Para Alem Da Beleza - Ami Ideas
Para Alem Da Beleza - Ami Ideas
Para Alem Da Beleza - Ami Ideas
Além da Beleza
– Para Além de Um Rosto, Existe Um Coração. –
Damien acreditava na Beleza externa como o maior cartão de visita, mas o amor lhe ensinou que não
existe no mundo Beleza maior do que alguém te amar exatamente como és.
Ami Ideas
Dedicatória
Para Rosa Alexandrina que encontrou essa história algures perdida entre os demais livros do Wattpad e o
amou de todo coração.
Agradecimentos
Rosa Alexandrina obrigada por acreditar em mim desde o princípio. Line Vieira e Erica Bibi que
leram e releram vezes sem conta para que o Ebook tivesse uma qualidade boa. Às Amietes que ajudam
todos os dias com apoio verbal e sempre estão prontas para me estender a mão. Neide Amâncio, Júlia
Granado, Eliete Araújo, Michele, Winney e todas as meninas do Esquadrão que estão dia e noite do meu
lado.
A todos que estão aqui e me acompanham nessa jornada.
AVISO
PAdB1 - Esse livro foi escrito em português de Portugal com algumas influências do acordo
ortográfico e palavras adaptadas para o brasileiro em respeito a muitas de minhas leitoras que são desse
país.
PAdB2- Essa história é uma SÉRIE, mas que pode ser lida individualmente sem comprometer a
compreensão, pois são independentes. Pelo que este é o Livro 1 e possui o livro 2 aqui na Amazon onde
poderão acompanhar a história de outro casal. Por isso peço aos leitores que compreendam que algumas
situações podem não ser explicadas ou reveladas, deixando para o livro 2.
PAdB3 – Este Ebook é uma nova versão diferente da que foi publicada pela primeira vez em
2016. Pelo que aconselho a todos que já leram antes, a se aventurarem desde o princípio. Deguste da leitura
por inteiro, não vão se arrepender.
PAdB4 - O mundo é complicado. A vida é complicada. O ser humano vai sempre correr atrás de
percepções. Muitas delas podem nunca chegar a descobrir. Meus personagens são mundanos, não são
perfeitos. Eles erram e acertam o momento todo.
Eu também sou mundana.
Leiam com toda atenção, está tudo criptografado nas entrelinhas. Em frases e nuances.
Boa Leitura!
Índice
Dedicatória
Agradecimentos
AVISO
PRÓLOGO
Beleza Perdida, A
Monstro Du Camp, O
Contrato de Casamento, O
Revolta de Emma, A
Primeiro Confronto, O
Tentativa de Mudança, A
Porta de Esperança, A
Despertar de Darcelle, O
Vida Sem Máscaras, A
Retrato, O
Festa de Noivado, A
Desaguar de Sentimentos, O
Porta Fechada, A
Transbordar da Paixão, O
Natureza do Amor, A
Encontro com o Passado, O
Vida e Seus Dilemas, A
Jantar Com Os Johnson, O
Incondicional Forma de Amar, A
Segredo Exposto, O
Escolha Difícil, A
Le Cuisinier (Extra)
Tempo de Libertar, O
Tempo de Libertar, O
Part 2
Felicidade Em Si, A
Para Além da Beleza
(Final)
Epílogo
Bónus
Depois da Beleza
Outros trabalhos da autora na Amazon:
PRÓLOGO
A Beleza é uma tirania de curta duração"
Verão, 2006
ERA a primeira vez que via uma corrida de cavalos, seus olhos escuros
como a noite brilhavam iguais estrelas e acompanhavam cada detalhe. O Turfe
era um desporto muito tradicional, pois envolvia o treino dos animais, a
competição e as apostas.
Quando seus pais disseram que tinham conseguido bilhetes para assistir
àquele evento, seu coração tinha disparado de alegria, diferente da sua prima
Jamie sentada ao seu lado e que soltava um e outro muxoxo repetidos para exalar
sua indignação por estar num hipódromo naquela tarde de sábado, quando
preferia ficar a estudar para entrar numa faculdade de medicina.
Darcelle era magra, com os cabelos crespos entrançados e um rosto
simples e harmonioso, mas não era nada que chamasse atenção, diferente da sua
prima cuja beleza saltava aos olhos de qualquer um, embora muitos afirmassem
que se não fosse dona de um corpo cheio, pudesse ser mais bonita.
O hipódromo Beauchamp era constituído por pistas de corridas e alguns
pavilhões. As bancadas bem organizadas estavam cheias e as pessoas
empolgadas urravam a cada volta que os cavalos davam. Aquela pista em
especial era em volta fechada com curvas, com um circuito fechado de um
percurso de 2000 metros e continha obstáculos a serem transpostos.
Estavam a assistir o último páreo – como era chamada cada corrida, e já
tinham feito alguns intervalos por conta das apostas dos sócios, simpatizantes e
investidores. Era um evento especial por destacar o Grande Prémio que era
disputado com calendários tradicionalmente definidos.
O locutor cuja voz ecoava pela arena já tinha anunciado partida, todos
estavam curiosos para ver quem seria o grande vencedor, à medida que os
jóqueis dominavam montados em suas corridas a galope. Tony, pai de Darcelle,
saltou no lugar quando o cavalo Beauchamp traçou a meta em primeiro lugar,
estava tão empolgado como a filha. O herdeiro dos cavalos Beauchamp mais
uma vez tinha provado a razão de fazer parte da família, sempre determinado e
numa forma implacável.
— Incrível! — Tony estava radiante com o seu chapéu para proteger os
raios do sol alto que irradiava o céu azul opalino. Riu com a filha adolescente
que também estava em pé à aplaudir com entusiasmo. Sua mulher Amabel e sua
sobrinha Jamie – de quem cuidavam desde sempre, continuavam sentadas e
mortalmente aborrecidas por não verem nenhuma graça naquilo.
Darcelle ainda estava em pé quando os prémios foram entregues, um
jovem loiro recebia a taça dourada. Era muito alto, com um rosto muito bonito e
só pela forma como se mexia dava para perceber que exalava um certo poder.
Era certo que merecia ter vencido aquela competição.
— Vamos embora. — Jamie estava impaciente, porque tinha a certeza de
que mesmo que conseguisse a bolsa de estudos para fazer a sua faculdade de
medicina no Hospital Central de Belmore, não conseguiria se manter lá sozinha
até porque os tios não tinham as melhores condições financeiras. Então precisava
esperar Darcelle concluir o ensino médio para deixarem San Luis Obispo e
procurarem emprego e casa, na maior cidade do país, a fim de poder juntar
dinheiro suficiente para conseguir fazer o curso dos seus sonhos.
— Eu quero um autógrafo. — Darcelle decidiu naquele momento,
pensava que tinha de ter uma lembrança daquele momento. As saídas com seus
pais eram escassas, os dois trabalhavam muito e mal tinham tempo para estarem
presentes, e ela gostava de guardar cada memória de tudo o que estimava.
Amabel suava e balançava a própria mão para procurar algum ar fresco,
mesmo assim não deixou de menear a cabeça quando a filha saiu das bancadas e
desceu os degraus em direcção a entrada principal para onde os jóqueis seguiam,
mas rapidamente foi quase esmagada pela multidão que se movia de um lado
para o outro.
Tony assobiou alto e ainda em risadas, colocou a mão no bolso e retirou
de lá um pequeno cartão e acenou para o ar. Darcelle estava ofegante quando
voltou para perto deles, pequenas gotículas de suor brilhavam na sua testa. Não
entendia o que o pai queria dizer com aquele gesto.
— Isso te dá o acesso de trinta minutos no clube jóquei. Meu patrão me
deu, mas como era uma espécie de buffet privado, não iria para lá sem vocês. —
Justificou com um sorriso que fazia seus olhos pequenos quase se transformarem
numa única linha. — Vai buscar o teu autógrafo!
A adolescente saltou no lugar e segurou aquele cartão como alguém que
segura a própria vida. Quando metia uma coisa na cabeça era quase impossível
de a fazer mudar de ideias, por isso sua família a foi esperar no carro que estava
no parque do Hipódromo enquanto ela foi até ao clube que ficava num dos
pavilhões.
Vestia umas calças jeans surradas, uma blusa de alças que se colava no
seu tronco magro e umas sandálias douradas simples, o que chamou a atenção do
porteiro quando ela lhe mostrou o cartão, porém sua entrada foi permitida para o
interior do grande salão. Uma recepção tinha sido feita e tinha longas mesas com
comidas e bebidas variadas. As pessoas conversavam com certo requinte, o
assunto geral era quase o mesmo, sobre quem tinha vencido nas apostas e os
elogios aos participantes.
Darcelle estava deslumbrada, sua cabeça levantada para cima a apreciar o
tecto alto com pinturas muito parecidas à das igrejas, com anjos e querubins
rodeados por panos esvoaçantes na cintura. Um pouco distante estava o jovem
loiro, vencedor do campeonato e parado junto a uma mesa perto de outras
pessoas.
Era ainda mais bonito de perto, com lábios cheios e uns ombros largos
que davam uma elegância natural. Ela não era tímida de jeito algum, por isso
quase correu até perto deles e esboçou um sorriso de dentes brancos e certos,
quando se aproximou.
— Boa tarde. Desculpem a intromissão. — Pediu e o pequeno grupo se
silenciou, curiosos pela súbita abelhudice. Uma jovem loira estava de
sobrancelhas levantadas, outro moreno de cabelos bagunçados parecia ter
interesse em ouvi-la. Outros jogadores também faziam parte, todos atléticos e
menores de vinte e cinco anos. — Foi a primeira vez que vi um Turfe. Fiquei
admirada e quero muito dar os parabéns pela vitória e pedir um autógrafo.
O loiro deixou escapar um riso nada simpático dos seus lábios bonitos,
chegou a revirar os olhos e demonstrou toda impaciência do mundo. Olhou-a de
cima a baixo a respirar uma certa incredulidade, franziu o sobrolho em total
arrogância e sequer se mexeu no lugar.
Darcelle ainda nem tinha tirado a pequena agenda da sua bolsa de pano,
pois não era burra e nem foi preciso muito para perceber que tinha sido
desprezada, uma vez que o campeão lhe virou a cara e voltou a conversar com os
acompanhantes ignorando-a por completo. Nem tinha sido necessário abrir a
boca para lhe depositar tamanho desprezo.
— Me desculpe, mas eu falei com você. — Estava nervosa quando o
questionou, suas mãos tinham ficado frias, ainda mais ao vê-lo voltar o rosto
preguiçosamente e estreitar os frios olhos azuis.
— E foi claro que não intenciono responder. — Ele disse e revelou a voz
inexpressiva.
— A isso se chamaria educação. — Darcelle retorquiu, sua entonação
saiu um pouco trémula.
— Não a vou gastar com um estranho. Agora se me der licença. — Ele
voltou o rosto novamente, ainda de nariz levemente plissado como se a
estranhasse.
Um clima tenso se tinha transformado pelo lugar, mas ninguém disse
nada por parecer estarem acostumados com aquele tipo de situações. Darcelle
ergueu o queixo antes de dar meia volta e sair dali, mas nunca de cabeça baixa.
Era um homem bonito sim, mas de coração feio!
Beleza Perdida, A
"Não há Beleza que substitua o charme de carregar com classe as suas
imperfeições"
D
AMIEN saiu do banho, se observando pelo espelho e concordando
consigo mesmo o quanto era belo, dono de um rosto angular e de uns matadores
olhos azuis, seus traços podiam-se orgulhosamente se atrever a chamar de
perfeitos e era isso que o deixava ainda mais de ego inflado.
Para além de rico e herdeiro da maior empresa de criação de cavalos,
possuía uma vida repleta de luxo, entre festas famosas e amigos cujos
sobrenomes eram conhecidos por todos os lados. Não podia querer mais da sua
vida, agora formado pela universidade militar, estava no auge da sua carreira ao
lado do pai. Com a sua família perfeita, tudo o que precisava era de aproveitar o
máximo. Nunca passava um mês sem viajar para algum país exótico ou deixava
de se apresentar perante os canais televisivos sempre com algo por dizer. Seu
sorriso arrogante era uma marca registada no rosto esbelto, assim como o corpo
alto e bem formado fazia jus aos ternos caros e feitos sob medida.
— Parabéns, campeão! — Bianca surgiu com um sorriso perfeito. Estava
em êxtase quando o abraçou por trás com cuidado para não amassar a roupa que
muito bem se encaixava no corpo de proporções de causar inveja. Ele possuía
uma massa muscular muito bem trabalhada e não era magro, pelo contrário, suas
pernas grossas eram definidas e notáveis, assim como os braços fortese cheios de
contornos visíveis mesmo por baixo do casaco preto.
— Todos os anos, Bia. Quando chegar aos trinta terei uma coleção de
troféus nunca antes vista. Nem podem afirmar que sou privilegiado por ser o
dono de tudo, afinal deixei-os há uma distância invejável. — Afirmou com
precisão. Seus cabelos loiros estavam todos penteados para trás, quase a tocar a
gola da camisa. Os fios eram muito claros, brilhantes como ouro puro e macios
como a seda.
Era um jovem muito competitivo, na Academia Militar que frequentou se
gabava sempre por ser o melhor e detestava perder ou ficar atrás de quem fosse.
A verdade é que Damien não era tão caloroso como se fazia parecer naquele
instante com Bianca. Muitos sorriam na sua presença e o criticavam pelas costas,
pois era conhecido por ser convencido, arrogante e esnobe. Sempre preocupado
com a beleza acima de qualquer coisa, e apreciava as mulheres que estavam
dentro dos seus padrões.
— Quanto a isso não restam dúvidas. — Ela tinha uma voz adenóide,
mas nada que estragasse sua beleza surreal. Era branca como a cal, tinha longos
cachos dourados e lábios tatuados de vermelho a condizer com o vestido de gala
que muito bem encaixava no seu corpo magro. Usava um grande anel de
brilhantes para se afirmar como noiva dele, o que queria dizer que seria a futura
senhora Beauchamp. — Já tentei telefonar para o Dash duas vezes e não atende.
Damien se mostrou indiferente, na verdade estava com um
pressentimento desconfortante naquela noite.
— Deve estar chateado por causa da fã intrometida. Não compreende que
estou farto e não sou obrigado a falar com quem não gosto. Nem sei como
deixam entrar aquele tipo de gente no clube. — Se afastou dos braços dela e
andou até as prateleiras de vidro embutidas na parede. Usou um de seus
perfumes caros e preencheu o quarto do hotel de San Luis Obispo com o seu
cheiro penetrante. — Era feia, desengonçada e muito mal vestida. Não vejo a
hora de voltar para Belmore, esta cidade está cheia de pessoas de nível baixo.
Em nenhum momento se preocupou em elogiar a noiva que estava parada
a olhá-lo terminar de se aprumar, completamente imerso em sua própria vaidade.
Os sapatos italianos brilhavam por baixo das calças de corte sob medida, tudo
nele gritava luxo e poder.
— Então vamos nos adiantar e depois o Dash nos encontra na festa? —
Bianca tentou disfarçar a vontade que tinha de chamar atenção pelo noivo não
dar importância pela ausência daquele que talvez era o amigo mais autêntico que
podia ter.
Apesar de Christian Dash ser muito atrevido, aquela amizade tinha
começado nos tempos do ensino médio. Chris era filho de grandes médicos
renomados, ainda assim, era a irreverência em pessoa. Sempre com sua língua
afiada e roupas simples, em nada se parecia ao herdeiro da Beauchamp.
— Certo. — Damien agora dava atenção aos punhos de ouro que
encaixava no casaco com todo cuidado. Não parecia muito empolgado como na
maioria das vezes, pois normalmente iria se discorrer sem parar sobre a sua
vitória marcante e de como todos iam para a festa apenas para vê-lo e oferecer
patrocínios milionários.
— Alguma coisa? — Bianca se afastou até a cama grande coberta por
lençóis macios e brancos. Calçou os sapatos pretos de veludo com fivela cheia
de brilhantes, que tão bem combinava com o seu vestido, e esperou pela
resposta.
— Não, nada. — Respondeu ao se encarar no espelho mais uma vez,
apreciando a perfeição do próprio reflexo. Depois levou seus pertences em cima
de uma consola perto da porta do banheiro e se aproximou da noiva para lhe
estender o braço.
Sua mãe dizia que era muito novo para ter firmado compromisso tão
cedo, mas ele estava decidido a isso. Tinha certeza de nunca encontrar uma
mulher tão graciosa e dentro dos padrões como a sua companheira, sem contar
que ele prezava muito as características que a acompanhavam: Bonita, de boa
família e conhecida na sociedade.
— Eu te amo. — Bianca disse quando ficou em pé e se esticou para o
beijar nos lábios de um jeito provocante e sedutor. — Você me ama?
Damien deixou um sorriso misterioso desenhar seu rosto, era estranho
afirmar aquilo para outras pessoas, nunca tinha dito inclusive para os seus pais
que sempre lhe deram tudo e o trataram com todo o carinho e amor que uma
família podia dar. A verdade é que nunca antes se importara em amar nenhuma
delas desde que elas o amassem como se não houvesse um amanhã. Com Bianca
era um pouco diferente, pois pela primeira vez tinha um pouco de noção do que
eram os sentimentos embora não abrisse mão da sua lista do que era uma mulher
que devia estar ao seu lado. Ela era filha de pais bem cotados na sociedade e
tinha estudado na universidade de Birmingham. Por sua vez, Christian Dash
mantinha o posto de melhor amigo por nunca poupá-lo em críticas e o desafiar
sem medo nenhum.
Quase salvo pelo gongo, o celular vibrou com força e ele se afastou para
atender sua mãe. Giovana estava preocupada, não tolerava atrasos ainda mais em
assuntos que eram de seu interesse como por exemplo exibir o filho exemplar à
toda sociedade. A Beauchamp estava a realizar uma gala para o campeão de
Turfe e também iam aproveitar para anunciar a todos que o herdeiro seria o novo
administrador da empresa.
— Temos que ir. Ainda falta uma hora de viagem até Belmore. — Olhou
para o relógio de pulso. Um Tag Heuer Classic comprado num leilão entre
pessoas com muito dinheiro.
Bianca procurou seu xale, telefonou para a recepção para que fossem
levar as malas e depois lhe deu a mão. Saíram em silêncio pelo corredor circular
pintado de uma cor creme, entraram no elevador de estilo antigo com um
ascensorista que os levou para o andar térreo.
Aguardaram que as malas fossem colocadas no carro, aproveitaram para
serem fotografados no hall do grande hotel Sotto de San Luis Obispo e só então
saíram para a noite serena repleta de estrelas no manto escuro que os cobria por
cima.
— Minha vontade era passar a noite aqui e não ir para essa festa —
confessou quando o manobrista trouxe o carro desportivo. Esperou que lhes
abrissem as portas, sentou-se no lugar do condutor e colocou o cinto depois de
retirar uma gorjeta gorda para dar ao homem.
— Hoje é uma noite muito importante. Um passo muito grande na sua
vida e só coisas boas aconteceram desde manhã. — Bianca estava empolgada
demais, sabia ter tirado a sorte grande ao ter conquistado aquele homem. Suas
amigas morriam de inveja, seus familiares não viam a hora de ela subir ao altar e
se transformar na senhora Beauchamp. — Estou aqui com você.
— Eu sei. — Afirmou e tinha certeza daquilo.
Saiu a dirigir sem pressa pelas ruas da cidade que ficava a uma hora da
capital. Bianca tinha uma mão na perna dele e a outra procurava as músicas pelo
leitor de som. As luzes dos postes de energia iluminavam a rua adjacente a
estação de comboio, não havia muita agitação, nem muitos caminhos que seguir
para poder entrar na auto-estrada principal da SLA1.
— Posso saber no que pensas? — Ela perguntou após alguns minutos.
Olhava-o de esguelha, adorava aquele rosto angular de queixo forte, olhos
amendoados rasgados no final e azuis tão claros que pareciam um lugar
paradisíaco. Seu nariz era longo e recto e os lábios um pouco cheios chamavam
para um beijo avassalador.
— No futuro, Bia. Os meus pais pretendem se mudar para o haras aqui
em San Luis Obispo, o que quer dizer que vou ficar com a mansão Beauchamp
só para mim. Não pretendo ter filhos agora, é muito cedo, mas acredito que os
nossos seriam perfeitos. — Não sabia como dizer de outra forma que pretendia
que a noiva se mudasse, tampouco deixava mostrar que não suportava a solidão.
Queria ser rodeado e então contemplado.
Demoraram cerca de quarenta e cinco minutos para entrar na grande
ponte que se erguia em sua construção magnífica apinhada de luzes e de carros
que circulavam sem cessar e que passava por cima do mar Atlântico.
— Vamos conseguir chegar a tempo. — Damien observou a olhar para as
horas. Em quinze minutos estariam no centro de Belmore e prontos para uma
noite memorável cheia de alegria e emoção.
— Damien! — Bianca deu um berro ao ouvir o som estridente de uma
buzina e luzes gigantes que derrapava naquela direcção. Cruzou os braços junto
ao rosto e fechou os olhos num pânico completo.
Ele sequer teve muito tempo para raciocinar, o terror se apossou do seu
corpo másculo ao ver um caminhão que escorregava sem freios e levava tudo o
que vinha na frente. Buzinas apitavam sem parar, gritos altos se espalhavam e se
misturavam ao som do carro que tocava Apologize de Timberland e One
Republic.
Os olhos azuis se abriram ao perceber que se virasse o volante para a
direita, Bianca seria completamente afectada, mas se voltasse para a esquerda
então era ele quem sofreria mais com o embate, no entanto se não fizesse nada
então os dois bateriam de frente.
A decisão foi tomada quase alguns instantes antes de sentir o impacto,
sentiu seu rosto ser dilacerado, mas não ficou muito tempo acordado para poder
descrever a dor agonizante que o acompanhou.
Sangue. Horror.
[...]
Um espelho foi colocado a sua frente, o momento era de maior
expectativa. Damien estava quieto, de rosto inchado e envolto em faixas por toda
cabeça, braço e mão. Seus pais estavam parados num canto, observavam em
silêncio e estavam abraçados. Chris, o seu melhor amigo, estava mais próximo,
tinha trocado o curso de medicina pelo de psicologia, mas estava por dentro de
todos procedimentos realizados até então.
Damien tinha passado muito tempo desacordado, era uma emoção grande
vê-lo mover os olhos e reconhecer cada um que estava ali, mesmo que sua boca
de lábios secos não dissesse nada. Os remédios aplicados eram muito fortes,
tinha passado por cirurgias e ainda espelhava certa confusão no rosto de quem
não sabia quanto tempo tinha ficado fora da realidade.
Encarou o espelho com atenção, o assistente do cirurgião plástico o
segurava com uma mão e parecia ter um ar frio demais, o que fez o paciente
engolir em seco enquanto o médico retirava as faixas que antes cobriam o seu
rosto. Foi um momento carregado de tensão, todos pareciam ter se esquecido de
respirar e apenas arregalavam os olhos a medida que mais do rosto do herdeiro
Beauchamp era revelada.
— Meu Deus! — Giovana exclamou e perdeu forças nas pernas, sendo
amparada pelo marido que era tão alto e forte como o filho. Ela escondeu o rosto
no peito dele, o pranto escapou de seus lábios e negou várias vezes com a
cabeça.
Igor, o pai de Chris e dono da clínica Dash & Dash teve que chamar uma
enfermeira para levar a mulher dali para fora e tentou olhar para o seu filho, mas
este estava com os olhos verdes perdidos no amigo.
Damien estava sério quando encarou o próprio reflexo, o coração reduziu
o ritmo e até riu baixo. Negou com um gesto da cabeça, não era ele naquele
espelho. Olhou para todos a sua volta a procura de respostas e então o seu estar
se modificou, pois não estava diante de um pesadelo.
— Não... — Abjurou num tom rouco e sofrido. — Não. — Puxou aquele
espelho das mãos do assistente e o atirou ao chão num gesto único, ignorando a
dor que sentiu no braço por conta da agulha.
— Damien... Eu sou o doutor Hassan, o meu assistente Daniel Winter.
Hoje em dia temos várias formas de tentar reverter o seu estado. Não se
preocupe. — O homem era um indiano baixo e tentava acalmar o paciente, pois
os batimentos cardíacos pareceram acelerar no quadro dos equipamentos
electrónicos.
— Quero sair daqui! — Olhou para o pai numa falsa acusação. — O
que... O que se passa? — Não conseguia raciocinar no que tinha visto. Seu rosto
parcialmente desfigurado em carne viva e completamente irreconhecível ao que
era antes.
Christian estava com os olhos tristes, tentou pedir em silêncio para que se
acalmasse, mas foi em vão. Damien estava agitado, os nervos o tinham
dominado por completo e tinha apertado os olhos como se daquela forma
pudesse esconder o reflexo guardado em sua memória.
Arrancou o tubo de soro preso em seu braço bom, porque o outro ainda
estava enfaixado. Tentou se levantar daquela cama confortável da clínica de
luxo, queria esmagar aquele espelho até não restar nada que pudesse voltar a
exibir o seu rosto. Não se reconhecia naquela cara feia, não podia ser verdade e
não suportaria aquilo.
— Eu prefiro a morte. — Repetiu várias vezes para o pai quando
enfermeiros entraram para o segurar e tentar estabilizá-lo. — Prefiro. A. Morte!
— Vamos, é melhor saírem. — Igor Dash tratou de dizer para Jacques
Beauchamp e para Christian. — Vamos sedá-lo.
Mas pelos olhos do herdeiro Beauchamp, não dava apenas para ver sua
sufocante agonia, e sim o desejo de não querer mais viver Para Além da Beleza.
Monstro Du Camp, O
"Só quem se esforça em ver além do que as aparências mostram, merece
contemplar sua Beleza interior."
CHRISTIAN foi visitar o amigo pela milésima vez nos dois meses que
se seguiram desde que este acordou e percebeu a total falta de alegria no rosto
obstruído. Colocou flores no jarro que estava em cima da cabeceira e se sentou
numa das cadeiras junto à cama. O herdeiro Beauchamp tinha passado por mais
duas intervenções no rosto.
— Bianca? — A primeira pergunta de Damien pesava num remorso que
não lhe competia. A culpa não tinha sido dele, e sim do camionista bêbado que
perdera o controlo na estrada. Não era também a primeira vez que perguntava
por ela nos últimos tempos, sabia que tinha tido um braço e uma perna partida,
nada que as sessões de fisioterapia pagas pelos Beauchamp não tratassem de
agilizar melhorias significativas e rápidas.
— Bom dia, Damien. Como está? — Chris não se fez de rogado ao
chamar de forma irónica a atenção para a falta de tacto do seu melhor amigo. Até
porque este estava a passar por um momento muito difícil, mas não parecia ter
razões para esquecer a educação.
— Para que flores? Eu ainda não morri. — Havia uma pequena
esperança no fundo dos olhos cor de céu de Damien. A promessa de
reconstituição facial ainda batia em seu peito, esperava que o dinheiro pudesse
comprar sua Beleza de volta. Seus pais não mediam esforços para pagar
pesquisadores que estavam em busca das mais altas técnicas avançadas.
— Sarcasmo a essa hora, Beauchamp? Quando eu for ao seu enterro
levarei tudo menos flores. Alguma garrafa de vodka, talvez — respondeu em
completo desalinho. Tentava parecer normal, mas lá no fundo uma parte de si
também estava machucada.
— Quero que seja administrador em meu lugar. Meu pai precisa de
alguém de confiança e eu não poderei fazê-lo. — A voz de Damien saiu quase
muda, escondia a tristeza que tinha sentado no seu coração. Não podia deixar de
pensar que num minuto estava a caminho de um futuro promissor e no outro, o
destino teria rido de sua cara.
— Isso até você sair daqui. Ainda tem duas pernas, dois braços, metade
de um rosto e um cérebro inteiro — redarguiu tentando tirar certa piada daquela
desgraça. O jovem Dash não sabia ser diferente.
— Não pretendo voltar. Estou contratando você!
— Deixa disso, idiota! Por que não iria voltar? A Beauchamp é sua vida.
Ou pretende seguir a carreira militar?
— Christian. — Desta vez sua voz ríspida soou com seriedade. — Não
tenho coragem de voltar. Fará isso por mim ou posso contratar outro?
Ele demorou a responder, pois sabia o quanto o amigo podia ser exigente.
— Por enquanto tudo bem. Depois revemos isso, pode ser assim? —
Sugeriu com calma e paciência. Os dois pareciam ter crescido muito nos últimos
meses após o acidente.
— E a Bianca? — Quis saber. O orgulho não aceitava ser engolido. Ela
nunca tinha ido visitá-lo.
— Eu estou aqui. Certo?
Viu Damien concordar com a cabeça num silêncio resignado. Era tudo,
menos burro para entender o que tinha acontecido. Até por que nenhum dos que
julgava seus amigos tinham colocado um pé ali, a não ser o jovem sentado a sua
frente.
— Preciso que você seja o meu rosto e a minha voz. Pelo menos até tudo
se minimizar — pediu e tentava segurar o choro que insistia em morar na sua
garganta.
— Está certo.
[...]
Inverno, 2007
Enquanto olhava para a máscara em suas mãos trémulas, podia sentir o
coração endurecer, proibindo qualquer gota de escorrer por seus orbes. Não sabia
direito o que lhe causava tanta dor, se o facto do Doutor Igor Dash ter dito que a
pele da parte danificada do seu rosto tinha ficado muito fina e imprópria para
mais intervenções cirúrgicas, ou se olhar para as fotografias que estavam no seu
quarto do Haras Beauchamp que ficava afastado da cidade e onde tinha passado
os últimos meses desde que saiu do hospital.
Aquelas imagens tinham sido tiradas por ele, apaixonado desde sempre
por fotografias, tinha toda uma coleção detalhada de máquinas profissionais que
captaram os melhores momentos de sua vida. Viagens, festas, e momentos
românticos com Bianca que aparecia em várias. Alegre e sorridente, a exalar um
amor que provavelmente nunca existiu. Damien dizia por dentro que, talvez, ela
ainda estivesse traumatizada, afinal de contas era sua noiva e eles iriam se casar.
Mas então, por que razão Bianca nunca mais tinha atendido suas chamadas ou se
dignara a responder suas mensagens?
Já tinha passado mais de um ano.
— Senhor Beauchamp? — A governanta da casa tinha visto aquele
menino crescer. E tanto ela como todos os outros empregados jamais tinham
torcido o rosto por vê-lo deformado, pelo contrário, tinha sido Damien quem
lhes tinha virado às costas há muito tempo quando deixou de ser uma criança
inocente e descobriu o homem arrogante dentro de si.
— O que quer? — Rosnou, sem se dignar a olhá-la. Observava com
atenção a imagem de Michael, seu outro amigo que era o Quaterback da equipe
de futebol de sucesso, pois este tinha sido o primeiro a desprezá-lo quando o viu
alguns meses atrás.
Da primeira vez que saiu de casa, Damien chegou a cogitar que as
pessoas seriam razoáveis devido ao acidente, porém teria se enganado
prontamente. Nenhum de seus conhecidos foi agradável o suficiente para
estarem perto dele por conta daquela parte do rosto medonha e nem se deram ao
trabalho de disfarçar. Não o suportavam de modo algum, ainda mais com uma
aparência tão repugnante.
Era por essa razão que segurava a máscara branca em suas grandes mãos
como se segurasse a própria vida. Talvez, assim, conseguisse voltar a estar em
sociedade e a conviver com as pessoas novamente, enquanto aceitava que não
tinha volta para a nova condição na qual se encontrava. Podia imaginar as piadas
maldosas que se espalhavam sem alguma compaixão, principalmente quando
suas fotografias com a nova aparência encheram a internet e os noticiários
principais por todos os cantos do mundo. Tinha sido difícil resgatar e proibir que
qualquer imagem sua fosse veiculada, e por sorte, sua mãe com a grande
influência do nome da família conseguiu reparar aquele dano crucial para a
sanidade do único filho.
— O senhor Christian Dash chegou. — A governanta estava habituada
aos ataques amargos vindos dele, porém se tinha enganado ao pensar que o
acidente poderia trazer algum traço de humildade. Pelo contrário, estava pior.
Um verdadeiro monstro. — Suas malas estão prontas.
— Vá! — Ordenou com frieza. Queria ficar sozinho para se despedir
daquele lugar. Jamais voltaria a colocar os pés ali, não quando lhe trazia tantas
lembranças que precisavam ser esquecidas. Principalmente agora que estava de
luto.
Soltou um suspiro ao rodar nos calcanhares a analisar o quarto outrora
caloroso, mas não se demorou a sair dali. Antes de descer as escadas, encaixou a
máscara no lado esquerdo e finalmente deixou a casa até atravessar a pequena
ponte que o levava para o pátio principal. Não olhou para os cavalos que tanto
amava e nem para nada que lhe remetesse ao pai, apenas se fixou em Chris que
estava sentado de cara emburrada dentro de um Ferrari vermelho onde os
empregados da casa guardavam as malas de Damien.
— Fantasma da Ópera é você? — O jovem Dash indagou. Já era
esperado que fizesse alguma gracinha, sempre camuflava suas dores escondidas
com humor, não faria diferente com o loiro. Na verdade, era o único que insistia
em estar presente, mesmo na crise de depressão e mau humor que passaram a
fazer ainda mais parte do seu amigo.
Damien falava escassamente e aos poucos sentia a amargura tomar conta
de si. Toda sua alegria pela beleza da vida lhe tinha sido brutalmente tirada sem
dó ou piedade e isso só o afectou mais na morte recente do pai. Era exatamente
por esse motivo que deixava o haras e se mudava para a Mansão Du Camp que
ficava bem no centro da cidade. Precisava tomar as rédeas das empresas da
família.
— E a Giovana? — Perguntou pela mãe, se recostando no banco do
carro. Os ânimos entre os dois não tinham sido os melhores. — Quero que lhe dê
a parte dela da herança.
Chris balançou a cabeça. Era incrível como um acidente tinha vindo para
transformar tudo de um jeito que julgou ser irreversível.
— Irá trabalhar comigo na empresa?
— Não. Ficarei na mansão, sozinho. Teremos telefones e computadores
para comunicar. Espero que continue a administrar a empresa como tem feito.
— Ficarás escondido por trás dos muros da mansão? Então para que essa
máscara fajuta? — O amigo nem podia acreditar no que ouvia, pois não
concordava que este se escondesse por algo tão mesquinho como um rosto.
— Para que não tenha de me olhar ao espelho — respondeu com toda
sinceridade e apoiou o cotovelo na janela e a mão no queixo.
— Você está vivo, Damien.
— Mas sou um monstro.
[…]
— O que está fazendo? — Giovana quase gritou ao adentrar a grande
sala de estar onde o filho estava parado a beber. Era toda revestida de madeira, o
chão brilhante parecia alérgico ao pó e os grandes candelabros iluminavam o
espaço de maneira tímida. As longas cortinas pesadas ajudavam na criação do
ambiente sombrio, principalmente pelo frio, e da lareira apagada, que se fazia
sentir.
— Não é de sua conta! — Parecia tenso enquanto olhava pela janela da
mansão e via uma jovem que corria até ao carro. Prestou atenção quando o xale
voou de seu pescoço e ondulou pelo ar até ir se prender a uma das inúmeras
árvores que cerceavam a propriedade.
— Quando vai parar com isso? — A mãe questionou. Parecia cansada
demais e a infelicidade se refletia na ausência do brilho dos grandes olhos azuis.
— Passaram quatro anos desde o maldito acidente, meu filho, até quando irá se
punir assim?
Como sempre não respondeu. Apenas apertou o copo na mão pálida e
continuou quieto, apreciando a vida lá fora apenas pelas janelas da mansão.
Sequer os empregados ousavam cruzar com o famoso Monstro Du Camp – como
ficou rapidamente conhecido.
— Giovana, por favor, pare. — Mesmo em calmaria, Damien sabia soar
ruim pela maneira como pronunciava as palavras, regadas de uma frieza
constante. Era uma pessoa amarga e aquilo deixava sua mãe desesperada.
— Eu tentei de tudo. — Ela disse. — Trouxe os melhores psicólogos,
acompanhei todas as sessões. Tentei me unir a você para superar o luto, o trauma
e tudo. Não sei se pensa que não me atinge quando se comporta assim, mas não
posso suportar esse desfile de mulheres que tenta comprar para que se tornem
suas futuras mulheres!
Damien não disse nada, voltando a beber o líquido branco enquanto
assistia o carro se afastar para longe dos terrenos daquela mansão. Mais uma
noiva perfeita que tanto almejava e que fugia a sete pés após algum tempo de
convivência com ele.
— É abominável! E não sei o que, ou a quem quer provar com tudo isso!
Que mesmo tendo essa aparência e de ter ficado sem amigos e ter sido
desprezado, consegue se casar com alguém a altura? Não se compram
sentimentos e acredite em mim quando lhe digo que não é por causa de seu rosto
que estão indo embora. — A mãe fez uma pausa e o olhou ressentida. — É o seu
carácter... Ou a falta dele.
A ignorou como habitual. Era fácil dizer que tinha de superar, que já
tinha passado muito tempo e era hora de reagir. Todos são peritos em seguir em
frente quando a ferida é na alma do outro, mas Damien não a tinha só por dentro,
estava por fora. De cada fez que puxava a máscara de seu rosto e se encarava no
espelho. Como poderia fingir que tudo já tinha terminado?
— Não quero conversar.
— Não se compra amor, Damien. — O tom da senhora Beauchamp foi
duro desta vez, perdendo toda a amabilidade e tacto com o qual o vinha
presenteando mesmo sem receber nada em troca. O amor de mãe podia ser
incondicional, mas toda e qualquer paciência tinha limite. — Está se vestindo
perfeitamente desse Monstro como todos o chamam. Ninguém é perfeito!
Ela se calou num susto quando o viu arremessar o copo que trazia na mão
de encontro a janela que se estilhaçou pela força. Engoliu em seco e balançou a
cabeça, um quanto decepcionada, e então se afastou dali em passos firmes e
decididos. Não ficaria para ver o filho se enterrar naquela melancolia eterna.
Pelo menos Giovana sabia que a vida é de quem se atreve a viver.
Naquela noite, depois de muito tempo e após assistir mais uma mulher
deixar os muros de sua mansão, Damien não parecia arrasado de todo até porque
aprendera a camuflar o que sentia. Salve as visitas de Chris, estava habituado a
passar muito tempo sozinho, perdido no trabalho que era um dos seus maiores
veículos de distracção. Contudo, se atreveu a ousar e gritou pelo motorista
Étienne que o viesse levar.
Não se lembrava mais da sensação de sentir o ar lá de fora tocar a metade
sã de seu rosto ou de escutar com tamanha precisão os animais nocturnos que
emitiam sons altos entre a floresta. Dentro do carro, sempre calado, observou a
cidade que parecia ter mudado nos últimos anos. Tanto que quando o motorista
lhe perguntou para onde ir, o único sítio de Belmore de qual realmente se
lembrava era o Hotel Sotto.
Ficou parado por trinta minutos do lado de fora, via as pessoas que
entravam e saíam com longos casacos e quase sempre apressados. O quanto
sentira saudades de tudo aquilo? Podia ouvir as palavras da mãe ecoarem de
fundo quando ajustou a máscara em seu rosto, sabia que chamaria a atenção, mas
nunca era demais tentar. Saiu do carro a exalar toda a riqueza que o competia, o
terno caro feito sob medida se encaixava no corpo alto e forte, os sapatos
italianos reluziam e o relógio se destacava no pulso, assim como o perfume.
Damien se arrependeu no minuto em que atravessou as portarias e todos
os rostos se voltaram para si, mas já não poderia fugir. Seu ego não permitia isso.
Atravessou o hall de entrada e rumou até ao grande bar na parte de trás. As
paredes pintadas de um laranja torrado davam um calor necessário assim que
percebeu os cochichos e os dedos que o apontavam.
— Ridículo. — Ouviu alguma voz perdida no meio das pessoas que
conversavam e bebiam dentro do espaço requintado. As mesas estavam
preenchidas, viu alguns amigos de antigamente que lhe viraram a cara.
Não era possível que todos o desprezassem apenas por ter metade da face
destruída. Antes só estavam ao seu redor porque pelo menos não era incómodo
como agora, embora sempre tivesse sido um ser intragável. Agora sabia disso
mais do que ninguém.
— Damien! — Bianca sorriu em amarelo quando quase se esbarrou nele.
Estava com o cabelo num penteado lateral bonito. A maquilhagem realçava a
Beleza marcante, lábios pintados de vermelho e o corpo que melhorou com o
tempo estava coberto por um vestido elegante em tom salmão. Michael estava ao
seu lado com a mão ao redor de sua cintura.
— Bianca. Michael. — Beauchamp teve que ser forte quando esboçou
um sorriso que chegou a ser invisível, acenou para os dois e andou apressado até
ao bar. Seu coração quase não batia, mas seus olhos juraram apagar aquela
imagem de sua mente.
Quão cruel o destino poderia ser?
— Uísque. Duplo. Seco. — Pediu em pausas para a jovem que estava por
trás do balcão. Era uma mulher ao seu ver bastante feia, pele pálida quase
translúcida e um nariz longo demais.
— É para já. — Ela usava o uniforme do hotel, preto e branco, e foi
eficiente em atendê-lo, pousando a garrafa mesmo na sua frente depois de encher
o copo de vidro. — Noite difícil?
Ele apenas virou a bebida que queimou sua garganta lhe dando ordem
silenciosa para voltar a encher. Não se dando ao trabalho de encarar duas vezes a
única pessoa estranha que lhe tinha dirigido a palavra em tanto tempo. Ainda
achava os outros inferiores e indignos de sua companhia, deveria ser por isso que
a lei da atração funcionava perfeitamente no seu caso.
E bebeu toda noite, sabendo que alguns monstros são reais e vivem
dentro dos seres humanos, e às vezes, eles vencem!
Contrato de Casamento, O
“Palavras são contratos. Preste atenção no que anda assinando.”
2016, Outono
N
— [...] ÃO precisava ter ido embora, Darcelle. — Emma disse pelo
telefone, encostada num pilar comprido com desenhos abstratos feitos à mão. —
Poderíamos apenas conversar.
— Eu não sabia como olhar para você, e não, não foi pelo que eu disse
na ilha. — Fez uma pausa demorada. — Eu vi você com o William Solis numa
festa num bar na vila.
O rosto de Charlton enrubesceu de imediato e ficou sem saber o que
dizer por muitos segundos.
— Não sei como lhe explicar sobre isso.
— Não irei me intrometer na sua vida, mesmo que ache errado.
Agradeço por não mentir.
— Acima de qualquer coisa lhe desejo o bem do fundo do coração, não
sou uma pessoa má por conta de atitudes erradas. Fiquei feliz de saber que está
trabalhando na Beauchamp e lhe desejo a maior sorte do mundo.
— Obrigada — agradeceu. — Desejo o mesmo para você.
— Eu... Eu não tive nenhuma amiga antes. Faço questão que venha ao
noivado, até porque foi ideia sua. Não me julgue, por favor. — Apertou o
celular. — Ficaria muito feliz de ver alguém que realmente se preocupa com
todos ao seu redor, fazendo parte desse dia.
— Eu não sei... Seria uma farsa a qual não tenho vontade de
testemunhar.
— O Damien também ficaria feliz. Ele a tem em maior estima. — Emma
apelou. — E é só uma festa no final das contas. Nós os dois chegamos a um
entendimento quanto ao nosso casamento. Venha, por favor.
— Tudo bem, Emma. Agora tenho que ir trabalhar, as coisas estão
complicadas por aqui e estou aprendendo o máximo que posso.
— Então até no sábado, Darcelle. Adeus. — Desligou a chamada com
um sorriso verdadeiro nos lábios. Apesar de tudo, tinha um apreço pela ex-
assistente, principalmente por ser tão genuína.
Joanne se aproximou de cenho arqueado.
— O que está fazendo parada? Temos muito trabalho aqui! — Rosnou,
impaciente.
As duas estavam no grande salão de festas da mansão Beauchamp,
apreciavam os últimos retoques para a festa de noivado no sábado seguinte. A
decoração luxuosa mais parecia um casamento pelas incontáveis flores, carpete
vermelho e uma pista de dança personalizada. Os empregados andavam de um
lado para o outro sem parar e as Charlton tomavam nota do que estava certo ou
errado.
— Foi uma má altura para você ter perdido a assistente pessoal, aquela
negrinha era bem eficiente — comentou a mais velha, atenta nos vasos de
porcelana que eram colocados estrategicamente nas mesas. — Cuidado para não
partir!
— A Darcelle deixou tudo pronto antes de partir. Ela virá para a festa —
respondeu Emma, um quanto impaciente. Tinha passado duas noites seguidas na
mansão e sem ver William. Seu coração apertava por ter que fingir interesse
numa maldita relação indesejada. O combinado tinha sido diferente e agora era
obrigada a fazer outro papel que não estava muito disposta e nem o noivo
parecia estar.
— E por que ela faria isso? — Joanne uniu o sobrolho muito bem feito,
os olhos castanhos pareciam cansados.
— Porque eu sou boa pessoa, irmãzinha. Se tivesse o teu feitio, nem
imagino! — Provocou enquanto observava a montagem da mesa principal dos
noivos e as câmaras de filmar montadas por um grupo do Jornal Tempo. Não
quis contar que estava numa tentativa desnecessária de se redimir pelo que
fizera, até porque sua irmã ia ter um surto se soubesse que tinha levado William
com ela para a instância turística. — E já tinha dito que ela poderia trazer uma
companhia.
Joanne revirou os olhos negando com a cabeça severamente, ainda assim
não protestou, eram apenas duas pessoas em cem convidados. Era suposto ser
um número maior, mas Damien teria proibido estritamente.
— Veja se não mete os pés pelas mãos, Emma. Eu fiz um sacrifício por
você certa vez e isso me pesa até hoje. — Cobrou diretamente e viu quando a
belíssima irmã mais nova parou de andar para a encarar.
— Estamos juntas nisso, eu já disse, Jo! Eu sei muito bem o que fez por
mim, serei grata para sempre. Eu e o Will.
— É bom, mesmo! — Rosnou Joanne e caminhou a passos largos até
tirar uma caixa de brindes da mão de um carregador que a levava sem cuidado.
Só depois de gritar com o homem é que voltou para perto da irmã. — E a sua
menstruação, já veio?
Emma esbugalhou os olhos azuis e sua face ficou igual um tomate.
— Que absurdo, está controlado o meu ciclo? Você não é minha mãe,
Joanne.
— Você já me falou que Damien Beauchamp usa proteção, agora quanto
ao William eu duvido muito. Não deite tudo a perder, Emma.
— Pare, por favor! Não sou nenhuma criança — resmungou e saiu a
caminhar para longe da outra, sentia o coração a bater dentro do próprio peito.
[...]
Darcelle estava como um autêntico peixe fora da água.
Os primeiros dois dias na Beauchamp tinham sido um pouco
complicados, pois todo mundo parecia ter seu próprio ritmo e já saber o que
fazer, então a deixavam meio de lado, lhe pedindo para tirar cópias e ir buscar
cafés e rosquinhas de vez em quando. Christian Dash tinha sido simpático e lhe
instruíra o quanto podia, mas a sua carga de trabalho era superior a qualquer
uma, sendo o administrador da empresa e responsável pelos recursos humanos.
Também não conseguira falar com Jamie, esta vivia escondida entre o
hospital e o próprio quarto, continuando a subir o transporte público e deixando
o belíssimo carro lá em baixo parado. Só não o roubavam pelo sistema avançado
do alarme bem visível a qualquer um. Dash realmente era um homem prevenido.
Darcelle assinara o contrato de trabalho com regalias inimagináveis.
Quem poderia dizer que o Monstro Du Camp dava condições tão favoráveis a
seus empregadores? Era de se esperar a quantidade de sorrisos dos trabalhadores
daquela empresa. Jamie de certeza saberia se impor naquele sítio, com toda a
inteligência e eficiência, de certeza já estaria debatendo algum assunto com um
dos colegas.
— Ei, você. — A mulher da recepção surgiu na porta da sala destinada à
Darcelle. — Me falaram que é a senhora das cópias.
Johnson uniu o sobrolho, ainda não tinham-lhe designado nenhuma
função concreta, pelo que se limitara a organizar sua sala, conhecer os
departamentos, os responsáveis e requisitar material necessário, entre outras
coisas básicas.
— O que me espanta é a senhora ter subido até aqui para pedir cópias —
redarguiu de forma pouco simpática e encarou a recepcionista com a igual cara
de poucos amigos. — É o seguinte, eu ajudo o pessoal quando estou lá em baixo
ou nos seus departamentos. Nunca ninguém subiu até aqui para pedir cópias e
muito menos essa função me foi atribuída.
— Ficar sentada para receber um salário gordo no fim do mês não faz
sentido. Eu tenho impressos de visitantes para tirar cópias e mandar para o
departamento de segurança, mas também tenho que receber as pessoas na
entrada. Não é justo sofrer enquanto tem você aqui apenas sentada.
— Então pode tirar as cópias que eu fico na recepção até você acabar. —
Johnson tinha pensado numa resposta ainda menos agradável, mas não lhe
parecia correto comprar briga tão cedo com os novos colegas. Ela queria ser o
mais neutro possível para não ser esmagada naquela corrida de elefantes.
Sabia bem que o que Rupert lhe dizia era o que se comentava pelos
corredores e ainda não entendia para que Damien iria lhe pagar tanto dinheiro.
Não havia nenhuma explicação e sequer se tinham visto ou falado depois da
última vez.
— Ora, que engraçado. Você tem mais cara de se dar bem com as cópias
e...
— Acha que eu ia dar uma sala inteira para alguém cuja função é tirar
cópias, senhora Rupert?
As duas mulheres se assustaram com a súbita voz e encontraram Damien
Beauchamp parado no corredor com um terno de três peças e um ar de poucos
amigos. O cabelo loiro parecia estar molhado e bem penteado para trás e os
olhos azuis eram como o fundo de uma praia paradisíaca.
Não usava máscara.
— Senhor Beauchamp! — A recepcionista estremeceu dos pés a cabeça,
tentando segurar o espanto por ver as cicatrizes daquele rosto tão expostas. Os
olhos encontraram os próprios pés naquele instante.
— A senhorita Johnson é minha Assessora e responsável por toda a parte
do trabalho que me compete. É você, quem deve tirar cópias para ela. — Ele a
advertiu com a voz rude, deu meia volta e adentrou na porta mesmo em frente da
sala de Darcelle.
O coração da jovem Johnson falhou uma batida e não esperou Rupert sair
da sua frente para seguir o loiro sala a dentro. Bateu a porta e ouviu um "entre"
quase surdo. O encontrou sentado na grande e confortável cadeira com o olhar
um pouco perdido, as cortinas do escritório ainda estavam corridas, mas dava
para identificar a grande mesa, um mini balcão com copos e bebidas diferentes.
Um quadro enorme e belo que revelava um belíssimo garanhão, dois
computadores portáteis de última geração, uma grande tela curve pendurada no
alto e uma estante com algumas edições raras de livros. O chão era acarpetado e
mesmo estando tudo limpo, dava para ver que não era ocupado já há algum
tempo.
— Assessora? Eu não tenho formação para isso — declarou Darcelle sem
se dar ao trabalho de esconder tal facto. Seu interior estava um misto de emoções
por o ver ali, por perceber que seu coração batia mais do que devia e por temer
não estar a altura do que lhe era incumbido.
— Mas é inteligente, irá aprender tudo o que nós tivermos para ensinar.
A Beauchamp sempre investe na formação de seus trabalhadores. — Levantou o
rosto e coçou as têmporas. Fazia alguns dias que não se viam e Johnson sentia
uma alegria para lá do normal agora. — Você sempre prega o dom da sua
palavra comigo, agora é a sua vez de arriscar e viver. E eu vou exigir isso de
você.
Ela engoliu em seco, ainda estava de pé com as mãos juntas no colo e um
bombardeamento interno pior que Hiroxima. Sentiu as mãos começarem a
transpirar.
— Farei o possível para estar a altura, senhor Beauchamp. — Afirmou a
acenar com a cabeça em concordância. Damien pela primeira vez sorriu para
Darcelle, um sorriso sincero e bonito. Se fosse possível, o coração dela teria
parado de bater naquele instante. — Como... foi?
— Três caras assustadas no elevador, uma onda de espanto na
administração, sorrisos desconfortáveis e olhares para o chão. — Damien deu de
ombros num falso gesto de pouca importância. — Não deve ser fácil olhar para
mim.
— É um processo — admitiu com precisão e caminhou até as janelas
para abrir as cortinas automáticas, estas deslizaram de par em par com lentidão.
— Meu passatempo favorito era a fotografia. — A súbita confissão
chamou a atenção da nova assessora de Beauchamp. — Eu adorava a beleza, as
coisas bonitas. O meu rosto era... — Não conseguiu completar. — Ganhei
concursos de fotografias, viajei para os lugares mais belos com modelos
maravilhosas. — Engoliu em seco. — Agora nem consigo me olhar direito no
espelho.
Darcelle voltou até Damien e se permitiu sentar diante dele. Pousou os
braços em cima da secretária e prendeu a respiração antes de a soltar.
— Eu seria mentirosa se dissesse que suas cicatrizes não são horríveis,
senhor Beauchamp. Elas realmente são. Mas o senhor... é belo quando é frágil,
belo quando sorri para mim, belo quando tira a capa dura e deixa o coração falar.
Passei poucos dias aqui e só vi trabalhadores felizes. — Um momento de
compaixão se apoderou do ensejo e o Monstro Du Camp pareceu segurar outro
sorriso que insistia em escapar.
— Onde estava todo este tempo, Johnson?
— Provavelmente amadurecendo o suficiente para poder lhe dizer isso
hoje. E sabe de uma coisa? Tem toda razão, eu vou ser uma boa Assessora. —
Levantou-se da cadeira cheia de força para iniciar com suas funções. — Vamos a
isso, senhor Beauchamp!
— Damien. Eu quero que me chame Damien. Tudo bem, Darcelle?
Era a primeira vez que pronunciava o seu nome e a voz forte parecia ter
sido feita apenas para aquilo. Ela cobriu a boca com a mão num gesto lento e
impaciente.
— Tudo bem, Damien. Tudo bem. — Ela sentiu o sorriso verdadeiro que
saiu de seus lábios e teve vontade de dizer tantas coisas, mas foram
interrompidos pelo telefone que começou a tocar na mesa dele.
Darcelle se retirou ainda a sentir as mãos frias e voltou para a sua sala
ainda com o coração fora do lugar. Era normal se sentir assim só por vê-lo? Nem
sabia como enquadrar aquele sentimento, sendo que não se lembrava de alguma
vez ter passado por aquilo. Na adolescência todas as meninas da sua idade
tinham alguma paixão e viviam em cima de nuvens cor-de-rosa o tempo todo.
Ela costumava se sentir mal por ser diferente, a verdade é que nenhum rapaz a
tinha despertado nenhum interesse. Sua prima Jamie tinha beijado alguns
meninos e saído com outros antes de se render e se entregar aos braços de
Lorenzo, e várias vezes Darcelle costumava cobiçar como o dito amor podia
fazer as pessoas se sentirem.
Houve momentos que pesquisara sobre pessoas arromânticas e depois
por assexuais, porque nunca tivera o desejo de ter qualquer tipo de romance ou
de relações sexuais, nada parecia despertá-la e isso a tinha angustiado por muito
tempo. Até agora. Devia admitir que Damien causava sensações inexplicáveis e
que era muito errado porque estava pronto para noivar com outra mulher.
— É verdade que o Fantasma da Ópera está aqui sem a máscara? É nesse
momento que a Christine Daaé foge... Mas você ainda está aqui! — Christian
roubou seus pensamentos e entrou todo divertido como sempre. Sua vestimenta
consistia numa única peça formal que era o casaco por cima do pólo e das calças
jeans.
— O que quer dizer com isso? — Darcelle pestanejou.
— Deixe para lá. — Dash lhe piscou o olho. — Queria saber o que está
por trás dessa mudança toda, não é normal. Tentei tirá-lo de casa por anos!
Darcelle riu e teve vontade de dizer que o que ela queria saber era sobre a
estranha aproximação entre ele e sua prima, mas se conteve.
— O Damien está aqui sim — respondeu um quanto descontraída e nem
reparou nos olhos verdes que se esbugalharam ao ouvir a resposta.
— É Damien agora, hum. — Esboçou um sorriso. — Você com essa cara
de quem não mata nem uma mosca parece que está derrotando alguns
monstros... Du Camp.
Era atrevido! Ela riu quase sem graça se sentindo despida pelos olhos
espertos, se limitou a anunciar a presença de Dash e o acompanhou até a porta da
sala. Depois se concentrou no trabalho, era tudo um pouco complicado de se
entender e por isso começou a tirar notas e a telefonar para alguns colegas que
podiam ajudar. Ser Assessora significava ter que responder pela empresa na
ausência dele. A prova do quanto confiava e apostava nela.
Damien recebeu mais dois administradores de outras sucursais e no fim
tiveram uma reunião geral, onde ele afirmava a sua volta como presidente na
empresa e que não iria ficar mais a trabalhar a partir de casa. Algumas pessoas o
olhavam com curiosidade e outras tentavam segurar o incómodo que era ver o
rosto a descoberto.
No final do dia, Darcelle demorou mais tempo a sair porque estava
mergulhada no trabalho, tinha aprendido mais naquele dia sobre cavalos e
gestão, do que em toda sua vida. Gostava de estar ali, mesmo que não fosse sua
maior paixão.
— Ainda por aqui? — Damien se admirou quando saiu da sala, carregava
sua mala e o casaco pendurado em seu braço.
— Já estou de saída, apenas queria aproveitar para aprender mais —
respondeu e sentiu o cansaço que pesava em seus ombros.
— Terá todo tempo do mundo, não se apresse. As formações começam
semana que vem e verá como tudo ficará ainda mais fácil. — As palavras saíam
de seus lábios com tanta gentileza que nem pareciam vindas dele.
— Obrigada. — Acabou por desligar o seu computador.
— Quer que eu a leve para casa? — Olhou para o relógio, mas de
momento não se importou.
— Não se preocupe. Eu pego o carro colectivo dos trabalhadores da
Beauchamp. — Se levantou e organizou as suas coisas com vagar, mas quando
girou os olhos percebeu que ele ainda estava parado a olhá-la completamente
distraído.
— Então... Até amanhã. — Uma sombra correu os olhos azuis como se
tivesse feito um esforço para dizer aquilo.
— Está ansioso pelo seu noivado? — Aquela pergunta escapou de sua
boca.
— Sim. — Ele mentiu. Na verdade queria dizer que nem tanto. — Vejo
você lá?
— A Emma faz questão... — Darci quase ficou sem graça ao constatar
que seria dolorido assistir àquele noivado. Como olharia para a loira sabendo
tudo o que sentia? Mas sentir não era crime, pois não?
Beauchamp acenou com a cabeça, sua boca se abriu, mas as palavras se
perderam pelo caminho, então se preparou para sair.
— Espere. — Ela pediu, dando pequenos passos até se aproximar. —
Tem seu telefone?
— Sim — respondeu um tanto intrigado.
— Então venha comigo.
— Para onde?
— Já vai ver.
Johnson caminhou até ao corredor, parando diante das portas metálicas
do elevador e esperou pelo presidente da Beauchamp a seguir. Entraram em
silêncio quando este chegou e subiram apenas um andar que era o último. Saíram
para o terraço enorme que abrigava um heliponto do outro lado. O chão era
cimentado e tinham pilares que separavam algumas secções.
Ela andou até ao muro pintado de branco com uma barra vermelha no
centro. Apoiou as duas mãos e apreciou a vista brilhante que se estendia sem
fim. Damien parou ao seu lado.
— E então?
— Tire uma fotografia.
Ele piscou ao mesmo tempo que franziu.
— Leve seu celular e tire uma fotografia. O que lhe impede de continuar
a fazer aquilo que mais ama? Há tanta beleza pelo mundo a fora. — Ela abriu os
braços a sentir a brisa que beijava seu rosto, mas desejando que fossem certos
lábios.
Damien colocou a mão no bolso das calças de pano vincadas e tirou o
aparelho de última geração. Era verdade, por que parara de fotografar só porque
perdeu aquilo que acreditava ser sua pulcritude? Desbloqueou o celular e
procurou a câmara, abrindo-a para a majestosa cidade de Belmore, banhada pelo
mar e com uma grande ponte erguida lá no alto que a conectava com outras
cidades. Porém, nada lhe era mais belo, por isso mudou a sua posição e tirou a
primeira fotografia depois de dez anos.
O rosto de Darcelle. Este que se sobressaía em relação ao manto escuro
da noite, principalmente pelo turbante amarrado e pela roupa africana, junto dos
brincos grandes.
— O que está fazendo? — Ela perguntou sobressaltada. — Pare!
— Tirando fotografias... — O dedo dele não parava de clicar no centro
da tela comprida, fazendo a luz da câmara brilhar vezes seguidas.
— Fico horrível nas fotos. — Tentou lhe arrancar o aparelho da mão, mas
foi em vão, pois ele era mais alto e só levantou o braço para cima, obrigando-a a
dar pulos no mesmo lugar.
— Eu já tinha dito que era ótimo no que fazia. Não devo ter perdido a
prática. — O sorriso estava esticado no rosto dele, nem as cicatrizes
conseguiram fazer com que ficasse menos bonito.
— Não faça isso! — Darci ainda pulava para segurar a mão dele, porque
o dedo ainda parecia acertar o centro da tela e mais imagens eram tiradas. —
Pare!
— Sossegue, Darcelle. É a sua vez de remover as máscaras.
Ela então parou e respirou fundo, se deixando eternizar naquilo que seria
o retrato de um dos momentos mais importantes que passavam juntos. As bocas
podiam não dizer, mas os olhos não mentiam e falavam a mesma língua.
— Darcelle... — O telefone começou a tocar no mesmo instante e ele
apertou os olhos antes de soltar um impropério. — É a Giovana.
— Eu também preciso ir antes que perca o transporte colectivo. Até
amanhã. — Se despediu e correu mais do que as pernas podiam permitir, pois
sabia muito bem do que fugia. Por que a ideia de ter apenas uma amizade a
corroía tanto mesmo sabendo que se tratava de um homem comprometido?
Aquele noivado certamente viria provar o quão disposta estava a suportar
a bomba que ameaçava explodir dentro de sua alma.
Festa de Noivado, A
"Amor é aquela festa surpresa que você realmente não sabe quando vai
acontecer."
— DAREMOS um tempo.
Damien não acreditou que ouvia aquilo vindo dos lábios que tanto
adorava e se retesou, pestanejando várias vezes e engolindo a falta de orgulho
que queria protestar e dizer que não. Era a primeira vez que sentia muita dor ao
ser praticamente deixado por uma mulher.
— Sabe que tempo não existe. — Ele falou, calmo e cheio de dúvidas
que vieram acampar em sua mente. — Isso será o nosso fim.
— Não. Não será. — Darcelle relaxou os ombros e decidiu encarar o
olhar azul que pesava como se estivesse sentado em cima de seu corpo magro.
— Vamos apenas percorrer a vida como se estivéssemos em realidades
alternativas, lado a lado. É tempo de eu me descobrir como pessoa e não posso
estar apoiada em você.
— Não está.
— É tempo de você conhecer seu filho, saber os hábitos e gastar seu
tempo livre ao lado dele, se entender com sua mãe e tentar conviver com Joanne.
São novas prioridades.
— Ter um filho não significa que estou morto.
— Eu vou aproveitar para me conhecer, lembra que me perguntou se
tinha algum dom? Acho que é hora de descobrir isso. Lidar com o mundo real e
compreender que a vida é muito mais do que ficar sempre dependente de você e
de Jamie.
Ele se levantou com a mão na boca, seu semblante apoplético revelava o
quanto a indignação tinha tomado conta de seu corpo. Estava lívido, quase
doente ao ouvir aquelas palavras. Temia que Darcelle voasse demais e
percebesse que existiam homens muito mais interessantes.
— Tudo bem. — Acabou por concordar, seu orgulho estava ferido.
Queria dizer que esperava que ela lutasse ao seu lado e não que desejava partir.
— Eu esperarei o tempo que for.
— É só um tempo.
— E se eu disser que não?
— Você precisa ir. — Ela não segurou as lágrimas e deixou escapar um
soluço. — É pelo bem de seu filho, por favor. Vá.
O Monstro Beauchamp balançou a cabeça com rapidez, se sentindo um
fraco por não conseguir olhar dentro daqueles olhos escuros. Despediu quase em
surdina antes de se retirar do quarto pequeno, acenando para os pais de Darcelle
que logo compreenderam que algo estava errado, e saiu dali sem querer olhar
para trás.
Ela saiu um pouco cabisbaixa, deu de ombros para o rosto dos pais que
pareciam um quanto chocados e voltou para a pequena bancada da cozinha onde
estava o seu tabuleiro com biscoitos e colocou a primeira fornada para assar.
Amabel a encarava escandalizada, esperava que dissesse ou contasse algo, mas a
filha permaneceu concentrada no que fazia.
— Você deveria tentar entrar nessa escola. Olha só. — Tony como
sempre gostava de aliviar as tensões e apontou para uma publicidade que
passava na televisão.
— O Le Cuisinier… — Os olhos de Darci brilharam ao ver o famoso
Chef Abayomi que falava sobre a melhor escola de culinária do país e sobre as
poucas vagas restantes para um curso exclusivo.
— Isso. Por que não tenta? — A mãe sugeriu e ficou empolgada.
Principalmente por ver o homem alto e negro com ar sério que falava
diretamente para a câmara. Sacudiu a mão contra o peito para afastar um calor
que era interno.
— Eu vi isso, Amabel. — Tony disse, e os dois gargalharam numa
cumplicidade que não passava nem com os anos.
— Por que não? — Darcelle murmurou mais para si, cogitando tal ideia e
pela primeira vez na vida, sentiu um aperto em seu peito. Por que não?
A resposta veio em formato da primeira fornalha de biscoitos que tinham
queimado rápido demais e cozido de pouco. Riu de si mesma, como ousar
acreditar no sonho de frequentar o Le Cuisinier se não sabia acertar nem a
temperatura do forno?
[…]
Ela deu um passo em frente, nervosa. Esfregou as mãos – uma na outra –
mesmo que a temperatura fosse quente naquele dia. Seus olhos estavam
esbugalhados, brilhavam de uma alegria desconhecida. Andou de um lado para o
outro no passeio, mas respirou fundo e empurrou com as duas mãos as portas
que a conduziriam ao Le Cuisinier.
Lá dentro era enorme, cheio de portas e escadarias, tal como uma
verdadeira sala. Também tinham laboratórios, uma grande horta no quintal que ia
de uma ponta à outra, e várias despensas maiores que supermercados. Tudo isso,
Darcelle vira na internet, mas estar ali dentro a fazia sentir borboletas no
estômago.
— Bom dia.
O recepcionista a olhou.
— Bom dia. — Era um jovem alto e esguio, de pele escura e uns olhos
pintados com lápis preto. O lenço estava enrolado no pescoço longo e a encarou
de cima abaixo com atenção. — Em que lhe posso ajudar?
— Er… Eu queria me inscrever para o curso.
— Só temos uma vaga. Está frequentando faculdade de gastronomia,
trabalha em restauração ou… — Ele se calou ao ver o sorriso amarelo. —
Hmmm… Sabe que a classe é avançada, não sabe?
— Estou aqui porque quero — respondeu, num tom altivo sem ser rude.
Tinha aprendido a falar daquele jeito com a pessoa que estava em falta no seu
coração.
— Sabe que o curso é de quase treze meses e custam vinte e cinco mil
dólares, irá fazer exames muito rigorosos para receber o certificado final, o
melhor aluno fará um estágio obrigatório de dezoito semanas no restaurante
África. — Ele falava com calma, sua voz era fina e esbanjava sensualidade. — O
Le Cuisinier não equivale a uma universidade, porém o curso inclui um
programa onde o aluno acumula créditos e consegue se formar na maior
universidade de gastronomia do país.
— Vinte e cinco mil dólares anuais?
— Não. A cada semestre e mais a taxa do exame.
Darcelle engoliu em seco, não tinha tanto dinheiro.
— Eu quero me inscrever.
— Se não passar o primeiro semestre não poderá continuar depois. Aqui
só permanecem os melhores.
— Se não conseguir passar, então tentarei de novo.
O jovem lhe sorriu de lado, gostando de ouvir aquilo e lhe piscou o olho.
Lhe estendeu um Tablet para que pudesse preencher seus dados pessoais, pediu
os documentos de identificação para fazer Scan e no final o cartão de crédito.
— Segunda-feira às dezoito, então. Passe para levar seu cartão de
estudante e seja muito bem-vinda ao Le Cuisinier.
— Muito obrigada.
Antes de arrumar seus pertences na bolsa, parou para observar aquele
espaço imponente e girou nos calcanhares, sentindo uma alegria imensa por ter
dado um passo tão importante na sua vida. Pela primeira vez sentia que queria
algo por sua vontade intrínseca e estava disposta a ir até ao fim.
Quando saiu, dava pulos no lugar. Uma parte do coração dolorido parecia
ter sido preenchido, e por enquanto, aquilo lhe bastava. Correu apenas um pouco
antes de se esbarrar com Étienne que trazia as mãos dentro do bolso das calças e
um ar indignado.
— Não recebo mais ordens superiores.
— Você me abandonou, amiguinha, e no meio de duas megerras. A
Charlton feiosa se mudou parra lá até a casa nova ficar prronta. A brruxa da
senhorra Beauchamp também. Estão me matando, por que me deixou?
— A Joanne se mudou para a mansão?
— Está com o menino. Só esse parra alegrrar meus dias.
Darcelle inventou um sorriso. Fazia dias que não falava com Damien, e
sequer o via na empresa, pois tinha decidido voltar a trabalhar a partir do
escritório da mansão. Não podia negar que sentia saudades, mas precisava seguir
como tinha dito.
— Eles estão se dando bem?
— O senhor Beauchamp e o Gio? Marravilhosamente, feitos um parra o
outrro — Afirmou e pela primeira vez lhe abriu os braços. — Só falta você.
Ela o abraçou com afinco, podia sentir-se em casa quando estava perto de
Étienne. Fechou os olhos por um tempo.
— Fico muito feliz que tudo esteja dando certo. Foi sempre o que mais
quis, uma harmonia ente pai e filho. E que Joanne trouxesse sossego por algum
tempo. Só isso. — Se afastou para o encarar e lhe sorriu. — Não vai me chamar
de ingénua?
— E que mal há nisso? As pessoas estão tão acostumadas a lidar com
seres humanos ruins que começam a desdenhar de uma pessoa que tenha bom
coração. Chamam de boba e sem grraça.
— Foi preciso conviver com Giovana e Joanne para chegar a essa
conclusão?
Ele riu alto.
— Não. — Negou com a cabeça. — Foi prreciso conviver com você,
agora venha que lhe darei uma carona. Não comprreendo por que devolveu o
Jeep.
— Musiquinha da felicidade? Hoje me sinto feliz.
— Às suas ordens. Sempre!
Johnson entrou no Bentley Mulsanne luxuoso cujo cheiro e conforto lhe
remetiam à Damien. Os lábios se curvaram para cima, mas se deixou ficar quieta
enquanto o motorista começava a dirigir.
— Como me achou aqui?
— Porrque sou seu anjo da guarrda, Darcelle. Nunca reparrou que só
você me vê? — Bradou e assobiou ao ritmo da música animada que tocava
dentro do carro. Depois riu. — Sua mãe me contou.
— Ahh… — Mordeu o lábio inferior, mas se deixou ficar. Lembrando
que tinha muita coisa para fazer logo que chegasse à empresa e que precisava
estudar mais sobre culinária e encomendar alguns livros. Se sentia empolgada,
ouvia Étienne tagarelar sem parar reclamando das novas moradas da mansão e
riu muito todo trajeto, até perceber que pararam diante de um jardim.
— Olhe…
Darcelle espalmou as duas mãos na janela, seus olhos se aqueceram ao
avistar Damien que corria pela relva com Giovani que gargalhava com os
cabelos a voarem. Ficavam tão bonitos os dois e possuíam uma química única. O
coração dela aqueceu.
— Na mansão tem tanto espaço. Por que vieram aqui?
— Parra ser algo naturral parra o menino. Não quer que crresça cercado
de muralhas. Gio semprre fez isso antes, não há por que mudar.
— É lindo.
Ela imaginou uma pintura que estava ali com eles e sentiu isso com todo
seu coração, quase que projectando um futuro. Seus olhos se encheram de
lágrimas, mas seus lábios estavam abertos de felicidade.
— Convenhamos que o rapaz prrecisa fazer uma dieta.
— Deixe de maldade!
Naquele momento, Damien parou de correr e passou a bola para Giovani
que foi atrás de braços abertos. Seu rosto virou como um íman e, mesmo que os
vidros do carro fossem escuros, ela sentiu que os olhos a viam. Se assustou no
lugar.
— Vamos embora — pediu.
— Tudo bem. Tudo bem…
[…]
— Darcelle? Darcelle?
Não era a primeira vez que Jamie se prostrava na sua frente, chamando-a
para que a escutasse, sem sucesso. A prima estava embrulhada com pilhas de
livros e tirava rápidas anotações para um caderno.
— Darci!
— Estou estudando, Jamie. Não vê?
— Ah! — A prima bateu com a mão por cima da mesa. — Quando eu
estava me preparando para o exame de medicina, você vivia me enchendo o
saco.
— Então já que sabe como é, deveria respeitar!
— Não… Ainda falta muito tempo para seu exame. Só está nesse curso
há uns dias.
— Jamie. O Le Cuisinier é coisa muito séria e não como na televisão. O
Chef Abayomi é implacável e estou apavorada. Todos ali estão habituados a lidar
com cozinha e alimentos, como sempre, menos eu. Estou estudando — Afirmou,
mas não havia tristeza nas palavras e nos olhos, e sim um brilho desafiador de
quem estava empolgada com tudo aquilo.
A prima se inclinou até perto dela e lhe disse algo no ouvido.
— O quê? Jura? — Darcelle esqueceu o que fazia e pulou no lugar. Feliz
demais pelo que tinha acabado de escutar. — Não posso crer! O Chris já sabe?
— Não. Também fiquei espantada. Não sei ao certo, fiquei tão confusa.
— Ainda vai…? Pense direito, Jamie.
As duas se olharam e se abraçaram com força, se apertando num amor
infinito que as cobria desde pequenas. Certas coisas não necessitavam de
respostas.
— Darci, eu quero que tudo dê certo para você. Sua felicidade é a minha
felicidade.
— Sua felicidade é a minha felicidade.
— Estamos juntas. Agora…
— … E sempre.
Tempo de Libertar, O
“ […] O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem?” –
Trava-línguas.
* Considerações da Autora
Por favor, avaliem o livro. É MUITO importante. Ajuda o autor a se destacar e não custa nada.
O livro 2 conta a história de Christian Dash e Jamie Johnson e se chama Uma Nova Cor. Existirá
sim uma diferença pequena em relação a escrita deste livro, pois houve uma evolução enquanto autora e por
isso optei por reescrever Para Além da Beleza antes de trazê-lo para a Amazon. A série Cicatrizes conta
histórias individuais, por isso podem ser lidas em separado.
Nesta nova versão, muitos leitores pediram que a Darcelle tivesse filhos para ter o almejado final
feliz. Sei que para muitos tudo se resume a isso, mas acreditem quando digo que eles estão felizes, e que
recebi relatos de mulheres na mesma situação e que enviaram relatos belíssimos de suas experiências e
agradecimentos por serem representadas por uma personagem tão incrível. Não sou uma autora de
previsibilidades. Estejam sempre atentos para aquilo que escrevo. Todos os meus clichés serão
reinventados. Então se não estiver preparado para levar um banho de água fria, não, o meu livro não é para
você.
Por isso decidi compartilhar convosco algum de meus pensamentos como ser humano:
Em 2016 decidi regressar timidamente ao mundo da escrita. Após 4 anos em que decidi largar
esse sonho. Para Além da Beleza era apenas um experimento, mas dezenas de leitoras apareceram depois
que a Rosa deu as caras, e só foram crescendo desde então. Assim como eu.
Se quer saber tudo o que aconteceu com Chris e Jamie, então siga para ler: Uma Nova Cor.
Muito obrigada.
#ApoieOSeuautor
…
Ami Ideas é uma autora africana, de Moçambique e que possui 29 Maios. Geminiana, descobriu o
prazer pela leitura aos 4 Maios, idade que aprendeu a escrever e ler. O primeiro livro que leu foi a saga “Os
Cinco”, livro de aventuras que a transportou para um mundo mágico e viciante, obrigando sua mãe a
oferecer tantos outros livros sobre tantas outras histórias. Aos 12 Maios descobriu que poderia escrever e foi
aí que começou o seu amor pela escrita.
Em 2010 descobriu que podia partilhar suas histórias com mais pessoas no mundo, tendo
publicado em diversas plataformas online e conhecido dezenas de pessoas diferentes.
Quero agradecer em especial as minhas Desgramadas que acompanharam o processo desta
criação e sempre me ajudaram em tudo o que foi possível para que a obra pudesse acontecer.
As restantes meninas do Esquadrão Ami Ideas (Luzivania, Eveline, Winney, Michele, Emily,
Lauelise) que me ajudam diariamente na divulgação dos meus livros e iluminam os meus dias com as
conversas hilariantes. O meu muito obrigada.
Espero que todos leitores tenham gostado desta experiência.
Obrigada.
Outros trabalhos da autora na Amazon: