que prevalecem as relações familiares, as de compadrio e as de
amizade.
O especialista Rodrigo Rainha aponta neste vídeo as principais influências de Max Weber nos
estudos da Sociologia em todo o mundo, assim como no Brasil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Nas organizações burocráticas, as relações de seus integrantes são de caráter pessoal, de modo a garantir lealdade e
obediência verticais.
B) As burocracias modernas são organizações flexíveis capazes de redefinir continuamente as tarefas em função da mudança
acelerada das demandas.
C) O tipo ideal de burocracia privilegia a cooperação e a comunicação de natureza informativa, o que gera comprometimento
com as metas da organização.
D) O funcionamento de todas as operações é regido por um sistema de normas escritas, assegurando a uniformidade
de seu exercício independentemente da pessoa que as desempenha.
E) A dinâmica do “espírito” ou ethos do capitalismo aponta uma inversão da fenomenologia, reduzindo a visão do papel do
homem vinculado a uma burocracia econômica para o controle de outra de caráter religioso.
IV. OS TEMAS WEBERIANOS SEGUEM CADA VEZ MAIS ATUAIS DIANTE DO CONTÍNUO
PROCESSO DE RACIONALIZAÇÃO PELO QUAL A VIDA SOCIAL MODERNA PASSA. OS
AVANÇOS TECNOLÓGICOS, O PROCESSO DE PRODUÇÃO ECONÔMICA E A AMPLIAÇÃO
DE
ESTRUTURAS E APARELHOS BUROCRÁTICOS INDICAM QUE SUA OBRA PERMANECE UMA
REFERÊNCIA INCONTORNÁVEL PARA ENTENDER O MUNDO QUE NOS ENVOLVE.
A) I e II
B) III e IV
C) I e III
D) II e IV
E) I, II e III
GABARITO
Para Weber, as burocracias modernas, cujo exemplo mais acabado é o funcionamento das
engrenagens do aparelho do Estado, tendem a operar a partir de critérios impessoais, sendo
instituídos por um sistema de normas e estatutos correspondentes que garante um
funcionamento previsível e estável.
II. As transformações sociais assistidas nos últimos anos tornaram parte de sua obra
obsoleta – um retrato datado de uma época histórica já superada pelo avanço da
civilização.
IV. Os temas weberianos seguem cada vez mais atuais diante do contínuo processo de
racionalização pelo qual a vida social moderna passa. Os avanços tecnológicos, o
processo de produção econômica e a ampliação de estruturas e aparelhos burocráticos
indicam que sua obra permanece uma referência incontornável para entender o mundo
que nos envolve.
Apesar das dificuldades de tradução e de certas críticas endereçadas à obra de Weber, sua
influência segue em alta no campo da Sociologia. Seus estudos pioneiros de fenômenos
sociais, como a burocracia, a racionalização, o carisma e a dominação, ainda se revelam
produtivos para a análise social.
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
Leia o texto abaixo:
Mauro era um renomado médico diretor do departamento de cardiologia do Hospital Universitário Pedro
Ernesto. Teve três filhos homens que seguiram seus passos: João que se tornou cirurgião plástico e se
empregou na ONG Médico Sem Fronteiras, sempre viaja para zonas de conflito com o objetivo de atender
às vitimas; Pedro que também se tornou cientista plástico e abriu um consultório em um abastado bairro
nobre da cidade onde se ocupa principalmente de cirurgias plásticas em seios, nádegas e cirurgias de
Com base nos tipos ideais de ação social de Max Weber, podemos dizer que as ações dos três filhos de
A Ação racional com relação a fins, ação racional com relação a valores e ação tradicional.
B Ação racional com relação a valores, ação racional com relação a fins e ação tradicional
C Ação afetiva, ação racional com relação a valores e ação com relação a fins.
D Ação racional com relação a fins, ação racional com relação a valores a ação afetiva.
A relação entre ciências naturais e ciências sociais foi uma das polêmicas mais debatidas no contexto de
fundação da moderna sociologia. Max Weber, muito influenciado pela tradição da hermenêutica, defendeu uma
posição acerca desse tema radicalmente contrária à de Durkheim, cuja base teórica e política era o positivismo
francês. Assinale a alternativa correta sobre a posição de Weber no debate acerca da relação entre ciências
naturais e ciências sociais.
A Weber repudiava o uso das ciências naturais pelas ciências sociais, pois, para ele, estas últimas tinham como
objetivo promover a transformação moral e política da sociedade, e não construir análises científicas racionais.
B Weber, ao contrário de Durkheim, considerava que o método de pesquisa das ciências sociais deve ser o
mesmo das ciências naturais, pois, para ele, cientistas devem renunciar a todos os pressupostos antes de
empreender qualquer análise objetiva.
C Weber defendeu a singularidade das ciências sociais em relação às ciências naturais, pois, para ele, cientistas
sociais buscam compreender o sentido das ações das pessoas em sociedade, o que se difere completamente do
que fazem químicos e biólogos ao analisarem os fenômenos da natureza.
D Assim como Durkheim, Weber identificava nas ciências naturais uma grande inspiração para as ciências
sociais. No entanto, para ele, a física e a matemática eram as ciências paradigmáticas e não a química e a
biologia.
E Weber rechaçou a aplicação das ciências naturais pelas ciências sociais, pois, para ele, as ciências naturais são
incapazes de formular leis gerais sobre o funcionamento das sociedades humanas, sendo essa uma tarefa
exclusiva das ciências sociais.
COMENTÁRIO:
a) Distratora. Weber não via a transformação social e política como objetivo fundamental das ciências sociais,
tampouco as considerava incapazes de produzir análises racionais.
b) Distratora. Weber não considerava que o método das ciências sociais deve ser o mesmo das ciências naturais.
Pelo contrário, para ele, os métodos dessas ciências são completamente diferentes.
c) Correta. Weber desenvolveu a chamada sociologia compreensiva, que busca analisar o sentido das ações dos
agentes, e nessa tarefa as ciências naturais têm pouco ou nada a contribuir.
d) Distratora. Weber não via nas ciências naturais uma grande inspiração para as ciências sociais.
e) Distratora. Para Weber, o problema das ciências naturais não é sua incapacidade de formular leis gerais sobre a
sociedade, e sim o fato de que leis gerais não ajudam a compreender o sentido das ações dos agentes.
Em relação aos conceitos de ação social e relação social, no pensamento de Max Weber, é correto afirmar que:
A Quem se comporta segundo suas convicções age de modo estritamente em relação a fins, sem considerar as
consequências previsíveis
B A relação social se caracteriza pela probabilidade de que determinada forma de conduta social tenha seu
sentido compartilhado
C A relação social é efêmera, não tem continuidade e não persiste no decorrer do tempo
D A ação em relação a valores é aquela orientada de acordo com o nexo racional que vincula os meios aos fins
E Comportamentos reativos ou imitativos também são considerados ações sociais, uma vez que expressam
padrões socioculturais de conduta
Segundo David Lyon (1996:18), após a industrialização as pessoas passaram a experimentar novos níveis de
relacionamentos. Como Durkheim, Weber e Marx analisariam este posicionamento?
Max Weber sustentava o seguinte ponto de vista: as Ciências Sociais visam à compreensão de eventos culturais
como singularidades e portanto tem como objetivo:
Max Weber define três tipos de dominação: legal, tradicional e carismática. Cada uma representa um tipo de
A Charles Philip, Príncipe de Gales, possui expectativa de um dia vir a se tornar Rei do Reino Unido, a própria
cerimonia de coroação costuma mobilizar os súditos que acompanham atentamente estes eventos. Portanto
podemos dizer que esta transição representa uma dominação carismática.
B No ano de 2021, as eleições da República do Peru foram acompanhadas praticamente voto a voto, ao final
sagrando-se presidente Pedro Castillo, com uma estreita margem no sufrágio que disputou com Keiko Fujimori.
Este processo é caracterizado pela dominação tradicional, quem conquistar a maior parte da aprovação do
eleitor se elege.
C Dom Bertrand de Orleans e Bragança, primeiro na linha sucessória ao trono, se o Brasil não fosse uma
República. Portanto tecnicamente, no que diz respeito ao exercício de governo, não há relação de dominação,
mas se houvesse está se daria unicamente pela dominação legal.
D As eleições gerais na África do Sul em 1994, a primeira sem a restrição racial de eleitores, conduziu Nelson
Mandela a presidência do país com 62% dos votos, enquanto o segundo mais votado alcançou apenas 20%.
Diante desta margem de aprovação podemos afirmar que Mandela iniciou seu governo lastreado pela dominação
carismática.
E Alguns regimes autoritários modificam a legislação para se perpetuar no poder, muitas vezes realizando
eleições proforma para dar um ar democrático ao processo. Em cenários desta natureza podemos classificar
como dominação tradicional.
COMENTÁRIO:
B. Distrator - Nas democracias o pressuposto parte da legalidade das normas, será eleito aquele que cumprir as
regras do jogo, portanto trata-se de dominação legal.
C. Distrator - Em primeiro lugar a República Federativa do Brasil não é uma monarquia, portanto a transição de
governo não se dá pela dominação tradicional. No plebiscito de 1993 os eleitores poderiam ter escolhido como
forma de governo a monarquia, nesta hipótese Bertrand de Orleans e Bragança teria conquistado o título de por
dominação legal e tradicional.
D. Gabarito - Por se tratar de uma democracia já parte do pressuposto que o presidente exerce, dentro do jogo
democrático, a dominação legal. Contudo além de cumprir com as regras do regime, Nelson Mandela foi exortado
pelo povo sul-africano, caracterizando também o a dominação carismática.
E. Distrator - Mesmo diante de um regime autoritário temos as leis que ditam as regras, não podemos dizer que se
trata de um governo legítimo, mas classificasse como um sistema de dominação legal.
Indique a afirmativa que apresenta corretamente a noção de dominação carismática desenvolvida por Max Weber:
A A dominação carismática está pautada em uma norma, é racional-legal e reconhecida como legítima.
B A dominação carismática tem como base o respeito a uma tradição, a costumes enraizados e historicamente
perpetuados.
C A dominação carismática está baseada na obediência e admiração a um chefe ou líder que é considerado
extraordinário.
D O carisma é racional, e a força que exerce sobre as pessoas só pode ser explicada em termos legais.
E O carisma não é um elemento que interfere na racionalização da vida política, porque os líderes carismáticos
não se deixam guiar por sua opiniões, eles se pautam na mais estrita legalidade.
A Caracteriza-se por um sentido objetivamente correto ou verdadeiro, obtido por indagação metafísica
D Refere-se, quanto ao sentido visado pelo agente ou pelos agentes, ao comportamento de outros, orientando-se
por este em seu curso
A Sociologia de Max Weber é considerada uma ciência compreensiva e explicativa. Na sua concepção, compete
ao sociólogo compreender e interpretar a ação dos indivíduos, assim como os valores pelos quais os indivíduos
compreendem suas próprias intenções pela introspecção ou pela interpretação da conduta de outros indivíduos.
Sobre a sociologia compreensiva de Max Weber, é correto afirmar que:
A Segundo o método da sociologia compreensiva de Max Weber, há uma ênfase metodológica sobre a sociedade
como a unidade inicial da explicação para se chegar a significados objetivos de ação social.
B Na sociologia compreensiva de Max Weber, a primeira tarefa da sociologia é reformar a sociedade ou gerar
algum tipo de teoria revolucionária. Weber herda efetivamente um ponto de vista sociológico compreensivo
imputado à escola marxista.
C Para Max Weber, a sociologia está voltada unicamente para a compreensão dos fenômenos sociais. Na
sociologia compreensiva, o homem não consegue compreender as intenções dos outros em termos de suas
intenções professadas.
D No método compreensivo de Weber, os fenômenos sociais são considerados como a simples expressão de
causas exteriores que se impõem aos indivíduos. Weber define a sociologia compreensiva em termos de fatos
sociais e não em termos de atividade ou ação.
E Max Weber entende por sociologia compreensiva uma ciência que se propõe a compreender a atividade social
e, deste modo, explicar causalmente seu desenrolar e seus efeitos. Para explicar o mundo social, importa
compreender também a ação dos seres humanos do ponto de vista do sentido e dos valores.
AVALIAÇÃO DO TEMA: